28-04-2017 Dia do Trabalhador em tempo de geringonça. "Ainda há austeridade, mas já não é cega" Centrais sindicais ultimam preparativos para as comemorações do 1.° de Maio e esperam milhares de pessoas nas ruas. Apesar do alívio com a reposição de direitos, mobilização está a aumentar. DENISE FERNANDES [email protected] As duas centrais sindicais portuguesas — a UGT e a CGTP — estão nos últimos preparativos para as comemorações do Dia do Trabalhador, que se assinala na segunda-feira. Com agendas separadas, como acontece desde sempre, esperam milhares de portugueses nas ruas, em vários pontos do país. Com um Governo suportado por partidos de esquerda, admitem melhorias nas políticas laborais, mas não têm dúvidas de que a austeridade permanece. A diferença é que deixou de ser cega. À pergunta "ainda há austeridade?", tanto o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, como o dirigente da CGTP; João Torres, são perentórios na resposta: "Claro que há", dizem ao Jornal Económico. "Embora não seja uma austeridade cega, de cortes nos rendimentos de quem trabalha ou vive de uma reforma", acrescenta o lider da UGT. João Torres vai mais longe e fala em "exploração", embora a um nível "ligeiramente suavizado". O responsável da comissão executiva da CGTP defende que, apesar de o salário mínimo ter aumentado para 557 euros em janeiro e de se terem verificado algumas atualizações salariais no privado, mantêm-se "o bloqueio e a caducidade da contratação coletiva, que têm travado o aumento da generalidade dos salários, de acordo com o aumento do custo de vida e da produtividade". Os trabalhadores da administra- ção pública e de "inúmeras empresas não têm aumentos há oito, nove, dez anos ou mais", salienta o dirigente da intersindical. Os últimos aumentos salariais na função pública datam de 2009, com o Governo de José Sócrates que. Nesse ano de eleições legislativas, foi fixada uma atualização remuneratória de 2,9% no Estado. Dois anos mais tarde, os salários acima de 1.500 euros brutos sofreram cortes e começaram a ser repostos no ano passado, mas continuam congelados e sem previsão de atualização à vista. Nos planos do atual Governo consta o descongelamento gradual das progressões na carreira a partir de 2018, uma matéria que ainda será negociada com os parceiros sociais e políticos do Executivo de António Costa. Esta é uma das reivindicações que constam dos cartazes do 1° de Maio. O secretário-geral da UGT defende que o Governo terá de "gerir com sensibilidade politica e social" o dilema de cumprir os "pesados compromissos internacionais" com a "necessidade de proceder a aumentos salariais e descongelamento de carreiras e progressões na administração pública". Além do fim dos cortes nos salários e nas pensões, as centrais sindicais valorizam medidas já implementadas, como a reposição dos quatro feriados ou o regresso das 35 horas semanais na administração pública, bem como as alterações nas convenções coletivas ou o fim gradual da sobretaxa do IRS. Mas defendem que ainda há muito por fazer e avisam — nomeadamente a CGTP — que a contestação está a subir de tom. NÃO HA 'GERINGONÇA' ENTRE CGTP E UGT Como é habitual, as duas centrais sindicais comemoram o Dia do Trabalhador em separado. O sociólogo Elisio Estafique explica que se trata de "uma questão de identidade" em que há urna "disputa antiga entre os que dizem privilegiar o diálogo [a UGT] e os que defendem a mobilização [a CGTP]. "É também a expressão de que o sindicalismo tem uma ligação estreita com o campo político', sublinha o investigador. Ainda assim, apesar de a 'geringonça' estar a dar sinais de que "não há risco de romper", as centrais sindicais optam por separar as águas. Para segunda-feira, a CGTP tem agendadas mais de 20 concentrações e manifestações em várias cidades do país, entre sardinhadas, provas desportivas, animação musical e intervenções político/sindicais. Em Lisboa. a habitual manifestação entre o Marfim Moniz e a Alameda D. Afonso Henriques está marcada para as 15 horas. Já a UGT comemora o Dia do Trabalhador em Viana do Castelo, com animação de rua e intervenções sindicais. "Depois de algum alivio sentido, designadamente com a reposição de rendimentos e direitos, começa a avolumar-se o sentimento de indignação e de muita frustração", afirma João Torres. Portanto, "é natural" que 'a dimensão do protesto e da contestação se alargue e intensifique". Para o sociólogo e investigador Elísio Estanque, a sensação de algum alívio e estabilidade por parte dos trabalhadores, ao contrário do que se possa pensar, promove a mobilização. "A melhoria no emprego e na economia estimula a participação em greves, protestos ou celebrações como o 1° de Maio, data em que é possível mostrar alguma força sindical", explica o especialista. Além disso, diz, o campo político atual, com um Governo PS apoiado pelos partidos à esquerda, "não questiona o direito à greve nem tem uma posição moralista sobre o campo sindical", o que faz com que os trabalhadores se sintam "mais livres" para reivindicar direitos. Este cenário poderá, aliás, ser favorável à reaproximação das camadas mais jovens ao movimento sindical "que tem estado cada vez mais fragilizado", defende o sociólogo. Segundo o último relatório do secretariado nacional da UGT, a central sindical contava no final de 2016 com 56 associações sindicais filiadas e 458 mil sindicalizados, menos 20 mil do que há quatro anos. Por seu turno, no último congresso, em abril de 2016, a CGTP revelava ter alcançado o número de filiados mais baixo de décadas, totalizando 550.500. • ID: 69281328 28-04-2017 Tiragem: 20000 Pág: 5 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 24,00 x 30,20 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 5 --1 ^ 1 4 .. .. „ • ' -444";<‘41.‘.'1,r- :, ,., • 11 -40P,4:4.,...la, ..4 ID: 69281328 28-04-2017 Tiragem: 20000 Pág: 6 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 24,00 x 30,20 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 3 de 5 Salários aumentam pela primeira vez depois da trolka Número de trabalhadores abrangidos por novas convenções coletivas aumentou 52% num ano, para quase 750 mil, revela o relatório do Centro de Relações Laborais. O documento é apresentado terça-feira no Ministério do Trabalho. DENISE FERNANDES ctlernandes@JorAaloconomIco•Pi O número de trabalhadores abrangidos por novas convenções coletivas aumentou 52% no ano passado face a 2015, para quase 750 mil e, pela primeira vez nos últimos três anos, os salários reais aumentaram, em média, 0,6%. Estas são duas das principais conclusões que integram o relatório anual do Centro de Relações Laborais (CRL), a que o Jornal Económico teve acesso e que será divulgado na terça-feira no Ministério do Trabalho. Segundo o documento, no ano passado estavam abrangidos por instrumentos de regulamentação coletiva 2,245 milhões de trabalhadores, um aumento de 2,7% face a 2015 (mais 60 mil trabalhadores). Registaram-se num ano 146 novas convenções ou revisões (contra 138 em 2015) que abrangeram precisamente 749.348 trabalhado- No ano passado estavam abrangidos por instrumentos de regulamentação coletiva 2,2 milhões de trabalhadores res, mais 52% do que no ano anterior. Foram ainda emitidas 35 portarias de extensão, apenas mais uma do que em 2015. Estas portarias permitem alargar a todo um setor uma convenção coletiva que, em princípio, iria abranger apenas os filiados nos sindicatos que a assinaram. As novas convenções resultaram num aumento médio nominal dos salários de 1,5% nos vários setores de atividade, o que não acontecia desde 2008. Considerando a inflação, a variação real foi de 0,6%, ou seja, "foi pela primeira vez positiva desde 2013", avança o documento. Os aumentos salariais abrangeram a grande maioria dos trabalhadores afetados pelas novas convenções ou por revisões de contratos coletivos que já existiam, chegando a 608.457 trabalhadores. Por setores, verifica-se que as atualizações salariais chegaram a mais de 200 mil trabalhadores das indústrias transformadoras e a mais de 100 mil da construção, setores onde se verificou um aumento real de 1,6% e onde a remuneração média é de 672 e de 583 euros, respetivamente. Maioria das convenções estabelece 25 dias de férias Outros dos temas dominantes na negociação coletiva, além das remunerações, são o período normal de trabalho, as férias e o pagamento das horas extraordinárias. O relatório destaca que há algumas convenções (6 em 43) que estabelecem uma duração máxima inferior às 40 horas semanais previstas na lei, bem como limites máximos diferentes para certos grupos de trabalhadores, de acordo com a categoria, por exemplo. Quanto às férias, a maioria dos regimes convencionais segue uma solução diferente da lei, ao definir um período superior a 22 dias úteis, em que a duração mais frequente é de 25 dias. Além disso, são consagradas soluções de majoração em função de fatores como a idade, a antiguidade, o período em que as férias são gozadas e a assiduidade. Já no trabalho suplementar (horas extra), 'muitas vezes as so- luções encontradas são diferentes do regime legal, em especial no que toca ao valor dos acréscimos devidos", lê-se no documento. Em vários casos retomam-se os valores que a lei previa antes dos cortes de 2012, fixando-se acréscimos de 50% e 75% para a primeira hora e demais horas em dias úteis, respetivamente, e de 100% para o trabalho suplementar aos feriados e dias de descanso. 'E também se encontram valores mais elevados, por vezes prevendo acréscimos maiores quando as horas suplementares passam cer- tos limites", lê-se no documento. Os regimes de flexibilização do tempo de trabalho (adaptabilidade e banco de horas) integram 25 convenções (17% do total), verificando-se uma diminuição face a 2015, em que estes temas eram tratados em 26% das convenções. "Esta diminuição constitui uma inversão da tendência que havia sido detetada no relatório anterior, no sentido de um tratamento crescente destes temas pela contratação coletiva", avança o CRL. Uma das matérias analisadas pela primeira vez no relatório do CRL é a dos benefícios sociais e regimes previdenciais complementares. Há apenas 37 convenções onde o tema surge, sendo o beneficio mais frequente a atribuição de um complemento a quem está de subsídio de doença, destinado a cobrir, no todo ou em parte, a diferença entre a retribuição e o valor da prestação social. A complementação da retribuição em situações de impossibilidade para trabalhar devido a acidentes de trabalho e doenças profissionais é outra das regalias sociais prevista em diversas convenções. • ID: 69281328 28-04-2017 Tiragem: 20000 Pág: 2 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 14,93 x 4,95 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 4 de 5 PRIMEIRA MAO Leia o nosso especial sobre a comemoracao do Dia do Trabalhador em tempo de geringonca. -Ainda ha austeridade. mas ja nao e cega '. dizem as centrais sindicais. ID: 69281328 28-04-2017 Tiragem: 20000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 5,44 x 7,94 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 5 de 5 ECONÓMICO MADEIRA "Não podemos depender dos diretórios nacionais dos partidos" Portugal 2020: Novos concursos - Análise gratuita PUB • EM, P4 E1 O Jornal vconómico l N.9 1882 128 abr. 2017 I Diretor Filipe Alves I Subdiretores João Madeira e Shrikesh Laxmidas I Preço E2,90 (cont.) I Semanário, sai às sextas www.jomaleconomico.pt Economistas do PS e BE pedem reestruturação da dívida pública ENTREVISTA COM ANDRÉ SILVA (PAN) EXCLUSIVO "Os nossos políticos precisam de ioga" • Et Cetere P4 A Justiça está a in, •ligar credil( , concedidos pela Caixa Económica Montepio Geral a grandes clientes como o antigo Grupo Espírito Sallto e a Ongoing. pela anterior administração liderada por Tomás Correia, sabe o Jornal Económico. p3 ASSESSORIA JURIDICA Advogados ganham com M&A a acelerar O ano começou de forma positiva no mercado português de fusões e aquisições, com operações de valor superior à totalidade de 2016. A Morais Leitão Gaivão Telles Soares da Silva, a Garrigues, a Campos Ferreira Sá Carneiro e a PLMJ foram as sociedades de advogados nacionais que mais beneficiaram com este `boord do M&A envolvendo empresas nacionais. • P28 CaixaBank avalia mudança de marca do BPI Cristina Bernardo Grupo de trabalho criado pelo PS e Bloco apresenta hoje relatório sobre sustentabilidade da dívida pública e propõe que empréstimo europeu de 51,6 mil milhões, de 2011, seja pago em 60 anos. • Grupo foi coordenado pelo secretário de Estado João Leão e conta com Francisco Louçã, João Galamba, Pedro Filipe Soares, Trigo Pereira e Ricardo Paes Mamede • Governo não se compromete • PIO. P42 ESPECIAL 19 DE MAIO Salários sobem pela primeira vez após a `troika' Número de trabalhadores abrangidos por novas convenções coletivas disparou 52% num ano, para quase 750 mil. E pela primeira vez nos últimos três anos os salários reais aumentaram, em média, 0,6%. Estas são duas das conclusões que integram o relatório anual do Centro de Relações Laborais. Leia esta e outras notícias no especial I° de Maio que hoje publicamos. • P4 a6 COMISSÃO DA SAÚDE PÚBLICA Ordem dos Médicos sai em protesto Ordem dos Médicos abandona Comissão de Reforma da Saúde Pública, em protesto contra integração do Instituto Ricardo Jorge na Universidade Nova de Lisboa e a sua dependência da Invicta na Universidade do Porto. Ordem e Sindicatos vão apresentar proposta para o setor e dizem que a reforma da saúde pública "nasceu torta' e "sem qualquer estudo científico". • P36 PUS EYBuilding a better workinq world Pagina 27