SAÚDE MENTAL DOS ENFERMEIROS: influências na prática do

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SAÚDE MENTAL DOS ENFERMEIROS: influências na prática do cuidar
MENTAL HEALTH NURSES: influences on care practice
ENFERMERAS DE SALUD MENTAL: influencias en la práctica asistencial
1 INTRODUÇÃO
O processo de globalização e reestruturação produtiva do trabalho tem deixado
marcas na história da saúde humana. Essas marcas nos possibilitam visualizar o novo
desenho do estilo de vida e definir os padrões de saúde-doença das populações. Durante
todas as modificações ocorridas na humanidade, como transformações de natureza
econômica, política, social e técnica, o trabalho humano tem causado impacto forte na
saúde dos trabalhadores
(1).
Constatamos que o trabalho vem sofrendo um processo de precarização
caracterizado pela desregulamentação e perda dos direitos trabalhistas e sociais,
legalização dos trabalhos temporários e informais o que acarreta no aumento de
trabalhadores autônomos e subempregados e fragilização das entidades sindicais
(2).
Em instituições de saúde, os trabalhadores que constituem a equipe de
enfermagem representam o maior contingente de profissionais. Entretanto, não se têm
executado intervenções voltadas para esses trabalhadores com o objetivo de manter sua
capacidade de trabalho e promover sua qualidade de vida no âmbito laboral
(3).
Fato
preocupante, haja vista que a literatura científica revela que as cargas de trabalho são
elementos que interagem de forma dinâmica entre si e o corpo do trabalhador,
resultando no processo de desgaste. Estudiosos do assunto afirmam que as cargas de
trabalho são classificadas em: biológicas, químicas, físicas, fisiológicas e psíquicas
(4).
Nesta perspectiva, estudos apontam que os enfermeiros referem às cargas
psíquicas como as principais responsáveis pelo desgaste, visto que são oriundas da
.
interação deste profissional com o seu objeto de trabalho, sendo esta marcada pelo
sofrimento, dor e muitas vezes o óbito de um ser humano
(5).
Estudos ainda revelam que as cargas psíquicas acabam sendo a origem do
desgaste mental, emocional, enxaquecas, distúrbios digestivos nos enfermeiros. Desta
forma, inferimos que a exposição desse trabalhador a esse tipo de carga resulta no
comprometimento da atuação do profissional
(6).
Pesquisas científicas recentes também evidenciaram que a referida exposição do
enfermeiro resulta em situações de absenteísmo, incapacidade temporária ou definitiva
do trabalhador. Neste sentido, apreendemos que a qualidade da assistência aos clientes
e a própria qualidade de vida do profissional fica prejudicada
(3).
Assim o foco deste estudo foi à saúde mental do profissional enfermeiro e como a
mesma pode interferir na realização da assistência de enfermagem ao paciente com
distúrbio mental, uma vez que o enfermeiro é o profissional que mais tempo permanece
em contato com o cliente em sofrimento psíquico e sua família, por meio de um cuidado
individualizado e humanizado.
2 OBJETIVO
O presente estudo objetiva levantar e discutir a produção científica sobre a saúde
mental do enfermeiro e a influência sobre a prestação de cuidados ao indivíduo em
sofrimento psíquico.
3 MÉTODO
Trata-se de um estudo metodológico que utilizou a revisão integrativa sobre o
tema Saúde Mental dos Enfermeiros: influências sobre a prática do cuidar com o uso das
seguintes palavras chaves: saúde do trabalhador, enfermagem, saúde mental e estresse.
A busca dos artigos científicos foi feita na Coleção SciELO (Scientific Eletronic Library
Online). O critério de inclusão dos artigos utilizado foi: artigos publicados no período de
2001 a 2014, disponíveis em texto completo nos idiomas português e inglês, analisados
de maneira cuidadosa. Como critério de exclusão utilizaram-se os seguintes: periódicos
que dentro do período estabelecido não se enquadravam na proposta temática da saúde
mental dos enfermeiros e as influências na prática do cuidar.
Foram
realizados
cruzamentos
dos
quatro
descritores/palavras
chaves
selecionados. E dentre os artigos pesquisados, 29 periódicos oriundos de países da
América Latina atenderam a todos os critérios selecionados para este estudo. Os artigos
selecionados tiveram os seus dados registrados em instrumento com as seguintes
informações: ano de publicação, periódico, categoria profissional dos autores, locais
estudados e principais resultados.
Para o alcance dos objetivos foram seguidas as seguintes etapas de execução:
identificação do tema e seleção da questão de pesquisa, estabelecimento de critérios
para inclusão e exclusão de estudos/amostragem, na busca na literatura, definição das
informações a serem extraídas dos estudos selecionados/ categorização dos estudos,
interpretação dos resultados e apresentação da síntese do conhecimento e contribuições
para o avanço do conhecimento científico. Foi definido como questão de pesquisa: Qual
a produção científica existente sobre a saúde mental do enfermeiro e como esta
influencia na prática do cuidar de pacientes com transtorno psíquico?
Inicialmente, realizamos a leitura exploratória dos artigos a fim de verificar se
atendiam aos critérios de inclusão no estudo. Em seguida, procedemos à leitura analítica
dos mesmos que permitiu ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes, com
leitura integral da obra, identificação das ideias-chave, hierarquização e sistematização
das ideias. As ideias centrais de cada autor foram organizadas em forma de fichamento,
utilizando fichas bibliográficas e de apontamentos para possibilitar a redação do corpo
do trabalho e o desenvolvimento da pesquisa. Após a seleção, os artigos foram
agrupados em categorias, por similaridade semântica, onde se procurou analisar os
seguintes aspectos: preparo dos enfermeiros que vão atuar na psiquiatria; saúde mental
dos enfermeiros e o cuidado de enfermagem em saúde mental. Finalizando foram feitas
as interpretações dos resultados e apresentação da síntese do conhecimento divulgado.
4 RESULTADOS
Na pesquisa da literatura inicialmente utilizou-se os unitermos saúde mental e
enfermagem obtendo-se 333 referências. Destas, 13 artigos foram escolhidos para
atender ao propósito do trabalho. Na busca das palavras chave saúde do trabalhador e
enfermagem, obtiveram-se 129 referências. Deste material foram analisados 13 artigos.
Em seguida foram usados os unitermos stress e nursing encontrou-se 307 artigos, sendo
selecionados 15 mediante os critérios mencionados. Nesta parte do trabalho estão
expostos e discutidos os resultados obtidos na pesquisa referente à saúde mental do
enfermeiro e a influência na assistência de enfermagem. Foram submetidos a uma
análise mais criteriosa 29 artigos publicados no período compreendido 2001 a 2014.
Conforme demonstrado no quadro 01.
Quadro 01 – Distribuição das publicações analisadas segundo ano, periódico, categoria
profissional dos autores, locais estudados e principais resultados.
Pesquisa Ano de
01
Periódico
Categoria
Locais
publica
profissional dosestudados
ção
autores
2001
Acta
PaulistaEnfermeiros
Enfermagem
Principais Resultados
Base de dados Familiares
apontam
dificuldades sensações
de vergonha e culpa
quando alguma pessoa
da família está em
sofrimento psíquico.
02
2003
Revista
Acadêmicos
Brasileira
deDocentes
Enfermagem
Enfermagem
eInstituição
dePsiquiátrica
Durante
a
reforma
psiquiátrica
a
Pública do Rioassistência
de
de Janeiro-RJ enfermagem manteve
características
do
modelo asilar .
03
2003
Revista Escola Enfermeiros
Hospitais
62% da amostra não
de Enfermagem
Psiquiátricos apresentavam
USP
de Fortaleza-estresse;
CE
30,9%
encontravam-se
na
fase de resiliência e
7,1%
na
fase
de
exaustão.
04
2003
Revista
Médico
Brasileira
Universidade A
vulnerabilidade
Federal de Sãomédica
Medicina
do
Paulo
às
doenças
psíquicas.
Trabalho
05
2003
Revista
deMédico
Saúde Pública Acadêmicos
Medicina
eHospital
dePúblico
Prevalência de
DPM
de foi de 33,3%, variando
Salvador-BA
de
20%
entre
enfermeiras a 36,4%
entre auxiliares.
06
2005
Revista
LatinoEnfermeiros
Americana
de
Banco
dados
de Embora
consenso
haja
entre
os
Enfermagem
estudiosos
sobre
a
existência do estresse
e
Burnout
,diversas
controvérsias
estão
envolvidas.
07
2005
Revista
EscolaEnfermeiros
Escolas
de A maioria das escolas
de Enfermagem
Graduação
aborda
USP
em
relacionamento
Enfermage
terapêutico em suas
m
de
o
São propostas de ensino.
Paulo-SP
08
2005
Revista
LatinoDocentes
Americana
deEnfermagem
Enfermagem
deEscolas
de Emergiram categorias
Enfermage
vivenciadas
m da cidade pelas
de
tanto
professoras
São quanto pelos alunos.
Paulo-SP
09
2006
Revista
Enfermeiros
Brasileira
Acadêmicos
de
Enfermagem
Enfermagem
eHospital
deEscola
Verificou-se
que
da quanto maior a faixa
Faculdade
etária dos enfermeiros
de Medicina maior o estresse para
do
o gerenciamento de
Triângulo
pessoal.
Mineiro-MG
10
2006
Arquivo MédicoEnfermeiros
ABC
Acadêmicos
eBanco
dedados
de Os riscos psicossociais
foram
evidenciados
Enfermagem
em
todas
pesquisas,
pelo
risco
as
seguido
biológico
66,7%.
11
2006
Revista
LatinoEnfermeiros
Americana
de
Enfermagem
Hospital
Clínicas
dasOcorrência
dade problemas psíquicos
Universidade decorrente
Federal
deprincipalmente
do
Uberlândia-MGestresse e do desgaste
provocado
pelas
condições laborais.
12
2006
Acta
PaulistaEnfermeiros
Enfermagem
Banco
dados
deDescrição entre as
mudanças
da
educação tradicional
e a sua superação;
define e levanta as
competências
para
ensinar.
13
2007
Revista
Enfermeiros
Eletrônica
Saúde
Mental
Álcool e Drogas
Banco
dados
deCategorias
semânticas:
de
Ações
enfermagem
psiquiátrica(EP);
Ensino
de
enfermagem
psiquiátrica e saúde
mental;
Estudos
teóricos;
Projetos
criativos em EP.
14
2007
Revista
EscolaEnfermeiros
Universidade Destacamos a
de Enfermagem
Federal Santainter-relação
USP
Catarina-SC
entre
trabalho e
estilo
de
vida,
e
trabalho e saúde
do trabalhador.
15
2009
Revista
Enfermeiros
Hospital
Cogitare
Especializado paciente
Enfermagem
em Psiquiatriafamília é contemplado
do Paraná
16
2009
O cuidado direto ao
Revista
Enfermeiros
Eletrónica
Acadêmicos
Salud
Mental,Enfermagem
Alcohol
y
eEmpresa
deConstrução
e
à
com menos ênfase.
deTanto
o
desgaste
físico como o mental
Civil de Badypresdipõem
Bassit - SP
sua
a
doenças ocupacionais
Drogas
17
2010
Revista
deEnfermeiros
Serviços
deO
enfermeiro
se
Enfermagem
Psiquiatria
Escola
Saúde Mentalem grupos de forma
Nery
Anna
do
edesenvolve para atuar
municípiomais vivencial.
de uma cidade
do
interior
paulista
18
2010
Revista
EscolaEnfermeiros
Hospital
dasO nível de estresse
de Enfermagem
Clínicas
dapode
USP
Universidade diretamente
Estadual
ser
um
fator
decorrelacionado com o
Campinas-SP sono.
20
2010
Texto ContextoEnfermeiros
Base de dados Têm-se
Enfermagem
duas
categorias: Desafios na
trajetória da educação
da
enfermagem
Brasil;
no
Desafios
e
perspectiva
na
orientação do processo
de
formação
do
enfermeiro.
21
2011
Revista
EscolaEnfermeiros
Unidade
de21
pacientes
de Enfermagem
Atendimento apresentavam
USP
Ambulatorial cuidador, sendo que
Ribeirão
as
mães
eram
as
Preto-SP
principais cuidadoras
(38%)
22
2012
Revista
LatinoDocente
Americana
Enfermagem
deEnfermagem,
Enfermeiro
acadêmico
Medicina
deDois hospitaisDos 141 profissionais
de
médioentrevistados,
eporte
deCáceres-MT
13
deapresentaram
Síndrome de Burnout
23
2012
Revista
LatinoDocentes
Americana
Enfermagem
Estatística
deUniversidades A
eFederais
prevalência
dodistúrbios
Rio Grande domenores
Sul
nos
de
psíquicos
foi
20,1%
enfermeiros
docentes
24
2012
Acta
PaulistaMestranda
Enfermagem
Docentes
eBase de dados O
de
Enfermagem
estresse
ocupacional
dos
enfermeiros
está
relacionado
a
multifatores,
entre
eles, à escassez de
recursos humanos e
a carga horária
25
2013
Revista
LatinoDocentes
Americana
Enfermagem
Veterinária
deUnidades
ePúblicas
70%
dos
deentrevistados foram
Saúde
daclassificados
como
cidade
detrabalhadores
Campo Grandepassivos ou com alto
– MS
26
2013
Revista
EscolaDocentes
de Enfermagemacadêmicos
USP
Enfermagem
Docente
eHospital
desgaste
deA
prevalência
dePorto Alegre Distúrbios
e
Menores
de
Psíquico
foi
de
encontrada em 20,6%
deHospital
66,7%
Medicina
27
2014
Revista
EscolaDocentes
dos
Enfermagem
Enfermagem
USP
Universitário enfermeiros
do interior doapresentaram baixo
Rio Grande doestresse,
Sul
utilizam
87,6%
estratégias
de controle para o
enfrentamento
estresse
tiveram
e
do
4,84%
decréscimo
na produtividade
28
2014
Revista
EscolaEnfermeiras,
de EnfermagemDocente
USP
Enfermagem
Médico
Hospital
7,76%
dos
deescola situadotrabalhadores
de
ena zona oesteenfermagem
do
municípioapresentaram
de São Paulo Transtornos mentais
e comportamentais
29
2014
Acta
PaulistaDocentes
Enfermagem
Enfermagem
deHospital
Psiquiátrico
O
estresse
identificado
foi
em
localizado
na71,17%
dos
cidade
detrabalhadores
em
Teresina-PI
Saúde Mental
Fonte: Pesquisa Direta
5 DISCUSSÃO
Para atender aos objetivos propostos foram elaboradas três categorias
semânticas: Preparo dos enfermeiros que vão atuar na psiquiatria; Saúde mental dos
enfermeiros; e o Cuidado de enfermagem em saúde mental.
Categoria 1 - Preparo dos Enfermeiros que vão atuar na Psiquiatria
A formação de profissionais de saúde aptos para atender as reais necessidades da
clientela que irá assistir tem sido uma preocupação do governo, principalmente, com a
implantação de novas propostas de atuação no setor saúde. Dessa forma, é fundamental
que ocorra uma modificação na formação desse profissional, sob o prisma da ação
integral, acesso universal, equidade, participação e controle social
(7).
Um recorte na história permite visualizar que a obrigatoriedade do ensino da
enfermagem psiquiátrica foi determinada pela Lei n° 775 de 1949, que estabeleceu para
a segunda série do curso o ensino de Enfermagem e Clínica Neurológica e Psiquiátrica.
Porém, mais de 50% das Escolas não conseguiam oferecer estágios por falta de condição
nos campos de prática. Durante a década de 60, a enfermagem psiquiátrica vivia uma
etapa difícil em sua história. A falta de profissionais habilitados para atuar no campo da
saúde mental parece ser a principal discussão da época
(8).
Dentro desse contexto, as instituições de ensino na área de saúde estão
modificando seus projetos políticos pedagógicos. No tocante ao Curso de Graduação em
Enfermagem, as Diretrizes Curriculares Nacionais apontam o trabalho em grupo como
importante para a formação do enfermeiro. O trabalho de grupo permite a discussão
coletiva, tornando uma ponte de conexão entre o teórico e o vivencial, portanto, tornase um instrumento de extrema valia na formação desse profissional
(9).
Nesta conjectura, estudiosos concluem que o profissional de enfermagem tem
avançado em direção a este novo paradigma, que propõe a reestruturação da assistência
psiquiátrica. Contudo, para atingir as propostas reformistas é necessário não mais
reproduzir o pensamento, o fazer, enfim, toda cultura manicomial. Isto, porém, é tarefa
árdua, visto que implica no compromisso com a transformação da assistência (10).
De
acordo
com
estudiosos
a
assistência
de
enfermagem
psiquiátrica
historicamente construiu um exercício quase carcerário, onde o olhar do controle, o
discurso sobre uma assistência pautada exclusivamente na garantia da integridade física
dos pacientes e no cumprimento de uma série de atividades administrativas constituiu as
únicas atividades inerentes aos profissionais de enfermagem
(11).
Na perspectiva atual da saúde mental o trabalho em grupo é imprescindível para
reabilitação do individuo em sofrimento psíquico, uma vez que essa técnica possibilita
reafirmar laços entre os familiares que foram enfraquecidos por conta do processo de
doença, e tenta inserir novamente o paciente no seio da família da melhor maneira
possível. Além disso, essa medida configura-se em um instrumento terapêutico
formidável, porque permite ao cliente desenvolver habilidades que auxilia na
estabilização do quadro clínico
(7).
Diante dessas considerações é evidente que o
trabalho em grupo é primordial para o profissional enfermeiro, portanto, o mesmo deve
procurar uma formação específica para ter um suporte para uma atuação eficiente
(12).
Um bom preparo desse profissional repercutirá em um trabalho de excelência,
como também na saúde mental do mesmo, uma vez que quando se dá um bom suporte
para o enfermeiro não só teórico, mas também reflexivo com a habilidade de executar
atividades grupais percebe-se que o processo de adoecimento tem mais dificuldade de
acontecer, o que não deixa de refletir na saúde desse profissional de saúde.
É importante destacar que o preparo adequado do profissional está intimamente
ligado ao que é repassado pelo trabalhador docente. Este trabalho docente envolve uma
complexidade de relações, como a relação obtida com o ambiente de trabalho, com os
colegas de profissão, com os alunos, a pressão por produtividade na instituição, as
tarefas extraclasses e a carga horária extensa. Além disso, o que para o aluno é novo,
para o professor pode ser repetitivo e exaustivo. Fatores como esses podem interferir na
saúde psíquica desse docente e na formação profissional do aluno, especialmente alunos
de saúde mental (TAVARES, ET AL. 2012).
O enfermeiro é o profissional que além de um bom preparo técnico exige-se uma
boa capacidade de refletir sobre como prestar os cuidados de enfermagem. Trazendo
essa perspectiva para o campo da saúde mental, essa capacidade de reflexão deve ser
bem apurada não apenas para compreender o quadro clínico do individuo em sofrimento
psíquico, mas também para desenvolver mecanismos de defesa para preservar sua saúde
mental e um trabalho de qualidade, então os trabalhos grupais atendem a essas
situações expostas.
Categoria 2 - Saúde Mental dos Enfermeiros
A temática da saúde do trabalhador configura-se em um assunto emergente, uma
vez que já se tem o conhecimento científico do impacto que o trabalho causa na saúde
do trabalhador. O trabalho é uma necessidade do ser humano e considerado fator
importante para o desenvolvimento de natureza psicológica, social e econômica, mas
pode perder essa roupagem passando a ter uma influência negativa sobre o indivíduo, o
que acarreta no processo de adoecimento do profissional
(13).
A saúde mental é definida como equilíbrio resultante da relação do indivíduo com
seu meio interno e externo, as suas características orgânicas e os seus antecedentes
pessoais e familiares. Os avanços tecnológicos e a globalização vêm influenciando a
saúde mental dos trabalhadores, uma vez que estes exigem mais dedicação, atividades
excessivas, com isso acabam se transformando em fatores de agravos a saúde mental dos
trabalhadores
(14).
As diversas exigências proferidas ao profissional enfermeiro afetam gravemente a
sua saúde como trabalhador. Dentro desse contexto a saúde mental desse profissional
pode sofrer também alterações, desencadeando assim um processo patológico.
Pesquisadoras da temática constataram que a saúde mental dos profissionais de
enfermagem pode ser influenciada por fatores internos e externos ao trabalho, e que o
suporte administrativo, o relacionamento interpessoal e a divisão adequada entre o
número suficiente de profissionais são estratégias que podem auxiliar na redução do
estresse laboral
(15).
Os profissionais de enfermagem são expostas aos ambientes de trabalho
intensamente insalubres, tanto no sentido material quanto subjetivo e, por estarem
submetidas a condições de trabalho precarizadas, à baixa qualidade de vida, e o
preconceito tem afetado diretamente no estado de saúde dessas trabalhadoras
(16).
O trabalho pode favorecer tanto a saúde como o adoecimento. Segundo dados da
Organização Mundial da Saúde, em 2012 90% da população mundial era acometida pele
estresse ocupacional, que pode estar ligado, no caso da enfermagem, a diversos fatores,
como a escassez de recursos humanos, plantões noturnos, carga horária extensa,
competitividade e distanciamento entre teoria e prática (BEZERRA et al, 2012; UMANN
et al, 2014).
A discussão sobre a saúde mental do enfermeiro ainda perpassa por outras
questões. No momento atual a relação entre esses profissionais e as organizações
públicas e privadas está cada vez mais complexo o que reflete na insatisfação, aumento
do estresse e no desgaste da saúde física e mental desse trabalhador
(17).
Acrescenta-se a esse quadro a insistente divulgação na mídia das mazelas da
assistência a saúde no Brasil com um caráter sensacionalista construindo assim uma
imagem negativa dos profissionais de saúde, e o enfermeiro não foge a essa realidade, o
que acaba por tornar a reação da população não racional e grosseira, contribuindo assim
como mais um agravo da saúde mental desse profissional
(18).
Além dos fatores citados, o estresse está diretamente ligado à saúde mental
desses profissionais, visto que estes realizam um trabalho que exige muita atenção,
responsabilidade e apresenta muitas dificuldades. Neste caso, estamos fazendo
referência ao estresse ocupacional que pode se fazer presente por meio das tensões
associadas ao trabalho e a vida profissional
(19).
Um estudo realizado com trabalhadores da enfermagem no Hospital de Porto
Alegre - RS, apontou que 55,2% dos profissionais sentem-se nervosos, tensos ou
preocupados constantemente e concluiu o estudo com uma prevalência de 20,6% de
distúrbios psíquicos menores nesses trabalhadores (URBANETTO et al, 2013; BERNARDES
et al, 2014).
Assim, percebe-se que a prática do enfermeiro na assistência à saúde do indivíduo
pode ocasionar o surgimento do estresse, principal fator que afeta a sua saúde mental,
sendo este presente no meio ambiente de trabalho envolvendo os aspectos da
organização, administração e sistema de trabalho e da qualidade das relações humanas
(20).
Outro estudo, realizado mediante busca da literatura, nos remete a uma
profunda reflexão sobre essa temática, sendo que componentes como o número reduzido
de profissionais de enfermagem, excesso de atividades, as dificuldades em delimitar os
diferentes papéis entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, a falta de
reconhecimento e o achatamento de salários agrava a situação e configuram a
enfermagem como uma profissão bastante estressante
(20).
Em face dessas considerações fica claro como a saúde mental do enfermeiro é
muito vulnerável a instalação de distúrbios psíquicos. Um estudo realizado em um
hospital público de Salvador aponta que a exaustão emocional era o fator mais
preponderante para o surgimento de uma patologia psíquica nos enfermeiros, uma vez
que as muitas responsabilidades assumidas acabam por propiciar a formação de pontos
de tensão, o que leva a exaustão emocional
(21).
Categoria 3 - Cuidado de Enfermagem em Saúde Mental
O conhecimento na área da Saúde Mental, mais especificamente na Enfermagem
Psiquiátrica vem passando por transformações ao longo das décadas, delineando assim
um cuidado diferente, buscando sempre reconhecer os limites desse cuidado e superá-
los
(22).
Na história da assistência aos pacientes que sofrem de algum transtorno mental,
percebem-se intensas mudanças no decorrer do tempo. Em abril de 2001 foi aprovada a
Lei Federal 10.216/01 que retrata a Reforma Psiquiátrica no Brasil com o objetivo maior
de promover a reestruturação da assistência psiquiátrica no país marcado pela
substituição gradual dos manicômios por dispositivos de tratamento e acolhimento na
comunidade
(23).
Em face desse cenário o cuidado também fora modificado, assim a assistência
psiquiátrica modificou-se e o cuidado passou a ser comunitário baseado na
desinstitucionalização do paciente psiquiátrico. Essa mudança no cuidado conclama uma
parceria direta entre os profissionais de saúde, familiares e pacientes para a
manutenção do tratamento
(23).
A prática da enfermagem psiquiátrica na sua história foi marcada por uma
assistência pautada na medicação e em procedimentos disciplinares arbitrários. Com
efeito, condutas como a supermedicação, o eletrochoque e a contenção dos pacientes
eram realizados de forma indiscriminada com o intuito punitivo ou para obter a
obediência dos internados às regras impostas pela equipe
(10).
Analisando esse panorama de mudança do cuidado ao paciente com distúrbio
psíquico, o cuidado de enfermagem também sofreu alterações no decorrer desses anos
deixando de ser um cuidado centrado apenas na patologia que o individuo apresenta,
para transformar-se numa prática integrativa com a equipe multiprofissional, baseado no
relacionamento terapêutico (24).
A utilização do conceito de relacionamento terapêutico concerne à relação
interpessoal desenvolvida entre o profissional enfermeiro, e aquele que precisa de ajuda
- o cliente, no qual o enfermeiro associa os conhecimentos teóricos e práticos adquiridos
em sua formação profissional e assume a responsabilidade pelo processo de ajuda
terapêutica
(11).
Apesar deste conceito já estar inserido no campo da saúde mental, o convívio
rotineiro com o paciente e seu familiar, a insatisfação e desânimo pelo trabalho, a carga
horária exaustiva, o pouco lazer que o profissional enfermeiro possui e o índice de
violência no trabalho, que ainda permanece alto, ainda estão presentes no ambiente
psiquiátrico, podem levar a situações desgastantes e está diretamente relacionado à
assistência de má qualidade
(18).
Neste sentido, o relacionamento terapêutico torna-se efetivo quando o paciente e
família passam a ser o alvo do enfermeiro. Faz-se necessário estabelecer uma boa
relação com a família, estimular a mesma a participar mais dos cuidados que é prestado
e encorajar a comunicação. A comunicação indubitavelmente é decisiva para a execução
do cuidado de enfermagem e cabe, portanto ao enfermeiro atender ao cliente levando
em consideração essa técnica para elaboração e planejamento dos cuidados (25).
Nesta concepção a integração da família no projeto terapêutico ao paciente com
distúrbio psíquico se configura em um instrumento valioso para a recuperação e
reinserção desses indivíduos na sociedade. Estudiosos em seu trabalho afirmam que
todas as intervenções desenvolvidas nos serviços de saúde mental devem contemplar a
família, visto que esta inserção é primordial para a execução do processo de
recuperação da cidadania do doente mental
(26).
Nesta perspectiva consideramos o relacionamento terapêutico como um desses
instrumentos de cuidado que permitem essa reintegração e reorganização da pessoa que
padece psiquicamente. Consiste em uma tecnologia de cuidado formado por saberes e
práticas destinadas ao entendimento do ser humano em sua totalidade, permitindo o
desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento do sofrimento e da reintegração
social (27).
O cuidar em psiquiatria implica em tensão psicológica constante, devido
principalmente à imprevisibilidade dos comportamentos dos pacientes. Quando o
trabalhador em saúde não consegue dar vazão à essa tensão, podem surgir transtornos
mentais, como a síndrome de Burnout, que afetam diretamente no cuidado e na
qualidade de vida no trabalho(18).
Esse cuidado de enfermagem a clientes em sofrimento psíquico que se consolida
atualmente tem sido almejado por meio da capacitação dos profissionais envolvidos com
o objetivo de promover uma melhor compreensão da doença mental, construindo assim
uma prática que realmente faz a diferença (28).
Pelas razões expostas, fica evidenciada a relação direta que existe na realização
da assistência de enfermagem e a saúde mental desse trabalhador. Ambas as variáveis
estão intimamente ligadas e assim se uma sofre alteração negativa automaticamente a
outra variável também será influenciada negativamente.
6 CONCLUSÃO
Em face do exposto, fica evidenciado que o objetivo do proposto estudo foi
alcançado, uma vez que a saúde mental do profissional enfermeiro está intimamente
ligada com o desempenho da sua assistência ao indivíduo em sofrimento psíquico. Desta
forma, o sucesso de uma boa prática assistencial a esse perfil de clientela está
relacionado diretamente a uma boa saúde mental desse trabalhador.
A preocupação com a saúde mental do trabalhador tem se mostrado presente nos
estudos abordados, evidenciando como essa temática está sendo desvendada no
decorrer dos anos. Muitas medidas, leis foram criadas para aperfeiçoar a relação saúdetrabalho, mas o modo de produção adotado não contribuiu ainda para minimizar as
enfermidades as psíquicas relacionadas ao trabalho.
Portanto, nota-se um agravamento nas condições de trabalho na última década, o
que implica no aumento da possibilidade do profissional enfermeiro desenvolver um
processo psicopatológico, o que irá repercutir de forma negativa na execução da
assistência de enfermagem ao cliente que apresenta transtorno mental. A relevância
desse estudo é demonstrada pelo fato de contribuir na melhoria dos nossos
conhecimentos acerca do tema e servir para melhoria dos cuidados prestados por parte
dos enfermeiros a essa clientela e no aprofundamento da temática que ainda é tímido.
REFERÊNCIAS
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