1 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA – DC VIDA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ONCOLOGIA – 2a edição. O EXAME PREVENTIVO DO CÂNCER CÉRVICO-UTERINO NA VISÃO DE MULHERES ATENDIDAS EM UMA ESF. Melania Sartori Villani Rua do Comércio, 3000 – Bairro Universitário Caixa postal 560 Fone: (55) 3332-0200 – Fax:(55) 3332-9100 www.unijui.edu.br CEP 98700-000 Ijuí – RS 2 MELANIA SARTORI VILLANI O EXAME PREVENTIVO DO CÂNCER CÉRVICO-UTERINO NA VISÃO DE MULHERES ATENDIDAS EM UMA ESF. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação Latu sensu em Oncologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ apresentado ao curso como requisito parcial para receber o título de especialista em Oncologia. Orientadora: Prof. Dda. Adriane Cristina Bernat Kolankiewicz Ijuí, RS 2012 3 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIOGRANDE DO SUL - UNIJUÍ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA – DC VIDA A COMISSÃO ABAIXO ASSINADA APROVA O PRESENTE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO INTITULADO: O EXAME PREVENTIVO DO CÂNCER CÉRVICO-UTERINO NA VISÃO DE MULHERES ATENDIDAS EM UMA ESF. ELABORADO POR: Melania Sartori Villani COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM ONCOLOGIA COMISSÃO EXAMINADORA: _________________________________________________ Profª Dda Adriane Cristina Bernat Kolankiewicz – Orientadora __________________________________________________ Profª MSc Gilmar Poli - Banca 4 O Exame Preventivo do Câncer Cérvico Uterino na visão de mulheres atendidas em uma ESF. ¹ Melania Sartori Villani ² Adriane Cristina Bernat Kolankiewicz ³ RESUMO Objetivo: Identificar o que representa para mulheres atendidas em uma ESF a realização do Exame Citopatológico do Colo Uterino. Método: Estudo qualitativo, descritivo. Realizado com mulheres adscritas a duas ESF na cidade de Lages – SC. Discussão e Análise: A grande maioria das mulheres entrevistadas (60%) revela que o Exame Citopatológico do Colo Uterino representa para elas cuidar da saúde de seu corpo de modo a prevenir doenças. Observou-se que os sentimentos de vergonha e medo, tanto na realização do exame quanto no recebimento do resultado, podem ser sentidos e vivenciados por cada mulher de forma diferente. As mulheres percebem o exame de prevenção como uma forma de cuidar da saúde, no entanto algumas destas buscam assistência a partir de aparecimento de sintomas. Considerações Finais: Este estudo revelou que a adesão das mulheres ao exame caracteriza-se como um desafio para os profissionais de saúde. Entender quais são os sentimentos e as expectativas das mulheres a respeito do exame é de fundamental importância para que a equipe organize e planeje ações com objetivo de aumentar a adesão das mulheres ao exame. Palavras- chave: Exame Citopatológico, câncer, sentimentos ___________________________________________ ¹ Trabalho de Conclusão de Curso ² Enfermeira, Especializanda do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Oncologia 2º Edição da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUUÍ). E-mail [email protected] ³ Enfermeira, Mestre em Saúde Coletiva, Doutoranda em Enfermagem pela Unifesp e Docente do Departamento de Ciência da Vida da UNIJUÍ, Ijuí/RS. E-mail: [email protected] 5 Examination Preventive Uterine Cervical Cancer in the view of women attending na ESF ABSTRACT Objective: To identify which accounts for women attending an ESF a Pap smear testing Cervix. Method: A qualitative and descriptive. Conducted with women ascribed to two ESF in Lages – SC. Discussion and Analysis: The vast majority of women interviewed (60%) reveals that the Cervical Pap smear is for them to take care of the health of your body to prevent diseases. It was observed that feelings of shame and fear, both in the exam and receiving the result, can be felt and experienced by each woman differently. Women perceive the examination as a form of prevention in health care, howeversome of those seeking assistance from onset of symptoms. Conclusion: This study revealed that the accession of women to take is characterized as a challenge for health professionals. Understand the feelings and expectations of women regarding the examination isof fundamental importance for the team to organize and plan actions in order toincrease the membership of women to take. Keywords: cervical cancer screening, cancer, feelings 6 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS DIU – Dispositivo Intra Uterino DST – Doença Sexualmente Transmissível ESF- Estratégia de Saúde da Família PAISM – Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher SUS – Sistema Único de Saúde TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UBS – Unidade Básica de Saúde 7 SUMÁRIO RESUMO....................................................................................................... 3 ABSTRACT ................................................................................................... 4 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS........................................................... 5 1. INTRODUÇÃO.................................................................................... 7 2. MÉTODO..............................................................................................9 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................... 10 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 17 5. REFERÊNCIAS...................................................................................19 8 1. INTRODUÇÃO O câncer do colo do útero é uma doença progressiva que se inicia com modificações no epitélio e que no decorrer de aproximadamente 10 a 20 anos pode evoluir para um processo invasivo. (BRASIL, 2006). É o segundo tipo de câncer mais freqüente entre as mulheres, sendo que aproximadamente 500 mil novos casos diagnosticados por ano no mundo, e destes em torno de 230 mil acabam indo a óbito. No Brasil, o risco estima-se em 18 casos para cada 100.000 mulheres (BRASIL, 2009). No Brasil o câncer de colo do útero constitui um dos problemas de Saúde Pública com altas taxas de morbimortalidade entre as mulheres sendo que se classifica como a quarta causa de mortalidade entre as neoplasias malignas da população feminina (PINTO, 2010). O Câncer de Colo de Útero também está relacionado à vulnerabilidade social e o baixo nível sócio econômico, pois são nesses grupos que se concentram as maiores dificuldades de acesso à rede de serviços impossibilitando ações de detecção e tratamento precoce da doença, dificuldades estas, que também podem surgir a partir de problemas ou questões culturais como medo e preconceito dos parceiros (INCA 2002). A Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher é uma política pública criada pelo Ministério da Saúde (MS) e que tem por objetivo facilitar o acesso as usuárias do SUS voltando sua atenção para o cuidado a mulher uma vez que as estas são a maioria da população brasileira e as principais usuárias do SUS (BRASIL, 2006). A Atenção ao Câncer do Colo Uterino foi um tema fortificado a partir da publicação das Portarias GM/MS nº 2.439/2005 e GM 399/06 que instituíram a Política Nacional de Atenção Oncológica e o Pacto pela Saúde, onde o controle do Câncer do Colo do Útero passou a estar incluso nos planos de saúde estaduais e municipais, como um objetivo fundamental no Termo de Compromisso de Gestão, comprometendo diversas instâncias na responsabilização do controle desse câncer (INCA, 2010). 9 Atualmente no Brasil a coleta de material para exames citopatológicos cervico-uterino, também conhecido como: Exame Preventivo do Colo do Útero, Exame de Papanicolaou ou Citologia Oncótica é a principal estratégia utilizada para detecção precoce deste câncer. Este deve ser realizado em mulheres de 25 a 60 anos de idade, uma vez por ano e, após dois exames anuais consecutivos negativos, a cada três anos (BRASIL, 2006). As Políticas Públicas de Atenção à Saúde da Mulher e Atenção Oncológica são temas que desde a Graduação despertaram o interesse da pesquisadora. Um dos fatores que contribuíram para a seleção deste tema foram às experiências e observações uma vez que a pesquisadora atua na Atenção Básica e compõe uma Equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Por esse motivo ampliaram-se os conhecimentos adquiridos, possibilitando o confronto com a realidade em torno desta temática. O exame citopatológico do câncer uterino ainda é cercado por diversos sentimentos e expectativas e estes necessitam de um estudo aprofundando para poder traçar novas estratégias, a fim de aumentar a adesão das mulheres para a realização deste exame. A partir dessas assertivas este estudo teve por objetivo geral Identificar o que representa para estas mulheres a realização do Exame Citopatológico do Colo Uterino. Os objetivos específicos foram: investigar a prática e a periodicidade da realização do exame entre as mulheres, descrever quais são os sentimentos e expectativas relacionadas ao exame e identificar os diferentes fatores que levam a realização ou não do exame. 10 2. MÉTODO Trata-se de estudo qualitativo, descritivo. Realizado em uma Unidade Básica de Saúde composta por duas Estratégias de Saúde da Família situada na cidade de Lages no Estado de Santa Catarina. Os critérios de inclusão dos indivíduos foram: ser mulher, possuir idade superior a 18 anos, ter intenção de realizar o exame na data e no local estimado, estar orientado auto e alopsiquicamente para responder a entrevista, assinar o termo de assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. As entrevistas foram delimitadas quando começaram se repetir as alocuções. Após aplicar os critérios de inclusão, a amostra final do estudo constituiu-se respectivamente de 10 mulheres com idade entre 18 e 62 anos que estiveram presente na UBS escolhida, em uma data aleatória, para realização do Exame Citopatológico Cérvico Uterino e que aceitaram, voluntariamente, participar da pesquisa. Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado um questionário semiestruturado contendo questões fechadas com dados de caracterização (idade, estado civil, escolaridade, e utilização de métodos contraceptivos) e questões abertas que davam ênfase ao que representa para elas fazer o exame preventivo e sentimentos das mulheres em relação ao exame preventivo. Os dados obtidos por meio das entrevistas seguiram a metodologia preconizada por Gomes (2002), com ordenação, classificação e análise final dos dados. Os depoimentos foram agrupados, por sua similaridade em temáticas. Na realização da análise e interpretação dos dados, os sujeitos participantes deste estudo tiveram suas identidades preservadas. Para fins de identificação as mulheres que participaram do estudo foram identificadas através de pseudônimos conforme a seqüência em que foram realizadas as entrevistas (Ex. E1, E2 e assim sucessivamente até E10). O estudo baseou-se na resolução 196/96 CNS, a qual incorpora os referencias básicos da bioética, bem como os princípios éticos de autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Unijuí pelo parecer consubstanciado n° 008/2012. 11 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistadas 10 mulheres, a qual a idade variou entre 18 e 62 anos. 10% encontram-se na faixa etária de 18 a 20 anos, 20% de 21 a 30 anos, 40% de 31 a 40 anos e 20% de 41 a 60 anos e ainda 10% apresentou idade acima de 61 anos. A maioria das mulheres que participaram da pesquisa é considerada jovem e em idade reprodutiva, isto reflete a necessidade de proporcionar maiores informações quanto aos cuidados com sua saúde, lembrando que a realização do exame de prevenção de câncer cérvico-uterino é essencial nesse período (PELLOSO, 2004). Também se observa que apenas 10% das entrevistadas com idade acima de 61 anos procuraram a Unidade Básica de Saúde para realizar o exame, isto sugere que estas mulheres podem não estar procurando o atendimento por não estarem mais preocupadas com a reprodução. Este é um dos principais problemas que prejudicam a detecção precoce de câncer de colo uterino nesta faixa etária. (PELLOSO 2004). Em relação ao estado civil, 70% eram casadas e quanto ao nível de escolaridade, 30% tinham o 1º grau completo, 50% o 1º grau incompleto 20% o 2º grau completo, nenhuma com 2º grau incompleto e também nenhuma com o 3º grau completo. Segundo Brenna (2001), as mulheres com idade mais avançada possuem menor conhecimento em relação ao Exame Citológico do Colo Uterino uma vez que as mulheres com maior escolaridade têm um conhecimento mais específico sobre a finalidade do mesmo, por isso procuram realizar o exame com mais freqüência. O não uso de método contraceptivo foi identificado em 50% das entrevistadas. O restante 40% das mulheres fazem uso de algum método, sendo que 2 (duas) fazem uso de pílula anticoncepcional, 1 (uma) faz uso apenas de camisinha e 1 (uma) usa Dispositivo Intra Uterino (DIU). Uma vez que a grande maioria das entrevistadas é casada, nota-se que se sentem protegidas e afastadas do contágio de doenças por isso não utilizam método anticoncepcional. (THUM, 2008) 12 A maioria das mulheres não usa preservativo por depositarem confiança no parceiro, e acreditarem em certa crença ou cultura popular que identifica a noção de casamento ou união estável a uma sensação falsa de proteção contra este tipo de intercorrência (PELLOSO, 2004). Quanto a periodicidade da realização do exame, apenas uma mulher (10%) nunca havia realizado o exame, 50% relataram ter realizado há menos de 2 anos. As entrevistadas que realizaram o exame no ultimo ano totalizaram 20% e com mais de 3 anos também 20%. As entrevistadas demonstraram preocupação em realizar o exame periodicamente, uma vez que 80% das mulheres compareceram a UBS para a realização do mesmo pela última vez a 1 (um) ano ou a menos de 2 anos. Quando pensamos em prevenção, não podemos ignorar que a periodicidade do exame é indispensável, pois quando a mulher deixa de realizar o exame com a freqüência preconizada pelo Ministério da Saúde, compromete a prevenção do agravo e diminui a possibilidade de um diagnóstico precoce (THUM, 2008). Com estes dados pode-se verificar que a população entrevistada tem consciência e preocupação com a realização deste exame. Contudo, apesar da maioria das entrevistadas realizarem o exame freqüentemente, ainda é preciso investir nas mulheres que não comparecem na Unidade de Saúde para realizar o exame ou que não o fazem no período correto, sendo importante a iniciativa por parte do profissional de saúde e sua equipe, de medidas investigativas e educativas, para uma maior adesão dessas mulheres ao exame (SOUZA, 2010). A partir da leitura e releitura das entrevistas pode-se elencar três categorias de análise a primeira versa sobre o conhecimento e a importância da realização do exame, a segunda sobre as expectativas e sentimentos sobre a realização do exame e a terceira sobre os fatores que a levaram ou não realizar o exame. Categoria I: Conhecimento e importância da realização do exame O MS preconiza a realização do Exame Citopatológico do Colo Uterino na fase pré clínica ou sem sintomas para poder detectar lesões precursoras do câncer, pois se diagnosticado na fase inicial as chances de cura chegam a 100%. No Brasil foi criado o Programa de Atenção Integral á Saúde da Mulher (PAISM) 13 que contempla ações de prevenção, educação e tratamento do câncer cérvico uterino (BRASIL, 2010). Contudo, mesmo com a implantação deste programa, o câncer de colo de útero continua apresentando altos índices de incidência, sendo o desconhecimento das mulheres o principal motivo para isto, sendo agravado nas classes mais desfavorecidas (FERREIRA 2009). A grande maioria das mulheres entrevistadas (60%) ao responder o questionamento que revela que o Exame Citopatológico do Colo Uterino representa para elas cuidar da saúde de seu corpo de modo a prevenir doenças, porém elas não conseguiram identificar a relação entre o exame e a prevenção do câncer de colo de útero, como podemos observar nas verbalizações a seguir: “O exame representa estar cuidando do meu corpo e prevenindo as doenças.” E 1 “Cuidados com a saúde e prevenir doenças.” E 2 “Fazer o preventivo é cuidar da saúde pois identifica doenças.” E 4 “Bom para ver se tem alguma doença”. E 7 “Representa cuidar de minha saúde e ver se não tenho alguma infecção.” E 8 As respostas citadas acima revelam o pouco conhecimento da maioria dessas mulheres sobre a prevenção do câncer do colo de útero em específico. O restante das entrevistadas citou na sua resposta a prevenção do câncer como motivo principal representado pelo exame. A questão do desconhecimento sobre a real finalidade do exame revela o fato de que o mesmo não deve ser relacionado apenas a uma condição específica da mulher, mas sim a uma característica verificada nas populações mais carentes e que influencia de modo negativo no prognóstico de vários tipos de câncer (CASTRO 2010). Ressalta-se que algumas mulheres podem ter informações equivocadas e, por vezes, não distinguir apropriadamente a coleta de material para o exame preventivo do exame ginecológico, buscando a realização do mesmo, não como medida de prevenção, mas de forma curativa que surgem a partir de queixas ginecológicas (OLIVEIRA 2009). 14 Thum 2008 defende que o pouco conhecimento das mulheres sobre o Exame Citopatológico do Colo Uterino está relacionado à falta de comunicação entre o profissional de saúde e as mulheres, uma vez que os profissionais devem desenvolver ações educativas relacionados à prevenção, à educação em saúde buscando sensibilizar estas mulheres para a adoção de comportamentos compatíveis com uma vida saudável (THUM, 2008). Quando questionadas sobre a participação em palestras informativas sobre Câncer de Colo de Útero 70% das mulheres entrevistadas responderam nunca ter participado de algum evento ou palestra, apenas 30% responderam ter participado alguma vez da vida. As mulheres que já foram em algum evento desse tipo, acreditam na importância de trabalhar este tema nos bairros e nas escolas a fim de conscientizar a população feminina para a importância da prevenção deste câncer e outras doenças. Algumas das mulheres nunca participaram de palestra ou evento com esse tema, porém demonstraram interesse em entender mais sobre este assunto. Observamos nas falas a seguir: “Já participei no ano passado quando vim fazer o preventivo, é bom para conscientizar as mulheres deste câncer perigoso”. E 1 “Já fui na palestra do colégio, foi legal deveria ter mais palestras deste tipo, porque as meninas não fazem o exame.” E 5 “Nunca participei de palestra sobre câncer de útero mas gostaria de um dia poder ir para saber mais do assunto”. E 2 A educação em saúde é um fator primordial quando falamos a respeito da prevenção do Câncer Cérvico Uterino. Palestras, atividades educativas, e parcerias entre os serviços de saúde e universidades ou escolas devem ser realizadas de modo a divulgar este tema em maior abrangência e também priorizar campanhas de esclarecimento acerca deste câncer (DUAVY 2007). Categoria II: Expectativas e Sentimentos relacionados ao exame Em relação ao que a mulher sente quando se submetem a realização do Exame Citopatológico nota-se que o maior sentimento relatado pelas entrevistadas é a vergonha. 15 Cada vez que a mulher expõe seu corpo, aflora este sentimento, que pode ser justificado pelo tabu do sexo, proveniente da educação recebida, bem como da falta de informação (DUAVY, 2007). Podemos identificar esta realidade nos depoimentos a seguir: “Muita vergonha, pois tem que mostrar o corpo para uma pessoa que eu não conheço (...)”. E 4 ‘“Sinto vergonha da enfermeira, mas sei que o exame é importante.” E 9 O sentimento de vergonha é evidente pelo fato do exame tratar-se de um procedimento muito invasivo e impessoal, também está relacionado com a exposição do corpo, com a questão da sexualidade e dos tabus que envolvem este tema e com o fato de mulher perceber que seu corpo vai ser visto como um objeto (PELLOSO 2004). Segundo o MS 2006, no Exame Citopatológico está expresso o sentimento de vergonha, principalmente quando as mulheres se colocam na posição ginecológica, expondo dessa maneira sua genitália. É uma sensação muito constrangedora e desagradável para a mulher (BRASIL 2006). É necessário que haja uma maior sensibilidade e compreensão por parte dos profissionais durante a realização do exame. O sentimento de vergonha pode dificultar a realização do exame, de modo que a mulher não consegue relaxar tornando o exame doloroso o que ocasiona contrações da musculatura pélvica (FERREIRA 2006). Além da vergonha, outro sentimento fortemente destacado pelas entrevistadas foi o medo. Este pode ser decorrente de dois fatores: o medo do profissional machucá-la com os instrumentos e o medo de receber um diagnóstico ruim, sendo apontado como dificuldade para a realização do exame. “Sinto constrangimento, medo, desconforto e ansiedade de vir resultado ruim”. E 7 “Sinto vergonha, medo de machucar e resultado ruim.” E 3 “Sinto medo de machucar, vergonha, medo de ter doença.” E 10 16 Algumas respostas evidenciaram que o medo está fortemente relacionado a este exame e a expectativa de algum apresentar algum problema de saúde também pode ser observado. O medo é desencadeado a partir de uma situação concreta que pode oferecer algum mal ou dor (DUAVY, 2007). Muitas vezes o medo relacionado ao Câncer em geral e também ao Câncer Cérvico Uterino é criado e divulgado pela própria propaganda de risco presente em campanhas de Saúde Pública. Os serviços de saúde também transmitem esse sentimento, convencendo as pessoas das ameaças e do perigo que correm se não adotarem certos comportamentos ditos preventivos (THUM 2008). Diante dessas respostas, observa-se que os sentimentos de vergonha e medo, tanto na realização do exame quanto no recebimento do resultado, podem ser sentidos e vivenciados por cada mulher de forma diferente, conforme a realidade de cada uma. Esses sentimentos também podem ser vividos por essas mulheres como uma sensação de falta de proteção e também desenvolver o sentimento de perda do domínio sobre o próprio corpo devido s posição ginecológica (DAVIM, 2005). Portanto, fica evidente que devido a vergonha, desconforto e medo, as mulheres podem não realizar o exame, realizar tardiamente, quando aparecerem sintomas ou até mesmo desistir de realizá-lo (GARCIA, 2010). Desse modo, os profissionais de saúde devem dispor de estratégias que minimizem esses sentimentos, como: informar as mulheres sobre a importância da realização do exame, como funciona o procedimento em si, expor somente partes do corpo necessárias para a realização e evitar que outras pessoas circulem na sala do momento do exame (GARCIA, 2010). Assim, é de fundamental importância que haja uma interação mútua entre profissionais de saúde e mulheres, em que lhe seja conferida o direito de falar de si própria, expor seus sentimentos, expectativas, vivências e experiências (BRITO 2007). O papel do enfermeiro e demais profissionais de saúde consiste em entender e praticar o cuidado integral, não apenas como um dos princípios do SUS, mas, sobretudo, proporcionando que novas práticas de saúde priorizem o respeito às individualidades dos pacientes. Desse modo, o cuidado que população precisa deve incluir o acolhimento, o vínculo e escuta (THUM 2008). 17 Categoria III: Fatores que levaram a realização ou não do exame. As mulheres percebem o exame de prevenção como uma forma de cuidar da saúde, no entanto algumas destas buscam assistência a partir de aparecimento de sintomas. O Câncer de Colo de Útero não apresenta sintomas na sua fase inicial, por isso a mulher deve fazer o Exame Citopatológico rotineiramente antes que apareçam os primeiros sintomas, pois se o diagnóstico e o tratamento forem precoces a chance de cura pode ser maior (BRASIL, 2009). Quando questionadas a respeito dos fatores que levaram a procurar o atendimento para a realização do exame, a maioria das entrevistadas relatou que foi motivada pela presença de supostos fatores de risco. “Corrimento, sinto dores na relação, meu marido pode estar me traindo por ai”. E 2 “Tenho ferida no útero e corrimento, o medico pediu pra fazer todo ano”. E 10 “Dores na barriga, a vizinha já teve problemas, vi do exame na TV.” E 3 “Fiz porque tive tempo e estou com corrimento e coceira” E 4 A motivação das entrevistadas para realizar o exame está vinculada ao aparecimento de sintomas e a preocupação com sua condição de sua saúde, e também no fato de reconhecerem que seus companheiros podem ser risco potencial para o contágio com DST (DUAVY, 2007). Os discursos acima demonstram a idéia de que a busca da assistência à saúde ocorre quando a mulher identifica em si problemas que podem desencadear sintomas ginecológicos. O cuidado nasce do interesse, da responsabilidade e da preocupação com a própria saúde. Isso pode ser observado em apenas 3 mulheres entrevistadas nesta pesquisa, já que a busca pelo serviço também pode ser estimulada por outros fatores, como observamos nas respostas: “Faço o exame uma vez por ano, tenho que me cuidar, minha filha também faz”. E 1 18 “Cuidados com minha saúde para poder identificar alguma doença, medo de ter doença e não saber”. E 7 “A minha mãe já teve câncer de mama por isso me preocupo.’ E5 Nesses depoimentos, os motivos para realização do exame foram incentivados pelo estímulo de um membro da família, caso da história familiar, e o medo do acometimento. A entrevistada 3 relatou nunca ter realizado o exame e indagou não sentir necessidade de fazer este exame por ausência de sintomas de doenças. Também sentia vergonha em expor a intimidade do corpo, então relaxou com os cuidados. Um dos principais motivos para a não realização do exame é o desconhecimento das mulheres, que conseqüentemente instiga as mesmas a procurarem atendimento apenas quando surgem sinais e sintomas (FERREIRA 2009). Na realização do exame, muitas mulheres sentem-se envergonhadas e identificam a situação como desconfortável por ter a genitália exposta e manipulada por um profissional, revelando o quanto a mulher independentemente do grau de instrução, da idade e da origem social, ainda sente dificuldade em considerar este exame como procedimento natural (DUAVY 2007). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os objetivos propostos foram alcançados. Este estudo revelou que a adesão das mulheres ao Exame Preventivo de Câncer de Colo de Útero ainda caracterizase como um desafio para os profissionais de saúde. Entender quais são os sentimentos e as expectativas das mulheres a respeito do exame é de fundamental importância para que a equipe organize e planeje ações com objetivo de aumentar a adesão das mulheres ao exame. Foi evidenciado que a realização do Exame Preventivo é dificultado pelo conhecimento deficiente e muitas vezes equivocado das mulheres sobre o mesmo. Além disso, as entrevistadas também identificaram o exame como um momento carregado de sentimentos como o medo, vergonha e a preocupação quanto à possibilidade de receber um resultado maligno. 19 Em vista disso, deve ser trabalhada com eficiência a prevenção de doenças e promoção da saúde, proporcionando maiores informações sobre este tema. A melhoria da adesão das mulheres ao exame preventivo somente será alcançada quando as mulheres obtiverem informações corretas sobre o exame e estiverem sensibilizadas sobre a importância da realização do mesmo. A análise sobre a visão das mulheres a respeito do exame preventivo possibilitou que reflexões fossem feitas quanto a Atenção a Saúde da Mulher. Este estudo permitiu que a pesquisadora refletisse sobre sua própria trajetória profissional e a forma como desempenha seu papel junto às mulheres que presta assistência. Através dessas evidências reforça-se a importância do Enfermeiro que atua na Atenção Básica de modo que possa através da Educação em Saúde possibilitar maior conhecimento a população a cerca de temas relacionados a sua própria saúde. Em relação à Estratégia de Saúde da Família relacionada ao Câncer de Colo de Útero, este estudo identificou que existe uma significativa melhora do acesso das mulheres a realização do exame, porém ainda não é suficiente pois muitos diagnósticos tardios continuam sendo identificados. Assim torna-se necessário que a equipe desenvolva maior divulgação e busca ativa das mulheres que nunca realizaram este exame. Desse modo, considera-se que os profissionais devem estar qualificados para a realização deste exame e devem preparar sua equipe para receber essas mulheres, desde o acolhimento até a busca do resultado do exame, os profissionais devem criar vínculo com as mulheres, para que sintam segurança para realizar o exame. 5. REFERÊNCIAS BRASIL. 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