“PROCURE SEU MÉDICO: ANÁLISE DE ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS” Autora: SANTOS, Lana Cristina Nascimento. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social UMESP – Universidade Metodista de São Paulo RESUMO Análise sobre a produção de anúncios publicitários que envolvam o marketing das indústrias farmacêuticas, nos quais as doenças são abordadas como principal fonte de composição destes anúncios e como a linguagem publicitária é utilizada neste tipo de estratégia mercadológica. Através da análise pode-se perceber como a linguagem implícita pode ser um bom gancho para anúncios publicitários da indústria farmacêutica, mesmo quando o produto não está presente neste anúncio. Palavras-chave: comunicação, publicidade, indústria farmacêutica. Resumen En este trabajo, se hará un análisis sobre la producción de anuncios publicitarios que engloban el “marketing” de las industrias farmacéuticas, en los cuales la enfermedad es abordada como fundamental fuente de la composición de los anuncios y como el lenguaje publicitario es utilizado en este tipo de estrategia del comercio. Con este análisis se puede percibir como el lenguaje implícito es un bueno instrumento para anuncios publicitarios de las industrias farmacéuticas, aún cuando el producto no esté presente en este anuncio. Palabras-llave: Comunicación, publicidad, industria farmacéutica. 2 Abstract Analyze about the advertising that enfolded the industry pharmacy marketing, where sickness are the most appeal for composition messages and how the advertising language is structured in this advertisement. With that analyze can be shows how the language implicit is a good form to advertisement of industry pharmacy sales your products, same when the product is not at the advertisement. Key Words: communication, advertising, industry pharmacy. INTRODUÇÃO A indústria farmacêutica faz seu planejamento de mídia para produtos sob prescrição médica. Por lei, estes produtos não podem ser anunciados no Brasil. Então, a estratégia adotada pela indústria farmacêutica foi a comunicação com o consumidor comum, na qual não se apresenta o produto, mas se discute a doença, utilizando para isto, uma linguagem simples e direta. Procure seu médico e descubra o tratamento adequado é a cura sugerida por estes anúncios que, na realidade, trazem implícita a veiculação comercial do medicamento que será utilizado no tratamento. A empresa anunciante, além de financiar a campanha de propaganda da doença, tem também toda uma estratégia mercadológica adotada junto à classe médica, na qual folhetos explicativos (sempre com a marca do laboratório) e amostra-grátis do medicamento são distribuídos pelo médico junto ao paciente. E, como se não bastasse a mídia impressa, eletrônica e toda a veiculação em mídia exterior (outdoor, banners), as campanhas de propaganda chegam também à era digital, à Internet. Na Web, a indústria farmacêutica utiliza a mesma estratégia mercadológica adotada para as outras mídias: não apresenta os produtos, mas discute a doença e como ela deve ser tratada, incluindo o uso da frase: “Procure seu Médico”. O presente trabalho procurou analisar a linguagem publicitária utilizada em anúncios veiculados na mídia impressa que adotam este tipo de estratégia mercadológica. Os anúncios selecionados pertencem às empresas Pfizer e Aventis, grandes laboratórios da indústria farmacêutica, atuantes no Brasil. 3 Para se revelar o implícito nos anúncios analisados, o referencial teórico adotado seguiu a ótica pós-estruturalista quanto ao estudo da linguagem: Teoria dos Atos de Fala, baseada nos autores J.L. Austin (1969), J. Searle (1995) e Van Dijk (1992); Ingedore Villaça Koch (1995), além de autores que estudam a linguagem da propaganda e a utilização de recursos argumentativos: Antonio Sandmann (1993), Antonio Suàrez Abreu (1999), Adilson Citelli (1994). Roberto Menna Barreto (1982) foi o autor utilizado para abordar conceitos de criação e criatividade na propaganda. Quanto à estratégia mercadológica, o teórico utilizado foi: João de Simoni Soderini Ferracciù (1997). O corpus da pesquisa compreende anúncios veiculados durante os anos de 1998, 1999, 2000 e 2001, em revistas que têm circulação nacional, nos quais a linguagem implícita é utilizada e, a estratégia mercadológica das campanhas de propaganda é desenvolvida para se vender a busca da cura (através da venda implícita dos remédios) das doenças veiculadas nestes anúncios. Também foi utilizado um comercial de TV para análise. Foram selecionados dois anúncios de cada ano, totalizando assim, oito anúncios, sendo o filme para TV referente ao ano de 2000. A razão da seleção dos anúncios desde 1998 foi necessária, para verificar se houve alteração na forma do uso da estratégia após a publicação de uma resolução no ano de 2000, que procurou dar novos parâmetros à publicidade de medicamentos. O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO Os medicamentos vendidos com prescrição médica (tarjas vermelha e preta) não podem ter publicidade em meios de comunicação que não sejam especificamente dirigidos à profissionais da área da saúde, conforme determinação do CONARi e da ABIFARMAii . A ANVSiii publicou em novembro de 2000 (Resolução - RDC nº 102, de 30 de novembro de 2000 - Republicada no DOU de 1/6/2001) uma resolução que restringiu a propaganda de medicamentos no Brasil. No controle foram incluídos remédios que devem ser vendidos com prescrição médica e os que têm comercialização livre, como analgésicos e antitérmicos. 4 Por esta nova resolução, estão proibidas, nos anúncios, expressões como: “recomendado por especialistas”, “demonstrado em ensaios clínicos”, “sem contraindicações” ou “produto natural”. Os medicamentos que não precisam de receita médica podem ser anunciados, desde que a propaganda não se dirija a crianças e adolescentes e não sejam utilizadas expressões como: “gostoso” ou “delicioso” e, o anúncio do medicamento, não faça alusão a um produto de consumo como produtos alimentícios ou de estética. Além destas restrições, as peças publicitárias devem apresentar advertência para que o consumidor leia atentamente a bula e, em caso de dúvidas ou não desaparecimento dos sintomas, procure um médico. A resolução também proíbe que as propagandas proponham um diagnóstico e apresentem um medicamento como sendo a solução para o problema. Também estão sendo vetadas todas as mensagens que passem a idéia de que o consumidor pode ter seu potencial físico, mental, sexual ou afetivo melhorado com o uso do produto, o que poderia levar à auto medicação. Ainda pela resolução, os representantes de laboratórios que visitam médicos e farmacêuticos para apresentar os produtos, também estão proibidos de oferecer qualquer vantagem como prêmios, viagens ou convites, a médicos e farmacêuticos para que eles prescrevam os remédios. Assim, antes baseada na Lei de Infrações Sanitárias de 1977 e de determinações do CONAR e da ABIFARMA, a resolução n° 102 da ANVS regulamenta a legislação atual que já restringia a publicidade, mas não determinava em quais casos a propaganda poderia ser considerada abusiva, enganosa ou prejudicial ao consumidor. Mas, será que esta nova forma de comunicação, esta estratégia mercadológica utilizada pela indústria farmacêutica não pode também ser considerada abusiva, enganosa ou prejudicial ao consumidor? O QUE DIZEM AS ÁREAS DE MARKETING DAS INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS E AS AGÊNCIAS DE PROPAGANDA A Glaxo Wellcome investe em ações de marketing 10% de seu faturamento nacional, o equivalente a US$ 20 milhões, conforme informações de Jorge Mazzei, diretor 5 de marketing da empresa. Além dos 400 representantes atuantes junto à área médica, distribuição de preservativos em estádios de futebol, patrocínio de encontros com professores de escolas públicas e privadas, que passam por uma reciclagem com profissionais de saúde para depois repassar aos alunos, a empresa também avança com alternativas pouco usuais, como contratar atores para encenar os problemas decorrentes da asma em hospitais e praças públicas de todo Brasil (esta última estratégia foi adotada pouco antes do lançamento pela empresa do produto para asma Seretide). Segundo o diretor, o interesse em investir na comunicação com o consumidor comum surgiu depois que os grandes laboratórios foram liberados a anunciar produtos sob prescrição médica nos Estados Unidos. Nos países onde não havia essa abertura, buscou-se um meio-termo e, também, a exploração de novas mídias. Já para João Antonio Toledo Vieira, diretor de marketing da divisão de especialidades da Novartis, é essencial nesse tipo de comunicação usar-se uma linguagem clara, objetiva e de fácil entendimento do consumidor comum. Segundo ele, conscientizar sobre a doença proporciona à pessoa a adoção de um tratamento adequado. O trabalho com a classe médica, apesar de ser obrigatório e necessário, nem sempre é suficiente. É preciso influenciar esse consumidor a procurar ajuda. A Novartis conta com 600 representantes para o trabalho junto à classe médica e também participa ativamente de comunidades apoiando grupos de tratamento de pacientes, como faz com os transplantados e pretende fazer com os diabéticos (é importante salientar que recentemente, a Novartis lançou medicamento para o tratamento da diabetes: Starlix). A Pfizer foi a primeira empresa no País a desenvolver este tipo de estratégia mercadológica. Ailton Antônio de Godoy, diretor da Zero 11 Propaganda Ltda (agência de propaganda que trabalha há oito anos com o laboratório Pfizer e vem desenvolvendo as campanhas do Viagra nos últimos três anos), diz que nesse mercado, vale mais a credibilidade da mensagem que o recall (índice de lembrança da marca). Foi preciso encontrar o texto adequado, sem ser falso, depressivo ou capaz de chocar as pessoas. Além desta estratégia mercadológica, o laboratório investiu na Caravana da Saúde: uma equipe completa de saúde com médicos, psicólogos e enfermeiros percorriam várias capitais e cidades litorâneas, discutindo problemas e tirando dúvidas da população. Tudo de 6 graça, conforme enfatizado por Stanley Mendonça, gerente de marketing da divisão farmacêutica da Pfizer. Ele ainda afirma que o retorno neste tipo de ação (Caravana da Saúde) é garantido. A imagem da empresa pode não ser o fator primário na hora da compra. Mas, quem cuida da própria saúde quer saber se o laboratório também está interessado nisso. A campanha de propaganda que cria a doença para vender a cura é defendida ainda pela maioria dos profissionais de marketing e publicidade, os quais afirmam que este tipo de estratégia mercadológica defende o direito dos pacientes. Muitos afirmam ainda, que a divulgação cada vez maior da informação médica e científica leva ao auto-diagnóstico de dores e doenças que já existiam e, nem eram percebidas ou não incomodavam. Vale ressaltar que, além de anúncios publicitários, a indústria farmacêutica também utiliza a linguagem jornalística através da imprensa (no formato de notícia e informação, portanto na forma redacional), para a venda implícita de medicamentos, através de artigos e reportagens sobre determinadas doenças para, algum tempo depois, veicular ainda em forma de notícia, que já existe tratamento para aquela doença, veiculada em período anterior. COMO DRIBLAR A LEGISLAÇÃO: ANÁLISE DOS ANÚNCIOS A linguagem como forma de ação – a Teoria dos Atos de Fala (Austin, 1969 e Searle, 1995) designa o que se diz (ato locucionário) e como se faz para dizer (ato ilocucionário) a fim de despertar no receptor a ação pretendida (ato perlocucionário). ...assim, quando se deseja convencer, assustar ou agradar alguém, não basta dizer “eu (te) convenço”, “eu (te) assusto”, “eu (te) agrado” – a persuasão, o temor, a satisfação vão decorrer (ou não) daquilo que é dito... sempre que se interage através da língua, profere-se um enunciado lingüístico dotado de certa força que irá produzir no interlocutor determinado(s) efeito(s), ainda que não aqueles que o locutor tinha em mira...(Koch, 1995, 20). Segundo o lingüista holandês Van Dijk (1992), num texto apesar de se realizarem os três tipos de atos, há sempre um objetivo principal a ser atingido para o qual concorrem todos os demais. Aí, se enquadra a estratégia mercadológica utilizada neste tipo de anúncio: o principal objetivo é o comercial, a venda do remédio que poderá levar à cura das doenças 7 anunciadas, mesmo que implicitamente, mesmo que o remédio não se faça presente no anúncio. Anúncio 1. (Revista Isto é, outubro de 1998) Título: 42 anos, 23 de profissão e 8 sem fazer sexo. Texto: Ele não lembra mais a primeira vez, nem a última. Essa é uma situação desagradável, mas comum para muita gente. Em grande parte dos casos, a Disfunção Erétil (Impotência) pode estar relacionada à ansiedade, à depressão e ao estresse. O que muita gente não sabe é que já existe solução para este problema. O tratamento é simples e seguro. Procure um médico. Pior do que ter um problema é não tentar resolvê-lo. Disfunção Erétil tem solução. Procure seu Médico. Imagem: um homem aparentando mais de 40 anos, com a expressão de preocupação e angústia, com as mãos cruzadas (em forma de reza) do lado esquerdo do anúncio. O anúncio é em preto e branco, sendo colorido somente o logotipo da indústria farmacêutica a frase: Disfunção Erétil tem solução. Procure seu Médico, que vem do lado direito do logotipo (localizado na parte inferior esquerda do anúncio), em tamanho diferenciado do texto verbal (que encontra-se do lado superior direito do anúncio), acompanhando a mesma tipologia de letras do título. O logotipo vem acompanhado do slogan: “ciência para uma vida melhor” e do endereço eletrônico do laboratório: www.pfizer.com.br. Análise: neste primeiro anúncio, o ato locucionário (conteúdo proposicional, o que é dito) fica exposto claramente, desde o título: a impotência sexual. O ato ilocucionário (intenção subjacente ao conteúdo proposicional) é percebido através da imagem (linguagem não verbal) que apresenta um homem aparentando mais de 40 anos (o próprio título já explicita que ele tem 42 anos), com a fisionomia de angústia, como se pedisse socorro (pelo gesto das mãos em forma de reza) e, através do texto verbal, pode-se perceber o ato perlocucionário (o efeito que se pretende sobre o interlocutor) nas frases: “42 anos, 23 de profissão e 8 sem fazer sexo”, “o que muita gente não sabe é que já existe solução para este problema”, “O tratamento é simples e seguro”, “Procure um médico”, “Pior do que ter um problema é não tentar resolvê-lo”. 8 Estas frases trazem o efeito que se pretende nos homens que têm o problema e não tentaram resolvê-lo, supostamente, através de ajuda médica. Supostamente, pois o logotipo do laboratório que poderá fornecer o medicamento apropriado para o tratamento, aparece na parte esquerda inferior do anúncio, acompanhado do slogan: ciência para uma vida melhor, levando assim o interlocutor à possível conclusão que existem cientistas que desenvolveram um medicamento, capaz de resolver o problema da impotência. (...)Esta teoria tem como axioma fundamental de que as elocuções comunicativas são ações, no mesmo sentido da ações físicas. Ao produzir um ato de fala, um agente tem como intenção produzir alguma mudança no mundo, por exemplo, modificar o estado mental do ouvinte. As duas principais categorias dos atos de fala são representativas (como informar, por exemplo) e diretivas (como solicitar). (SEARLE, 1995). O uso do imperativo na frase “Procure seu médico”, ao lado do logotipo, exemplifica o que Searle (1995) classificou como Ato Perlocucionário Diretivo, onde há a intenção de produzir uma ação no interlocutor, direcionado pelo locutor da mensagem: procurar o médico para que ele inicie o tratamento com o medicamento do laboratório indicado no anúncio. Segundo Van Dijk (1992), num texto apesar de se realizarem os três tipos de atos, há sempre um objetivo principal a ser atingido para o qual concorrem todos os demais. Assim, o principal objetivo do anúncio é a solução do problema: a cura da doença, através do uso do medicamento (do laboratório anunciado), indicado pelo médico durante o tratamento. Anúncio 2. (Revista da Folha, outubro de 1998) Título: Para alguns, sexo é pecado. Para ele, pecado é não fazer. Texto: mais importante do que saber como algumas pessoas encaram o sexo é saber que muita gente não consegue encara-lo de maneira nenhuma. São aqueles que sofrem de algum tipo de Disfunção Erétil (Impotência). Este problema pode não só estar relacionado à idade, mas também ao estresse, ao abuso do álcool e do cigarro. O que muita gente não sabe é que Disfunção Erétil já tem solução. O tratamento é simples e seguro. Procure um médico. Pior do que ter um problema é não tentar resolvê-lo. Disfunção Erétil tem solução. Procure seu Médico. 9 Imagem: um homem aparentando mais de 40 anos do lado esquerdo do anúncio, com a expressão de tristeza e vergonha, cabeça baixa, olheiras, ombros caídos. O anúncio é em preto e branco, sendo colorido somente o logotipo da indústria farmacêutica a frase: Disfunção Erétil tem solução. Procure seu Médico, que vem do lado direito do logotipo (localizado na parte inferior esquerda do anúncio), em tamanho diferenciado do texto verbal (que encontra-se do lado superior direito do anúncio), acompanhando a mesma tipologia de letras do título. O logotipo vem acompanhado do slogan: “ciência para uma vida melhor” e do endereço eletrônico do laboratório: www.pfizer.com.br. Análise: neste segundo anúncio, o conceito de criação é o mesmo do primeiro anúncio, até na semelhança do layout (composição do anúncio). O referencial teórico aplicado no anúncio 1. é o mesmo a ser aplicado neste anúncio, destacando-se no ato ilocucionário, a imagem (linguagem não-verbal) um homem com a expressão de tristeza e vergonha (por estar com a cabeça baixa e os ombros curvados para baixo), além das olheiras que pressupõe a saúde abalada. No ato perlocucionário, a utlização das frases: “Este problema pode não só estar relacionado à idade, mas também ao estresse, ao abuso do álcool e do cigarro”, além das frases idênticas ao anúncio anterior, demonstram a intenção do produtor da mensagem para a solução do problema: a cura da doença, através do uso do medicamento (do laboratório anunciado), indicado pelo médico durante o tratamento. Quanto à estratégia mercadológica, utiliza implicitamente a doença (causa) para vender a cura (medicamento), baseada em princípios de promoção de vendas: Implicitamente, envolve sempre atividades de coordenação de esforços, objetivando o fim determinado da consecução e realização das vendas em si. Diferencia-se das vendas pessoais e, portanto, do vendedor, por se tratar de uma técnica para favorecer as vendas em massa e que objetiva o preparo sistemático para a venda em grande escala, a qual será decorrente de um planejamento de suas ações com as vendas, em estreita ligação com o campo da comunicação (Ferracciù : 1997, 9). Diferentemente dos tipos de promoção de vendas que geralmente estamos acostumados (distribuição de brindes/prêmios, sorteios, redução de preços, etc), a estratégia utilizada promove a venda do medicamento sem anunciá-lo explicitamente. Aliado ao anúncio, no qual a veiculação do medicamento aparece implicitamente (a legislação proíbe a veiculação de remédios que necessitam de prescrição médica, conforme mencionado anteriormente) há todo o suporte dos representantes do laboratório junto à classe médica, 10 com a distribuição de folhetos explicativos (para ser entregue ao paciente), onde a informação assemelha-se ao conteúdo do site da internet, (também inserido no anúncio impresso - www.pfizer.com.br) esclarecendo através do sistema de perguntas e respostas o que é a doença, em quais situações ela pode ocorrer, como prevenir e qual o tratamento mais adequado. No material de apoio – folheto – não há a veiculação do medicamento, somente o logotipo do laboratório. Anúncio 3. (Revista, 1999) Título: Se o desempenho sexual de seu parceiro não é satisfatório, fique sabendo que a partir de agora isso pode mudar. Texto: A questão da impotência já não assusta tanto nos dias de hoje. Mas isso só foi possível depois da descoberta de um tratamento revolucionário. Apesar disso, muitas mulheres continuam relacionando o desempenho sexual de seu parceiro com a idade. O que muita gente não sabe é que este problema pode atingir qualquer um e pode estar relacionado a vários fatores. Por isso, incentive seu parceiro a procurar um médico. O relacionamento sexual faz parte de uma vida mais saudável. A saúde sexual é importante para a qualidade de vida. Procure um médico. Imagem: do lado direito do anúncio, a atriz Eva Wilma, sentada em um banco, com o fundo desfocado. O anúncio é colorido, e o título encontra-se na parte superior esquerda, com letras brancas. A imagem principal está emoldurada em um fundo branco, sendo que, embaixo da fotografia que compõe a imagem principal há a identificação da atriz (legenda). Ainda na fotografia, estão presentes na parte inferior, os logotipos do projeto sexualidade com o telefone, do Instituto Kaplan com o telefone e da Sociedade Brasileira de Urologia. O logotipo da empresa vem logo abaixo da fotografia, acompanhado do slogan: “trabalhamos pela vida”, seguido do endereço eletrônico do laboratório: www.pfizer.com.br. Após o logotipo, vem o texto do anúncio. Análise: a estratégia mercadológica utilizada neste anúncio trabalhou com o testemunhal de uma figura conhecida nos meios de comunicação de massa, uma vez que à época da veiculação, a atriz Eva Wilma protagonizava um seriado com temática da medicina – 11 Mulher - no qual interpretava uma médica, com princípios éticos politicamente corretos. Este tipo de anúncio é conhecido em propaganda como “testemunhal”: (...) gente famosa de novela, que você conhece tanto (e que justificam até revistas especializadas em falar da vida pessoal de cada um), agora aparecem de repente de frente para você, querendo convencer, numa página inteira de revista (...) O poder visual da persuasão de um ídolo é enorme. Porém já é imenso o poder de qualquer pessoa, com seu retrato real, vivo, prestando-se a uma idéia, trabalhando em prol de um objetivo (BARRETO, 1982, 193-194). Além do testemunhal da atriz Eva Wilma, a estratégia utiliza o conceito dos anúncios anteriores: utiliza implicitamente a doença (causa) para vender a cura (medicamento), baseada em princípios de promoção de vendas. Os recursos utilizados pela linguagem da propaganda visam persuadir o destinatário da mensagem, o possível consumidor, principalmente. Analisando a linguagem verbal e não verbal da peça publicitária, pode-se perceber que o anúncio é dirigido ao público feminino, principalmente por causa do testemunhal da atriz que à época da veiculação (como mencionado anteriormente) interpretava como personagem uma médica ginecologista. Anúncio 4. (Revista, 1999) Título: É preciso um pouco de coragem para enfrentar o problema da impotência. Mas para tudo que vale a pena, é preciso um pouco de coragem. Texto: Milhares de pessoas no mundo estão se beneficiando com um tratamento inovador. Eles descobriram que, para melhorar o desempenho sexual, basta consultar um médico. O que assusta ainda é que o preconceito acaba desencorajando muita gente na hora de procurar o tratamento. Se você pensar bem, vai perceber que é mais fácil se tratar do que conviver com o problema. A saúde sexual é importante para a qualidade de vida. Procure um médico. Imagem: Como se fosse uma moldura, este anúncio traz a fotografia de um médico (identificação como legenda: Dr. Osmar de Oliveira: Médico e Jornalista) do lado direito da foto, em pé, com os braços cruzados, vestido com um avental branco, e o fundo azul desfocado. As letras do título estão alinhadas à esquerda do anúncio na parte superior e, na parte inferior da fotografia, antes do texto, aparecem os logotipos do projeto sexualidade 12 com o telefone, do Instituto Kaplan com o telefone e da Sociedade Brasileira de Urologia. O logotipo da empresa farmacêutica vem logo abaixo da fotografia, acompanhado do slogan: “trabalhamos pela vida”, seguido do endereço eletrônico do laboratório: www.pfizer.com.br. Após o logotipo, vem o texto do anúncio. Análise: Neste anúncio o conceito de criação foi o mesmo utilizado no anúncio que trazia a atriz Eva Wilma como testemunhal, com um agravante de agora, estar inserindo o argumento de autoridade na linguagem verbal, uma vez que, o personagem do anúncio é identificado como médico e jornalista. A difícil tarefa de vender sem dizer o que, apoiada pela coerência e coesão da linguagem verbal com a não-verbal, podem levar o leitor à conclusão de que a opinião médica é a única alternativa correta, incluindo-se aí, a veiculação implícita do medicamento fabricado pela Pfizer. O fato do Doutor estar com os braços cruzados, pode levar também à idéia de que se você (o receptor) não quer se tratar, devido a preconceitos, o médico não pode fazer mais nada. A linguagem tanto verbal como não-verbal apresenta-se como ação: “(...) se a nossa concepção de linguagem é correta, (...) uma teoria da linguagem é parte de uma teoria da ação, simplesmente porque falar é uma forma de comportamento regida por regras”. (SEARLE, 1995). Após a análise do anúncio, percebe-se que o subentendido está presente no que “não” se diz e, a linguagem, se constitui de atos: locucionários – o conteúdo proposicional; ilocucionários - intenção subjacente ao conteúdo proposicional, que é percebido através da imagem (linguagem não verbal), na qual um médico devidamente uniformizado com seu avental branco e aparentando seriedade aliada à experiência (até pelo uso da frase: “Mas para tudo que vale a pena, é preciso um pouco de coragem”) está com os braços cruzados, como quem diz: se você não procurar um médico, não ficará curado da impotência). e, através do texto verbal aliado ao não-verbal, pode-se perceber o ato perlocucionário (o efeito que se pretende sobre o interlocutor) nas frases: “Milhares de pessoas no mundo estão se beneficiando com um tratamento inovador”, “Elas descobriram que, para melhorar 13 o desempenho sexual, basta consultar um médico” e “A saúde sexual é importante para a qualidade de vida. Procure um médico”. Anúncio 5. (Comercial para TV, 2000) Título: Ele tem artrite Transcrição da locução: Milhares de pessoas vão acabar perdendo seus movimentos por não levarem a sério as dores nas suas articulações. Procure um médico. As doenças reumáticas já têm tratamento específico. Celebre o prazer de viver. Background: som de saxofone ao fundo. Imagem: figuras sendo formadas com as mãos através do jogo de luz e sombra, como uma brincadeira de criança que imita a fisionomia de animais através de sombras. Dos animais, passa-se à silueta de um casal (também num jogo de luz e sombra) que se abraça e se movimenta bastante, sendo substituído por uma cena em fusão já do rapaz esticando as mãos entrelaçadas e os braços para frente, colocando-os sob a testa e estampando um sorriso. Análise: O comercial de TV utiliza todos os recursos possíveis e a sua interação das linguagens – som e imagem. As imagens que se formam nas sombras sugerem pessoas que são capazes de realizar movimentos, sem restrições. Em nenhum momento, o nome do laboratório é mencionado, nem mesmo na assinatura (identificação do anunciante). Porém, no final da locução: “Celebre o prazer de viver” há o uso de um recurso fonológico chamado de paronomásia: formação de palavra tirada de outra com pequena modificação; sons parecidos mas sentidos diferentes (SANDMANN, 1993), pois o nome do medicamento fabricado pela Pfizer é Celebra, induzindo assim o receptor a uma sugestão do nome do remédio. A estratégia utilizada nos anúncios anteriores se mantêm, a venda da cura (medicamento da indústria farmacêutica) através do anúncio da doença. O ato locucionário (conteúdo proposicional, o que é dito) fica exposto na locução: “Milhares de pessoas vão 14 acabar perdendo seus movimentos por não levarem a sério as dores nas suas articulações. As doenças reumáticas já têm tratamento específico”. O ato ilocucionário (intenção subjacente ao conteúdo proposicional) é percebido através linguagem não verbal que apresenta claramente a simulação, através das sombras, de pessoas que não têm problemas nas articulações. Através do texto verbal, (aliado à imagem final: rapaz esticando as mãos entrelaçadas e os braços para frente, colocando-os sob a testa e estampando um sorriso) pode-se perceber o ato perlocucionário (o efeito que se pretende sobre o interlocutor) nas frases: “Milhares de pessoas vão acabar perdendo seus movimentos por não levarem a sério as dores nas suas articulações. Procure um médico. As doenças reumáticas já têm tratamento específico. Celebre o prazer de viver”. Anúncio 6. (Revista , 2000) Título: Ela tem reumatismo. Texto: (acompanha a mesma estratégia do texto utilizada na veiculação em TV). Milhares de pessoas vão acabar perdendo seus movimentos por não levarem a sério as dores nas suas articulações. Procure um médico. As doenças reumáticas já têm tratamento específico. Celebre o prazer de viver. Imagem: uma mulher que ocupa a maior parte da peça, sorridente e disposta em uma posição que sugere não ter problemas para dobrar os braços e as mãos. O fundo verde contrasta com a imagem da mulher que tem uma sombra do seu lado esquerdo e onde o título está escrito em letras brancas, acompanhando o movimento da silueta do braço e ombro. O texto vem na parte inferior do anúncio de página dupla) seguido pelos logotipos da empresa farmacêutica e associações que dão credibilidade ao anúncio. Análise: Esta peça analisada fazia parte da campanha do medicamento Celebra (celecoxib), na qual foram veiculados anúncios para televisão e revista. A série de quatro anúncios tanto para TV quanto para revista trazia como personagens duas mulheres e dois homens sempre representados com expressões felizes e sugerindo a realização de movimentos que uma pessoa com artrite não poderia estar realizando. É relevante ressaltar que os fundos dos layouts dos anúncios (mídia impressa e eletrônica) eram compostos pelas cores: vermelho, 15 verde, azul escuro e amarelo, sendo que, estas cores estão presentes na embalagem do medicamento. (...) o uso adequado da luz, cor, aroma, sabor, cheiros, sons, odores, temperatura, etc., atingem positiva ou negativamente, nossa audição, paladar, olfato, tato, dandonos as mais diferentes vibrações e sensações. O conjunto desses elementos constituem-se em influxos sugestivos que auxiliam na persuasão e motivação de compras. A cor constitui-se em uma linguagem rica em códigos, estabelecendo uma ponte entre o racional e o emocional do ser humano (...) (Ferracciù : 1997, 53). Os títulos dos anúncios sugerem também movimento, proporcionando assim, além de um aspecto (orto)gráfico diferenciado, ritmo à peça e visando levar o receptor à conclusão que, procurando o médico, poderia tornar-se tão feliz quanto os personagens representados nos anúncios. As peças impressas para revista seguiram o conceito de criação apresentado, primeiramente na televisão, criando assim uma familiaridade com o receptor na hora em que este observasse os anúncios veiculados em revista. A agência de propaganda responsável pela conta da Pfizer utiliza a estratégia apontada nos anúncios anteriores para todos os medicamentos proibidos pela legislação de serem veiculados em meios de comunicação no Brasil. Assim, desde medicamentos para impotência como medicamentos para reumatismo, têm na sua veiculação a intenção de fazer a comunicação com o consumidor comum, na qual não se apresenta o produto, mas se discute a doença, utilizando para isto, uma linguagem simples e direta. Procure seu médico e descubra o tratamento adequado é a cura sugerida por estes anúncios que, na realidade, trazem implícita a veiculação comercial do medicamento que será utilizado no tratamento. Anúncio 7. (Revista Isto é, março de 2001) Título: Muitos homens sofrem de Dificuldade de Ereção. Outros preferem resolver. Texto: Muita gente acabou redescobrindo a vida sexual. Isso porque entenderam que as Dificuldades de Ereção podem comprometer o relacionamento afetivo, o trabalho e a autoconfiança, mesmo nos casos mais leves. Se você está insatisfeito com suas ereções, consulte seu médico. Há mais de dois anos surgiu um tratamento revolucionário que tem 16 mudado a vida de muitos casais. Não vale a pena perder uma das boas coisas que a vida por falta de atitude. Você também pode ter uma vida sexual melhor. Fale com seu médico. Imagem: um casal abraçado e o homem beija a mulher no rosto. Esta imagem está localizada no lado esquerdo do anúncio, com o texto inserido do lado direito. Na parte inferior do anúncio no lado esquerdo, aparecem três quadros com imagens de casais felizes e sugerindo que irão realizar o ato sexual, pois no primeiro quadro aparece a tradicional imagem do noivo carregando a noiva; no segundo quadro um casal de braços dados caminhando (sugerindo uma saída noturna) e no último quadro já um plano de enquadramento da cintura para cima, com a figura de um casal feliz, um de frente para o outro. Abaixo desses três quadros, o endereço eletrônico: www.dificuldadesdeerecao.com.br, que até então nos anúncios de anos anteriores não aparecia. No lado direito, após o texto mencionado acima aparecem os logotipos do Instituto Kaplan, Projeto Sexualidade, Sociedade Brasileira de Urologia e da empresa Pfizer. O slogan da empresa farmacêutica: trabalhamos pela vida, localizado abaixo do logotipo vem seguido do endereço eletrônico: www.pfizer.com.br. Ainda na parte inferior do anúncio e como se fosse um rodapé, aparece a frase escrita em letras brancas sobre um fundo azul: Você também pode ter uma vida sexual melhor. Fale com seu médico. Análise: Esta peça volta a anunciar o medicamento para impotência sexual fabricado pela Pfizer, mas o conceito de criação anteriormente trabalhado é revisitado, inserindo no contexto da peça publicitária casais, sempre felizes e supostamente preparados para uma relação sexual. Esta peça fazia parte de uma série de anúncios de mídia impressa onde casais de várias idades e raças são representados. Vale lembrar que nos primeiros anúncios as imagens utilizadas traziam sempre a figura masculina com expressões tristes; depois numa segunda fase aparecem anúncios testemunhais sendo alguns dirigidos ao público feminino e nesta terceira fase casais felizes. Neste ano de 2001, a Pfizer voltou a utilizar o testemunhal, com a figura do ator Evandro Mesquita. O uso do imperativo “Procure seu médico”, é substituído por “Fale com seu médico” sugerindo até uma proximidade maior e humanização da medicina na relação médico-paciente e, exemplifica o que Searle (1995) classificou como Ato Perlocucionário 17 Diretivo, onde há a intenção de produzir uma ação no interlocutor, direcionado pelo locutor da mensagem: falar com seu médico para que possa iniciar o tratamento com o medicamento do laboratório indicado no anúncio (logotipo). O referencial teórico aplicado aos anúncios anteriores é o mesmo a ser aplicado neste anúncio, destacando-se no ato ilocucionário, as imagens (linguagem não-verbal) de casais com expressões de felicidade e sugerindo preliminares para o ato sexual. No ato perlocucionário, a utlização das frases: “Muitos homens sofrem de Dificuldades de Ereção. Outros preferem resolver”, além das frases no texto verbal que demonstram a intenção do produtor da mensagem para a solução do problema: a cura da doença, através do uso do medicamento (do laboratório anunciado), indicado pelo médico durante o tratamento. No título do anúncio as palavras Dificuldade e Ereção são escritas com letra maiúscula visando assim, destacar o assunto do anúncio (ato locucionário), em contraste com as imagens apresentadas. Com relação às cores utilizadas na composição do anúncio, estas são mais vibrantes que as dos anúncios dos anos anteriores, uma vez que o conceito antes utilizado foi alterado, sendo a intencionalidade desta série de anúncios, construir no imaginário do receptor uma cena de ação direta – a prática do ato sexual. Anúncio 8. (Revista Época, julho de 2001) Título: Nós desenvolvemos medicamentos inovadores para o tratamento da artrite reumatóide. Para que mesmo as pessoas com artrite reumatóide possam aproveitar os momentos que mexem com a gente. Texto: Todo mundo quer viver a vida livremente. Infelizmente, para mais de 5 milhões de pessoas no mundo, isso simplesmente não é possível. Movimentos simples, que a maioria de nós nem percebemos, são para elas bastante dolorosos. Elas sofrem de artrite reumatóide. Na Aventis, uma das empresas farmacêuticas líderes mundiais, nossos cientistas estão associando seus profundos conhecimentos a novas tecnologias para desenvolver tratamentos anti-reumáticos mais inovadores. Um de nossos objetivos mais importantes é lutar contra as causas da artrite reumatóide, não apenas seus sintomas. Para que as pessoas sejam livres para aproveitar todos os momentos que mexam com elas. 18 As ações da Aventis, Estrasburgo (França), são negociadas nas bolsas de Paris, Frankfurt e Nova York. www.aventis.com (corpo da letra menor). Imagem: uma mulher com expressão de felicidade tocando violino na maior parte do anúncio de página dupla. O Título, o texto e o logotipo junto com o slogan (assinatura) estão inseridos na parte superior do anúncio. O fundo tem um tom de verde claro, branco e cinza claro. Slogan: Nosso desafio é a vida. Análise: A indústria farmacêutica Aventis apropriou-se da mesma estratégia utilizada pela Pfizer, mas desde o título deixa claro o vínculo com o medicamento. Apresenta o lugar de quantidade (Abreu, 1999) na frase: “...para mais de 5 milhões de pessoas no mundo, isso simplesmente não é possível”. O argumento de autoridade (Citelli, 1994) encontra-se em: “...nossos cientistas estão associando seus profundos conhecimentos a novas tecnologias para desenvolver tratamentos anti-reumáticos mais inovadores”. Tanto o apelo emocional quanto o racional encontram-se presentes neste anúncio e os recursos argumentativos utilizados visam convencer e persuadir o receptor da mensagem. Apesar de utilizar a mesma estratégia – anunciar a doença para a venda da cura, o implícito deixa de existir nesta peça, expondo claramente que para esta doença existe medicamento apropriado e ainda, testado cientificamente, fabricado pelo laboratório anunciante. O discurso traz já na primeira linha da mensagem verbal o assunto principal (ato locucionário): “Nós desenvolvemos medicamentos inovadores para o tratamento da artrite reumatóide”. O ato ilocucionário (intenção subjacente ao conteúdo proposicional) é percebido através da imagem (linguagem não verbal) que apresenta uma mulher realizando movimentos que não seriam possíveis caso ela tivesse reumatismo. O ato perlocucionário (o efeito que se pretende sobre o interlocutor) pode ser percebido pela frase: “Para que as pessoas sejam livres para aproveitar todos os momentos que mexam com elas”, ligado diretamente com linguagem não verbal onde há contextualização da música como arte e esta, como um fator que mexe com o ser humano. 19 CONCLUSÃO Este trabalho procurou levar à reflexão sobre o uso da linguagem, especificamente o da linguagem publicitária. A análise sobre a produção de anúncios que envolvam o marketing das indústrias farmacêuticas, nos quais as doenças são abordadas como principal fonte de composição, pode levar à conclusão de que a linguagem publicitária é utilizada de maneira a escrever nas entrelinhas e, aliada à estratégia mercadológica adotada junto a classe médica, torna-se uma poderosa ferramenta de persuasão, mesmo quando o produto não está exposto claramente. Não se procurou questionar o certo ou errado quanto à utilização da linguagem publicitária neste tipo de anúncio, mas sim, demonstrar como recursos podem ser utilizados para driblar a legislação e ainda criar novas formas de comunicação. Além de apresentar como existem maneiras de se produzir mensagens publicitárias sem expor diretamente o produto, procurou-se também expor os prós e os contras da legislação e a opinião dos produtores das mensagens, afim de confrontar teoria e prática sobre a veiculação de medicamentos. Uma das questões que fica para reflexão, diz respeito à interação do consumidor com estes anúncios. Outra questão para reflexão é sobre a criação de uma legislação que não pensou nos possíveis recursos que a linguagem pode utilizar, restringindo-se apenas ao visível. Assim, a intencionalidade presente nas entrelinhas, em nenhum momento, foi pensada e pode sugerir que: “Talvez a linguagem que diz mais seja, afinal de contas, a que diz menos”. 20 BIBLIOGRAFIA ABREU, Antonio Suàrez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. Cotia/SP : Ateliê, 1999. BARRETO, Roberto Menna. Criatividade em Propaganda. São Paulo : Summus, 1982. CITELLI, Adilson. O texto argumentativo. São Paulo : Scipione, 1994. FERRACCIÙ, João de Simoni Soderini. Promoção de vendas. São Paulo : Makron Books, 1997. KOCH, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 1995. SEARLE, John. Expressão e Significado. São Paulo : Martins Fontes, 1995. SANDMANN, Antonio. A linguagem da Propaganda. São Paulo : Contexto, 1993. Gazeta Mercantil - Página C9/ 03.07.2000 - Daniele Madureira < http://www.hospitalar.com/midia/midia3.htm> Copyright© 1996 - 2000 Hospitalar. Folha de S.Paulo – Página C1/ 16.10.2000 – Lissandra Paraguassú i CONAR – Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária. Órgão oficial que regulamenta e fiscaliza a publicidade e propaganda produzida no país. ii ABIFARMA – Associação Brasileira da indústria Famacêutica. iii ANVS – Agência Nacional de Vigilância Sanitária