Promoção da saúde na terceira idade - Relato de experiência

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Título:
PROMOÇÃO DA SAÚDE NA TERCEIRA IDADE – RELATO DE EXPERIÊNCIA
Subtema:
TERAPIA COMUNTÁRIA PARA A TERCEIRA IDADE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Autores:
JOSETE MALHEIRO TAVARES
MARIA GLAZILE PAIVA
Instituição:
PREFEITURA MUNICIPAL DE SAÚDE /SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
Município/Estado: GUAIUBA-CEARÁ
Período de realização: JULHO DE 2009 A JULHO DE 2010
APRESENTAÇÃO:
A gestão municipal através da Secretaria Municipal de Saúde em parceria com o Ministério
da Saúde – MS implantou no segundo semestre de 2008 o Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (NASF)
Com o NASF buscou-se ampliar as ações desenvolvidas pelas Equipes de Saúde da Família
– ESF, tendo como foco principal trabalhar com a saúde preventiva, através de grupos
educativos acompanhados pelos novos profissionais de saúde inseridos na atenção
primária, com especial foco nas ações de promoção da saúde.
Este é o cenário que tem trabalhado o Município de Guaiúba, buscando o fortalecimento da
estratégia saúde da família, integrando-se à Política de Promoção da Saúde, que dentre outras
estratégias, inclui-se a atenção à Saúde da Pessoa Idosa.
Resumo
Há uma grande preocupação com a chamada “epidemia do sofrimento”, existente hoje em todo o mundo,
fruto da vida moderna, sedentarismo envelhecimento da população, epidemia da violência, agitações
dentre outras. Esta epidemia precisa ser controlada como qualquer outra, pois as suas conseqüências
não são menos desastrosas. O sofrimento vivenciado por uma pessoa é uma grande fonte geradora de
competência, que precisa ser valorizado e resgatado na própria comunidade, como uma forma de
reconhecer o saber construído pela vida. Poder mobilizá-los, no sentido da promoção de vínculos
solidários, é uma forma de consolidar a rede de apoio aos que vivem situações de conflitos e sofrimento
psíquico (http://listas.softwarelivre.org/pipermail/co5ijfsm-gt-saude/2004-November/000363.html ).
Através da terapia comunitária é possível ampliar o conceito de humanização da saúde. Muitas pessoas
vão às unidades de saúde em busca de auxilio patológico. No entanto, na maioria das vezes elas não
vão buscar remédios e sim um espaço de escuta, alguém para lhes ouvir. A terapia comunitária
possibilita este espaço. Assim, o tratar de uma determinada doença não se resume apenas à prescrição
de medicamentos, mas sim em saber a real origem da doença e o melhor tratamento a ser administrado.
Como podemos verificar nas palavras de Adalberto (2005):
Enquanto muitos modelos centram suas atenções na patologia, nas relações individuais,
privadas, a terapia comunitária se propõe cuidar da saúde comunitária em espaços públicos.
Propõe a valorizar a prevenção. Prevenir é, sobretudo, estimular o grupo a usar sua criatividade
e construir seu presente e seu futuro a partir de seus próprios recursos. Assim a boca cala, o
corpo fala. A boca fala, o corpo sara.
Outra autora que compartilha deste pensamento é Versiani (2003). Segundo esta, as outras terapias
tratam da doença e tendem à cura. A terapia comunitária é diferente. Ela corresponde a uma troca de
experiências, onde os participantes falam de suas angústias e tristezas decorrentes de situações
vivenciadas na família, no trabalho e no dia-a-dia. Os problemas acabam se manifestando no corpo uma
vez que as pessoas não conversam a respeito do que lhes causam tais sentimentos
(www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=23248).
A Terapia Comunitária se mostra como uma alternativa a mais para o tratamento de doenças presentes
na saúde coletiva. Através dela, é possível buscar a promoção da saúde e novas formas de atendimento,
tornando-o mais humanizado. Assim, os aspectos sistemáticos relacionados à inserção da terapia
comunitária na saúde Pública terão nesta pesquisa uma importância fundamental.
Portanto concordamos com Guimarães (2006), quando nos diz que a terapia comunitária vem se
consolidando como estratégia de promoção da saúde mental e prevenção de doenças e assim as
equipes de Saúde da Família podem utiliza-lá como recurso e ferramenta em suas ações preventivas.
O interesse da gestão municipal de Guaiúba por este campo de Promoção da Saúde deve-se a rotina do
trabalho realizado pelo equipe do NASF ao largo de quase dois anos de existência, quando da vivência
diária dos atendimentos realizados.
Durante as atividades pode-se observar as angústias, medos, ansiedades e dúvidas dos pacientes
perante várias questões, assim como a diminuição de suas idas ao posto de saúde por queixas de vários
sintomas que inicialmente pareciam tem um foco patológico. Diante de tal situação, insta-se-nos buscar
novas parcerias para viabilização da terapia comunitária na atenção primária de saúde, enfatizando o que
pensam e sentem os pacientes que participam deste processo, analisando a relação que existe entre os
efeitos da Terapia Comunitária nos usuários das Unidades Básicas de Saúde da Família.
Justificativa:
Necessidade de prestar assistência de forma integral, buscando a superação de preconceitos de toda
ordem, assim como oportunizar um processo de inclusão social e familiar de pessoas da terceira idade,
tem se constituído um grande desafio para o Sistema Único e Saúde.
Muitos são os problemas que assolam uma população. Um deles é o crescente número de doenças que
aparecem cotidianamente. Muitas são as formas de se encontrar medicamentos e tratamentos para
combater tais doenças. Paralelamente, porém, em menor proporção, aumenta o número de estudos que
buscam tratar o paciente de forma completa: biológica (corpo), psicológica (mente e emoções) e
sociedade (onde a pessoa está inserida). O tratar de um paciente levando em conta todas estas nuances
corresponde por em prática um dos eixos teóricos onde está alicerçada a terapia comunitária.
De acordo com Roquetti (2006), através da terapia comunitária é possível perceber que os problemas só
podem ser entendidos e resolvidos se os percebemos como parte de um todo.
A sociedade mundial vive uma crise profunda de valores. As ações institucionais, as articulações em
redes, Organizações não Governamentais (ONGs) e políticas públicas têm pautado a necessidade de se
criar condições de diálogo em torno de princípios norteadores de um agir qualificado nas esferas pessoal
e coletiva. Para que esta realidade se torne possível, muitos Centros de Saúde da Família estão
aplicando a terapia comunitária como forma de promoção da saúde.
A terapia comunitária é uma “nova abordagem de acolhimento da dor e do sofrimento, através da partilha
de experiências de vida e sabedorias de uma forma horizontal e circular” (ROQUETTI, 2006). Ela nasceu
em 1988, em Fortaleza, no Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Ceará, e seu criador foi o Prof. Dr. Adalberto Barreto, que buscou conciliar o
saber cientifico ao popular, na perspectiva do desenvolvimento das dinâmicas individuais e coletivas. De
acordo com Adalberto (2005)
A terapia comunitária é um instrumento que nos permite construir redes sociais solidárias de
promoção da vida e mobilizar os recursos e as competências dos indivíduos, das famílias e das
comunidades. Procura suscitar a dimensão terapêutica do próprio grupo valorizando a herança
cultural dos nossos antepassados indígenas, africanos, europeus e orientais, bem como o
saber produzido pela experiência de vida de cada um.
Hoje, de acordo com Barreto (2005), a terapia comunitária está presente em 27 estados brasileiros, com
16 Pólos formadores e de Multiplicação e cerca de 7500 terapeutas comunitários formados.
Assim, a terapia comunitária é um procedimento terapêutico em grupo com a finalidade de promover a
saúde e a atenção primária em saúde mental, desenvolvendo atividades de prevenção e inserção social
de pessoas que vivem em situação de crise e sofrimento psíquico.
Segundo Fukui (2004), a terapia comunitária é uma prática destinada tanto à prevenção na área da
saúde como a atender grupos heterogêneos, de organização informal, num contato face-a-face e que
demonstra um interesse comum: o alívio de seus sofrimentos e a busca de bem-estar. Através dela há a
construção de vínculos solidários e redes de apoio social, evitando a desintegração social, onde a
comunidade busca resolver os problemas que estão ao alcance da coletividade.
Objetivo Geral:
Implantação do Projeto de Terapia Comunitária para a Terceira Idade, assistidos pela Equipe
Multidisciplinar do Núcleo de Apoio a Saúde da Família – NASF, enquanto fortalecimento das Ações de
Promoção da Saúde, focado na Estratégia do Saúde da Família;
Objetivos Específicos:
> Traçar o Perfil dos usuários intregrantes do Movimento de Convivência da Terceira Idade “Jesus
Maria José” do município de Guaiúba..
> Avaliar e relacionar os efeitos da Terapia Comunitária no Público Alvo Estabelecido.
> Observar o comportamento dos participantes e familiares que na Terapia Comunitária.
> Identificar as mudanças que ocorrem no cotidiano dos participantes da Terapia Comunitária.
> Analisar a relação existente entre a doença e a Terapia Comunitária.
> Fortalecer as Ações do Conselho Municipal do Idoso.
Metodologia:
A instituição de Atividades de Rotina em Terapia Comunitária para a Terceira Idade, focado numa Cultura
de Paz e Não Violência, perpassa um mero suporte metodológico, e/ou assistencial, vez que
possibilitará uma ampla ação de convivência solidária, superação de estigmas, preconceitos e situações
de abandono ou descaso, estimulando práticas de integração sócio-familiar, elevação da auto estima e
adoção de hábitos saudáveis, como premissa de se avançar numa melhoria da qualidade de vida dos
pacientes assistidos.
Num primeiro momento foi realizado o Cadastramento do Público Alvo beneficiado, composto de
entrevistas semi-estruturadas, observação participante, histórias de vida e o diário de campo, que
permitirá “descobrir o significado das ações e relações que se ocultam nas estruturas sociais, devendo
captar o universo das percepções, das emoções e das interpretações dos pacientes no seu contexto”
(RIBAS, 2004. p.37):
PÚBLICO ALVO: pacientes de ambos os sexos com faixa acima 50 anos, participantes da Terapia
Comunitária, regularmente atendidos no Núcleo de Apoio a Saúde Família – NASF de Guiaúba-Ce,
Os dados relacionados à caracterização da população serão apresentados em tabelas com freqüências
absolutas e percentuais, enquanto as respostas às questões abertas serão tratadas, utilizando-se o
método de análise de conteúdo de BARDIN (1977).
Observou-se o anonimato da identidade dos pacientes, o acesso aos dados do prontuário e liberdade de
desistirem desta atividade, quando desejarem, em atenção aos preceitos contidos na Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), definidora das diretrizes e das normas
regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos.
Resultados:
1. Institucionalização de equipe multidisciplinar no âmbito da atenção
primária, através do Núcleo de Apoio a Saúde da Família – NASF,
constando das seguintes categorias profissionais: fisioterapia, terapeutia
ocupacional, fonoaudiologia, psicologia e serviço social.
2. Integração das ações de atenção a pessoa idosa, a partir das oficinas de
terapia comunitária, inserido na lógica da estratégia de saúde da família;
3. Priorização de ações assistenciais de cunho domiciliar, ambulatorial e
hospitalar no município de Guaiúba para a pessoa idosa.
4. Cobertura de Imunização contra a Influenza (gripe comum), assim como
contra a Gripe H1n1.
5. Grupo de pessoas da chamada Feliz Idade com programação de
entretenimento, práticas saudáveis de atividades físicas (dança popular –
forró), entretenimento, convivência solidária.
6. Realização de atividades de educativas de promoção do respeito a
pessoa idosa, como forma de prevenção de maus tratos.
7. Busca ativa de diagnóstico precoce e tratamento de doenças oncológicas
associadas a senilidade, com especial atenção para os casos de câncer
de colo uterino, de mama e de próstata.
8. Instituição de ambulatório especializado em urologia – com prioridade
para o paciente idoso.
9. Descentralização das ações de terapia comunitária para os distritos,
obedecendo a lógica das equipes de saúde da família.
10.
Suporte terapêutico em aconselhamento psicológico e
acompanhamento social dos pacientes idosos assistidos no projeto.
11.
Integração com as ações da Assistência Social do Município para o
fortalecimento das ações e serviços públicos prestados aos idosos.
12.
Redução das internações hospitalares por acidentes, e atos de
violência envolvendo pessoas idosas.
Aprendizado com a vivência:
A partir desta importante estratégia de fomento às ações de promoção da saúde na lógica da promoção
da saúde, percebe-se resultados particularmente importantes relacionados a redução das ocorrências de
agravos envolvendo pacientes idosos decorrentes de morbidades associadas ao consumo abusivo de
bebida alcoólica, agressões ou atos violentos, quedas, assim como elevação do número de pacientes
com triagem, exames, diagnóstico e tratamento oncológico (próstata, mama e colo uterino);
Por outro lado, de igual maneira, evoluiu-se na humanização do atendimento aos usuários, constando
maior integração entre as diversas equipes com atuação no município (saúde da família, nasf e hospital
municipal).
Considerações finais:
O tema abordado além atual possui relevância social e científica. Social, pois envolve uma das formas
de prevenção e inserção social de pessoas que vivem em situação de crise e sofrimento psíquico,
resgatando a identidade, dignidade e cidadania e restaurando a auto-estima, a confiança em si e o
vínculo entre as pessoas. Científica porque propicia reflexos acerca do avanço no tratamento de muitas
doenças que possuem foco psíquico e não só patológico, buscando atender a demanda de pessoas em
situação de sofrimento emocional, uma vez que a terapia comunitária é considerada como uma forma de
prevenção do adoecimento.
Desta forma, a terapia comunitária tem se constituído num importante ferramenta a Saúde Pública na
medida em que contribui de maneira significativa para a prática do cuidado em saúde pelos profissionais
que se comprometem com os princípios e diretrizes do SUS, buscando a redução dos riscos de doenças
e agravos, garantindo a participação da comunidade, priorizando a aquisição de autonomia e capacidade
de transformação social.
Portanto, este PROJETO deverá ser aprimorado, ampliado e INTEGRANDO A TERAPIA
COMUNITÁRIA, carecendo de análise, reflexão e revisão, rebuscando sempre os novos estudos e
métodos sobre o tema, que ainda são escassos.
Esta experiência deverá motivar a intensificação de ações de acompanhamento profissional
multidisciplinar a pacientes com sofrimento emocional.
Cabe aos trabalhadores da saúde, dentre eles os especialistas em saúde pública, tornar essa realidade
possível tomando como base o planejamento estratégico, princípios e diretrizes do SUS.
Esta experiência logrou APROVAÇÃO PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE que contou no final de 2010 de
financiamento da ordem de R$ 40.000,00 que foram investidos para o fortalecimento do conjunto destas
ações de terapia comunitária e suas repercussões no ciclo de vida familiar, social e psicológica dos
pacientes envolvidos, cujo intuito principal tem sido a de melhoria da qualidade de vida daqueles que
buscam atendimento na rede de serviços na atenção primária à saúde.
Guaiúba-Ce, 15 de julho de 2010.
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