Teo. 9 - Capacitância S.J.Troise 9.1 Introdução Uma das importantes aplicações da Eletrostática é a possibilidade de construir dispositivos que permitem o armazenamento de cargas elétricas. Esses dispositivos são chamados capacitores cuja medida é chamada capacitância. Para entender os capacitores consideremos dois condutores isolados, separados por um meio isolante, inicialmente descarregados o que implica que não existe ddp entre eles. Suponhamos agora que entre esses dois condutores seja aplicada uma diferença de potencial V a qual provocará o aparecimento de uma corrente elétrica entre os dois condutores que persistirá até que a diferença de potencial entre os condutores seja igual à aplicada. Lembrando que corrente elétrica é deslocamento de elétrons, cada um dois condutores passa a apresentar cargas iguais em medida porém de sinais contrários. Figura 9-1 Por definição chama-se capacitância ou capacidade do sistema à relação entre a carga que se deposita no sistema e a ddp aplicada, ou seja C = Q V Equação 9-1 Coulomb C = = Farad = F . Na prática usam-se submúltiplos desta Volt V cuja unidade é unidade, conforme tabela: mF miliFarad 1 / 103 Farad µF microFarad 1 / 106 Farad nF nanoFarad 1 / 10 9 Farad µµF = pF 1 / 1012 Farad micromicroFarad ou picoFarad Os capacitores são representados pelo símbolo 9.1.1 Exercícios 9.1.1.1 ( ) Aplica-se uma diferença de potencial de 10V sobre um capacitor de capacidade armazenada. 22pF . Calcule a carga por ele Resp: 9.1.1.2 ( ) Qual a diferença de potencial que deve ser aplicada sobre um capacitor de de 100µF para que ele adquira uma carga 20µC ? Resp: 9.1.1.3 ( ) Aplicando-se uma diferença de potencial de 35V sobre um capacitor observa-se que a carga sobre ele armazenada é de 135µC . Calcule a capacitância do capacitor. Resp: 5/6/2005 Teo-09-2005.doc Página 1 de 9 Introdução à Eletricidade S.J.Troise 9.2 Capacitores planos paralelos Apliquemos a definição acima em um caso particular que consiste de dois condutores planos de área S separados de um material isolante de permissividade ε 0 de espessura d , tal que esta espessura seja pequena comparada com a área das placas. Figura 2 Aplicada uma diferença de potencial V , cada uma das placas adquirirá uma carga de cargas serão dadas por Q , tal que as densidades superficiais σ+ = Q+ S e Q− S σ− = Equação 9-2 sendo σ + = σ − = σ e, sendo as placas grandes, podemos considerar o vetor campo elétrico gerado por cada uma das placas normal a elas e dado por Existirão no interior das placas E+ = E = σ (vide capítulo 7). 2.ε0 dois campos elétricos gerados pelas duas placas σ+ σ− e E− = , de mesma intensidade e mesmo sentido de tal forma que o campo 2.ε0 2.ε0 resultante será E = E+ + E− = σ ε0 Observando agora que o vetor campo elétrico esta na direção do eixo x auxiliar, podemos escrever E = − V = B ∫ σ dV = que integrando: ε0 dx dV = VB − VA = A B ∫ A σ σ σ dx = ⋅ d ⋅ (x B − x A ) = ε0 ε0 ε0 Figura 3 Q S .d = Q.d ou ainda, Lembrando a definição da densidade superficial de cargas podemos escrever V = .S.ε0 ε0 lembrando a definição de capacitância dada pela Equação 9-3 teremos: C = 5/6/2005 ε ⋅S Q = 0 V d Teo-09-2005.doc Equação 9-4 Página 2 de 9 Introdução à Eletricidade S.J.Troise que é a expressão que permite calcular a capacitância de um sistema constituído de duas placas planas e paralelas. Observemos que essa capacitância aumenta com a área das placas e diminui com o aumento da separação entre elas bem como depende do material isolante que as separa através da sua permissividade. Observando a Equação 9.2-3 verifica-se que a capacitância do capacitor depende da permissividade do meio. Lembrando o que foi dito no força de interação entre corpos eletrizados capítulo 3, esta permissividade varia de meio para meio e é dada por ε = ε r ⋅ ε 0 . Assim, se o meio dielétrico não for o vácuo, a capacitância é dada por C = 9.2.1 ε ⋅ ε0 ⋅ S Q = r V d Exercícios 9.2.1.1 ( ) Calcule a capacitância de um capacitor de placas planas e paralelas de área 10cm2 separadas de uma distância de 1 mm supondo que o dielétrico seja: a) o vácuo, b) o ar, c) água, d) borracha, e) glicerina. Resp: 9.2.1.2 ( ) Deseja-se construir um capacitor de capacidade Calcule a área das placas a serem utilizadas. 2mF utilizando-se papel de espessura 2mm como meio dielétrico Resp: 9.2.1.3 ( ) Um capacitor, chamado cilíndrico. é constituído de dois condutores cilíndricos concêntricos, o maior oco de raio a e o menor, interno, de raio b. Calcule a capacitância do mesmo. Resp: 9.3 Associação de capacitores Em muitas aplicações práticas os capacitores são associados, tanto em série como em paralelo. Em ambas as situações temos interesse em conhecer a chamada capacitância equivalente, isto é, a capacidade de um capacitor que sozinho produz o mesmo efeito. O princípio básico que nos permite estudar estas associações, e portanto determinar a capacitância equivalente, é o princípio da conservação da carga, isto é, estando um sistema isolado a carga elétrica existente no mesmo se conserva. Lembremos que carga elétrica corresponde ao número de elétrons - eles não podem aparecer ou desaparecer. 9.3.1 Associação em paralelo Consideremos os dois capacitores de capacitâncias C1 e C 2 , inicialmente isolados e descarregados. Suponhamos então que eles sejam associados em paralelo e que sobre essa associação seja aplicada uma diferença de potencial V . Figura 9-4 Nestas condições, cada um dos capacitores adquirirá cargas elétricas resultantes da potencial V aplicado sobre eles. Portanto a carga adquirida por cada um deles pode ser calculada a partir da definição de capacitância, ou seja:. Q1 = C1 ⋅ V e Q 2 = C 2 ⋅ V Equação 9-5 Isto significa que, como resultado da associação uma carga total: Q = Q1 + Q 2 Equação 9-6 é armazenada pelo sistema. Procuremos a capacitância equivalente, isto é, aquela que sob a mesma diferença de potencial armazena esta carga. No capacitor equivalente deveremos ter: Q = C eq ⋅ V Equação 9-7 5/6/2005 Teo-09-2005.doc Página 3 de 9 Introdução à Eletricidade S.J.Troise Figura 9-5 Substituindo as relações dadas pela Equação 9-3-1 na Equação 9-3-3 podemos escrever: Q = C1 ⋅ V + C2 ⋅ V Q = (C1 + C2 ) ⋅ V ou Equação 9-8 Comparando com a Equação 9-3-5 concluímos que: Ceq = C1 + C2 Equação 9-9 Ou seja, quando capacitores são associados em paralelo, a capacitância equivalente da associação é a soma das capacitâncias associadas. Este resultado foi obtido com apenas dois capacitores associados. Entretanto podemos generalizar: quando n capacitores são associados em paralelo, a capacitância equivalente é a soma dos n capacitores associados. 9.3.2 Associação em série Consideremos os dois capacitores de capacitâncias C1 e C2 Suponhamos então que eles sejam conectados em série e, que seja aplicada uma diferença de potencial V sobre a associação. Figura 9-6 Quando a diferença de potencial é conectada acontece um movimento de cargas elétricas carregando o sistema ou seja, os dois capacitores passam a apresentar carga elétrica. Sejam as cargas adquiridas pelos dois capacitores Q1 e Q2 respectivamente. Mostremos que essas duas cargas são iguais. Para isto observe a figura lado que ilustra a situação. A região da associação marcada por (a) inicialmente não apresentava cargas. Agora passou a apresentar a carga total Q1 + Q 2 . Como a carga elétrica se conserva, deveremos ter Q1 +Q 2 = 0 ou Q1 = −Q 2 Equação 9-10 o que demonstra que os dois capacitores adquirem cargas iguais. Chamemos esta carga comum aos dois capacitores de diferença de potencial sobre cada capacitor será: V1 = Q C1 e V2 = Q . Nestas condições, a Q C2 Equação 9-11 Observando que os capacitores estão em série e que, portanto os potenciais se somam podemos escrever: V = V1 + V2 ou V = Q Q + C1 C2 ou ⎛ 1 1 ⎞ ⎟ + V = Q ⋅ ⎜⎜ C2 ⎟⎠ ⎝ C1 Equação 9-12 5/6/2005 Teo-09-2005.doc Página 4 de 9 Introdução à Eletricidade S.J.Troise Procuremos agora a capacitância equivalente. Lembremos que é a capacitância de um capacitor que sozinho é capaz de armazenar a mesma carga sob a mesma diferença de potencial. A carga armazenada pela associação é Q quando a diferença de potencial é V e portanto, a partir da definição podemos escrever: Q V = Ceq Equação 9-13 Comparando as equações Equação 9-7 e Equação 9-8 podemos concluir: 1 1 1 = + Ceq C1 C2 Equação 9-14 ou seja, numa associação em série o inverso da capacitância equivalente é igual à soma dos inversos das capacitâncias associadas. Este resultado pode ser generalizado para n capacitores associados em série. 9.3.3 Exercícios 9.3.3.1 ( ) Dois capacitores iguais, de capacitâncias equivalente em cada caso. 4,7pF são associados em série e em paralelo. Determine a capacitância Resp: 9.3.3.2 ( ) Determine a capacitância resultante em cada uma das situações abaixo. Resp: 9.3.3.3 ( ) Considere dois capacitores de capacitâncias potenciais V1 = 3V e V2 = 2V C1 = 2µF e C2 = 3µF conectados inicialmente aos respectivamente, Suponha que esses dois capacitores sejam conectados em paralelo, com as polaridades coincidentes. Determine as cargas resultantes da cada capacitor bem como a tensão final. Resp: Q1 = 4,8µF , Q 2 = 7,2µF e V = 2,4 V 9.3.3.4 ( ) Resolva o exercício 9.3.3.1 supondo polaridades não coincidentes Resp: Q1 = 0 , Q2 = 0 e V = 0 9.3.3.5 ( ) Suponha que no exercício 9.3.3.3 que a conexão seja feita de tal forma que a placa positiva de um seja conectada à placa positiva do outro. Calcule a carga e o potencial de cada capacitor após a conexão. Resp: 9.3.3.6 ( ) Considere os três capacitores da figura abaixo previamente carregados e conectados como mostrado. Observando atentamente a polaridade de cada capacitor, determine a ddp final da associação. 5/6/2005 Teo-09-2005.doc Página 5 de 9 Introdução à Eletricidade Resp: S.J.Troise a ) 0,76 V b) 0,29 V c ) 3,4 V d ) 6,75V e) 2,46 V f ) 3,93V 9.4 9.4.1 Carga e descarga de capacitores Processo Carga do Capacitor: Estudemos agora o processo de carga de um capacitor. Na definição dissemos que quando um capacitor é conectado a uma fonte de tensão V0 ele adquire uma carga Q0 tal que Q0 = C ⋅ V0 . Observe a figura abaixo: ela ilustra o processo de carga no qual o capacitor é conectado diretamente sobre a fonte pelo fechamento da chave ch. Figura 9-7 Quando isto acontece aparece uma corrente através dos fios condutores, chamada corrente de carga, a qual cessa quando a diferença de potencial sobre o capacitor se iguala àquela da fonte. Como os fios condutores não apresentam resistência essa corrente de carga é grande e a carga Q0 aparece sobre o capacitor quase que instantaneamente. Suponhamos agora que o processo de carga ocorra através de um resistor conforme figura ao abaixo. 5/6/2005 Teo-09-2005.doc Página 6 de 9 Introdução à Eletricidade S.J.Troise Figura 9-8 Quando é fechada a chave ch aparece a corrente de carga, porém como existe resistência, essa corrente é limitada e o processo de carga é mais lento pois o potencial sobre o capacitor aumenta gradativamente e portanto a diferença de potencial[ sobre o resistor diminuí, fazendo com que a corrente fique cada vez menor. Chamemos de I( t ) a corrente no circuito. Determinemos como varia a carga sobre o capacitor em função do tempo, ou seja determinemos Q( t ) , supondo que a chave ch é fechada no instante t = 0 no qual o capacitor está descarregado. Para isso lembremos que, passado o tempo, o capacitor atingirá uma carga Q0 , tal quer Q0 = C ⋅ V0 , ou ainda, tal que V0 = Q0 C Equação 9-15 Apliquemos a lei das malhas na Figura 9-4-2: V0 = VR + VC Equação 9-16 onde VR = R ⋅ I( t ) é a queda de potencial no resistor, VC = Q( t ) é a queda de potencial C no capacitor. Substituindo na Equação 9-16 V0 = R ⋅ I( t ) + Q( t ) C Equação 9-17 Lembrando agora que I( t ) = Q dQ( t ) e que V0 = 0 a Equação 9-17 fica: dt C Q0 dQ(t) Q(t) = R ⋅ + dt C C Equação 9-18 Que é uma equação na qual não se conhece Q( t ) que pode ser determinada por integração, bastando para isto que se separe as variáveis. Assim procedendo: Q 0 − Q( t ) dQ( t ) = R ⋅C dt ou dQ( t ) 1 = ⋅ dt Q 0 − Q( t ) R ⋅ C Fazendo agora a mudança de variáveis Q0 − Q(t) = z (a) teremos que e substituindo dz = −dQ(t) − dz 1 = ⋅ dt z R ⋅C que pode ser integrada entre os instantes t = 0 no qual o capacitor está descarregado, Q(0) = 0 , e um instante qualquer t tem que o capacitor apresenta carga Q( t ) − ln z t = 0 − ln (Q0 − Q(t)) t 0 t 1 ⋅ t R ⋅ C 0 = Lembrando a definição de z: 1 1 ⋅ t ou − [ln (Q0 − Q(t)) − ln (Q0 − Q(0))] = ⋅ t ou R ⋅C R ⋅ C ainda ln Q0 − Q(t) 1 = − ⋅t Q0 R ⋅C e passando para a exponencial correspondente: 1 − ⋅t Q0 − Q(t) = e R ⋅C Q0 e finalmente: 5/6/2005 Teo-09-2005.doc Página 7 de 9 Introdução à Eletricidade S.J.Troise 1 ⎛ − ⋅ t ⎞⎟ ⎜ R ⋅ C Q(t) = Q0 ⎜1 − e ⎟⎟ ⎜ ⎝ ⎠ Figura 9-9 que é a expressão que fornece a carga sobre o capacitor em função do tempo. Figura 9-10 O gráfico acima mostra o comportamento da carga durante o processo de carga, crescente tendendo ao valor final Q 0 . A partir deste resultado podemos obter a variação do potencial sobre o capacitor, bastando lembrar a definição de capacitância. Obtermos: 1 ⎛ − ⋅ t ⎞⎟ ⎜ R ⋅ C V(t) = V0 ⎜1 − e ⎟⎟ ⎜ ⎝ ⎠ Equação 9-19 Que apresenta o mesmo comportamento mostrado na figura acima. A partir da expressão da carga podemos obter o comportamento da corrente no processo de carga. Para isto lembremos que I = obteremos: dQ(t) . Derivando então a Equação 9-17 dt 1 − ⋅t 1 I( t ) = ⋅ e R ⋅C R ⋅C Equação 9-20 Figura 9-11 Na figura ao acima é mostrado o comportamento da corrente em função do tempo. Observe que quando t = 0 temos I(0) = 1 = I0 que é a corrente que acontece no R ⋅ C momento do fechamento da chave e que, com o passar do tempo a corrente diminui exponencialmente tendendo a zero. Isto se justifica pelo que foi dito acima: na medida em que o capacitor carrega, o potencial sobre ele aumenta, diminuindo a diferença de potencial sobre o resistor o quer causa redução na corrente. 9.4.2 Descarga do Capacitor carregado: Estudemos agora processo inverso, ou seja, o processo de descarga do capacitor. Para isto consideremos um capacitor que tenha sido carregado por um potencial V0 , adquirindo uma carga Q 0 . Este capacitor pode ser descarregado diretamente, colocando seus conectores em curso circuito. Quando isto ocorre, aparece uma corrente de alta intensidade que o descarrega quase que instantaneamente. 5/6/2005 Teo-09-2005.doc Página 8 de 9 Introdução à Eletricidade S.J.Troise Figura 9-12 Consideremos uma outra situação na qual o capacitor seja descarregado através de um resistor R através do fechamento da chave ch no instante t = 0 conforme mostrado na figura ao lado. Aplicando nesse circuito a lei das malhas: VR + VC = 0 ou R ⋅ I( t ) + Q( t ) =0 C dQ( t ) dQ(t) Q(t) teremos R + = 0 que pode ser integrada desde o dt dt C instante inicial t = 0 no qual a carga do capacitor é Q 0 até um instante qualquer t no qual a carga é Q( t ) . Separando as variáveis e integrando: Sendo I( t ) = dQ(t) 1 = − ⋅ dt Q(t) R ⋅ C ou ln Q(t) − ln Q(0) = − quociente: ln t ∫ ou 0 dQ(t) 1 = − ⋅ Q(t) R ⋅ C 1 ⋅ t. R ⋅ C Q(t) 1 = − ⋅ t Q0 R ⋅ C A t ∫ dt ou ln Q( t ) 0 0 aplicando a t propriedade do =− t 1 t RC 0 logaritmo do Aplicando agora a definição de logaritmo: 1 ⋅t R Q( t ) = Q 0 ⋅ e ⋅C − Equação 9-21 Que dá o comportamento da carga do capacitor durante o processo de descarga através de um resistor. Este resultado mostra que a carga diminui exponencialmente com o tempo. Podemos agora aplicar a definição de capacitância e obter o comportamento do potencial sobre o capacitor, obteremos: 1 ⋅t R V(t) = V0 ⋅ e ⋅ C − Figura 9-13 Nesta equação V0 é o potencial inicial do capacitor. A figura acima mostra o comportamento do potencial durante o processo de descarga. 5/6/2005 Teo-09-2005.doc Página 9 de 9