Termodinâmica Energia, Calor e Temperatura Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura Energia, Calor e Temperatura Os conceitos de energia, temperatura e calor são essenciais em termodinâmica. As palavras temperatura e calor são muito usadas no nosso dia a dia, às vezes praticamente como sinônimos. Em termodinâmica, assim como em outros ramos da ciência, certas palavras têm significados muito precisos e, em geral, diferentes dos vários significados a elas atribuídos na linguagem comum. Temperatura e calor, em termodinâmica, são conceitos completamente distintos, embora relacionados. A palavra calor também é utilizada, mesmo em textos de termodinâmica, como sinônimo e energia térmica. Neste capítulo, vamos explorar os conceitos termodinâmicos dessas três grandezas distintas. Temperatura, calor e equilíbrio térmico Temperatura é a grandeza física que quantifica as noções de frio ou quente. Mais especificamente, temperatura é a propriedade que governa a transferência de calor entre dois sistemas. Quando dois sistemas, que se encontram inicialmente a temperaturas diferentes, são postos em contato térmico entre si, há um fluxo de calor do sistema mais quente para o sistema mais frio até que se estabeleça o equilíbrio térmico. Nesta situação, ambos os sistemas têm a mesma temperatura. No parágrafo anterior, utilizamos expressões como fluxo de calor e transferência de calor. Esta linguagem dá a ideia de que calor seria uma espécie de substância que se move entre sistemas ou partes de um sistema dirigida por diferenças de temperatura. Esta maneira de se referir aos processos térmicos é herança de uma teoria proposta nos primórdios da termodinâmica em que o calor era considerado justamente isto: uma espécie de substância, denominada calórico, que era conservada. A teoria do calórico foi abandonada depois que a natureza do calor foi compreendida com o desenvolvimento do conceito geral de energia e sua lei de conservação. Um marco nesse processo foi o trabalho de Joule, entre outros, que mostrou que efeitos equivalentes ao do calor podem ser obtidos por transferência de energia mecânica ou elétrica, demonstrando que calor é uma forma de transferência de energia. O que caracteriza esta forma particular de transferência de energia é o fato que ela é causada unicamente por diferenças de temperatura. 1 Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura 2 Equilíbrio térmico Os conceitos de temperatura e calor têm um caráter abstrato, no sentido de que nem a temperatura de um sistema nem o calor sendo trocado entre dois sistemas podem ser observados diretamente. O conceito de equilíbrio térmico, entretanto, tem um significado mais palpável. Em termodinâmica, o termo equilíbrio tem o significado de ausência de mudança: as propriedades físicas macroscópicas de um sistema em equilíbrio assumem valores constantes no tempo. A figura 1 ilustra o processo de estabelecimento do equilíbrio térmico entre dois blocos sólidos, A e B, inicialmente a temperaturas diferentes. No instante inicial (topo da figura), os blocos, cada um em equilíbrio térmico interno, são postos em contato. A partir desse instante tem início a transferência de calor entre eles, provocando alteração nos estados de cada bloco. Esta alteração se reflete no formato dos blocos e, consequentemente, em seu volume. Os efeitos em sólidos reais podem ser diminutos, mas observáveis. A parte central da figura ilustra um estado intermediário no processo. O bloco A, inicialmente mais frio, se expandiu e o bloco B, inicialmente mais quente, se contraiu. Os efeitos de contração e expansão não são uniformes, sendo mais acentuados nas porções próximas dos dois corpos. Nesse estágio, os blocos não se encontram em equilíbrio interno, as suas temperaturas não são bem definidas e o fluxo de calor acontece não apenas entre os blocos, mas também ao longo de cada um deles. As transformações vão se tornando cada vez mais lentas até que, depois de um tempo suficientemente longo, o equilíbrio térmico é atingido (parte de baixo da figura) e as transformações cessam completamente. Propriedades físicas de sistemas termodinâmicos A propriedade mais simples para se observar num sistema termodinâmico são suas dimensões físicas que, por isso, foram utilizadas na ilustração anterior. Outras propriedades também mudam com a temperatura e podem ser usadas como indicativas de estabelecimento do equilíbrio térmico. Há duas classes de propriedades para os sistemas termodinâmicos: variáveis termodinâmicas e propriedades de transporte. Variáveis termodinâmicas são definidas apenas para sistemas em equilíbrio termodinâmico. Equilíbrio termodinâmico implica, além de equilíbrio térmico, equilíbrio mecânico (ausência de movimento relativo, no nível macroscópico, entre partes do sistema) e equilíbrio químico (a constituição química do sistema ou de cada uma de suas partes é constante no tempo). Exemplos de Figura 1: Dois blocos sólidos, inicialmente a temperaturas diferentes, são postos em contato térmico (topo). Os estados dos dois blocos começam a se transformar, o que se pode observar pelas suas deformações (centro). As linhas pontilhadas marcam os limites originais dos blocos. As transformações vão se tornando cada vez mais lentas até que, depois de um tempo suficientemente longo, se atinge o estado de equilíbrio térmico (fundo). Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura variáveis termodinâmicas, além da temperatura, são o volume, a pressão, os momentos de dipolo elétrico ou magnético do sistema (estas últimas, quando o sistema é submetido a campos elétricos ou magnéticos constantes no tempo). Propriedades de transporte são relacionadas com algum tipo de movimento no sistema, como de calor (condutividade térmica), de cargas elétricas (resistência elétrica), de matéria (viscosidade, coeficiente de difusão) etc. Embora tais propriedades, por sua natureza, só possam ser observadas em estados de não equilíbrio, também podem ser utilizadas para monitorar o equilíbrio térmico. Energia, calor e temperatura: interpretação microscópica Energia térmica Para entender a natureza do calor e obter uma interpretação do conceito de temperatura, vamos considerar a energia levando em conta a constituição atômico-molecular da matéria. A energia é uma grandeza física que assume várias formas e está sujeita a uma lei de conservação: a energia de um sistema fechado é constante. As várias formas de energia podem transformar-se uma na outra, transferir-se de uma parte a outra do sistema, mas a sua soma é invariável. Quando tratamos de sistemas materiais consideramos as seguintes parcelas da energia associadas aos seus constituintes elementares (átomos ou moléculas): 1. energia cinética associada ao movimento de translação do centro de massa de cada partícula; 2. energia potencial da interação entre eles (de origem eletromagnética); 3. energia “interna” de cada partícula (energia cinética de rotação em torno do centro de massa, energia de vibração em moléculas ou sólidos, excitações do sistema eletrônico etc.); 4. eventualmente, energia potencial de interação com o exterior (campos elétricos, magnéticos ou gravitacionais). A energia de um sistema termodinâmico é uma variável termodinâmica, denominada energia interna ou energia térmica, ou simplesmente energia, que num estado de equilíbrio termodinâmico assume um valor bem definido. Como vimos, ela é a soma de um número imenso de termos associados a cada átomo ou molécula (o elétron livre no caso dos metais) e a cada par de partículas interagentes. Cada um desses termos varia constantemente ao longo do tempo devido às trocas de energia entre as partículas, mas num estado de equilíbrio termodinâmico a sua soma é constante. O estado de equilíbrio termodinâmico, portanto, não é um estado de repouso. Não há nenhum movimento relativo entre as partes do sistema no nível macroscópico, mas os seus constituintes 3 Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura microscópicos estão em constante movimento. Num gás ou num líquido, os átomos ou moléculas se movimentam ao longo de todo o volume, colidindo uns com outros e trocando energia. Num sólido, os átomos ou moléculas vibram em torno de suas posições de equilíbrio com amplitudes que variam constantemente ao longo do tempo. Este movimento aleatório dos constituintes microscópicos da matéria é chamado agitação térmica. No equilíbrio termodinâmico, a soma de cada forma de energia (cinética ou potencial) dos componentes microscópicos é constante. Assim, por exemplo, a energia cinética média das partículas (soma da energia cinética total dividida pelo número de partículas) é constante. Num dado instante, cada partícula tem uma velocidade diferente, tanto em direção e sentido quanto em módulo, de modo que suas energias cinéticas também são diferentes. A energia de uma determinada partícula pode ser maior ou menor que a média. Matematicamente, esta situação pode ser descrita através de uma função de distribuição1 de 1 velocidades ou de energia cinética. Considere uma população (por exemplo, das partículas de um sistema), onde cada elemento Note que energia térmica não é uma nova forma de energia, ela é composta tem associado um valor de uma variável v. Se v da energia convencional (cinética e potencial) associada aos constituintes mi- é uma variável discreta, ou seja, assume valores croscópicos da matéria. No contexto da termodinâmica, esta energia nunca enumeráveis vi, a função distribuição f(vi) é a fração dos elementos da população para a qual é calculada (isto é objeto da mecânica estatística), mas medida experimental- v = v . Se v é uma variável contínua, a função i mente. Na verdade, o que pode ser medido são diferenças de energia entre distribuição é definida de forma que f(v)dv é a fração dos elementos da população para os estados termodinâmicos diferentes, de forma que a energia interna é deter- quais a variável se encontra num intervalo dv em torno de v. minada em relação a um estado de referência. Calor e trabalho Uma maneira de alterar o estado termodinâmico de um sistema é mudando a sua energia interna. Isso só pode ser feito pela interação do sistema com outros sistemas. Como a energia total dos sistemas interagentes é conservada, se a energia de um aumenta a do outro diminui. Por isso, falamos em transferência de energia. Em termodinâmica, distinguimos duas formas de transferir energia para um sistema: trabalho e calor. O trabalho em termodinâmica tem o mesmo significado que tem em mecânica: é o produto de um deslocamento pela componente paralela da força que o provoca. O trabalho pode ser de origem mecânica, elétrica ou magnética, e pode ser quantificado através de parâmetros macroscópicos. 4 Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura Por exemplo, no experimento de Joule (figura 2), o trabalho é o produto do peso pelo deslocamento do bloco em sua descida. Este trabalho é igual à energia transferida ao sistema “água + pá” que, para simplificar, consideramos isolado do recipiente. Inicialmente, o trabalho dá origem à rotação da pá, que é transmitida à água: a energia transferida para o sistema se encontra na forma de energia cinética de rotação. Esta energia mecânica associada ao movimento macroscópico do sistema não faz parte da energia interna. Com o passar do tempo, devido ao atrito entre pá e água, água e parede do recipiente e o atrito interno entre as moléculas de água (viscosidade), a energia mecânica se dissipa. Quando o equilíbrio é atingido, o sistema se encontra em repouso e toda a energia transferida foi acrescentada à energia interna do sistema, o que provoca um aumento na agitação térmica, refletido num aumento da temperatura. Em mecânica, um sistema dissipativo é aquele em que a energia mecânica não se conserva. Costumamos dizer que a energia mecânica perdida foi transformada em calor. Isto é tecnicamente incorreto porque estamos usando a palavra calor como sinônimo de energia interna ou energia térmica, o que ele não é. Observe que em termodinâmica não existem sistemas dissipativos. A energia é sempre conservada quando se leva em conta a energia interna. Vamos considerar uma outra maneira de transferir energia para o sistema pá + água discutido anteriormente, utilizando o chamado efeito Joule. Passar corrente por um resistor é um método muito comum de “gerar calor”, ou seja, de transformar energia (potencial) elétrica em energia térmica. Considere um resistor imerso na água e conectado a uma bateria através de uma chave. Inicialmente, a chave está desligada e o sistema, incluindo o resistor, se encontra em equilíbrio térmico. Se a chave é ligada durante um certo intervalo de tempo, o trabalho elétrico realizado pela bateria pode ser computado como o produto da diferença de potencial pela carga transferida entre os terminais do resistor (esta é a versão elétrica de força vezes deslocamento). No resistor, esse trabalho é a energia transferida para os elétrons livres que, através de colisões, é convertida em energia térmica do resistor como um todo. A temperatura do resistor aumenta, o que provoca a transferência de energia térmica do resistor para a água. Esta energia transferida do resistor para a água em virtude da diferença de temperaturas é o que, em termodinâmica, se denomina calor. A transferência de energia se processa na superfície entre o resistor e a água, através da interação de seus componentes microscópicos, ou seja, íons e elétrons do resistor e as moléculas de água. A porção de água em contato com o resistor recebe energia térmica e se aquece, o que provoca a transferência de energia térmica para as porções vizinhas, e assim sucessivamente. A água aquecida, por sua vez, transfere calor para a pá (imóvel). A energia térmica adicional se propaga através da água e da pá até que o equilíbrio térmico seja estabelecido. 5 Figura 2: Equipamento de Joule para a medida do equivalente mecânico do calor. Uma pá imersa em água gira sob a ação da descida de um peso, aquecendo a água. Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura Se o calor transferido ao sistema “água + pá” (igual ao trabalho elétrico) nesse processo for igual ao trabalho mecânico correspondente à descida do peso no processo anterior, o aumento da energia interna e a elevação da temperatura serão idênticos nos dois processos. A energia interna é uma função de estado, ou seja, depende apenas do estado termodinâmico do sistema e não dos processos utilizados para estabelecê-lo. Assim, calor é energia transferida, no nível atômico-molecular, devido a diferenças de temperatura. Assim como o trabalho, o calor é energia sendo transferida, ou energia em trânsito. Não faz sentido falar do “conteúdo de calor” de um sistema, da mesma forma que não faz sentido falar em “conteúdo de trabalho”. A energia transferida para um sistema, por qualquer dos dois processos, se adiciona à sua energia interna. Este é o conteúdo da primeira lei da termodinâmica, que vamos explorar num capítulo posterior. A caloria, unidade comumente usada para quantificar o calor, é, portanto, uma unidade de energia. Ela é definida em termos do calor necessário para aquecer 1 g de água de 1 °C. Porque essa quantidade depende da temperatura inicial da água, existem diversas definições ligeiramente diferentes da caloria, todas elas equivalentes a, aproximadamente, 4,2J. Ela não é uma unidade SI e o seu uso é desencorajado. Entretanto, ela continua sendo usada, principalmente no campo da nutrição para exprimir o valor energético dos alimentos. Calor e equilíbrio térmico Nesta seção, vamos analisar a troca de energia entre os constituintes elementares do sistema para entender o conceito de calor nível microscópico. Nos processos descritos na seção anterior, a água e o resistor se encontram em contato térmico através da interação entre os átomos na superfície do resistor e as moléculas vizinhas de água. Como descrevemos no capítulo 1, átomos ou moléculas são compostos de núcleos massivos envoltos por uma nuvem eletrônica, que só pode assumir configurações espaciais bem definidas devido ao caráter ondulatório dos elétrons. As diferenças de energia entre as configurações possíveis são da ordem de elétron-volts. Em condições ambientes, moléculas ou átomos estáveis se encontram no estado fundamental e podem ser tratados como partículas rígidas. A interação mais importante entre eles é a forte repulsão que aparece quando se aproximam a distâncias em que começa a haver superposição das nuvens eletrônicas. Assim, uma molécula de água não interage com o resistor até que se choque com um ou alguns átomos da sua superfície. É por colisões que as moléculas de água trocam energia com os átomos na superfície do resistor. 6 Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura As colisões são governadas pelas leis de conservação do momento linear e da energia. Devido à agitação térmica, as moléculas de água estão em movimento de translação e rotação e os átomos do resistor vibram em torno de suas posições de equilíbrio. A componente mais importante da energia a ser considerada é a energia cinética de translação das partículas envolvidas na colisão. Se esta energia é menor do que as necessárias para provocar excitações nos estados das nuvens eletrônicas, estas não ocorrem e a colisão é elástica, ou seja, há conservação da energia cinética. Em colisões elásticas, portanto, ocorre transferência de energia cinética entre as partículas envolvidas. O resultado de uma colisão particular não depende apenas das energias cinéticas das partículas, mas, na média dos resultados possíveis, a partícula com maior energia cinética inicial cede energia para outra. A transferência de energia térmica entre o resistor e a água, portanto, ocorre através de um número imenso de colisões. Numa colisão individual, uma molécula de água pode receber ou ceder energia cinética para um átomo do resistor. O calor é o resultado líquido dessas inúmeras trocas. O calor passa do resistor (mais quente) para a água (mais fria). A análise anterior mostra que a capacidade de transferir energia por colisões está relacionada com a energia cinética de translação média dos constituintes microscópicos do sistema. No caso em questão, isso implica que, inicialmente, a energia cinética de translação média dos átomos do resistor é maior que a das moléculas de água. Quando o equilíbrio térmico é atingido, estas energias cinéticas médias se igualam, ou seja, assumem um valor comum nos dois sistemas. O mesmo processo de transferência de energia cinética por colisões acontece também internamente na água. Observe que não haveria nenhuma mudança na discussão precedente se, em vez de um líquido, estivéssemos tratando de um gás. No caso do resistor, os átomos da superfície perdem energia cinética. Como eles estão ligados aos outros átomos por ligações químicas, essa perda de energia cinética na superfície se propaga ao longo do sistema, diminuindo a vibração do retículo cristalino. As colisões entre moléculas e átomos na superfície dos dois sistemas continuam incessantemente, mesmo depois de atingido o equilíbrio térmico. A cada colisão individual, a energia pode ser transferida de um sistema para outro ou vice-versa, mas o resultado líquido global é nulo. Assim, do ponto de vista microscópico, o equilíbrio térmico tem um caráter dinâmico. Visto que os sistemas são macroscópicos, envolvendo um número imenso de constituintes (mesmo na superfície), as flutuações na energia interna de cada sistema ao longo do tempo são imperceptíveis experimentalmente. 7 Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura O mecanismo microscópico de transferência de calor que analisamos (transporte de energia através da interação entre átomos ou moléculas vizinhas) é denominado condução térmica. Há outras formas de transferência de calor que apresentaremos oportunamente. Temperatura Por definição (ver seção Temperatura, calor e equilíbrio térmico), temperatura é a grandeza que governa a transferência de calor entre dois sistemas, assumindo o mesmo valor para sistemas em equilíbrio térmico. A análise que acabamos de fazer, portanto, indica que há uma relação direta entre a temperatura e a energia cinética de translação média dos constituintes microscópicos do sistema. A forma quantitativa desta relação será mostrada num capítulo posterior. Esta relação foi obtida por um tratamento clássico do sistema atômico-molecular. Utilizamos a mecânica quântica apenas para explicar a estabilidade dos átomos e moléculas para depois tratálos como partículas convencionais. Isto é uma boa aproximação enquanto o caráter ondulatório dos próprios átomos e moléculas não tenham efeitos importantes (como acontece, por exemplo, em baixas temperaturas). Note que na discussão deixamos de lado os elétrons livres do resistor, uma vez que este sistema de elétrons é completamente não clássico. Embora a quantização da energia seja insignificante para elétrons livres confinados a regiões de dimensões macroscópicas, o princípio da exclusão de Pauli faz com que este sistema tenha características muito diferentes das de um gás clássico. Assim, a relação que obtivemos entre temperatura e energia cinética média de translação só é válida no limite clássico. O objetivo dessa discussão foi prover uma interpretação “concreta” do conceito de temperatura. A definição termodinâmica de temperatura independe da validade ou não desta conclusão. Assim, o equilíbrio térmico entre o sistema de elétrons livres e os íons do resistor não implica a igualdade das energias cinéticas nos dois sistemas, mas continua implicando a igualdade de suas temperaturas. Assim, vimos que, para certos sistemas atômico-moleculares em condições em que a aproximação clássica é válida, o equilíbrio térmico resulta na igualdade da média da energia cinética de translação dos constituintes elementares dos sistemas. Mas observamos, também, que este resultado não é universal e, portanto, não pode ser usado como definição de temperatura. Ademais, a termodinâmica se aplica também a sistemas onde energia cinética não tem significado. No próximo capítulo, vamos estudar a temperatura quantitativamente. 8 Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura 9 Como usar este ebook Orientações gerais Caro aluno, este ebook contém recursos interativos. Para prevenir problemas na utilização desses recursos, por favor acesse o arquivo utilizando o Adobe Reader (gratuito) versão 9.0 ou mais recente. Botões Indica pop-ups com mais informações. Ajuda (retorna a esta página). Sinaliza um recurso midiático (animação, áudio etc.) que pode estar incluído no ebook ou disponível online. Créditos de produção deste ebook. Indica que você acessará um outro trecho do material. Quando terminar a leitura, use o botão correspondente ( ) para retornar ao ponto de origem. Bons estudos! Termodinâmica » Energia, Calor e Temperatura Créditos Este ebook foi produzido pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (CEPA), Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Autoria: Gil da Costa Marques e Valdir Bindilatti. Revisão Técnica e Exercícios Resolvidos: Paulo Yamamura. Coordenação de Produção: Beatriz Borges Casaro. Revisão de Texto: Marina Keiko Tokumaru. Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Daniella de Romero Pecora, Leandro de Oliveira e Priscila Pesce Lopes de Oliveira. Ilustração: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Torrano, Celso Roberto Lourenço, João Costa, Lidia Yoshino, Maurício Rheinlander Klein e Thiago A. M. S. Animações: Celso Roberto Lourenço e Maurício Rheinlander Klein. Fotografia: Jairo Gonçalves. 10