XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL FATORES DE ESTADO E CONTROLES INTERATIVOS EM CÓRREGOS DE FLORESTA DE GALERIA DO BIOMA CERRADO: UMA ABORDAGEM ECOSSISTÊMICA SOB A PERSPECTIVA DOS INVERTEBRADOS BENTÔNICOS Tiago Borges Kisaka – Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Biológicas (Laboratório de Solos, Departamento de Ecologia), Brasília, DF. [email protected] Andréia de Almeida – Universidade de Brasília, Faculdade de Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Brasília, DF. Gabriela Bielefeld Nardoto – Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Biológicas (Laboratório de Solos, Departamento de Ecologia) Brasília, DF. INTRODUÇÃO A abordagem ecossistêmica é essencial para o manejo dos recursos naturais na era do crescimento humano exponencial aliado a mudanças no ambiente global. Chapin III e colaboradores (2011), sugeriram uma nova abordagem de análise do ecossistema baseada nos “fatores de estado” e nos “controles interativos”. Os ecossistemas são governados pelos fatores de estado que agem indiretamente em sua estrutura e funcionamento. Estes fatores incluem clima, material parental (rochas que dão origem aos solos), topografia, biota potencial (organismo que potencialmente ocuparam a área) e tempo. Estes cinco fatores constroem as características do ecossistema. Os controles interativos, por sua vez, governam diretamente as características presentes no ecossistema. Os processos ecossistêmicos tanto controlam quanto respondem aos controles interativos. Estes incluem o suprimento de recursos que dão suporte ao crescimento e manutenção dos organismos; as características do microclima, como por exemplo, a temperatura e o pH, que influenciam as taxas dos processos ecossistêmicos; os regimes de distúrbio e a comunidade biótica (Chapin III et al., 2011). A comunidade de invertebrados que vive no leito dos corpos hídricos (bentônicas) exerce um papel fundamental de biofiltração e quebra da matéria orgânica morta, favorecendo a manutenção da qualidade da água. A importância dos invertebrados deve-se a função de intermediação na cadeia alimentar entre os recursos da matéria orgânica (serapilheira, algas, detritos) e os peixes (Allan & Castillo, 2007; Giller & Malmqvist, 1998). No entanto, o conhecimento a respeito dos invertebrados bentônicos aquáticos no Cerrado é incipiente (Mendonça-Galvão et al., 2011). Deste modo, o presente estudo teve como objetivo fornecer informações relacionadas aos fatores de estado e controles interativos aos quais as comunidades de invertebrados bentônicos de córregos com Floresta de Galeria localizados no Bioma Cerrado do Planalto Central estejam submetidas. Por meio da revisão da literatura pretendese ressaltar as características que possam condicionar a ocorrência destes indivíduos sob a perspectiva da análise ecossistêmica. MATERIAL E MÉTODOS Os dados foram obtidos por meio de revisão da literatura a partir das plataformas Scielo e ISI Web of Science por meio das palavras-chave “florestas de galeria”, “invertebrados bentônicos”, “córrego” e “Cerrado”. Foram selecionados 43 estudos dos quais 20 abordavam aspectos relacionados aos fatores de estado, enquanto que os demais (23) tinham como temática principal os controles interativos. Com isso, foram analisados dados do Bioma 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Cerrado, compreendendo áreas de Floresta de Galeria. RESULTADOS E DISCUSSÃO Baseado na literatura existente, com relação aos fatores de estado os córregos de Floresta de Galeria do Bioma Cerrado apresentam condições climáticas bem definidas, com ocorrência de invernos secos (maio a setembro) e verões chuvosos (outubro a abril). Os solos predominantes nestes ambientes são os latossolos vermelhos profundos, com alta permeabilidade de água e topografia plana a suave-ondulada. As florestas de galeria são formações florestais que acompanham córregos do Brasil Central formando corredores fechados sobre os cursos d’água. A presença dessa vegetação impede a incidência direta de raios solares, o que tende a reduzir a produtividade primária realizada pelos organismos autotróficos do riacho. A escassez de luz associada à corrente fluvial e pobreza de nutrientes limitam o desenvolvimento de organismos aquáticos e, por conseguinte, influenciam toda a rede alimentar. Por outro lado, a presença da vegetação ripária evita o aquecimento excessivo da água, fornecendo energia alóctone com a entrada de folhas, frutos e sementes no curso d´água. Além disso, a vegetação reduz a erosão das margens e fornece condições ambientais para reprodução de espécies de invertebrados. Em condições naturais as águas destes córregos são consideradas pobres em nutrientes, levemente ácidas (com média de pH em torno de seis) e com baixa condutividade elétrica (até 10µS/cm). Os insetos, dentre os invertebrados bentônicos, destacam-se em termos de diversidade e abundância, sendo sua distribuição relacionada às características morfométricas e físico-químicas do habitat, à disponibilidade de recursos alimentares e ao hábito das espécies. A matéria orgânica morta é uma das principais fontes de energia para as espécies bentônicas em habitats de águas rasas. Os invertebrados bentônicos possuem a capacidade de liberar nutrientes na coluna d’água por meio de suas atividades de alimentação, excreção, e revolvimento do sedimento. Bactérias, fungos e algas podem absorver rapidamente esses nutrientes dissolvidos, acelerando a ação microbiana nos ambientes aquáticos em questão. Estudos apontam ainda para a baixa presença de macroinvertebrados fragmentadores. Estes são considerados organismos menos significativos em ambientes tropicais. Tal fato deve-se às elevadas temperaturas, em comparação aos ambientes temperados, que repercutem na intensificação da colonização e do processamento de serapilheira por microorganismos, limitando os recursos disponíveis aos fragmentadores. O substrato é o meio físico sobre o qual a maioria dos invertebrados aquáticos bentônicos se locomove, busca alimento e abrigo e deposita ovos. O substrato, neste caso, é um compartimento complexo no ambiente físico, e pode atuar diretamente no comportamento dos organismos aquáticos e indiretamente como o principal modificador do ambiente. Dentre os principais regimes de distúrbio examinados, estudos indicam que a entrada e a deposição de sedimento fino e o aumento na incidência de radiação solar na superfície dos corpos hídricos por meio da ação antrópica têm implicado em interferências nos habitats e nas variáveis biológicas desses sistemas, intensificando a produtividade primária no ambiente aquático e alterando a estrutura de invertebrados bentônicos. A retirada da cobertura natural da bacia hidrográfica, com enfoque para a vegetação ripária, pode aumentar a frequência e a intensidade desses impactos. CONCLUSÃO A abordagem integrada dos fatores de estado e dos controles interativos demostrou-se adequada diante da perspectiva de análise dos invertebrados bentônicos. Desse modo, as informações obtidas forneceram um panorama a cerca das características relevantes dessa comunidade em córregos de Floresta de Galeria do bioma Cerrado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL ALLAN, J. D.; e CASTILLO, M. M. (2007). Stream Ecology - Structure and function of running waters. Springer, 2 ed.. 436 p. CHAPIN III, F. S.; MATSON, P. A.; e VITOUSEK, P. (2011). Principles Of Terrestrial Ecosystem Ecology. Springer New York Dordrecht Heidelberg London. 529 p. GILLER, P. S.; MALMQVIST, B. (1998). The Biology Of Streams And Rivers. Oxford University Press. 296 p. MENDONÇA-GALVÃO, L.; et al., . (2011). Águas do Cerrado do Distrito Federal: biodiversidade, integridade e conservação. Pp. 21–46. In: FAGG, C. W.; MUNHOZ ,C. B. R.; SOUSA-SILVA; J (Eds.). Conservação de áreas de preservação permanente do Cerrado. Brasilia:: CRAD, 1o ed. 3