SAÚDE MENTAL DOS ENFERMEIROS: influências na prática do cuidar MENTAL HEALTH NURSES: influences on care practice ENFERMERAS DE SALUD MENTAL: influencias en la práctica asistencial 1 INTRODUÇÃO O processo de globalização e reestruturação produtiva do trabalho tem deixado marcas na história da saúde humana. Essas marcas nos possibilitam visualizar o novo desenho do estilo de vida e definir os padrões de saúde-doença das populações. Durante todas as modificações ocorridas na humanidade, como transformações de natureza econômica, política, social e técnica, o trabalho humano tem causado impacto forte na saúde dos trabalhadores (1). Constatamos que o trabalho vem sofrendo um processo de precarização caracterizado pela desregulamentação e perda dos direitos trabalhistas e sociais, legalização dos trabalhos temporários e informais o que acarreta no aumento de trabalhadores autônomos e subempregados e fragilização das entidades sindicais (2). Em instituições de saúde, os trabalhadores que constituem a equipe de enfermagem representam o maior contingente de profissionais. Entretanto, não se têm executado intervenções voltadas para esses trabalhadores com o objetivo de manter sua capacidade de trabalho e promover sua qualidade de vida no âmbito laboral (3). Fato preocupante, haja vista que a literatura científica revela que as cargas de trabalho são elementos que interagem de forma dinâmica entre si e o corpo do trabalhador, resultando no processo de desgaste. Estudiosos do assunto afirmam que as cargas de trabalho são classificadas em: biológicas, químicas, físicas, fisiológicas e psíquicas (4). Nesta perspectiva, estudos apontam que os enfermeiros referem às cargas psíquicas como as principais responsáveis pelo desgaste, visto que são oriundas da . interação deste profissional com o seu objeto de trabalho, sendo esta marcada pelo sofrimento, dor e muitas vezes o óbito de um ser humano (5). Estudos ainda revelam que as cargas psíquicas acabam sendo a origem do desgaste mental, emocional, enxaquecas, distúrbios digestivos nos enfermeiros. Desta forma, inferimos que a exposição desse trabalhador a esse tipo de carga resulta no comprometimento da atuação do profissional (6). Pesquisas científicas recentes também evidenciaram que a referida exposição do enfermeiro resulta em situações de absenteísmo, incapacidade temporária ou definitiva do trabalhador. Neste sentido, apreendemos que a qualidade da assistência aos clientes e a própria qualidade de vida do profissional fica prejudicada (3). Assim o foco deste estudo foi à saúde mental do profissional enfermeiro e como a mesma pode interferir na realização da assistência de enfermagem ao paciente com distúrbio mental, uma vez que o enfermeiro é o profissional que mais tempo permanece em contato com o cliente em sofrimento psíquico e sua família, por meio de um cuidado individualizado e humanizado. 2 OBJETIVO O presente estudo objetiva levantar e discutir a produção científica sobre a saúde mental do enfermeiro e a influência sobre a prestação de cuidados ao indivíduo em sofrimento psíquico. 3 MÉTODO Trata-se de um estudo metodológico que utilizou a revisão integrativa sobre o tema Saúde Mental dos Enfermeiros: influências sobre a prática do cuidar com o uso das seguintes palavras chaves: saúde do trabalhador, enfermagem, saúde mental e estresse. A busca dos artigos científicos foi feita na Coleção SciELO (Scientific Eletronic Library Online). O critério de inclusão dos artigos utilizado foi: artigos publicados no período de 2001 a 2014, disponíveis em texto completo nos idiomas português e inglês, analisados de maneira cuidadosa. Como critério de exclusão utilizaram-se os seguintes: periódicos que dentro do período estabelecido não se enquadravam na proposta temática da saúde mental dos enfermeiros e as influências na prática do cuidar. Foram realizados cruzamentos dos quatro descritores/palavras chaves selecionados. E dentre os artigos pesquisados, 29 periódicos oriundos de países da América Latina atenderam a todos os critérios selecionados para este estudo. Os artigos selecionados tiveram os seus dados registrados em instrumento com as seguintes informações: ano de publicação, periódico, categoria profissional dos autores, locais estudados e principais resultados. Para o alcance dos objetivos foram seguidas as seguintes etapas de execução: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa, estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/amostragem, na busca na literatura, definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/ categorização dos estudos, interpretação dos resultados e apresentação da síntese do conhecimento e contribuições para o avanço do conhecimento científico. Foi definido como questão de pesquisa: Qual a produção científica existente sobre a saúde mental do enfermeiro e como esta influencia na prática do cuidar de pacientes com transtorno psíquico? Inicialmente, realizamos a leitura exploratória dos artigos a fim de verificar se atendiam aos critérios de inclusão no estudo. Em seguida, procedemos à leitura analítica dos mesmos que permitiu ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes, com leitura integral da obra, identificação das ideias-chave, hierarquização e sistematização das ideias. As ideias centrais de cada autor foram organizadas em forma de fichamento, utilizando fichas bibliográficas e de apontamentos para possibilitar a redação do corpo do trabalho e o desenvolvimento da pesquisa. Após a seleção, os artigos foram agrupados em categorias, por similaridade semântica, onde se procurou analisar os seguintes aspectos: preparo dos enfermeiros que vão atuar na psiquiatria; saúde mental dos enfermeiros e o cuidado de enfermagem em saúde mental. Finalizando foram feitas as interpretações dos resultados e apresentação da síntese do conhecimento divulgado. 4 RESULTADOS Na pesquisa da literatura inicialmente utilizou-se os unitermos saúde mental e enfermagem obtendo-se 333 referências. Destas, 13 artigos foram escolhidos para atender ao propósito do trabalho. Na busca das palavras chave saúde do trabalhador e enfermagem, obtiveram-se 129 referências. Deste material foram analisados 13 artigos. Em seguida foram usados os unitermos stress e nursing encontrou-se 307 artigos, sendo selecionados 15 mediante os critérios mencionados. Nesta parte do trabalho estão expostos e discutidos os resultados obtidos na pesquisa referente à saúde mental do enfermeiro e a influência na assistência de enfermagem. Foram submetidos a uma análise mais criteriosa 29 artigos publicados no período compreendido 2001 a 2014. Conforme demonstrado no quadro 01. Quadro 01 – Distribuição das publicações analisadas segundo ano, periódico, categoria profissional dos autores, locais estudados e principais resultados. Pesquisa Ano de 01 Periódico Categoria Locais publica profissional dosestudados ção autores 2001 Acta PaulistaEnfermeiros Enfermagem Principais Resultados Base de dados Familiares apontam dificuldades sensações de vergonha e culpa quando alguma pessoa da família está em sofrimento psíquico. 02 2003 Revista Acadêmicos Brasileira deDocentes Enfermagem Enfermagem eInstituição dePsiquiátrica Durante a reforma psiquiátrica a Pública do Rioassistência de de Janeiro-RJ enfermagem manteve características do modelo asilar . 03 2003 Revista Escola Enfermeiros Hospitais 62% da amostra não de Enfermagem Psiquiátricos apresentavam USP de Fortaleza-estresse; CE 30,9% encontravam-se na fase de resiliência e 7,1% na fase de exaustão. 04 2003 Revista Médico Brasileira Universidade A vulnerabilidade Federal de Sãomédica Medicina do Paulo às doenças psíquicas. Trabalho 05 2003 Revista deMédico Saúde Pública Acadêmicos Medicina eHospital dePúblico Prevalência de DPM de foi de 33,3%, variando Salvador-BA de 20% entre enfermeiras a 36,4% entre auxiliares. 06 2005 Revista LatinoEnfermeiros Americana de Banco dados de Embora consenso haja entre os Enfermagem estudiosos sobre a existência do estresse e Burnout ,diversas controvérsias estão envolvidas. 07 2005 Revista EscolaEnfermeiros Escolas de A maioria das escolas de Enfermagem Graduação aborda USP em relacionamento Enfermage terapêutico em suas m de o São propostas de ensino. Paulo-SP 08 2005 Revista LatinoDocentes Americana deEnfermagem Enfermagem deEscolas de Emergiram categorias Enfermage vivenciadas m da cidade pelas de tanto professoras São quanto pelos alunos. Paulo-SP 09 2006 Revista Enfermeiros Brasileira Acadêmicos de Enfermagem Enfermagem eHospital deEscola Verificou-se que da quanto maior a faixa Faculdade etária dos enfermeiros de Medicina maior o estresse para do o gerenciamento de Triângulo pessoal. Mineiro-MG 10 2006 Arquivo MédicoEnfermeiros ABC Acadêmicos eBanco dedados de Os riscos psicossociais foram evidenciados Enfermagem em todas pesquisas, pelo risco as seguido biológico 66,7%. 11 2006 Revista LatinoEnfermeiros Americana de Enfermagem Hospital Clínicas dasOcorrência dade problemas psíquicos Universidade decorrente Federal deprincipalmente do Uberlândia-MGestresse e do desgaste provocado pelas condições laborais. 12 2006 Acta PaulistaEnfermeiros Enfermagem Banco dados deDescrição entre as mudanças da educação tradicional e a sua superação; define e levanta as competências para ensinar. 13 2007 Revista Enfermeiros Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas Banco dados deCategorias semânticas: de Ações enfermagem psiquiátrica(EP); Ensino de enfermagem psiquiátrica e saúde mental; Estudos teóricos; Projetos criativos em EP. 14 2007 Revista EscolaEnfermeiros Universidade Destacamos a de Enfermagem Federal Santainter-relação USP Catarina-SC entre trabalho e estilo de vida, e trabalho e saúde do trabalhador. 15 2009 Revista Enfermeiros Hospital Cogitare Especializado paciente Enfermagem em Psiquiatriafamília é contemplado do Paraná 16 2009 O cuidado direto ao Revista Enfermeiros Eletrónica Acadêmicos Salud Mental,Enfermagem Alcohol y eEmpresa deConstrução e à com menos ênfase. deTanto o desgaste físico como o mental Civil de Badypresdipõem Bassit - SP sua a doenças ocupacionais Drogas 17 2010 Revista deEnfermeiros Serviços deO enfermeiro se Enfermagem Psiquiatria Escola Saúde Mentalem grupos de forma Nery Anna do edesenvolve para atuar municípiomais vivencial. de uma cidade do interior paulista 18 2010 Revista EscolaEnfermeiros Hospital dasO nível de estresse de Enfermagem Clínicas dapode USP Universidade diretamente Estadual ser um fator decorrelacionado com o Campinas-SP sono. 20 2010 Texto ContextoEnfermeiros Base de dados Têm-se Enfermagem duas categorias: Desafios na trajetória da educação da enfermagem Brasil; no Desafios e perspectiva na orientação do processo de formação do enfermeiro. 21 2011 Revista EscolaEnfermeiros Unidade de21 pacientes de Enfermagem Atendimento apresentavam USP Ambulatorial cuidador, sendo que Ribeirão as mães eram as Preto-SP principais cuidadoras (38%) 22 2012 Revista LatinoDocente Americana Enfermagem deEnfermagem, Enfermeiro acadêmico Medicina deDois hospitaisDos 141 profissionais de médioentrevistados, eporte deCáceres-MT 13 deapresentaram Síndrome de Burnout 23 2012 Revista LatinoDocentes Americana Enfermagem Estatística deUniversidades A eFederais prevalência dodistúrbios Rio Grande domenores Sul nos de psíquicos foi 20,1% enfermeiros docentes 24 2012 Acta PaulistaMestranda Enfermagem Docentes eBase de dados O de Enfermagem estresse ocupacional dos enfermeiros está relacionado a multifatores, entre eles, à escassez de recursos humanos e a carga horária 25 2013 Revista LatinoDocentes Americana Enfermagem Veterinária deUnidades ePúblicas 70% dos deentrevistados foram Saúde daclassificados como cidade detrabalhadores Campo Grandepassivos ou com alto – MS 26 2013 Revista EscolaDocentes de Enfermagemacadêmicos USP Enfermagem Docente eHospital desgaste deA prevalência dePorto Alegre Distúrbios e Menores de Psíquico foi de encontrada em 20,6% deHospital 66,7% Medicina 27 2014 Revista EscolaDocentes dos Enfermagem Enfermagem USP Universitário enfermeiros do interior doapresentaram baixo Rio Grande doestresse, Sul utilizam 87,6% estratégias de controle para o enfrentamento estresse tiveram e do 4,84% decréscimo na produtividade 28 2014 Revista EscolaEnfermeiras, de EnfermagemDocente USP Enfermagem Médico Hospital 7,76% dos deescola situadotrabalhadores de ena zona oesteenfermagem do municípioapresentaram de São Paulo Transtornos mentais e comportamentais 29 2014 Acta PaulistaDocentes Enfermagem Enfermagem deHospital Psiquiátrico O estresse identificado foi em localizado na71,17% dos cidade detrabalhadores em Teresina-PI Saúde Mental Fonte: Pesquisa Direta 5 DISCUSSÃO Para atender aos objetivos propostos foram elaboradas três categorias semânticas: Preparo dos enfermeiros que vão atuar na psiquiatria; Saúde mental dos enfermeiros; e o Cuidado de enfermagem em saúde mental. Categoria 1 - Preparo dos Enfermeiros que vão atuar na Psiquiatria A formação de profissionais de saúde aptos para atender as reais necessidades da clientela que irá assistir tem sido uma preocupação do governo, principalmente, com a implantação de novas propostas de atuação no setor saúde. Dessa forma, é fundamental que ocorra uma modificação na formação desse profissional, sob o prisma da ação integral, acesso universal, equidade, participação e controle social (7). Um recorte na história permite visualizar que a obrigatoriedade do ensino da enfermagem psiquiátrica foi determinada pela Lei n° 775 de 1949, que estabeleceu para a segunda série do curso o ensino de Enfermagem e Clínica Neurológica e Psiquiátrica. Porém, mais de 50% das Escolas não conseguiam oferecer estágios por falta de condição nos campos de prática. Durante a década de 60, a enfermagem psiquiátrica vivia uma etapa difícil em sua história. A falta de profissionais habilitados para atuar no campo da saúde mental parece ser a principal discussão da época (8). Dentro desse contexto, as instituições de ensino na área de saúde estão modificando seus projetos políticos pedagógicos. No tocante ao Curso de Graduação em Enfermagem, as Diretrizes Curriculares Nacionais apontam o trabalho em grupo como importante para a formação do enfermeiro. O trabalho de grupo permite a discussão coletiva, tornando uma ponte de conexão entre o teórico e o vivencial, portanto, tornase um instrumento de extrema valia na formação desse profissional (9). Nesta conjectura, estudiosos concluem que o profissional de enfermagem tem avançado em direção a este novo paradigma, que propõe a reestruturação da assistência psiquiátrica. Contudo, para atingir as propostas reformistas é necessário não mais reproduzir o pensamento, o fazer, enfim, toda cultura manicomial. Isto, porém, é tarefa árdua, visto que implica no compromisso com a transformação da assistência (10). De acordo com estudiosos a assistência de enfermagem psiquiátrica historicamente construiu um exercício quase carcerário, onde o olhar do controle, o discurso sobre uma assistência pautada exclusivamente na garantia da integridade física dos pacientes e no cumprimento de uma série de atividades administrativas constituiu as únicas atividades inerentes aos profissionais de enfermagem (11). Na perspectiva atual da saúde mental o trabalho em grupo é imprescindível para reabilitação do individuo em sofrimento psíquico, uma vez que essa técnica possibilita reafirmar laços entre os familiares que foram enfraquecidos por conta do processo de doença, e tenta inserir novamente o paciente no seio da família da melhor maneira possível. Além disso, essa medida configura-se em um instrumento terapêutico formidável, porque permite ao cliente desenvolver habilidades que auxilia na estabilização do quadro clínico (7). Diante dessas considerações é evidente que o trabalho em grupo é primordial para o profissional enfermeiro, portanto, o mesmo deve procurar uma formação específica para ter um suporte para uma atuação eficiente (12). Um bom preparo desse profissional repercutirá em um trabalho de excelência, como também na saúde mental do mesmo, uma vez que quando se dá um bom suporte para o enfermeiro não só teórico, mas também reflexivo com a habilidade de executar atividades grupais percebe-se que o processo de adoecimento tem mais dificuldade de acontecer, o que não deixa de refletir na saúde desse profissional de saúde. É importante destacar que o preparo adequado do profissional está intimamente ligado ao que é repassado pelo trabalhador docente. Este trabalho docente envolve uma complexidade de relações, como a relação obtida com o ambiente de trabalho, com os colegas de profissão, com os alunos, a pressão por produtividade na instituição, as tarefas extraclasses e a carga horária extensa. Além disso, o que para o aluno é novo, para o professor pode ser repetitivo e exaustivo. Fatores como esses podem interferir na saúde psíquica desse docente e na formação profissional do aluno, especialmente alunos de saúde mental (TAVARES, ET AL. 2012). O enfermeiro é o profissional que além de um bom preparo técnico exige-se uma boa capacidade de refletir sobre como prestar os cuidados de enfermagem. Trazendo essa perspectiva para o campo da saúde mental, essa capacidade de reflexão deve ser bem apurada não apenas para compreender o quadro clínico do individuo em sofrimento psíquico, mas também para desenvolver mecanismos de defesa para preservar sua saúde mental e um trabalho de qualidade, então os trabalhos grupais atendem a essas situações expostas. Categoria 2 - Saúde Mental dos Enfermeiros A temática da saúde do trabalhador configura-se em um assunto emergente, uma vez que já se tem o conhecimento científico do impacto que o trabalho causa na saúde do trabalhador. O trabalho é uma necessidade do ser humano e considerado fator importante para o desenvolvimento de natureza psicológica, social e econômica, mas pode perder essa roupagem passando a ter uma influência negativa sobre o indivíduo, o que acarreta no processo de adoecimento do profissional (13). A saúde mental é definida como equilíbrio resultante da relação do indivíduo com seu meio interno e externo, as suas características orgânicas e os seus antecedentes pessoais e familiares. Os avanços tecnológicos e a globalização vêm influenciando a saúde mental dos trabalhadores, uma vez que estes exigem mais dedicação, atividades excessivas, com isso acabam se transformando em fatores de agravos a saúde mental dos trabalhadores (14). As diversas exigências proferidas ao profissional enfermeiro afetam gravemente a sua saúde como trabalhador. Dentro desse contexto a saúde mental desse profissional pode sofrer também alterações, desencadeando assim um processo patológico. Pesquisadoras da temática constataram que a saúde mental dos profissionais de enfermagem pode ser influenciada por fatores internos e externos ao trabalho, e que o suporte administrativo, o relacionamento interpessoal e a divisão adequada entre o número suficiente de profissionais são estratégias que podem auxiliar na redução do estresse laboral (15). Os profissionais de enfermagem são expostas aos ambientes de trabalho intensamente insalubres, tanto no sentido material quanto subjetivo e, por estarem submetidas a condições de trabalho precarizadas, à baixa qualidade de vida, e o preconceito tem afetado diretamente no estado de saúde dessas trabalhadoras (16). O trabalho pode favorecer tanto a saúde como o adoecimento. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2012 90% da população mundial era acometida pele estresse ocupacional, que pode estar ligado, no caso da enfermagem, a diversos fatores, como a escassez de recursos humanos, plantões noturnos, carga horária extensa, competitividade e distanciamento entre teoria e prática (BEZERRA et al, 2012; UMANN et al, 2014). A discussão sobre a saúde mental do enfermeiro ainda perpassa por outras questões. No momento atual a relação entre esses profissionais e as organizações públicas e privadas está cada vez mais complexo o que reflete na insatisfação, aumento do estresse e no desgaste da saúde física e mental desse trabalhador (17). Acrescenta-se a esse quadro a insistente divulgação na mídia das mazelas da assistência a saúde no Brasil com um caráter sensacionalista construindo assim uma imagem negativa dos profissionais de saúde, e o enfermeiro não foge a essa realidade, o que acaba por tornar a reação da população não racional e grosseira, contribuindo assim como mais um agravo da saúde mental desse profissional (18). Além dos fatores citados, o estresse está diretamente ligado à saúde mental desses profissionais, visto que estes realizam um trabalho que exige muita atenção, responsabilidade e apresenta muitas dificuldades. Neste caso, estamos fazendo referência ao estresse ocupacional que pode se fazer presente por meio das tensões associadas ao trabalho e a vida profissional (19). Um estudo realizado com trabalhadores da enfermagem no Hospital de Porto Alegre - RS, apontou que 55,2% dos profissionais sentem-se nervosos, tensos ou preocupados constantemente e concluiu o estudo com uma prevalência de 20,6% de distúrbios psíquicos menores nesses trabalhadores (URBANETTO et al, 2013; BERNARDES et al, 2014). Assim, percebe-se que a prática do enfermeiro na assistência à saúde do indivíduo pode ocasionar o surgimento do estresse, principal fator que afeta a sua saúde mental, sendo este presente no meio ambiente de trabalho envolvendo os aspectos da organização, administração e sistema de trabalho e da qualidade das relações humanas (20). Outro estudo, realizado mediante busca da literatura, nos remete a uma profunda reflexão sobre essa temática, sendo que componentes como o número reduzido de profissionais de enfermagem, excesso de atividades, as dificuldades em delimitar os diferentes papéis entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, a falta de reconhecimento e o achatamento de salários agrava a situação e configuram a enfermagem como uma profissão bastante estressante (20). Em face dessas considerações fica claro como a saúde mental do enfermeiro é muito vulnerável a instalação de distúrbios psíquicos. Um estudo realizado em um hospital público de Salvador aponta que a exaustão emocional era o fator mais preponderante para o surgimento de uma patologia psíquica nos enfermeiros, uma vez que as muitas responsabilidades assumidas acabam por propiciar a formação de pontos de tensão, o que leva a exaustão emocional (21). Categoria 3 - Cuidado de Enfermagem em Saúde Mental O conhecimento na área da Saúde Mental, mais especificamente na Enfermagem Psiquiátrica vem passando por transformações ao longo das décadas, delineando assim um cuidado diferente, buscando sempre reconhecer os limites desse cuidado e superá- los (22). Na história da assistência aos pacientes que sofrem de algum transtorno mental, percebem-se intensas mudanças no decorrer do tempo. Em abril de 2001 foi aprovada a Lei Federal 10.216/01 que retrata a Reforma Psiquiátrica no Brasil com o objetivo maior de promover a reestruturação da assistência psiquiátrica no país marcado pela substituição gradual dos manicômios por dispositivos de tratamento e acolhimento na comunidade (23). Em face desse cenário o cuidado também fora modificado, assim a assistência psiquiátrica modificou-se e o cuidado passou a ser comunitário baseado na desinstitucionalização do paciente psiquiátrico. Essa mudança no cuidado conclama uma parceria direta entre os profissionais de saúde, familiares e pacientes para a manutenção do tratamento (23). A prática da enfermagem psiquiátrica na sua história foi marcada por uma assistência pautada na medicação e em procedimentos disciplinares arbitrários. Com efeito, condutas como a supermedicação, o eletrochoque e a contenção dos pacientes eram realizados de forma indiscriminada com o intuito punitivo ou para obter a obediência dos internados às regras impostas pela equipe (10). Analisando esse panorama de mudança do cuidado ao paciente com distúrbio psíquico, o cuidado de enfermagem também sofreu alterações no decorrer desses anos deixando de ser um cuidado centrado apenas na patologia que o individuo apresenta, para transformar-se numa prática integrativa com a equipe multiprofissional, baseado no relacionamento terapêutico (24). A utilização do conceito de relacionamento terapêutico concerne à relação interpessoal desenvolvida entre o profissional enfermeiro, e aquele que precisa de ajuda - o cliente, no qual o enfermeiro associa os conhecimentos teóricos e práticos adquiridos em sua formação profissional e assume a responsabilidade pelo processo de ajuda terapêutica (11). Apesar deste conceito já estar inserido no campo da saúde mental, o convívio rotineiro com o paciente e seu familiar, a insatisfação e desânimo pelo trabalho, a carga horária exaustiva, o pouco lazer que o profissional enfermeiro possui e o índice de violência no trabalho, que ainda permanece alto, ainda estão presentes no ambiente psiquiátrico, podem levar a situações desgastantes e está diretamente relacionado à assistência de má qualidade (18). Neste sentido, o relacionamento terapêutico torna-se efetivo quando o paciente e família passam a ser o alvo do enfermeiro. Faz-se necessário estabelecer uma boa relação com a família, estimular a mesma a participar mais dos cuidados que é prestado e encorajar a comunicação. A comunicação indubitavelmente é decisiva para a execução do cuidado de enfermagem e cabe, portanto ao enfermeiro atender ao cliente levando em consideração essa técnica para elaboração e planejamento dos cuidados (25). Nesta concepção a integração da família no projeto terapêutico ao paciente com distúrbio psíquico se configura em um instrumento valioso para a recuperação e reinserção desses indivíduos na sociedade. Estudiosos em seu trabalho afirmam que todas as intervenções desenvolvidas nos serviços de saúde mental devem contemplar a família, visto que esta inserção é primordial para a execução do processo de recuperação da cidadania do doente mental (26). Nesta perspectiva consideramos o relacionamento terapêutico como um desses instrumentos de cuidado que permitem essa reintegração e reorganização da pessoa que padece psiquicamente. Consiste em uma tecnologia de cuidado formado por saberes e práticas destinadas ao entendimento do ser humano em sua totalidade, permitindo o desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento do sofrimento e da reintegração social (27). O cuidar em psiquiatria implica em tensão psicológica constante, devido principalmente à imprevisibilidade dos comportamentos dos pacientes. Quando o trabalhador em saúde não consegue dar vazão à essa tensão, podem surgir transtornos mentais, como a síndrome de Burnout, que afetam diretamente no cuidado e na qualidade de vida no trabalho(18). Esse cuidado de enfermagem a clientes em sofrimento psíquico que se consolida atualmente tem sido almejado por meio da capacitação dos profissionais envolvidos com o objetivo de promover uma melhor compreensão da doença mental, construindo assim uma prática que realmente faz a diferença (28). Pelas razões expostas, fica evidenciada a relação direta que existe na realização da assistência de enfermagem e a saúde mental desse trabalhador. Ambas as variáveis estão intimamente ligadas e assim se uma sofre alteração negativa automaticamente a outra variável também será influenciada negativamente. 6 CONCLUSÃO Em face do exposto, fica evidenciado que o objetivo do proposto estudo foi alcançado, uma vez que a saúde mental do profissional enfermeiro está intimamente ligada com o desempenho da sua assistência ao indivíduo em sofrimento psíquico. Desta forma, o sucesso de uma boa prática assistencial a esse perfil de clientela está relacionado diretamente a uma boa saúde mental desse trabalhador. A preocupação com a saúde mental do trabalhador tem se mostrado presente nos estudos abordados, evidenciando como essa temática está sendo desvendada no decorrer dos anos. Muitas medidas, leis foram criadas para aperfeiçoar a relação saúdetrabalho, mas o modo de produção adotado não contribuiu ainda para minimizar as enfermidades as psíquicas relacionadas ao trabalho. Portanto, nota-se um agravamento nas condições de trabalho na última década, o que implica no aumento da possibilidade do profissional enfermeiro desenvolver um processo psicopatológico, o que irá repercutir de forma negativa na execução da assistência de enfermagem ao cliente que apresenta transtorno mental. A relevância desse estudo é demonstrada pelo fato de contribuir na melhoria dos nossos conhecimentos acerca do tema e servir para melhoria dos cuidados prestados por parte dos enfermeiros a essa clientela e no aprofundamento da temática que ainda é tímido. REFERÊNCIAS 1- Rigotto RM. Saúde dos trabalhadores e meio ambiente em tempos de globalização e reestruturação produtiva. Rev Bras Saúde Ocup., 1998; 93(1):, 9-20. 2- Azambuja EP, Kerber NPC, Kirchhof AL. A saúde do trabalhador na concepção de acadêmicos de enfermagem. Rev. esc. enferm. USP , 2007;41(3):355-362. 3- Mininel VA, Baptista PCP, Felli VEA. Cargas psíquicas e processos de desgaste em trabalhadores de enfermagem de hospitais universitários brasileiros. Rev Latino-am Enfermagem, 2011;19(2):1-9. 4- Laurell AC, Norega, M. Production process in health: labore’s work and strain. São Paulo: Hucitec, 1989. 5- Cezar ES, Marziale MHP. Occupational violence problems in a emergency hospital in Londrina, Parana, Brazil. Cad. 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