XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. O QUE A TORNA TÃO DIFÍCIL? AS BARREIRAS PARA IMPLEMENTAR O PROCESSO DE GESTÃO DA DEMANDA NA CADEIA DE SUPRIMENTOS Daniela de Castro Melo (UFTM) [email protected] Laryssa de Paula Nascimento Moreira (UFTM) [email protected] O objetivo desta pesquisa foi identificar e analisar as barreiras para implementar o processo de gestão da demanda na cadeia de suprimentos. A pesquisa é qualitativa, descritiva, realizada por meio de múltiplos casos. Utilizou-se o software NVivo 10 como apoio à análise de conteúdo dos dados. Foram realizadas 40 entrevistas com executivos de 27 empresas dentre elas atacadistas, indústrias e varejistas do setor de mercearia básica. A pesquisa revelou como desafios da gestão da demanda na cadeia de suprimentos analisada: diferentes níveis de amadurecimento para uma cultura de planejamento conjunto; dificuldade dos fornecedores de cumprir a programação de entrega de mercadorias; dificuldade de gerenciar uma grande quantidade de iniciativas e categorias; dificuldade de comunicação com a força de vendas e desenvolvimento do ponto de venda; abordagem gerencial transacional das lojas varejistas. Palavras-chave: Gestão da demanda, gestão da cadeia de suprimentos, atacado, indústria, varejo supermercadista XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução A gestão da demanda é um tema emergente no campo de conhecimento da gestão da cadeia de suprimentos. O que se busca com a gestão da demanda é a rápida e adequada integração das necessidades originadas do mercado na direção dos fornecedores, de modo a balancear e alinhar estrategicamente a demanda com a capacidade operacional ao longo da cadeia de suprimentos. Croxton et al. (2008) desenvolveram um modelo conceitual para a implementação bemsucedida da gestão da demanda, com foco na previsão de demanda e na sincronização da oferta e da demanda. Porém, não fornecem evidência empírica para o modelo proposto. Além disso, as abordagens identificadas na literatura (CROXTON et al., 2008; ESPER et al., 2010; HILLETOFTH, ERICSSON; CHRISTOPHER, 2009; JUTTNER, CHRISTOPHER; BAKER, 2007; MELO; ALCÂNTARA, 2012; MENTZER; MOON, 2005; VICS, 2010) não exploraram empiricamente os desafios para implementar o processo de gestão da demanda. Constatou-se, por meio de revisão sistemática da literatura (ANNING; OKYERE; ANNAN, 2013; MELO; ALCÂNTARA, 2011; SANTOS; D’ANTONE, 2014), que existe pouca informação disponível sobre a gestão da demanda em cadeias de suprimentos. As abordagens identificadas na literatura (CROXTON et al., 2008; ESPER et al., 2010; HILLETOFTH, ERICSSON; CHRISTOPHER, 2009; JUTTNER, CHRISTOPHER; BAKER, 2007; MELO; ALCÂNTARA, 2012; MENTZER; MOON, 2005; VICS, 2010) não exploraram empiricamente os desafios para implementar o processo de gestão da demanda. Diante da necessidade de trabalhos que explorem a gestão da demanda, uma lacuna importante identificada na literatura está relacionada às barreiras da implantação do processo de gestão da demanda na cadeia de suprimentos. Para diminuir esta lacuna, o objetivo desta pesquisa é identificar e analisar as barreiras para implantar o processo de gestão da demanda na cadeia de suprimentos de produtos de mercearia básica. A pesquisa é qualitativa, descritiva, realizada por meio de múltiplos casos. Foram realizadas entrevistas com executivos de empresas atacadistas, varejistas e indústrias do setor de mercearia básica. A importância e a contribuição desta pesquisa estão justificadas pelo fato da gestão da demanda sob a perspectiva da gestão da cadeia de suprimentos ser um conceito novo, ainda não consolidado, que carece de mais estudos e definições. Além disso, destaca-se o fato de a 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. pesquisa trabalhar com casos práticos que abordam as dificuldades da implantação da gestão da demanda, apresentando e discutindo as experiências de empresas. O artigo está estruturado em quatro partes. Inicialmente, no referencial teórico, são discutidos aspectos conceituais da gestão da demanda e suas barreiras. Na sequência, é apresentado o método de pesquisa e os seus resultados. Por fim, são apresentadas as conclusões. 2. A gestão da demanda na cadeia de suprimentos e suas barreiras Muito se tem discutido sobre a gestão da cadeia de suprimentos. Porém ainda são identificadas algumas dificuldades em sua implantação. Segundo Fawcett e Magnan (2002), apesar dos benefícios da integração e colaboração entre os membros da cadeia de suprimentos, poucas empresas alcançam o potencial da integração: cerca da metade das firmas pesquisadas estão trabalhando com a integração dentro da empresa, um terço das empresas focam seus esforços de integração com os fornecedores do primeiro nível da cadeia, pouco esforço de integração entre outros níveis. Segundo Ballou (2006), isto ocorre provavelmente devido às dificuldades para alcançar colaboração efetiva e a algumas limitações como, por exemplo, resistência no compartilhamento de informações. Um fluxo de informação transparente na gestão da cadeia de suprimentos pode ser a chave para reduzir as distorções da demanda (BALJKO, 1999; LEE; PADMANABHAN; WHANG, 1997; PAIK; BAGCHI, 2007). Segundo Fawcett e Magnan (2002), apesar dos benefícios da integração e colaboração entre os membros da cadeia de suprimentos, poucas empresas alcançam o potencial da integração. O que ocorre, de acordo com Ballou (2006), provavelmente devido às dificuldades para alcançar colaboração efetiva e a algumas limitações como, por exemplo, resistência no compartilhamento de informações. Diversos autores (ANNING; OKYERE; ANNAN, 2013; CHONG; ZHOU, 2014; CROXTON et al. 2008; HILLETOFTH; ERICSSON, 2007; HILLETOFTH; ERICSSON; CHRISTOPHER, 2009; JUTTNER; CHRISTOPHER; BAKER, 2007; MENTZER et al., 2007; MENTZER; MOON, 2005; RAINBIRD, 2004; VOLLMANN et al., 2004; WALTERS, 2006; WALTERS; RAINBIRD, 2004) pressupõem que a gestão da demanda envolve a criação de sinergias entre a gestão de operação e de marketing com objetivo de compreender o mercado e desenvolver ações sincronizadas com a estratégia da empresa, capacidade produtiva e atendimento das necessidades do consumidor final. 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A literatura da gestão da cadeia de suprimentos frequentemente sugere que a demanda no ponto de consumo deve ser um direcionador para toda a cadeia de suprimentos, além de considerar o nível de distorção da demanda como um indicador de efetividade na cadeia de suprimentos. Porém, segundo Taylor (2006), o direcionador do planejamento da demanda é frequentemente o plano orçamentário de vendas e não a demanda atual de consumo. Analisando as práticas de colaboração entre os agentes da cadeia de suprimentos, percebe-se que mesmo diante de um alto nível de transparência de informações, abertura e confiança entre os agentes, ainda existe uma distorção significativa da demanda. Bailey e Francis (2008) reforçam que apenas o compartilhamento de informações não é suficiente para diminuir o efeito da amplificação da demanda (efeito chicote). De acordo com Chen et al. (2003), Fioriolli e Fogliatto (2009), Lee, Padmanabhan e Whang (1997), o efeito chicote gera consequências locais e sistêmicas para fabricantes, distribuidores e varejistas. Entre as consequências, os autores destacam: baixos níveis de serviço; perda de vendas em função das rupturas de estoques; aumentos dos estoques de segurança, gerando elevação dos custos relacionados a estoques; aumento no número de reprogramações de produção para cobrir emergências; gestão ineficiente de recursos locais, como pessoal, equipamentos e capital e recursos da cadeia como um todo; queda do retorno sobre o capital investido nas operações e ruptura de planejamento, causada pela reatividade do processo decisório. Christopher e Towill (2000) identificaram que muitas organizações são direcionadas por previsões ao invés de serem direcionadas pela demanda. Isto acontece porque as empresas têm dificuldade em capturar dados de mercado, sendo forçadas a desenvolver previsões baseadas em vendas passadas ou entregas, gerando, além de alta incerteza e variabilidade, grande volume de estoque. A cadeia de suprimentos que melhor conseguir reduzir essas incertezas e variabilidade alcançará vantagem competitiva. Rexhausen, Pibernik e Kaiser (2012) ressaltam que a gestão da demanda eficiente impacta de forma positiva e substancial o desempenho da cadeia de suprimentos como um todo e classificam como dimensões da gestão da demanda a segmentação da demanda e a adesão à gestão da demanda, além da previsão de demanda e S&OP. Os autores destacam que o nível de adesão aos processos da gestão da demanda, ou seja, se são bem definidos, implementados e rigorosamente cumpridos, desempenha um papel importante para uma empresa desenvolver capacidades superiores de gestão da demanda. 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Portanto o principal desafio da gestão da demanda consiste em reduzir ineficiências e atenuar ou eliminar a amplificação da demanda ao longo da cadeia de suprimentos, de modo que seja possível otimizar o uso dos recursos empregados em seus diferentes níveis. Assim, o desenvolvimento de uma abordagem mais sistemática e integrada de gestão da demanda na cadeia de suprimentos pode resultar na melhoria do serviço prestado ao cliente, contribuindo para um nível maior de disponibilidade do produto. 3. Metodologia A pesquisa é qualitativa, descritiva, realizada através de múltiplos casos e utiliza a análise de conteúdo de dados qualitativos. A condução dos estudos de caso envolveu a coleta de informações por meio de relatórios e documentos fornecidos pelas empresas, pelo material público divulgado na imprensa, por observações diretas e entrevistas. Foi desenvolvido um roteiro de entrevista semiestruturado com o objetivo de compreender o grau de sofisticação da gestão da demanda nas empresas pesquisadas, identificar as melhores práticas e os temas comuns nestas práticas. Assim, foram entrevistados executivos dos seguintes elos da cadeia de suprimentos: • Fornecedores: foram envolvidas 13 grandes empresas nacionais e multinacionais que manufaturam alimentos, bebidas, produtos de higiene, beleza e limpeza e que são fornecedoras das empresas atacadistas objetos desta pesquisa; • Atacadistas: foram quatro grandes empresas atacadistas de atuação nacional localizadas na cidade de Uberlândia (MG), sendo uma delas líder nacional no setor; • Lojas varejistas: foram dez supermercados de pequeno e médio porte pertencentes, e que pertenceram, às redes de supermercados interempresariais Smart, Valor e Biz, localizadas nas cidades de Uberlândia (MG), Patos de Minas (MG) e Franca (SP). As três redes interempresariais pertencem a atacadistas que concedem aos proprietários das lojas varejistas a licença para usarem as marcas Smart, Valor e Biz. O quadro 1 mostra os cargos entrevistados em cada um dos elos da cadeia de suprimentos. Desta forma, esta pesquisa envolveu 27 empresas totalizando 40 entrevistas. O quadro 2 detalha a estrutura das empresas atacadistas envolvidas na pesquisa. Os dados obtidos foram submetidos à análise de conteúdo. As transcrições das entrevistas foram incluídas individualmente no programa NVivo10, como fontes documentais. 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Por fim, mensagens por e-mail foram trocadas com alguns entrevistados, como também chamadas telefônicas foram realizadas para esclarecer algumas questões que não ficaram claras durante a análise dos dados. 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Quadro 1 – Empresas pesquisadas e seus respectivos executivos entrevistados Quantidade de empresas Quantidade de Empresas estudadas Cargos envolvidos envolvidas entrevistas Gerente de trade marketing Gerente de Vendas Gerente Key Account Indústrias manufatureiras 13 17 Diretor de Planejamento da Demanda Diretor de Trade Marketing & Merchandising Diretor de Vendas Gerente de Compras Gerente de Planejamento Logístico Atacadistas 4 13 Gerente de Suprimentos Gerente de Trade Marketing Presidente Gerente Geral Lojas varejistas 10 10 Proprietário Total 27 40 Fonte: Pesquisa de Campo Quadro 2 – Estrutura das empresas atacadistas pesquisadas Atacado Atacado 1 Atacado 2 Atacado 3 Atacado 4 Número de itens 16.000 8.000 Segmentos de negócios Área de atuação Possui rede interempresarial? Farmácia, eletrônicos e informática, alimentos, bebidas, material escolar/escritório, higiene e Todos os estados beleza, limpeza, brasileiros bazar/utilidades domésticas, materiais de construção e veterinário. Sim Alimentos, bebidas, material 9 estados escolar, higiene e beleza, brasileiros (MG, limpeza, bazar/utilidades ES, SP, RJ, BA, domésticas, agropecuária e SE, GO, TO, PR) ferragens, camping e lazer e DF Sim Equipe de vendas 5.000 RCAs 975 vendedores próprios Estrutura Telemarketing 380 RCAs 500 RCAs 3000 Farmácia, alimentos, bebidas, higiene e beleza, limpeza, bazar/utilidades domésticas. 9 estados (MG, ES, SP, RJ, BA, SE, GO, TO, PR). Não Estrutura Telemarketing 2800 Alimentos, bebidas, material escolar/escritório, higiene e beleza, bazar/utilidades domésticas 12 estados brasileiros (MG, ES, SP, RJ, BA, MA, PI, PE, PA, AM, AP, GO) e DF Sim 540 RCAs RCAs: representantes comerciais autônomos 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Pesquisa de Campo O próximo tópico apresenta os resultados da pesquisa. 4. Resultados A análise dos dados possibilitou identificar as seguintes barreiras do processo de gestão da demanda: diferentes níveis de amadurecimento para uma cultura de planejamento conjunto; dificuldade dos fornecedores de cumprir a programação de entrega de mercadorias nos atacados; dificuldade de gerenciar uma grande quantidade de iniciativas e categorias; dificuldade de comunicação com a força de vendas e desenvolvimento do ponto de venda; abordagem gerencial transacional das lojas varejistas. Cada uma destas dificuldades será discutida nos próximos itens. 4.1 Diferentes níveis de amadurecimento para uma cultura de planejamento conjunto Dos quatro atacadistas pesquisados, verificou-se que dois segmentam seus clientes varejistas e fornecedores industriais; por outro lado, todas as empresas industriais pesquisadas segmentam seus clientes atacadistas. Os critérios das empresas para segmentar os fornecedores (no caso do atacadista) e clientes (no caso dos fornecedores) são a relevância e rentabilidade do mix de produtos para o negócio das empresas, faturamento total anual com as empresas e nível de relacionamento. Este interesse se reflete na capacidade do fornecedor/atacadista de trabalho em conjunto para desenvolver um plano de negócios, de planejamento e de investimento, como também na aproximação de equipes das duas empresas. Assim, percebem-se diferentes níveis de amadurecimento para uma cultura de planejamento conjunto. Tanto fornecedores industriais quanto atacadistas consideram importante o desenvolvimento do plano de negócios, mas nem todos estão preparados para este processo, ou às vezes ainda não deram o devido grau de importância. Alguns representantes das empresas atacadistas mencionaram que os fornecedores que têm como prática o planejamento, o investimento em treinamento, desenvolvimento de iniciativas para as lojas varejistas, comunicação e aproximação com a equipe interna, são os que conseguem fazer um trabalho mais bem feito e, por consequência, obter um resultado melhor a longo prazo. 4.2 Dificuldade dos fornecedores de cumprir a programação de entrega de mercadorias nos atacados 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Ao solicitar um pedido ao fornecedor, os sistemas de informação de algumas empresas atacadistas geram uma data e horário para que o fornecedor entregue as mercadorias no seu armazém. Porém, alguns fornecedores atrasam a entrega dos produtos, perdendo o prazo estabelecido fazendo com que os atacadistas precisem reagendar a entrega. Entretanto, na maioria dos casos, as empresas não têm mais janelas de agendamento para os próximos dias, ou até semanas. Foram relatados alguns casos em que o fornecedor chegou no dia e horário agendados, mas o atacado não conseguiu descarregar a mercadoria devido ao excesso de trabalho, fazendo com que o caminhão do fornecedor esperasse o reagendamento da entrega. Percebe-se, então, que quando o fornecedor atrasa a entrega das mercadorias, o atacado cobra uma penalidade, mas, por outro lado, não assume os eventuais prejuízos causados ao fornecedor por atrasos decorrentes de suas falhas internas. 4.3 Dificuldade de gerenciar uma grande quantidade de iniciativas e categorias Como as empresas atacadistas desenvolvem plano de negócios com vários fornecedores, que apresentam iniciativas, prestação de contas e objetivos diferentes, os representantes do atacado necessitam gerenciar o plano de negócios e ainda atender os representantes dos fornecedores em suas necessidades. O nível de detalhes de cada iniciativa é muito grande. Os representantes do fornecedor estão em constante contato com as áreas internas dos atacados e abordam os funcionários como se estes somente tivessem iniciativas, ações e metas com aquele fornecedor. Além disso, mesmo que os funcionários dos atacados tivessem somente aquele fornecedor para atender, são muitas as informações que eles precisam se inteirar e atualizar para discutir melhor com o fornecedor. Por isso, os representantes dos atacadistas consideram difícil gerenciar todas as iniciativas desenvolvidas com diversos fornecedores. Portanto, o atacadista compartilha informações, alinha o direcionamento estratégico com o fornecedor, elabora um plano de negócios conjunto, permite o acesso dos fornecedores às instalações da empresa, cobra dos fornecedores o monitoramento do plano de negócios, mas tem dificuldade de atender aos fornecedores e solucionar em conjunto os problemas que surgem. Percebe-se que isto ocorre principalmente por uma deficiência estrutural das empresas, pois faltam profissionais para melhor acompanhar e monitorar as atividades de gestão da demanda desenvolvidas com os fornecedores. 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 4.4 Dificuldade de comunicação com a força de vendas e desenvolvimento do ponto de venda A grande quantidade de pessoas envolvidas e itens trabalhados dificultam o processo de comunicação com a equipe de vendas. Para amenizar esta dificuldade, alguns atacados possuem revistas de veiculação interna que são enviadas para cada região e distribuídas à força de vendas, além das comunicações online. As empresas também investem constantemente em treinamentos e eventos regionais para a equipe de vendas com participação das empresas fornecedoras para divulgar lançamentos de produtos, tirar dúvidas e informar sobre campanhas e incentivos de vendas. Percebe-se que o fornecedor pode realizar um bom trabalho com o atacado, mas se a equipe de vendas não for comunicada das campanhas e iniciativas desenvolvidas em conjunto, as duas empresas não serão bem-sucedidas. Além da comunicação, outra dificuldade mencionada foi a implantação das iniciativas desenvolvidas em conjunto nas lojas varejistas, pois a mentalidade dos RCAs ainda é muito transacional. Portanto, para diminuir o impacto da dificuldade de comunicação com a equipe de vendas e o desenvolvimento do ponto de vendas, os atacados estão realizando as seguintes ações: fornecem treinamentos e eventos para a força de vendas, utilizam ferramentas internas de comunicação (revistas, correio eletrônico); envolvem os fornecedores nos treinamentos e eventos para a força de vendas; segmentam seus clientes; contratam vendedores próprios; simplificam a proposta comercial (preço, condições de pagamento e promoções ativas); expandem suas estruturas de televendas e desenvolvem sistemas de informações para monitorar as vendas para as lojas varejistas. 4.5 Abordagem gerencial transacional das lojas varejistas A abordagem gerencial está relacionada à capacidade das empresas de desenvolverem práticas de gestão da demanda na cadeia de suprimentos. Os resultados da pesquisa sugerem que as empresas supermercadistas, mesmo pertencentes a redes interempresariais, apresentem poucas práticas de gestão da demanda na cadeia de suprimentos e se encontram nos seus estágios iniciais. A abordagem gerencial das lojas varejistas ainda é uma das principais barreiras para fazer transição com sucesso e sustentar relações colaborativas entre comprador-fornecedor, 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. pois todas as lojas varejistas pesquisadas ainda tomam decisões de curto prazo e baseadas no fator preço, ou seja, são clientes transacionais. Algumas lojas varejistas pertencentes a redes interempresariais percebem as vantagens da parceria com o atacado, porém demonstram atitude passiva em ficar aguardando que todas as iniciativas de melhorias venham do fornecedor. Percebe-se, então, que as empresas atacadistas e indústrias devem focar seus esforços na melhoria da comunicação com as lojas varejistas com o objetivo de melhorar o desempenho. Alguns executivos das indústrias destacaram que o atacado precisa identificar o que o varejista valoriza: somente serviços básicos ou se também querem serviços complementares, como fazer parte da rede interempresarial, participar de campanhas de vendas, receber assessoria para melhorar o mix de produtos, ou melhorar o layout da loja. 5. Conclusões Esta pesquisa teve como objetivo identificar e analisar as barreiras para implantar o processo de gestão da demanda na cadeia de suprimentos de produtos de mercearia básica. Assim, as dificuldades identificadas entre as empresas analisadas foram: diferentes níveis de amadurecimento para uma cultura de planejamento conjunto; dificuldade dos fornecedores de cumprir a programação de entrega de mercadorias nos atacados; dificuldade de gerenciar uma grande quantidade de iniciativas e categorias; dificuldade de comunicação com a força de vendas e desenvolvimento do ponto de venda; abordagem gerencial transacional das lojas varejistas. As empresas fornecedoras pesquisadas que não possuem o alinhamento das diretrizes estratégicas em conjunto com o atacado recebem as propostas deste de forma passiva, não efetuando análises mais criteriosas e, por consequência, perdendo oportunidades de identificar necessidades de melhorias. Verifica-se que o planejamento conjunto permite às empresas direcionar estrategicamente seus negócios para atingir vantagem competitiva de forma contínua. Além disso, os fornecedores entrevistados que conseguem envolver a alta gerência, desenvolvem o plano de negócios com o atacadista de forma mais rápida. Tornando essencial o envolvimento da alta gerência para resolver conflitos e garantir o comprometimento das equipes e empresas para o que foi acordado. 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Percebe-se que quanto mais avançadas as práticas de gestão da demanda entre as empresas, melhores são os resultados financeiros, pois conseguem controlar melhor os estoques, desenvolver ações conjuntas quando o nível de inventário estiver elevado, compartilhar os custos e esforços para desenvolver iniciativas, campanhas de vendas e ações promocionais para a loja varejista e para a força de vendas. A abordagem gerencial das lojas varejistas demonstrou-se como uma das principais barreiras para fazer transição com sucesso e sustentar relações colaborativas entre compradorfornecedor, pois todas as lojas varejistas pesquisadas ainda tomam decisões de curto prazo e baseadas no fator preço. Verifica-se a importância em estimular as lojas varejistas a aprimorarem suas práticas de gestão da demanda. A melhoria do nível de serviço das empresas também é percebida, porque diminui as deficiências nos processos, evitando as rupturas tanto no atacadista quanto nas lojas varejistas. Neste sentido, as empresas têm oportunidade de compartilhar conhecimento e aprendizado, pois absorvem as melhores práticas de cada uma devido às constantes interações inter e intraempresas. Portanto, constatou-se que o compartilhamento de informações, desenvolvimento de um plano de negócios em conjunto e o seu acompanhamento diminuem os efeitos das barreiras para implantar o processo de gestão da demanda na cadeia de suprimentos analisada. Os resultados mostraram que não basta somente planejamento, as empresas precisam interagir constantemente para acompanhar e monitorar o plano de negócios estabelecido, buscando solucionar os problemas em conjunto. Apesar dos desafios para implantar o processo da gestão da demanda apresentados neste estudo poderem ser aplicados a outras cadeias de suprimentos, o estudo é limitado a um setor específico e a abrangência de qualquer conceito ou experiência citada deve ser estudada de forma mais ampla. Trabalhos futuros poderiam ser realizados, abrangendo um estudo semelhante que utilizasse como empresa focal uma grande rede de supermercados, ou que abrangesse um número maior de cadeias de suprimentos; um estudo semelhante em outros setores industriais para fins de análises comparativas; ou um estudo quantitativo que permita validar as barreiras para a implantação do processo de gestão da demanda discutidos nesta pesquisa. Agradecimentos 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. À FAPEMIG pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS ANNING, K. S.; OKYERE, S.; ANNAN, J. Demand chain management model: a tool for stakeholders’ value creation. International Journal of Business and Social Research, v.3, n.12, December, 2013. BAILEY, K.; FRANCIS, M. Managing information flows for improved value chain performance. International Journal of Production Economics, v. 111, n. 1, 2008. 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