Brasília: vocação e futuro

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05/01/2010
Brasília: vocação e futuro
Às vésperas de completar 50 anos, com a imagem atingida por denúncias gravíssimas envolvendo
seus governantes, Brasília se encontra diante do desafio de resgatar a essência de sua identidade: a
de uma cidade especial, concebida e construída como espaço privilegiado de um Brasil novo —
moderno, criativo, solidário.
Cidade administrativa, resguardada de empreendimentos industriais que, à época de sua fundação,
significavam não somente prosperidade socioeconômica, mas também degradação ambiental, Brasília
está pronta para a economia verde e para a economia do conhecimento, ambas fortemente embasadas
na inovação. Os analistas são unânimes em afirmar que a inovação se confirmará como o fator crítico
do desenvolvimento ao longo deste século, e Brasília, cuja população apresenta os melhores índices
de desempenho educacional do país, poderá se converter na principal vitrine do esforço inovador
nacional.
Indústrias como a de tecnologia da comunicação e informação, de biotecnologia e de nanotecnologia
estão no centro do processo. Nessas áreas, Brasília conta com instituições de excelência, como a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade de Brasília (UnB), a
Universidade Católica de Brasília (UCB) e o Parque Tecnológico Capital Digital, este em processo de
implementação.
Outra indústria, altamente dinâmica e plenamente compatível com a sustentabilidade ambiental, é a do
turismo. A cidade está muito longe de explorar todo o potencial para o turismo cívico, cultural e de
eventos; seus monumentos e desenho urbanístico despertam enorme interesse nos brasileiros que
vivem em outras cidades e em turistas estrangeiros. Em virtude disso, se souber promover sua imagem
no exterior, Brasília terá todas as condições de se tornar uma das principais portas de entrada no país
durante a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Cidade-parque, Brasília encanta também pela capacidade de integrar espaços naturais com espaços
construídos. Não bastassem suas amplas áreas gramadas e arborizadas, bem como os seus jardins, a
cidade oferta a moradores e visitantes parques de extensão razoável — um deles, aliás, de grande
extensão —, próprios para o lazer, o esporte ou o simples contato com a natureza. A presença dos
parques em todo o Distrito Federal, muitos deles ainda com existência somente formal ou em fase de
estruturação física, será ainda mais significativa quando todos forem definitivamente implantados e
tiverem o funcionamento assegurado.
Brasília deve também recuperar a condição de vanguarda na área da total transparência dos atos
públicos. Há poucos meses foi aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula a
Lei da Transparência, de iniciativa do ex-senador João Capiberibe, do PSB do Amapá, que obriga a
divulgação integral, em tempo real na internet, de todas as movimentações realizadas com dinheiro
público, no Executivo, Legislativo e Judiciários nas esferas federal, estadual e municipal.
Enquanto a inclusão digital não chega a todos, com o acesso a computadores providos de conexão de
banda larga, meta que deverá ser perseguida com obstinação pelos próximos governantes em todo o
Brasil e no DF, será uma boa iniciativa do poder público disponibilizar em espaços estratégicos painéis
e terminais que permitam aos cidadãos o acompanhamento permanente dos investimentos e gastos
realizados com o erário. A justa demanda por transparência é ainda ótima oportunidade para a
revitalização e a ampliação de conselhos e comitês, incumbidos entre outras missões de fiscalizar os
órgãos públicos, compostos por cidadãos oriundos de todos os segmentos sociais.
Brasília deve também recuperar, agora em patamar superior, a posição de destaque que ostentou no
passado no que se refere à prestação de serviços públicos de boa qualidade. Na capital, escolas e
hospitais públicos já foram sinônimo de excelência e, ultimamente, além de gritante degradação da
educação e da saúde, vemos se agravarem os problemas ligados ao transporte e à segurança.
O escândalo ora em curso atira Brasília na vala comum do atraso político e da confusão entre o público
e o privado. No entanto, a verdadeira vocação da Capital da Esperança é impulsionar, pela força do
exemplo, o processo de transformação do Brasil num país que abrigue o melhor da civilização. É hora
de resgatar essa vocação.
Deputado Federal Rodrigo Rollemberg, líder do PSB na Câmara dos Deputados
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