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Augustus – Rio de Janeiro – Vol. 10 – N. 21 – Jul./Dez. – 2005 – Semestral
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NO ENSINO FUNDAMENTAL
Cátia Farias Garcez∗
Cesar Augusto Bougleux da Silva∗∗
Enilza Lima Barbosa∗∗∗
Marcia Valéria da Costa∗∗∗∗
Zilma Martins Donato∗∗∗∗∗
Marcelo Eduardo Dantas∗∗∗∗∗∗
RESUMO: O presente trabalho apresenta uma proposta pedagógica que visa contribuir
para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade sócioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. A experiência em Educação Ambiental na Escola
Municipal Doutor Francisco Manoel Brandão, no município de Queimados, localizado na
periferia da região metropolitana do Rio de Janeiro, enfatizou a vivência da realidade e os
problemas locais, demonstrando aos alunos a importância da preservação ambiental.
ABSTRACT: This paper presents a pedagogical purpose that aims to contribute for the
conscious citizen’s formation so that they can decide and act in a social and environmental
reality regarding the life and the welfare of each one in a local and global society. Therefore, it is necessary that the school proposes a work dealing with attitudes, ethics by teaching and learning through the abilities and procedures. An experiment made at Escola Municipal Doutor Francisco Manoel Brandão, Queimados, Suburbs of Metropolitan Region
of Rio de Janeiro city, focused the reality and the local problems, showing the students the
importance of the environmental preservation.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Contaminação da Água; Município de Queimados.
Keywords: Environment Education; Water Contamination; Queimados Municipality.
––––––––––
∗
Professora do Ensino Fundamental da S. M. E.de Nova Iguaçu/RJ. Professora de Geografia. Discente do Curso de Pós-Graduação Espaço e Meio Ambiente da UNISUAM.
∗∗
Professor de Geografia. Discente do Curso de Pós-Graduação Espaço e Meio Ambiente da UNISUAM.
∗∗∗
Professora do Ensino Fundamental da S. M. E.de Nova Iguaçu/RJ. Professora de Geografia. Discente do Curso de Pós-Graduação Espaço e Meio Ambiente da UNISUAM.
∗∗∗∗
Professora de Geografia do Ensino Fundamental do Colégio Brig. Newton Braga e Cap. Colégio Lemos Cunha.
∗∗∗∗∗
Professora de Geografia do Ensino Fundamental da Secretaria Estadual de Educação. Professor de Geografia. Discente do Curso de
Pós-Graduação Espaço e Meio Ambiente da UNISUAM.
∗∗∗∗∗∗
MSc. em Geografia. Professor do Curso de Pós-Graduação Espaço e Meio Ambiente da UNISUAM.
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Augustus – Rio de Janeiro – Vol. 10 – N. 21 – Jul./Dez. – 2005 – Semestral
1. INTRODUÇÃO
A perspectiva ambiental consiste num modo de
ver o mundo em que se evidenciam as interrelações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da vida. Em
termos de educação, essa perspectiva contribui
para evidenciar a necessidade de um trabalho vinculado aos princípios da dignidade do ser humano, da participação, da co-responsabilidade e da
solidariedade. Na medida em que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso
do espaço e dos recursos naturais em função da
tecnologia disponível. Comportamentos “ambientalmente corretos” serão aprendidos na prática do
dia-a-dia na escola: gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes,
podem ser exemplo disso. Há outros componentes que vêm se juntar à escola nessa tarefa: a
sociedade, que é responsável pelo processo de
aprendizagem como um todo, os padrões de comportamento da família e as informações veiculadas pela mídia que exercem especial influência
sobre as crianças. No que se refere à área ambiental, há muitas informações, valores e procedimentos que são transmitidos à criança pelo que se faz
e se diz em casa. Esse conhecimento deverá ser
trazido e incluído nos trabalhos da escola, para
que se estabeleçam as relações entre esses dois
universos do reconhecimento dos valores que se
expressam por meio de comportamentos, técnicas, manifestações artísticas e culturais.
2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
COMO UM OBJETIVO GLOBAL:
A AGENDA 21
Atualmente os alunos são informados em seu
lar e na escola que os homens vêm acabando com
o nosso planeta, o qual serve de moradia e de habitat. Para estudar este grave problema, foram
criados projetos com a contribuição do governo e
instituições da sociedade civil de 179 países, denominado Agenda 21 (ONU, 1992).
A Agenda 21 começa a qualquer momento,
dependendo apenas da vontade e da união das
pessoas, grupos e comunidades que acreditam que
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a sua implantação possa mudar sua vida para melhor. Ao nível de cidade, ela começa oficialmente
quando é criado o Fórum da Agenda 21 (composto por representantes da sociedade e do poder público). Ela não tem data para terminar, pois é um
processo no qual, passo a passo, a sociedade vai
conseguindo realizar suas metas e etapas, sua elaboração e implementação passam por várias revisões. O importante não é quando começa ou termina, mas que seja um processo participativo e
contínuo de diálogo entre vários setores.
Acreditamos que, para mudar algo, é preciso
um conhecimento do fenômeno que quer mudar.
Ao mesmo tempo: subjetivo, por isso interno ao
sujeito que conhece, e objetivo, para que possa
ser socializado. A consciência do problema que
impede a qualidade de vida desejada pelo grupo
que desenvolve seu processo de Educação Ambiental é favorecida pelo conhecimento da realidade, local e global, do contexto em que tal problema se situa, conhecimento esse produzido nos
próprios caminhos teóricos e práticos seguidos
para a solução do problema. Por sua vez, cabe aos
participantes do processo educativo escolher o
problema a ser resolvido, fundamentalmente, os
professores e alunos, mas de fato, a todos os envolvidos na unidade escolar, quando o processo
se realiza na escola.
O meio ambiente é a única fonte de recursos
naturais de que o ser humano dispõe para respirar,
viver e prosperar. A destruição do meio ambiente
provocada pelo homem acabará por retardar e
prejudicar gravemente o processo de desenvolvimento social e econômico das nações.
A prioridade número um dos governantes, no
início deste terceiro milênio, deverá ser a de sustentar o crescimento do progresso e solucionar os
problemas da expansão demográfica e do bemestar social sem destruir o meio ambiente.
3. METAS E PRINCÍPIOS
DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Segue abaixo algumas considerações em teoria
e método, elaboradas no Congresso Mundial de
Educação Ambiental realizado em Tbilisi, Geórgia (ex-URSS), em 1977 que visam difundir objetivos fundamentais para nortear o trabalho do professor e alguns princípios adotados:
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Objetivos da Educação Ambiental
Geral.
► Considerar a importância da temática ambiental e a visão integrada de mundo, tanto no tempo como no espaço, enfatizando o ensino ambiental e oferecendo meios efetivos para que possa
compreender os fatos naturais e humanos.
Específicos.
Ao final da pesquisa o aluno deverá ser capaz de:
► Observar, de modo crítico, analisando os
fatos e as situações do ponto de vista ambiental, reconhecendo a necessidade e a oportunidade de atuar de modo a garantir um
meio ambiente saudável e a boa qualidade
de vida;
► Perceber, em diversos fenômenos naturais,
encadeamentos e relações de causa – efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo (histórico), utilizando
essa percepção para posicionar-se criticamente diante das condições ambientais de
seu meio;
► Entender que a participação leva o aluno a
perceber suas responsabilidades e necessidades de ação imediata para a solução dos
problemas ambientais e;
► Atentar para o cuidado com as comunidades de seres vivos, melhorar a qualidade da
vida humana, modificar atitudes e práticas
sociais.
4. EDUCAÇÃO ATRAVÉS
DE PROJETOS: UMA PROPOSTA
METODOLÓGICA
Aprofundando uma discussão pedagógica sobre o método de ensino, o presente modo de conduzir a temática da Educação Ambiental consiste,
também, em um meio que permite aos alunos
empregar a criatividade e expressar as representações de conceitos científicos e dos problemas
ambientais em discussão.
A “Pedagogia do Projeto” é um método que
envolve toda a escola, inclusive os pais de alunos
no estudo de um tema específico. Ele permite que
cada disciplina desenvolva o tema proposto sob a
sua ótica. Os pais participam, contribuindo com
sua experiência e conhecimento sobre o tema. Os
alunos se empregam em explorar particularidades
que lhes interessam num mesmo ano letivo. A
Educação Ambiental, como foi observado, tem
estimulado uma nova concepção de se fazer educação que se manifesta nos seus objetivos, conteúdos e metodologias.
Para que um trabalho como o tema Meio Ambiente possa atingir os objetivos a que se propõe,
é necessário que toda a comunidade escolar (professores, funcionários, alunos e pais) assuma esses objetivos, pois eles se concretizarão em diversas ações que envolverão a todos, cada um na sua
função. É desejável que a comunidade escolar
possa refletir conjuntamente sobre o trabalho com
o tema Meio Ambiente, sobre os objetivos que se
pretende atingir e sobre as formas de se conseguir
isso, esclarecendo o papel de cada um nessa tarefa. O convívio escolar é decisivo na aprendizagem de valores sociais e o ambiente escolar é o
espaço de atuação mais imediato para os alunos.
Assim, é preciso salientar a sua importância nesse
trabalho.
A convivência democrática, a promoção de
atividades que visem o bem-estar da comunidade
escolar com a participação dos alunos é fator fundamental na construção da identidade desses alunos como cidadãos. Assim, a grande tarefa da escola é proporcionar um ambiente escolar saudável
e coerente com aquilo que ela pretende que seus
alunos aprendam, para que possa, de fato, contribuir para a formação de cidadãos conscientes de
suas responsabilidades com o meio ambiente e
capazes de atitudes de proteção e melhoria em relação a ele.
Por outro lado cabe à escola, também, garantir
meios para que os alunos possam pôr em prática
sua capacidade de contribuição. O fornecimento
das informações, a explicitação das regras e normas da escola, a promoção de atividades que possibilitem uma participação concreta dos alunos,
são condições para um ambiente democrático.
Outro ponto importante a ser considerado é
a relação que a escola desenvolverá com o ambiente no qual está inserida. A escola é instituição
social com poder e possibilidade de intervenção
na realidade. Assim, deve ser conectada com as
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questões mais amplas da sociedade, incorporando-as à sua prática. A participação da escola em
movimentos amplos de defesa do meio ambiente,
quando estiverem relacionados aos objetivos escolhidos pela escola para o trabalho com o tema
Meio Ambiente, deve ser incentivada. É também
desejável que a escola possibilite a saída de seus
alunos para passeios e visitas a locais de interesse
dos trabalhos em Educação Ambiental. Assim, é
importante que se faça um levantamento de locais
como instituições, parques, empresas, unidades
de conservação, serviços públicos, lugares históricos e centros culturais, e se estabeleça um contato com fins educativos.
5. A PROBLEMÁTICA
SOCIOAMBIENTAL
NO MUNICÍPIO DE QUEIMADOS:
UM ESTUDO DE CASO
Em junho de 2000, onde o Rio de Janeiro
ocorreu um fato estarrecedor amplamente divulgado pela mídia: mortes misteriosas no bairro Tricampeão, em Queimados, município da Baixada
Fluminense, periferia da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro. Faremos um paralelo desse fato,
conhecendo o passado e mostrando, posteriormente, as melhorias e os desafios pela qual passou e passa esta comunidade.
Originado a partir de um processo de invasão,
bastante freqüente em áreas peri-urbanas, os bairros Tricampeão – com ruas batizadas com nomes
de jogadores da seleção que conquistaram o tricampeonato mundial – e São Sebastião se formaram na década de 1970 e ambos são o retrato do
abandono. Com uma única escola, poucos bares
e apenas uma padaria não existiam, até então, saneamento básico ou água encanada (EXTRA,
24/08/2000).
No decorrer do mês de junho de 2000 na comunidade do bairro Tricampeão surgiu uma doença misteriosa que, em alguns casos, levavam
pessoas à morte e que atingiu também o bairro
São Sebastião, no município vizinho de Japeri,
separado do bairro Tricampeão apenas pala calha
do rio Quebra-Coco. Os sintomas da doença
eram: enjôo, perda de apetite, coceiras e erupções
na pele, além de dor de cabeça e febre.
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Técnicos sanitaristas foram enviados à região
para descobrirem o que estava causando essa doença. As hipóteses eram várias: água contaminada
do lençol freático, infestação de ratos e o lixão
próximo à localidade. Como não existia saneamento básico ou água encanada na região, toda a
água consumida pela população era retirada diretamente dos poços existentes nas residências e até
mesmo a única escola da região possuía seu poço
de onde tirava a sua cota de água para uso diário.
As pessoas foram orientadas e mesmo proibidas
de manipular água do lençol freático. A única fonte de água potável recebida pelos moradores foi
distribuída através de carros-pipa que passavam
somente duas vezes por semana, mas não tinham
quantidade de água suficiente para atender toda
demanda, isto é, não abastecia todas as residências. O laboratório do Instituto Noel Nutels constatou a presença de microorganismos vivos nas
amostras de água, mas não esclareceu a origem
do problema. A Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro – PESAGRO coletou
amostras de água de onze pontos diferentes do
lençol freático para uma segunda análise e concluiu que não se sabe exatamente como e porque
a água está contaminada, porém constatou que a
mesma é de péssima qualidade e imprópria para
manuseio e consumo (DIÁRIO DEMOCRÁTICO, 25/08/2000).
A Escola Municipal Doutor Francisco Manoel
Brandão, situada na Rua Félix nº 7 – única instituição da região – foi usada por um bom tempo
pelos técnicos sanitaristas como unidade de apoio
no atendimento à população. Nela foram feitas as
coletas de sangue para análise de todos os moradores do bairro Tricampeão e São Sebastião (O
DIA, 11/11/2000).
Segundo técnicos da Fundação Oswaldo Cruz
(FIOCRUZ), seria o carrapato e não o rato, o
animal responsável pela transmissão da doença
que já matou nove moradores dos bairros Tricampeão, em Queimados, e São Sebastião, em
Japeri nos últimos três meses de 2000. Eles informaram que as vítimas foram contaminadas pela rickettsia, mais conhecida como febre maculosa brasileira. Desde a década de 1930 não é registrado qualquer caso da doença no Estado do
Rio. A febre é provocada por um microorganismo
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(classificado em uma categoria intermediária à de
bactéria e vírus) chamado ricksettsea rickettssi.
Das 100 amostras de sangue de moradores que
foram examinadas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), em Atlanta, nos Estados Unidos, mais de 90 foram identificadas como
casos de rickettsia. Entre os restantes, havia pelo
menos um caso de leptospirose. As amostras foram inicialmente encaminhadas pela Fundação
Nacional de Saúde ao Instituto Evandro Chagas,
em Belém, Pará, um laboratório de Referência do
governo. Como desconheciam a doença, que não
ocorre naquela região, as amostras foram encaminhadas para a CDC. A entidade tem um laboratório de segurança máxima que não existe ainda no
Brasil.
De acordo com os técnicos, a doença era muito
comum em São Paulo – até nas áreas urbanas – e
no Rio de Janeiro, nas décadas de 1930 e 1940,
quando ocorreu um surto, provocando várias mortes. Esse microorganismo tem como principal
transmissor o carrapato comum –, o anblyommacak cajennense, ou micuim. Se tiver infectado pela rickettsia, o inseto pode transmiti-lo ao homem
através da picada – ou mesmo ao ser esmagado
sobre a pele. Até a década de 1940, o surto foi
combatido com DDT – veneno atualmente proibido por ser altamente tóxico.
Moradores dos bairros Tricampeão, em Queimados, e São Sebastião, em Japeri, alertaram as
autoridades sanitárias que cães, gatos e até animais maiores como bois e cavalos estão morrendo
de causa indeterminada no local. Pelo menos cinco cachorros morreram após apresentar tosse,
tremores e vômitos. Segundo um morador os cinco cães mortos viviam perto da casa das vítimas.
A febre maculosa é uma variação das chamadas doenças rickettisiais provocadas por microorganismos semelhantes a vírus e bactérias – responsáveis por doenças como o tifo. Na maioria
dos casos elas são transmitidas aos animais por
picadas de inseto como o carrapato e o piolho. O
período de incubação é de em média, sete dias. O
início é súbito e o paciente apresenta dor de cabeça intensa, calafrios, prostração, dores musculares, febre constante e tosse seca. Eventualmente
podem surgir erupções de pele. Quem não é tratado pode desenvolver pneumonia, necrose de teci-
dos e insuficiência vascular – com conseqüente
parada cardíaca. Não há vacinas eficazes contra a
rickettsia e nem profilaxia definitiva contra os
carrapatos. Seguindo recomendações da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), porém, áreas
como os bairros de Queimados e Japeri onde
ocorreram as mortes deveriam receber saneamento básico e coleta regular de lixo. Para evitar o
contato com os insetos, recomenda-se ainda o uso
de calçados em áreas infestadas. O risco de contaminação é tão alto que, se encontrado, o carrapato não pode ser esmagado com os dedos.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), José
Chacon de Assis, esteve na região atingida pela
doença para verificar as condições em que vivem
os moradores. Chocado com o que viu, ele lançou
um alerta e cobrou providências das autoridades
dos dois municípios:
“– Estou apavorado. A FIOCRUZ não sabe o
que é. A falta de saneamento propicia isso tudo.
O esgoto se misturou à água do lençol freático,
contaminando-o. Não sabemos com o que estamos lidando e poderá haver uma epidemia
aqui. Os prefeitos deveriam estar aqui e o governador tem que agir. Quando morrerem 200,
vão saber que bicho é esse, mas será tarde”
(EXTRA, 10/11/2000).
Segundo ele, o CREA organizará uma audiência com moradores, ONG’s, Governo e a CEDAE
para discutir o problema com urgência.
6. EDUCAÇÃO AMBIENTAL:
UMA EXPERIÊNCIA APLICADA
À REALIDADE DO BAIRRO
TRICAMPEÃO
Diante dessa calamidade, a equipe pedagógica
da escola, mesmo sem ter conhecimento científico da doença, elaborou um projeto onde os preceitos básicos tratavam a questão ambiental e higiene pessoal. Contando com um corpo docente
de 621 alunos do 1º segmento do ensino fundamental – CA a 4ª série – a equipe pedagógica
buscou orientar e conscientizar os alunos, e estes
fizeram papel de agentes multiplicadores de saúde junto à comunidade e familiares. A adoção de
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medidas como: não andar descalço; usar botas de
borracha em dias de chuva; ferver durante 20 minutos a água que será bebida ou usada na preparação de alimentos; não brincar com animais na
rua; evitar contatos muito íntimos até mesmo com
animais domésticos; combater ratos e animais peçonhentos; lavar sempre as mãos antes de comer
e logo depois de ir ao banheiro; e não tomar banho em rios ou brincar em águas sujas fizeram
parte dos preceitos básicos do projeto pedagógico
da escola.
Com essas medidas espera-se que o aluno seja
capaz de perceber, discernir e comunicar sensações de desconforto ou dor, sabendo localizá-las
em seu corpo e buscando ajuda quando necessária; executar ações de higiene corporal de maneira autônoma e reconhecer a importância de sua
realização cotidiana. Inclui-se entre as ações básicas: lavar as mãos antes das refeições e após o
uso do banheiro; tomar banho diário cuidar de
cabelos e unhas; escovar os dentes após as refeições e utilizar adequadamente o sanitário; reconhecer as doenças transmissíveis mais comuns
em seu meio, identificando as condições sanitárias associadas à sua ocorrência, as formas
de contágio e prevenção, assim como, sinais,
sintomas e cuidados básicos para a cura; levar
em consideração a presença, possibilidades
e necessidades de outros, assim como as suas
próprias, na organização de suas ações e poder,
pela comunicação, estabelecer com eles critérios de convivência e formas de resolver situações de conflito; e ter atitudes de responsabilidade e solidariedade em relação às necessidades
de saúde coletivas, colaborando com seus diversos grupos de inserção em ações de promoção, proteção e recuperação da saúde (PCNs,
v. 9, 1997).
O diagnóstico definitivo da doença só foi divulgado pelas autoridades competentes no final
de 2003, ratificando que foi o somatório dos fatores descritos neste estudo de caso, que culminou com doenças rickettsiais e que deixou um
saldo de pelo menos nove óbitos e dezenas de
pessoas – talvez centenas –, contaminadas. Como vimos anteriormente, a febre é provocada
por um microorganismo (classificado em uma categoria intermediária à de bactéria e vírus) cha36
mado rickettsea rickettissi. Esse microorganismo
tem como principal transmissor o carrapato comum –, o anblyommacak cajennense, ou micuim.
CONCLUSÃO
Concluímos que a natureza é a única fonte de
recursos de que os habitantes do nosso planeta
dispõem para viver.
A destruição do meio ambiente provocada pelo
ser humano retarda e prejudica gravemente o processo de desenvolvimento social e econômico das
nações, principalmente em países incapazes de
vigiar a preservação de seu território, quer seja
pela falta de políticas de conscientização da população, quer seja pela falta de programas alternativos para exploração controlada de seus recursos
naturais. Obviamente, quanto maior o país e mais
desinformada for a sua população, maiores serão
os danos ambientais.
Os prejuízos resultantes desse flagelo são contabilizados nas perdas da vida selvagem, da diversidade da fauna e da flora, na disseminação de
doenças endêmicas, na desertificação e, finalmente, no círculo vicioso das migrações da população
atingida. A responsabilidade pela preservação da
natureza é de todos: governos, populações e indústrias. Não se pode ficar aguardando que o outro faça a sua parte, é preciso agir individualmente. Será a soma dessas ações que poderá mudar a
face do planeta em que vivemos e que deixaremos para as gerações futuras.
Por isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar
com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação.
Comportamentos “ambientalmente corretos” serão aprendidos na prática do dia-a-dia na escola:
gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações podem ser exemplo disso.
Este Projeto de Educação Ambiental desenvolvido na Escola junto aos alunos, além de reunir a teoria e a prática ele não idealizou o aluno
como mero receptor de um conhecimento pronto
e acabado oferecido pelo professor ou pelo livro
didático. Sendo assim, a equipe pedagógica bus-
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cou orientar e conscientizar os alunos, e estes fizeram papel de agentes multiplicadores de saúde
junto à comunidade e familiares. A adoção de
medidas de higiene individual e coletiva, bem
como o cuidado com o meio ambiente proposto
pelo Projeto Pedagógico da Escola, possibilitou
que alunos, familiares e comunidade pudessem
reconhecer as doenças transmissíveis mais comuns em seu meio, identificando as condições
sanitárias associadas à sua ocorrência, as formas
de contágio e prevenção, assim como, sinais, sintomas e cuidados básicos para sua prevenção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LOPES, Érika. Socorro chega atrasado. Diário Democrático. Duque de Caxias: 25.08.00, p. 5.
MARCOS, Álvaro, OLIVEIRA, Eduardo de & ESQUENAZI, Rose. Carrapato pode ter provocado mortes em Japeri e Queimados. Rio de Janeiro: O DIA, 11.11.00.
MARCOS, Nunes. A morte em conta gotas. EXTRA, p. 5,
24.08.00.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Agenda 21.
Rio de Janeiro: Conferência Internacional sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, 1992.
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente e saúde. v. 9,
1997.
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