1 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 O PAPEL DO CAPS NA REINSERÇÃO DOS SEUS USUÁRIOS NA SOCIEDADE Adrielle Souza de Jesus¹ Jéssica Ribeiro Moura¹ Rita de Cássia Castro¹ Tauane Fátima da Silva Amaral¹ Orientadora: Sandra Célia Coelho Gomes da Silva Serra Oliveira² RESUMO O presente estudo tem por objetivo enfocar a relevância do tratamento prestado aos usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), bem como ressaltar a importância deste serviço para a reinserção do indivíduo portador de transtorno mental na sociedade. A metodologia utilizada foi à pesquisa qualitativa com entrevistas semi-estruturadas realizadas com os profissionais da instituição. Esse estudo busca (re) significar a saúde mental enfatizando sua importância para melhoria de vida destas pessoas e da comunidade em que está inserido, buscando um tratamento mais humanizado, diferente daquele realizado há alguns anos atrás, antes da Reforma Psiquiátrica, pelos Manicômios, já que ele promove um serviço substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos, mas que não isenta a importância de internações em casos específicos. Através da análise dos dados verificou-se que esse propósito tem sido alcançado com êxito por meio de uma atenção voltada para a interação social e melhor relacionamento familiar e que o serviço oferecido pelo CAPS tem contribuído de forma significativa na reinserção dos seus usuários na sociedade. Este serviço não constitui a solução dos problemas da saúde mental, mas, tem contribuído por intermédio do incentivo de atividades terapêuticas que permitem aos usuários transcender os limites do problema mental, constituindo assim, de fato, um tratamento reabilitador e contínuo. PALAVRAS-CHAVES: reinserção, oficinas terapêuticas e melhoria da vida 1 2 Graduando (a) em enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia, Campus XII. Prof. Esp. da Universidade do Estado da Bahia, Campus XII. INTRODUÇÃO Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) tem grande importância no tratamento de pessoas com transtornos mentais. O CAPS tem um tratamento diferenciado, porque essa Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 2 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 instituição não se preocupa só com a melhora dos seus usuários, ela visa também à reinserção social. Além disso, realiza um serviço substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos. Segundo dados retirados do site do Ministério da Saúde, o CAPS realiza atendimentos à população de sua área de abrangência, nos quais consiste em atendimento diário individualizado e acompanhamento clínico visando à reinserção de pessoas portadoras de transtornos mentais através de projetos que dão oportunidades de acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e de interação com a comunidade. Schrank & Olschowsky (2006) afirmam que outro objetivo importante do CAPS é a intervenção nas relações do portador de transtorno mental com a família, pois esta é de fundamental importância no tratamento do paciente, por gerar mais motivação do mesmo. Além disso, essa instituição tenta quebrar os paradigmas de incapacidade e o preconceito a que esses indivíduos são submetidos. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA De acordo com informações do site do Ministério da Saúde, a Reforma Psiquiátrica teve início na década de 70, época em que estava ocorrendo à ditadura militar, na qual o modelo básico de intervenção era a medicalização. O domínio dos hospitais psiquiátricos, que abusava no número de internações tornou-se uma causa desumana. Paralelo a isso, era notável a falta de recursos para realização dos serviços sanitários e o investimento nas redes privadas, no qual o governo ampliava o espaço do setor privado para fins lucrativos. Foi especificamente em 1978 que teve início efetivo do movimento social pelos direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil. O Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) surge neste ano e tinha como objetivo discutir e organizar a política no setor da saúde. Essa trajetória foi marcada por movimentos como o II Congresso Nacional de MTSM em Bauru, São Paulo, que visava uma sociedade sem manicômios. E no mesmo ano deste congresso (1987), ocorreu a I Conferência Nacional de Saúde Mental no Rio de Janeiro. Estes movimentos ocorridos são de grande importância para o surgimento do primeiro CAPS, em São Paulo no mesmo ano, ele foi chamado de Professor Luís da Rocha Cerqueira, oferecendo também atendimento às pessoas com transtornos mentais. Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 3 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 Em 1989 o deputado do PT de Minas Gerais, Paulo Delgado, sugere a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. E em 1992, o Projeto de Lei Paulo Delgado, consegue sua aprovação em alguns estados do Brasil. É nessa década de 90, com a assinatura da Declaração de Caracas pelo Brasil e pela realização da II Conferência de Saúde Mental, que as normas federais começam a valer, regulamentando a implantação dos serviços de atenção aos portadores de transtorno, baseadas nas experiências dos primeiros NAPS e CAPS. Hoje, segundo dados do site do Ministério da Saúde existem tipos diferentes de CAPS, cada qual voltado para um público alvo diferente (adultos, crianças/adolescentes e usuários de álcool e drogas) e dependente do número populacional a ser coberto (pequeno, médio e grande porte) com um período de funcionamento diurno ou de 24 horas. Podem ser encontrados os seguintes tipos de instituições: CAPS I – serviço para cidades de pequeno porte, com população de mais ou menos 20 a 70 mil habitantes, e que visa atender a todos portadores de transtorno mental severo durante o dia, no caso, adultos, crianças e adolescentes e pessoas com problemas com o álcool e drogas; CAPS II – serviço para cidades de médio porte, com população ultrapassando a faixa dos 70 mil habitantes, e que atende portadores de transtorno, sendo adultos, com atendimento durante o dia; CAPS III – serviços geralmente presentes nas grandes cidades e tem o atendimento de 24 horas e sete dias durante a semana para pacientes adultos; CAPS i – serviços encontrados em cidades de médio porte, voltado para crianças e adolescentes com transtorno mental e seu funcionamento é durante o dia; e o CAPS ad – estão geralmente disponíveis em cidades de médio porte, na qual atende usuários de álcool e outras drogas e funciona durante o dia. Todos esses tipos de CAPS possuem uma equipe multiprofissional qualificada constituída por enfermeiro, assistente social, psiquiatra e psicólogo, além de outros profissionais. Para ter o atendimento no CAPS, o indivíduo deve procurar preferencialmente um serviço de saúde, como um Programa de Saúde da Família (PSF), para ser encaminhado, se houver necessidade. É de extrema importância o acompanhamento de um familiar, para a devida responsabilização pelo indivíduo e também para criar um vínculo de confiança entre os sujeitos envolvidos, facilitando o tratamento do usuário. Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 4 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 Logo após é feito um planejamento terapêutico individual, no qual é proposto a cada um atividades que levem em consideração sua cultura, religião, o contexto em que estão inseridos e suas necessidades. Neste momento o usuário tem que se comprometer a cooperar com o tratamento, tanto o medicamentoso, quanto o terapêutico, as oficinas, etc. Em Guanambi – BA, a assistência psicossocial é do CAPS I, contando com o apoio de uma equipe multidisciplinar de profissionais, tais como: psicólogo, psiquiatra, médica terapêutica, enfermeiro, assistente social e funcionários para coordenação, limpeza, cozinha e oficinas. As oficinas terapêuticas fornecidas pelo CAPS - Guanambi tem por objetivo capacitar os usuários na realização de atividades cotidianas, bem como trazer novos conhecimentos, lazer e produção (obtenção de lucro para os usuários) que serão úteis na sua ressocialização. METODOLOGIA O presente estudo classifica-se como uma pesquisa qualitativa, feita por intermédio de entrevistas semi-estruturada, contendo cinco perguntas bases que foram: 1) O tratamento prestado no CAPS tem contribuído para a reinserção dos seus usuários na sociedade? 2) De que forma? 3) Quais os resultados? 4) O CAPS possui convênios com empresas da cidade e/ou região? 5) Quais as maiores dificuldades encontradas na reinserção dos usuários do CAPS? De acordo com Marconi e Lakarto (1990, p. 85), uma entrevista estruturada diz respeito “[...] aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com um formulário elaboradora e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano.” O presente trabalho foi dividido em cinco etapas, sendo que na primeira realizou-se a pesquisa e leitura de artigos científicos e textos relacionados ao tema, com a finalidade de obtenção do embasamento teórico. A segunda etapa constituiu-se de visitas na instituição, na qual no primeiro momento foi apresentado o projeto à coordenação, por intermédio de um pré-projeto e que tinha como anexo um ofício para possível aprovação. E no segundo momento, uma vez aprovado o projeto, realizaram-se observações com o Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 5 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 intuito de conhecer o local, a estrutura, os profissionais e o serviço prestado. Feito isso, na terceira etapa foram realizadas entrevistas com os profissionais da instituição, dispostas em quatro visitas, nas quais foram feitas as cinco perguntas base. Na quarta etapa, foram feitas as análises dos dados obtidos através das entrevistas, comparando-as e confrontando-as, para a elaboração dos resultados. E por fim, na quinta etapa, foi feita a elaboração do presente artigo. É importante ressaltar que os nomes citados neste artigo são fictícios, para preservar a integridade dos entrevistados. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O primeiro questionamento feito aos entrevistados foi: O tratamento prestado pelo CAPS tem contribuído para a reinserção dos seus usuários na sociedade? Através dos dados obtidos, percebe-se que a maioria da equipe multiprofissional acredita que o serviço oferecido pelo CAPS tem contribuído de forma significativa na reinserção dos usuários, como demonstrado na tabela 1, e os que não apresentam uma resposta positiva com plena certeza, vêem que essa é a proposta da instituição, mas acreditam que ainda devem ocorrer melhorias e implementações nesse processo, para que de fato os usuários alcancem a reinserção total. Mello (2008, p. 117) diz que: “a reabilitação psicossocial é o processo de facilitar ao indivíduo com limitações a restauração, no melhor nível possível, da autonomia do exercício de suas funções na comunidade” TABELA 1 ENTREVISTADOS RESPOSTAS Emília Não 100%, mas 80%. Jamile Acredito que sim. Simone É o que é buscado Valdo Depende do ponto de vista. Joaquim Tem plena convicção que sim. Gilson Relativamente sim. Leonora Sim. Paula Com certeza. Sim - 62,5%; Talvez - 37,5%; Não - 0%. O CAPS tem contribuído para a reinserção dos seus usuários na sociedade através das oficinas terapêuticas, da interação deles com outros usuários e do serviço substitutivo prestado, que tira o foco do tratamento dos medicamentos e os resultados têm sido Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 6 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 positivos, apresentando melhor convívio com as pessoas e a sociedade. De acordo Mello (2008, p. 119): “O Ministério da Saúde definiu as oficinas terapêuticas como ‘atividades grupais de socialização, expressão e inserção sociais’ [...] visando à integração social dos cidadãos e inserção das pessoas em desvantagem no mercado de trabalho, por meio do trabalho.” Nesse contexto eles aprendem a fazer trabalhos artesanais que trazem lucros, assim como a peça de teatro; melhoria nas atividades de higiene e domesticas; diminuição dos surtos e desmistificação do portador de transtorno mental como incapaz. As principais oficinas são: de alongamento e relaxamento, palestras, origami e mosaico, bijuteria ou reciclagem, vagonite, leitura, desenho livre, limpeza e espaço físico, ponto cruz ou dobradura, alfabetização, caixa ou fita, montagem de quadro ou crochê, teatro, produção textual, beleza, jogos e músicas. Isso é possível visualizar na fala de Jamile: “alguns usuários com o uso das oficinas, a exemplo do bordado e do artesanato aprendem aqui e levam para casa e com o dinheiro que eles ganham podem comprar os materiais e fazer em casa. Exemplificando o sucesso das oficinas, em Junho de 2009 para o São João foi criada a peça teatral e em Outubro foi apresentada no Centro de Cultura de Guanambi desmistificando assim o portador de problemas mentais como incapaz.” Essas oficinas têm contribuído bastante na vida das pessoas que estão presentes no CAPS, a exemplo, a oficina de leitura e produção de texto tem proporcionado a muitos usuários a possibilidade de aprender a escrever, ler e interpretar textos, tendo o incentivo constante dos oficineiros, que os estimulam e mostram a importância de saber ler e escrever para o seu dia-a-dia, como por exemplo, ao anotar um recado, pegar uma receita de bolo, anotar um endereço. Como citado na entrevista de Leonora que afirma: “vários usuários mostram bons resultados, se sentem felizes, conseguem arrumar emprego.”. Essas oficinas proporcionam melhoras até no convívio entre os próprios usuários, como é mostrado na fala de Paula: “a convivência deles uns com os outros melhorou” e também traz satisfação profissional aos funcionários, afirmação visível na fala de Leonora: “Faço meu trabalho com amor resgatando a história de vida de cada um, descobrindo do que gosta, incentivando-os, através de relaxamento, alongamento, com o uso de som, faço consultas individuais para que eles possam se abrir. Procuro contribuir com a higiene pessoal e orientar eles a Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 7 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 fazerem as atividades cotidianas; através da dança, teatro, trabalho com argila, proponho projetos de atividade ao ar livre e de esporte (peteca e baleado).” Sobre a pergunta: O CAPS possui convênios com empresas da cidade e/ou região? As respostas encontradas foram que o CAPS não possui convênios diretos com nenhuma empresa, e que o CAPS é um órgão do Estado e que a prefeitura repassa a verba vinda dele, existem projetos envolvendo convênios com a Faculdade de Guanambi (FG) e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus XII, e também um projeto que está parado, com o comércio de Guanambi e o de abrir uma boutique para vender o que é produzido nas oficinas. Afirmado por Simone: “A Consult forneceu um espaço ao lado para que eles abrissem uma loja para vender o artesanato, mas ainda não está funcionando.” e por Leonora: “O CAPS possui um projeto com a FG para um usuário trabalhar lá, um espaço na biblioteca, mas esse projeto ainda esta em andamento.”. O último questionamento diz respeito às dificuldades encontradas pela instituição e a mais citada foi principalmente com relação à família, que não participa ativamente do tratamento; Além da família, foram citados: o preconceito da sociedade, pois não aceita que eles sociabilizem; o preconceito dos próprios usuários que não aceitam que tem determinada patologia; o machismo de alguns usuários com algumas oficinas; o cigarro e o café, que atrapalham o efeito dos medicamentos; a carência de profissionais especializados na área e também a falta de uma visão holística por parte dos demais serviços e profissionais da área de saúde que vêem os usuários do CAPS apenas como portador de transtornos mentais. Sobre as dificuldades, tem-se que: “Lidar com a família é a maior dificuldade. Eles já vem com a idéia de preconceito. A família acha que o CAPs é o único e exclusivo responsável pelo paciente [...]. Outro problema relacionado a família é a autonomia das mesmas, que as vezes dificulta o tratamento do paciente, porque o medico passa um medicamento e o familiar acha que está muito, ou quando há melhoras, o paciente pára de tomar o medicamento. Muitas vezes a família não tem presença ativa por conta da questão cultural” (Jamile) Continuando a relatar as dificuldades: “A dificuldade encontrada com relação ao paciente, é a família, eles ficam abandonando os usuários. A falta de participação dos familiares nas comemorações do CAPs, o próprio preconceito dos usuários, de não assumir a doença [...]. O cigarro e o café também prejudicam o tratamento, já que retiram o efeito dos medicamentos, e eles fazem isso em busca de um falso prazer” (Valdo) Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 8 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 Através dos depoimentos acima se pode perceber que entre as maiores dificuldades enfrentadas pelo CAPS, a família se apresenta como a principal, a ausência da participação da mesma nas atividades promovidas tem prejudicado o tratamento e a reinserção dos usuários. Para mudar este quadro, o CAPS possui a terapia familiar justamente para proporcionar momentos com os familiares e orientá-los, mas até mesmo para estes encontros a família se ausenta. Nas festas comemorativas realizadas pelo CAPS também é nítido a presença de poucos familiares, o que entristece os pacientes. A família assim como a comunidade, segundo Mello (2008, p. 120): “[...] devem ser levadas em consideração quando se planeja a reabilitação psicossocial, pois geralmente são os suportes do paciente, responsáveis por grande parte das funções para a manutenção da sua qualidade de vida.” Mello (2008, p. 120) ainda demonstra que alguns aspectos devem ser analisados quanto à organização familiar onde um de seus membros possui um transtorno mental: “A família, diante da experiência de ter um de seus membros com transtorno mental, experimenta sentimentos como raiva, medo, impotência e mesmo luto. Os aspectos abaixo devem ser analisados: estrutura familiar; atitudes da família em relação ao paciente; clima emocional (medo, raiva, depressão, ansiedade, calma); suportes sociais; experiências prévias da família com serviços de saúde mental; compreensão familiar sobre os problemas do paciente e os planos para sua assistência e suporte.” Outra queixa por parte dos profissionais diz respeito à falta de marketing sobre a saúde mental. Pois hoje não se vê propagandas sobre a saúde mental, o que resulta no preconceito da sociedade, que acaba vendo o portador de transtornos mentais com o “louco”, “doido”, o que chamou muita atenção foi à fala de Simone: “A maior dificuldade é a sociedade, se fosse colocado na cabeça das crianças desde o primário sobre como lidar com os usuários seria mais fácil do que mais tarde. O preconceito deve ser trabalhado na escola”. A abordagem de Simone revela a importância de ser trabalhado às diferenças desde os primeiros momentos da criança na escola, para mostrar desde cedo que não se deve ter preconceito diante das diferenças, pois cada um apresenta suas particularidades, é um sujeito singular e complexo, que não existe nenhuma pessoa igual à outra, e que a presença de um transtorno, deficiência, ou “anormalidade” não indica um fator de exclusão social. Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 9 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 CONSIDERAÇÕES FINAIS Motivados pela curiosidade a respeito do tratamento prestado pelo CAPS e de suas contribuições para a reinserção de seus usuários na sociedade, este trabalho é um convite para novas propostas, reflexões e criação de novas estratégias para melhoria da assistência a saúde mental. O CAPS surge como uma nova forma de assistência a saúde mental, fazendo um resgate das histórias daqueles que fazem uso desse serviço, possibilitando a reconstrução da cidadania. Esse propósito tem sido alcançado através de uma atenção voltada para a interação social, permitindo a reinserção dos mesmos na sociedade e proporcionando uma melhoria na qualidade de vida. Esse serviço não constitui a solução dos problemas da saúde mental, mas, tem contribuído através do incentivo de atividades terapêuticas que permitem aos usuários transcender os limites do problema mental, produzindo arte de forma criativa e inovadora, constituindo assim, de fato, um tratamento reabilitador e contínuo. REFERÊNCIAS BARROS, Sônia et al. Tentativas inovadoras na prática de ensino e assistência na área de saúde mental – I. Rev. Esc. Enf, USP, v.33, n.2, p.192-9, jun, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005. CAMPOS et el. Avaliação da rede de centros de atenção psicossocial: entre a saúde coletiva e a saúde mental. Rev. Saúde Pública 2009;43 (Supl.1):16/22 CAPELLATO, Patrícia Virgínia et al. 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Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 10 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 LEÃO. Adriana et al. As representações sociais dos profissionais de saúde mental acerca do modelo de atenção e as possibilidades de inclusão social.Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.1, p.95-106, 2008. MARCONI. Marina de Andrade; LAKATOS. Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1990; MARTA, Taís Nader. Pessoas com deficiência X Planos de saúde: o tratamento desigual que afronta a dignidade humana. Rev. Direitos Fundamentais & Democracia, v. 6, 2009. MELLO. Anaiá Monteiro. Enfermagem psiquiátrica e de saúde mental na prática. São Paulo: Atheneu, 2008; Os Centros de Atenção Psicossocial, do Ministério da Saúde. 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