TRATAMENTO COMBINADO DE LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO E ESGOTO DOMÉSTICO POR LODOS ATIVADOS Alexandre Lioi Nascentes, UFRRJ Juacyara Carbonelli Campos, UFRJ João Alberto Ferreira, UERJ Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos UFRJ Lixiviado DEGRADAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM UM ATERRO DISSOLUÇÃO BIOCONVERSÃO CARREAMENTO http://www.terambiental.net/blog-da-tera-ambiental/?Tag=chorume - Elevada concentração de substâncias orgânicas e inorgânicas; - Composição bastante complexa e variável; - Composição depende: - características dos resíduos depositados; - condições ambientais; - forma de operação do aterro; - dinâmica dos processos de decomposição que ocorrem no interior das células. Lixiviado o O tratamento ideal de lixiviado de aterro sanitário, com o intuito de se reduzir os impactos negativos sobre o meio ambiente, ainda é um desafio. o A complexidade e variabilidade da composição desse efluente tornam ainda mais difícil a tentativa de se estabelecer recomendações gerais. o Em geral, nenhum tratamento consegue isoladamente tratar o lixiviado de forma adequada para alcançar os padrões de lançamento exigidos. Tratamento combinado de lixiviado em ETE o Definição: Dosagem controlada do lixiviado no afluente ETE, devendo resultar em um efluente tratado que atenda aos padrões legais de lançamento. o Amplamente utilizada nos Estados Unidos, Japão e Europa. o São Paulo o Aterro de Sabará (CTR Macaúbas - MG) que recebe o resíduo de BH faz o cotratamento do lixiviado na ETE Onça e Arrudas, da Copasa. o ETE de Icaraí recebe de alguns aterros (INEA limita a 600 m³/dia para lixiviado) o Aterro Dois Arcos (São Pedro da Aldeia – RJ) envia para cotratamento em ETE São Pedro Tratamento combinado de lixiviado em ETE o Algumas questões permanecem o ??? Efeitos no processo biológico existente na ETE?? o ??? Efeitos na operação da ETE?? o ?? % de mistura ideal ??? Objetivos Objetivos • Avaliar a eficiência de remoção de matéria orgânica do processo de lodos ativados para diferentes TRH e diferentes misturas lixiviado/esgoto; • Avaliar a toxicidade do efluente bruto e tratado, utilizando para tal os organismos Danio rerio, Vibrio fischeri (Microtox®) ; • Verificar a influência da presença do lixiviado sobre as características da biomassa, através de microscopia óptica; • Avaliar a eficiência do processo de lodos ativados com adição de carvão ativado em pó (PACT®) no tratamento combinado. Material e Métodos Reatores Contínuos Material e Métodos Reatores Contínuos Material e Métodos Reatores Contínuos Composição do esgoto sintético Componentes Peptonas de caseína Extrato de carne Ureia Fosfato monobásico de potássio Cloreto de sódio Cloreto de cálcio di-hidratado Sulfato de magnésio hepta-hidratado Concentração (mg/L) 360 250 100 26 14 8 4 Fonte: adaptado de Reis (2007) e Holler e Trösch (2001) Caracterização do esgoto sintético e faixas usuais de para esgoto doméstico Parâmetro DQO pH Cloreto Nitrogênio amoniacal Fósforo Total Abs. 254 nm *Fonte: Von Sperling (1996a) Unidade mg/L mg/L mg/L mg/L Abs Resultado 672 Faixas usuais* 450 - 800 7,2 21,5 30,5 9,9 1,2202 6,7 - 8,0 20 - 35 4 - 15 - Material e Métodos Etapa 1 (Reatores Contínuos) Mistura Lixiviado/Esgoto • 0% • 0,5% • 2% • 5% TRH • 4h • 8 h (Convencional) • 16 h • 23 h (Aeração Prolongada). Fase 1.1.1 1.1.2 1.1.3 1.1.4 1.2.1 1.2.2 1.2.3 1.2.4 1.3.1 1.3.2 1.3.3 1.3.4 Reator Mistura (%) TRH (h) Idade do Lodo (d) R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 0,5 0 0,5 0 0,5 0 0,5 0 2 0 2 0 2 0 2 0 5 0 5 0 5 0 5 0 23 23 16 16 8 8 4 4 23 23 16 16 8 8 4 4 23 23 16 16 8 8 4 4 28 28 14 14 7 7 3 3 28 28 14 14 7 7 3 3 28 28 14 14 7 7 3 3 Tempo de Operação (d) 28 14 14 14 14 28 14 14 14 14 14 14 Material e Métodos Etapa 2 (Reatores Contínuos) Mistura Lixiviado/Esgoto • 0% • 2% • 3% Fases 2.1.1 2.1.2 2.2.1 2.2.2 TRH • 8 h (Convencional) • 23 h (Aeração Prolongada) Reatores Mistura TRH (h) R1 R2 R1 R2 R1 R2 R1 R2 2% 0% 3% 0% 2% 0% 3% 0% 23 23 23 23 8 8 8 8 Tempo de Operação (d) 108 60 44 44 Material e Métodos Etapa 3 (Processo PACT®) • Carvão Carbomafra (Origem Vegetal) • Misturas Lixiviado/Esgoto 2% Tempo de Residência 23 h • Idade de Lodo 28 d • Xca=1.400 mgCAP/L • Xci = 50 mgCAP/L Material e Métodos Ensaios de Toxicidade Danio rerio Peixe de água doce que se enquadra bem como organismo-teste por apresentar sensibilidade a substâncias tóxicas, tamanho adequado para testes, ser uma espécie bastante conhecida e estudada, apresentar baixa susceptibilidade à doenças, reproduzir-se em laboratório, ser facilmente adquirido no comércio e estar disponível em abundância durante todo o ano. Vibrio fischeri (Microtox®) Ensaio padronizado, no qual são utilizadas as bactérias marinhas bioluminescentes Vibrio fischeri. Durante o ensaio as bactérias são expostas a diferentes diluições da amostra e o efeito tóxico é expresso em valores de CE50, concentração para a qual 50% da luminescência é perdida. Resultados e Discussão Etapa 1 (Reatores Contínuos) Caracterização do lixiviado utilizado na Etapa 1 Parâmetro Unidade Resultado pH 8,0 DQO mg/L 3267 DBO mg/L 153 COT mg/L 1112,5 DBO/DQO 0,047 Nitrogênio amoniacal mg/L 538 SST SSV Turbidez Alcalinidade Cloretos ABS254 Ca* B* Cu* Fe* Mn* Zn* Cr* Co* Ni* Al* Cd* Pb* mg/L mg/L uT mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L 560 530 164,7 10390 3566 22,7 170 16,4 ND 19,5 2,17 ND ND ND ND 70,9 ND ND ND: abaixo do limite de detecção da técnica utilizada *Determinação Elementar por ICP-OES na Embrapa Solos Resultados e Discussão Etapa 1 (Reatores Contínuos) Resultados e Discussão Etapa 1 (Reatores Contínuos) Resultados e Discussão Etapa 1 (Reatores Contínuos) Resultados e Discussão Etapa 1 (Reatores Contínuos) Faixa recomendável: 50-150 mL/g (von Sperling, 1997) Resultados e Discussão Etapa 1 (Reatores Contínuos) Toxicidade aguda ao organismo Danio rerio Mistura lixiviado/esgoto CL50 (%) Bruto UTa Bruto CL50 (%) Tratado UTa Tratado 0% 0,5% 2% 5% 100% 70,7 70,7 65,9 35,4 <2 1,4 1,4 1,5 2,8 >50 95,4 77,1 66,1 47,7 1 1,3 1,5 2,1 ** * Neste ensaio, todos os 10 indivíduos já estavam mortos antes do primeiro instante de observação. ** Não houve ensaio com Danio rerio para lixiviado tratado Resultados e Discussão Resultados do Ensaio com Microtox® Mistura lixiviado/esgoto (%) zero (esgoto) 0,5 2,0 CE50 (%) Bruto UTa Bruto CE50 (%) Tratado UTa Tratado ND ND ND ND ND ND ND - ** ** 5,0 ND - 100 (lixiviado) 14,3 6,5 Avaliação da microfauna presente nos reatores Presença de Organismos 0,5% 2% 5% TRH (h) Organismos 23 Bactérias Livres Bactérias Filamentosas Protozoários Amebóides Protozoários Ciliados Livres Protozoários Ciliados Pedunculados Protozoários Ciliados Suctórias Fungos Metazoários Rotíferos Metazoários Nematóides B B A D C B A D B C C B C D A A A A C C B C D B A C A C C B B C A C D A 16 Bactérias Livres Bactérias Filamentosas Protozoários Amebóides Protozoários Ciliados Livres Protozoários Ciliados Pedunculados Protozoários Ciliados Suctórias Fungos Metazoários Rotíferos Metazoários Nematóides C D B D D B D C A C C B C D A B C A D F B D D B D C A C D B D B B D B A 8 Bactérias Livres Bactérias Filamentosas Protozoários Amebóides Protozoários Ciliados Livres Protozoários Ciliados Pedunculados Protozoários Ciliados Suctórias Fungos Metazoários Rotíferos Metazoários Nematóides C E D D F B A D A E E E C F C A C A E C D E F C A D A C D D D D B A C A 4 0% Bactérias Livres C C E E Bactérias Filamentosas E E E D Protozoários Amebóides E E D D Protozoários Ciliados Livres D C D D Protozoários Ciliados Pedunculados F F E D Protozoários Ciliados Suctórias B A B B Fungos C B A A Metazoários Rotíferos C E E B Metazoários Nematóides A A A A Legenda: (A) nenhum (B) poucos (C) comum (D) muito comum (E) abundante (F) excessivo o Constatou-se com relação à microfauna, que no momento em que foi inserido o lixiviado no sistema, houve a predominância de protozoários ciliados livres, do gênero Paramecium sp. Entretanto, este quadro mudou uma vez que os organismos foram se adaptando ao meio imposto. o Para o TRH de 23 h, o aumento da concentração de lixiviado teve relação com uma leve tendência de aumento de bactérias livres Resultados e Discussão Etapa 1 (Reatores Contínuos) Metazoários rotíferos observados em reatores com TRH 23 h: (a) gênero Rotaria em R2 (0%); (b) gênero Epiphanes em R1 (5%). Resultados e Discussão Etapa 1 (Reatores Contínuos) Protozoários ciliados pedunculados observados nos reatores com TRH de 16 h: (a) gêneros Opercularia sp e Vorticella sp em R2 (0%); (b) gênero Vorticella sp em R2 (0%); (c) gênero Vorticella sp em R1 (0,5%); (d) espécie Opercularia coarctata em R1 (0,5%) Resultados e Discussão Etapa 2 (Reatores Contínuos) 8h DQO afluente e efluente aos reatores R1 e R2 ao longo do tempo 8h Resultados e Discussão Etapa 2 (Reatores Contínuos) 8h Eficiência de remoção de DQO nos reatores R1 e R2 ao longo do tempo 8h Resultados e Discussão Etapa 2 (Reatores Contínuos) Valores médios de DQO afluente, DQO efluente e eficiências de remoção TRH 8h (Convencional) Afluente 8h (Convencional) Efluente 8h (Convencional) Eficiência 23 h (Aeração Prolongada) Afluente 23 h (Aeração Prolongada) Efluente 23h (Aeração Prolongada) Eficiência 0% 649,8 87,6 86,5% 658,6 37,0 94,4% DQO (mg/L) 2% 686,1 128,2 81,3% 707,7 84,3 88,1% 3% 747,9 160,7 78,5% 722,6 114,7 85,1% Resultados e Discussão Na ETE São Pedro 100 90 Eficiência de Remoção de DBO (%) 80 70 60 Mistura Lixiviado/ Esgoto (%) 1,5 50 DBO afluente (mg/L) DBO efluente (mg/L) 161 18,2 Remoção de DBO (%) 87,8 40 30 20 10 0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Mistura Lixiviado/Esgoto (%) Resultados e Discussão Ferraz et al (2014) – Biofiltro aeróbio – TRH = 24h Mistura lixiviado: esgoto 2% Método proposto para avaliação de matéria orgânica para substâncias húmicas concluíram que houve degradação parcial dessas substâncias (71%) Houve degradação e não apenas diluição. Resultados e Discussão Etapa 3 (Processo PACT®) Valores médios da caracterização da alimentação da Etapa 3 Parâmetro DQO (mg/L) pH Condutividade (S/cm) Cor (uH) Turbidez (uT) Resultado 696,7 7,42 921,7 401,4 70 Resultados de DQO, cor e turbidez no efluente tratado Parâmetro DQO (mg/L) Remoção de DQO Cor (uH) Remoção de Cor Turbidez (uT) Remoção de Turbidez R1 (PACT®) 108,1 84,5% 83,0 79,3% 19,4 72,3% R2 (Lodos Ativados) 167,5 76,0% 182,3 54,6% 22,2 68,3% Resultados de OUR, SSV e SOUR em R1 e em R2 Parâmetro OUR (mg/L.h) SSV (mg/L) SOUR (mg/h.gSSV) R1 (PACT®) 24,6 1790 13,7 R2 (Lodos Ativados) 17,8 1740 10,2 Conclusões O tratamento combinado demonstrou ser uma alternativa plenamente viável para o tratamento do lixiviado nas misturas avaliadas, tendo-se encontrado melhores resultados para lodos ativados aeração prolongada. Nas condições deste trabalho, a operação na modalidade aeração prolongada (TRH = 23 h) e mistura máxima de 3 % gerou os melhores resultados. A faixa ideal de mistura é de até 3%. Verificou-se, no entanto, que é possível o tratamento de misturas até 5%, mas com redução da eficiência, devendo-se verificar os critérios legais de lançamento de efluentes para que se decida pontualmente sobre a viabilidade técnica da adoção de misturas maiores que 3%. Conclusões O lixiviado bruto apresentou toxicidade extremamente alta ao organismo Danio rerio (CL50=0%). Entretanto, as misturas de 0,5%, 2% e 5%, tanto brutas quanto tratadas, atenderam à legislação ambiental do Estado do Rio de Janeiro. Para o organismo Vibrio fischeri, o lixiviado bruto apresentou uma CE50 de 14,3%. Nenhuma das misturas, brutas ou tratadas, apresentaram efeito tóxico a este organismo-teste. O desempenho do PACT®, para mistura de 2%, com TRH de 23 h e 1,4 gCAP/L, foi superior ao reator de lodos ativados, quanto à remoção de cor, turbidez e de DQO. Obrigada! Juacyara C. Campos [email protected]