Hoje, Moçambique demonstrou a sua coragem e determinação ao dar um exemplo à África. O Governo, após extensas consultas, aprovou a Estratégia Nacional de Prevenção e Eliminação dos Casamentos Prematuros. Esta Estratégia, se adequadamente implementada, irá proteger milhões de raparigas hoje e no futuro contra o casamento prematuro. Moçambique une-se assim a um movimento global cada vez mais crescente e a tantos outros países que reconheceram o impacto devastador de casamentos prematuros e que lançaram planos a nível nacional para eliminar este fenómeno prejudicial ao desenvolvimento e sobrevivência das raparigas, merecendo louvor pelo seu papel exemplar nesta matéria. E, se houvesse qualquer dúvida sobre a importância deste momento, basta olhar para as estatísticas. Uma em cada duas raparigas em Moçambique acaba por casar antes da idade de 18 anos – representando uma grande violação dos direitos humanos das raparigas, que ameaça a sua educação, saúde e oportunidades e a qual tem implicações significativas em termos do desenvolvimento humano e da economia de Moçambique. A forma como esta Estratégia foi desenvolvida, enche-nos de esperança para o seu sucesso. A Estratégia resultou da cooperação entre vários Ministérios do Governo, Agências Internacionais, Parceiros de Cooperação, e a Coligação para a Eliminação dos Casamentos Prematuros em Moçambique (CECAP): Girls Not Brides [Meninas Não Noivas]. Foram organizadas consultas com raparigas casadas e em risco, rapazes adolescentes e jovens, líderes comunitários e religiosos nas províncias onde os índices de casamentos prematuros são muito altos. O resultado é uma Estratégia inclusiva e abrangente, informada pelas pessoas afectadas e apoiada pelo compromisso de todos os envolvidos. Mas, agora começa o verdadeiro trabalho. Os próximos meses serão cruciais para assegurar que a estratégia se torne mais do que simplesmente outro documento impressionante esquecido na prateleira. Então, o que precisa acontecer agora? Embora seja necessário ver acções firmes da parte de todos os Ministérios – especialmente dos Ministérios do Género, Educação, Saúde e Justiça – o Governo central não vai ser capaz de implementar sozinho, esta estratégia. O sucesso será alcançado através da coordenação de acções de todos os actores envolvidos na sua elaboração. Os actores na linha da frente – funcionários do Governo ao nível distrital e provincial, órgãos de comunicação, pais, professores, as próprias raparigas, adolescentes rapazes e jovens, e líderes comunitários, religiosos e tradicionais – deverão estar estreitamente envolvidos porque têm um papel central a desempenhar na mudança de atitude relativamente aos casamentos prematuros e na provisão dos serviços que as raparigas necessitem. Toda esta acção necessita de recursos adicionais e de vontade política para podermos passar dos compromissos às acções, porque há muito trabalho a fazer. Embora a taxa de casamentos prematuros em Moçambique tenha diminuído por 5% entre 1997 e 2011, com o crescimento populacional o número de raparigas a casar ainda crianças continua mais ou menos a ser o mesmo. O mesmo fenómeno está a ser observado em toda a África. De acordo com o UNICEF, o número total de casamentos prematuros em África aumentará de 125 milhões para 310 milhões antes de 2050, a menos que sejam dobrados os nossos esforços para acabar com esta prática. Moçambique tem agora a oportunidade de liderar o resto do Continente Africano com o seu exemplo, de aplicar o seu poder e energia em apoio a nova Estratégia, com o objectivo de eliminar o casamento prematuro. O futuro das próximas gerações está em causa. Acreditamos e temos esperança que todos juntos, venceremos este mal. Albino Francisco, Coordenador da Coligação para a Eliminação dos Casamentos Prematuros em Moçambique (CECAP) & Heather B. Hamilton, Directora Executiva Adjunta da Girls Not Brides [Meninas Não Noivas]: A Parceria Global Contra os Casamentos Prematuros.