Brasil: um trem atolado num pântano? Os alicerces para um possível guindaste! No dia 04/06/2016 o Prof. Afonso Celso Pastore, um dos melhores economistas de sua geração, publicou um artigo no jornal Estado de São Paulo intitulado “Um trem atolado no pântano”. Segundo ele, esta seria a melhor imagem que ele podia formular para a economia brasileira, ou seja, a de “uma composição ferroviária que foi deliberadamente tirada dos trilhos por um governo incompetente, sendo posta em um pântano, no qual está atolada”. Para ele, o trem só chegará ao seu objetivo – a retomada do crescimento econômico com inflação controlada – se for içado e recolocado nos trilhos, o que exige um esforço gigantesco. Complementando seu argumento, o Prof. Pastore afirma que por mais que entenda que o crescimento econômico não se conquista apenas com o manejo correto das políticas fiscal e monetária, ele não consegue ver como o País poderá elevar a taxa de investimentos e acelerar o crescimento da produtividade total dos fatores sem se livrar do crescimento explosivo da dívida. Ou seja, sem um ajuste fiscal profundo, de nada adiantarão as reformas microeconômicas, que também são fundamentais para a aceleração do crescimento. Concordamos inteiramente com a imagem sugerida pelo Prof. Pastore e com seu diagnóstico. No entanto, acreditamos que o país não poderá esperar muito por ajustes macroeconômicos nem por reformas microeconômicas para “tirar o trem do pântano”. Faz-se necessário, e urgente, “construir alguns alicerces para a construção de um possível guindaste” que possibilite as condições para a retirada plena do trem do pântano e o coloque nos trilhos (a imagem de Engenharia é a melhor que podemos formular nesse momento). E para demonstrar onde buscar o “solo” mais adequado para o estabelecimento deste guindaste, basta observar a composição setorial do PIB brasileiro. Segundo os dados do IBGE, o setor agropecuário representa 5,2% do nosso PIB, o setor industrial representa 22,7%, e finalmente, o setor de serviços representa 72%. Logo, em termos relativos, o setor de serviços no Brasil é hoje o setor de maior peso na composição de tudo que se produz no país. Este número, per si, representa, em termos de engenharia, o que denominaríamos um “solo” apropriado para assentarmos um grande guindaste, uma vez que é nele que se sustenta a maior parcela do que é produzido no país. Se formos observar a “geologia econômica” deste solo (ou seja, sua composição estrutural) teríamos que considerar o seguinte. O setor de serviços (em seu relacionamento com o restante da economia) é composto por duas famílias de funções distintas, porém complementares (CNI, 2014). A primeira família se refere às funções que afetam os custos de produção. Trata-se de logística e transportes, serviços de infraestrutura em geral, armazenagem, reparos e manutenção, serviços de terceirização da produção em geral, TI em geral, crédito e serviços financeiros, viagens, acomodação, alimentação, distribuição, dentre outros. A segunda família se refere às funções que contribuem para agregar valor, diferenciar e customizar produtos e, por conseguinte, elevar o seu preço de mercado e aumentar a produtividade do trabalho e a remuneração do capital. Trata-se de P&D, design, projetos de engenharia e arquitetura, consultorias, softwares, serviços técnicos especializados, serviços sofisticados de TI, branding, marketing, comercialização, dentre outros. E como construir os alicerces neste “solo” para construção de um possível “guindaste”? Nossa sugestão se apoia no nosso conceito de “Trindade Essencial” (pioneiramente lançado na newsletter de 17/06/2012). Segundo este conceito, um setor de serviços economicamente moderno e tecnologicamente avançado é aquele que possui um ecossistema de empresas e organizações que produz plataformas globais de produtos e serviços assentadas em arquiteturas sofisticadas de negócios. Trindades Essenciais, como aquela constatada no Vale do Silício nos EUA, estão transformando a economia mundial e estão servindo de “guindastes” para alavancar novas atividades em várias partes do planeta, e que geram valor através de novos modelos de negócios. Desta forma, para “tirar nosso trem do pântano” nós precisaremos urgentemente preparar nossas “Trindades Essenciais” (marcadamente nosso setor de tecnologias de informação e comunicação – TICs, contemplando empresas e organizações nacionais e estrangeiras) no seio do nosso setor de serviços para que elas sirvam de guindaste para tirar nosso “trem do pântano” colocando-o “nos trilhos”, e, simultaneamente, possam atrair investimentos e acelerar o crescimento da produtividade total dos fatores de nossa economia/trem. Um bom exemplo já colocado em domínio público nessa direção, é aquele que foi preparado recentemente para apontar uma Estratégia de Internet das Coisas (IoTInternet of Things) para o Brasil. Quem tiver a oportunidade de ler este documento estratégico, verá que ele é um dos alicerces do “guindaste” necessário para tirar nosso “trem do pântano” em que se encontra, e colocá-lo nos trilhos da economia mundial. Se sua empresa, organização, ou instituição deseja saber mais sobre estratégias para tirar nosso “trem do pântano”, fique a vontade para no contatar! Fonte: CNI (2014). “Serviços e Competitividade Industrial no Brasil”. Confederação Nacional da Indústria.