GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL CAPÍTULO IX - MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA Socialismo Utópico A expressão "socialismo utópico" é atribuída ao próprio Marx que a utilizou num sentido pejorativo, procurando demarcar diferenças fundamentais entre as propostas e princípios característicos dos pensadores que se enquadram dentro desta denominação e o seu próprio sistema, denominado de socialismo científico. Cabe ressaltar que muitas das críticas ao capitalismo e à exploração do trabalhador, assim como determinadas concepções do homem e do mundo por ele incorporadas já estavam, em maior ou menor grau, presentes em alguns destes pensadores, cuja obra representa um dos marcos de influência sobre o próprio Marx. A referência à expressão "utópico", significando, neste sentido, "lugar nenhum", "sonho inalcançável", expressa uma abordagem crítica sobre o sistema de pensamento destes autores, cujo socialismo científico procura superar. Marx aponta as limitações deste conjunto de propostas, pois estes autores não teriam identificado a "espinha dorsal" do modo de produção capitalista e, portanto, suas propostas não teriam êxito em superar este modo de produção, limitando-se a apresentar soluções paliativas, como a melhoria salarial dos trabalhadores, o moralismo, a melhoria das condições de trabalho, etc, não apontando mecanismos satisfatórios de superação do capitalismo. Ao denominar o seu sistema de científico, Marx se enquadra dentro de uma visão positivista e cientificista de sua época que vê na abordagem típica das ciências naturais a única forma de desvendar a natureza e o próprio homem. Procura, desta forma, revestir o seu pensamento de um arcabouço de aceitabilidade, pois teria, a partir de uma abordagem científica (materialismo histórico) desvendado a estrutura do capitalismo que poderia, desta forma, ser superado através de leis inexoráveis e do processo revolucionário. O socialismo utópico se desenvolveu num contexto histórico de avanço das forças produtivas e do desenvolvimento do proletariado em função da Revolução Industrial. As condições de trabalho típicas desta fase do capitalismo industrial e o surgimento de movimentos destinados à criação de uma consciência da classe trabalhadora, suscitaram o desenvolvimento do socialismo utópico, como denúncia das distorções do capitalismo e da possibilidade de criação de uma sociedade mais igualitária. A seguir, são apresentados alguns dos mais proeminentes representantes deste movimento e um resumo de seus fundamentos básicos. Saint-Simon (1760-1825): cientistas e economistas deveriam centralizar o poder de uma sociedade mundial. Propõe uma sociedade industrial administrada pelos produtores (operários, banqueiros, empresários, intelectuais e artistas). Robert Owen (1771-1858): empresário que desenvolveu a proposta de criar uma federação de comunidades com autogestão, associando trabalho e estudo e excluindo a propriedade privada. Percebe que o trabalho cria riqueza, mas que o trabalhador é dela excluído. Charles Fourier (1772-1837): propunha a formação de associações cooperativistas, onde o trabalho deveria ser uma fonte de prazer e praticado de forma voluntária (Falanstérios). Critica rigorosamente o capitalismo e a cobiça dos comerciantes. Proudhon (1809-1865): Preconizava uma doutrina igualitária, apontando o antagonismo entre capitalistas e proletários. Criticava a propriedade privada como espoliação do trabalho. Defendia a autonomia da classe operária e a sua organização. Idealiza uma sociedade anárquica em que o poder estaria nas mãos de livres associações de trabalhadores. Louis Blanc (1811-1882): propunha a criação de associações profissionais de trabalhadores de um mesmo ramo de produção, as Oficinas Nacionais, financiadas pelo Estado. O lucro seria dividido entre o Estado, os associados e para fins assistenciais. Exigia que o Estado se apoderasse do sistema econômico para garantir trabalho e justiça para todos. Auguste Blanqui (1771-1858): inspirador das idéias dos revolucionários profissionais e da ditadura do proletariado. A partir dele surge o chamado blanquismo, segundo o qual a revolução faz-se através de uma insurreição violenta, desencadeada por um pequeno grupo de dirigentes revolucionários. Mikhail Bakunin (1814-1876): principal teórico do anarquismo, critica o individualismo burguês, o Estado, a propriedade privada e a exploração do trabalho. Propõe retorno à vida em comunidades autogovernadas e participação de todos nas decisões a partir da formação de organizações de bairro, de fábrica, etc. Propõe, também, a organização de federações nacionais e internacionais para tomada de decisões globais. Socialismo Científico Karl Marx (1818-1883): fundamentou a sua análise no materialismo dialético (filosofia) e no materialismo histórico (teoria científica). Marco fundamental: publicação, em conjunto com Firedrich Engels (1820-1895), do Manifesto Comunista, em 1848. Principais obras: Manifesto Comunista e Ideologia Alemä - junto com Engels; O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Contribuição à crítica da economia política, O Capital. Obras de Engels: A dialética da natureza, A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Desenvolve crítica radical ao modo de produção capitalista e propõe nova organização políticoeconômica da sociedade. Críticas de Marx aos socialistas utópicos e a Feuerbach. Base para o desenvolvimento de suas propostas: realidade sócio-econômica da época: influência dos socialistas utópicos; dialética de Hegel. Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 1 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL Concepções fundamentais: Base teórica: materialismo dialético e materialismo histórico. O capitalismo, como produto de um contexto sóciohistórico determinado, apresenta uma origem definida e uma morte prevista. O desenvolvimento das forças produtivas, através de leis históricas, conduzem a transformações nos modos de produção, que representam a superação do capitalismo e a instauração da ditadura do proletariado, através de um processo revolucionário. Denuncia o processo de exploração do trabalho. A crescente monopolização do capital conduz ao empobrecimento do trabalhador. O capitalismo, em sua maturidade, conduziria a um grande processo de monopolização da economia e eliminação da concorrência. Marx aponta a existência de duas possíveis fases no processo revolucionário: SOCIALISMO Instaurado imediatamente após o capitalismo "A cada um de acordo com seu trabalho" Planejamento econômico Propriedade estatal e coletiva dos meios de produção Ditadura revolucionária do proletariado Luta contra valores burgueses Trabalhador ainda recebe salário Instituição estatal proletária; Burocracia COMUNISMO "A cada um de acordo com suas necessidades" Internacionalização do novo sistema Propriedade social dos meios de produção Sociedade igualitária com ausência de classes sociais Desaparecimento do Estado Abundância de bens Novos valores culturais e sociais Remuneração do trabalhador segundo necessidades. SOCIALISMO REAL A tentativa de implementar os princípios marxistas englobou 30% da superfície terrestre e em torno de 35% da população mundial. Este modelo passou a ser identificado como Socialismo Real após as transformações que ocorreram no Leste Europeu e na ex- URSS, como uma forma de diferenciar a experiência realmente levada a efeito das propostas características da utopia comunista. Apesar das diferenças que marcaram o desenvolvimento deste modelo, podem-se levantar pontos comuns presentes em maior ou menor grau nos diferentes países, a saber: Propriedade estatal dos meios de produção Planejamento econômico (produção e consumo) Redistribuição de renda Monopólio político do Partido Comunista A seguir, apresenta-se um resumo da evolução política e econômica da ex-União Soviética ao longo dos diferentes governos e fases. Leiam o texto complementar e façam as devidas anotações das aulas expositivas para complementarem as informações acima relacionadas. 1917: Revolução e ascensão de Lênin 1918: Guerra civil → Exército vermelho x exército branco (apoio dos EUA, Japão, Inglaterra e França. 1922: URSS (Fed. Russa, Ucrânia, Relarus, Fed. Transcaucasiana, Azerbaijão, Armênia, Georgia. 1923: Constituição 1921: economia de guerra devido às dificuldades da transição do modelo econômico, guerra civil e das consequências da Primeira Guerra Mundial NEP: leis de mercado, gestão privada da pequena empresa. Estado: infraestrutura, indústria pesada, planificação geral Stalin (1924-1953) Centralização política e econômica, coletivização forçada. Industrialização acelerada, com aproveitamento dos amplos recursos minerais Planos Quinquenais Modelos agrícolas: Kolhozes e Sovkhozes 1953: morte de Stalin NIKITA KRUCHTCHOV (1954-1964) "Desestalinização" "Coexistência Pacífica" Conflito sino-soviético 1962: Crise dos Mísseis LEONID BREJNEV (1964-1982) Recentralização política e econômica Dètente "Soberania limitada" 1968: Primavera de Praga Andropov (1982-1984) Chernenko (1984-1985) GORBATCHEV (1985-1991) Perestroika: reestruturação econômica Glasnost: significa transparência. Tentativa de transformações culturais e políticas, com maior abertura democrática. OS PROBLEMAS DO SOCIALISMO Queda nos índices de crescimento econômico. Impossibilidade de isolar a população, devido à revolução nas comunicações e transportes, do padrão de consumo do mundo capitalista ocidental, gerando demanda por mudanças. Defasagem tecnológica, principalmente a partir da Revolução tecnocientífica e o avanço da globalização. Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 2 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL Grande diversidade étnica e cultural com pressões por autonomia. Excesso de burocracia e Ausência de liberdade. Processo industrial fundamentado na indústria de base, com carência de indústrias de bens-deconsumo, gerando desabastecimento. Defasagem entre agricultura e indústria. Gastos militares e rigidez dos planos qüinqüenais. TEXTOS COMPLEMENTARES URSS, anos 80: crise econômica No início dos anos 80, a economia soviética, inteiramente controlada pelo Estado, encontrava-se à beira do colapso. O parque industrial, em sua maior parte, estava obsoleto. Os níveis de produção caiam a cada ano e a qualidade de vida tornava-se insatisfatória para a maioria da população. Oficialmente não havia desemprego na União Soviética. O governo não divulgava informações sobre a verdadeira situação do Estado. Na verdade, em algumas regiões, como no Cáucaso, mais de um terço da população economicamente ativa estava sem trabalho. A crise chegou a alguns bairros de Moscou. Os moradores enfrentavam a falta de alimentos e produtos básicos e a precariedade de serviços, como o fornecimento de luz, água e telefone. A população formava grandes filas para comprar pão, leite e outros produtos essenciais. Essa realidade contrastava com o dia-a-dia de um reduzido grupo de cidadãos com acesso a todo tipo de privilégios. A opulência dos altos funcionários do Partido Comunista, uma das mais notórias distorções dos ideais marxistas, ficava ainda mais visível num momento de crise econômica. Os funcionários da burocracia estatal, moradores de amplos apartamentos, faziam suas compras em lojas especiais, longe das filas. Possuíam carros novos ou andavam em limusines, viajavam sempre ao exterior e se refugiavam em confortáveis casas de campo, as famosas datchas. Os cidadãos comuns, de modo quase oposto, moravam em pequenos apartamentos, muitas vezes com outras famílias, viajavam para as colônias de férias determinadas pelo governo, e aguardavam alguns anos na lista de espera para adquirir um carro popular. A KGB e a burocracia soviética De um modo geral, um quadro como esse, de desequilíbrio econômico e injustiça social, costuma estimular o surgimento de grupos de oposição. Mas, na União Soviética, as tentativas de oposição organizada eram logo reprimidas com rigor pela KGB, a temida polícia política que não media esforços para eliminar os focos de resistência ao regime. De 1964 a 1982, mais do que nunca, a KGB foi utilizada para preservar os privilégios dos burocratas de alto escalão do PCUS. Durante esse período o homem forte da União Soviética era Leonid Brejnev, que chegou ao poder em outubro de 64, em substituição a Nikita Khruschev. Considerado nos meios políticos ocidentais um dirigente de linha dura e pouco afeito às formalidades da diplomacia, Brejnev marcou seu governo com medidas graves como a invasão da Tchecoslováquia, em 1968, para por fim ao período liberal conhecido como "Primavera de Praga". Onze anos depois, em dezembro de 79, outra medida dura e de grande repercussão: o líder ordenou a ocupação militar do Afeganistão, para preservar o domínio de Moscou na região centro-oeste da Ásia. Na era Brejnev, a KGB lançou mão de métodos duros para combater os focos de oposição a este quadro de privilégios dos burocratas, e aos rumores de envolvimento do governante e de sua filha Galina com episódios de corrupção e contrabando. Muitos oposicionistas foram presos, enclausurados em hospitais psiquiátricos ou confinados em localidades determinadas pelo governo. Alguns dissidentes tornaram-se célebres no Ocidente, como o escritor Alexander Soljenitsin e o físico Andrei Sakharov, prêmio Nobel da Paz em 1975. O fim da era Brejnev Na época da morte de Brejnev, em 1982, o único setor em boas condições, além da burocracia do Partido Comunista, era o militar. A indústria bélica e espacial manteve a produção de mísseis e foguetes de alto nível de sofisticação, apesar do elevado custo social. O novo secretário-geral do Partido Comunista era Yuri Andropov, uma figura enigmática que assumiu o poder com fama de linha dura, por ter sido chefe da KGB durante 15 anos. Essa imagem foi reforçada com a derrubada, em 83, de um avião de passageiros da Korean Air Lines, por invasão do espaço aéreo soviético. Por outro lado, Andropov iniciou um processo de pequenas mudanças liberalizantes na economia, estimulou uma campanha contra a corrupção na máquina administrativa do Estado e reuniu em seu governo alguns auxiliares que mais tarde estariam envolvidos nas reformas de Mikhail Gorbatchev. Andropov ficou no poder até a morte, em fevereiro de 1984. Para alguns historiadores, Andropov estava bem informado sobre a precária situação econômica do país, em virtude de suas ligações com a KGB. Assim, teria decidido antecipar algumas reformas para evitar a eclosão de movimentos sociais e trabalhistas que poderiam abalar a estrutura de poder na União Soviética. O sucessor de Andropov, Konstantin Tchernenko, assumiu o poder já em condições precárias de saúde. Governou por 11 meses, até morrer em março de 1985. Hoje, sabe-se que sua indicação pelo partido foi um modo de adiar por algum tempo a questão sucessória, até que os dois grupos em disputa chegassem a um acordo. De um lado, os herdeiros políticos de Brejnev não queriam saber de reformas. De outro lado, a ala mais jovem do partido pretendia levar adiante as mudanças políticas e econômicas no país. No final, deu Gorbatchev. Mikhail Sergueievitch Gorbatchev assumiu a secretaria-geral do Partido Comunista em março de 85, aos 54 anos. Sua ascensão ao cargo foi resultado de uma trajetória rápida e brilhante dentro da estrutura do partido. Membro desde 1980 do Politburo, a instância máxima do Comitê Central do PCUS, Gorbatchev Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 3 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL demonstrava uma habilidade diplomática incomum, e quando assumiu o poder já era uma figura conhecida nos meios políticos ocidentais. Começa a era Gorbatchev Em agosto de 85, Gorbatchev surpreendeu o mundo ao suspender os testes nucleares subterrâneos, declarando uma moratória nuclear unilateral. A medida, no entanto, soou como mais uma peçaa de propaganda soviética. O líder reservava mais surpresas para o 27 o Congresso do Partido Comunista, em fevereiro de 86, quando expôs um audacioso programa de reformas políticas e econômicas. No plano político, Gorbatchev queria enterrar a corrida armamentista e estabelecer um projeto de colaboração entre as nações. No plano econômico, a meta era revitalizar todos os setores de produção, estagnados desde a época de Leonid Brejnev. Glasnost e Perestroika As expressões glasnost e perestroika começaaram a se popularizar na imprensa ocidental. Glasnost, em russo, quer dizer transparência. Com esse conceito, Gorbatchev queria expressar uma nova relaçao entre o poder e a sociedade. Para ele a censura deveria ser abolida, para que os problemas pudessem ser discutidos abertamente pela população. Perestroika significa reconstrução. Indicava a necessidade de reformulação da economia soviética, sobre novas bases. Em 1986, Gorbatchev mostrava-se um defensor do estatismo socialista e do igualitarismo econômico, mas afirmava também que seria bem-vinda a iniciativa empreendedora de cada cidadão. Para ele, o Estado não deveria ser um obstáculo para o progresso individual. As propostas eram consideradas muito avançadas dentro da própria União Soviética. Observadores acreditavam que Gorbatchev poderia ter o mesmo fim de Nikita Khruschev, deposto em 64 ao tentar introduzir reformas vistas com antipatia pelos burocratas do Partido Comunista. (...) Conflitos internos no Partido Comunista desse processo foi Bóris Ieltsin, que no final de 87 caiu em desgraça e perdeu todos os cargos de chefia do Partido Comunista. O ano de 1988 foi decisivo para a implantação da glasnost e da perestroika. Gorbatchev autorizou a Igreja Ortodoxa Russa a celebrar seu milésimo aniversário em todo o país. A medida contribuiu para criar um clima inédito de festa e de liberdade espiritual. Além disso, em maio de 88, o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, visitou Moscou numa atmosfera de descontração política que prenunciava importantes acordos sobre desarmamento. Costumes soviéticos tornam-se mais liberais As mudanças chegaram aos costumes, que tornaram-se mais liberais. Em junho, o primeiro concurso de Miss Moscou mostrava que a preocupação com a beleza frívola já não era mais considerada um sinal de decadência burguesa ou um desvio do socialismo. O cinema soviético logo refletiu a liberalização dos costumes. O filme "A Pequena Vera", por exemplo, mostrava o comportamento dos jovens na era da glasnost e as relações sociais e familiares na União Soviética no fim dos anos 80. Foi nesse clima que se instalou, em junho e julho de 88, a 19 a Conferência do Partido Comunista. Gorbatchev anunciou sua determinação de permitir o pluralismo político no país, respeitando as particularidades do regime socialista. A partir dessa data, os membros do partido precisariam disputar para valer, através do voto, os cargos eletivos do Estado e as vagas do Soviete Supremo, o órgão máximo de poder do país. Na mesma conferência, Gorbatchev condenou abertamente, pela primeira vez, a natureza do socialismo soviético, classificada por ele de arbitrária. Defendeu a criação de um sistema de garantias dos direitos dos cidadãos, o estado de direito. Com essa postura, o dirigente entrou em confronto direto com Igor Ligatchov, o líder dos burocratas do partido. Os ventos da mudança começavam a soprar mais rapidamente sobre Moscou. A primeira decisão importante depois da conferência do Partido Comunista foi tomada em agosto de 88: as tropas do exército soviético começaram a deixar o Afeganistão depois de nove anos de ocupação e guerra. Surgem as frentes populares Em seu segundo ano de governo, Mikhail Gorbatchev enfrentava duas correntes formalmente inconciliáveis. Uma delas, adversária das mudanças, acreditava que a saída para a crise estava no aprofundamento dos traços coletivistas da União Soviética. Liderada por Igor Ligatchov, a ala tinha o apoio dos burocratas da época de Brejnev. O outro grupo, ao contrário, queria acelerar as reformas. Defendia a limitação dos privilégios usufruídos pela cúpula do poder e maior apoio à iniciativa privada. Essa corrente, formada pelos setores mais jovens, tinha a liderança de Bóris Ieltsin, chefe do partido em Moscou. Gorbatchev tentou o caminho da conciliação. Em vez de adotar um dos pontos de vista e combater o outro, escolheu uma política de compromissos e concessões. Num certo momento, cedia às pressões dos reformistas. Em outro momento, criticava os excessos e satisfazia a chamada "ala burocrática". A primeira grande vítima Outro fato significativo foi o surgimento das Frentes Populares nas repúblicas que formavam a União Soviética. Eram organizações não partidárias, mas com uma plataforma política definida, que reuniam milhares de membros do Partido Comunista, especialmente os mais jovens. De um modo geral, essas frentes lutavam pelo fim da opressão exercida durante décadas pelo poder central. Faziam denúncias dos crimes da era stalinista e lutavam contra o descaso do governo em relação às questões ambientais. Nas repúblicas de maioria islâmica, as frentes populares impulsionavam movimentos religiosos, como no Tadjiquistão. Muitas dessas frentes, desde o início de suas atividades, enfatizavam a necessidade da proclamação da independência em relação à União Soviética. Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 4 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL No final de 88, a paisagem cultural estava substancialmente diferente, como se podia observar nas ruas de Moscou. Mas verificava-se um vácuo no sistema político soviético. Com tantas mudanças em curso, não havia ainda um novo sistema definido, em substituição ao antigo. A economia do país não ia bem. Sem medo de punições, funcionários públicos procuravam fortuna fácil no mercado negro, tirando mercadorias de circulação para revendê-las a preços mais altos. Além disso, uma resolução da 19a Conferência do Partido Comunista permitiu a criação de cooperativas privadas, com objetivos claros de lucro. Com elas surgiu uma casta de prósperos negociantes, em geral antigos burocratas do Estado ou integrantes de grupos mafiosos internacionais. Enquanto isso, a maioria da população sofria os efeitos da desordem administrativa. "A situação da economia soviética durante o período da perestroika foi resultado de dois movimentos contraditórios e assimétricos no tempo. O primeiro foi aquele que resultou no desmanche dos ministérios e no desmanche do aparelho de planificação. O outro foi aquele que pretendia introduzir um novo sistema, de relações de mercado, descentralizando decisões, desestatizando as empresas estatais. O primeiro se fez muito rapidamente. O segundo levou mais tempo. E, exatamente por tomar mais tempo, está sendo introduzido na Rússia até hoje. Era inevitável que esses movimentos gerassem a desorganização econômica que se refletiu numa série de dificuldades, entre elas o abastecimento. Cabe acrescentar que esse problema no abastecimento foi agravado pelo comportamento da própria população, que, ainda sob o trauma da guerra, resolveu estocar mantimentos em suas casas." Lenina Pomeranz, economista Todos os setores da sociedade foram sacudidos pelas reformas de Gorbatchev. As pressões políticas e econômicas sobre Moscou vinham de todos os lados. Nas repúblicas, movimentos nacionalistas queriam a independência. Na economia, a população temia a instabilidade, a inflação e os abusos do mercado negro. Na política, o Partido Comunista estava cada vez mais dividido, enquanto as frentes populares cresciam. Eleições agitam a União Soviética Nesse cenário de incertezas, Gorbatchev precisou enfrentar um novo teste, em março de 1989: as eleições para o Congresso dos Deputados do Povo, também chamado de Assembléia do Povo, que escolheria o novo presidente da República. Pela primeira vez na União Soviética, muitos candidatos concorriam ao Parlamento. As ruas se encheram de faixas e cartazes de campanha. Os eleitores compareciam aos comícios e faziam questão de manifestar apoio aos seus candidatos. Embora só o PC estivesse legalizado, qualquer pessoa podia se candidatar, bastando o aval de quinhentos moradores do bairro. As eleições, realizadas em clima de liberdade, marcaram o retorno triunfal de Bóris Ieltsin, o deputado mais votado do país. E também liquidaram o monopólio do poder exercido pelo Partido Comunista. Inúmeros candidatos reformistas conseguiram se eleger, ampliando a base de apoio de Gorbatchev. Nessa época, Mikhail Gorbatchev era identificado, no Oriente e no Ocidente, como um estadista empenhado no fim da corrida armamentista, que levaria o mundo a uma nova era de paz. Em maio de 89, a visita de Gorbatchev a Pequim acendeu o estopim do movimento dos jovens pela democratização da China, que resultaria no massacre da Praça da Paz Celestial, no começo de junho. A queda do Muro de Berlim Em outubro do mesmo ano, na Alemanha Oriental, o dirigente advertiu o líder comunista Erich Honecker de que a União Soviética não toleraria uma repressão violenta ao movimento pela democracia, cada vez mais forte naquele país. A visita de Gorbatchev à capital do país fez deslanchar o movimento popular que resultaria, no mês seguinte, na queda do Muro de Berlim. A queda do muro representou o fim do socialismo no mais rico, próspero e politicamente fechado país da Europa Oriental. Em pouco tempo, o processo se alastrou por todos os países do bloco socialista. Os episódios mais violentos foram vividos na Romênia, em dezembro de 89. A luta popular pelo fim da ditadura custou a vida de pelo menos 10 mil pessoas, que tombaram diante das forças da Securitate, a polícia política do ditador Nicolai Ceaucescu. O processo terminou quando o Exército, que se voltou contra o governo, prendeu e realizou o julgamento sumário e a execução de Ceaucescu e de sua mulher Helena, no Natal de 89. Pacto de Varsóvia deixa de existir Na prática, com esses acontecimentos deixava de existir o Pacto de Varsóvia, um acordo de cooperação econômica e militar entre os países do bloco socialista criado em 1955 e formalmente extinto em julho de 91. No entanto, o tratado dos países ocidentais, a OTAN, seguia firme e forte. Foi nesse contexto que Gorbatchev reuniu-se pela primeira vez com o presidente norteamericano George Bush na ilha de Malta, no finalzinho de 89. Para muitos historiadores, esse encontro representa o início do que se convencionou chamar de Nova Ordem Mundial, uma fase da história contemporânea marcada pela existência de uma única superpotência. O bloco socialista estava em ruínas e o Ocidente dava as cartas. Na volta a Moscou, o líder da perestroika ainda precisou enfrentar novos obstáculos, na difícil condução da União Soviética à normalidade institucional. No início de 1990, Gorbatchev organizou o 28° Congresso do Partido Comunista, que viria a ser o último da história soviética. O encontro tornou-se especialmente importante por duas razões. Bóris Ieltsin, recém-eleito presidente da Rússia pelo Congresso do Povo, rompeu definitivamente com o comunismo. Além disso, o Partido Comunista aprofundou suas divergências internas, determinando o fim da política conciliatória de Gorbatchev. Tentativa de golpe contra Gorbatchev Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 5 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL O acelerado processo de desmantelamento do socialismo no leste europeu estimulava as especulações sobre o futuro da própria União Soviética. Para tentar evitar o colapso, Gorbatchev concedeu mais autonomia às repúblicas, procurando mantê-las unidas em um só país. Ofereceu insumos econômicos a preços mais baixos e garantias de proteção militar. Num esforço final, o líder preparou o Tratado da União, para ser assinado por todas as repúblicas soviéticas em 21 de agosto de 1991. O golpe de Estado do dia 19, no entanto, frustrou as negociações. "A data do golpe de agosto não foi escolhida ao acaso. Dois dias depois que o golpe foi desfechado, seria assinado o tratado da união que, pela primeira fez, asseguraria uma certa horizontalidade de poder entre a Rússia e as demais repúblicas que constituíam a União Soviética. Pela primeira vez haveria uma certa democracia, uma certa repartição de poderes, e a Rússia perderia seu caráter centralizador de um império solidamente ancorado em Moscou. Por isso o golpe foi desfechado: porque as pessoas que deram o golpe não toleravam a possibilidade de que a Rússia deixasse de ser o grande império, a grande mãe Rússia" . José Arbex Jr. jornalista Os golpistas permaneceram menos de 72 horas no poder. O presidente da Rússia, Bóris Ieltsin, que havia sido reconduzido ao cargo em maio de 1991 pelo voto direto, liderou a resistência ao golpe. Gorbatchev ainda tentou manter a estratégia do Tratado da União, mas era tarde demais. Em poucos dias, as repúblicas do Báltico conquistaram a independência. Nos meses seguintes, todas as repúblicas soviéticas seguiram o mesmo caminho. O fim da União Soviética No dia 8 de dezembro de 91, Bóris Ieltsin proclamou a independência da Rússia e a formação da Comunidade dos Estados Independentes, integrada também pela Bielo-Rússia e pela Ucrânia. As demais repúblicas foram ratificando a decisão, com exceção das bálticas - Letônia, Estônia e Lituânia. Na prática, a União Soviética não existia mais. Mikhail Gorbatchev renunciou no dia 25 de dezembro de 1991, por não concordar com a forma como se concretizou o fim da União Soviética. De qualquer modo, em 6 anos e nove meses o líder da perestroika esteve à frente de acontecimentos que conduziram o planeta a uma nova ordem mundial, às vésperas do século XXI. Com o fim do militarismo exacerbado e da política de amedrontamento da Guerra Fria, o jogo geopolítico deixou de estar diretamente relacionado ao poderio nuclear deste ou daquele país. O fator econômico passou para o primeiro plano, desencadeando a formação de blocos supranacionais que disputam interesses num cenário cada vez mais competitivo. As mudanças que resultaram no fim da União Soviética e do bloco socialista aconteceram com uma rapidez vertiginosa. Ao mesmo tempo em que o mundo se reorganiza sem a polarização da Guerra Fria, os países que abandonaram o socialismo estão construindo seus próprios modelos políticos e de relacionamento com as demais nações do planeta. Um processo que o mundo deve acompanhar ainda nos primeiros momentos do próximo século. Fonte: http://www.tvcultura.com.br/aloescola/historia/guerrafria/guerra13/fimdaguerrafriaeragorbatchev3.htm. Acesso em 21/12/2009 QUESTÕES OBJETIVAS 1. (UERJ) Socialista surgiu como descrição filosófica em princípios do século XIX. Sua raiz linguística era o sentido desenvolvido de social. A distinção decisiva entre socialista e comunista, como em certo sentido esses termos são hoje comumente utilizados, veio com a mudança de nome, em 1918, do Partido Operário Socialdemocrata Russo para Partido Comunista Panrusso. Dessa época em diante, uma distinção entre socialista e comunista tornou-se amplamente vigente. RAYMOND WILLIAMS Adaptado de “Socialista”. In: Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo, 2007. Na história europeia, durante o século XX, estabeleceuse uma diferença entre socialismo e comunismo relacionada ao seguinte aspecto: a) b) c) d) crítica dos valores liberais controle da indústria pelo Estado defesa da ditadura do proletariado importância do sentimento patriótico 2. (UERJ) O permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época de todas as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com seu cortejo de representações e concepções, são dissolvidas, todas as relações recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era estável se volatiliza, e os homens são por fim obrigados a encarar com os olhos bem abertos a sua posição na vida. MARX e ENGELS Adaptado do Manifesto do Partido Comunista Em 1848, na defesa de uma nova sociedade, o Manifesto Comunista criticou as transformações advindas da modernização capitalista nos países da Europa Ocidental. Dois aspectos dessa modernização, então criticados, foram: a) crescimento industrial – garantia de direitos sociais b) aceleração tecnológica – aumento da divisão do trabalho c) mecanização da produção – elevação da renda salarial média d) diversificação de mercados – valorização das corporações sindicais Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 6 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL 3. (UERJ) d) apoiando as propostas americanas de "degelo", organizou um programa político que determinava o princípio da coexistência política com o Ocidente e uma aliança com os EUA para troca de tecnologia. e) apresentou um relatório denunciando as arbitrariedades e os erros de Stalin e abriu a URSS ao Ocidente, estabelecendo o princípio da coexistência pacífica. 6. (UFFRJ) Leia o texto a seguir. LYGIA TERRA et al. Adaptado de Conexões. São Paulo: Moderna, 2008. No gráfico, é possível observar uma alteração na dinâmica demográfica russa, a partir do final dos anos 1980. Essa alteração pode ser associada ao seguinte contexto: a) b) c) d) fim da economia planificada implantação de regime ditatorial planejamento do controle migratório eliminação do sistema previdenciário 4. (FUVEST) Qual das seguintes afirmações explica, sinteticamente, o fim da União Soviética? a) O regime entrou em colapso porque os dirigentes estavam desmoralizados, desde as denúncias de Kruschev no XX Congresso do Partido. b) O regime deixou de ser sustentado pelo exército, adversário tradicional do partido comunista. c) A vitória militar dos Estados Unidos na guerra fria tornou inviável a manutenção do regime. d) O colapso do regime deveu-se à crise generalizada da economia estatal, combinada com o fracasso da abertura controlada do Gorbachev. e) Os líderes soviéticos abandonaram a crença no socialismo e decidiram transformar a União Soviética em um país capitalista. 5. (CESGRANRIO) Com o desenvolvimento da política de Glasnost, a história da URSS aparentemente está dividida entre a era de Gorbachev e a era Stalin. Entretanto, a desestalinização iniciou-se em 1956, com o XX° Congresso do Partido Comunista da União Soviética, no qual Nikita Kruchev: a) apresentou um relatório que, denunciando as arbitrariedades dos seguidores de Stalin acabou por provocar a reação dos setores militares soviéticos e o fechamento da URSS ao Ocidente. b) apoiando as realizações econômicas de Stalin, apresentou um relatório em que as justificava em nome da manutenção da vitória da revolução. c) apresentou um relatório em que analisava as relações de Stalin com o Kuomitang de Chiang Kai Shek e propunha a união política da URSS com a China para barrar o avanço do capitalismo americano na Ásia. Em 1921, o problema nacional central era o da recuperação econômica - o índice de desespero do país é eloqüente: naquele ano, 36 milhões de pessoas não tinham o que comer. Nas novas e ruinosas condições da paz, o "comunismo de guerra" revelava-se insuficiente: era preciso estimular mais efetivamente os mecanismos econômicos da sociedade. Assim, ainda em 1921, no X Congresso do Partido, Lenin propõe um plano econômico de emergência: a Nova Política Econômica. NETO, J. P. "O que é Stalinismo". São Paulo: Brasiliense, 1981. Sobre a chamada Nova Política Econômica é correto afirmar que a) ela reintroduziu práticas de exploração econômica anteriores à Revolução Russa de 1917 que se traduziram num abandono temporário de todas as transformações socialistas já feitas e um retorno ao capitalismo. b) ela consistiu na manutenção de elementos econômicos socialistas, na organização da economia (como o planejamento) e na permissão para o estabelecimento de elementos capitalistas por meio da livre iniciativa em certos setores. c) ela significou fundamentalmente uma reforma agrária radical que promoveu a coletivização forçada das propriedades agrárias e a construção de fazendas coletiva, os Kolkhozes. d) seu resultado foi catastrófico, mesmo permitindo a volta controlada de relações capitalistas na economia, já que ela ampliou ainda mais o nível de desemprego e produziu fome em grande escala. e) ela significou, com a abertura para o capitalismo, um aumento substancial da produção industrial, mas, ao mesmo tempo, por ter retirado todos os incentivos anteriormente concedidos à produção agrícola, foi a razão da ruína do campo. 7. (UFFRJ) "A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de lutas às que existiam no passado." (MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista "Obras Escolhidas". São Paulo, Alfa-Omega,1953. p.22. v.1.) O elemento presente na Revolução Russa de 1917 que caracteriza a luta de classes, apontada no Manifesto Comunista, publicado em 1848, é a) a transformação profunda e permanente, conduzida pela burguesia através dos avanços tecnológicos. b) o apoio do czar russo à luta contra a exploração burguesa, promovido pelo proletariado, exemplificando a solidariedade entre as classes sociais. Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 7 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL c) a liderança revolucionária, assumida pelos camponeses, confirmando a força de mobilização dos mais espoliados. d) o caráter transnacional do capitalismo, que permitiu a unidade do proletariado nos países vizinhos à Rússia e a posterior invasão e tomada do País. e) o confronto entre o proletariado e as forças dominantes (czar, exército e burguesia), indicando que a luta de classes está no centro da história de qualquer sociedade. 8. (UFMG) A Perestroika é entendida como um processo de transformação global do sistema socialista da antiga URSS. Considerando-se esse processo de transformação, é CORRETO afirmar que: a) a opção pela interdependência entre o aparelho do Estado e o aparelho partidário foi importante para o fim do autoritarismo vigente na esfera das instituições sociais e políticas. b) o incremento da indústria de armamentos, em razão da posição hegemônica da URSS na Guerra Fria, gerou recursos importantes para a implementação de novas estratégias econômicas. c) a Glasnost, como abertura democrática, abriu caminho para a reforma do Estado e para discussões ideológicas e assegurou transformações básicas na economia soviética. d) o crescimento da economia soviética nos anos 80 deste século, a taxas bastante elevadas, impulsionou o processo de transformação do sistema socialista na URSS. 9. (UFRS) DISCURSO DE DESPEDIDA Queridos compatriotas, concidadãos: Tendo em vista a situação criada com a formação da Comunidade de Estados Independentes (CEI), concluo minha atividade como presidente da União Soviética. Tomo esta decisão por questões de princípio. (...) Impôs-se a linha de fragmentação do país e desunião do Estado, o que não posso aceitar.. (...) O destino quis que, ao me encontrar à frente do Estado, já estivesse claro que nosso país estava doente. (...) Tudo devia mudar. (...) Hoje estou convencido da razão histórica das mudanças iniciadas em 1985. (...) Acabamos com a Guerra Fria, deteve-se a corrida armamentista e a demente militarização do país que havia deformado nossa economia, nossa consciência social e nossa moral. Acabou-se a ameaça de uma guerra nuclear. (...) Abrimo-nos ao mundo, e responderam-nos com confiança, solidariedade e respeito. Mas o antigo sistema desmoronou antes que o novo começasse a funcionar. (...) (...) Deixo meu cargo com preocupação mas também com esperança, com fé em todos vocês, na sua sabedoria e na sua força de espírito. (...) Meus melhores votos a todos. Mikhail Gorbatchov. Discurso de despedida Moscou, 25 de dezembro de 1991 (Fonte: GARCIA, F., ESPINOSA, J.M. HISTÓRIA DEL MUNDO ACTUAL 1945-1995. Madrid: Alianza Editorial, 1996.) Em relação ao texto e aos fatos mencionados anteriormente, são feitas as seguintes afirmativas: I - A tentativa de golpe, em agosto de 1991, e o fortalecimento de leltsin, a seguir, minaram definitivamente o que restava do Estado soviético. II - O texto reafirma a valorização histórica das mudanças propostas, nos anos 80, através da Perestróika e da Glasnost. III - Na sua despedida, Gorbatchov mostra-se satisfeito com a fórmula política da CEI e com o processo de pacificação mundial. Quais estão corretas? a) Apenas I c) Apenas III b) Apenas II d) Apenas I e II e) I, II e III 10. (UFMG) O ano de 1989 representou o ápice da crise do socialismo real. Considerando-se os desdobramentos dos acontecimentos desse ano, é CORRETO afirmar que, a) na Alemanha, apesar da queda do Muro de Berlim, a reunificação foi adiada, em razão do enorme desequilíbrio econômico e social entre as regiões oriental e ocidental. b) na China, se iniciou um processo de reforma do Estado que possibilitou a democratização das estruturas de poder pela adoção do pluripartidarismo, de eleições livres e da abertura da imprensa. c) na Polônia, na Hungria, na Tchecoslováquia e na Romênia, os governos foram derrubados e reformas políticas e econômicas liberalizantes começaram a ser adotadas. d) na Tchecoslováquia, na Hungria e na Romênia, se iniciaram movimentos de reforma do Estado em direção à construção de um novo socialismo, mais humanista e pluralista. 11. (UERJ) CHECHÊNIA TROPAS RUSSAS AVANÇAM NA Tropas terrestres da Rússia começaram ontem a avançar sobre a Chechênia e ocuparam cinco pequenas cidades do Norte da república separatista. (...) Além da ofensiva militar, a Rússia ataca a Chechênia no terreno político. O primeiro ministro russo, Vladimir Putín, anunciou que não reconhecia mais a legitimidade do presidente checheno. ("O Globo", 02/10/99) Os conflitos de caráter nacionalista que hoje se verificam no antiga URSS estão relacionados ao desmantelamento do antigo mundo comunista soviético. Um dos fatores que contribuiu para acelerar a crise da URSS foi: a) falta de apoio do Ocidente às mudanças de Mikhail Gorbachev b) implementação do indústria de bens de consumo por Boris Yeltsin c) tentativa do golpe militar conservador de 1991 contra Boris Yeltsin d) o processo de reformas políticas e econômicas de Mikhail Gorbachev Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 8 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL 12. (UFPE) Sobre as várias propostas de reformas na economia e na política, na antiga União Soviética, uma foi fundamental para mudanças radicais nessa sociedade. Quanto a isso, assinale a resposta correta. a) Gorbatchev, através do seu projeto de reformas para a União Soviética, a glasnost, conseguiu estabilizar a economia russa e democratizar as instituições. b) As reformas introduzidas na antiga União Soviética, por Boris Ieltsin, depois de eleito presidente da recémcriada Federação Russa em 1991, aceleram a transição do socialismo para o capitalismo. c) A crise social e econômica que atingiu a URSS, no final da década de 1980, é atribuída à competição militar com a China, sua arqui-rival, e à corrida espacial com a Europa. d) O principal fator que desencadeou o desmoronamento do Império Soviético foi o relaxamento do controle do Estado sobre a imprensa. e) É inegável que a falta de relacionamento político com o ocidente e a perestroika proposta por Gorbatchev foram fundamentais para que a Rússia mergulhasse na crise atual. 13. (PUCRJ) As reformas políticas e econômicas iniciadas por Mikhail Gorbatchov, em fins da década de 1980, na União Soviética, se fizeram acompanhar de muitas transformações nos países do Leste europeu, aprofundando a crise do socialismo na região. Sobre essas mudanças, estão corretas as seguintes afirmações, com EXCEÇÃO de uma. Qual? a) As lideranças que assumiram, na Polônia, a partir de 1989, a condução do processo de reforma política já vinham fazendo firme oposição ao governo socialista desde o início dos anos 80, quando estiveram representadas pela articulação entre a Igreja Católica e o sindicato Solidariedade. b) À frente da reorganização política da Tchecoslováquia, as antigas lideranças do movimento civil de 1968 não conseguiram impedir a ação de movimentos separatistas. c) Os movimentos nacionalistas e populares, de inspiração liberal, levaram os Partidos Comunistas, na Hungria e na Iugoslávia, ao colapso, lançando esses países numa guerra civil prolongada, em que o extermínio étnico e religioso foi intenso. x d) Fechando-se, desde o fim da guerra, aos contatos regulares com os países europeus e governada a partir de uma concepção ortodoxa de socialismo, a Albânia foi o último país da região a passar pelas transformações que marcaram o período. e) A emigração para a Alemanha Ocidental e a conseqüente abertura das fronteiras representou, na Alemanha Oriental, um fator importante para o colapso da autoridade do governo comunista. 14. (UFFRJ) Leia o texto a seguir. As Revoluções que transformaram a Europa nos três últimos meses de 1989 foram aquele tipo de evento muito raro, de evento que realmente abala o mundo. Os esforços para captar a escala desses acontecimentos há muito se transformaram em lugares-comuns. O terremoto ocorrido no leste, porém, representa mais do que o colapso de seis regimes (Polônia, Hungria, Alemanha Oriental, Bulgária, Tchecoslováquia e Romênia) ou a conseqüente reorganização do sistema estatal internacional. CALLINICOS, A. "A Vingança da História: O Marxismo e as Revoluções do Leste Europeu." Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. Em relação ao processo de desconstituição da União Soviética e do Bloco Socialista, é correto afirmar que a) o Golpe de Estado que dissolveu a União Soviética em 1987, comandado pelo então presidente da Rússia, Boris Yeltsin, desencadeou uma reação em cadeia na qual foram caindo, um a um, os regimes socialistas da Europa do Leste, encerrando-se o processo com a famosa queda do Muro de Berlim. b) o colapso do Bloco Socialista foi um processo originado nas reformas levadas a cabo na própria União Soviética, através das políticas conhecidas como Glasnost e Perestroika, adotadas a partir de meados dos anos de 1980. c) a desintegração das assim chamadas "democracias populares" foi um processo iniciado em novembro de 1985 com uma revolta popular em Berlim Oriental, responsável por derrubar o muro de Berlim, e espalhouse posteriormente para os outros países do Bloco dentre os quais a própria URSS. d) as reformas realizados em países, como Polônia e Hungria, foram responsáveis, em função da íntima vinculação entre os países do Bloco Socialista, por uma reação em cadeia na qual a URSS foi obrigada a adotar as políticas reformistas, conhecidas como Glasnost e Perestroika, que levaram a sua desintegração. e) as políticas de reformas conhecidas como Glasnost e Perestroika, desenvolvidas em países do Leste Europeu que queriam se libertar do jugo da URSS, tiveram um incansável adversário em Gorbatschov, o então líder da União Soviética, que queria impedir a dissolução do Bloco Socialista. 15. (CESGRANRIO) TEXTO I No embalo da queda do Muro de Berlim e da desmoralização dos regimes comunistas da União Soviética e do Leste Europeu, em 1989, (Francis ) Fukuyama comemorava a suposta vitória final da ordem liberal do Ocidente e o conseqüente encerramento do conflito ideológico que, desde a Revolução Russa de 1917, parecia condicionar a hostilidade entre as potências. (MAGNOLI, Demetrio. "Globalização: Estado Nacional e Espaço Mundial." São Paulo: Moderna, 1997) TEXTO II Em "O Choque das Civilizações", publicado em meados dos anos 90, (Samuel) Huntington previa que os conflitos globais do século XXI não mais seriam motivados por desavenças entre países, mas entre civilizações, caracterizadas estas por valores, instituições e, sobretudo, religiões. O choque mais iminente, escreveu, era aquele que contraporia o Ocidente ao mundo muçulmano. (Revista "VEJA" - 14 de novembro de 2001, p. 56) Comparando os textos I e II, nos quais são emitidas opiniões acerca da geopolítica mundial pós-Guerra Fria, pode-se concluir que o(s): Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 9 GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL a) pós-Guerra Fria, segundo Fukuyama, estaria isento de disputas geopolíticas, enquanto para Huntington o fim da Guerra Fria agravaria os conflitos norte-sul. b) papel do Estado Nacional, para Huntington, superaria as questões étnico-religiosas, enquanto Fukuyama acreditava que o liberalismo vitorioso após a queda do Muro de Berlim deixaria o Estado Nacional fragilizado. c) mundo pós-Guerra Fria, para os dois autores, prioriza o interesse nacional, em detrimento de rivalidades étnicas ou religiosas. d) separatismos nacionalistas que marcam o mundo contemporâneo vêm demonstrar a fraqueza da tese de ambos os autores, já que permanecem, nestes casos, as questões ideológicas. e) dois autores privilegiam as questões de política internacional e não consideram relevantes os interesses nacionais no mundo do século XXI. 16. (UNIRIO) RUÍNAS DO IMPÉRIO: "Transição" ao capitalismo na verdade é uma "grande depressão". ("Folha de S. Paulo" 19/09/99.) 3. (UFF) Escrito em 1880, o livro de Friederich Engels, Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, buscou discutir os limites do chamado Socialismo Utópico. Os filósofos do Socialismo Utópico acreditavam que a partir da compreensão e da boa vontade da burguesia se poderia transformar a sociedade capitalista, eliminando o individualismo, a competição, a propriedade individual e os lucros excessivos, todos responsáveis pela miséria dos trabalhadores. Como alternativa àquela corrente, Engels e Marx propunham o Socialismo Científico. Com base nessa informação: a) caracterize a alternativa proposta por Engels e Marx o Socialismo Científico - em relação ao papel dos trabalhadores na transformação da sociedade. b) mencione uma proposta levada a efeito pelos socialistas utópicos. 4. (FUVEST) "A propriedade é um roubo". Um estudo realizado pela ONU mostra o declínio da exURSS. Dentre as razões para esta situação podemos citar o(a): "Proletários de todos os países, uni-vos". I - desmantelamento do aparato estatal que propiciou o aumento da contravenção e da economia informal; II - colapso do sistema de saúde e de educação que levou ao empobrecimento da população. III - liberalização imediata e indiscriminada dos preços que gerou uma economia hiperinflacionária. 5. (UNESP) Por que o setor industrial na Rússia e nas demais Repúblicas da ex-URSS apresenta problemas como a baixa qualidade de seus produtos e uma produção insuficiente para o seu mercado de consumo? Que correntes políticas representavam e que significam estes lemas, difundidos a partir do século XIX? 6. (uerj) É (São) verdadeira(s) a(s) afirmativa(s): a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. QUESTÕES ANALÍTICAS 1. (FUVEST) Quando o Muro de Berlim foi construído, em 1961, a União Soviética estava no auge de sua força - havia até mesmo se adiantado aos Estados Unidos na exploração espacial. Quando o Muro de Berlim foi derrubado, em 1989, a União Soviética estava em plena crise e desapareceria dois anos depois. Explique essa reviravolta e a relação entre o Muro de Berlim e a União Soviética. "É evidente que a Rússia se aproxima de seu segundo colapso, desta vez sob os auspícios da economia de mercado. Sob as atuais circunstâncias, a fuga de capital monetário internacional é irreversível. Assim, os 'mercados emergentes' se transformam definitivamente em 'mercados de emergência', pois a declaração da insolvência russa se irradia sobre as demais regiões em crise. Agora não se trata mais de casos regionais, porém de um processo de escalada global." (Adaptado de KURZ, Robert. "FOLHA DE SÃO PAULO", 06/09/98). 2. (UFG) Eric Hobsbawm, em seu livro "A era dos extremos", 1995 afirma: "Os últimos anos da URSS foram uma catástrofe em câmara lenta" que, ao nosso ver, parece não ter chegado ao fim. No final desta década de 90, a ex-potência socialista não encontrou "um lugar ao sol" no mundo capitalista; seus problemas atuais são também oriundos dessa opção de inserção numa economia globalizada. Cite e explique dois problemas enfrentados pela ex-URSS, ao adotar princípios econômicos e políticos do sistema capitalista. a) Explique, tendo em vista o processo de globalização, a razão pela qual uma crise em determinado país pode afetar áreas relativamente distantes. b) Caracterize dois aspectos da crise russa neste momento de transição rumo ao capitalismo. Prof.: Carlos Alberto (Cacá) 10