JOSÉ OTÁVIO DO AMARAL CORRÊA EFEITO DA TALIDOMIDA E DA PENTOXIFILINA NA PRODUÇÃO DE MEDIADORES INFLAMATÓRIOS E NA PATOGÊNESE DA ENCEFALOMIELITE AUTOIMUNE EXPERIMENTAL (EAE) Niterói 2008 JOSÉ OTÁVIO DO AMARAL CORRÊA EFEITO DA TALIDOMIDA E DA PENTOXIFILINA NA PRODUÇÃO DE MEDIADORES INFLAMATÓRIOS E NA PATOGÊNESE DA ENCEFALOMIELITE AUTOIMUNE EXPERIMENTAL (EAE) Dissertação / tese apresentado ao curso de Pós-graduação em Patologia da Universidade Federal Fluminense Orientador: Dr. Fernando Monteiro Aarestrup Niterói 2008 Corrêa, José Otávio do Amaral Efeito da talidomida e da pentoxifilina na produção de mediadores inflamatórios e na patogênese da Encefalomielite Autoimune Experimental (EAE). / José Otávio do Amaral Corrêa. – Niterói 2008. 95 f Tese de Doutorado (Patologia Investigativa – Programa de Pós-Graduação em Patologia) – Universidade Federal Fluminense Orientador: Fernando Monteiro Aarestrup Bibliografia: f. 78 – 91 1. ENCEFALOMIELITE AUTOIMUNE EXPERIMENTAL Pentoxifilina 2. TNF-α 3. 4. Talidomida. I. Universidade Federal Fluminense. II. Efeito da talidomida e da pentoxifilina na produção de mediadores inflamatórios e na patogênese da Encefalomielite Autoimune Experimental (EAE). CDD JOSÉ OTÁVIO DO AMARAL CORRÊA EFEITO DA TALIDOMIDA E DA PENTOXIFILINA NA PRODUÇÃO DE MEDIADORES INFLAMATÓRIOS E NA PATOGÊNESE DA ENCEFALOMIELITE AUTOIMUNE EXPERIMENTAL (EAE). Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Patologia como requisito para obtenção do Grau de Doutor. Área de concentração: Patologia Investigativa. Aprovado em 30 de abril de 2008 BANCA EXAMINADORA Profª. Dr(a). Beatriz Julião Vieira Universidade Federal de Juiz de Fora Profª. Dr(a). Eliane Pedra Dias Universidade Federal Fluminense Prof. Dr. Rodrigo de Oliveira Moreira Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro / Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Prof. Dr(A). Rosângela Maria de Castro Cunha Universidade Federal de Juiz de Fora Profª. Dr(a). Thereza Fonseca Quírico dos Santos Universidade Federal Fluminense Aos meus pais, irmã e sobrinha, Pelo incentivo e apoio incondicional em todos os caminhos desta jornada. AGRADECIMENTOS Gostaria, inicialmente, de agradecer a Capes pelo suporte e apoio financeiro a este trabalho. Agradecer a meu orientador Dr. Fernando Monteiro Aarestrup que esteve presente em todos os momentos, mostrando ser muito mais do que orientador. Foi o verdadeiro professor e foi amigo. Agradeço a todos os Professores do Departamento de Patologia da UFF e aos que ministraram as disciplinas do Programa. Sua presteza e dedicação foram cruciais. Aos meus familiares, em especial meu Pai e amigo, minha Mãe (e que mãe!), minha irmã, que sempre me apoiaram nessa luta. A Aline Guidine pela paciência, companheirismo e dedicação a mim conferidos, mesmo nos momentos em que eu estava mais ausente. A meus amigos, Helvécio, e Luciana que juntos trabalhamos no CBRUFJF e várias vezes dividimos nossas dúvidas e “desesperos” de uma tese. A meu amigo Ivo Malta pela ajuda incansável na realização deste trabalho. A Dra. Thereza Quírico pela excelente orientação, e imprescindível apoio, sem os quais este trabalho não seria possível . A Dra. Beatriz Julião que sempre esteve presente e contribuiu de forma primordial e decisiva para a realização este trabalho. Meu eterno agradecimento. A Dr(a) Priscila Faria pelo apoio na realização da técnica de ELISA. Aos meus amigos da UNIPAC e da UFJF, que foram os melhores incentivadores por todo o tempo. E por último e mais importante, a Deus por ter me dado força e saúde para suportar as pressões dos momentos mais difíceis desta jornada. RESUMO A Encefalomielite autoimune (EAE) em ratos Lewis é um modelo experimental de doença desmielinizante e inflamatória do sistema nervoso central (SNC) humano. EAE é amplamente aceita como estudo de mecanismos imunoinflamatórios no SNC relacionados com a esclerose múltipla (EM) devido a alterações clínicas similares. O Fator necrose tumoral alfa (TNF-α) tem sido implicado como um mediador chave na fisiopatologia e no processo inflamatório do CNS. No presente estudo duas drogas (talidomida e pantoxifilina) foram utilizados durante o desenvolvimento da EAE por serem conhecidas como inibidoras de TNF-α em ratos Lewis. A EAE foi induzida com inoculação de homogeneizado medular de cobaia em adjuvante completo de Freunds no coxim plantar no dia 0 e ratos tratados durante 15 dias, com talidomida injectada por via subcutânea ou pentoxifilina injetada intraperitonial. Avaliação clínica foi realizada diariamente e a análise histológica (colorações de Hematoxilina e Eosina e Weigert Pal Russel) do tecido cerebral e da medula espinhal realizada no final do experimento. O método de Griess foi escolhido para a determinação do NO e ensaio imunoenzimático (ELISA) utilizado para medir os níveis das citocinas e interferon gama (IFN-γ e TNF-α plasmáticos. A Talidomida causou uma redução significativa na neuroinflamação e da desmielinização no SNC. Níveis plasmáticos de NO, IFN-γ e TNF-α também apresentaram acentuada redução. Esses achados foram correlacionados com a melhoria dos sintomas clínicos. Em 90% dos ratos tratados com a talidomida não desenvolveram EAE. Nossos experimentos mostraram que a pentoxifilina não foi efetiva na modulação da EAE. O resultado ainda sugere que a talidomida interfere fortemente com a patogenia EAE e nos mecanismos de desenvolvimento e produção de mediadores inflamatórios. Tal droga pode também ser considerado um importante instrumento para a utilização em esquemas terapêuticos de doenças inflamatórias desmielinizantes do SNC como a esclerose múltipla. ABSTRACT Autoimmune encephalomyelitis (EAE) in Lewis rats is an experimental model of demyelinating inflammatory disease of the human central nervous system (CNS). EAE is widely accepted for study immune-inflammatory mechanisms in the CNS related to multiple sclerosis (MS) due to similar clinic. Tumor necrosis factor alpha (TNF-α) has been reported as a key mediator implicated in the physiopathology of CNS inflammatory process. In the present study two drugs (Thalidomide and pantoxifylline) known as TNF-α inhibitors were used during EAE development in Lewis rats. EAE was induced with inoculation of guinea pig spinal cord homogenate in complete Freunds adjuvante in the footpad on day 0 and rats treaties during 15 days with Thalidomide injected subcutaneous or pentoxifylline injected intraperitoneally. Clinical evaluation was carried out daily and histological analysis (staining with hematoxylin and eosin and Weigert Pal Russel) of brain tissue and spinal cord performed at the end of experiment. Griess method was chosen for determination of NO and enzyme immunoassay (ELISA) for TNF-α and interferon gamma (IFN-γ) cytokine plasma levels. Thalidomide caused a significant reduction in neuroinflammation and demyelination within the CNS. Plasma levels of NO, IFN-γ and TNF-α also showed marked reduction. Such findings were correlated with improvement of clinical symptoms. 90% of rats treated with thalidomide did not develop EAE. Our experiments showed that pentoxifylline was not effective in the modulation of EAE. The results until suggest that thalidomide interfere strongly with pathogenetic mechanisms of EAE development and production of inflammatory mediators. Such drug may also be considered an important tool for use in the therapeutic schemes of inflammatory demyelinating diseases of the CNS Such as multiple sclerosis. LISTA DE FIGURAS, TABELAS E QUADROS FIGURA 1 Preparo da emulsão ................................................................... 40 FIGURA 2 Inoculação e marcação auricular ............................................... 40 FIGURA 3 Coxim plantar de rato Lewis inoculado com GPSC-CFA ........... 41 FIGURA 4 Esquema Elisa direto para pesquisa de antígenos (TNF-α e IFN-γ) ......................................................................................... 47 FIGURA 5 A Corte histológico de medula espinhal do grupo controle ........... 62 FIGURA 5 B Corte histológico de medula espinhal do grupo EAE.................. 62 FIGURA 5 C Corte histológico de medula espinhal do grupo EAE + Pentoxifilina ................................................................. Corte histológico de medula espinhal do grupo EAE + Talidomida ................................................................................. Corte histológico da substância branca do cérebro do grupo controle....................................................................................... Corte histológico da substância branca do cérebro do grupo EAE ............................................................................................ Corte histológico da substância branca do cérebro do grupo EAE + pentoxifilina ..................................................................... Corte histológico da substância branca do cérebro do grupo EAE + talidomida ....................................................................... Corte histológico da substância branca do cerebelo do grupo controle....................................................................................... Corte histológico da substância branca do cerebelo do grupo EAE ........................................................................................... Corte histológico da substância branca do cerebelo do grupo EAE + pentoxifilina .................................................................... Corte histológico da substância branca do cerebelo do grupo EAE + talidomida ....................................................................... Corte histológico da substância branca da medula espinhal do grupo controle ............................................................................ Corte histológico da substância branca da medula espinhal do grupo EAE.................................................................................. Corte histológico da substância branca da medula espinhal do grupo EAE + Pentoxifilina .......................................................... Corte histológico da substância branca da medula espinhal do grupo EAE + Talidomida ............................................................ FIGURA 5 D FIGURA 6 A FIGURA 6 B FIGURA 6 C FIGURA 6 D FIGURA 7 A FIGURA 7 B FIGURA 7 C FIGURA 7 D FIGURA 8 A FIGURA 8 B FIGURA 8 C FIGURA 8 D 62 62 63 63 63 63 64 64 64 64 65 65 65 65 LISTA DE GRÁFICOS, TABELAS E QUADROS QUADRO 1 Escore clínico dos ratos Lewis com EAE ..................................... TABELA 1 Efeito da pentoxifilina e da talidomida no escore clínico por animal (n=10)................................................................................ Cinética da avaliação do efeito da pentoxifilina e da talidomida no escore clínico da EAE.............................................................. Efeito da pentoxifilina e da talidomida sobre o escore clínico da EAE no 15° dia pós-indução.......................................................... Efeito do tratamento com pentoxifilina e talidomida na produção de NO. .......................................................................................... Efeito do tratamento com pentoxifilina e talidomida na produção de IFN-γ. ....................................................................................... Efeito do tratamento com pentoxifilina ou talidomida na produção de TNF-α. ...................................................................... GRÁFICO 1 GRÁFICO 2 GRÁFICO 3 GRÁFICO 4 GRÁFICO 5 42 51 50 52 55 56 57 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS - Síndrome da imunodeficiência adquirida AMPc - Adenosina monofosfato cíclica CFA - Adjuvante Completo de Freund d.p.i. - Dias pós-inoculação EAE - Encefalomielite autoimune experimental ELISA - Enzima imunoensaio GPSC - Homogeneizado de medula de cobaio HE - Hematoxilina e eosina IFA - Adjuvante Incompleto de Freund i.p. - Intraperitoneal IFN-β - Interferon beta IFN-γ - Interferon gama IL - Interleucina Il-r - Interleucina recombinante KO - nocaute LT - Linfócito T MAG - glicoproteína associada à mielina MHC - Complexo principal de histocompatibilidade MOG - Glicoproteína associada ao oligodendrócito NO - Óxido Nítrico PBM - proteína básica de mielina PETOX - pentoxifilina PLP - proteolipideo da mielina PBS - Salina tamponada com fosfato s.c - Sub-cutâna TAL - talidomida TNF-α - Fator de Necrose Tumoral alfa UNIPAC UFJF - Universidade presidente Antônio Carlos Universidade Federal de Juiz de Fora SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 16 2 REVISÃO DE LITERATURA............................................................. 21 2.1- Possibilidades terapêuticas na Esclerose Multipla .................... 21 2.2- Encefalomielite Autoimune Experimental (EAE) como 3 4 5 modelo experimental da Esclerose Múltipla............................... 25 2.3- Drogas inibidoras de TNF-α.............................................................. 32 OBJETIVOS........................................................................................... 36 3.1- OBJETIVO GERAL..................................................................... 36 3.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................... 36 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................... 37 4.1- ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO.............................................. 37 4.2- CONDIÇÕES DE CRIAÇÃO E MANEJO DOS ANIMAIS........... 37 4.3- GRUPOS EXPERIMENTAIS....................................................... 38 4.4- INDUÇÃO DA EAE .................................................................... 39 4.5- TRATAMENTO APÓS A INDUÇÃO DE EAE.................................. 41 4.6- AVALIAÇÃO DOS SINAIS CLÍNICOS ....................................... 42 4.7 -OBTENÇÃO DE PLASMA E DE TECIDO NERVOSO............ 42 4.8- COLORAÇÕES HISTOLÓGICAS............................................... 43 4.8.1- Hematoxilina e Eosina ........................................................... 44 4.8.2- Hematoxilina Férrica de Weigert – Pal – Russel ................... 44 4.9- PRODUÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO (NO) .................................. 45 4.10- DOSAGEM DE IFN-γ e TNF-α POR ELISA............................. 46 4.11- ANALISE ESTATÍSTICA ......................................................... 47 RESULTADOS ..................................................................................... 48 5.1- CURSO CLÍNICO DA EAE ....................................................... 48 5.2- EFEITO DA PENTOXIFILINA E DA TALIDOMIDA NOS NÍVEIS PLAMATICOS DE NO, TNF-α e IFN-γ.......................... 53 5.3- ANÁLISE HISTOPATOLÓGICAS DO SNC DE RATOS COM EAE TRATADOS COM PENTOXIFILINA OU TALIDOMIDA.... 58 6 DISCUSSÃO ........................................................................................ 66 7 CONCLUSÕES ...................................................................................... 80 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 82 1- INTRODUÇÃO: Entre as doenças cujas causas ainda não foram identificadas, a Esclerose Múltipla (EM) é das mais insidiosas pelos obstáculos que opõe ao diagnóstico, dada à variedade e indefinição de seus sintomas, e a impossibilidade de prever seu curso (MOREIRA, 2000; PUGLIATI, 2006). A EM é uma doença autoimune de etiologia desconhecida que afeta o cérebro e a medula espinhal causando a lesões na bainha de mielina, provocando a interrupção temporária ou a transmissão desordenada desses impulsos. As manifestações clínicas mais freqüentes são entorpecimento, falta de coordenação, perda de equilíbrio, fraqueza muscular, paralisia, distúrbios visuais e do tato. Nos casos mais graves, pode levar à paralisia permanente e morte (TILBERY, 2005). As primeiras manifestações da doença costumam ocorrer no início da vida adulta, com picos de incidência ao redor dos trinta anos. No início, ela pode não ser alarmante com leve formigamento e entorpecimento nas pernas e discreta incordenação de movimentos. Nos casos mais sérios, o distúrbio se anuncia com fortes sinais de disfunção medular aguda, inclusive paralisia das pernas e incontinência urinária. Os sintomas tendem a desaparecer temporariamente (remissão) em questão de dias ou 17 semanas, podendo voltar (surto) a intervalos de meses ou anos, com intensidade gradualmente maior (MOREIRA, 2000). Repetições de surtos são características marcantes desta doença. O termo esclerose múltipla é decorrente das múltiplas áreas de cicatrização (esclerose) que representam muitos focos de desmielinização no sistema nervoso. Os sinais e sintomas neurológicos da EM são tão diversos que o médico pode não diagnosticá-la quando os primeiros sintomas ocorrem. Como a doença freqüentemente piora lentamente com o decorrer do tempo, os indivíduos afetados apresentam períodos de saúde relativamente boa (remissões) alternados com períodos de fraqueza (exacerbações) (CATELAN, 2004). MOREIRA et al (2000), estudos epidemiológicos mostram que a EM é a enfermidade neurológica crônica mais freqüente em adultos jovens. Na Europa e América do Norte acredita-se que a existência de um fator ambiental seria imprescindível para o aparecimento da doença, provavelmente na forma de uma infecção inaparente ou de caráter banal ou associado à existência de um fator genético de susceptibilidade para a doença. A EM afeta mais mulheres que homens. Estima-se que no mundo, são dois milhões de pessoas afetadas. No Brasil estima-se que afete de 25 mil a 30 mil pessoas Porém o último trabalho significativo, realizado em 1997, mostra que a prevalência da doença no estado de São Paulo era de 15 casos por 100 mil habitantes, contra 4,3 casos por 100 mil habitantes registrados em 1992 (CALLEGARO, 2001). 18 As respostas imunológicas na EM estão baseadas nos estudos de subpopulações dos linfócitos denominadas de Th1 e Th2. A ativação resposta imune ocorre devido à ativação das interleucinas pró-inflamatórias (TNF-alfa, IFN-gama, IL-12 e IL-18) e mediadoras (IL-4, 5, 10 e TGF-beta), respectivamente (TYLBERY, 2005; YANYING, et al., 2007). Na EM foi observado que as lesões produzidas na bainha de mielina são mediadas principalmente por uma resposta imune específica do tipo (Th1), onde macrófagos ativados por linfócitos T específicos contra proteínas e lipídeos da bainha de mielina modulam uma potente resposta imunológica com grande produção de TNF-α IFN-γ ( YANYING, et al., 2007). Os tratamentos atuais procuram diminuir a morbidade dando uma melhor qualidade de vida ao paciente, já que não existe cura. Os primeiros tratamentos tinham como base o uso de corticosteroídes, com intuito de promover redução da resposta autoimune através de estimular uma potente atividade antiinflamatória. Os corticosteroídes, porém, apresentam uma série de efeitos adversos como edema, hipertensão arterial sistêmica, fraqueza muscular, proteólise, maior risco de diabetes por ser antagonista da insulina e maior predisposição dos pacientes a infecções oportunistas em decorrência da queda imunitária. Em virtude destes efeitos adversos graves, as buscas por novas alternativas terapêuticas mais seguras prosseguiram e em meados da década de 90 estudos com imunomoduladores tornaram-se promissores (TYLBERY, 2005). 19 Atualmente, os imunomoduladores se tornaram parte do arsenal terapêutico no tratamento de pacientes com EM, oferecendo real possibilidade de modificação do curso e da progressão da doença. Os primeiros resultados publicados com o uso do interferon beta 1-a em mais de 350 pacientes, demonstraram redução no número e gravidade dos surtos, prolongando o tempo de remissão entre eles e reduzindo o número e volume de lesões na ressonância magnética nuclear, e retardando a progressão da doença. Nos últimos anos outros imunomoduladores têm sido empregados no tratamento da EM. Os imunomoduladores mais empregados são: o interferon beta 1-a (REBIF® e AVONEX®), o interferon beta 1-b (BETAFERON®), e o acetato de glatiramer (COPAXONE®) (BAYAS & GOLD, 2003; BRUNO, 2006). Entretanto, há pacientes onde os imunomoduladores não surtem efeito, e o tratamento com interferon apresenta uma série de efeitos adversos, além do alto custo do tratamento. O tratamento da EM é por tempo indeterminado, mas o paciente tem o direito de interrompê-lo depois de alguns anos sem crises. Há medicamentos que têm um custo mensal altíssimo (R$ 2.400,00 a R$ 5.600,00) Em Minas Gerais a Secretaria de Saúde gastou no ano de 2001 R$ 4.683.780,00 em medicamentos imunomoduladores para EM (8,54% do orçamento para compra dos 38 itens de Medicamentos Excepcionais - Portaria SAS/MS No 341 de 22/08/2001) (PEIXOTO, 2002). Em decorrência dos fortes efeitos adversos dos corticosteroídes e do alto custo dos tratamentos com os imunomoduladores estudos têm sido feitos no sentido de se encontrar uma terapêutica eficaz e ao mesmo tempo segura e de baixo custo. 20 Encefalomielite autoimune experimental (EAE) tem sido comumente usada como um modelo para estudos da EM e possíveis terapias para a mesma, devido à semelhança clínica e de aspectos imunológicos correlacionados (ALVORD, 1979; LEADBETTER, 1998). Neste modelo, animais como ratos Lewis, Dark Aboud, camundongos SJL, Balb/C e C57BL6 são freqüentemente utilizados para induzir a EAE. Nosso trabalho se propôs a testar o efeito das drogas Talidomida e a Pentoxifilina na produção de mediadores inflamatórios e na patogênese da EAE. Pentoxifilina e a talidomida têm sido utilizadas em estudos experimentais como eficientes inibidores da produção de TNF-α em resposta a lipopolissacarideos (NOEL et al., 1998). A pentoxifilina é um medicamento usado no tratamento de doenças veno oclusivas e possui ótima tolerabilidade (RIENECK 1993). Já a talidomida embora apresente efeito teratogênicos têm sido utilizadas em várias condições inflamatórias tais como Lupus Eritematoso Sistêmico, artrite reumatoíde e vários tumores (TEO et al., 2004). Por serem drogas de ação sobre o TNF-α e não causarem os efeitos adversos em demasia como os corticosteroídes e nem apresentarem os custos elevados do interferon beta, acetato de glatiramer e o novo tratamento com Natalizumab acreditamos que Talidomida e/ou a Pentoxifilina podem ser uma nova alternativa terapêutica para inibição da neuroinflamação. 2- REVISÃO DE LITERATURA 2.1- Possibilidades terapêuticas na Esclerose Múltipla A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune órgão específico do SNC, caracterizada desmielinização um processo envolvendo seletivo mecanismos de inflamação celulares e local com humoral. Esta enfermidade acomete principalmente adultos jovens com idade entre 20 e 40 anos, sendo uma das doenças neurológicas de maior incapacitação física do adulto jovem (PUGLIATI et al., 2006). A maioria dos pacientes (85%) inicia seu quadro clínico com a forma surto-remissão, e em cerca de 10 anos, evoluem para a forma clínica crônica progressiva secundária. Os sintomas da esclerose múltipla são; incontinência urinária, sensação de paralisia e perda de sensibilidade no braço ou na perna; perda do equilíbrio; perda parcial da visão depois recuperada; incoordenação motora. O paciente pode ainda sentir cansaço, alterações do humor, depressão e alterações da libido e na fase mais avançada, a EM pode ocasionar lapsos curtos de memória (REIBER, 1998). 22 A EM acomete mais as mulheres (PAPENFUSS et al., 2004) - a proporção é de três mulheres para dois homens com a doença podendo chegar até a proporção de 10 mulheres para um homem (PAPAIS-ALVARENGA, 1997; PUGLIATI et al., 2006). A etiologia ainda é desconhecida, afetando principalmente caucasianos. Vários fatores podem estar relacionados com a sua causa como, fatores ambientais, genéticos, infecções virais associados a Herpes vírus, vírus da caxumba, sarampo, HERV-W (nova família de retrovirus humano) e até mesmo fatores climáticos (KIM & CROW, 1999; LASSMANN et al., 2005, FROHMAN et al., 2006). Sabe-se que países frios apresentam incidência maior da doença em alguns países da Europa a proporção é de cem doentes para 100 mil habitantes (PUGLIATI et al., 2006). No Brasil, a proporção é de 15 a 20 doentes para 100 mil habitantes (PAPAISALVARENGA, 1997, LASSMANN et al., 2005). Os estudos nas áreas de imunologia e patologia sustentam a hipótese de um evento central orquestrado por linfócitos T CD4+ auto-reativos no início das lesões da EM. A presença desses linfócitos no parênquima cerebral após atravessarem a barreira hematoencefálica em contato com os antígenos, desencadeia uma cascata de eventos que culminará com a formação de placas desmielinizantes agudas (FROHMAN et al., 2006). Nesta doença autoimune do SNC células T apresentam severa reatividade contra proteínas da bainha de mielina, incluindo a proteína básica de mielina (MBP), proteína proteolipídica (PLP) e glicoproteína oligodendrócito da mielina (MOG), esta última implicada na manutenção do processo 23 (LEADBETTER et al., 1998). A EM apresenta lesões desmielinizantes principalmente provocadas por linfócitos Th1, com altos níveis de IFN-γ e potente ativação de macrófagos (YANYING, et al., 2007). O tratamento para EM consistia inicialmente na aplicação de corticosteroídes como predinisona em doses crescentes de acordo com a intensidade e freqüência das remissões. O uso de corticosteroídes por períodos prolongados pode causar uma série de prejuízos a outras funções do organismo como, edema, hipertensão arterial, fraqueza muscular e até diabetes (TILBERY, 2005). Devido ao efeito adverso dos corticosteroídes interferon beta 1a e 1b e acetato de glatiramer vêm sendo utilizado no tratamento da EM embora o mecanismo preciso e ação clínica ainda não esteja totalmente claro (SCHMIDT et al., 2001; BRUNO, 2006). O interferon beta e acetato de glatiramer são esquemas terapêuticos aprovados pelo FDA nos Estados Unidos, estes medicamentos são administrados de forma contínua (GOODIN et al., 2002), mas que não têm conseguido inibir completamente a progressão da doença, embora diminuam a ocorrência das lesões e os surtos da doença (De JAGER & HAFFLER, 2007). Durante o tratamento podem aparecer reações inflamatórias no local das injeções e aumento das enzimas hepáticas. Estas tendem a normalizar em poucos meses, mas em alguns pacientes podem complicar (RIZVI & AGIUS, 2004). Entre os desconfortos clínicos são relatados, náuseas, vômitos e perda de peso e, alguns pacientes podem produzir anticorpos que neutralizam o 24 interferon, com significante redução na eficácia terapêutica. Anticorpos são produzidos mais frequentemente contra interferon beta 1b do que contra interferon beta 1a (ROSSMAN, 2007). Outro fator limitante destas drogas é seu elevado custo, levando algumas vezes à falhas no tratamento que deve ser interrompido (APRIL et al., 2007). Outra droga promissora é o Natalizumab, um anticorpo monoclonal contra α-4-integrina que bloqueia a migração de linfócitos para o parênquima cerebral. Entretanto, efeitos adversos como, fadiga, reações alérgicas, ansiedade e edema periférico foram observados quando associado com interferon beta, além de infecções freqüentes, reações de hipersensibilidade e colelitíases, quando a droga é utilizado isoladamente. Além disso, o custo elevado limita o uso deste tratamento (GIOVANNONI et al., 2007, HORGA & HORGA, 2007). 25 2.2- Encefalomielite Autoimune Experimental (EAE) como modelo experimental da Esclerose Múltipla. Encefalomielite autoimune experimental (EAE) tem sido comumente usada como um modelo para estudos de estratégias terapêuticas inovadoras na EM devido à semelhança clínica e de aspectos imunológicos correlacionados entre elas (LEADBETTER et al., 1998). Neste modelo animais como ratos Lewis, Dark Aboud, camundongos SJL, Balb/C e C57 são freqüentemente utilizados para induzir a EAE. A EAE é uma doença autoimune do SNC, que serve como modelo de estudo para doenças desmielinizantes dos humanos como a EM (RAINE, 1976, YANYING et al., 2007). O curso clínico da EAE é caracterizada por ataxia, progressiva e ascendente paralisia com recidivas espontâneas podendo levar à morte. Isto coincide com uma resposta inflamatória do SNC que é caracterizada por infiltração de células T e macrófagos e ativação da micróglia e astrócitos (OHMORI, 1992; SHIN, 1995). O óxido nítrico proveniente de macrófagos parece ter um papel central na EAE (SEUNGJOON et al., 2000). Óxido nítrico (NO) é um gás apolar sintetizado a partir do metabolismo da L-arginina pela via da óxido nítrico sintase (NOS) (XIE & NATHAN, 1994). Existem duas isoformas da enzima: (1) A via da NOS dependente e constitutiva de cálcio e (2) a NOS induzida independente de cálcio. A constitutiva forma de NOS inclui a NOS neuronal (nNOS) e a NOS endotelial (eNOS) as quais são 26 rapidamente ativadas por agonistas que elevam o cálcio intracelular. A forma induzida da NOS é elevada horas após um estímulo imunológico (MONCADA et al., 1991; XIE et al., 1992; ANNIE-JEYACHRISTY et al, 2008). No SNC a forma constitutiva de NOS sintetiza NO, o qual tem um papel importante na sinalização intracelular, neurotransmissão e vaso regulação (BREDT et al., 1992; MURPHY et al., 1993). Entretanto, a eNos não é expressa por células cerebrais pouco ativadas (MURPHY et al., 1993; LEE et al., 1993; SUN et al., 1998). No SNC a geração local de NO por nNOS e/ou iNOS tem sido implicada em injúrias tóxicas incluindo injúria neuronal citotóxica (nNOS) (DAWSON et al., 1991; DAWSON et al., 1993), dano cerebral hipo-isquêmico (nNOS, iNOS) (BUISSON et al., 1992; HUANG et al., 1994; IADECOLA et al., 1995), injuria cerebral traumática (nNOS) (SHARMA et al., 1996), e desordens autoimunes (iNOS) (LIN et al., 1993; MCCARTNEY-FRANCIS et al., 1993; HOOPE et al., 1995; SHIN et al., 1998; SEUNGJOON et al., 2000, ANNIE-JEYACHRISTY et al, 2008). O papel do NO em doenças auto-imunes parece bastante controverso, apresentando efeitos reguladores e ao mesmo tempo efetores. Vários estudos têm mostrado que a iNOS é uma importante mediadora de inflamações no SNC por geração de NO no curso da EAE (MACMICKING et al., 1992; ZHAO et al., 1996; BRENNER et al., 1997; CROSS et al., 1997; OKUDA et al., 1997; TRAN et al., 1997; SEUNGJOON et al., 2000; PONOMAREV, et al., 2007) e lesões na EM (De GROOT et al., 1997; PONOMAREV, et al., 2007). Ao contrário destes achados, alguns pesquisadores mostraram que NO e suas enzimas incluindo iNOS parecem exercer um papel benéfico no curso da EAE porque iNOS 27 consegue inibir o agravamento da inflamação (RUULS et al., 1996; GOLD et al., 1997; OKUDA et al., 1998; COWDEN et al., 1998; PONOMAREV, et al., 2007) e porque EAE foi exacerbada em camundongos nocautes do gene NOS2. Animais com EAE produzindo altos níveis de NO e iNOS recuperam da paralisia (OKUDA et al., 1997), sugerindo que iNOS tem a capacidade de inibir atividade das células inflamatórias no SNC na EAE. Gonzalez-Hernandez & Rustioni (1999), reportaram que 3 isoformas de NOS, incluindo nNOS, eNOS e iNOS exercem um efeito benéfico na regeneração de nervos periféricos. Entretanto, nos estudos de SEUNGJOON et al. (2000) foi demonstrado que NO produzido por ambas as vias constitutivas nNOS e eNOS (mas não de iNOS) no cérebro, tem um papel benéfico na remoção de células inflamatórias através do bloqueio da proliferação de células T e eventualmente por indução da apoptose de células inflamatórias na EAE. Nos estudos de O’BRIEN et al. (1999) ratos Lewis apresentaram remissão clínica da EAE quando tratados com acetato de N-metil-L-arginina um inibidor de NOS. Citocinas tem um papel importante na diferenciação das células T e direcionarmento de precursores de células T (Th0) para linhagens Th1, Th2 e Th3. A IL-4 direciona células T para linhagens Th2, enquanto IL-12 direciona Th0 a secretar IFN-γ por células Th1 (LE GROS et al., 1990; HSIEH et al., 1992; FARIA & WEINER, 2006). Macrófagos ativados por linfócitos T CD4 apresentam alta produção de IFN-γ produzem H2O2, NO e TNF-α em resposta a esta ativação (CARLIN et al., 1989; FARIA & WEINER, 2006). Na EAE a inflamação é mediada por células Th1 (LASSMANN & WISNIEWSKI, 1979; 28 PONOMAREV, et al., 2007) ativadas por IL-12 (LEONARD et al., 1996) produzem, IL-2, IFN-γ e TNF-α (FALCONE & BLOOM, 1997). A IL-12 é uma citocina também produzida por células apresentadoras de antígenos (APC). É um heterodímero de subunidades p35 e p40, que induz produção de IFN-γ por células T e NK . IL-12 está envolvida na indução da fase aguda da EAE. Foi demonstrado por CRIS et al. (1998) que a administração de anti-IL-12 previne ativamente a EAE induzida e a EAE transferida por células imunes. Em ambas EM e EAE ocorre auto-reatividade de células T direcionadas neuroantígenos como a PBM. As células T envolvidas são do tipo Th1, mas a citocina TNF-α é um dos principais mediadores da EAE (LAFAILLE et al., 1997). O TNF-α é uma citocina pleiotrópica, produzida em grande escala por monócitos e macrófagos, sendo considerado um mediador primário da resposta inflamatória e comumente associado a uma ampla variedade de condições patológicas (OLD, 1985). Segundo FURLAN et al. (2004) a IL-12r induz produção de IFN-γ, óxido nítrico e TNF-α exacerbando a EAE. Sendo claro o envolvimento de TNF-α e IFN-γ em inflamações desmielinizantes como a EAE. RNA mensageiro para TNF-α e IFN-γ tem sido identificado no SNC na fase aguda da EAE (ISSAZADEH et al., 1995). TNF-α é produzido em grande quantidade por astrócitos de ratos Lewis susceptíveis a EAE, mas não em ratos 29 Brown-Norway resistentes à mesma (CHUNG et al., 1991). Injeções de TNF-α prolongam a EAE ou induzem recorrência em camundongos susceptíveis SJL que pareciam ter se recuperado parcial ou completamente da fase aguda da EAE (KURODA et al., 1991; CRISI et al., 1995). Entretanto, FREI et al. (2001) relata que camundongos C57BL/6 e SJL knockout para TNF-α e linfotoxinas α desenvolveram EAE indicando que estas citocinas não são essenciais para a indução da EAE. Mas, a importância, da resposta Th1 fica demonstrada quando na tentativa de tratar pacientes de EM com IFN-γ mostrou-se não só ineficaz, mas também levou a piora clínica drástica dos pacientes. Isto deve-se ao fato de o IFN-γ aumentar a expressão de moléculas de complexo de histocompatibilidade principal de classe ll e, portanto, aumenta a apresentação de antígenos. Além disso, induz a diferenciação de Th0 a células tipo Th1, as quais estão envolvidas na patogênese e manutenção da desmielinização tanto da EM quando da EAE (SHEVACH, 2000). No entanto, tem sido mostrado que administração oral e via mucosa de auto-antígenos e de IL-10 suprime resposta Th1 na EAE com menor produção de IFN−γ, TNF-α e aumento na produção de TGF-β e IL-10. Camundongos SJL após administração por via nasal com PBM e IL-10 reduziram resposta proliferativa de linfócitos e produção de IFN-γ. Foi observado em adição aumento da produção de IL-10 e TGF-β, conferindo proteção contra a EAE (SLAVIN et al., 2001; FARIA & WEINER, 2006). O tratamento com IL-10 leva a mudança de isotipos de IgG2a para IgG1 que marcam a mudança de resposta Th1 para Th2 e proteção contra a EAE. O mecanismo no qual a IL-10 reduz a 30 indução de IFN-γ, TNF-α e a EAE talvez esteja baseado no fato de esta citocina diminuir a expressão de receptores de TNF-α (WEINER, 1997). Entretanto, tentativas terapêuticas utilizando PBM via oral em alguns pacientes com EM não tiveram sucesso. Isso sugere que intervenções terapêuticas que induzem tolerância oral podem não ser efetivas em todos os pacientes com EM. Como salientado anteriormente IL-10 aumenta a produção de TGFβ (SLAVIN et al., 2001; FARIA & WEINER, 2006) de fato, muitas células, incluindo as células T produzem TGF-β na forma latente. Estudos de imuno – histoquímica mostram dados pouco conclusivos sobre o papel do TGF-β produzidos por infiltrados de EAE, porque a diferenciação entre forma ativa e latente de TGF-β não foi feita nestes estudos. Portanto, não está claro o papel do TGF-β endógeno na proteção de doenças autoimunes. Mas, tratamento com TGF-β ativo tem mostrado ser efetivo contra doenças autoimunes locais e sistêmicas. O grande problema é que tratamento sistêmico com TGF-β induz fibrose no fígado e glomeruloesclerose além de ser teratogênico em camundongos. Outro caminho possível é o uso de TGF-β de forma latente e localizada ao local do infiltrado inflamatório, suprimindo assim este processo (CHEN et al., 1998). O tratamento tanto da EAE quanto da EM é bastante eficaz quando usado corticosteroídes e ciclofosfamida que inibem a proliferação de células T, 31 interferindo, assim, na secreção de citocinas que conduzem à inflamação e posterior ativação de células T (DAYNES et al., 1990). Costicosterona mostrou-se efetivo na redução de resposta Th1 murina, mas não de Th2, isto tanto in vitro quanto in vivo (DAYNES & ARANEO, 1988; DAYNES et al., 1990). Usando células T CD4+ de ratos foi demonstrado que dexametasona sintética favoreceu o desenvolvimento de células Th2 (RAMIREZ et al., 1996). Foi demonstrado em culturas de células de sangue periférico que IL-12 (p40) e TNF-α são de 10 a 100 vezes mais sensíveis ao efeito da dexametasona que IL-10. Estes achados suportam que drogas que atuam modulando o balanço Th1 X Th2 ou que possam inibir respostas por estas citocinas podem favorecer a recuperação de doenças como a EAE e talvez a EM (SHEVAC, 2000). Embora o uso de corticosteróide e imunossupressores leve à melhora do quadro clínico, os efeitos adversos destas classes de medicamentos, por vezes, tornam-se tão deletérios quanto os da própria EM. Efeitos estes que incluem, além da depressão da imunidade do paciente, risco de diabetes, edema, hipertensão arterial, fraqueza muscular, dificuldade de cicatrização, hipoproteinemia entre outros (SCHMIDT et al., 2001; TILBERY, 2005; DAVEY & BUCHBINDER, 2008). Como já foi mencionado o uso de IFN-β tem proporcionado também melhora terapêutica nos pacientes com EM, porém, estes medicamentos apresentam como problema o elevado custo do tratamento e vários efeitos 32 adversos que por vezes leva a dificuldade na terapêutica do paciente (APRIL et al., 2007). Como a cura ainda não foi possível, torna-se, portanto, importante as pesquisas que busquem alternativas terapêuticas eficazes tanto clinicamente como economicamente e que forneçam além de efeitos farmacológicos esperados menores efeitos adversos, características que devem nortear sempre que possível uma terapêutica ideal. 33 2.3- Drogas inibidoras de TNF-α α TNF-α é um mediador crucial envolvido na comunicação entre imunidade e SNC em condições fisiológicas e sua importância é ampliada durante doenças inflamatórias. Foi demonstrado que, IL-12r induz produção de IFN-γ, óxido nítrico e TNF-α exacerbando a EAE (FURLAN et al., 2004). Camundongos tratados com PBM via oral antes da imunização ficaram protegidos e apresentaram menor nível de TNF-α, mostrando mais uma vez a importância desta citocina na patogênese da EAE. A pentoxifilina é uma metilxantina inibidora de fosfodiesterases usada no tratamento de doenças venosas oclusivas que aumenta a perfusão em tecidos pouco vascularizados (STREITER, 1988, RIENECK 1993). Alguns autores relatam o efeito anti-tumoral da pentoxifilina (TEICHER et al., 1991; RIENECK 1993). Quando a pentoxifilina é administrada com 4 -ácido acético 5,6dimetilxantenona aumentou o efeito anti-tumoral desta droga suprimindo a produção de TNF-α (CHING et al., 1998). Pentoxifilina também apresenta propriedades antiinflamatórias exercendo efeitos inibitórios sobre interleucina-1β (IL-1b), IL-6, IL-8 (NEUNER, et al., 1994), IFN-γ e IL-2 (RIENECK, 1993), e um forte efeito inibidor na produção de NO em camundongos (VADIEI et al., 1996). Pentoxifilina aumenta os níveis intracelulares de AMPc em macrófagos um efeito inibidor na produção de TNF-α por estas células (SZTRYMF et al., 2004). Segundo BESSLER et al, 34 (1986) a pentoxifilina inibe não só a capacidade fagocítica de monócitos e também, a produção de superóxido. Além de aumentar AMPc intracelular a pentoxifilina também diminui os níveis de RNAm para a produção de TNF-α afetando a transcrição para a sua síntese (HEN-I, et al., 2004). Contudo, a administração de pentoxifilina não apresentou melhora dos sintomas da EAE, mas quando tratada com IL-1r e pentoxifilina o camundongo Dark About houve melhora clínica (POLAK, 2003). Assim como a Pentoxifilina, a Talidomida, um derivado racêmico do ácido glutâmico, tem sido utilizada em vários modelos experimentais como inibidora da produção de TNF-α em resposta a lipopolissacarídeos (NOEL et al., 1998). Esta droga foi sintetizada e designada para pesquisas em 1953 por pesquisadores da Química Grunenthal no oeste da Alemanha. Na época, este novo agente falhou no controle de crises epiléticas, entretanto, apresentou potente efeito hipnótico e sedativo. Porém, entre 1961 e 1962 foi retirada do mercado devido à severa teratogenicidade (MELLIN & KATZENSTEIN, 1962; HASHIMOTO, 2002). Vários anos depois a talidomida atraiu o interesse dos pesquisadores devido ao potencial para o tratamento de várias doenças, incluindo hanseníase, AIDS, mieloma múltiplo e vários tipos de cânceres e outras desordens dependentes de angiogênesis (HASHIMOTO, 2002). Em julho de 1998 foi aprovada nos Estados Unidos pela FDA (Food and Drug Administration) para emprego terapêutico em pacientes com eritema 35 nodoso leproso e complicações da hanseníase (Collin et al., 2001). Também tem sido utilizada em várias condições inflamatórias tais como Lupus eritematoso sistêmico, artrite reumatoíde e vários tumores (TEO et al., 2004). SAMPAIO et al. (1991), demonstraram que talidomida inibe seletivamente síntese de TNF-α em sangue periférico humano estimulado por micobactérias em cultura. Esta ação parece ser mediada por aumento na degradação de RNAm resultando em uma redução do mesmo (MOREIRA et al., 1993). Devido a este efeito sobre o TNF-α a talidomida é usada em muitas doenças inflamatórias nos qual esta citocina exerce um papel central na patogênese (GUTIERREZ-RODRIGUES et al., 1989; GRAU, 1991; SARNO et al., 1991; VOGELSANG et al., 1992). A EAE é uma doença inflamatória desmielinizante do SNC mediada por linfócitos T CD4+ onde os episódios da doença se correlacionam com infiltração de leucócitos ativados no SNC e iniciação de funções efetoras por uma rede de citocinas liberadas, o que resulta em lesões histológicas na mielina levando a deficiência neurológica (ALVORD et al., 1979; YANYING et al., 2007). As células T específicas que migram para o SNC na EM e na EAE apresentam um padrão Th1 de resposta levando a elevados níveis de IFNγ (MUSTAF et al., 1991) e TNF-α (YANYING et al., 2007) Diante do exposto é relevante estudar-se o possível efeito antiinflamatório da pentoxifilina e da talidomida para modular a resposta inflamatória e o curso clínico da EAE induzida em ratos Lewis. 3- OBJETIVOS: 3.1- OBJETIVO GERAL: Avaliar os efeitos da pentoxifilina e da talidomida sobre a evolução clínica e alguns mediadores inflamatórios no modelo da EAE em ratos Lewis. 3.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS: A) Verificar os efeitos da pentoxifilina e da talidomida sobre o curso clínico da EAE induzidas nos ratos Lewis. B) Avaliar também os efeitos da pentoxifilina e da talidomida sobre os níveis séricos dos mediadores IFN-γ, TNF-α e NO; C) Investigar os efeitos dos inibidores de TNF-α sobre as alterações histológicas no SNC. 4- MATERIAL E MÉTODOS: Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal do Centro de Biologia da Reprodução – Universidade Federal de Juiz de Fora. 4.1- ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO Ratos Lewis isogênicos, fêmeas com idade variando de 6 a 8 semanas, pesando 120 –150g foram obtidos do CEMIB – UNICAMP – SP - Brasil. 4.2- CONDIÇÕES DE CRIAÇÃO E MANEJO DOS ANIMAIS O alojamento dos ratos, no Biotério do Centro de Biologia da Reprodução – UFJF é provido de amplos basculantes telados e de dois exaustores, além de aquecedores de meio ambiente. A temperatura é mantida ao redor de 22 ºC, pela ventilação natural no verão e, no inverno, com ajuda de aquecedores. A iluminação é mista – luz natural e lâmpadas fluorescentes – sendo as últimas controladas automaticamente para acenderem às 6h e 38 apagarem às 18h. Os animais foram mantidos em gaiolas de polipropileno, providas de camas de maravalha selecionada, mas não esterilizada, mamadeira para água e cocho para ração do tipo peletizada (PETERS & GUERRA, 1996). Os animais foram alimentados com ração e água ad libitum. 4.3- GRUPOS EXPERIMENTAIS Ao todo foram utilizados 40 animais, destes 10 foram utilizados como controle negativo e não receberam qualquer tipo de tratamento e foram sacrificados para análises padrão de clínica, histologia e análises sorológicas normais. Os demais foram, divididos em três grupos como mostrado abaixo e sacrificados no 15° dia pós-indução da EAE: a) Grupo controle negativo – 10 animais b) Grupo EAE (animais injetados com Macerado de cobaia e Adjuvante completo de Freund + 4 mg de Mycobacterium tuberculosis) – 10 animais c) Grupo EAE e Tratados via intra-peritoneal com 100 mg/Kg de pentoxifilina ininterruptamente durante 15 dias – 10 animais d) Grupo EAE e Tratados via subcutânea com 30 mg/Kg de talidomida ininterruptamente durante 15 dias – 10 animais 39 4.4- INDUÇÃO DA EAE (adaptado de COLIGAN et al., 1996; CARVALHO, 1999) As medulas espinhais de cobaia (GPSC) e a cepa de Mycobacterium tuberculosis (ATCC H37 RA, Difco, Detroit, Ml) utilizadas para indução da EAE foram gentilmente cedidas pela Dra. Thereza Fonseca Quírico do Santos da UFF. Para preparar a emulsão antigênica completa (GPSC-CFA) foram feitas homogeneizações de uma parte de macerado de GPSC em duas partes de Adjuvante Incompleto de Freund (IFA) acrescido de 4 mg de Mycobacterium tuberculosis (MBT H37 RA, Difco, Detroit, Ml) por mililitro de adjuvante, formando assim o Adjuvante Completo de Freund (CFA). Inoculo completo – GPSC-CFA GPSC 750µl + IFA 1500µL + MTB H37 RA 6 mg A emulsão foi preparada (Fig. 1) à temperatura ambiente, através da aspiração e ejeção continuada dos componentes por aproximadamente 20 minutos. Foram utilizados frascos e seringas plásticas estéreis e agulhas 25 x 12 mm. A emulsão foi considerada pronta quando ao se pingar uma gota sobre a água esta se mantinha íntegra. A emulsão foi preparada imediatamente antes do uso (Carvalho, 1999). 40 FIGURA 1. Carvalho, 1999. (A) Aspiração e ejeção dos componentes da emulsão em frasco e seringa estéril durante cerca de 15 minutos. A emulsão vai tornando-se grossa e homogênea. (B) Para verificar se a emulsão está pronta, pinga-se uma gota em frasco com água gelada, devendo a gota permanecer íntegra. Os animais foram inoculados 100 µL de emulsão antigênica, sendo injetadas no coxim plantar da pata traseira e feita à marcação auricular dos grupos (Fig. 2). Os animais foram observados diariamente quanto ao aparecimento dos sinais clínicos (Quadro I) sendo sacrificados 15 dias após a inoculação. FIGURA 2. Adaptada de Carvalho, 1999. (A) Inoculação de 100 µL no coxim plantar da pata traseira do rato Lewis. (B) Código de marcação auricular utilizado que permite marcar até 100 animais. 41 Figura 3: Coxim plantar de rato Lewis inoculado com GPSC-CFA 4.5- TRATAMENTO APÓS A INDUÇÃO DE EAE Após a indução da EAE os animais foram tratados durante 15 dias ininterruptos com pentoxifilina ou com talidomida sobre condições assépticas. Os ratos receberam injeções subcutâneas com 30 mg/Kg de talidomida (Grunenthal GMBH, Stolberg, Alemanha). A talidomida foi dissolvida em dimetil sulfoxido (DMSO) (Sigma Chemical Co., St Louis, MO) e salina estéril e a concentração final de DMSO foi de 2% (AARESTRUP et al., 1995) e a concentração final de talidomida ficou em 90 mg/mL. A pentoxifilina (Sigma Chemical Co., St Louis, MO) foi dissolvida em salina estéril para uma concentração de 150mg/mL. Cada rato recebeu a dose 42 de 100 mg/Kg (CHING et al., 1998) intraperitoneal de forma ininterrupta durante os 15 dias da EAE. 4.6- AVALIAÇÃO DOS SINAIS CLÍNICOS Depois da inoculação os animais foram observados diariamente por duas horas por um período de 15 dias ininterruptos e os sinais clínicos foram registrados de acordo com LEADBETTER (1998) e MOHAMED et al (2004). (Quadro 1) ESCORE SINAIS CLÍNICOS 0 SADIO 1 PERDA DE TÔNUS DA CAUDA 2 PARALISIA PARCIAL MEMBROS POSTERIORES 3 PARALISIA SEVERA MEMBROS POSTERIORES 4 TETRAPLEGIA 5 MORTE Quadro I: Escore clínico dos ratos Lewis com EAE. 4.7 - OBTENÇÃO DE PLASMA E DE TECIDO NERVOSO Após anestesia com xilasina (20mg/Kg) e quetamina (50 mg/kg) (TERUYA et al., 2008) os animais foram sangrados pelo plexo oftálmico com auxílio de pipeta Pasteur heparinizada o plasma isolado foi aliquotado em 43 microtubos tipo “eppendorf” e imediatamente armazenados em “freezer” a – 70ºC para posterior análise das moléculas imunomoduladoras. Os animais foram então sacrificados com KCl (MORESCHI JUNIOR et al., 1999) para retirada do encéfalo e da medula por dissecção e os materiais do SNC foram mantidos imersos em soluções fixadoras de formol tamponado a 10% (4g de fosfato de sódio monobásico, 6,5 g de fosfato de sódio dibásico, 100mL de formol P.A e 900 mL de água destilada). Após dissecção os fragmentos foram desidratados em concentrações crescentes de etanol (70%, 90% e 100%) em banhos de 1 hora cada, sendo feitos 3 banhos em álcool absoluto. Posteriormente, foram clarificados em 3 banhos em xilol de 1 hora cada e finalmente feita à impregnação em parafina em estufa a 58°C e a inclusão na parafina a temperatura ambiente. Os blocos foram então cortados em micrótono modelo ”820” Spencer com espessura de 6 µm para colorações de hematoxilina – eosina e Hematoxilina Férrica de Weigert – Pal – Russel. 4.8- COLORAÇÕES HISTOLÓGICAS Os cortes foram desparafinados em três trocas de xilol (dois minutos cada) e hidratados em soluções de etanol com concentrações decrescentes com duas trocas a 100%, uma a 90% e uma a 70% (dois minutos em cada troca) e lavados em água destilada. 44 4.8.1- Hematoxilina e Eosina (Luna, 1968; Carvalho, 1999) Coloração de rotina tanto para tecidos normais quando para tecidos patológicos. Os núcleos coram-se em azul escuro (basofílicos) e o citoplasma em róseo (eosinofílicos). Após a hidratação dos tecidos, estes foram corados durante 15 minutos pela Hematoxilina de Harris: 5 g de hematoxilina dissolvidos em 50 mL de álcool absoluto e 100 g de alúmen de amônio ou potássio em 1000 mL de água destilada aquecida misturaram-se as duas soluções, deixou ferver, em seguida foi adicionado 2,5 g de óxido de mercúrio, reaquecido até tornar-se púrpuro escuro; foi retirada do aquecimento e esfriada rapidamente. Foram adicionados 2 a 4 mL de ácido acético glacial por 100 mL de solução, filtrado antes do uso e o material foi lavados e azulados em água corrente por 5 minutos e água amoniacal (200mL de água destilada com 3 gotas de hidróxido de amônio), corados pela solução de eosina aquosa 1% durante 2 minutos e diferenciados em etanol a 70%. 4.8.2- Hematoxilina Férrica de Weigert – Pal – Russel (Behmer, 2003) Técnica utilizada para visualização geral do tecido nervoso e principalmente da bainha de mielina. Nesta coloração a bainha é corada em azul-negro, as células nervosas em variações de amarelo-palha a cinzento, os nucléolos e os eritrócitos em negro e o fundo incolor. 45 Após desparafinar as lâminas, estas foram lavadas em água corrente por 3 minutos e tratadas em solução aquosa de sulfato férrico amoniacal a 4% por 3 minutos. Após isto foram lavadas rapidamente em água corrente. Em seguida, foi corada pela hematoxilina férrica de Weigert – Pal – Russel (Hematoxilina a 10% em álcool absoluto 20 mL, carbonato de lítio 1g em 80 mL de água corrente) por 15 minutos e lavada por várias passagens em água corrente, secada e montada. 4.9- PRODUÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO (Ding et al, 1988) 100 µL de plasma de cada animal foi colocado nos poços de microplacas de ELISA com fundo chato tipo Corning. O plasma foi incubado por 5 minutos à temperatura ambiente com 100µl do Reativo de Griess (Ding et al, 1988). Este reativo foi obtido misturando-se a solução A (50ml de sulfanilamida 1%) com a solução B (50ml de 0,1% dihidro-cloreto de naftiletilenodiamina diluído em 2,5% de H3PO4- Sigma Co., St. Louis), volume a volume. A absorbância foi medida, utilizando-se um filtro de 540 nm em um leitor automático de ELISA (SPECTRAMAX 250, Molecular Devices) e a produção de NO foi quantificada através de comparação com uma curva padrão de Nitrito em concentrações variando de 3,12 a 100µM, sendo os resultados expressos em moles/mL. 46 4.10- DOSAGEM DE IFN-γγ E TNF-α α POR ELISA Placas de ELISA foram sensibilizadas com um primeiro anticorpo (2 µg/ml de anticorpo anti-TNF-α Rat 900-K73 e 1 µg/ml de anticorpo anti-IFN-γ Rat 900-K109) (PeProtech Inc, New Jersey), diluídos em PBS, incubadas durante 16 horas a 4ºC e bloqueadas com PBS- Tween 20 (PBST) + 10% SFB, por 2 horas. Após este período, as placas foram lavadas quatro vezes em PBST e, em seguida, adicionados o padrões de TNF-α e IFN-γ recombinante de rato (PeProtech Inc, New Jersey) e as amostras dos animais utilizados no modelo experimental. As placas foram então incubadas por mais 2 horas à temperatura ambiente. Terminada a incubação as placas foram lavadas quatro vezes em PBS-T e o segundo anticorpo biotinilados (anti-TNF-α 1 µg/mL e antiIFN-γ 0,5 µg/mL PeProtech Inc, New Jersey) foram adicionados e incubados por mais 1 hora à temperatura ambiente. A seguir mais quatro lavagens com PBS-T foram feitas e adicionado o conjugado enzimático constituído do complexo streptoavidina-peroxidase, na diluição de 1/400 (SIGMA - Co, St. Louis), seguido de incubação por mais 1 hora. Após este período, a reação foi revelada pela adição do substrato contendo Tampão Citrato (pH 5,5), cromógeno OPD (1mg/mL) e água oxigenada 30% (1µg/mL). A reação foi bloqueada com ácido sulfúrico 4N e a leitura feita em leitor de ELISA (SPECTRAMAX 250, Molecular Devices) a 440 nm. As amostras foram quantificadas por comparação com as curvas padrões de TNF-α e IFN−γ recombinantes (1 pg - 10 ng). (Fig. 4) 47 Figura 4 – Esquema Elisa direto para pesquisa de antígenos (TNF-α e IFN-γ). 4.13- ANÁLISE ESTATÍSTICA Dados são expressos em média e + desvio padrão e analise estatística realizada pelo programa Graphpad Instat e o teste de Dunn’s com Kruskal – Wallis utilizado, sendo considerado P<0,05 para indicar uma estatística significantemente diferente. 5.0- RESULTADOS 5.1- Curso clínico da EAE Os 40 ratos utilizados foram acompanhados clinicamente durante todo o experimento. Os grupos se comportaram de maneira diferente durante a realização do experimento. Para o grupo controle foram utilizados dez ratos e em nenhum momento foi observado qualquer sinal clínico neurológico da EAE, tais como perda do tônus da calda (escore 1), paralisia parcial dos membros posteriores (escore 2), paralisia severa dos membros posteriores (escore 3), tetraplegia e animais moribundos (escore 4) ou morte dos animais (escore 5). Os ratos Lewis inoculados com GPSC – CFA começaram a apresentar os sintomas da EAE em torno do sexto dia após a inoculação. Neste estágio dois animais apresentavam flacidez e atonia caudal (escore 1). No oitavo dia após a indução todos os animais já apresentavam queda da cauda (escore 1), porém a maioria dos animais ainda apresentavam os movimentos dos membros anteriores e posteriores preservados exceto um animal com paralisia parcial dos membros posteriores (escore 2). Em torno do 10° dia pós 49 inoculação os animais apresentavam-se agitados e com certa dificuldade de movimentar-se. Neste dia sete animais apresentavam paralisia parcial de membros posteriores (escore 2) e dois animais já apresentavam paralisia severa de membros posteriores (escore 3). Do 13° ao 14° dia de experimento os animais continuavam todos com sintomas da EAE, sendo que, sete animais apresentavam paralisia severa dos membros posteriores (escore 3), dois animais apresentavam tetraplegia e estado moribundo (escore 4) e um animal paralisia parcial dos membros posteriores (escore 2). (gráfico 1). A tabela 1 representa o escore clínico da EAE dia no sacrifício dos animais, ou seja, no 15° dia pós-indução da EAE. Resultado diferente foi observado nos ratos Lewis inoculados com GPSC – CFA e tratados durante os 15 dias intraperitonealmente com 100 mg/Kg de pentoxifilina. Nestes animais somente um animal apresentou perda de tônus da calda (escore 1) no 6° dia e seis animais no 8° dia. No 10° dia pós-inoculação oito animais apresentavam os sintomas da EAE, estando bastante agitados na gaiola. Desses oito animais (seis) apresentavam paralisia parcial de membros posteriores (escore 2) e dois ainda apresentavam perda de tônus da calda (escore 1). No 14° dia pós-inoculação somente seis animais apresentaram os sintomas neurológicos da EAE. Sendo que três animais evoluíram para paralisia severa dos membros posteriores (escore 3), um apresentava tetraplegia e estado moribundo, um apresentava paralisia parcial dos membros posteriores e um apenas queda de tônus da cauda (escore 1), dois animais que apresentavam sintomas da EAE no 10° dia não os apresentavam no 14°/15° dia (tabela 1 e gráfico 1). 50 Os animais inoculados com GPSC – CFA e tratados durante os 15 dias por via subcutânea com 30 mg/Kg de talidomida apresentaram resultado completamente diferente dos demais grupos. Apenas um animal (A) apresentou sintomas neurológicos da EAE. Sintoma este que se iniciou em torno do 7° dia com perda de tônus da cauda (escore 1), passou a apresentar paralisia parcial dos membros posteriores (escore 2) no 10° dia pós-inoculação e finalmente paralisia severa dos membros posteriores no dia do sacrifício (15° dia pós-inoculação) (tabela 1). Os gráfico 1 mostra a evolução do escore clínico dos animais com EAE e dos animais com EAE e tratados com pentoxifilina ou com Talidomida durante os 15 dias de evolução da fase aguda doença. *** *** Gráfico 1: Cinética da avaliação do efeito da pentoxifilina e da talidomida no escore clínico da EAE. Os resultados estão expressos em média e desvio padrão por grupo. . ***p<0,001 entre grupo EAE e grupo EAE + talidomida. 51 A tabela 1 mostra o escore clínico apresentado pelos dez animais de Cada grupo no dia do sacrifício (15° dia pós-inoculação) e a média do escore apresentada pelos animais dos grupos EAE, sem e com tratamento. O gráfico 2 mostra o escore clínico médio apresentado na tabela 1 e através dele podemos avaliar que o grupo doente (EAE) apresentou no 15° dia um escore clínico significantemente maior do que o grupo tratado com talidomida (p<0,001). Não foi observada nenhuma diferença estatisticamente significante entre os animais doentes (EAE) e os animais doentes e tratados intraperitonealmente com a pentoxifilina. Podemos observar também que entre os grupos tratados com pentoxifilina e tratados com talidomida o escore clínico não foram significantes quando comparados entre si (p<0,01). MÉDIA A B C D E F G H I J 15° dia I 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 II 3 3 3 3 4 3 4 3 3 2 3,1 III 3 3 3 4 2 1 0 0 0 0 1,4 IV 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,3 Tabela 1: Efeito da pentoxifilina e da talidomida no escore clínico por animal (n=10). I = Controle; II = EAE; III = EAE + pentoxifilina e IV = EAE + talidomida, Letras = animais e números na tabela = escore clínico. 52 4 *** ** 3,5 3 E s c o re c lín ic o 2,5 2 1,5 1 ** 0,5 *** 0 Controle EAE EAE + Pentoxifilina EAE + Talidomida Animais Gráfico 2: Efeito da pentoxifilina e da talidomida no escore clínico da EAE no 15° dia pós-indução. ***p<0,0001 entre o Grupo EAE e o Grupo Controle e **p<0,001 entre grupo EAE e grupo EAE + talidomida. 53 5.2- Efeito da pentoxifilina e da talidomida nos níveis plasmáticos de NO, TNF-α α e IFN-γγ no 15° dia pós-indução. No 15° dia do experimento, após a indução da EAE com macerado de medula espinhal de cobaias (GPSC-CFA) como descrito em material e métodos, os animais foram sacrificados e a amostra do plasma de cada animal foi obtida nos 4 grupos (controle, EAE, EAE + pentoxifilina e EAE + talidomida) para a quantificação da produção de NO, IFN-γ e TNF-α. A produção do NO (gráfico 3) mostra que os animais controle praticamente não apresentaram níveis detectáveis de NO, mantendo um valor basal muito baixo (< 2 µMol/mL) quando comparado aos animais com EAE (± 33 µMol/mL) (p<0,0001). Os animais com EAE apresentaram uma produção significativamente maior de NO que o grupo tratado com talidomida (p<0,05). Vale ressaltar, que não houve diferença significativa entre o grupo EAE e o grupo que recebeu tratamento com a pentoxifilina. Analisando os resultados referentes à produção de IFN-γ, (Gráfico 4), observamos que os animais doentes apresentavam uma alta produção de IFNγ, sendo significativamente maior que os valores encontrados no grupo controle (p<0,0001). Nos animais doentes, a produção de IFN-γ manteve o mesmo perfil daquela observada para NO. Ratos doentes e tratados com a talidomida a 54 produção foi menor (p < 0,05) quando comparada ao grupo de animais apenas com EAE, novamente não sendo observado nenhum efeito estatisticamente significante no grupo tratado com a pentoxifilina frente ao grupo EAE. Observando finalmente os resultados referentes à produção de TNF-α, (gráfico 5), verifica-se que os animais com EAE apresentaram uma alta produção de TNF-α, em relação ao grupo controle (p<0,0001). Nos animais doentes a produção de TNF-α manteve o mesmo perfil daquela observada para NO e o IFN-γ. Nos ratos doentes e tratados com a pentoxifilina embora tenham apresentado redução nos níveis desta citocina esta não foram estatisticamente significantes (p>0,05) frente ao grupo EAE. O grupo tratado com a talidomida, a produção foi significantemente menor (p<0,01) que no grupo com EAE. 55 Gráfico 3: Efeito do tratamento com pentoxifilina e talidomida na produção de NO. Grupo controle (n=10); grupo EAE (n=10); grupo EAE + pentoxifilina (n=10) e grupo EAE + talidomida (n=10). Os dados estão apresentados em media +\- SD. ***P<0,0001 Grupo EAE comparado ao grupo controle, ** P < 0,05 Grupo EAE comparado ao grupo EAE + Talidomida. 56 Gráfico 4: Efeito do tratamento com pentoxifilina e talidomida na produção de IFNγ. Grupo controle (n=10); grupo EAE (n=10); grupo EAE + pentoxifilina (n=10) e grupo EAE + talidomida (n=10). A produção foi medida com filtro de 440nm através do método de ELISA. Os dados estão apresentados em media +\- SD. ***P<0,0001 Grupo EAE comparado ao grupo controle, ** P < 0,05 Grupo EAE comparado ao grupo EAE + Talidomida. 57 Gráfico 5: Efeito do tratamento com pentoxifilina ou talidomida na produção de TNF-α α. Grupo controle (n=10); grupo EAE (n=10); grupo EAE + pentoxifilina (n=10) e grupo EAE + talidomida (n=10). A produção foi medida com filtro de 440nm através do método de ELISA. Os dados estão apresentados em media +\- SD. ***P<0,001 Grupo EAE comparado ao grupo controle, **p<0,01 comparando grupo EAE ao grupo EAE + Talidomida. 58 5.3- Análise histopatológicas do SNC de ratos com EAE tratados com pentoxifilina ou talidomida. Foram analisadas amostras de tecido de medula espinhal, cérebro e cerebelo, de características todos os corticais animais particulares do de experimento, cada observando-se órgão, bem como as as características da substância branca. Morfologia neuronal, presença e estrutura de fibras, celularidade do neurópilo, bem como intensidade, localização e composição de infiltrados inflamatórios foram os aspectos observados na avaliação. A análise histológica das amostras da substância branca de todos os órgãos do grupo controle, coradas por hematoxilina e eosina (HE) revelou características compatíveis com as descritas na literatura (CARVALHO, 1999; FABIS, et al., 2007). A avaliação da substância branca da medula espinhal do grupo controle, coradas por HE revelou neurópilo típico, com grande emaranhado de prolongamentos celulares gliais e provenientes de corpos de neurônios das áreas corticais. Em meio ao neurópilo, núcleos das células da neuroglia, com morfologia sugestiva de astrócitos, oligodendrócitos, intensamente basofílico e com halo perinuclear resultante de vacuolização citoplasmática típica do processamento histológico, conferindo a estas células aparência semelhante a “ovo frito”. Não foram constantemente identificadas na extensão dos cortes células com morfologia sugestiva de micróglia, normalmente menos numerosas no parênquima cerebral normal no animal controle (Figura 5. A). 59 As amostras do grupo EAE, coradas por HE, apresentaram em diversas áreas corticais e da substância branca, intenso infiltrado inflamatório perivascular, composto predominantemente por células mononucleares, com núcleos redondos intensamente basofílicos e citoplasma escasso. Associadas ao infiltrado, acúmulos de células com núcleo achatado fusiforme bem corado, associado à microgliose (setas). O neurópilo, especialmente na substância branca medular, apresentou esparsamento entre os prolongamentos e maior celularidade glial quando comparado ao grupo controle (Figura 5. B). No grupo EAE tratado com pentoxifilina, foram observados numerosos capilares circundados por infiltrado inflamatório mononuclear, em menor intensidade em relação ao grupo EAE, bem como neurópilo com esparsamento entre os prolongamentos e discreta celularidade glial associadas às células com morfologia sugestiva de micróglia e astrócitos. (Figura 5. C). Em ambos os grupos – EAE e EAE e pentoxifilina, as características histológicas referentes à reação inflamatória observadas no cérebro e no cerebelo foram correlatas com os achados medulares, sendo que em todas as áreas o infiltrado focal se localizava perivascular e mais intenso na substância branca. A avaliação das amostras provenientes do grupo tratado com a talidomida apresentou ora áreas de reação inflamatória focal escassa, com discreto infiltrado tecidual composto por células mononucleares, ora ausência de reação inflamatória. Em diversas áreas foram observadas fibras mielínicas 60 pouco numerosas, porém bem estruturadas, envolvidas por neurópilo eosinofílico. (Figura 5. D). A avaliação da substância branca do cérebro e cerebelo do grupo controle, coradas por HE revelou muitas fibras mielínicas, bem organizadas, em orientações transversal e longitudinal, em toda a extensão das amostras. Nos cortes transversais observa-se mais facilmente axônio central envolvido por estrutura mielinizada delicada discretamente corada pela eosina. (Figura 6 A e 7. A). A observação das amostras da substância branca do cérebro, do cerebelo do grupo EAE e do grupo EAE + pentoxifilina, coradas por HE, apresentou (Figuras 6 B, C e 7 B, C) em comparação com o grupo controle, menor quantidade de fibras mielinizadas no estroma. De modo interessante, observamos que nas regiões menos vascularizadas, principalmente em cérebro e cerebelo, que não se encontravam adjacentes ao infiltrado inflamatório, o neurópilo se apresentou mais denso e mais celular, com núcleos sugestivos de micróglias, astrócitos e oligodendrócitos. Para avaliação da bainha de mielina a coloração de hematoxilina férrica Weigert – Pal - Russell mostrou, nas amostras do grupo controle, muitos envoltórios em cor azul-negro bem estruturados, por toda a extensão dos cortes nas áreas de substância branca. Tais estruturas se tornaram facilmente visíveis devido ao contraste com o neurópilo, incolor, ao fundo (Figura 8. A). No grupo EAE, as bainhas mielínicas se apresentaram delicadas e irregulares, e, 61 em diversas regiões nos campos focalizados, ausentes (Figura 8B). De maneira distinta, as amostras do grupo EAE + pentoxifilina apresentaram coloração azul-negra um pouco mais intensa em conseqüência da quantidade discretamente maior de estruturas mielínicas, porém as mesmas se mostraram desorganizadas e irregulares (Figura 8C). No grupo talidomida foram observadas grande densidade de bainhas de mielina em orientação longitudinal e transversal, fortemente coradas em azul (Figura 8D). 62 A C B D Figura 5: A: Corte histológico de medula espinhal do grupo controle. Vaso sanguíneo em corte longitudinal, sustentado por neurópilo típico, células gliais com morfologia sugestiva de astrócitos (seta) e de oligodendrócitos. Coloração HE. Aumento original 400X. Em detalhe: a: célula com morfologia sugestiva de oligodendrócito; b: fibra mielínica em corte transversal.Coloração HE. Aumento original 1000X. B: Corte histológico de medula espinhal do grupo EAE. Vaso sanguíneo em corte transversal (asterisco azul), intenso infiltrado inflamatório perivascular composto predominantemente por células mononucleares, microgliose (setas) e celularidade glial. Coloração HE. Aumento original 400X.C: Corte histológico de medula espinhal do grupo pentox\EAE. Diversos capilares sanguíneos (asteriscos azuis) circundados por infiltrado inflamatório mononuclear. Discreta celularidade glial associada a células com morfologia sugestiva de micróglia (setas).Coloração HE. Aumento original 400X. D: Corte histológico de medula espinhal do grupo talidomida. Trajeto vascular parcial (asteriscos azuis) com escassas células mononucleares em rolamento através do endotélio vascular (seta azul) e fibras mielínicas em orientação transversal (cabeças de setas). O espaço perivascular observado provavelmente se associa á contração do tecido com expansão dos pés vasculares dos astrócitos durante o processamento – ambos artefatos comuns nas preparações de rotina. Coloração HE. Aumento original 400X. 63 A B C D Figura 6: A: Corte histológico da substância branca do cérebro do grupo controle. Inúmeras fibras mielínicas em corte transversal (setas envolvidas por estroma típico. Coloração HE. Aumento original 400X. B: Corte histológico da substância branca do cérebro do grupo EAE. Fibras mielínicas em orientação transversal (seta) e longitudinal, celularidade glial e neurópilo. Coloração HE. Aumento original 400X. C: Corte histológico da substância branca do cérebro do grupo pentox\EAE. Escassez de estruturas mielinizadas. Fibra irregular em corte longitudinal ao centro do campo e fibra mielínica em corte transversal (seta). Coloração HE. Aumento original 400X. D: Corte histológico da substância branca do cérebro do grupo talidomida. Fibras mielínicas em corte transversal (setas), celularidade glial com morfologia sugestiva de astrócitos (setas azuis). Coloração HE. Aumento original 400X. 64 A C B D Figura 7: A: Corte histológico da substância branca do cerebelo do grupo controle. Oligodendróglia disposta tipicamente entre fascículos de axônios mielinizados (setas). Coloração HE. Aumento original 400X. B: Corte histológico da substância branca do cerebelo do grupo EAE. Escassas fibras mielínicas em orientação transversal e longitudinal que se confundem com os prolongamentos celulares delicados do neurópilo. Intensa celularidade glial. Coloração HE. Aumento original 400X. C: Corte histológico da substância branca do cerebelo do grupo pentox\EAE. Ausência de estruturas mielinizadas típicas e numerosas células com morfologia sugestiva de astrócitos (setas) e oligodendrócitos (cabeças de seta). Coloração HE. Aumento original 400X. D: Corte histológico da substância branca do cerebelo do grupo talidomida. Fibras mielínicas bem definidas morfologicamente em corte longitudinal e oligodendróglia associada (setas), celularidade glial com morfologia sugestiva de micróglia (setas azuis). Coloração HE. Aumento original 400X. 65 A B C D Figura 8: Marcação histoquímica para bainha de mielina. A: Corte histológico da substância branca da medula espinhal do grupo controle apresentando bainhas de mielina dispostas na orientação longitudinal em sua maioria em cor azul-negro contrastando com o neurópilo incolor ao fundo. Em detalhe: nódulos de Ranvier (setas azuis). Aumento 1000X. Coloração Hematoxilina férrica - Weigert. Aumento original 400X. B: Corte histológico da substância branca da medula espinhal do grupo EAE apresentando bainhas mielínicas delicadas e irregulares evidenciadas pela coloração azul-negra. Coloração Hematoxilina férrica - Weigert. Aumento original 400X. C: Corte histológico da substância branca da medula espinhal do grupo pentox\EAE apresentando coloração azul pouco intensa em conseqüência da escassez de estruturas mielínicas. Coloração Hematoxilina férrica - Weigert. Aumento original 400X. D: Corte histológico da substância branca da medula espinhal do grupo talidomida apresentando numerosas bainhas de mielina em orientação longitudinal coradas em azul-negro. Coloração Hematoxilina férrica - Weigert. Aumento original 400X. 6.0- DISCUSSÃO A EAE representa um modelo clínico experimental para a esclerose múltipla, doença desmielinizante e crônica do SNC dos homens, esta afeta principalmente adultos jovens do sexo feminino, caracterizando-se por períodos de recaída e remissão clínica que provocam incapacitações temporárias ou mesmo permanentes (PANITCH, 1996; MOREIRA, et al., 2000; CATELAN, 2004; PUGLIATI et al., 2006). Repetições dos surtos são características marcantes desta doença. O termo esclerose múltipla é decorrente das múltiplas áreas de cicatrização (esclerose) que representam muitos focos de desmielinização no sistema nervoso central. Como a doença, freqüentemente, piora lentamente no decorrer do tempo, os indivíduos afetados apresentam períodos de saúde relativamente normal (remissões) alternados com períodos de exacerbações (CATELAN, 2004). Estudos de ressonância magnética nuclear mostraram que áreas novas e recorrentes de inflamações e desmielinizações continuam a ocorrer mesmo durante os períodos de remissões clínicas, indicando uma atividade contínua da doença (PANITCH, 1996). Os estudos nas áreas de imunologia e patologia de pacientes com EM, sustentam a hipótese de que um evento 67 central no início das lesões da EM trata-se de um processo orquestrado por linfócitos T CD4+ auto-reativos. Uma vez que estes penetram no parênquima cerebral atravessando a barreira hematoencefálica e após o contato com os antígenos, desencadeiam uma cascata de eventos que culminará com a formação de placas desmielinizantes agudas (FROHMAN et al., 2006). A EAE nos ratos Lewis, apesar de apresentar poucas desmielinizações e ser uma doença monofásica aguda, é um importante modelo da EM (OWENS & SRIRAM, 1995). Nesta doença autoimune do sistema nervoso central células T apresentam severa reatividade contra proteínas da bainha de mielina, incluindo a proteína básica de mielina (MBP), proteína proteolipídica (PLP) e glicoproteína oligodendrócito da mielina (MOG) (LEADBETTER et al., 1998). A EM apresenta lesões desmielinizantes principalmente provocadas por linfócitos Th1, com altos níveis de IFN-γ e potente ativação de macrófagos (YANYING, et al., 2007). Em nosso experimento a EAE foi induzida em ratos Lewis e separados em tratamentos com pentoxifilina ou talidomida. Os sinais clínicos desenvolvidos pelos animais com EAE durante os experimentos mostraram um curso semelhante ao descrito na literatura: perda de tonicidade da cauda, paralisia da cauda, perda de movimentos parciais de membros posteriores, paralisia total dos membros posteriores e até tetraplegia e estado moribundo (MOHAMED et al., 2004). Os animais não apresentaram, pelo menos até o 15° dia, nenhum óbito, como é descrito por 68 alguns autores na indução da EAE (LEADBETTER, 1998). Em nosso trabalho, os animais do grupo EAE iniciaram os sintomas em torno do sexto e sétimos dias, semelhante ao mostrado na literatura (YANYING, 2007). Apresentando queda de tônus da cauda e uma evolução progressiva dos sintomas evoluindo na sua maioria para paralisia severa dos movimentos dos membros posteriores (sete animais) a até tetraplegia e estado moribundo (dois animais) em torno do 15° dia. Salientando ainda que todos os animais (n=10) apresentaram sintomas da EAE. Na fase final do curso clínico (15° dia) os animais apresentaram um escore clínico médio (3,1) compatível com paralisia severa dos membros posteriores. Devido a EM ainda não apresentar possibilidade de cura, vários trabalhos vêm tentando novas alternativas terapêuticas para a EM usando a EAE como modelo. Estudos com sinonemina, um alcalóide com efeito antireumático, foi testado em ratos Lewis tratados com 200 mg/Kg via i.p. durante cinco dias, este adiou o início dos sintomas que surgiram mais tardiamente (próximo ao 9° dia) e apresentando ainda sintomas menos intensos que o grupo controle doente (YANYING, 2007). Em nosso trabalho também testamos o feito da pentoxifilina e da talidomida no curso clínico da EAE. Animais que sofreram a indução da EAE e foram tratados ininterruptamente com pentoxifilina (100 mg/Kg i.p) não tiveram uma redução significativa dos sintomas quando comparados aos animais com EAE (p>0,05) no 15° dia. Nesta fase, onde os sintomas são mais intensos, mesmo quatro animais não apresentando sequer os sintomas 69 clínicos da EAE e o escore clínico médio do grupo ficando em 1,6 esta diferença não foi estatisticamente significante ao grupo doente (escore médio 3,1). Nossos dados corroboram com os estudos de POLLAK e colaboradores (2003), estes observaram que tratamento de camundongos SJL com 100 mg/Kg de pentoxifilina também não levou a redução dos sintomas clínicos da EAE. Quando o tratamento foi realizado com 30 mg/Kg de talidomida ininterruptamente via s.c. o resultado mostrou-se muito interessante, neste grupo tivemos apenas um animal apresentou sintomas neurológicos da EAE, mostrando uma forte ação desta droga na prevenção dos sintomas desenvolvidos no curso clínico da EAE. Na EAE é sabido que durante o curso da doença, os animais apresentam uma forte resposta específica Th1 contra componentes da bainha de mielina (LASSMANN & WISNIEWSKI, 1979; LAFAILLE et al., 1997; YANYING, 2007). Os animais doentes apresentam níveis elevados de IFN- (LAFAILLE et al., 1997; YANYING, 2007). Esta citocina quando em valores elevados promove a ativação dos macrófagos no SNC que quando ativados passam a produzir grandes quantidades de NO (MACMICKING et al., 1992; ZHAO et al., 1996; BRENNER et al., 1997; CROSS et al., 1997; OKUDA et al., 1997; TRAN et al., 1997; SEUNGJOON et al., 2000) e de TNF- (ISSAZADEH et al., 1995; FURLAN, et al., 2004; YANYING, 2007). Segundo FURLAN et al. (2004) ratos Lewis tratados com IL-12 recombinante produziram níveis elevados de IFN-γ, óxido nítrico e TNF-α exacerbando a EAE, mostrando que estes fatores exercem um papel central na patogênese da doença. 70 A importância, da resposta Th1 fica demonstrada quando a tentativa de tratar pacientes de EM com IFN-γ mostrou-se não só ineficaz, mas também levou à piora drástica dos pacientes, pois, o IFN- aumenta a expressão de moléculas de MHC de classe ll e, portanto, aumenta a apresentação de antígenos. Além disso, conduz a diferenciação do tipo Th1, perfil celular envolvido na patogênese tanto da EM quanto da EAE (SHEVACH, 2000). Como foi relatado anteriormente, esta claro o papel dos mediadores IFN-γ, óxido nítrico e TNF-α na evolução tanto da EM quanto na EAE. Nosso trabalho avaliou, não só como estavam estes medidores em ratos Lewis com a EAE, mas também o efeito da pentoxifilina e da talidomida sobre a produção destes mediadores. Nossos dados corroboram com os achados citados acima no que se refere aos animais com a EAE. Nos experimentos realizados os ratos Lewis apresentaram níveis significantemente elevados de IFN-γ, óxido nítrico e TNF-α quando comparados aos animais do grupo controle. Estes achados foram encontrados no 15° dia após a indução, quando de acordo com o discutido acima, os animais apresentaram os sintomas clínicos da doença em sua fase mais grave. Segundo FURLAN e colaboradores, (2004), produção elevada de IFNγ, óxido nítrico e TNF-α estão relacionados com a exacerbação do quadro clínico na EAE. Nossos experimentos procuraram também avaliar os efeitos da pentoxifilina e da talidomida sobre produção de IFN-γ, NO e TNF-α. Isto 71 devido ao fato de que, estes fatores, quando elevados relacionam-se com agravamento da doença. Utilizamos estas drogas porque vários trabalhos demonstram que pentoxifilina (CHING et al., 1998; RIENECK, 1993; VADIEI et al., 1996) e a talidomida (SAMPAIO, et al., 1991; HASHIMOTO, 2002) exercem efeito sobre estes mediadores levando a uma menor produção destes. Ao analisarmos o gráfico 3 observamos que os animais doentes apresentaram elevados níveis de NO quando comparados ao grupo controle. Analisando agora os animais doentes e tratados com a pentoxifilina ou com a talidomida observamos que os grupos tiveram uma redução na produção de NO. Porém esta redução foi somente significativa (p<0,05) quando comparamos o grupo tratado com a talidomida e o grupo controle positivo (EAE). Como relatado, mesmo o grupo tratado tendo com pentoxifilina tendo uma redução nos níveis de NO frente aos animais EAE esta não foi significante (p>0,05). Quando observamos o resultado do IFN-γ mostrado no gráfico 4 vemos um perfil muito semelhante ao mostrado com o óxido nítrico, ou seja, redução significante desta citocina no grupo tratado com a talidomida (p<0,01) e novamente nenhum efeito significante da pentoxifilina sobre esta citocina quando comparado ao grupo EAE. Como observado o grupo EAE apresentou elevados níveis (p<0,001) de IFN-γ controle. comparado ao grupo 72 Ao chegarmos ao resultado da produção de TNF-α vimos novamente que o grupo EAE apresentou elevados níveis desta citocina no 15° dia pós indução. Foi observado novamente que os animais tratados com a talidomida tiveram valores significantemente menores de TNF-α do que o grupo com a EAE. Os animais tratados com a pentoxifilina não apresentaram redução significativa de TNF-α em relação aos animais doentes (P.0,05). Estes achados, vão de encontro aos escores clínicos apresentados pelos ratos, onde, os animais doentes e tratados com pentoxifilina não tiverem uma redução dos sintomas da EAE e menor produção de IFN-γ, óxido nítrico e TNF-α e mbora, esta não tenha sido esta não tenha sido estatisticamente significativa. No grupo tratado com talidomida isto fica evidente, pois, os animais praticamente não apresentaram sintomas neurológicos da EAE e foi o grupo com menores produções de IFN-γ, óxido nítrico e TNF-α. Os resultados de nossos experimentos corroboram com vários trabalhos que usaram sinonemina (YANYING, 2007), estatinas (WEBER, et al., 2006) e copolimero (ILLES, et al., 2005). Nestes trabalhos foi demonstrando que a reduçãona produção de IFN-γ, levou a uma menor expressão de moléculas de classe II do MHC e proliferação de linfócitos T, conseqüente menor ativação de macrófagos e produção de NO e TNF-α, melhorando o curso clínico da EAE. O trabalho de YANYING e colaboradores (2007) realizaram o tratamento de ratos Lewis fêmeas com sinonemina, como citado acima, em seus experimentos os sinais clínicos neurológicos da EAE apareceram mais tardiamente e em menor intensidade, 73 embora ainda estivessem presentes em todos os animais. Foi observado também no mesmo experimento que a sinonemina reduziu os níveis de TNFα em 33,1% e o IFN-γ em 58,3%, mostrando novamente que a redução destas citocinas leva a uma melhora do quadro clínico. Associado aos elevados níveis de TNF-α e IFN-γ foi observado por HE que nos animais doentes apresentaram ruptura da integridade da barreira hematoencefálica e infiltração de grande quantidade de células mononucleares para a medula espinhal. Quando os animais foram tratados com a sinonemina o infiltrado inflamatório foi menor. Nosso resultado foi comparativamente mais expressivo do que o apresentado com a sinonemina. Pois, a pentoxifilina reduziu os níveis de TNF-α em 38% e o IFN- em 31% (não estatisticamente significante) já a talidomida TNF-α em 62% e o IFN-γ em 43% (estatisticamente significante), mostrando novamente forte efeito inibitório da talidomida sobre o TNF-α e menor ativação dos macrófagos. As pesquisas de FABIS e colaboradores (2007), também corroboram com nossos dados. Em seus experimentos eles utilizaram camundongos B6.129 com deleção de genes para TNF-α (n=82) e em comparação com animais controles (n=195) a EAE (induzida com a MOG) foram menos severa nos animais KO. Pois, estes animais apresentaram redução dos sinais clínicos, e menores infiltrados inflamatórios mononucleares tanto no cérebro quanto na medula. A despeito destes infiltrados inflamatórios eles realizaram RT PCR e de acordo com os marcadores presentes (CD4 e CD11b) concluíram que as células predominantes neste infiltrado eram respectivamente linfócitos T CD4 e macrófagos em grande quantidade nos 74 animais controle. Outro achado interessante destes pesquisadores foi que nos animais KO para TNF-α as áreas de desmielinização presentes foram significantemente menores que os animais controle e o infiltrado inflamatório próximo a estas áreas desmielinizadas eram também formados por linfócitos T CD4 e macrófagos. Existe uma relação estreita entre severidade da doença e ruptura de integridade da barreira hematoencefálica levando a um aumento do infiltrado mononuclear no SNC e edema associado (YANYING, et al., 2007, FABIS, et al., 2007). Com a finalidade de investigar o desenvolvimento da reação inflamatória e o processo de desmielinização do SNC foram feitas colorações histológicas com HE e hematoxilina férrica de Weigert – Pal – Russell em amostra de cérebro e medula espinhal. Observando lâminas preparadas pela coloração com HE, foi constatado que os animais doentes apresentavam grande infiltrado inflamatório mononucleares no cérebro e principalmente na medula espinhal. Estes dados corroboram com achados da literatura citados anteriormente que apresentam um grande infiltrado inflamatório mononuclear (CARVALHO, 1999) nos ratos Lewis com EAE, infiltrado estes formado principalmente por macrófagos e linfócitos T CD4 (KANEKO, et al., 2006; YANYING, et al., 2007, FABIS, et al., 2007). Pudemos observar também na coloração com HE a menor presença de infiltrado inflamatório nos animais controle negativo. O fato que nos chamou bastante atenção é que nos animais tratados com 75 talidomida a presença do infiltrado inflamatório mononuclear na medula foi muito menos intensa. No grupo tratado com pentoxifilina esta redução não foi tão drástica, mais ainda sim esteve presente. Fica evidente então que o tratamento com pentoxifilina e principalmente com a talidomida reduz o infiltrado inflamatório mononuclear no cérebro e na medula de ratos Lewis com EAE, lembrando que achados semelhantes foram observados no estudo com sinonemina (YANYING, et al., 2007) e nos animais KO para TNF-α (FABIS, et al., 2007). Inclusive sendo observado que nos animais KO para TNF-α as áreas de desmielinizações próximas aos infiltrados foram significantemente menores que nos animais controle que apresentavam muitas áreas desmielinizadas, principalmente na medula espinhal (FABIS, et al., 2007). Desmielinizações estão presentes tanto no cérebro quanto na medula espinhal de ratos Lewis com EAE (CARVALHO, et al., 1999), e estas áreas desmielinizadas estão normalmente próximas à presença de infiltrados inflamatórios (CARVALHO, 1999; KANEKO, et al., 2006; YANYING, et al., 2007). Estas áreas de desmielinizações estão presentes não somente em ratos Lewis (CARVALHO, 1999; YANYING, et al., 2007) como também em outros animais como camundongos C57Bl/6 e SJL (KANEKO, et al., 2006). Em nosso trabalho utilizamos coloração de hematoxilina férrica de Weigert – Pal – Russell para analisar a integridade das fibras mielinicas. Sendo evidenciada a presença de áreas de desmielinizações na substância 76 branca da medula espinhal dos animais com a EAE no 15º dia da doença. Contrastando com a integridade das bainhas de mielina na medula espinhal dos animais controle negativo. Também foi mostrada uma integridade ligeiramente maior da bainha de mielina nos animais tratados com pentoxifilina e integridade maior ainda nos animais tratados com a talidomida. Isto mostra, um provável efeito protetor destas drogas, principalmente, da talidomida influenciando os mecanismos de desmielinizações. Um estudo realizado recentemente por KANEKO e colaboradores (2006), camundongos C56Bl/6 tratados com nicotinamida apresentaram também grande preservação da bainha de mielina. Neste experimento, os animais tratados apresentaram também menor intensidade nos sinais clínicos neurológicos da EAE. Importância de resposta Th1, infiltrado inflamatório e desmielinizações também foram evidenciados nos estudos de STUVE e colaboradores (2006). Foram observados camundongos SJL/J com EAE induzida por MBP apresentavam elevados níveis de IFN-γ, TNF-α, grande infiltrado inflamatório (HE) e áreas de desmielinização (Luxol faz blue) no cérebro e medula espinhal. Quando realizaram tratamentos destes animais com acetato de glatiramer (COPOLÍMERO) associado à atorvastatina reduziu os níveis de IFN-γ, TNF-α elevados níveis de IL-4 e IL-10 (resposta Th2), redução do infiltrado inflamatório mononuclear e poucas áreas de desmielinizações na medula espinhal. 77 Altas doses IFN-γ e TNF-α exercem um efeito deletério direto sobre os oligodendrócitos de camundongos dificultando amplamente a remielinização dos neurônios afetados na EAE (BALAVANOV, et al., 2006). Para confirmar este efeito prejudicial sobre oligodendrócitos foram utilizados camundongos C57BL/6 com EAE que após receberem IFN-γ apresentavam altos níveis de TNF-α e não apresentavam remielinização. Foi demonstrado também que oligodendrócitos desses camundongos sofria apoptose quando estimulados com IFN-γ in vitro. Entretanto, quando utilizaram camundongos PLP/SOCS1 transgênicos, resistentes a ação do IFN-γ, a remielinização esteve presente após a fase aguda da EAE. Os trabalhos anteriores corroboram com nossos achados, mostrando que inibindo a resposta Th1 os animais preservam mais áreas mielinizadas. Portanto, revendo nossos estudos, quando analisamos o perfil dos mediadores inflamatórios (NO, IFN-γ e TNF-α) constatamos que os animais tratados com a talidomida apresentaram níveis menos elevados destes mediadores quando comparados ao grupo doente (EAE). Ressaltamos que os animais tratados com a pentoxifilina não apresentaram níveis significantemente menores do NO, IFN-γ e TNF-α no soro quando comparados aos animais tratados com pentoxifilina. Portanto, os resultados do presente experimento sugerem que a inibição do NO, IFN-γ e TNF-α pela talidomida pode explicar as diferenças entre o escore clínico, intensidade do infiltrado inflamatório e incidência de desmielinização quando comparamos os animais tratados com a talidomida frente ao grupo EAE. 78 Com relação à inibição do processo inflamatório o tratamento com a talidomida apresentou um resultado extremamente significante comparado ao grupo controle positivo para o desenvolvimento da EAE. Embora no grupo tratado com a pentoxifilina também tenha ocorrido uma diminuição do desenvolvimento do processo inflamatório, quando comparamos com o grupo controle positivo EAE este achado não foi tão expressivo quanto ao observado no grupo tratado com a talidomida. Adicionalmente, quando analisamos a intensidade de desmielinização avaliada durante o estudo histopatológico de rotina, como lâminas coradas pela HE ou pela coloração histoquímica de Weigert – Pal – Russell, também foi observado que a talidomida inibiu significativamente a desmielinização quando comparados com o grupo EAE e também com o grupo tratado com a pentoxifilina. Os dados do estudo histopatológico demonstram uma correlação entre a intensidade de desenvolvimento do processo inflamatório e presença de áreas de desmielinização. Os resultados de nosso estudo demonstram que a pentoxifilina foi capaz de diminuir levemente a intensidade de infiltrado inflamatório e também a presença de áreas de desmielinização. Entretanto, ressaltamos que a talidomida foi significativamente mais eficaz que a pentoxifilina quando analisamos capacidade de inibir processo inflamatório e processo de desmielinização. Analisados em conjunto os achados histopatológicos com o escore clínico também trazem conclusões relevantes. Visto que, ocorreu uma correlação entre escore clínico elevado, infiltrado inflamatório bem 79 desenvolvido no SNC e áreas de desmielinização. Em nosso experimento, o fato de apenas um animal tratado com talidomida ter desenvolvido EAE certamente está associado à capacidade da talidomida de inibir o infiltrado inflamatório e a desmielinização. Portanto, os resultados do presente experimento sugerem forte evidência de efeito terapêutico da talidomida sobre a evolução clínica da EAE. A correlação entre níveis menores de NO, IFN-γ, TNF-α, poucas áreas de infiltrado inflamatório mononuclear, processo de desmielinização menos intensos e evolução clínica pouco expressiva da EAE nos animais tratados suportam esta hipótese. Neste modelo observamos pentoxifilina na dose de 100 mg/Kg dia não foi estatisticamente eficaz na redução dos sintomas clínicos neurológicos e nem na produção dos mediadores inflamatórios no plasma dos ratos Lewis com a EAE. Entretanto a talidomida mostrou-se uma droga promissora como possível estratégia terapêutica nas doenças inflamatórias desmielinizantes do SNC como a esclerose múltipla. 7- CONCLUSÕES O presente estudo permitiu chegar a considerações sobre um efeito modulador da pentoxifilina e da talidomida sobre o curso clínico da Encefalomielite Autoimune Experimental. 7.1- Ratos Lewis com EAE apresentaram no 15° dia após a indução da doença severos sintomas clínicos associados a elevados níveis séricos de NO, IFN-γ e TNF-α, vários focos de infiltrado inflamatório mononuclear no cérebro e na medula espinhal e presença de áreas de desmielinização 7.2- Ratos Lewis tratados com pentoxifilina 100mg/Kg apresentaram sintomas clínicos da EAE menores do que os animais doentes no 15° dia após a indução, porém estes não foram estatisticamente significantes. Nestes animais foram observados menores níveis dos mediadores NO, IFN-γ, TNFα, menor presença de infiltrado inflamatório no cérebro, cerebelo e na medula espinhal e maior preservação das fibras mielínicas. Porém, esta redução não foi estatisticamente significante. 81 7.3- Animais tratados com a talidomida praticamente não apresentaram sintoma clínicos neurológicos da EAE, ficando restrito a apenas um animal. Estes tiveram os menores níveis de NO, IFN-γ, TNF-α, praticamente não apresentaram infiltrados mononucleares no SNC e tinham apenas escassas áreas de desmielinizações em cérebro, cerebelo e medula espinhal. 7.4- Os dados deste estudo sugerem que a talidomida atua sobre o mecanismo de desenvolvimento da EAE inibindo uma resposta imunológica do tipo Th1. 7.5- A utilização desta droga (talidomida) pode ser uma importante estratégia a ser empregada no esquema terapêutico utilizado no tratamento de pacientes com Esclerose neuroinflamação presente. Múltipla e outras doenças que tenham 8.0- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AARESTRUP, F.M.; GONÇALVES-da-COSTA , S.C.; SARNO, E.N. The effect of thalidomide on BCG-induced granulomas in mice. Bras J Med Biol Res. 28: 1069 – 1076, 1995. ALVORD, E.C.; Jr,; SHAW, C.M.; HRUBY, S. Approaches to the treatment of central nervous system autoimmune disease. Ann. Neurol. 6: 469 – 473, 1979. ANNIE-JEYACHRISTY S, GEETHA A, SURENDRAN R. Changes in the level of cytosolic calcium,nitric oxide and nitric oxide synthase activity during platelet aggregation: an in vitro study in platelets from normal subjects and those with cirrhosis. J Biosci. 33(1):45-53, 2008 APRIL, M. K.; BRENT, W.G.;, PATRICK, P.G.; ALAN, H.H.; STEVEN, V.J. Utilization, cost trend and member cost-share for self-injectable multiple sclerosis drugs - Pharmacy and medical beneft spending from 2004 through 2007. J Manag Care Pharm. 13(9): 799 – 806; 2007. BALABANOV, R.; STRAND, K.; KEMPER, A.; LEE, J.Y.; POPKO, B. 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