Efetividade da reabilitação vestibular na capacidade funcional de

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Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
Denise Alves dos Reis Maia1
Juliana Quirino
Thomaz2
Cristiane Akemi Kasse3
Flávia Doná3
Efetividade
da
reabilitação
vestibular na capacidade funcional
de idosos com vestibulopatia
Effectiveness of vestibular rehabilitation
on functional capacity in elderly with
vestibular disease
Fisioterapeuta. Mestranda do
Programa de Mestrado Profissional
em Reabilitação do Equilíbrio
Corporal e Inclusão Social da
Universidade Anhanguera de São
Paulo.
1
Fisioterapeuta. Colaboradora do
Programa de Mestrado Profissional
em Reabilitação do Equilíbrio
Corporal e Inclusão Social da
Universidade Anhanguera de São
Paulo.
2
Professor Doutor do Programa de
Mestrado
Profissional
em
Reabilitação do Equilíbrio Corporal e
Inclusão Social da Universidade
Anhanguera de São Paulo.
3
Resumo
Objetivo: Analisar os efeitos da reabilitação vestibular na capacidade
funcional de idosos com disfunção vestibular crônica. Material e
Método: Estudo prospectivo com amostra composta por 19 idosos
com diagnóstico de vestibulopatia crônica, idade entre 60 a 84 anos.
Os desfechos analisados pré- e pós-reabilitação vestibular foram:
sintomas, posições que desencadeiam a tontura, o Brazilian OARS
Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (BOMFAQ)
e o Dizziness Handicap Inventory (DHI). A reabilitação vestibular foi
composta por exercícios de adaptação vestibular, habituação,
estimulação dos reflexos vestíbulo-ocular e de equilíbrio postural.
Para à análise dos resultados foram utilizados os testes de McNemar e
Wilcoxon (p=0,05). Resultados: A amostra foi composta por maioria
do sexo feminino (89,5%), média etária e desvio-padrão (DP) de 70,68
(6,51) anos. Os sintomas mais prevalentes foram tontura (100,0%),
instabilidade postural (89,5%), zumbido (68,4%) e náusea (52,6%).
No BOMFAQ, 47,4% dos idosos referiram dificuldade para realizar
quatro ou mais atividades de vida diária. A média e o DP do escore
total do DHI pré-tratamento foi de 35,26 (19,02). Após o período de
reabilitação, houve redução dos sintomas (p<0,005) e das posições
que desencadeavam a tontura, melhora da capacidade funcional
(BOMFAQ) (p=0,005) e redução do escore total do DHI (p<0,0001).
Conclusão: A fisioterapia vestibular no idoso com vestibulopatia
crônica foi efetiva para reduzir os sintomas, melhorar a capacidade
funcional e a qualidade de vida.
Palavras-chave: Equilíbrio Postural. Idoso. Reabilitação. Tontura.
Autor para correspondência:
Flávia Doná
Endereço postal:
Rua Maria Cândida, 1813 - 6º Andar
São Paulo - SP
CEP: 02.071-013
Email: [email protected]
3
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
Na área da fisioterapia geriátrica podemos encontrar idosos com declínio
físico-funcional em virtude da presença de sedentarismo, tontura, utilização
de vários medicamentos, dor nas articulações e alterações nos sistemas
sensoriais, envolvidos no controle postural, repercutindo diretamente na
qualidade de vida.1-3
O envelhecimento interfere na interação entre os sistemas componentes do
equilíbrio postural por meio do decréscimo da função do sistema vestibular,
redução das fibras neuromusculares, degeneração articular, alteração
biomecânica e baixa acuidade visual e auditiva. Estas alterações podem
ocasionar aumento da oscilação corporal, dificuldade para manutenção do
controle postural e oferecer maior risco de queda.2-3
O equilíbrio postural requer atuação de componentes sensoriais (visual,
auditivo, somatossensorial e vestibular) e motores.3 O sistema vestibular
controla a posição da cabeça no espaço e informa para o sistema nervoso
central (SNC) os movimentos lineares e angulares (flexo-extensão, inclinação
e rotação) da cabeça, deflagrando dois importantes reflexos vestibulares para
o restabelecimento visual e postural: o reflexo vestíbulo-ocular (RVO) e o
reflexo vestíbulo espinhal (RVE).4,5
A prevalência de distúrbios vestibulares aumenta conforme o aumento da
idade, e está relacionada, principalmente, às disfunções no sistema vestibular,
degeneração dos receptores vestibulares (menor quantidade de aferências),
perda de fibras de mielina e diminuição do número de células ciliadas.6
O principal sintoma das vestibulopatias é a tontura, definida como
“manifestação subjetiva de perturbação do equilíbrio postural ou perda da
noção espacial”. Está presente em 4 a 20% da população mundial e atinge
65% dos indivíduos com mais de 65 anos. Em aproximadamente, 85% dos
casos é originada do sistema vestibular.7-9
A tontura é classificada como rotatória (vertigem) ou não rotatória, podendo
ser acompanhada de instabilidade postural, desequilíbrio, oscilopsia e
flutuação. Os principais sintomas associados são os sintomas
neurovegetativos, cefaleia, o zumbido, a plenitude auricular, os distúrbios da
memória, a dificuldade de concentração mental, as perturbações visuais, a
sensação de oscilação, a instabilidade postural, os distúrbios da marcha e a
fadiga física (sintomas frequentes na tontura crônica). A persistência dessas
queixas podem gerar episódios de quedas recorrentes.6,7,10
A queda resulta na mudança rápida, não intencional de uma posição para um
nível inferior ao inicial; quando associada ao desequilíbrio corporal e à
instabilidade na marcha, faz com que o indivíduo restrinja a sua atividade
física e social e, consequentemente, cause isolamento e prejuízo significativo
na sua capacidade funcional.11
A avaliação da capacidade funcional compreende investigar as dificuldades e
como o indivíduo realiza a atividade física da vida diária (atividades básicas
de cuidados pessoais como, por exemplo, alimentar-se, banhar-se e vestir-se)
e atividade instrumental da vida diária (mensuram-se as atividades complexas
com dependência na sociedade), citamos como exemplo o fazer compras,
atender telefone, utilizar meios de transporte.12 O comprometimento da
capacidade funcional no idoso na atividade física ou instrumental pode
repercutir em limitações nas suas atividades diárias, ocupacionais e sociais,
levando à depressão e ao isolamento social.12,13
Maia et al.
Introdução
4
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
Na disfunção vestibular, o tratamento deve priorizar uma abordagem
interdisciplinar e personalizada. Além da anamnese e do exame
otorrinolaringológico, são utilizados procedimentos que possibilitam
confirmar o comprometimento do sistema vestibular, auditivo, visual,
somatossensorial e musculoesquelético.14
O sucesso do tratamento da vestibulopatia engloba múltipla abordagem
terapêutica, com o emprego simultâneo do tratamento etiológico, da
farmacoterapia, reabilitação vestibular, correção de hábitos nocivos
(sedentarismo, tabagismo, etilismo) e de erros alimentares, afastamento de
agentes deletérios ao sistema vestibular, cirurgias e/ou apoio psicológico.13
A reabilitação vestibular (RV) consiste em exercícios que auxiliam em três
mecanismos adaptação, substituição sensorial e habituação, que atuam sobre
a recuperação fisiológica do sistema vestibular através da neuroplasticidade
do sistema nervoso central.15 O protocolo de RV de Cawthorne e Cooksey
(movimentos cefálicos, coordenação visuo-vestibular, movimentos corporais
e equilíbrio postural) é o mais utilizado na reabilitação vestibular. Seguida por
exercícios de adaptação da Herdman e exercícios de equilíbrio postural
estático e dinâmico.16 A fisioterapia na reabilitação vestibular atua de forma
personalizada, diagnosticando e tratando os distúrbios cinesiológicos
funcionais, combinando exercícios específicos para diminuir os sintomas
otoneurológicos. Aplica também exercícios específicos para limitações na
capacidade funcional.17
Exercícios bem supervisionados e personalizados proporcionam remissão dos
sintomas em 85% dos pacientes com disfunção vestibular, enquanto que
exercícios de RV genéricos, inespecíficos e não supervisionados obtêm-se
resolução completa das queixas em 64% dos casos.18 Vários autores têm
revelado a efetividade da RV na disfunção vestibular crônica14,19-21, porém há
poucos estudos realizados com idosos. Acredita-se que a incapacidade
funcional e o prejuízo na qualidade de vida do idoso com vestibulopatia
crônica são possíveis de serem modificados por meio de um programa de
reabilitação vestibular individualizado.
Objetivo
O objetivo do presente estudo foi analisar os efeitos da reabilitação vestibular
personalizada na capacidade funcional de idosos com disfunção vestibular
crônica.
Material e Método
Trata-se de um estudo prospectivo, descritivo e analítico de idosos na faixa
etária de 60 a 84 anos, que apresentavam diagnóstico médico de disfunção
vestibular crônica com queixa de tontura e/ou desequilíbrio corporal. Foram
excluídos os pacientes incapazes de compreender, e atender a comando verbal
simples, em uso de dispositivos auxiliares para deambulação, com
comprometimento visual grave, com alterações musculoesqueléticas que
resultam em limitações de movimento e utilizando próteses em membros
inferiores, e que tenham realizado reabilitação do equilíbrio corporal ou uso
de medicamentos antivertiginosos nos últimos seis meses.
5
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
A pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê Ética em Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos da Instituição (Protocolo 0522-10). Todos os
pacientes que concordaram em participar do estudo, assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as normas regulamentadas
pela Resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde Brasileiro.
Instrumentos
Os desfechos analisados pré- e pós-reabilitação foram: presença de sintomas
otoneurológicos, posições que desencadeiam a tontura, Brazilian OARS
Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (BOMFAQ) e
Dizziness Handicap Inventory (DHI). Os pacientes foram interrogados sobre
a presença dos seguintes sintomas: tontura, zumbido, hipoacusia, oscilopsia,
escurecimento da visão, ansiedade, náuseas, vômitos, sensação de desmaio
iminente e distúrbio de memória. Foram questionados também sobre as
posições ou movimentos corporais que desencadeavam a tontura.
O BOMFAQ avalia a dificuldade referida na realização de 15 atividades de
vida diária (AVD), sendo oito atividades físicas de vida diária (AFVD) e sete
atividades instrumentais de vida diária (AIVD). No questionário, quando há
dificuldade em desempenhar alguma tarefa, esta é categorizada em “muita” e
“pouca”. Realiza-se a quantificação do número de AVD referidas como
difíceis de realizar, que será igual ao total de atividades comprometidas. No
presente estudo foi analisado apenas se o indivíduo possuía ou não dificuldade
em realizar a atividade referida, com o objetivo de avaliar a sua capacidade
motora na realização da tarefa.22
O DHI é um questionário que avalia o quanto a tontura interfere na qualidade
de vida. Desenvolvido por Jacobson e Newman23 e adaptado culturalmente
para sua aplicação no Brasil por Castro et al.24, possui 25 questões das quais
07 são referentes ao aspecto físico, 09 ao aspecto emocional e 09 ao aspecto
funcional. As respostas referidas como “sim” valem 4 pontos, “as vezes”, 02
pontos, e a resposta “não”, nenhum ponto. Ao final ocorre uma somatória da
pontuação das respostas dos aspectos físico, emocional e funcional. O escore
total tem um valor de 100 pontos e quanto maior o seu valor, maior a
interferência da tontura na qualidade de vida.24
Protocolo de Intervenção
A reabilitação vestibular foi personalizada com duração de 16 sessões, 50
minutos, duas vezes por semana, composta por exercícios de adaptação
vestibular, estimulação dos reflexos vestíbulo-ocular horizontal e vertical,
exercícios de habituação e de equilíbrio corporal (estático e dinâmico), nas
posturas sentada e ortostática, com diferentes tamanhos de base de sustentação
e condições sensoriais (visual, vestibular e somatossensorial). Os exercícios
foram baseados nos protocolos de Cawthorne e Cooksey, Associazone Otologi
Ospedalieri Italiani, adaptação de Herdman e treinamento da coordenação e
do equilíbrio corporal para o idoso.18 Os exercícios foram realizados e
evoluídos de acordo com a adaptação do paciente e os achados na avaliação
clínico-funcional.
Os idosos foram orientados a manter as atividades de rotina, realizar quatro
exercícios duas vezes por dia no domicílio e fazer dieta com restrição de
cafeína e açúcares. Os exercícios domiciliares eram do Protocolo de
Cawthorne e Cooksey, e a cada sessão o fisioterapeuta selecionava quatro
exercícios que causavam tontura. Para evitar quedas, os exercícios
domiciliares eram realizados em decúbito dorsal ou em sedestação. Os
6
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
pacientes foram informados a respeito de todas as etapas do tratamento e da
possibilidade do aumento da tontura com a prática dos exercícios,
principalmente na fase inicial. A sessão obedeceu ao nível de adaptação do
paciente, procurando-se sempre atingir todas as etapas do protocolo, bem
como, observou a manifestação dos sintomas, buscando o limite do
desconforto suportável para o paciente na execução de cada tarefa. A ausência
do paciente em três sessões consecutivas implicou em exclusão do paciente
desta pesquisa. Nos casos de faltas, as sessões foram repostas na mesma
semana. A etapa de avaliação foi realizada na semana anterior ao início da
intervenção e também na semana posterior à última sessão, por examinadores
treinados, que não participaram da intervenção terapêutica e que
desconheciam a evolução clínica dos pacientes.
Análise estatística
Inicialmente, todas as variáveis foram analisadas de forma descritiva. As
variáveis quantitativas foram apresentadas por meio de frequências absolutas
(n) e de frequência relativas (percentuais). As variáveis quantitativas foram
apresentadas por média e desvio-padrão. Para comparação dos períodos (prée pós-intervenção) foram utilizados o teste não paramétrico de Wilcoxon e
teste de McNemar. O nível de significância para o teste foi de 5%.
Resultados
A amostra constituiu-se de 19 idosos com disfunção vestibular periférica
crônica. A média etária foi de 70,68 anos (DP=6,51), caracterizando-se por
maioria do sexo feminino (89,5%). Em relação aos sintomas otoneurológicos,
100% dos pacientes relataram tontura, cujo tempo de instalação na maioria
dos idosos foi de três anos ou mais (89,8%). As principais manifestações
clínicas em ordem decrescente foram: instabilidade postural e distúrbio de
memória (89,5%), zumbido (68,4%), náusea, escurecimento da visão e
ansiedade (52,6%), sensação de desmaio (42,1%), cinetose (36,8%) e vômito
(22,1%). As posições ou movimentos corporais desencadeantes de tontura
mais referidas no estudo foram: levantando da posição deitada (73,7%),
durante o exercício (63,2%), cabeça em posição específica (57,9%), mudando
de posição na cama (57,9%), levantando da posição sentada (52,6%), virando
a partir da posição sentada ou de pé (42,1%) e andando (42,1%), conforme
mostra a Tabela 1. Na análise comparativa dos aspectos clínicos pré- e pósreabilitação, houve redução/remissão significante da queixa de tontura,
instabilidade postural, zumbido, náusea, sensação de desmaio e cinetose
(Tabela 2). Entre os 19 pacientes que participaram do estudo, 31,6% referiram
histórico de queda nos últimos seis meses.
7
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
Tabela 1. Frequências absolutas e relativas das posições desencadeantes de
tontura pré- e pós-reabilitação vestibular em idosos com vestibulopatia
crônica (n=19).
Posição desencadeante de tontura
Levantando da posição deitada
Pré – RV
n (%)
14 (73,7)
Pós – RV
n (%)
1 (5,3)
Durante o exercício
Cabeça em posição específica
12 (63,2)
11 (57,9)
4 (21,0)
1 (5,3)
Mudando de posição na cama
Levantando da posição sentada
Virando a partir da posição sentada ou de pé
Andando
Deitado de um lado específico
11 (57,9)
10 (52,6)
08 (42,1)
08 (42,1)
06 (31,6)
1 (5,3)
0 (0,0)
1 (5,3)
0 (0,0)
0 (0,0)
Tabela 2. Frequências absolutas e relativas dos sintomas pré- e pósreabilitação em idosos com vestibulopatia crônica (n=19) e a análise
comparativa.
Sintomas Otoneurológicos
Tontura
Pré – RV
n (%)
19 (100,0)
Instabilidade Postural
17 (89,5)
Zumbido
13 (68,4)
Nausea
10 (52,6)
Sensação de desmaio
08 (42,1)
Cinetose
07 (36,8)
* Teste de Wilcoxon. Nível de significância: p<0,05
RV: Reabilitação vestibular
Pós – RV
n (%)
1 (5,3)
4 (21,0)
1 (5,3)
0 (0,0)
1 (5,3)
0 (0,0)
p-valor*
<0,0001*
<0,0001*
0,031*
0,002*
0,031*
0,031*
Observou-se que após a reabilitação vestibular somente um paciente
continuou com queixa de tontura. Dos 13 pacientes que referiram zumbido,
12 apresentaram sua redução após o tratamento.
Na avaliação da capacidade funcional, por meio do questionário BOMFAQ,
no pré-reabilitação, 31,6% dos idosos apresentavam dificuldade para realizar
04 a 06 atividades e 15,8% em 07 ou mais atividades do dia-dia. As atividades
referidas com maior dificuldade no estudo foram: cortar as unhas dos pés
(47,4%), fazer limpeza da casa (42,1%), subir escadas (36,8%), andar no plano
e sair de condução (31,6%), deitar/levantar-se da cama (26,3%), ir ao banheiro
em tempo e medicar-se (21,1%). Após a reabilitação houve redução no
número de atividades com dificuldade (p=0,005), sendo que apenas 15,8% dos
pacientes mostraram declínio funcional moderado (Tabela 3).
8
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
Tabela 3. Classificação do BOMFAQ conforme o número de atividades
comprometidas em idosos com vestibulopatia periférica crônica pré- e pósreabilitação (n=19).
BOMFAQ
Sem comprometimento
Comprometimento leve
Pré – RV
%
26,3
26,3
Pós – RV
%
47,4
36,8
Comprometimento moderado
Comprometimento grave
31,6
15,8
15,8
0,0
- Nenhuma atividade comprometida (sem comprometimento);
- 1 a 3 atividades comprometidas (comprometimento leve);
- 4 a 6 atividades comprometidas (comprometimento moderado);
- 7 ou mais atividades comprometidas (comprometimento grave).
Na avaliação do DHI após reabilitação, verificou-se redução significante do
impacto da tontura nos aspectos físico, funcional e emocional da qualidade de
vida (p<0,0001). A média da pontuação total do DHI pré-RV foi de 35,26
pontos (DP=19,02) e no Pós-RV de 8,21 (DP=18,60) (Tabela 4).
Tabela 4. Pontuação do DHI pré- e pós-reabilitação vestibular referente aos
aspectos físico, emocional, funcional e total, em idosos com vestibulopatia
crônica (n=19).
Dizziness Handicap
Inventory
Período
Média (DP)
p – valor*
Físico
Pré - RV
Pós – RV
12,84 (5,34)
2,74 (5,93)
< 0,0001*
Emocional
Pré - RV
Pós – RV
10,63 (9,57)
2,95 (7,72)
< 0,0001*
Pré - RV
11,79 (6,98)
Pós – RV
3,26 (7,21)
Pré - RV
35,26 (19,02)
Total
Pós - RV
8,21 (18,60)
* Teste de Wilcoxon. Nível de significância: p<0,05
DP=desvio-padrão
Funcional
<0,0001*
<0,0001*
Discussão
Na maioria dos estudos, a tontura é mais prevalente no sexo feminino com
relação 2:1, provavelmente devido às disfunções hormonais, distúrbios
metabólicos e a maior procura a orientação médica, semelhante ao achado
deste estudo.25,26 As manifestações associadas mais frequentes como
instabilidade corporal, distúrbio de memória, zumbido, distúrbio do sono,
náusea, escurecimento da visão, sensação de desmaio, cinetose, vômito,
ansiedade e depressão27, também foram observados no presente estudo.
Os movimentos corporais como levantar-se da posição deitada ou sentada,
durante o exercício, mudando de posição na cama, virando a partir da posição
sentada ou de pé e andando são conflitantes para o idoso com disfunção
vestibular e, frequentemente, desencadeiam vertigem ou outras tonturas.10 Por
9
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
esta razão, em nosso estudo, os pacientes apresentaram comprometimento de
4 a 6 atividades avaliadas por meio do BOMFAQ, isto é, prejuízo moderado
na capacidade funcional seja física ou instrumental28; e as atividades mais
comprometidas foram cortar as unhas dos pés, fazer limpeza da casa, subir
escadas, andar no plano e sair de condução, corroborando aos achados de
Aratani et al. (2006).
O perfil do idoso com predomínio do sexo feminino, que apresenta
sedentarismo, diabetes, tonturas, dor nos membros inferiores e com uso de
dispositivos de apoio para deambular podem apresentar comprometimento
moderado na sua capacidade funcional, avaliado por meio do BOMFAQ1. As
dificuldades funcionais podem estar atreladas as alterações biomecânicas,
limitações físicas, déficit das informações sensoriais como, da visão e do
somatossensorial, deixando como principal fonte de informação sensorial o
sistema vestibular, que também está comprometido nos idosos com disfunção
vestibular.27
Após a reabilitação vestibular, houve redução ou remissão da queixa de
tontura e dos demais sintomas otoneurológicos, que provavelmente repercutiu
no ganho da capacidade funcional. Com a RV, 47,4% dos idosos relataram
ausência de dificuldade para realizar as AVDS e 36,8% relataram dificuldade
para realizar de uma a três atividades, das 15 avaliadas. Índice semelhante aos
idosos da comunidade.29 As limitações funcionais geradas pela vestibulopatia
crônica podem acarretar maior dependência do indivíduo em ambientes em
que é necessário maior controle postural. Os distúrbios do reflexo vestíbuloespinhal dinâmico podem gerar ataxia de marcha, apresentando a base de
apoio mais alargada, passos para os lados, desvios laterais durante a marcha,
restrições durante a rotação do tronco e cabeça e queixa de precisarem apoiar
nas paredes, devido a sensação instável durante a caminhada.14,30
No DHI, verificou-se que os idosos avaliados antes da reabilitação
apresentaram em média 35,26 (DP=19,02) pontos, indicando impacto
moderado da tontura na qualidade de vida (35 a 60 pontos).28 De acordo com
Santos et al. (2010), quanto maior o impacto da tontura na qualidade de vida,
maior é o declínio da capacidade funcional no idoso com vestibulopatia
crônica, uma vez que a tontura, causa limitações, físicas, funcionais e pela
cronicidade alterações emocionais.31 As consequências somatopsíquicas
causadas pelas vestibulopatias crônicas podem incluir angústia, ansiedade e
ataques de pânico, medo de sair sozinho, interferência nas atividades diárias e
sentimentos de estar fora da realidade, despersonalização e humor
deprimido.32 Essas alterações clínicas no idoso levam ao declínio na
capacidade funcional, que compromete as atividades sociais e domésticas,
principalmente àquelas que requerem maior controle postural4,10, e
consequentemente, comprometem a qualidade de vida e aumentam o risco de
acidentes por quedas.29,31
No período pós-intervenção, verificou-se redução de aproximadamente
76,71% da pontuação total do DHI. O aspecto físico, geralmente, é o mais
comprometido, seguido pelo funcional e emocional, concordando com
estudos prévios.33,34 Explica-se que o idoso com queixa de tontura pode
apresentar alterações sensório-motoras e, consequentemente, limitações aos
movimentos de olhos, cabeça, tronco, posições específicas da cabeça e
presença de estímulos visuais, sendo estas atividades avaliadas no aspecto
físico do DHI. O aspecto funcional avalia a presença dos sintomas em
atividades profissionais, domésticas, sociais e em tarefas da marcha. O aspecto
emocional avalia presença de medo em ficar sozinho em casa, frustação e
vergonha devido a manifestação da tontura.24
10
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
A remissão da tontura, da cinetose e da náusea/vômito, bem como, a melhora
da capacidade funcional pode ser atribuída aos exercícios específicos dos
olhos, cabeça e/ou corpo que estimulam a recuperação funcional do equilíbrio
corporal por meio de fenômenos de neuroplasticidade, com o objetivo de
corrigir ou suprir as informações sensoriais alteradas ou ausentes.3 A
reabilitação vestibular personalizada restabelece o equilíbrio postural por
meio de estimulação e aceleração dos mecanismos naturais de compensação
no SNC, induzindo o paciente a realizar os movimentos que estavam
acostumados a fazer antes de surgir a tontura.16,18 É importante ressaltar que o
fator idade não foi considerado limitante sobre a resposta final do
tratamento.33
Adicionalmente, a remissão/redução do zumbido com os exercícios voltados
à reabilitação labiríntica está relacionada ao fato do sistema auditivo e
vestibular estarem intimamente relacionados anatomicamente e, por este
motivo, a terapêutica poderia promover a redução do zumbido.35 Knobel et
al.35 verificaram redução do grau de incômodo do zumbido em sete (58,0%)
sujeitos após a reabilitação vestibular. No presente estudo, verificou-se que
92,3% dos casos (n=12) relataram redução/remissão do zumbido. Apesar do
impacto positivo, o efeito da RV no zumbido em pacientes com vestibulopatia
periférica deve ser melhor investigado, uma vez que há pouca evidência
científica sobre o tema.
A RV pode promover a cura completa em 30% dos casos e diferentes graus
de melhora em 85% dos indivíduos.16,36 A reabilitação vestibular
personalizada permite intervenção específica, pois analisa a variação de
dependência sensorial, a compensação vestibular e a habilidade específica que
cada paciente apresenta durante as sessões. Em nosso estudo, verificou-se que
após o tratamento, cerca de 94,7% e 76,4% dos pacientes, respectivamente,
não referiram tontura e instabilidade postural. Essa melhora clínica também
foi ratificada pela melhora na capacidade funcional.
Conclusão
A reabilitação vestibular personalizada é efetiva em idosos com vestibulopatia
periférica crônica em relação à queixa de tontura, instabilidade postural,
sintomas neurovegetativos, cinetose e capacidade funcional. O tratamento
apropriado depende da adequada identificação da doença e da terapêutica
individualizada, segundo as alterações clínico-funcionais.
Abstract
Objective: To assess the effects of vestibular rehabilitation on functional
capacity in elderly with chronic vestibular dysfunction. Material and
Method: Prospective study of 19 elderly diagnosed with chronic vestibular
disease, aged between 60 and 84 years. The parameters analyzed before and
after vestibular rehabilitation were: symptoms, positions that induce dizziness,
Brazilian OARS Multidimensional Functional Assessment Questionnaire
(BOMFAQ) and Dizziness Handicap Inventory (DHI). The vestibular
rehabilitation consisted of vestibular adaptation and vestibular habituation
exercises, stimulation of the vestibular-ocular reflexes and balance. The
McNemar test and Wilcoxon were uses for the analysis of the results. Results:
The sample was composed mainly of females (89.5%), with mean age and
11
Revista Equilíbrio Corporal e Saúde, 2013; 5(2):3-14
standard deviation (SD) of 70.68 ± 6.51. The most prevalent symptoms were
dizziness (100.0%), postural instability (89.5%), tinnitus (68.4%) and nausea
(52.6%). In the BOMFAQ, 47.4% of patients reported difficulty in performing
four or more activities of daily living. Before treatment, the mean and SD in
the total score of DHI were 35.26 (19.02). After the rehabilitation, there was
a reduction of symptoms (p<0.05) and improved functional capacity
(BOMFAQ) (p=0.005) and reduction in the impact of patient's quality of life
(p<0.0001). Conclusion: Vestibular rehabilitation in elderly with chronic
vestibular disease was effective in reducing symptoms, improving functional
capacity and quality of life.
Keywords: Postural Balance. Aged. Rehabilitation. Dizziness.
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