UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO OBESIDADE EM CÃES: ASPECTOS ECODOPPLERCARDIOGRÁFICOS, ELETROCARDIOGRÁFICOS, RADIOGRÁFICOS E DE PRESSÃO ARTERIAL Andréa Cintra Bastos Tôrres Orientadora: Profª. Drª. Rosângela de Oliveira Alves GOIÂNIA 2009 ANDRÉA CINTRA BASTOS TÔRRES OBESIDADE EM CÃES: ASPECTOS ECODOPPLERCARDIOGRÁFICOS, ELETROCARDIOGRÁFICOS, RADIOGRÁFICOS E DE PRESSÃO ARTERIAL Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás Área de Concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal Orientadora: Profa. Dra. Rosângela de Oliveira Alves – UFG Comitê de Orientação: Profa. Dra. Maria Clorinda S. Fioravanti - UFG Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo - UFG GOIÂNIA 2009 ii ANDRÉA CINTRA BASTOS TÔRRES Dissertação defendida e aprovada em 27 de fevereiro de 2009, pela seguinte Banca Examinadora: Profª. Dra. Rosângela de Oliveira Alves – UFG Orientadora Profª. Drª. Naida Cristina Borges – UFG Prof. Dr. Marlos Gonçalves Sousa – UFT iii Dedico esse trabalho a minha família e ao meu amor Grevy pelo apoio em todos os momentos e por acreditarem em mim. iv AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me abençoar, conduzir e se fazer presente em todos os momentos de minha vida. E por conceder o privilégio de concluir esse projeto, que é a realização de um grande sonho. À minha família, que sempre me incentivou, apoiou e acreditou em mim. Sendo os meus pais os responsáveis pela formação de todos os meus princípios morais e éticos. E a minha querida irmã Kamila, que sempre torceu por mim e vibrou com cada conquista da minha vida, sendo também um exemplo de coragem e fé. Ao meu futuro esposo Grevy, que sempre esteve ao meu lado me encorajando e incentivando a seguir em frente. Sendo essa conquista mais um projeto nosso. À minha segunda família, minha sogra Cássia e meu sogro Grevy, que se revelaram ao longo desse tempo grandes incentivadores dos meus estudos. E a minha cunhada Geruza que é um exemplo de determinação. Aos meus familiares que sempre demonstraram apoio e compartilharam dos momentos de dificuldades e sucesso. A todos os estagiários que me ajudaram durante a realização do experimento, que sempre estavam dispostos a cooperar e foram indispensáveis no desenvolvimento da fase experimental. Aos meus amigos de profissão Elisa, José Henrique, Ângelo e Filipe, que foram de importância ímpar no desenvolvimento e no aprimoramento profissional, me ajudando em inúmeros casos clínicos, que em muito me elucidaram e auxiliaram na tomada de importantes decisões. Aos amigos da Clinica Veterinária Bicho de Estimação, que me receberam com muito carinho e que admiro muito. A todos os colegas veterinários e funcionários do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás, e à Profª. Drª. Naida Cristina Borges, diretora do Hospital Veterinário – UFG, pela oportunidade de atender alguns dos pacientes encaminhados ao serviço de cardiologia, bem como pela credibilidade e confiança nos serviços prestados, que foram importantes para o desenvolvimento do experimento de mestrado e aprimoramento profissional. v A todos os pacientes que tive o privilégio de atender e aos meus animais de estimação, Pipa, Futrica, Mel, Fib, Jade, Pirulito e Pretinho, pelos quais tenho muito respeito e carinho, e que são minhas fontes de inspiração para continuar a estudar. À minha orientadora Profª. Dra. Rosângela de Oliveira Alves, quem eu admiro profundamente e a tenho como o exemplo tanto de profissional como de pessoa a ser seguido. Uma amiga e “mãe”, com quem aprendi muito e é uma fonte de conhecimento inquestionável. Sem ela seria impossível desenvolver esse projeto dentro da Universidade Federal de Goiás. Aos colegas Brunno, Rogério e Patrícia, com os quais compartilhei os mesmos animais de experimentação. Aos professores, Prof. Dr. Dirson Vieira, Profª. Drª. Ana Paula Iglesias, Profª. Drª. Regiani Nascimento Gagno Porto, Profª. Dra. Moema Pacheco e Profª. Drª. Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura, pela oportunidade de ministrar algumas aulas à graduação em Medicina Veterinária desta instituição. Agradeço com muito carinho à empresa Rações VB pelas formulações e fornecimento de todas as rações utilizadas nesse experimento, pois fizeram com muita dedicação e disposição. À Universidade Federal de Goiás (UFG) por ter me fornecido a base de todo o meu aprendizado e por tornar possível desenvolver o mestrado junto a uma instituição pública, gratuita e de qualidade. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que auxiliou no custeio do experimento por meio da bolsa concedida. vi Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento. Provérbios 2:6. vii SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS.......................................................................................... LISTA DE TABELAS......................................................................................... LISTA DE ABREVIATURAS.............................................................................. RESUMO........................................................................................................... ABSTRACT........................................................................................................ 1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 2. REVISÃO DE LITERATURA......................................................................... 2.1 Obesidade em cães.................................................................................... 2.2 Alterações conseqüentes da obesidade..................................................... 2.3 Ecodopplercardiografia............................................................................... 2.4 Eletrocardiografia........................................................................................ 2.5 Radiografia................................................................................................. 2.6 Pressão arterial........................................................................................... 2.7 Alterações cardiovasculares consequentes da obesidade......................... 3. OBJETIVOS.................................................................................................. 3.1 Objetivo geral.............................................................................................. 3.2 Objetivos específicos.................................................................................. 4. MATERIAIS E METODOLOGIA.................................................................... 4.1 Local para experimentação........................................................................ 4.2 Animais para a experimentação................................................................. 4.3 Programas de ganho e perda de peso....................................................... 4.4 Tempos experimentais............................................................................... 4.5 Avaliações ecodopplercardiográficas......................................................... 4.6 Avaliações eletrocardiográficas.................................................................. 4.7 Avaliações radiográficas............................................................................. 4.8 Avaliações da pressão arterial................................................................... 4.9 Análise estatística....................................................................................... 5. RESULTADOS.............................................................................................. 5.1 Avaliações ecodopplercardiográficas......................................................... 5.2 Avaliações eletrocardiográficas.................................................................. 5.3 Avaliações radiográficas............................................................................. 5.4 Avaliações da pressão arterial.................................................................... 6. Discussão...................................................................................................... 6.1 Avaliações ecodopplercardiográficas.......................................................... 6.2 Avaliações eletrocardiográficas................................................................... 6.3 Avaliações radiográficas.............................................................................. 6.4 Avaliações da pressão arterial..................................................................... 7. CONCLUSÃO................................................................................................ REFERÊNCIAS................................................................................................. viii x Xii Xiii Xiv 1 3 3 4 5 7 8 10 12 18 18 18 19 19 19 20 21 21 23 25 27 28 29 29 33 36 36 38 38 45 48 49 50 51 viii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. Aparelho de ecodopplercardiografia - My Lab30Vet - Pie Medical, e transdutor multifrequencial de 5,0/7,5 MHz do laboratório de Cardiologia EV/UFG.......................................................................22 FIGURA 2. Eletrocardiógrafo computadorizado (ECGPC/TEB). Eletrodos para registro das derivações bipolares e unipolares amplificadas (Seta vermelha) e eletrodos para registro das derivações pré-cordiais (Seta amarela)................................................................................24 FIGURA 3. Cadela posicionada para realização do exame eletrocardiográfico. Contida em decúbito lateral direito, com um eletrodo do aparelho de eletrocardiografia em cada membro..........................................24 FIGURA 4. Traçado eletrocardiográfico computadorizado obtido a partir da derivação II, na velocidade de 50mm/s, de cão adulto clinicamente saudável. Onda P (Seta vermelha), Onda R (Seta Azul), Onda T (Seta Verde) e Onda Q (Seta Amarela).........................................25 FIGURA 5. Mesa Buck móvel e estativa teto/chão do aparelho de radiografia TUR - D350/1965 e animal posicionado sobre a mesa para realização do exame radiográfico. Contido em decúbito lateral direito..............................................................................................26 FIGURA 6. Método VHS de Buchanan & Bucheler (1995) para projeções latero-laterais de radiografias torácicas. A - Com uma régua, se mede a silhueta cardíaca (eixo S), B – Em seguida, se faz a medição do comprimento cardíaco ou eixo L (da carina traqueal até o ápice do coração), C – Observar que o método VHS faz referência a largura e profundidade ocupados pelo coração dentro do tórax, D – Finalmente, para cada eixo mensurado coloca-se a régua a partir da quarta vértebra torácica, verificando a quantos corpos vertebrais o eixo calculado corresponde. O VHS é o somatório da quantidade de corpos vertebrais correspondente para os eixos S e L.................................................................................27 FIGURA 7. Aferição da pressão arterial de uma das cadelas do experimento na fase final da engorda. A – Cadela em decúbito lateral direito com o manguito acoplado no membro torácico esquerdo e visualização dos equipamentos utilizados para mensuração da pressão sanguínea pela técnica de Doppler, incluindo o aparelho de Doppler Microem DV 10, manômetro, bomba de insuflar, manguito e transdutor. B – Manguito acoplado na posição proximal da região metacarpiana ventral esquerda e posicionamento do transdutor sobre a região das artérias palmares comuns..............28 ix FIGURA 8. Imagens de uma das cadelas pertencente ao Grupo I, que engordou 20% acima do peso inicial. A e D – Silhueta lateral e dorsal na fase inicial(T1); B e E – Silhueta lateral e dorsal na fase obesidade(T2); C e F – Silhueta lateral e dorsal na fase final de redução de peso(T3).......................................................................29 FIGURA 9. Traçados eletrocardiográficos computadorizados, derivação II, calibração N, velocidade 50 mm/s, obtidos de uma das cadelas do Grupo I. A – Traçado eletrocardiográfico obtido na fase inicial mostrando arritmia sinusal respiratória; B - Traçado eletrocardiográfico obtido na fase obesidade mostrando ritmo sinusal; C - Traçado eletrocardiográfico obtido na fase final de redução de peso mostrando arritmia sinusal respiratória..............33 FIGURA 10. Imagens ecocardiográficas de cadelas que participaram do ensaio experimental, obtidas através do Modo bidimensional. A – Janela paraesternal direita, projeção longitudinal das quatro câmaras; B – Janela paresternal esquerda, eixo apical; C – Janela paraesternal direita, projeção transversal, nível músculos papilares; D – Janela paraesternal direita, projeção transversal, nível valva aórtica.......40 FIGURA 11. Imagens ecocardiográficas bidimensionais na parte superior e imagens em modo-M na parte inferior da figura, obtidas por meio da janela paraesteral direita, projeção longitudinal, de uma das cadelas do Grupo I, mostrando diminuição do AE após emagrecimento. A – fase de obesidade (AO/AE = 1,06); B – fase final de redução de peso (AO/AE = 0,92)......................................................................41 FIGURA 12. Imagens ecocardiográficas bidimensionais na parte superior e imagens em modo-M na parte inferior da figura, obtidas por meio da janela paraesteral direita, projeção transversal ao nível dos músculos papilares, de uma das cadelas do Grupo I. A – fase obesidade, apresentando DIVEs= 23,6mm; B – após redução de peso, apresentando DIVEs = 17,2mm...........................................42 FIGURA 13. Imagens ecocardiográficas bidimensionais na parte superior e imagens em modo-M na parte inferior da figura, obtidas por meio da janela paraesteral direita, projeção transversal no nível dos músculos papilares, de uma das cadelas do Grupo I. A – fase de obesidade (PLVEs = 11,2mm e PLVEd = 6,9mm); B – fase final de redução de peso (PLVEs = 9,1mm e PLVEd = 4,7mm).................43 x LISTA DE TABELAS TABELA 1. Valores médios e desvios-padrão, dos diâmetros da aorta (AO) e átrio esquerdo (AE), da relação átrio esquerdo/aorta (AE/AO), da separação septal do ponto E da mitral (SSPE) e peso, obtidos por meio da ecocardiografia em modo-M das cadelas do Grupo I (tendo em média 21,4% de ganho de peso) e Grupo II (tendo em média 15% de ganho de peso), nos tempos T 2 (fase de obesidade) e T3 (fase final de redução de peso). UFG – Goiânia, GO, 2009............30 TABELA 2. Valores médios e desvios-padrão, do diâmetro interno do ventrículo esquerdo na sístole (DIVEs) e diástole (DIVEd), da espessura do septo interventricular na sistole (SIVs) e diástole (SIVd), da espessura da parede livre do ventrículo esquerdo na sístole (PLVEs) e diástole (PLVEd), diâmetro interno do ventrículo direito em diástole (DVDd), fração de ejeção (FE) e fração de encurtamento (FS), obtidos por meio da ecocardiografia em modo-M dos cães do Grupo I (tendo em média 21,4% de ganho de peso) e Grupo II (tendo em média 15% de ganho de peso), nos tempos T 2 (fase de obesidade) e T3 (fase final de redução de peso). UFG – Goiânia, GO, 2009...........................................................................32 TABELA 3. Valores médios e desvios-padrão, do pico de velocidade da onde E da mitral (PVEM), pico de velocidade da onda A da mitral (PVAM), pico de velocidade do fluxo aórtico (PVFA), pico de velocidade da onda E da tricúspide (PVET), pico de velocidade da onda A da tricúspide (PVAT), pico de velocidade do fluxo pulmonar (PVFP) e débito cardíaco (DC), obtidos por meio da ecocardiografia em modo Doppler dos cães do Grupo I (tendo em média 21,4% de ganho de peso) e Grupo II (tendo em média 15% de ganho de peso), nos tempos T2 (fase de obesidade) e T3 (fase final de redução de peso). UFG – Goiânia, GO, 2009................................................................32 TABELA 4. Valores médios e desvios-padrão, da freqüência cardíaca(FC), duração da onda P, intervalo PR, complexo QRS, e intervalo QT, obtidos por meio da eletrocardiografia computadorizada das cadelas dos grupos GI e GII, nos tempos experimentais: início do ganho de peso(T1), fase obesidade(T2) e fase final de redução de peso(T 3). Goiânia, 2009...................................................................................35 TABELA 5. Valores médios e desvios-padrão, da amplitude da onda P, Q, R e S e do eixo elétrico médio, obtidos por meio da eletrocardiografia computadorizada das cadelas dos grupos GI e GII, nos tempos experimentais: início do ganho de peso(T 1), fase obesidade(T2) e fase final de redução de peso(T3). Goiânia, 2009............................35 xi TABELA 6. Valores médios e desvios-padrão do VHS (vertebral heart size) obtidos por meio de radiografias látero-laterais de tórax, das cadelas dos grupos GI e GII, nos tempos experimentais: início do ganho de peso (T1), fase obesidade (T2) e fase final de redução de peso(T 3). Goiânia, 2009...................................................................................36 TABELA 7. Valores médios e desvios-padrão das pressões arteriais sistólica (PAS) e diastólica (PAD) das cadelas dos grupos GI e GII, nos tempos experimentais: início do ganho de peso (T 1), fase obesidade (T2) e fase final de redução de peso(T3), obtidas pelo método Doppler não invasivo. Goiânia, 2009...............................................37 xii LISTA DE ABREVIATURAS BAV Bloqueio atrioventricular CED Consumo energético diário DE Densidade energética DIVEd Diâmetro interno do ventrículo esquerdo na diástole DIVEs Diâmetro interno do ventrículo esquerdo na sístole DPOC Doença pulmonar obstrutiva crônica DC Débito cardíaco CF Doppler de fluxo em cores CW Doppler contínuo PW Doppler pulsado ECC Escore de condição corporal ECG Eletrocardiograma EPLVEd Espessura da parede livre do ventrículo esquerdo na diástole EPLVEs Espessura da parede livre do ventrículo esquerdo na sístole IMC Índice de massa corporal MIMI Microinfarto de miocárdio NEM Necessidade energética para manutenção PAD Pressão arterial diastólica PAM Pressão arterial média PAS Pressão arterial sistólica PC Peso corporal SRAA Sistema renina-angiotensina-aldosterona TEB Tecnologia Eletrônica Brasileira VE Ventrículo esquerdo VHS Sistema de escala vertebral VS Volume sistólico xiii RESUMO A obesidade é uma condição mórbida de ocorrência comum na prática veterinária, estando geralmente associada à redução do tempo e da qualidade de vida dos animais de companhia. Esse fator, unido à regularidade com que é observada, faz da obesidade, atualmente, a forma mais importante de doença do metabolismo em cães, podendo provocar sérios problemas de saúde, dentre eles os distúrbios cardiovasculares. Neste trabalho, 14 cadelas de porte médio, sem raça definida, adultas e castradas foram divididas em dois grupos e submetidas a um programa de ganho de peso. O Grupo I com maior porcentagem de ganho de peso (em média 21,4% acima do peso inicial) e o Grupo II com menor porcentagem de ganho de peso (em média 15% acima do peso inicial). Posteriormente foram submetidas a um programa alimentar de correção da obesidade até atingirem o peso inicial. Durante os programas alimentares, na fase inicial (T1), fase de obesidade (T2) e fase final de redução de peso (T 3) foram realizados exames eletrocardiográficos, radiográficos e mensurações da pressão arterial e nas fases T2 e T3 exames ecodopplercardiográficos em todas as cadelas. Ao final da fase experimental, todas as variáveis obtidas foram avaliadas estatisticamente, comparando os grupos e as diferentes fases dentro do mesmo grupo. Os resultados revelaram redução altamente significativa da relação átrio esquerdo/aorta (AE/AO) e discreta redução do DIVEd, DVDd, PLVE e dos picos de velocidade dos fluxos sanguíneos após perda de peso; nenhuma alteração eletrocardiográfica significativa durante os momentos experimentais e nem entre os grupos; aumento significativo da silhueta cardíaca à avaliação radiográfica, na fase de obesidade, e diminuição da mesma após perda de peso em cães. Ainda, quanto maior a porcentagem de obesidade, maior foi o incremento na pressão arterial de cães, sendo esses achados semelhantes aos observados em seres humanos. Assim, conclui-se que quanto maior o índice de obesidade maior é o risco de alterações estruturais e funcionais do sistema cardiovascular em cães e que a redução do peso reverte essas alterações cardiovasculares geradas pela obesidade. Palavras-chave: cardiologia, ecocardiografia, eletrocardiograma, espécie canina, sobrepeso. xiv ABSTRACT The obesity is a morbid condition of common incident in veterinary practice, being generally associate to the reduction of animals’ life time and quality. This factor, joined to the regularity which it is observed, make the obesity, at present, the most important form of metabolism disease in dogs, being able to provoke serious health problems, among them the cardiovascular disturbances. In this work, 14 female dogs, of middle size, without definite race, adults and castrated were divided in two groups and submitted to a program of weight profit. The Group I, with bigger percentage of weight profit (on average 21.4% above the initial weight) and the Group II, with less percentage of weight profit (on average 15% above the initial weight). Subsequently, both groups were submitted to a food program of obesity correction, to reach the initial weight. During the food programs, in the initial phase (T1), phase of obesity (T2) and final phase of weight reduction (T3), examinations carried out were: electrocardiographic, radiographic and mensurations of the blood pressure. During the phases T2 and T3, ecodopplercardiographic examinations of all dogs were also performed. To the end of the experimental phase, every variables obtained were statistically evaluated, comparing the groups and the different phases within the same group. The results revealed: 1.highly significant reduction of the relation left atrium / aorta (AE/AO) and discreet reduction of the DIVEd, DVDd, PLVE and of the blood flows after loss of weight; 2. no significant electrocardiographic alteration during the experimental moments and not even between the groups; 3. significant increase of the cardiac silhouette in the obesity phase, and reduction of same after weight loss; 4. that the bigger the percentage of obesity, bigger is the growth in the dogs' blood pressure, being these similar finds to the observed ones in human beings. So, it is concluded that the bigger the obesity, bigger is the risk of structural and functional alterations of the cardiovascular system in dogs and that the weight reduction is able to revert these cardiovascular alterations produced by the obesity. Key-words: canine, cardiology, ecocardiography, electrocardiographic, obese 1. INTRODUÇÃO “A morte repentina é mais comum em indivíduos gordos, que em magros“, dizia Hipócrates, que foi o primeiro a registrar a associação entre a obesidade e a diminuição da expectativa de vida. Diversas definições do termo obesidade têm sido relatadas e discutidas. Uma definição recente descreve a obesidade como uma condição em que ocorre um armazenamento excessivo de energia, na forma de tecido adiposo. Sendo uma condição mórbida de ocorrência comum na prática veterinária, a obesidade está geralmente associada à redução do tempo e da qualidade de vida dos animais de companhia. Esse fator, unido à regularidade com que é observada, faz da obesidade, atualmente, a forma mais importante de doença do metabolismo em pequenos animais. Semelhante aos seres humanos houve um aumento no número de animais de companhia obesos nos últimos anos. Levantamentos epidemiológicos realizados em clínicas e hospitais veterinários estimaram a prevalência da obesidade entre 25% e 35%. Acredita-se que o aumento dos casos deve-se ao fato do estilo de vida, sedentário, ter se convertido em uma norma, ao invés de uma exceção, para muitos cães. Além disso, o fornecimento de alimentos saborosos e hipercalóricos contribui para aumentar o desequilíbrio energético que conduz ao excesso de peso. Muitos proprietários não têm consciência de que seus animais de estimação estão obesos. A definição de que a obesidade é o acúmulo excessivo de gordura corporal, suficiente para prejudicar as funções orgânicas, é um conceito importante para a medicina veterinária, pois enfatiza, tanto para o veterinário como para o proprietário, a importância da identificação e da compreensão de que ela pode causar problemas potencialmente sérios à saúde. Por sua vez, a identificação inicial ou o diagnóstico prévio torna-se o passo principal para a correção do problema. Nos seres humanos, a obesidade é descrita como um dos mais importantes fatores de risco à saúde, diminuindo a expectativa de vida e aumentando sobremaneira a incidência de doenças cardiovasculares. Os riscos cardiovasculares que a obesidade acarreta ao homem são frequentemente 2 extrapolados para os animais, pois poucas informações estão disponíveis para os cães. Isso se deve também às escassas avaliações objetivas e direcionadas ao sistema cardiovascular de animais obesos. Diante do exposto, a realização desse projeto objetivou a estabelecer as alterações cardiovasculares freqüentemente encontradas em cães no desenvolvimento e correção da obesidade, auxiliando no diagnóstico precoce dos problemas cardiovasculares decorrentes da mesma, uma vez que não se tinha relatos de um projeto semelhante, onde se avaliaram os animais ganhando e depois perdendo peso de forma controlada. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Obesidade em cães A obesidade resulta de uma ingestão calórica superior às necessidades diárias, provocando desequilíbrio entre ingestão e gasto de energia e acumulando tecido adiposo no organismo, o que leva a efeitos deletérios no grau de higidez e longevidade do indivíduo (BURKHOLDER & TOLL, 2000; MARKWELL & EDNEY, 2000; NELSON & COUTO, 2001; DIEZ & NGUYEN, 2006a). É uma das enfermidades nutricionais mais frequentes, que cresce em proporções alarmantes no mundo inteiro, assumindo caráter epidêmico, como o principal problema de saúde pública na sociedade moderna, assim como um dilema clínico importante (MONTEIRO, 1999; MANCINI, 2001; GRECO, 2002; VASAN, 2003). Os cães que possuem um convívio mais próximo com seus proprietários têm maior tendência ao desenvolvimento da obesidade, uma vez que recebem maior quantidade de petiscos, como forma de melhorar a interação entre ambos. Além disso, são considerados mais predispostos à obesidade aqueles animais cujos proprietários são obesos e/ou idosos e, freqüentemente, lhes oferecem petiscos ou guloseimas (DIEZ & NGUYEN, 2006a; TÔRRES et al., 2006). Os fatores adicionais que tornam um cão ou gato predispostos a obesidade incluem idade, taxa metabólica basal, sexo, gonadectomia, genética e fatores ambientais. Os cães adultos, numa faixa etária entre cinco e oito anos, são os mais acometidos, assim como os mais velhos, pois apresentam diminuição da massa muscular e da taxa metabólica basal. Relata-se maior prevalência em fêmeas e em animais gonadectomizados, independentemente do sexo. As raças particularmente predispostas são: Basset Hound, Beagle, Cairn Terrier, Cavalier King Charles Spaniel, Cocker Spaniel, Teckel, Golden Retriever, Labrador Retriever, Poodle e Shetland Sheepdog (HARPER, 1998; BURKHOLDER & TOLL, 2000; DIEZ & NGUYEN, 2006a). Entretanto, existem outras causas a serem consideradas, como o hipotiroidismo, hiperadrenocorticismo, hipopituitarismo, acromegalia, disfunção hipotalâmica e o uso continuado de 4 alguns fármacos como glicocorticóides, progestágenos, fenobarbital e primidona (NELSON & COUTO, 2001). A obesidade não é uma doença singular, e sim um grupo heterogêneo de condições com múltiplas causas que, em última análise, refletem no fenótipo obeso (JEBB, 1999). A diferença entre a normalidade e a obesidade é arbitrária, mas o ser humano é considerado obeso quando a quantidade de tecido adiposo aumenta, afetando a saúde física, psicológica e a expectativa de vida é reduzida. E em cães e gatos quando há aumento de peso igual ou superior a 15% do peso corporal ideal já são considerados obesos (MANCINI, 2001; GERMAN, 2006). A forma mais simples de diagnóstico da obesidade geralmente se dá pela inspeção e palpação diretas. Cães e gatos devem ter costelas facilmente palpáveis e apresentar a forma de ampulheta quando vistos de cima. Animais com abdômen abaulado a partir da última costela, com depósitos de gordura evidentes em cada lado da inserção da cauda, acima do quadril e/ou na região inguinal e cujo gradil costal não é facilmente palpável, são considerados obesos (LAFLAMME, 1997; CASE, 1998; MARKWELL & EDNEY, 2000; NELSON & COUTO, 2001). 2.2 Alterações consequentes da obesidade A obesidade tanto em cães e gatos, como em humanos pode ocasionar problemas sérios à saúde como hiperinsulinemia, intolerância à glicose, problemas ortopédicos, intolerância ao exercício e ao calor, hipertensão arterial, prejuízos à resposta imunológica e doenças pulmonares e cardiovasculares (FARIA et al., 2005; BERGMAN et al., 2007). Além disso, cães obesos apresentam maiores riscos inerentes à anestesia, assim como maior propensão a reações medicamentosas (CLUTTON, 1988), dificuldade ao acesso cirúrgico devido ao acúmulo de gordura intra-abdominal, subcutânea e mediastínica, além de maior propensão à necrose secundária ao traumatismo cirúrgico (CASE, 1998). A obesidade também promove aumento na incidência de dermatopatias (piodermites e seborréia), neoplasias e menor eficiência reprodutiva (JOSHUA, 1970; GERMAN, 2006). 5 O excesso de peso provoca um estresse maior do que as articulações poderiam suportar, especialmente nos cotovelos e joelhos, sendo, portanto, importante fator na etiologia de lesões ortopédicas traumáticas e degenerativas em cães (JOSHUA, 1970; MARKWELL & BUTTERWICK, 1994; GERMAN, 2006). Dificuldades respiratórias estão associadas à obesidade humana e canina, pois o excesso de tecido adiposo leva à redução da complacência respiratória, dificultando a oxigenação corporal, desencadeando à intolerância ao exercício (MARKWELL & BUTTERWICK, 1994; MANCINI, 2001). Em pequenos animais a obesidade pode exacerbar várias doenças respiratórias, como colapso de traquéia, paralisia da laringe e a síndrome de obstrução do ar em animais braquicefálicos (GERMAN, 2006), além de estreitamento da passagem de ar pela faringe e laringe, ocasionada pelo depósito de gordura nos tecidos vizinhos (JOSHUA, 1970). Em cães obesos a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) pode provocar a cor pulmonale, que é uma alteração na estrutura e funcionamento do ventrículo direito secundária a um distúrbio do sistema respiratório, porém não está claro se a obesidade precipita a doença respiratória ou se é primariamente responsável pelo prejuízo cardíaco. Provavelmente, a obesidade tem o papel de agravar ou causar a DPOC, induzindo hipoventilação e contribuindo para o desenvolvimento da cor pulmonale (ATKINS, 1991,1999). Em seres humanos, a obesidade está associada a eventos como hipertensão arterial, hipertrofia cardíaca, distúrbios de condução elétrica, além de estados pré-trombóticos e aterogênicos. As alterações cardíacas são primariamente relacionadas à sobrecarga de volume sanguíneo decorrente do excesso de tecido adiposo (ATKINS, 1991; JOLES, 1998; BARRETO-FILHO et al., 2002). 2.3 Ecodopplercardiografia O termo ecocardiografia refere-se ao exame que emprega o ultra-som para examinar o coração e registrar dados sob a forma de ecos, isto é, de ondas sonoras refletidas. O limite superior do espectro sonoro perceptível à audição é de 6 20.000 ciclos/s ou 20 quilohertz (KHz). A frequência única empregada na ecocardiografia varia de 1 a 10 milhões de ciclos/s, isto é, de um a dez megahertz (MHz). Os transdutores de 5,0MHz são utilizados para a maioria dos cães, exceto naqueles muito grandes, pesando acima de 50kg, onde emprega-se a frequência de três a 3,5MHz e naqueles animais menores (menos de 7kg), onde utilizam-se frequências mais elevadas de 7,5 a 10MHz (KIENLE & THOMAS, 1995; FEIGENBAUM, 1996). O exame ultra-sonográfico cardíaco permite obter informações sobre o tamanho e função das câmaras, espessura das paredes, integridade valvar, padrões de fluxo sanguíneo e sobre alguns indicadores da função ventricular (GELENS & IHLE, 1999). O exame ecodopplercardiográfico consiste na avaliação cardíaca a partir de imagens ultra-sonográficas apresentadas no modo bidimensional, modo M e o modo Doppler (pulsado, contínuo e fluxo em cores). O modo bidimensional e o modo M fornecem informações sobre a morfologia das câmaras, como o diâmetro ventricular no final da diástole e na sístole, a partir dos quais se podem calcular vários índices funcionais miocárdicos (LUSK & ETTINGER, 1990; BONAGURA et al., 1998). Com a modalidade Doppler as possibilidades de diagnóstico avançaram ainda mais. Ela demonstra acuradamente a direção e a velocidade do fluxo sanguíneo no coração e nos vasos, sendo estes parâmetros de grande valor diagnóstico na avaliação hemodinâmica dos fluxos cardíacos (KIRBERGER & BERRY, 1992; BONAGURA et al., 1998). KIRBERGER (1991) descreveu que a ecocardiografia Doppler é a análise da variação da freqüência ultra-sônica encontrada nos ecos refletidos pelas hemácias, e estes ecos contém informações importantes referentes à velocidade, direção das hemácias e tipo de fluxo (laminar ou turbulento). Em pacientes obesos, o exame ecodopplercardiográfico é muito prejudicado pelo excessivo depósito de gordura subcutânea na região torácica, uma vez que o tecido adiposo atenua a propagação das ondas de ultra-som (BOON, 1998; ALPERT, 2001b). A obesidade moderada a severa está diretamente relacionada à dilatação ventricular esquerda, aumento do estresse da parede livre do ventrículo 7 esquerdo e hipertrofia excêntrica compensatória, que resulta em disfunção diastólica. Se a hipertrofia for inadequada, isto é, não acompanhar a dilatação da câmara, o estresse da parede permanece aumentado, favorecendo o desenvolvimento de disfunção sistólica no ventrículo esquerdo. O ventrículo direito parece responder de maneira similar, mesmo na ausência de doença pulmonar vascular ou parenquimatosa (NAKAJIMA & MATSUZAWA, 1990; ALPERT, 2001a; MANCINI, 2001). Assim, torna-se importante a realização do ecodopplercardiograma para diagnosticar essas possíveis alterações decorrentes da obesidade. 2.4 Eletrocardiografia O eletrocardiograma (ECG) consiste no registro gráfico da atividade elétrica cardíaca captada desde a superfície corporal e fornece informações sobre a frequência cardíaca, o ritmo cardíaco, a condução intracardíaca, indícios de aumento das distintas câmaras cardíacas e alterações eletrolíticas (GABAY, 2003a). Trata-se do mais importante método de diagnóstico das arritmias cardíacas, podendo determinar seu tipo, origem e severidade, bem como auxiliar no direcionamento terapêutico (ETTINGER, 1997). O ECG deve ser realizado em ambiente calmo e longe de qualquer estimulação que possa alterar o traçado normal. Por padronização os animais são posicionados em decúbito lateral direito, em mesa não condutora. Eletrodos em forma de dentes de jacaré são fixados à pele na região do olécrano dos membros torácicos e patela dos membros pélvicos. O álcool é utilizado como agente de contato, não sendo necessária a tricotomia (ETTINGER et al., 2004). Os membros dos animais devem estar paralelos entre si e perpendiculares ao tronco. Outros posicionamentos podem causar alterações das amplitudes das ondas e afetar o eixo cardíaco elétrico médio (ECEM). A comunicação entre dois eletrodos por meio de uma ponte de álcool ou por contato físico deve ser evitada. Além disso, o animal precisa ser contido gentilmente na posição determinada para minimizar os artefatos de movimentação (WARE, 2003). 8 A derivação II é usualmente utilizada para interpretação do traçado eletrocardiográfico, determinando a frequência cardíaca, o ritmo cardíaco o eixo elétrico médio e a duração e amplitude das ondas e complexos (KITTLESON, 1998). O ritmo deve ser avaliado pela frequência cardíaca, presença de ondas P, complexos QRS e ondas T correspondentes (TILLEY, 1995). A eletrocardiografia computadorizada tem apresentado maior acurácia em relação ao método convencional, conforme SHIWEN et al. (1996), pois a mensuração computadorizada do ECG detecta leituras de um milisegundo, enquanto na convencional a leitura só pode ser feita a partir de cinco milissegundos, com papel em velocidade de 100 mm/s. TILLEY (1995) listou entre outras vantagens do procedimento computadorizado: progresso em controle de qualidade, diminuição no tempo requerido para exame e capacidade para manejar grandes volumes de ECGs em menor tempo. Estudos anatomopatológicos em humanos obesos revelaram esteatose de células do sistema elétrico de condução cardíaca, o que é a provável causa de muitas arritmias encontradas em humanos e cães com sobrepeso, sendo essencial a monitoração eletrocardiográfica para o diagnóstico precoce e definitivo dessas possíveis arritmias (ATKINS, 1991; ALPERT & HASHIMI, 1993; MANCINI, 2001; WOFFORD & HALL, 2004). 2.5 Radiografia GABAY (2003b) afirmou que a radiografia do tórax fornece informações sobre as dimensões das câmaras cardíacas, o estado do parênquima pulmonar, sobre as vias aéreas superiores intratorácicas, a integridade anatômica das paredes da cavidade torácica e a pleura, e sobre a vascularização pulmonar. Para a determinação das dimensões das câmaras cardíacas, a análise radiográfica é o método mais sensível se comparado a eletrocardiografia. Vários aspectos devem ser levados em consideração para a obtenção de radiografias que possibilitem boa avaliação da cavidade torácica, como o direcionamento dos feixes e distanciamento do foco, calibragem do aparelho, 9 posicionamento do paciente, projeções radiográficas, fase da respiração, conformação torácica e idade do animal (FONSECA PINTO, 1999). A técnica adequada para a radiografia de tórax é a de alta quilovoltagem, associada a baixo produto entre miliamperagem e tempo em segundos (mAs). A qualidade do feixe, a partir da energia efetiva, deve permitir boa penetração da energia no tórax para adequada análise de estruturas cardíacas e mediastinais, com curto tempo de exposição, melhor desempenho durante a inspiração profunda, e redução da dose de radiação no paciente (FONSECA PINTO, 1999). A distorção da imagem pode ocorrer pela distância inadequada do foco do tubo de raios-X ao filme passando pelo objeto e pelo não alinhamento dos raios centrais com o objeto (CORREA, 2005). Nas radiografias para avaliação do tórax e em especial da silhueta cardíaca, o feixe de raios-X deve ser posicionado sobre o coração à altura da 5ª costela nas projeções látero-laterais (LL) e de forma perpendicular à mesa (FONSECA PINTO, 1999). O posicionamento do animal é de extrema importância para a correta avaliação da silhueta cardíaca, pois a incidência oblíqua dos raios-X é um artefato comum e resulta em uma imagem falsamente aumentada da silhueta cardíaca. Todo o tórax deve ser incluído na imagem, desde o diafragma até a traquéia cervical. Nas radiografias LL deve-se atentar para que a coluna espinhal e o esterno apresentem-se paralelos um ao outro e ao mesmo tempo equidistantes ao filme. Os membros torácicos devem permanecer tracionados cranialmente e paralelos entre si. Sempre que possível a cabeça deve permanecer em sua posição natural, sem que haja flexão ou extensão cervical, pois isto pode acarretar em falso deslocamento da posição da traquéia. O mau posicionamento do animal nas radiografias LL de tórax geralmente é identificado pela proximidade das junções costocondrais, quando os arcos dorsais das costelas não estão no mesmo nível dos dois lados e quando os corpos das vértebras torácicas não estão sendo visiblizados individualmente (BILLER, 2006). Alguns autores dão preferência ao decúbito esquerdo nas projeções LL, pois assim o coração é mantido o mais próximo de sua topografia normal (ROOT & BAHR, 1986). Porém defende-se que quando o animal é posicionado em decúbito lateral direito, o ligamento frênico-pericárdico limita a movimentação 10 do ápice cardíaco para a direita, evitando distorções da imagem cardíaca (FONSECA PINTO, 1999; BILLER, 2006). BUCHANAN & BUCHELER (1995) propuseram um método de mensuração do tamanho do coração em radiografias látero-laterais. Realizado pelo sistema de unidade vertebral ele compara as dimensões cardíacas aos comprimentos das vértebras torácicas de forma a se determinar o VHS "vertebral heart size" – tamanho do coração em relação à unidade de vértebra torácica. Os valores de VHS obtidos em projeções látero-laterais foram menores ou iguais a 10,5 vértebras (v) em 98% das radiografias dos cães clinicamente normais estudados, sendo este valor sugerido como limite superior para um tamanho normal de silhueta cardíaca na maioria das raças. Os mesmos autores consideram que o método de mensuração VHS tem uma grande utilidade na avaliação das silhueta cardíaca em cães com alterações radiográficas mínimas, e em expressar a evolução das cardiomegalias nas doenças cardíacas. Radiografias de tórax convencionais, em animais obesos, podem sugerir cardiomegalia, visto que a deposição de gordura subpericárdica, aumenta a silhueta cardíaca (KITTLESON & KIENLE, 1998; LISTER & BUCHANAN, 2000). Desta forma, torna-se importante a avaliação radiográfica para acompanhamento desse incremento no VHS dos cães obesos, com o intuito de uma maior segurança ao se avaliar a silhueta cardíaca. 2.6 Pressão arterial A pressão sanguínea é um dos parâmetros circulatórios mais importantes. Por meio da mensuração da pressão arterial pode-se diagnosticar e auxiliar na monitoração de várias doenças. Esse parâmetro é determinado pela ação bombeadora do coração, resistência periférica, viscosidade do sangue, quantidade de sangue no sistema arterial e elasticidade das paredes arteriais. Esses fatores são controlados por um sistema regulador complexo que, ordinariamente, mantém a pressão arterial dentro de limites estreitos (DETWEILER, 1996). A obesidade é um importante fator de risco para o desenvolvimento da hipertensão arterial. Em humanos existe uma relação direta do índice de massa 11 corporal (IMC) e a pressão arterial. Segundo estimativas, a hipertensão pode ser diretamente atribuída à obesidade em aproximadamente 70% em humanos. Do ponto de vista hemodinâmico, os principais achados relacionados à hipertensão associada à obesidade em estudos experimentais e em humanos são a expansão do volume extracelular e o aumento do fluxo sanguíneo regional, resultando em aumento do débito cardíaco (ROCCHINI et al., 1987; BARRETO-FILHO et al., 2002; PHILIP-COUDERC et al., 2003). O diagnóstico e a monitoração da hipertensão são baseados na mensuração da pressão sanguínea do mesmo. Esta pode ser mensurada diretamente, por vias intra-arteriais ou indiretamente por dispositivos que necessitam da compressão dos vasos (manguitos) no local onde será realizada a mensuração, como membros ou cauda (HENIK et al., 2005). Os dispositivos indiretos são mais aceitos clinicamente e de utilização mais viável, pois não requerem sedação ou qualquer tipo de intervenção invasiva que exija contenção e que, consequentemente gere estresse para o animal. Os métodos de mensuração da pressão sanguínea por meio indireto são obtidos com manguito que promova a estenose de artéria periférica, utilizando-se método palpatório, auscultatório, transdutor ultra-sônico (Doppler), oscilométrico ou fotopletismográfico, distalmente ao manguito, para a detecção da movimentação do fluxo sanguíneo ou da parede arterial (LITTMAN, 1997). Para o método Doppler utiliza-se transdutor muito pequeno (2×1×0,5cm), formado por cristais piezoelétricos que emitem energia de alta frequência para o tecido subjacente. Essa energia atinge a parede arterial e volta para o cristal, sendo transformada em sinal sonoro por um microprocessador. após tricotomia do local escolhido para registro da pressão sanguínea, aplica-se gel no transdutor e procede-se à identificação da artéria, procurando-se o sinal sonoro. O transdutor deve ser alinhado paralelamente ao fluxo sanguíneo e então o manguito é inflado até se obter uma pressão supra-sistêmica (200-205mmHg), para obliteração do pulso. Imediatamente após, o manguito é gradualmente desinflado. À medida que o sangue começa a fluir através da artéria, podem ser detectados diversos sons (sons de Korotkoff). O primeiro sinal audível indica a pressão arterial sistólica e, posteriormente, quando ocorre a mudança de um som 12 pulsátil curto para outro mais prolongado, tem-se a pressão diastólica (ROSS, 1992; ACIERNO & LABATO, 2005; CAMACHO et al., 2007). 2.7 Alterações cardiovasculares consequentes da obesidade Estudos ecocardiográficos e anatomopatológicos tanto em umanos quanto em cães obesos revelaram mudanças estruturais, como hipertrofia ventricular esquerda e direita, sobrecarga atrial esquerda, esteatose de células do sistema elétrico de condução cardíaca, além de obstruções coronarianas (ATKINS, 1991; ALPERT & HASHIMI, 1993; MANCINI, 2001; WOFFORD & HALL, 2004). Protocolos experimentais com dietas hipercalóricas, desenvolvendo obesidade em cães elucidaram que animais obesos apresentam hipertensão arterial sistêmica, hipertrofia da massa ventricular esquerda e alterações de condução cardíaca, relacionadas ao aumento do tônus autonômico-simpático, à ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), à hiperinsulinemia e à hiperleptinemia (JOLES, 1998; WOFFORD & HALL, 2004; GERMAN, 2006). A dilatação ventricular esquerda eleva o estresse da parede muscular em sístole, denominado de pós-carga. Assim, a massa muscular do ventrículo esquerdo aumenta com o objetivo de adaptar-se a essa nova situação, provocando, desta maneira, hipertrofia excêntrica do miocárdio (NAKAJIMA & MATSUZAWA, 1990). MIZELLE et al. (1994) observaram aumento de peso corporal após quatro semanas de dieta hipercalórica, bem como hipertensão moderada com elevação do débito cardíaco, da freqüência cardíaca e da pressão atrial esquerda, sugerindo que as alterações na função ventricular esquerda podem ocorrer muito precocemente durante o desenvolvimento da obesidade canina. Sabe-se que a obesidade implica diretamente no aumento de massa tecidual em todo o organismo, inclusive rins, elevando a pressão hidrostática intersticial e afetando a capacidade de reabsorção renal tubular de sódio, aumentando-a e, consequentemente, expandindo o volume circulatório (ATKINS, 1991; JOLES, 1998; HALL, 2003). 13 O incremento da massa corporal produzida pela excessiva quantidade de tecido adiposo aumenta a demanda metabólica e, consequentemente, o consumo de oxigênio. Por isso, o débito cardíaco e o volume sanguíneo total se elevam com a finalidade de atender essa nova exigência metabólica (NAKAJIMA & MUTSUZAWA, 1990; ATKINS, 1999). A obesidade, tanto para o homem como para cães e gatos, é uma doença de expansão de volume com elevação do débito cardíaco, aumento de volume dos fluidos plasmático e extracelular, incremento do cronotropismo cardíaco, disfunção sistólica e diastólica ventricular e elevação da pressão arterial. Adicionalmente, sugere-se que a obesidade pode agravar o quadro clínico de pacientes cardiopatas (MARKWELL & BUTTERWICK, 1994; ALPERT et al., 1997; ATKINS, 1999; ROUDEBUSH & FREEMAN, 2000). PEREIRA-NETO (2005) realizou avaliação ecodopplercardiográfica em 15 cães adultos obesos, observando aumento do diâmetro interno do ventrículo esquerdo na sístole (DIVEs) e na diástole (DIVEd); além do incremento acima dos valores de referência para a espécie nos valores de espessura da parede livre do ventrículo esquerdo na diástole (PLVEd) e na sístole (PLVEs). A elevação do volume circulante total e do débito cardíaco na obesidade produz aumento da cavidade ventricular esquerda, e isso é visualizado pelo aumento do DIVEs e DIVEd. A dilatação ventricular esquerda eleva o estresse da parede em sístole, denominado de pós-carga. A massa muscular do ventrículo esquerdo (VE) também aumenta, com o intuito de adaptar-se a essa nova situação, resultando assim, em hipertrofia excêntrica do miocárdio (NAKAJIMA & MATSUZAWA, 1990). Os valores da espessura da parede livre do ventrículo esquerdo na diástole (PLVEd) e na sístole (PLVEs) frequentemente se encontram elevados em seres humanos obesos normotensos, indicando hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo resultante do aumento na pré-carga associada à obesidade, o que predispõe à disfunção sistólica. A hipertrofia excêntrica do VE é um mecanismo para normalizar o estresse da parede ventricular esquerda (ALPERT & HASHIMI, 1993; VASAN, 2003). A fração de encurtamento (FS%) e de ejeção (FE%) e o espessamento fracional do septo interventricular e da parede livre do VE são índices da fase de 14 ejeção cardíaca e representam medidas da função ventricular global, sendo independentes do peso corpóreo do animal. São facilmente alteradas por mudanças na pré-carga, pós-carga e contratilidade (KITTLESON & KIENLE, 1998a). Em seres humanos obesos a FS% e FE% estão freqüentemente normais (ALPERT & HASHIMI, 1993; VASAN, 2003) semelhantemente ao observado por PEREIRA-NETO (2005) com cães adultos obesos. O débito cardíaco (DC) e o volume sanguíneo total na obesidade, tanto em seres humanos como em cães, elevam-se com a finalidade de atender a nova demanda metabólica decorrente da excessiva deposição de tecido adiposo. Desde que a frequência cardíaca esteja normal, o aumento do débito cardíaco (DC) resulta do elevado volume sistólico (VS), refletido pela dilatação da câmara ventricular (NAKAJIMA & MATSUZAWA, 1990; ALPERT & HASHIMI, 1993; HALL, 1993; MASSABUAU et al., 1997; VASAN, 2003). As dimensões intracardíacas, as espessuras da parede livre e septo interventricular e os cálculos derivados de medidas do modo-M, incluindo a massa ventricular esquerda, o volume ventricular esquerdo ao final da sístole e diástole, o volume sistólico e o débito cardíaco variam de acordo com as oscilações no peso corpóreo; enquanto que a separação septal do ponto E da válvula mitral, espessamento fracional do septo interventricular, frações de encurtamento e ejeção, o índice volumétrico do ventrículo esquerdo ao final da sístole e diástole e os índices cardíaco e de ejeção são parâmetros independentes do peso corporal (KITTLESON & KIENLE, 1998a; PEREIRA-NETO, 2005). O excesso de tecido adiposo pode provocar depósitos de gordura subepicárdica e pequenos graus de infiltração gordurosa no miocárdio. Os adipócitos podem estar interpostos entre os miócitos, ocorrendo acúmulo de triglicérides nas células musculares. A mecânica normal do coração e a função do ventrículo podem ser prejudicadas em casos graves, denominados adipositas cordis ou cor adiposum, favorecendo o aparecimento de anormalidades do sistema de condução e arritmias por infiltração gordurosa do miocárdio, do nodo sinusal ou do feixe de His (HOUSE & WALLEY, 1996). Seres humanos obesos podem apresentar algumas alterações no traçado eletrocardiográfico, como aumento da freqüência cardíaca, anormalidades do segmento ST e da onda T, aumento da duração e supressão de milivoltagem 15 do complexo QRS, sobrecarga atrial esquerda, desvio do eixo elétrico frontal para a esquerda, aumento da duração dos intervalos PR e QT, ectopias atriais e ventriculares e fibrilação atrial, resultantes de distúrbios metabólicos ou hipertensão arterial, porém ocasionalmente podem ser atribuídas à infiltração gordurosa do sistema elétrico de condução (ALPERT & HASHIMI, 1993; ALPERT et al., 2001b). Cães obesos podem apresentar supressão de milivoltagem do complexo QRS, em virtude do aumento da espessura da parede torácica decorrente do acúmulo excessivo de tecido adiposo. A distância entre o coração e a superfície do registro eletrocardiográfico é um dos maiores fatores que interferem na amplitude do complexo QRS (TILLEY, 1995). PEREIRA-NETO (2005), em estudo experimental com 15 cães adultos obesos, relatou, à avaliação eletrocardiográfica computadorizada, presença de P mitrale e onda T maior que 25% da onda R, que sugerem sobrecarga atrial esquerda e hipóxia, respectivamente. Contudo, não observou supressão de milivoltagem da onda R, diferentemente do descrito em seres humanos (ALPERT et al., 2001a; ALPERT et al., 2001b; MANCINI, 2001). JERICÓ et al. (2006) submeteram 69 cães adultos obesos (30% acima do peso ideal) de diferentes raças à avaliação eletrocardiográfica convencional. A análise individualizada revelou que 72,4% apresentavam algum tipo de alteração no ECG, dentre elas: 50,7% exibiam alterações no segmento ST; 21,7% com microinfarto de miocárdio (MIMI); 17,4% com desvio do eixo cardíaco; 7,2% aumento de duração do QRS e intervalo QT; 2,9% com BAV (bloqueio atrioventricular); 1,5% com taquicardia ventricular; e um animal com onda P pulmonale, que sugere sobrecarga atrial direita. TÔRRES et al. (2006) submeteram 22 cães adultos obesos (com escore de condição corporal acima de sete, em uma escala de um a nove) à avaliação eletrocardiográfica computadorizada, relatando presença de ondas P mitrale e pulmonale, bloqueio átrio ventricular de 2°Grau, supressão de milivoltagem da onda R, aumento de duração do complexo QRS, onda T com amplitude superior à 25% da onda R e desvio do eixo elétrico à esquerda. Radiografias de tórax convencionais, em animais obesos, podem sugerir cardiomegalia, visto que a deposição de gordura diminui o tamanho da 16 cavidade torácica, aumentando a silhueta cardíaca, e além disso, o acúmulo de gordura subpericárdica contribui para o incremento de área cardíaca (KITTLESON & KIENLE, 1998; LISTER & BUCHANAN, 2000). PEREIRA-NETO (2005) avaliou a silhueta cardíaca de 15 cães adultos obesos, observando aumento de silhueta em 53,33% dos animais, entretanto nãoindicativo de cardiomegalia, eletrocardiográficas e frente à ausência ecodopplercardiográficas de alterações sugestivas de clínicas, cardiopatia. Embora aumentadas, todas as silhuetas cardíacas se encontravam dentro dos limites normais para o sistema de escala vertebral (VHS) proposto por BUCHANAN & BUCHELER (1995). MOROOKA (2004) ao avaliarem radiografias torácicas em cães Beagle obesos, constatou que a impressão de aumento generalizado da silhueta cardíaca e da redução da área pulmonar associava-se ao considerável deslocamento cranial do diafragma, devido ao acúmulo de gordura endocelíaca e abdominal. O deslocamento diafragmático, por sua vez, reduzia a área da cavidade torácica. FERREIRA et al. (2006) realizaram a avaliação da silhueta cardíaca pelo sistema de escala vertebral (VHS), proposto por BUCHANAN & BUCHELER (1995), em 22 cães adultos obesos (com escore de condição corporal acima de sete, em uma escala de um a nove), observando que 68,18% dos animais estudados apresentaram valores de VHS superiores a 10,5 vértebras, com valor médio de 12,3 vértebras. BODEY & MICHELL (1996) observaram que animais acima do peso possuem valores mais elevados da pressão arterial, embora dentro da normalidade, em relação àqueles com o peso corporal ideal. Já PEREIRA-NETO (2005) avaliou a pressão arterial pelo método oscilométrico em 15 cães adultos obesos, com escore entre quatro e cinco (em um sistema de cinco pontos), observando aumento da pressão arterial sistólica (PAS) em dois animais, elevação da pressão arterial média (PAM) em dois cães, e cinco cães com aumento da pressão arterial diastólica (PAD). JERICÓ et al. (2006) avaliaram a pressão arterial de 69 cães adultos obesos (peso de 20% acima do ideal), pelo método Doppler vascular na artéria radial, evidenciando hipertensão em 67% dos casos. 17 Diante deste panorama, este estudo foi delineado a fim de aprofundar o conhecimento acerca das alterações cardiovasculares induzidas pela obesidade em cães, utilizando programas de ganho e perda de peso controlados, no intuito de orientar de forma mais adequada os proprietários e os veterinários que atendem tais pacientes. 18 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Estudar as alterações cardiovasculares em consequência de diferentes graus de obesidade e posterior correção dessa obesidade. 3.2 Objetivos específicos Realizar avaliações ecodopplercardiográficas, eletrocardiográficas, radiográficas e da pressão arterial em cães durante os programas de ganho e de perda de peso; Comparar as alterações consequentes aos diferentes graus de obesidade; Comparar as avaliações feitas durante o programa de ganho e perda de peso. 19 4. MATERIAIS E METODOLOGIA 4.1 Local de experimentação Para a realização do estudo experimental foram utilizados os laboratórios de Cardiologia, Patologia Clínica e de Radiologia do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás, na cidade de Goiânia-Go. Os animais foram alojados em baias coletivas, construídas em alvenaria, em área coberta, com paredes revestidas de azulejos e piso vinílico semiflexível, além de ter acesso a outra área descoberta, revestida por cimento rústico. 4.2 Animais para experimentação Para realização desse projeto foram utilizadas 14 cadelas, adultas, sem raça definida, de porte médio (entre seis e 13kg) e submetidas a exames físicos e laboratoriais e selecionadas as clinicamente saudáveis. No primeiro momento de adaptação os animais foram alimentados com ração normocalórica – RN (Fino Trato Adultos® - Rações VB), vacinadas (Quantum Dog® - Schering-Plough), desverminadas (Vermegard Plus® - Bequisa) e tratadas com ectoparasiticida (Pulgoff Pour On® - Mundo Animal). Posteriormente, foram submetidas à ovariosalpingohisterectomia, respeitando o período pós-operatório de 20 dias, totalizando 40 dias de adaptação. Toda a metodologia empregada obedeceu aos preceitos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal e o projeto foi previamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Goiás, sob protocolo número 079/2008. Ao término do experimento os animais foram doados para proprietários previamente cadastrados. 20 4.3 Programas de ganho e perda de peso Após o período de adaptação, as cadelas foram pesadas e submetidas a um mesmo programa de ganho de peso, com ração de elevado teor energético (Fino Trato Gold® – Rações VB) e fornecimento à vontade durante 12 horas diárias, até atingirem no mínimo peso corporal (PC) 15% acima do PC inicial e escore de condição corporal (ECC) acima de cinco, utilizando escala de um a nove (LAFLAMME, 1997). Os animais foram pesados semanalmente. Após este período de ganho de peso (durou em média 28 semanas), foram novamente examinados quanto à higidez por meio de exames clínicos e laboratoriais e posteriormente distribuídos em dois grupos de sete cães. No Grupo I foram alocadas as cadelas com maior porcentagem de ganho de peso (em média 21,44% acima do peso inicial e ECC=7) e o Grupo II as cadelas com menor porcentagem de ganho de peso (15% acima do peso inicial e ECC=6). Considerando os animais com escore seis os que apresentaram costelas palpáveis com leve excesso de cobertura de gordura, a cintura visível quando vista de cima, mas não acentuada, e reentrância abdominal aparente. E os animais com escore sete apresentaram costelas palpáveis, mas com dificuldade, pesada cobertura de gordura, depósitos de gordura evidentes sobre a área lombar e base da cauda, discreta ou ausência de cintura e reentrância abdominal. Após a fase de ganho de peso os animais foram mantidos em fase de estabilização ponderal, durante um período de quatro semanas, utilizando a mesma ração do programa de ganho de peso, mas em quantidade determinada para manutenção do peso e fornecimento em duas refeições diárias. Ao término desta etapa os grupos foram submetidos à fase de perda de peso. Nessa fase, os animais receberam ração hipocalórica – Rh formulada especialmente para o experimento (Rações VB), contendo alta porcentagem de fibra insolúvel de baixa fermentação, baixa densidade energética, carboidratos de assimilação lenta e alta relação proteína/energia. No programa de perda de peso, o fornecimento de ração foi realizado em duas refeições diárias com intervalo de oito horas, permanecendo a 21 alimentação por duas horas em cada refeição. Os animais foram separados em baias individuais durante as refeições. Nesta etapa, a restrição calórica contemplou 60% das necessidades energéticas de manutenção (NRC, 2001). O peso meta foi considerado como o peso inicial (peso do animal antes de iniciar a fase de engorda). A quantidade diária de alimento foi determinada considerando-se a necessidade energética para manutenção (NEM) do animal com o peso ideal, reduzindo 40% desse valor. A quantidade fornecida foi definida a partir da divisão do consumo energético diário pela densidade energética por grama da ração. O cálculo foi efetuado utilizando-se as seguintes fórmulas (HAND et al., 1989): NEM (Kcal EM/dia) = 2 [(30x peso ideal) + 70] Onde, NEM = (necessidade energética para manutenção). CED (Kcal/dia) = NEM x 0,60 Onde, CED = (consumo energético diário). Quantidade a ser fornecida (g) = CED (kcal/dia) / DE (kcal/g) Onde, DE = (densidade energética). 4.4 Tempos experimentais Na fase de adaptação e observação comportamental, todos os cães foram submetidos a exames clínicos e laboratoriais, bem como no início do experimento (T1), depois de 30 dias de estabilização ponderal após o ganho de peso (T2) e após o período da restrição calórica (T3). Nos tempos experimentais T1, T2 e T3, todos os cães foram submetidos a avaliações eletrocardiográficas, radiográficas e da pressão arterial, e nos tempos T 2 e T3 foram realizadas avaliações ecodopplercardiográficas. 4.5 Avaliações ecodopplercardiográficas O estudo ecodopplercardiográfico foi realizado utilizando o aparelho de ecodopplercardiografia modelo My Lab30Vet (Pie Medical, Gênova/Liguria) do Laboratório de Cardiologia do Hospital Veterinário da EV – UFG (Figura 1). 22 Para a realização dos ecodopplercardiogramas, os animais não foram submetidos à prévia sedação, sendo posicionados em decúbito lateral direito e posteriormente esquerdo, de acordo com o plano a ser avaliado e para a obtenção da melhor imagem ecocardiográfica (THOMAS et al., 1994; BOON, 1998), em mesa confeccionada a partir das recomendações de HUML (1994). em seguida aplicou-se gel acústico para uma melhor condução das ondas. Utilizando-se transdutor multifrequencial de 5,0/7,5MHz e posicionando-o no tórax na janela paraesternal direita (terceiro ao quinto espaço intercostal), obteve-se, no eixo longitudinal, as imagens das quatro câmaras e via de saída do ventrículo esquerdo (VE), e no eixo transversal, as imagens ao nível apical, papilar e mitral, com as medidas das estruturas cardíacas sendo realizadas em modo-M nesta janela ecocardiográfica, mediante orientação pelo modo bidimensional (exposição simultânea na tela). A partir da janela paraesternal caudal (apical) esquerda, as imagens foram analisadas no eixo longitudinal a partir dos cortes apical quatro câmaras e apical cinco câmaras (KIENLE & THOMAS, 1995). Foi utilizado gel acústico para uma melhor condução das ondas. Foram utilizados os modos bidimensional, modo-M e Doppler, pulsado (PW) e de fluxo em cores (CF). A avaliação qualitativa do coração foi obtida pelo modo bidimensional, fornecendo informações quanto ao movimento, anatomia cardíaca e relação espacial, bem como servindo de orientação das imagens de modo-M (BOND, 1991; GABER, 1991), por meio do qual foi realizada análise quantitativa, dos diâmetros da aorta (AO), das dimensões das câmaras cardíacas como átrio esquerdo (AE), diâmetro interno do ventrículo esquerdo na sístole (DIVEs) e diástole (DIVEd) e diâmetro interno do ventrículo direito em diástole (DVDd), espessura do septo interventricular na sistole (SIVs) e diástole (SIVd), espessura da parede livre do ventrículo esquerdo na sístole (PLVEs) e diástole (PLVEd), separação septal do ponto E da mitral (SSPE) e avaliação dos movimentos valvares, permitindo, assim, cálculos de índices funcionais como a fração de encurtamento (FS), fração de ejeção (FE) e débito cardíaco (DC)(método empregado para o cálculo). 23 FIGURA 1. Aparelho de ecodopplercardiografia My Lab30Vet Pie Medical - e transdutor setorial multifrequencial de 16 mm - 5,0/7,5 MHz do laboratório de Cardiologia EV/UFG. Por meio da ecocardiografia Doppler (pulsado e de fluxo em cores), foram identificados os fluxos sanguíneos no coração e nos grandes vasos e quantificados quanto à direção, velocidade e turbulência, estabelecendo a presença ou ausência de insuficiência valvar decorrente de regurgitações. O Doppler de fluxo em cores foi empregado nas imagens apicais quatro e cinco câmaras que permitiram uma melhor e mais adequada identificação e avaliação direta do fluxo sanguíneo, bem como auxiliou o posicionamento do cursor para a mensuração das velocidades máximas dos fluxos mitral (PVEM e PVAM), tricúspide (PVET e PVAT), aórtico (PVFA) e pulmonar (PVFP), por meio de Doppler pulsado. Os ecodopplercardiogramas foram realizados e analisados de acordo com os critérios da Sociedade Americana de Ecocardiografia e do Comitê de Ecocardiografia do Colégio Americano de Medicina Interna Veterinária (THOMAS et al., 1993; HENIK, 1995; BOON, 1998). 4.6 Avaliações eletrocardiográficas 24 Para a obtenção do eletrocardiograma (ECG), foi utilizado aparelho computadorizado – módulo de aquisição de ECG para computador/ECG-PC, versão Windows 98/Tecnologia Eletrônica Brasileira-TEB (TEB-ECGPC), na velocidade de 50mm/s e calibrado para um milivolte igual a um centímetro (TILLEY, 1995), sendo os registros arquivados em microcomputador. O eletrocardiógrafo computadorizado (Figura 2) foi ligado a um circuito eletrônico externo, composto por um microcomputador padrão IBM-PC e software previamente instalado no disco rígido. FIGURA 2. Eletrocardiógrafo computadorizado (ECGPC - TEB). Eletrodos para registro das derivações bipolares e unipolares amplificadas (Seta vermelha) e eletrodos para registro das derivações pré-cordiais (Seta amarela). Serviço de Cardiologia, HV – UFG, Goiânia, GO (2007). Com os animais contidos em decúbito lateral direito, em cada membro locomotor foi acoplado um eletrodo (Figura 3), permitindo a obtenção simultânea dos traçados eletrocardiográficos nas derivações bipolares DI, DII, DIII, e nas unipolares aVR, aVL e aVF. 25 FIGURA 3. Cadela posicionada para realização do exame eletrocardiográfico. Contida em decúbito lateral direito, com um eletrodo do aparelho de eletrocardiografia em cada membro. As análises dos registros foram realizadas na derivação DII (Figura 4), segundo a técnica descrita por TILLEY (1995), com obtenção dos seguintes parâmetros: ritmo e frequência cardíaca (bpm), duração (segundos) e amplitude (mV) da onda P e do complexo QRS, duração dos intervalos P-R e Q-T, amplitude do segmento S-T e da onda T e eixo cardíaco elétrico médio, no plano frontal, expresso em graus. FIGURA 4. Traçado eletrocardiográfico computadorizado obtido a partir da derivação II, na velocidade de 50mm/s e calibrado para 1mV = 1cm, de cão adulto clinicamente saudável. Onda P (Seta vermelha), Onda R (Seta Azul), Onda T (Seta Verde) e Onda Q (Seta Amarela). Fonte: Serviço de Cardiologia, HV – UFG, Goiânia, GO (2007). 26 4.7 Avaliações radiográficas Os exames radiográficos foram realizados em aparelho de raios-X fixo para exames convencionais, da marca TUR, número de série 80256/95, de modelo D350/1965, de 125Kvp máxima e 350mA, equipado com mesa comando de técnicas, mesa Buck móvel, estativa teto/chão e transformador de voltagem. Foram utilizados filmes radiológicos KODAK de tamanho 30×40cm, colocados em chassi metálico equipado com écrans de mesmo tamanho e processo de revelação deu-se em processadora automática. Para a avaliação da silhueta cardíaca foram realizadas radiografias torácicas na posição látero-lateral direita (Figura 5). FIGURA 5. Animal contido em decúbito lateral direito sobre a mesa de radiografia. Mesa Buck móvel e estativa teto/chão do aparelho de radiografia TUR - D350/1965. O método utilizado para mensurar a silhueta cardíaca consistiu no sistema de escala vertebral (VHS) (Figura 6), no qual as dimensões cardíacas foram comparadas ao somatório dos corpos das vértebras a partir da quarta vértebra torácica (T4) (BUCHANAN & BÜCHELER, 1995). 27 FIGURA 6. Ilustração do método VHS de Buchanan & Bucheler (1995) para avaliação da silhueta cardíaca em projeções latero-laterais de radiografias torácicas. A - Com uma régua, se mede o eixo transversal da silhueta cardíaca (eixo S), B – Em seguida, se faz a medição do comprimento cardíaco ou eixo L (da carina traqueal até o ápice do coração), C – Observar que o método VHS faz referência à largura e profundidade ocupados pelo coração dentro do tórax, D – As medidas, para cada eixo mensurado são colocados a partir da quarta vértebra torácica, verificando a quantos corpos vertebrais os eixos calculados correspondem. O VHS é o somatório da quantidade de corpos vertebrais correspondente para os eixos S e L. Serviço de Cardiologia, HV – UFG, Goiânia, GO (2006). 4.8 Avaliações da pressão arterial A pressão arterial foi mensurada utilizando-se o método Doppler, um método não-invasivo de mensuração da pressão sanguínea, utilizando aparelho Microem DV 10 (Figura 7A). Em ambiente tranquilo e climatizado os cães foram colocados em decúbito lateral direito sobre uma mesa, sendo o manguito posicionado proximalmente a articulação radiocárpica e o transdutor sobreposto à região palmar esquerda, próximo a articulação carpometacárpica, objetivando captar o pulso das artérias digitais palmares comuns (Figura 7B). A circunferência do membro locomotor de cada animal foi mensurada para determinação do 28 comprimento e largura ideais do manguito (largura=40% da circunferência do membro e comprimento=1,5 vezes a circunferência do membro). O manguito foi colocado ao nível do átrio direto ou próximo a ele (HENIK et al,. 2005; BROWN et al., 2007). A B FIGURA 7. Aferição da pressão arterial de uma cadela do grupo I na fase final da engorda. A – Cadela em decúbito lateral direito com o manguito posicionado no membro torácico esquerdo e visibilização dos equipamentos utilizados para mensuração da pressão sanguínea pela técnica de Doppler, incluindo o aparelho de Doppler Microem DV 10, manômetro, bomba de insuflar, manguito e transdutor. B – Manguito posicionado proximalmente à articulação radiocárpica esquerda com o transdutor sobre a região das artérias digitais palmares comuns. Em cada avaliação foram obtidas quatro tomadas consecutivas da pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de cada animal, descartando a primeira mensuração. O valor final de cada um desses parâmetros foi representado pela média aritmética das três aferições (PEREIRA-NETO, 2005; BROWN et al., 2007). 4.9 Análise estatística Os dados obtidos foram analisados quanto a distribuição de normalidade e as medias foram comparadas entre grupos num mesmo momento (mesma fase), utilizando-se teste “t” de Student. Para comparar momentos diferentes dentro do mesmo grupo, utilizouse o teste “t” de Student para amostras pareadas e também o teste de Friedman (MONTEIRO FILHO, 2004). Para realização das analises foi utilizado o programa de análise estatística SPSS 16.0 – 2006, com significância de 5%. 29 5. RESULTADOS O tempo gasto para as cadelas atingirem o sobrepeso variou de três a seis meses e o tempo gasto para a redução do peso foi de dois a quatro meses. Ao término do programa de ganho de peso, as cadelas do Grupo I engordaram, em média, 21% em relação ao peso inicial, atingindo escore de condição corporal ECC= 7 e as do Grupo II engordaram, em média, 15% e ECC=6. Ao final do programa de redução de peso, as cadelas voltaram ao peso inicial (Tabela 1) (Figura 8). TABELA 1. Valores médios e desvios-padrão, do peso e do escore de condição corporal (ECC), das cadelas do Grupo I (tendo em média 21% de ganho de peso) e Grupo II (tendo em média 15% de ganho de peso), nos tempos T1 (fase inicial antes do ganho de peso), T2 (fase de obesidade) e T3 (fase final de redução de peso). UFG – Goiânia, GO, 2009. VARIÁVEIS GRUPOS TEMPOS GI TEMPO 1 PESO ECC 8,6±2,4 TEMPO 2 10,4±2,7 TEMPO 3 c a TEMPO 1 5,1 TEMPO 2 b 9,0±1,2 TEMPO 3 10,4±1,3 9,0±1,1 a 4,8 b 6 5,1 c 4,8 Letras minúsculas diferentes indicam diferença entre momento de um mesmo grupo. Nível de significância: 5% (p<0,05). A D B E a b 7 c SIGNIFICÂNCIA GII a b 8,7±2,1 NÍVEL DE C F c p=0,3 p=0,4 p=0,4 P=0,2 p=0,1 p=0,2 30 FIGURA 8. Imagens de uma cadela do Grupo I. A e D – Silhueta lateral e dorsal na fase inicial (T1); B e E – Silhueta lateral e dorsal após ganho de 20% em relação ao peso inicial e ECC=7 (T2); C e F – Silhueta lateral e dorsal na fase final de redução de peso (T3). 5.1 Avaliações ecodopplercardiográficas As avaliações ecodopplercardiográficas foram realizadas na fase de obesidade e fase final de redução de peso, porque ao início do experimento o aparelho de ecodopplercardiografia não havia sido entregue ao Hospital Veterinário/UFG, e pelo cronograma experimental previsto, não era possível esperar a chegada do mesmo. Para a realização dos ecodopplercardiogramas, nenhum dos animais foi submetido à tricotomia ou qualquer protocolo de contenção química. A avaliação em modo bidimensional demonstrou que anatomia cardíaca e a relação espacial do coração de todos os animais estavam dentro da normalidade e serviu também de orientação para as imagens de modo-M. Ao avaliar as variáveis ecodopplercardiográficas em modo-M, observou-se que o diâmetro da aorta (AO), na fase de obesidade (T2), apresentou valores médios menores no Grupo I do que no Grupo II, e também aumento significativo após perda de peso entre o (T2) e (T3) do Grupo I. A relação átrio esquerdo/aorta (AE/AO), apresentou redução (p=0,004) ao comparar a fase de obesidade(T 2) com a fase final de redução de peso (T3) dentro do Grupo I e ao se comparar os grupos, o Grupo I apresentou relação AE/AO menor que o Grupo II na fase (T3) (Tabela 2). As variáveis átrio esquerdo (AE) e separação septal do ponto E da mitral (SSPE) não apresentaram diferença entre grupos, num mesmo momento e nem entre momentos de um mesmo grupo. 31 TABELA 2. Valores médios e desvios-padrão, dos diâmetros da aorta (AO) e átrio esquerdo (AE), da relação átrio esquerdo/aorta (AE/AO) e da separação septal do ponto E da mitral (SSPE), obtidos por meio da ecocardiografia em modo-M das cadelas do Grupo I (tendo em média 21,4% de ganho de peso) e Grupo II (tendo em média 15% de ganho de peso), nos tempos T2 (fase de obesidade) e T3 (fase final de redução de peso). UFG – Goiânia, GO, 2009. VARIÁVEIS AO(mm) AE(mm) AE/AO(mm) SSPE(mm) TEMPOS TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 2 GRUPOS GI a 16±1,9 b 16±1,4 14±2,0 p=0,041 a 16±1,6 a 17±1,0 a 17±1,8 p=1 a 15±2,5 P=0,07 P=0,05 a 15±2,0 TEMPO 2 1,10±0,15 TEMPO 3 0,93±0,11 TEMPO 3 SIGNIFICÂNCIA GII a TEMPO 3 TEMPO 2 NÍVEL DE a 1,07±0,12 b 1,07±0,13 a 3±0,61 a 3±1,09 a a a 3±0,93 a 3±0,78 p=0,6 P=0,04 p=0,1 p=0,2 Letras minúsculas diferentes indicam diferença entre momento de um mesmo grupo Nível de significância: 5% (p<0,05). Os parâmetros diâmetro interno do ventrículo esquerdo na sístole (DIVEs) e diástole (DIVEd), espessura do septo interventricular na sistole (SIVs) e diástole (SIVd), espessura da parede livre do ventrículo esquerdo na sístole (PLVEs) e diástole (PLVEd), diâmetro interno do ventrículo direito em diástole (DVDd), fração de ejeção (FE) e fração de encurtamento (FS), obtidos por meio da ecocardiografia em modo-M, não diferiram (p>0,05), entre os grupos, e nem entre momentos de um mesmo grupo (Tabela 3). 32 TABELA 3. Valores médios e desvios-padrão, do diâmetro interno do ventrículo esquerdo na sístole (DIVEs) e diástole (DIVEd), da espessura do septo interventricular na sistole (SIVs) e diástole (SIVd), da espessura da parede livre do ventrículo esquerdo na sístole (PLVEs) e diástole (PLVEd), diâmetro interno do ventrículo direito em diástole (DVDd), fração de ejeção (FE) e fração de encurtamento (FS), obtidos por meio da ecocardiografia em modo-M dos cães do Grupo I (tendo em média 21,4% de ganho de peso) e Grupo II (tendo em média 15% de ganho de peso), nos tempos T 2 (fase de obesidade) e T3 (fase final de redução de peso). UFG – Goiânia, GO, 2009. VARIÁVEIS DIVEs(mm) DIVEd(mm) SIVs(mm) SIVd(mm) PLVEs(mm) PLVEd(mm) DVDd(mm) FE (%) FS(%) TEMPOS GRUPOS GI NÍVEL DE SIGNIFICÂNCIA GII 19±4,27 a 18±3,25 a 25±2,47 a TEMPO 3 26±3,85 a TEMPO 2 a 8±1,63 a 8±1,46 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 2 TEMPO 3 20±2,87 a 19±1,81 a 26±1,74 a 25±3,31 a a 8±1,98 a 7±0,95 a 7±1,36 a 8±1,78 a 8±0,92 P=0,802 a 9±0,78 P=0,623 a 9±0,66 a P=0,306 a 6±1,68 6±0,36 a P=0,623 a 6±1,08 6±0,82 a P=0,848 a 5±2,89 8±3,78 a P=0,110 a 4±1,00 5±1,83 a P=0,537 a TEMPO 2 53±10,41 TEMPO 3 58±6,59 a 53±10,13 26±6,29 a 24±6,05 a 29±4,19 a 26±6,50 a TEMPO 2 TEMPO 3 50±9,98 P=0,838 P=0,967 a 7±1,13 p=0,407 P=0,390 a 7±1,54 p=0,364 P=0,740 a 8±1,47 p=0,175 a P=0,602 P=0,351 P=0,613 P=0,396 Letras minúsculas diferentes indicam diferença entre momento de um mesmo grupo. Nível de significância: 5% (p<0,05). Na tabela 4 verifica-se que as variáveis, tais como pico de velocidade da onda A da mitral (PVAM) e pico de velocidade do fluxo aórtico (PVFA), obtidas na ecocardiografia em modo Doppler e o débito cardíaco não diferiram (P>0,05) entre os grupos e nem entre os momentos de um mesmo grupo. Entretanto o pico de velocidade da onde E da mitral (PVEM) reduziu (p<0,03) entre os tempos no Grupo II e não diferiu entre os grupos (P>0,05). O pico de velocidade da onda A da tricúspide (PVAT) diminuiu após redução de peso, tanto no Grupo I (p=0,05) quanto no Grupo II (p=0,007), mas 33 não variou (P>0,05) na comparação entre os grupos. Da mesma forma, o pico de velocidade do fluxo pulmonar (PVFP) também não diferiu significativamente entre os grupos, mas reduziu (P<0,02) após a perda de peso no Grupo I (Tabela 4). Todos os valores ecodopplercardiográficos encontrados, incluindo suas variações nos grupos e tempos de observação estão dentro dos valores considerados normais para a espécie canina. TABELA 4. Valores médios e desvios-padrão, do pico de velocidade da onde E da mitral (PVEM), pico de velocidade da onda A da mitral (PVAM), pico de velocidade do fluxo aórtico (PVFA), pico de velocidade da onda E da tricúspide (PVET), pico de velocidade da onda A da tricúspide (PVAT), pico de velocidade do fluxo pulmonar (PVFP) e débito cardíaco (DC), obtidos por meio da ecocardiografia em modo Doppler dos cães do Grupo I (tendo em média 21,4% de ganho de peso) e Grupo II (tendo em média 15% de ganho de peso), nos tempos T2 (fase de obesidade) e T3 (fase final de redução de peso). UFG – Goiânia, GO, 2009. VARIÁVEIS PVEM(m/s) PVAM(m/s) PVFA(m/s) PVET(m/s) PVAT(m/s) PVFP(m/s) DC TEMPOS GRUPOS GI a 0,69±0,12 a 0,59±0,08 0,60±0,12 TEMPO 3 0,57±0,10 TEMPO 3 TEMPO 2 SIGNIFICÂNCIA GII TEMPO 2 TEMPO 2 NÍVEL DE a 0,43±0,10 a 0,51±0,13 a -0,79±0,13 a b a 0,43±0,08 a 0,39±0,11 a -0,77±0,17 TEMPO 3 a -0,80±0,11 -0,79±0,17 TEMPO 2 a 0,46±0,03 TEMPO 3 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 2 TEMPO 3 0,44±0,03 a a a 0,48±0,13 a 0,48±0,03 0,47±0,08 0,44±0,07 a a b 0,36±0,06 a -0,66±0,15 0,38±0,07 -0,60±0,07 b a b -0,63±0,14 a a -0,56±0,08 1,99±0,73 a 1,94±0,63 a 1,80±0,57 a 1,84±0,59 Letras minúsculas diferentes indicam diferença entre momento de um mesmo grupo. Nível de significância: 5% (p<0,05). P=0,150 P=0,791 p=1 P=0,082 P=0,770 P=0,956 P=0,034 P=0,850 P=0,202 P=0,536 P=0,344 P=0,296 P=0,605 P=0,169 34 5.2 Avaliações eletrocardiográficas Os ritmos cardíacos identificados nas cadelas foram considerados normais durante os tempos de avaliação. No Grupo I, nos tempos (T1) e (T3) 71,43% das cadelas apresentaram arritmia sinusal respiratória (ASR) e 28,57% apresentaram ritmo sinusal (RS); e no (T2) 57,14% apresentaram ASR e 42,85% apresentaram RS. No Grupo II, 71,43% das cadelas apresentaram arritmia sinusal respiratória (ASR) e 28,57% apresentaram ritmo sinusal (RS) em todos os tempos. Em apenas uma das cadelas do Grupo I, foi observada ARS na fase inicial e final, entretanto, na fase de obesidade, este ritmo alterou-se para sinusal (Figura 9). E marcapasso migratório (MPM) foi observado em 95% dos traçados eletrocardiográficos. A B C FIGURA 9. Traçados eletrocardiográficos computadorizados, derivação II, calibração N, velocidade 50 mm/s, obtidos de uma cadela do Grupo I. A – Traçado eletrocardiográfico obtido na fase inicial mostrando arritmia sinusal respiratória; B Traçado eletrocardiográfico obtido na fase obesidade mostrando ritmo sinusal; C Traçado eletrocardiográfico obtido na fase final de redução de peso mostrando arritmia sinusal respiratória. 35 A duração da onda P, do intervalo PR, do complexo QRS, do intervalo QT, a amplitude das ondas P, Q, R e S, amplitude do segmento ST e o eixo elétrico médio não diferiram (p>0,005) (Tabela 4). Na tabela 4 observa-se ainda que as médias das freqüências cardíacas diminuíram após redução do peso, tanto no Grupo I quanto no Grupo II, mas diferiram (p>0,05) nos momentos. Quanto aos intervalos PR constatou-se aumento ao comparar os momentos dentro do Grupo I (p=0,009) e Grupo II (p=0,038) (Tabela 4). Quanto à amplitude da onda T, no Grupo I, 14,28% das cadelas apresentaram onda T positiva menor que um quarto da onda R e 85,72% das cadelas tiveram onda T bifásica menor que um quarto da onda R. No Grupo II, 42,85% das cadelas tiveram onda T positiva menor que um quarto da onda R e em 57,15% verificou-se onda T bifásica menor que um quarto da onda R. E apenas uma cadela do Grupo I observou-se onda T maior que 25% da onda R na fase de obesidade, a qual voltou à normalidade ao reduzir o sobrepeso. Todos os valores eletrocardiográficos encontrados, incluindo suas variações nos grupos e tempos de observação estão dentro dos valores considerados normais para a espécie canina. 36 TABELA 4. Valores médios e desvios-padrão, da freqüência cardíaca (FC), duração da onda P, intervalo PR, complexo QRS, intervalo QT, da amplitude da onda P, Q, R e S e do eixo elétrico médio obtidos por meio da eletrocardiografia computadorizada das cadelas dos grupos GI e GII, nos tempos experimentais: início do ganho de peso(T1), fase de obesidade(T2) e fase final de redução de peso(T3). Goiânia, 2009. VARIÁVEIS TEMPOS P(ms) 112,43±28,57 107,43±17,82 TEMPO 2 111,86±21,87 a 106,46±22,71 a TEMPO 3 90,14±10,14 b TEMPO 1 30,86±4,30 a TEMPO 2 TEMPO 1 QRS(ms) TEMPO 2 32,29±2,56 a 34,29±3,82 a 79,14±7,20 a 88,86±10,53 83,43±11,19 b c 84,29±9,01 58,71±4,68 56,71±4,27 58,71±4,68 a 59,14±5,34 a 58,00±4,20 a TEMPO 2 172,71±27,85 a 186,00±34,69 a TEMPO 3 186,00±35,83 a TEMPO 1 a TEMPO 2 TEMPO 2 TEMPO 2 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 1 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 1 TEMPO 2 TEMPO 3 p=0,420 p=0,664 193,14±18,73 a 201,86±15,17 a 210,14±16,05 a 0,17±0,07 a 0,16±0,05 a 0,09±0,04 a p=0,458 a 0,13±0,07 0,09±0,07 a p=0,346 a 0,12±0,10 0,07±0,03 a p=0,207 a 1,01±0,44 0,88±0,33 a p=0,566 a 1,06±0,48 0,87±0,35 a p=0,406 a 0,94±0,32 0,93±0,42 a p=0,955 a 0,10±0,04 0,13±0,12 a p=0,496 a 0,09±0,04 0,12±0,11 a p=0,513 a 0,11±0,05 0,12±0,12 p=0,886 a 68,42±15,16 a a 72,71±5,68 72,57±7,93 a 71,14±12,81 a 73,71±9,05 a 73,14±16,18 Letras minúsculas diferentes indicam diferença entre momento de um mesmo grupo. Nível de significância: 5% (p<0,05). p=0,13 p=0,618 a 0,11±0,05 p=0,290 p=0,666 a 0,17±0,04 p=0,133 p=0,960 a 0,15±0,06 p=0,875 p=0,147 0,16±0,05 a p=0,411 p=0,400 a 0,16±0,06 p=0,187 p=0,272 c a p=0,657 p=0,647 b 89,57±14,40 p=0,701 p=0,336 a 54,71±4,96 TEMPO 1 EIXO(graus) 33,71±2,50 a TEMPO 1 TEMPO 3 S(mV) 33,14±2,04 a a TEMPO 1 R(mV) a a TEMPO 3 Q(mV) 32,71±2,36 90,71±12,12 TEMPO 1 P(mV) 80,57±14,98 b TEMPO 3 TEMPO 3 QT(ms) SIGNIFICÂNCIA GII a TEMPO 3 PR(ms) GI NÍVEL DE a TEMPO 1 FC (bpm) GRUPOS p=0,210 p=0,312 p=0,343 37 5.3 Avaliações radiográficas Ao avaliar os valores de VHS entre os tempos experimentais dentro do mesmo grupo, observou-se incremento na fase de obesidade, tanto no Grupo I (p=0,001) como no Grupo II (P=0,002). Ao comparar os momentos experimentais observou-se que todas as cadelas apresentaram aumento da silhueta cardíaca na fase de obesidade (T 2) e diminuição na fase final de redução de peso (T3). Ainda, os valores de VHS, comparando o Grupo I com o Grupo II, nos mesmos momentos experimentais, não apresentaram variações significativas (Tabela 5). TABELA 5. Valores médios e desvios-padrão do VHS (vertebral heart size) obtidos por meio de radiografias látero-laterais de tórax, das cadelas dos grupos GI e GII, nos tempos experimentais: início do ganho de peso (T1), fase de obesidade (T2) e fase final de redução de peso (T3). Goiânia-Go, 2009. VARIÁVEIS TEMPOS GI NÍVEL DE SIGNIFICÂNCIA GII 10,29±0,49 a TEMPO 2 11,07±0,19 b TEMPO 3 a TEMPO 1 VHS GRUPOS 9,93±0,67 a 9,93±0,53 10,79±0,57 a 9,93±0,45 Letras minúsculas diferentes indicam diferença entre momentos de um mesmo grupo Nível de significância: 5% (p<0,05). b p=0,216 p=0,245 p=1 38 5.4 Avaliações da Pressão Arterial Após as mensurações da pressão arterial em todos os tempos experimentais, observou-se valores maiores da pressão sistólica em todos os tempos do Grupo I em relação ao Grupo II. A pressão diastólica não diferiu entre os grupos (p>0,05). Em relação aos valores tanto de pressão sistólica quanto de pressão diastólica comparados entre momentos dentro do mesmo grupo, não se observou diferenças significativas (Tabela 7). TABELA 6. Valores médios e desvios-padrão das pressões arteriais sistólica (PAS) e diastólica (PAD) das cadelas dos grupos GI e GII, nos tempos experimentais: início do ganho de peso (T1), fase de obesidade (T2) e fase final de redução de peso(T3), obtidas pelo método Doppler não invasivo. Goiânia-Go, 2009. VARIÁVEIS Pressão Sistólica Pressão Diastólica TEMPOS TEMPO 1 TEMPO 2 TEMPO 3 TEMPO 1 TEMPO 2 TEMPO 3 GRUPOS GI NÍVEL DE SIGNIFICÂNCIA GII 134,2±12,5 a a 149,8±19,6 a 132,4±15,9 a 117,6±15,2 a 66,7±7,8 124,2±13,4 a 72,7±13,5 110,9±15,9 a 74,7±12,9 Aa 79,5±11,0 a 77,3±7,5 a a a 67,7±10,8 p=0,045 p=0,05 p=0,026 p=0,185 p=0,337 p=0,078 Letras minúsculas diferentes indicam diferença entre momento de um mesmo grupo Nível de significância: 5% (p<0,05). Na fase de obesidade a pressão sistólica aumentou 11,6% e a pressão diastólica aumentou 7% no Grupo I e, no Grupo II, a pressão sistólica aumentou 6,7% e a diastólica 6,7%. Todos os valores tanto de pressão sistólica quanto de pressão diastólica encontrados, incluindo suas variações nos grupos e tempos de observação estão dentro dos valores considerados normais para a espécie canina. 39 6. DISCUSSÃO O tempo gasto para as cadelas atingirem o sobrepeso variou de três a seis meses e o tempo gasto para a redução do peso foi de dois a quatro meses. Ao término do programa de ganho de peso, as cadelas do Grupo I engordaram, em média, 21% em relação ao peso inicial, atingindo escore de condição corporal ECC= 7 e as do Grupo II engordaram, em média, 15% e ECC=6. Ao final do programa de redução de peso, as cadelas voltaram ao peso inicial (Tabela 1) (Figura 8). As cadelas, apesar de terem sido castradas e, conseqüentemente, se tornarem um grupo com maior predisposição a obesidade (DIEZ & NGUYEN, 2006a), além de terem sido alimentadas com ração hipercalórica, o tempo gasto para atingirem o sobrepeso foi longo, pois esse período durou de três a seis meses. Esse fato pode ser atribuído ao fator genético, pois as cadelas que participaram desse experimento foram animais sem raça definida, portanto, diante dessas observações, seria possível pressupor que, se os animais estudados fossem de raças predispostas à obesidade como Beagle ou Labrador (HARPER, 1998; BURKHOLDER & TOLL, 2000; DIEZ & NGUYEN, 2006a), provavelmente a porcentagem de sobrepeso seria maior e o tempo para atingirem a obesidade menor. 6.1 Avaliações ecodopplercardiográficas Como a ecocardiografia é um método que permite diagnosticar alterações morfológicas cardíacas, visibilizando a movimentação cardíaca normal, além de demonstrar os efeitos secundários de uma lesão no coração, ou seja, dilatação, hipertrofia, hipo e hipercinesia (BRIGHT, 1997), foi possível observar que todas as cadelas apresentaram as imagens em modo bidimensional dentro da normalidade quando consideradas a anatomia, a relação espacial e dinâmica cardíaca em todos os tempos experimentais. 40 Para a realização dos exames ecodopplercardiográficos, os cães não foram submetidos à tricotomia ou qualquer protocolo de contenção química, sendo um ambiente tranquilo fundamental para a determinação de parâmetros ecocardiográficos fidedignos (LUSK & ETTINGER, 1990; THOMAS et al., 1993; HENIK, 1995; MARTIN, 1995). O decúbito lateral também foi ideal, conforme preconizado por HUML (1994), permitindo que o coração se aproximasse da parede torácica deslocando o pulmão, diminuindo a interferência provocada pelo ar existente no parênquima pulmonar, além de aproximar o coração do transdutor na parede torácica favorecendo a captação de imagens de boa qualidade, em ambos os lados. Conforme o preconizado por THOMAS et al. (1993), todas as imagens foram registradas com o ápice cardíaco voltado para a esquerda da tela, e a porção basilar (átrios e grandes vasos) para a direita na posição paraesternal. Na posição apical, o lado esquerdo do coração foi posicionado para o lado direito da imagem, com o ápice voltado para a cima. As projeções transversais foram obtidas através de cortes perpendiculares ao eixo longo do coração. Estas manobras permitiram melhor compreensão e detalhamento das estruturas (Figura 10). FIGURA 10. Imagens ecocardiográfica em Modo bidimensional obtidas em cadelas que participaram do ensaio experimental. A – Janela paraesternal direita, projeção longitudinal das quatro câmaras; B – Janela paraesternal esquerda, eixo apical; C – Janela paraesternal direita, projeção transversal, plano papilar; D – Janela paraesternal direita, projeção transversal, plano aórtico. No Grupo I observou-se que após a redução de peso houve um incremento do diâmetro da aorta, diferindo do descrito por PEREIRA-NETO (2005), que não verificou alterações significativas do diâmetro da aorta após redução de peso de cadelas obesas. Considerado que um mesmo avaliador em momentos diferentes podem realizar mensurações com até 10% de diferença de um momento para o outro, essa alteração pode ser justificada por esse artefato de avaliação (BOON, 1998). 41 O diâmetro do AE, em todos os grupos e em ambos os tempos avaliados, encontrou-se na faixa de normalidade para a espécie e peso corporal segundo BOON (1998), e apresentou uma discreta diminuição após redução do peso, assemelhando-se ao descrito em seres humanos obesos por ALPERT et al. (1997), que observaram redução significativa do AE após emagrecimento. Essa discreta redução após a perda de peso sugere um início de sobrecarga atrial esquerda na fase de obesidade, que provavelmente evoluiria para dilatação atrial se a obesidade fosse mantida por um período maior (ALPERT & HASHIMI, 1993; MANCINI, 2001). A relação átrio esquerdo/aorta (AE/AO) diminuiu significativamente (p=0,004) no grupo I com a perda de peso ao comparar com o grupo II, semelhante ao verificado em humanos por ALPERT et al. (1997), mas não caracterizou dilatação dessa câmara cardíaca na fase de obesidade, uma vez que somente valores superiores a 1,3 da AE/AO sugerem dilatação atrial esquerda (KITTLESON, 1998)(Figura 11). Observou-se também que o grupo I apresentou uma redução significativa dessa relação após perda de peso e o grupo II manteve essa variável inalterada. Sendo o grupo I, o grupo com maior porcentagem de ganho de peso, acredita-se que essa redução tenha decorrido de um maior incremento do AE na fase de obesidade e conseqüentemente diminuição significativa dessa variável ao diminuir a sobrecarga atrial, após correção da obesidade. FIGURA 11. Imagens ecocardiográficas bidimensionais na parte superior e imagens em modo-M na parte inferior da figura, obtidas pela janela paraesteral direita, projeção longitudinal, de uma das cadelas do Grupo I, mostrando diminuição do AE após emagrecimento. A – fase de obesidade (AO/AE = 1,06); B – fase final de redução de peso (AO/AE = 0,92). Neste estudo o índice separação septal do ponto E da mitral (SSPE) não apresentou alterações significativas, indicando ausência de dilatação ventricular esquerda entre os grupos, pois nos dois tempos experimentais encontraram-se valores dentro do padrão de normalidade para a espécie canina (KITTLESON, 1998; PEREIRA-NETO, 2005). O diâmetro interno do ventrículo esquerdo na sístole (DIVEs) apresentou discreta diminuição após redução de peso tanto no Grupo I quanto no Grupo II, corroborando os resultados descritos anteriormente em cães por 42 PEREIRA-NETO (2005), e em seres humanos por MCMAHON et al. (1986) e ALPERT (1997), os quais atribuem esse fato a redução da sobrecarga de volume após a correção da obesidade, pois a elevação do volume circulante total e do débito cardíaco na obesidade produz aumento da cavidade ventricular esquerda e aumento da massa muscular do VE que, com o objetivo de adaptar-se à essa nova situação, provoca, desta maneira, hipertrofia excêntrica do miocárdio (NAKAJIMA & MATSUZAWA, 1990) (Figura 12). Também se observou redução não significativa do diâmetro interno do ventrículo direito na diástole após a redução do peso. FIGURA 12. Imagens ecocardiográficas bidimensionais na parte superior e imagens em modo-M na parte inferior da figura, obtidas por meio da janela paraesteral direita, projeção transversal em plano papilar, de uma das cadelas do Grupo I. A – fase obesidade, apresentando DIVEs= 23,6mm; B – após redução de peso, apresentando DIVEs = 17,2mm (setas). Neste estudo experimental com cães obesos submetidos à redução de peso, observou-se aumento não significativo da espessura do septo interventricular (SIV) após redução de peso, assemelhando com o observado em cães por PEREIRA-NETO (2005) e diferindo do verificado em humanos por HERSZKOWICZ (2001), que descreveram incremento altamente significativo do SIV em mulheres obesas em relação àquelas com peso ideal, o que é atribuído a uma hipertrofia miocárdica. Ao comparar as espessuras da parede livre do ventrículo esquerdo (PLVE) em sístole e diástole, não se observou diferenças após a perda de peso, semelhante ao observado por PEREIRA-NETO (2005), VERWAERD (1996) e MASSABUAU et al. (1997), que ao induzirem obesidade em cães pela administração de dieta hipercalórica, não observaram alterações na espessura da parede ventricular esquerda. Tais achados foram diferentes dos observados nos seres humanos obesos normotensos, nos quais é comum ocorrer uma hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo resultante do aumento da pré-carga associada à obesidade que, por sua vez, predispõe à disfunção diastólica. A hipertrofia excêntrica do VE é um mecanismo para normalizar o estresse da parede ventricular esquerda (ALPERT E HASHIMI, 1993; HERSZKOWICK, 2001; ALPERT, 2001a; VASAN, 2003). 43 Em uma cadela do Grupo I, que apresentou 25% de ganho de peso e gastou um tempo maior para perda do peso, se mantendo mais tempo em sobrepeso, observou-se diminuição da parede livre do ventrículo esquerdo (PLVE) em sístole e diástole após perda de peso, provavelmente devido à sobrecarga de volume que se manteve por mais tempo, corroborando com o observado em humanos obesos (HERSZKOWICK, 2001 & ALPERT, 2001a) (Figura 13). FIGURA 13. Imagens ecocardiográficas bidimensionais na parte superior e imagens em modo-M na parte inferior da figura, obtidas pela janela paraesteral direita, projeção transversal em plano papilar, de uma das cadelas do Grupo I. A – fase de obesidade (PLVEs = 11,2mm e PLVEd = 6,9mm); B – fase final de redução de peso (PLVEs = 9,1mm e PLVEd = 4,7mm). As frações de encurtamento (FS%) e fração de ejeção (FE%) apresentaram valores normais e não verificou-se nenhuma alteração após redução de peso em todos os grupos estudados. Em seres humanos obesos a FE% e FS% estão freqüentemente normais (STODDARD et al., 1992; ALPER E HASHIMI, 1993; VASAN, 2003) semelhante ao observado em cães obesos por PEREIRA-NETO (2005), indicando que não houve prejuízos de ejeção cardíaca e nem disfunção ventricular sistólica, pois a fração de encurtamento (FS%) e de ejeção (FE%) e o espessamento fracional do septo interventricular e da parede livre do VE são índices da fase de ejeção cardíaca e representam medidas da função ventricular sistólica, sendo independentes do peso corpóreo do animal. São facilmente alteradas por mudanças na pré-carga, pós-carga e contratilidade (KITTLESON, 1998). O débito cardíaco no presente ensaio não apresentou diferenças após redução de peso, corroborando PEREIRA-NETO (2005) e diferindo de estudos experimentais em seres humanos (ALPERT & HASHIMI 1993; ALPERT, 2001b), que observaram significativa redução do débito cardíaco (DC) após perda de peso. O débito cardíaco na obesidade, tanto nos seres humanos como nos cães, eleva-se com a finalidade de atender à nova demanda metabólica decorrente da excessiva deposição de tecido adiposo. Desde que a frequência cardíaca esteja normal, o aumento do DC resulta do elevado volume sistólico (VS), refletido pela dilatação da câmara ventricular (ALPERT E HASHIMI, 1993; VERWAERD et al., 44 1996; MASSABUAU et al., 1997; VASAN, 2003). Neste experimento não se observou aumento dessa variável na fase de obesidade, provavelmente porque a porcentagem de sobrepeso estudada foi baixa e o tempo de manutenção da obesidade pequeno. Os valores do pico de velocidade da onde E da mitral (PVEM), pico de velocidade da onda A da mitral (PVAM), pico de velocidade do fluxo aórtico (PVFA), pico de velocidade da onda E da tricúspide (PVET), pico de velocidade da onda A da tricúspide (PVAT) e pico de velocidade do fluxo pulmonar (PVFP), não apresentaram diferenças entre os grupos, sugerindo que a diferente porcentagem de obesidade não foi suficiente para gerar alterações significativas. Já dentro do Grupo II o PVEM apresentou redução significativa após a perda de peso e o PVAT também apresentou uma redução significativa após correção da obesidade, tanto no Grupo I quanto no Grupo II, sugerindo melhora na função diastólica, pois o aumento desses índices na fase de obesidade traduz uma nítida dificuldade imposta ao enchimento ventricular nos indivíduos obesos. Com a redução de peso, esse padrão hemodinâmico hipercinético tem se mostrado reversível (BARBATO et. al., 2000; ROCHA et al., 2007). O PVFP no Grupo II também apresentou redução significativa após perda de peso, o que pode ser justificado pela discreta diminuição do débito cardíaco dentro deste grupo, pois o incremento da massa corporal produzida pela excessiva quantidade de tecido adiposo aumenta a demanda metabólica e, conseqüentemente, o consumo de oxigênio total. Por isso, o débito cardíaco e o volume sanguíneo total se elevam com a finalidade de atender essa nova exigência metabólica, provocando também aumento das velocidades dos fluxos sanguíneos, mas com a correção da obesidade, o débito cardíaco e o volume sanguíneo, geralmente diminuem (NAKAJIMA & MUTSUZAWA, 1990; ATKINS, 1999). 6.2 Avaliações eletrocardiográficas Durante os momentos de avaliação dos programas de ganho e de perda de peso, nenhuma cadela apresentou anormalidades de ritmo, sendo o 45 ritmo predominante a arritmia sinusal respiratória, ao contrário do descrito em seres humanos por EISENSTEIN et al. (1982) e ALPERT & HASHIMI (1993), que verificaram alterações de ritmo, como ectopias atriais e ventriculares e fibrilação atrial. Em cães obesos TÔRRES et al. (2006) e JERICÓ et al. (2006) observaram a presença de BAV de 2° grau e taquicardia ventricular, diferente deste ensaio. Esses autores estudaram indivíduos extremamente obesos que provavelmente já apresentavam distúrbios metabólicos ou infiltração gordurosa no sistema de condução (HOUSE & WALLEY, 1996). Em apenas uma das cadelas do Grupo I houve mudança no ritmo na fase obesidade, que passou de ASR na fase inicial para RS na fase de obesidade e na fase final observou-se novamente ASR, o que é justificado pelo aumento da freqüência cardíaca na fase de obesidade (OHARA, 2003). Apesar da diferente porcentagem de sobrepeso a freqüência cardíaca (FC) não apresentou diferença (p>0,05) entre os grupos, mas entre os tempos experimentais observou-se redução significativa após a perda de peso, semelhante ao descrito por TÔRRES (2006), que observou redução da FC em alguns animais após a perda de peso. Essa diminuição da FC cardíaca pode ser reflexo de adaptação dos animais ao exame, mantendo-se mais tranquilos durante a manipulação ou da correção de uma possível sobrecarga de volume resultante da fase de obesidade (HALL et al., 1993; MASSABUAU et al., 1997). Ao avaliar estatisticamente as variáveis duração da onda P, do complexo QRS e do intervalo QT, comparando-as entre os grupos, e entre as fases de um mesmo grupo, observou-se que nenhuma dessas variáveis apresentou diferenças significativas. Ao contrário, outros estudos com cães obesos, que descrevem presença de onda P mitrale, aumento do intervalo QT e supressão de milivoltagem do complexo QRS, em virtude do aumento da espessura da parede torácica decorrente do acúmulo excessivo de tecido adiposo, aumentando a distância entre o coração e a superfície do registro eletrocardiográfico e interferindo na amplitude do complexo QRS, visto que estudaram cães com níveis altos de sobrepeso (PEREIRA-NETO, 2005; TÔRRES et al., 2006; JERICÓ et al., 2006), diferente deste ensaio, onde o percentual de sobrepeso dos animais apresentou média de 15 a 20% acima do peso inicial e só foram mantidos obesos por 30 dias. 46 Já as médias dos intervalos PR apresentaram diferença entre os tempos experimentais do Grupo I (p<0,009) e Grupo II (p<0,04) corroborando o descrito por ALPERT & HASHIMI (1993), que relataram a presença de aumento do intervalo PR em indivíduos obesos. As médias dos intervalos PR aumentaram na fase de obesidade e mantiveram o incremento na fase final de redução de peso, diferentemente do observado por TÔRRES et al. (2006), que relataram diminuição deste intervalo após correção de sobrepeso. A amplitude da onda P não variou entre os grupos e nem entre as fases dentro dos grupos e nenhuma cadela apresentou amplitude da onda P fora dos parâmetros normais, diferindo de outras pesquisas com cães com graus de obesidade maiores, que verificaram presença de onda P pulmonale, acima de 0,04mV (PEREIRA-NETO, 2005; TÔRRES et al., 2006; JERICÓ et al., 2006). A amplitude das ondas Q e S não apresentaram diferenças entre os grupos e nem entre os momentos de avaliação e mantiveram-se dentro dos parâmetros normais para a espécie (GABAY, 2003a). Em relação à amplitude da onda R, não se verificou supressão de milivoltagem em ambos os grupos, diferente do descrito em seres humanos por FRANK et al., (1986), ALPERT (2001a) e MANCINI, (2001) e em cães (TÔRRES et al. 2006), que devido ao excessivo ganho de peso dos indivíduos, a distância entre o coração e a superfície do registro eletrocardiográfico será maior, o que interferem na amplitude da onda R e, como as cadelas deste experimento não atingiram sobrepeso abusivo não verificou-se essa alteração. Ao avaliar o eixo elétrico cardíaco não se observou variações e nenhuma cadela apresentou desvio do eixo nas fases de experimentação, ao contrário do observado por TÔRRES et al. (2006), que verificaram desvio do eixo elétrico para a esquerda em estudo de cães com grau de obesidade acima de 80% do peso ideal. Segundo ALPERT et al. (2000), que desenvolveram estudos em humanos obesos, onde observaram elevada prevalência de hipertrofia ventricular esquerda em indivíduos com sobrepeso, explicando o desvio do eixo cardíaco. Quanto à amplitude da onda T, considerando como parâmetro normal ondas T positivas ou negativas menores que um quarto da onda R ou onda T bifásica (TILLEY, 1995), apenas uma cadela do Grupo I apresentou onda T 47 positiva maior que 25% da onda R na fase de obesidade, mas voltou a normalidade ao reduzir o sobrepeso. PEREIRA-NETO (2005) também verificou onda T com amplitude superior a um quarto da onda R, que de acordo com TILLEY (1995), sugere hipóxia do miocárdio ou desequilíbrio hidroeletrolítico. 6.3 Avaliações radiográficas Nas fases inicial e final do experimento todas as cadelas apresentaram valores de VHS dentro dos parâmetros normais, mas na fase de obesidade todas as cadelas apresentaram valores médios acima de 10,5 vértebras, sendo de 11,07 para o Grupo I, e 10,79 para o Grupo II corroborando com MOROOKA (2004) e FERREIRA et al. (2006) que, ao estudarem a silhueta cardíaca de cães obesos, verificaram grande porcentagem de animais com VHS maior que 10,5 vértebras. Estes autores também inferem que a impressão de aumento generalizado da silhueta cardíaca e da redução da área pulmonar associava-se ao considerável deslocamento cranial do diafragma, devido ao acúmulo de gordura endocelíaca e abdominal. Apesar dos valores de VHS de todos os animais se encontrarem aumentados na etapa de sobrepeso, não permite afirmar que tal incremento na área cardíaca seja indicativo de cardiectasia, pois o aumento de VHS em radiografias látero-laterais de tórax em pacientes obesos não é patognomônico de cardiopatia, exceto quando esse achado está associado de maneira pertinente ao histórico, sintomatologia e achados eletro ou ecodopplercardiográficos do paciente, visto que a deposição de gordura diminui o tamanho da cavidade torácica, aumentando a silhueta cardíaca. Além disso, o acúmulo de gordura subpericárdica contribui para o incremento de área cardíaca, conforme citado por KITTLESON & KIENLE (1998) e LISTER & BUCHANAN (2000). Como discutido por PEREIRA-NETO (2005), uma das causas que contribui para a superestimativa do tamanho verdadeiro da silhueta cardíaca em cães é a falha em reconhecer e considerar a presença de gordura pericárdica. Assim, no presente estudo, principalmente porque imediatamente após a fase final de redução de peso, verificou-se em todas as cadelas diminuição nos 48 valores do VHS (igual ou inferior a 10,5 vértebras) é possível inferir que houve aumento de gordura subepicárdica e não hipertrofia ou dilatação do coração como citado por LISTER & BUCHANAN (2000). Ao comparar os valores de VHS entre o Grupo I e Grupo II, nos mesmos momentos experimentais, não se observou variações (p>0,05), indicando que a diferença do percentual de obesidade entre os grupos não foi suficiente para diferir na quantidade de gordura subpericárdica depositada no coração das cadelas. 6.4 Avaliações da pressão arterial Após as mensurações da pressão arterial em todos os tempos experimentais observou-se diferenças significativas ao analisar estatisticamente os valores de pressão sistólica entre grupos num mesmo momento, indicando que quanto maior o grau de obesidade, maior é o incremento na pressão arterial sistólica de cães, pois, durante a fase de obesidade, no Grupo I a pressão sistólica aumentou 11,62% e no Grupo II observou um aumento de 6,7% da pressão sistólica, mas nenhum animal apresentou valores acima dos parâmetros normais, corroborando BODEY & MICHELL (1996), e diferindo do que foi observado por JERICÓ et al. (2006), que avaliaram a pressão arterial de 69 cães adultos obesos (peso 20% acima do ideal), pelo método doppler vascular na artéria radial e, destes, 67% apresentavam-se hipertensos. Ao final do programa de redução de peso, observou-se que o aumento verificado na fase de obesidade diminuiu, apresentando valores próximos dos avaliados na fase inicial, semelhante ao descrito por PEREIRA-NETO (2005), que verificou diminuição da pressão arterial após redução de peso em cadelas obesas. Do ponto de vista hemodinâmico, a hipertensão associada à obesidade é justificada pela expansão do volume extracelular e o aumento do fluxo sanguíneo regional, que ocorre em indivíduos obesos, resultando em aumento do débito cardíaco e consequentemente levando à hipertensão (ROCCHINI et al., 1987; BARRETO-FILHO et al., 2002; PHILIP-COUDERC et al., 2003). 49 7. CONCLUSÃO Diante da metodologia empregada nesse experimento e de acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que: - após perda de peso, ao exame ecocardiográfico observa-se: redução altamente significativa da relação átrio esquerdo/aorta (AE/AO) e discreta redução do DIVE, PLVE e dos fluxos sanguíneos; - não ocorreram alterações eletrocardiográficas significativas em cães, considerando incremento de peso corporal até 20%; - a obesidade produz aumento significativo da silhueta cardíaca, à avaliação radiográfica, e o correção da obesidade reduz aos parâmetros normais. - quanto maior a porcentagem de obesidade, maior é o incremento na pressão arterial sistólica de cães; - os protocolos de ganho e perda de peso empregados neste ensaio foram eficazes, porém não permitiram exagerado incremento de peso, tornando as alterações observadas mais sutis; 50 REFERÊNCIAS 1. ACIERNO, M.J.; LABATO, M.A. Hypertension in renal disease: diagnosis and treatment. 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