Epigenética: mecanismos de regulação gênica Mateus da Rosa Nunes Paiva [email protected] Aluno de mestrado: Programa de Biologia Molecular e Microbiologia, Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes – Laboratório de Genômica e Expressão, IB/Unicamp Introdução – Pistas da genética e desenvolvimento Muller, 1930: “Eversporting displacements” *Eversporting -> alta frequência de mutantes *Displacements -> deslocamentos cromossômicos “Mesmo quando todas as partes de cromatina apareciam representadas na dosagem certa, mudando apenas a posição, o resultado fenotípico não era igual” Introdução – Pistas da genética e desenvolvimento GIRLS! Muller, 1930: “Eversporting displacements” *Eversporting -> alta frequência de mutantes *Displacements -> deslocamentos cromossômicos Hannah, 1951: “Localization and function of heterochromatin in Drosophila melanogaster” “As regiões cromossômicas, afetando diversos caracteres de uma vez, de algum modo influenciam o fenótipo, junto com genes independentes e elementos gênicos. A variegação em questão surge com a justaposição do gene para o olho branco com uma região heterocromática. Genes não são entidades independentes, sua ação depende de sua posição no genoma.” Introdução – Pistas da genética e desenvolvimento Introdução – Pistas da genética e desenvolvimento Introdução – Pistas da genética e desenvolvimento Gêmeos monozigóticos. Por que a diferença? Introdução – Pistas da genética e desenvolvimento Gêmeos monozigóticos idênticos. Por que a diferença? Síndrome de Kallmann: disfunção na embriogênese da placa olfatória (mesma origem embrionária de glândulas cerebrais). Altamente controlada por “fatores externos” do modo de vida. Metilação do DNA, cromatina e diálogo entre mecanismos Metilação do DNA, cromatina e diálogo entre mecanismos Genética versus epigenética Genética molecular: capaz de explicar conceitos mendelianos de herança. Alelos diferentes geram fenótipos diferentes, por sua expressão em proteínas funcionais ou não Genética versus epigenética Como alelos idênticos de um mesmo gene são distinguidos, modificados e mantidos diferentes ao longo de gerações celulares? Como eles se diferenciam, estando na mesma condição celular? Genética versus epigenética Watson, 2003: “Somos mais que a somatória de nossos genes. É possível herdar e expressar além do que é ditado pela sequência de seu DNA. E é esse campo a excitação atual da genética.” Definindo epigenética Marcadores temporários: mantém o estado funcional de situações passageiras: • • • • • • Restrição de nutrientes Restrição hídrica Reações imunes agudas Limitação de oxigênio Radicais livres (...) Definindo epigenética Marcadores permanentes: mantém o estado funcional de situações de longa duração. Transmitidos pela linhagem celular: • Restrição de nutrientes • Reações imunes crônicas • Exposição a fatores de diferenciação celular • Exposição a químicos • (...) Definindo epigenética Epigenética: estudo da somatória das alterações do template de cromatina que coletivamente estabelece e propaga diferentes padrões de expressão gênica no mesmo genoma” Definindo epigenética Epigenética: estudo da somatória das alterações do template de cromatina que coletivamente estabelece e propaga diferentes padrões de expressão gênica no mesmo genoma” Há um “Código epigenético”? Definindo epigenética Epigenética: estudo da somatória das alterações do template de cromatina que coletivamente estabelece e propaga diferentes padrões de expressão gênica no mesmo genoma” Há um “Código epigenético”? Código genético: Previsível e universal Epigenética: Alterações dependentes de enzimas em comum entre organismos, mas com interpretações dependentes de complexos e acúmulos de marcadores para cada grupo próximo: não-universal e imprevisível Cromatina • O template de cromatina 147bp ~ duas voltas e meia Cerne de histonas: domínio globular básico (atrai DNA acído) caudas histônicas flexíveis protundentes Extremamente conservadas! Tem função importante na evolução SELO CHER DE CONSERVAÇÃO Cromatina • Organização cromatínica de ordem maior Eucromatina: cromatina descondensada, ativa. Rica em AT próxima a promotores, produz tRNA, mRNA ou rRNA, posição marginal no núcleo Heterocromatina: cromatina condensada, não ativa . Rica em repetições próximo a promotores, produz ntRNA (ou não produz), posição central/periferia Teoricamente: 147bp enrolados nas histonas, 200bp entre nucleossomos ... realidade: espaçamentos irregulares determinados por fatores epigenéticos Mecanismos: • • Cis: alterações nas propriedades físico-químicas das histonas. Ex: fosforilação e acetilação (adiciona cargas neg., repele DNA). Trans: recrutamento de complexos proteicos que alteram a estrutura cromatínica (leitura de alterações cis, gasto de ATP) Histonas Atividade de histonas: modificações covalentes e troca por variantes Modificações covalentes: Acetilações, metilações, fosforilações (...) Efeitos cis e trans; Marcadores como interruptores on/off da transcrição Enzimas sempre expressas, extremamente específicas: HATs e HDACs, quinases e fosforilases, PRMTs e HKMTs Estados revertidos: uni e di modificações. Tri modificações são permanentes Modificações em conjunto em vários sítios Muito presente em: H4, H3 Histonas e suas variantes Variantes de histonas: Diferentes genes: mudanças já estabelecidas Efeitos trans; Marcadores de diversos efeitos funcionais Algumas enzimas expressas em momentos específicos, outras constantemente Pode ou não se reverter Modificações em regiões cromossomais Muito presente em: H3, H2A Podem sofrer modificações covalentes Centrômeros e histonas: CENP-3/CenH3 Centrômeros e histonas: CENP-3/CenH3 Para refletir: Genes com funções importantes (o caso das histonas) são extremamente conservados, e protegidos de mutações e recombinações; a chance de o organismo perder a viabilidade com uma mutação é muito alta. Entretanto, CENP-3/CenH3 apresenta as maiores taxas de mutação do genoma. Por que? Cromatina ativa e histonas Regiões ativas: grande fluxo de histonas (passagem da polimerase) + síntese constante de H3.3 -> substituição de H3 por H3.3 -> apagamento de eventuais marcas supressoras em regiões eucromáticas e manutenção delas em regiões heterocromáticas -> memória celular (expressão diferencial) Reparo de DNA e histonas Compensação de dose A necessidade da compensação de dose Processo de inativação Processo de inativação Imprinting genômico Imprinting genômico: mecanismo Necessidade do imprinting Hipótese do conflito parental • Macho: É mais vantajoso que minha progênie cresça mais que os irmãos com hemigenomas distintos -> maior expressão de fatores de crescimento fetais • Fêmea: É mais vantajoso que toda a progênie cresça igualmente, pois o meu hemigenoma está em todos -> controle de fatores de crescimento, todos crescem igualmente Hipótese da bomba-relógio ovariana • Imprinting como estratégia de contenção de doenças trofoblásticas • Prevenir partenogênese -> heranças uniparentais levam a letalidade embrionária Metilação do DNA Metilação: ilhas CpG -> Regiões não-codantes e repetições Enzimas atuantes: DNMT1, DNMT3a e DNMT3b Via: DNMTs metilam -> Sinal para recrutamento de MeCP2 e HDACs -> modificações de histonas Mecanismo de memória celular Metilação, mutações e estabilidade do DNA Se a metilação induz mutações espontâneas em alta frequência, por que ela é um mecanismo selecionado evolutivamente? Metilação, mutações e estabilidade do DNA Se a metilação induz mutações espontâneas em alta frequência, por que ela é um mecanismo selecionado evolutivamente? A metilação é mais frequente em regiões não codantes, onde transposons e vírus tem maior chance de se inserir. Ao promover maior taxa de mutação, ela promove maior taxa de inativação de sequências nocivas. Metilações próximas a genes ativos são constantemente removidas por enzimas de vigilância. Base biológica do câncer Câncer: doença da expressão gênica. Redes de homeostasia se tornam deficientes, células crescem sem controle Causas: alteração (epi)genética estimuladora em oncogenes, alteração (epi)genética repressora em supressores Hipótese de Knudson: “Para que um tumor se manifeste, ambos os alelos de um conjunto devem se comportar aberrantemente -> Extremamente improvável duas mutações similares em um mesmo par de alelos de vários genes. Uma mutação em um e uma alteração epigenética em outro são os casos mais recorrentes, além de duas alterações epigenéticas Base biológica do câncer Hipótese de Knudson: “Para que um tumor se manifeste, ambos os alelos devem se comportar aberrantemente -> Improvável (mas possível) duas mutações similares em um mesmo par de alelos de um mesmo gene. Uma mutação em um e uma alteração epigenética em outro são os casos mais recorrentes, além de duas alterações epigenéticas Metilação do DNA no câncer Epigenética: Neo-Lamarckismo? Vídeo ilustrativo: aplicação Perguntas