geografia, educação e análise ambiental

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ANÁLISE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA BAIXADA SANTISTA:
O EXEMPLO DO MUNICÍPIO DE CUBATÃO, SP
Renata Barrocas
Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES)
[email protected]
Lucas Hollanders Braga
Bolsista CNPq
Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES)
INTRODUÇÃO
Para o desenvolvimento deste projeto de Iniciação Científica, financiado pelo CNPq, nosso
objeto de estudo será a transformação da paisagem da Serra do Mar na Baixa Santista. O
que provocou a mudança da paisagem da Serra do Mar e quais foram suas conseqüências
para a população são questões que delimitarão nosso trabalho. A informação junto ao
morador e sua percepção ambiental desta transformação levarão a respostas que muitas
vezes não são discutidas pelos administradores públicos.
Como área de aplicação do projeto utilizaremos o município de Cubatão, uma vez que, em
1988 a pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (UNESP) Profa. Dra. Lucy Marion
Calderini Philadelpho Machado, em sua tese de doutorado em Geografia, já havia discutido
questões para melhorar a qualidade de vida e percepção ambientais desta população que de
forma intensificada ocupava as áreas da Serra do Mar, especificamente na cota 200.
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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Cota 200, Cubatão, SP
Fonte: Disponível em: < http://www.novomilenio.inf.br>. Acesso em 03.07.2010
Neste trabalho contemplaremos a Educação e a Análise Ambiental através da ciência
geográfica. É uma pesquisa que atingirá resultados através do pensar qualitativo.
OBJETIVO
O que provocou a mudança da paisagem e quais foram suas conseqüências para a população
são questões que delimitarão nosso estudo de caso no município de Cubatão.
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Disponível em: < http://www.igc.sp.gov.br>. Acesso em 03.07.2010
O programa de recuperação de áreas ocupadas de forma irregular, divulgada pela Prefeitura
de Cubatão (2009),
pretende remover cerca de 5350 famílias localizadas acima das
seguintes cotas (95, 100, 200 e Pinheiro do Miranda). As famílias dos bairros-cota Água
Fria, Grotão, Pilões, Sítio do Queiroz e cotas 400 e 500 serão transferidas para prédios
construídos em outras localidades do município de Cubatão.
Parte dos moradores da Cota 200 serão removidos para os seguintes bairros: Jardim
Casqueiro com 1.840 unidades habitacionais, Bolsão 7, com 650 unidades habitacionais e
Bolsão 9, com 1.154 unidades habitacionais.
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Áreas
destina
das a
relocaç
ão
Disponível em: http://www.habitacao.sp.gov.br/download/presentation/programa-serra-do-mar/slide8.jpg
Acesso em: 12/05/2010
A análise ambiental através da fusão entre componentes naturais e construídos como cenário
de mundo-vivido será aspecto pesquisado neste trabalho. No caso do morador da Serra do
Mar, que a vivencia diariamente, a Serra é um lugar. Aquilo que é o espaço para o geógrafo,
para o administrador público, para o biólogo, para o habitante passa a se transformar em
lugar. Não podemos confundir estes dois conceitos - espaço e lugar - , pois quando
atribuímos valor para o espaço o transformamos em lugar. Esta relação afetiva é chamada
pelo geógrafo Yi-fu Tuan de topofilia. Este é o objetivo de uma pesquisa de percepção
ambiental, descobrir de que forma o sujeito experiencia o lugar que, neste caso, é a paisagem
da Serra do Mar. Nossa investigação será direcionada para trabalhar os conceitos de
transformação da paisagem e, sobretudo, as categorias de espaço e lugar na Baixada
Santista com os moradores da Cota 200 em Cubatão e também com alunos do município de
Santos.
A opção pela escolha de alunos de outro município levará a percepção e amostragem de
resultados que outros habitantes da região metropolitana da Baixada Santista possuem destas
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ocupações. Desta forma, os alunos estarão em contato com assuntos muito significativos
dentro da Geografia como processo de urbanização, degradação ambiental, diferenças sociais
e projetos de implantação de bairros-cota.
O nosso objetivo é trazer à sala de aula, a partir da aplicação de questionário junto a
população da cota 200 no município de Cubatão, a reflexão sobre as condições que esta
população vive e percebe o meio ambiente após 40 anos de ocupação. Isto implicará numa
reflexão socioambiental , onde através de atividades serão conduzidas novas formas de
pensar a realidade da Baixada Santista e promover a este grupo a transformação da leitura da
paisagem pela percepção ambiental.
METODOLOGIAS
A autora MACHADO coloca que “as pesquisas acadêmicas, muitas vezes, negligenciam o
mundo-vivido e acabam ajustando a realidade às suas teorias, métodos e modelos”. Esta
reflexão de MACHADO (1988) nos remete também a necessidade de trabalhar essas
questões na sala de aula, uma vez que, trata-se de uma área da região metropolitana onde
este grupo reside. Através de questionários direcionados aos alunos investigaremos se
reconhecem a existência dos problemas que estas comunidades enfrentam. O objetivo da
escolha da cota 200 vai de encontro a sua importância dentro dos bairros-cota de Cubatão.
Segundo dados da Prefeitura Municipal de Cubatão, atualmente estão cadastradas 7760
famílias nos bairros-cota e adjacências. Em 1988, MACHADO havia registrado um total de
4000 famílias entre as cotas 95 e 200, consideradas as maiores de todas. A ocupação
irregular da Serra do Mar possui prejuízos ambientais irreversíveis colocando em risco a vida
de mais de 3900 famílias nas encostas e áreas de mangue em Cubatão. Os dados obtidos
pelo trabalho de SENA (2009) junto a população da cota 200 também é de relevância para
nosso trabalho pois apresenta resultados atualizadas da percepção ambiental ainda residente
nesta localidade. Para a elaboração da pesquisa destacamos a obra Percepção Ambiental: a
experiência brasileira de DEL RIO e OLIVEIRA (1996), as teses de BARROCAS (2005)
e MACHADO (1988) sobre percepção ambiental, o livro Topofilia de TUAN (1981) que
serão fontes para as leituras direcionadas ao conteúdo que envolve a conduta, valores e a
percepção ambiental.
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Outra porção da população que será investigada são os alunos do terceiro ano do ensino
médio de uma escola santista. A justificativa para tal escolha será verificarmos se este grupo
que reside na mesma região metropolitana de Cubatão conhece a transformação que
paisagem da Serra está recebendo. Os Parâmentros Curriculares Nacionais exigem que a
escala local seja trabalhada em sala de aula e, por este motivo, escolhemos os alunos de
Santos para tal reflexão. O Ensino Médio é ideal para o desenvolvimento da etapa que
apresentará aos alunos como a paisagem se transformou no decorrer destes vinte e dois anos.
Discutiremos os conceitos de urbanização e transformação da paisagem e, sobretudo
trabalharemos os conceitos de espaço e lugar na Baixada Santista para alunos do município
de Santos. Desta forma, os alunos estarão entrando em contato com assuntos muito
significativos dentro da Geografia como processo de urbanização, degradação ambiental,
diferenças sociais, projetos de implantação de bairros-cota, além de algumas atividades que
serão direcionadas para o uso da Cartografia Escolar.
O objetivo de aplicar este projeto para alunos do Ensino Médio vai de encontro a uma
necessidade de promover o conhecimento da região que residem e que desenvolvam uma
leitura da realidade do espaço geográfico em que vivem. Os alunos precisam perceber os
problemas sociais e ambientais que muitas vezes são transmitidos em escala global mas que
também necessitam ser trabalhados, especialmente, na escala local. Devemos considerar que
são agentes de uma transformação de um futuro muito próximo e a escola tem o papel de
ensiná-los a ler na paisagem as mudanças do cotidiano. Neste caso, a disciplina de Geografia
cumpre um papel muito importante, pois através de métodos desenvolvidos na Cartografia
Escolar, em pesquisas direcionadas para a compreensão de dados estatísticos dos municípios
como os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de atlas escolares
municipais, temos ferramentas para ajudá-los nesta compreensão.
Daí surge a necessidade de apresentar dados da população da cota 200 aos alunos e de
instigá-los a investigar e desenvolver propostas para a reflexão de um problema
socioambiental tão sério como o apresentado na Baixada Santista.
Nosso objetivo é transformar neste pequeno grupo possibilidades de analisar, descrever e
interpretar a paisagem de forma diferenciada, não de uma forma reprodutivista, mas a partir
de uma concepção crítica e reflexiva.
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Os jovens possuem acesso de maneira muita rápida as informações sobre o cotidiano e
muitas vezes por questões que envolvem aspectos pessoais ou mesmo falta de orientação
dentro das disciplinas escolares acabam sendo negligenciados pelo sistema de ensino. Não
devemos subestimar sua capacidade de reflexão e participação social em questões urbanas
nas salas de aula.
É papel das pesquisas desenvolvidas no ambiente escolar, despertar nos alunos a importância
da análise ambiental, a partir da percepção e de dados que foram por eles concluídos, de que
a conservação e a transformação da paisagem devem ser realizadas de forma planejada
oferecendo qualidade de vida para os moradores.
O aluno deverá refletir e perceber que essas ocupações merecem atenção dos planejadores
municipais e estaduais e que a sustentabilidade ambiental deverá ser o pilar de todo este
procedimento.
RESULTADOS PRELIMINARES
O processo de relocação de parte dos moradores do bairro Cota 200 de Cubatão teve início
em 27 de fevereiro de 2010. Até o presente momento (junho de 2010) apenas uma família foi
transferida, porém, a previsão do Governo do Estado de São Paulo é que até o fim deste
ano, 40% dos residentes já estejam em sua nova moradia.
A família que participou da relocação foi a de um líder comunitário. Foi colhido o seu
depoimento em que o mesmo destaca o seguinte:
“Cansei de brigar. Achei melhor aceitar a proposta do Governo (do
Estado) e me mudar para cá (Praia Grande). Agora vou procurar outra
coisa para poder brigar por ela".
O depoimento mostra claramente que o antigo residente da Cota 200 possuía uma relação de
afetividade com o lugar.
Esse dado pode ser comprovado pela pesquisa de campo realizada por SENA (2009), que
foi orientado por BARROCAS em sua monografia cujo título foi “Análise da Ocupação do
Bairro Cota 200 no Município de Cubatão/SP” buscou dados quantitativos referentes a
região de origem dos moradores da Cota 200, como: tempo de residência, e o motivo
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determinante para a mudança para o município de Cubatão. Ao todo foram inquiridos 102
residentes da Cota 200.
A pesquisa de SENA demonstrou que 56% dos moradores da Cota 200 eram oriundos da
região Nordeste, sendo em segundo lugar a região Sudeste com 26% dos residentes.
Gráfico 1: Região de origem dos moradores
Fonte: SENA (2009)
Em relação ao tempo de moradia na região os resultados destacam que 82% dos moradores
residem na Cota 200 de dez a vinte e nove anos. Outros 11% teriam fixado suas residências a
menos de 10 anos, no período de 1999 a 2009.
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Gráfico 2: Tempo de Moradia dos moradores
Fonte: SENA (2009)
Outros dados relevantes da pesquisa de SENA são as razões que levaram as pessoas a
migrarem para a Cota 200. Dos entrevistados, 48% alegaram que fixaram residência por
questões familiares, 30% pela oferta de emprego e somente 22% não ter outra opção
de moradia.
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Gráfico 3: Razões para a fixação de moradia na Cota 200
Fonte: (2009)
Esses dados de pesquisa recentes servem para comprovar a relação de topofilia dos
moradores da Serra do Mar com a mesma. A solução desejada pelo Governo do Estado de
São Paulo ainda pode causar conflitos pois vai de encontro ao pertencimento que os
residentes tem com sua moradia e com o lugar.
Os alunos precisam perceber os problemas sociais e ambientais que muitas vezes são
passados em escala global mas que também necessitam ser trabalhados, especialmente, na
escala local. Devemos considerar que os alunos são agentes de uma transformação de um
futuro muito próximo e a escola tem o papel de ensiná-los a ler na paisagem as mudanças do
cotidiano. Neste caso, a disciplina de Geografia cumpre um papel muito importante pois
através de métodos desenvolvidos na Cartografia Escolar, em pesquisas direcionadas para a
compreensão de dados estatísticos dos municípios como os do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), de atlas escolares, temos ferramentas para ajudá-los nesta
compreensão. Daí surge a necessidade de apresentar dados da população da cota 200 e de
instigá-los a investigar e desenvolver propostas para a reflexão de um problema
socioambiental tão sério como o apresentado na Baixada Santista. Por meio de nossa
pesquisa procuramos analisar, descrever e interpretar a paisagem de forma diferenciada, não
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de uma forma reprodutivista, mas a partir de uma concepção crítica e reflexiva. Os
questionários direcionados ao Ensino Médio já foram elaborados e aplicados aos alunos neste
semestre e, posteriormente, serão apresentados como parte dos resultados obtidos.
Os jovens possuem acesso de maneira muita rápida as informações sobre o cotidiano e
muitas vezes por questões que envolvem aspectos pessoais ou mesmo falta de orientação
dentro das disciplinas escolares acabam sendo negligenciados pelo sistema de ensino. Não
devemos subestimar a capacidade de reflexão e participação social dos alunos em questões
urbanas nas salas de aula. Trazer à sala de aula uma reflexão socioambiental é uma forma de
levá-los a compreender a realidade da Baixada Santista e promover a transformação da
leitura da paisagem pela percepção ambiental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROCAS, R. A (trans)formação do turismo no município de Brotas: a relação
entre o morador e o turista. 2005. 100 p. Tese (Doutorado em Geografia). Instituto de
Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2005.
MACHADO, L. M. C. P. A Serra do Mar Paulista: Um Estudo de Paisagem
Valorizada. 1988. (?) p. Tese (Doutorado em Geografia). Instituto de Geociências e
Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1988.
SENA, R. S. Análise da ocupação do bairro cota 200 no município de Cubatão, SP.
Santos: Universidade Metropolitana de Santos, 2009. (Trabalho de Graduação).
TUAN, Y. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente.
São Paulo: Difel, 1981.
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