Plantas medicinais na comunidade de Lages(1) Rosane Schenkel de Aquino(2); Fedra Kruger (2) ; Ana Paula de Lima Veeck (2); Michael Ramos Nunes(2), Marcus Vinícius Binder Xavier (3). Relato de Experiência (1) Trabalho executado com recursos do Edital APROEX 2/2012, da Pró-Reitoria de Extensão IFSC Professor do Instituto Federal de Santa Catarina – campus Lages; Lages, SC. [email protected] (3) Estudante do Instituto Federal de Santa Catarina – campus Lages, curso técnico de Biotecnologia (2) RESUMO: O interesse global no aproveitamento das plantas medicinais tem crescido recentemente, entretanto, no Brasil, não mais que 1% das espécies nativas foi objeto de pesquisas quanto ao seu potencial de uso bioeconômico. Na região Serrana Catarinense há ainda um Patrimônio Cultural sobre plantas medicinais guardado nas tradições de família, principalmente no interior do município. No presente projeto teve-se por objetivo conhecer fomentar a discussão sobre plantas nativas com potencial medicinal encontradas na região de Lages - SC e conhecer as “receitas” populares juntamente com a nomenclatura popular regional para as plantas medicinais utilizadas com maior frequência na região, integrando as diversas áreas do IFSC – Campus Lages e a comunidade de Lages através de um Workshop de Plantas Medicinais. Conclui-se que a população ainda utiliza muito as plantas medicinais de forma impírica, pois o conhecimento é com pouquíssimo embasamento científico. O workshop trouxe a aproximação da melhor forma de cultivo x obtenção de plantas de boa qualidade x formas de uso das mesmas. Palavras Chave: Plantas Medicinais – etnoconhecimento – comunidade. INTRODUÇÃO Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada no. 48/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, fitoterápico é todo medicamento obtido empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Sua eficácia e segurança é validada através de levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documentações tecnocientíficas em publicações ou ensaios clínicos fase 3. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais. O conceito citado acima traz a necessidade do aumento de conhecimento da utilização das plantas medicinais, já que o uso das mesmas vem de tempos remotos e varia muito de acordo com a cultura e a origem da população, e por isso muitas práticas de uso não possuem comprovação da sua eficácia. Com a medicina moderna, a utilização desta prática alternativa de tratamento foi diminuindo nos grandes centros urbanos, mas continuou prevalecendo em comunidades rurais ou mais isoladas, principalmente associada ao fator socioeconômico da população. Regiões mais carentes, mesmo localizadas em grandes cidades, utilizam estes medicamentos com maior freqüência e realmente acreditam na sua eficácia na cura de diferentes males. Justamente esta eficácia das plantas medicinais contribui de forma relevante para a divulgação das virtudes terapêuticas dos vegetais, pelos efeitos medicinais que produzem, mesmo não tendo seus constituintes químicos conhecidos. Há alguns anos a ciência vem buscando unir o progresso ao conhecimento da cultura popular testando a utilização de produtos utilizados popularmente para a cura de diferentes males. Recentemente, o uso de plantas medicinais voltou em alta devido a estudos que comprovam além das ações farmacológicas, o excelente custo/benefício da utilização de alguns destes fármacos amplamente divulgados pela mídia. O uso de plantas medicinais é tão antigo quanto as civilizações, sendo encontrado em todas as populações, em todos os grupos étnicos conhecidos. De acordo com a OMS, 80% da população mundial faz uso de alguma planta medicinal ou aromática, dos quais apenas 30% são por indicação médica. Devido ao crescente interesse da população por terapias alternativas e produtos naturais, atualmente o mercado de plantas medicinais e aromáticas vem crescendo de forma expressiva em todo o mundo. Recentemente, as plantas medicinais estão sendo abordadas sob o enfoque agrícola, servindo como alternativa de produção para pequenos, médios e grandes produtores. Na Região Sul do Brasil, existe cooperativas de pequenos produtores de plantas medicinais, em especial de camomila, que estão comercializando seu produto dentro dos melhores padrões de qualidade. Plantas nativas de uso medicinal ainda são pouco conhecidas e se constituem em um assunto fascinante de estudo. Na região serrana de Santa Catarina já existem estudos que trazem dados preliminares sobre plantas nativas e suas aplicações na medicina campeira da região. A utilização destas espécies no desenvolvimento de sistemas produtivos de base ecológica é uma alternativa interessante para o produtor, do ponto de vista econômico, social e ambiental; pois é possível agregar renda na produção, resgatar a cultura popular e preservar a biodiversidade regional. Contudo, é necessário inicialmente entender as características destas espécies, sua relação e distribuição dentro do ecossistema natural. É unanimidade entre químicos e farmacologistas que os estudos com plantas medicinais ainda não receberam no Brasil a atenção que o tema merece; até agora não foi observado um processo coordenado de todas as áreas interessadas. DESENVOLVIMENTO O presente projeto visou fomentar a discussão sobre plantas nativas com potencial medicinal encontradas na região de Lages - SC de modo a integrar diversas áreas do IFSC – Campus Lages e integrar o Campus com a comunidade através da aplicação de um questionário sobre o uso e conhecimentos de plantas medicinais e através de um Workshop de Plantas Medicinais. O questionário foi aplicado aos discentes e seus familiares dos cursos técnicos do campus Lages. Para o workshop foram convidados palestrantes que trabalharam temas de produção e nutrição através de plantas medicinais e foi realizada uma oficina prática. Nesta oficina os alunos bolsistas deste projeto e do projeto de pesquisa em Plantas medicinais, apresentaram as formas corretas de preparo, extração e forma de uso dos princípios ativos das plantas medicinais, bem como as aplicações terapêuticas das plantas utilizadas nesta oficina. O objetivo da aplicação dos questionários foi conhecer as “receitas” populares de utilização destas ervas para algumas doenças mais freqüentes na população, conhecer a nomenclatura popular regional para as plantas medicinais utilizadas com maior freqüência e aproximar estudos com fitoterápicos no IFSC – Campus Lages com o interesse e a cultura regional. O benefício do conhecimento das plantas que realmente apresentam substâncias bioativas corrobora a importância deste trabalho, pois o uso inadequado de plantas que não tenham atividade biológica prolonga, piora e/ou mascara o tratamento de doenças da população, onerando ainda mais o custo da saúde na região. Assim, a orientação das pessoas que produzem as plantas e da população que faz seu uso, traz benefício a toda rede de saúde, bem como maior credibilidade frente a pessoas adeptas a tratamentos alternativos e produtores das mesmas. No presente projeto, através de um questionário, foram descritas as plantas medicinais usadas na comunidade, bem como a forma de preparo e o uso popular das mesmas. A partir daí, foram catalogadas e coletadas na região com o auxílio do aluno extensionista. Estas plantas foram utilizadas para a construção de um relógio biológico no campus, onde elas foram plantadas nos horários em que os “órgãos” possuem maior atividade. Foram coletadas amostras também para a extração de óleos essenciais, para posterior análise com o grupo de pesquisa em Plantas Medicinais do campus, do qual os docentes acima fazem parte. RESULTADOS E ANÁLISE As plantas medicinais mais utilizadas na região são o alecrim, erva-cidreira, poejo, aspirina, sálvia, tansagem, camomila e erva-doce. Sendo a infusão (chá), a forma de preparo mais utilizada seguida de decocção e maceração. A coleta dos materiais propiciou a confecção de um relógio humano, onde as plantas foram plantadas no principal órgão de ação (mais utilizada) e no horário de maior atividade orgânica deste órgão (Fig.1). Isto facilitou a visualização dos órgãos em que estas plantas têm as suas principais ações e sugestiona o melhor horário de utilização das mesmas. O workshop reuniu em torno de 30 pessoas da comunidade, do campus e de outras instituições da região, focando a importância de ter uma planta de qualidade desde a sua obtenção até a sua aplicação. A oficina esclareceu as dúvidas sobre a melhor forma de preparo, melhor forma de uso para cada tipo de extração e os riscos do uso de formas inadequadas de preparo. Fig 1. Workshop de Plantas Nutricionais e Medicinais – Relógio Humano Fig. 2. Workshop de Plantas Nutricionais e Medicinais – Relógio Humano CONSIDERAÇÕES FINAIS - A população em geral ainda utiliza as plantas medicinais no tratamento de pequenas enfermidades e/ou queixas. - O conhecimento sobre as aplicações terapêuticas e formas de uso das plantas é empírico, passado entre gerações. - Não há conhecimento por parte da população sobre a qualidade das plantas utilizadas para fazerem o uso das mesmas. - Não há conhecimento sobre os riscos de má utilização da planta ou da forma de extração das mesmas. REFERÊNCIAS Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 48, de 16 de março de 2004.