Curso de Biomecânica do Movimento (BM332) BIOMECÂNICA DO IMPACTO Biomecânica da Lesão no Tórax e Abdómen • A biomecânica da lesão no tórax e no abdómen está directamente relacionada com a quantidade e taxa de deformação que ocorrem nesta região do corpo durante uma situação de impacto. Lesões no Tórax e Abdómen (Ilustração do aparato muscular) 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 160 - Curso de BIOMECÂNICA DO IMPACTO Biomecânica do Movimento (BM332) Mecanismos de Lesão no Tórax e Abdómen • A lesão no tórax e abdómen está directamente relacionada com a energia cinética do objecto de impacto assim como com a sua forma, rigidez e ponto e direcção de impacto. • A resposta biomecânica do tórax e abdómen tem essencialmente 3 componentes: • Uma componente de inércia que surge como oposição às acelerações induzidas pelo impacto nesta região do corpo. • Uma componente elástica associada à rigidez dos ossos e tecidos moles e que é fundamental na protecção desta região em impactos a baixa velocidade. • Uma componente viscosa associada às características viscosas dos tecidos moles e que é particularmente importante para o desenvolvimento de uma força resistente limitadora da deformação durante impactos a velocidades elevadas. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 161 - Curso de BIOMECÂNICA DO IMPACTO Biomecânica do Movimento (BM332) Mecanismos de Lesão no Tórax e Abdómen • Durante situações de impacto, estas três componentes combinam-se de forma a desenvolver uma força dinâmica resistente que limita a deformação e previna o aparecimento de lesão. • A lesão surge quando a deformação provocada nos tecidos moles e órgãos internos excede o seu limite máximo de recuperação. • A componente viscosa tem um papel muito importante na protecção dos órgãos pois permite a dissipação de parte da energia do impacto. • Quando a compressão no torso excede o limite de tolerância desta região, vão existir fracturas de costelas. A partir deste momento os órgãos internos e veias ficam mais vulneráveis, havendo uma maior probabilidade de sofrerem contusões ou rupturas. • No entanto, podem surgir lesões nos órgãos internos sem que haja fractura da caixa torácica. Quando este mecanismo de lesão ocorre tem a ver com forças de impacto transmitidas a velocidades muito elevadas e às ondas de choque associadas. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 162 - Curso de BIOMECÂNICA DO IMPACTO Biomecânica do Movimento (BM332) Mecanismos de Lesão no Tórax e Abdómen • Também a inércia associada aos órgãos internos pode estar relacionada com lesões nestes órgãos (hemorragias e rupturas) sem que para isso haja colapso da estrutura óssea. • Devido à inércia dos órgãos internos, vai existir movimento relativo entre estes e a caixa torácica que pode resultar em vários tipos de lesão, se deste movimento resultarem extensões que vão para além do limite tolerável, podendo haver: • Ruptura dos pontos de ligação e ancoragem. • No caso de uma artéria, extensões excessivas provocam a sua ruptura ou disrupção. • No caso do coração, movimentos excessivos podem provocar extensões excessivas da aorta junto dos seus pontos de ligação ao corpo, levando a lacerações transversais quando a extensão limite máxima é excedida. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 163 - Curso de Biomecânica do Movimento (BM332) BIOMECÂNICA DO IMPACTO Mecanismos de Lesão no Tórax e Abdómen • O abdómen é uma região mais vulnerável à lesão que o tórax uma vez que existe menos caixa torácica para proteger os seus órgãos internos. • Impactos directos no abdómen podem lesionar órgãos vitais como o fígado e rins. • Compressão no fígado aumenta a sua pressão interna gerando extensões e distorções nos tecidos que quando ultrapassam os limites de tolerância resultam na laceração dos vasos hepáticos mais importantes. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 164 - Curso de Biomecânica do Movimento (BM332) BIOMECÂNICA DO IMPACTO Níveis de Tolerância à Lesão no Tórax e Abdómen • Considerando o tipo de mecanismos de lesão no tórax e abdómen, os critérios de lesão mais utilizados estão também relacionados com a aceleração, deflexão e viscosidade: TTI – Torax Trauma Index: • O TTI é um critério de aceleração utilizado na avaliação do potencial de lesão no tórax em impactos laterais. • Utiliza métodos de regressão linear para correlacionar a informação contida numa extensa base de dados com a informação medida por um vector de 12 acelerómetros, para a determinação da cinemática da caixa torácica. • O TTI é um critério estatístico, o que é considerado como sendo uma desvantagem pois não há uma correlação directa com o fenómeno físico. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 165 - Curso de Biomecânica do Movimento (BM332) BIOMECÂNICA DO IMPACTO Níveis de Tolerância à Lesão no Tórax e Abdómen TTI – Torax Trauma Index: • Inclui no seu cálculo o peso e idade da pessoa: TTI = 1.4 × AGE + 0.5 × ( RIBy + T 12 y ) × M M std • RIBy [g] – Valor máximo absoluto (após filtragem) da aceleração lateral medida na 4ª e 8ª costela. • T12y [g] – Valor máximo absoluto (após filtragem) da aceleração lateral medida na 12ª vértebra torácica. • M e Mstd [kg] – Massa do indivíduo e massa do ATD de 50%ile (75kg). • A tolerância limite para o TTI é de 100 g. • Tol. TTI (esq) > Tol. TTI (dir) devido à quantificação das lesões no fígado. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 166 - Curso de BIOMECÂNICA DO IMPACTO Biomecânica do Movimento (BM332) Níveis de Tolerância à Lesão no Tórax e Abdómen C – Chest Compression Criterion: • Testes realizados em cadáveres e animais revelaram que a compressão máxima do peito é um critério mais rigoroso para aferir o potencial de lesão no tórax e abdómen. • A compressão no peito é calculada como: P(t ) C= D • Onde P é a deformação [mm] e D a espessura do tórax [mm]. Correlação entre a AIS e o TTI para impactos frontais. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 167 - Curso de BIOMECÂNICA DO IMPACTO Biomecânica do Movimento (BM332) Níveis de Tolerância à Lesão no Tórax e Abdómen VC – Viscous Criterion: • O critério de compressão (C) não reflecte correctamente a probabilidade de lesão para velocidades de impacto mais elevadas. • Simulações feitas com animais e cadáveres demonstraram que para um valor constante de compressão máxima, o valor da AIS é maior para maiores velocidades de compressão. • Esta constatação é observada para impactos frontais, laterais e abdominais. • Os ensaios revelaram que: • Para velocidades até 3.0 m/s apenas a compressão necessita de ser tomada em consideração. • Para velocidades acima de 3.0 m/s e abaixo de 30.0 m/s a compressão assim como a velocidade de compressão necessitam de ser consideradas. • Para velocidades acima de 30.0 m/s apenas a velocidade de compressão interessa. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 168 - Curso de Biomecânica do Movimento (BM332) BIOMECÂNICA DO IMPACTO Níveis de Tolerância à Lesão no Tórax e Abdómen VC – Viscous Criterion: • O VC é calculado da seguinte forma: VC = V (t ) × C (t ) = dD(t ) D(t ) × dt D Parâmetros preponderantes na análise do risco de lesão no tórax-abdómen. • Onde: • V(t) é a velocidade de compressão [m/s]. • C(t) é a função de compressão instantânea. • D é a espessura do tórax. • Testes mostram que o valor de VCmax é muito bem relacionado com o risco de lesão. • VCmax = 1 m/s significa uma probabilidade de 25% de haver uma AIS4+, i.e., lesões muito graves. 4º Ano LEBMed M. Silva, 2004 1º Semestre 2005 / 06 - 169 -