diferentes linguagens para falar

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Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos
Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças
Oficinas
LITERATURA, MUSICALIDADE E SABORES:
DIFERENTES LINGUAGENS PARA FALAR (DE) GEOGRAFIA
Maíra Suertegaray Rossato
CAp/UFRGS - [email protected]
Dariane Raifur Rossi
CAp/UFRGS – [email protected]
Resumo: A proposta desta oficina é apresentar práticas pedagógicas com diferentes
linguagens para o ensino de Geografia, em especial a literatura infantil e infanto-juvenil,
músicas e gastronomia. Com o objetivo de trabalhar conceitos próprios da Geografia,
além dos conceitos de natureza, ambiente, região e cultura, sugerem-se recursos de
ensino diversificados que possam ser utilizados em sala de aula pelo professor,
agregando conhecimento, ludicidade e ritmos a vida do educando. Com práticas
embasadas nos referenciais de Paulo Freire, Perrenoud e Rubem Alves, esta oficina será
ministrada em três módulos: I - Geografia, literatura e dramatização, módulo trabalhado
através de contação e debate sobre histórias infantis; II - Geografia e ritmo, com
atividades musicadas e interpretação textual; e III - Geografia e sabores, módulo
abordado a partir de jogos educativos e de degustação de receitas.
Introdução
Inserido num contexto mais amplo que inclui um processo de ensinoaprendizagem renovado e dinâmico, propõe-se como fio condutor desta oficina o uso de
diferentes linguagens no ensino de Geografia. Trata-se de falar (de) Geografia através
de linguagens que permitem uma abordagem mais interativa e mais próxima do
universo dos alunos, neste caso, a literatura infantil e infanto-juvenil, as músicas e a
gastronomia.
As representações nas suas mais diversas formas são interpretações/visões da
realidade. Para Moscovici apud Oliveira (2010), representação social é o processo de
assimilação e construção da realidade pelos indivíduos.
As representações sociais são culturalmente construídas, mas não são
estáticas uma vez que os atores sociais podem interagir nesse processo. As
pessoas também criam representações individuais, que podem ratificar ou
não as representações socialmente constituídas. Por conta disso, deve-se
entender os leitores (tomados aqui em seu sentido mais amplo – leitores do
mundo) como seres críticos e aptos à assimilação e também à mudança em
relação a esses paradigmas sociais (Ibidem).
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Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3
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O trabalho com diferentes representações permite que o aluno conheça seu
mundo e sua sociedade por meio de práticas que privilegiam a formação moral e ética, e
que promovem o desenvolvimento intelectual e emocional, despertando a criatividade,
autonomia e criticidade. Rubem Alves, em texto para Folha de São Paulo em 2001 diz
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são
gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros
engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode leválos para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram
de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são
pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar.
Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos
pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
[...] O sujeito da educação é o corpo porque é nele que está a vida. É o
corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A
inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver.
Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta“ e “brinquedo“ do
corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender
“ferramentas“, aprender “brinquedos“. “Ferramentas“ são conhecimentos
que nos permitem resolver os problemas vitais do dia a dia. “Brinquedos“
são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como
ferramentas, dão prazer e alegria à alma.
[...] Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo
educação. Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas.
Inspiradas nestas palavras, entendemos que para pensar novas propostas para o
ensino de Geografia é necessário pensarmos em ferramentas e brinquedos. Os dois
juntos dão significado à aprendizagem e transformam o ambiente de sala de aula, uma
vez que formam cidadãos livres, livres para voar.
Objetivos
Propor recursos de ensino diversificados que possam ser utilizados em sala de
aula pelo professor, agregando conhecimento, ludicidade e ritmos à vida do educando.
Propor atividades para a construção de conceitos próprios da Geografia (astros,
tempo, clima, rural, urbano), mas também os conceitos de natureza, ambiente, região,
cultura, e aqueles ligados à Geografia do cotidiano (deslocamento nas ruas,
alimentação, estudo dos lugares de vivência, o uso das redes virtuais, e outros).
Metodologia
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A oficina será ministrada em três módulos: I - Geografia, literatura e
dramatização; II - Geografia e ritmo; e III - Geografia e sabores. No primeiro módulo
será apresentado o texto literário infantil Dandara, o dragão e a lua, com autoria de
Maíra Suertegaray. Num primeiro momento será feita a contação da história, com
abordagem dos temas por meio de atividades lúdicas que envolvem leitura de imagens,
experimentos. Posteriormente haverá a apresentação de outros textos literários que
podem ser explorados dentro da disciplina de Geografia.
Esta atividade apresentada tem como objetivos, a partir da motivação à leitura:
-
reconhecer, na paisagem local e no lugar em que vive, as diferentes
manifestações da natureza, sua apropriação e transformação pela ação humana;
-
utilizar a observação e a descrição na leitura da paisagem e de experimentos,
sobretudo por meio de ilustrações e da linguagem oral;
-
reconhecer referenciais espaciais de localização, orientação e distância, de modo
a deslocar-se com autonomia e representar os lugares onde vive e se relaciona.
Os conteúdos sugeridos a partir da leitura deste texto são: o espaço vivido e a
paisagem local; os elementos da natureza/clima (sol, lua, estrelas, nuvens, chuva); o
tempo atmosférico; o ciclo da água; a transformação da natureza e preservação
ambiental; e noção de escala.
O trabalho a partir do espaço vivido da criança e de objetos concretos é
fundamental para a construção da aprendizagem significativa. O imaginário e a
curiosidade infantil sobre o céu e suas facetas são o ponto de partida da história narrada
em Dandara, o dragão a lua.
A observação da paisagem desperta questionamentos e permite o trabalho com a
temática da natureza e da forma como nos relacionamos com ela, transformando-a. A
experimentação científica estimula a curiosidade e apresenta às crianças novas
possibilidades para, a partir do concreto, entender fenômenos do seu cotidiano. O
entendimento de aspectos relacionados à dinâmica natural, como o ciclo da água,
incentiva o debate sobre questões ambientais atuais, tão instigantes para os pequenos. A
noção de conceitos ligados à orientação são igualmente importantes para a construção
de referencias espaciais fundamentais nesta etapa da escolaridade.
Esta proposta ampara-se nas orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
nos quais sugere-se para esta faixa etária a abordagem que relacione sociedade e
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natureza, aproximando o aluno do entendimento de sua realidade. Observar, interpretar,
identificar o espaço em que vive pode ser aprendido de forma lúdica. Aqui, a proposta é
estimular este conhecimento na interface com a literatura, estimulando a
experimentação, a leitura e a alfabetização. Possibilita a prática educativa
interdisciplinar, uma vez que abrange temas de interesse de disciplinas como Língua
Portuguesa, Geografia, Ciências Naturais, Matemática e Artes, além de transitar pelos
temas transversais meio ambiente, saúde e ética.
Esta atividade está indicada para crianças da educação infantil, séries iniciais do
ensino fundamental e atual 6º ano. Naturalmente, conforme a faixa etária trabalhada, as
atividades vão sendo adaptadas e transformadas para atender às necessidades da turma.
O segundo módulo refere-se ao estudo da Geografia através de ritmos musicais.
A importância da música no contexto escolar, bem como as possibilidades de trabalho
suscitados por este meio estão implícitos nas idéias de Ferreira Martins, (2009, p.10):
A música, o som ordenado, assim como é uma linguagem universal também é
uma linguagem por meio da qual a idéia é mais bem difundida ao longo dos
tempos, por ser uma transmissão verbal-oral-cantada do conhecimento.
Nesta citação, percebe-se que a música pode ser passada de geração em geração
através da sua oralidade, ou seja, o ato de cantar está incorporado na prática de muitos
povos e suas tradições.
As atividades que serão desenvolvidas nessa parte da oficina estão embasadas
nos seguintes objetivos:
- propor formas de utilizar a musicalidade nas aulas e com isso tornar o trabalho
do professor mais prazeroso, eficiente e produtivo junto aos alunos.
- despertar e desenvolver sensibilidades mais refinadas na observação de
quesitos próprios das disciplinas e seu público alvo.
- favorecer a formação e construção do saber por intermédio da linguagem
musical.
Este tipo de atividade pode ser realizada a partir das séries iniciais do ensino
fundamental, adaptadas conforme a série e os interesses dos alunos. Salienta-se que a
utilização da música no cotidiano é sempre muito bem vinda já que a musicalidade faz
parte da nossa vida diária tanto para atividades mais reflexivas da sala de aula como
também para o entretenimento.
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Para o desenvolvimento da atividade será apresentada uma seleção de músicas
relacionadas com três eixos temáticos, sendo eles: geopolítico, social e ambiental. No
momento seguinte, será solicitado ao grupo de participantes que formem três grupos
distintos. Cada grupo receberá a letra de uma das músicas e irá elaborar um roteiro de
dramatização sobre as informações contidas na letra da música. Após a elaboração dos
roteiros cada um dos grupos apresentará suas letras musicais através de uma pequena
dramatização. Para o desenvolvimento das dramatizações os participantes receberão
materiais para montar seus personagens e as paisagens dos lugares.
Ao trabalhar com a música no cotidiano escolar amplia-se as possibilidades de
interação do grupo, novas maneiras de exprimir sentimentos e também conhecer e
respeitar as diversidades culturais presentes na nossa sociedade.
Por fim, no terceiro módulo será abordado o ensino da Geografia através dos
sabores. Essa última parte da oficina tem como objetivo oferecer um novo enfoque aos
estudos de Geografia Regional do Brasil, buscando valorizar e preservar a pluralidade
cultural que caracteriza nosso país. Sendo assim, pensou-se uma proposta de trabalho
que favorecesse um olhar diferenciado sobre a cultura brasileira através da culinária.
Dentro dessa perspectiva de ensino levantam-se dois aspectos: a) a culinária de cada
região resulta dos favores da terra e do ser humano que trabalha arduamente nessa terra
e espera para ver seus frutos; e b) a culinária é memória e diversidade, ou seja, há
reporta-se às origens e modos de vida.
Essa outra maneira de ensinar a Geografia regional pode ser respaldada nas
palavras de Moran (2006, p. 22):
Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos.
Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de uma mídia, de
uma pessoa. O jogo, o ambiente agradável, o estímulo positivo podem
facilitar a aprendizagem.
Aprendemos mais, quando conseguimos juntar todos os fatores: temos
interesse, motivação clara; desenvolvemos hábitos que facilitam o processo
de aprendizagem; e sentimos prazer no que estudamos e na forma de fazê-lo.
Essa parte da oficina será apresentada em três etapas. Na primeira, aborda-se a
origem dos alimentos e a sua inserção na nossa cultura através de um jogo que trata das
particularidades dos alimentos, curiosidades regionais e lendas que tratam do
surgimento de algumas frutas. Na segunda etapa, será desenvolvida uma atividade
cartográfica para que a identificação das regiões produtoras de alimentos do nosso
cotidiano. Cabe salientar que nessa atividade cartográfica o professor pode adaptar para
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uma escala local, mas também global ou de acordo com a faixa etária e conteúdos de
interesse.
No último momento, será apresentada a história da salada de frutas, seguida da
sua preparação, que consiste na separação e corte dos ingredientes, conforme será
explicitado na receita. A participação no preparo favorece as percepções dos aromas e
texturas dos ingredientes, sendo fundamental que os participantes tenham acesso a essa
etapa. No caso do desenvolvimento da receita com alunos, a preparação do alimento
envolve, principalmente, a construção da autonomia e fortalecimento da auto-estima do
aluno.
Este trabalho favorece uma reflexão sobre as modificações e adaptações que a
nossa cultura e culinária sofreram com o passar do tempo, em decorrência da mistura da
herança indígena com a negra e européia (CHAVES & FREIXA, 2007), bem como a
influência dessas mudanças na formação da identidade dos sujeitos e da nossa
sociedade. Através deste trabalho, pensa-se descortinar a grandiosidade do nosso país e
resgatar uma maior participação social e valorização das origens por parte dos alunos
Considerações finais
Com o intuito de propor aos professores algumas práticas embasadas em formas
diferentes de falar (de) Geografia, procura-se, como desafia Rubem Alves, pensar em
escolas que são asas, com ferramentas e brinquedos que permitem ao aluno alçar outros
vôos. Esta combinação parece ser o caminho para um aprendizado significativo e, por
isso, mais efetivo, com resultados positivos dentro e fora do ambiente escolar.
Referencias Bibliográficas
ALVES, RUBEM. Gaiolas e Asas. Folha de S. Paulo, Tendências e debates,
05/12/2001.
[online].
Disponível
na
internet
via
WWW
URL:
http://www.rubemalves.com.br/gaiolaseasas.htm. Capturado em 4/5/2010.
CHAVES, G.; FREIXA, D. Larousse da cozinha brasileira: raízes culturais da
nossa terra. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007.
FERREIRA, MARTINS. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto,
2009.
MORAN, J. M. Caminhos para a aprendizagem inovadora In: MORAN, J. M.;
MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica,
12ª ed. São Paulo: Papirus, 2006. P. 22-24.
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SUERTEGARAY, M. Dandara, o dragão e a Lua. Porto Alegre: Editora Cassol,
2009. 24p.
OLIVEIRA, CRISTIANE MADANÊLO DE. Literatura para Crianças: espelho da
sociedade brasileira [online]. Disponível na internet via WWW URL:
http://www.graudez.com.br/litinf/trabalhos/velhice1.htm. Capturado em 4/5/2010.
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