INFLUÊNCIA DO FENÔMENO EL NIÑO NA VAZÃO DA BACIA DO RIO IGUAÇU-PR. Jonas Teixeira Nery 1 RESUMO O objetivo deste trabalho é analisar a fluviometria da bacia do Iguaçu, PR e correlacioná-la com as anomalias da temperatura do mar, no Oceano Pacífico. Para tanto forma utilizadas nove séries, cedidas pela SUDERHSA. O período de estudo foi de 1945 a 2002. Pode-se observar que a variabilidade da fluviometria da bacia está associada a ocorrência de eventos ENOS e que essa variabilidade ocorre espacial e temporalmente. Palavras chave: ENOS, bacia, fluviometria, variabilidade. ABSTRACT The objective of this paper is to analyze the streamflow of the basin of the Iguaçu, PR and to correlate it with the anomalies of the temperature of the sea, in the Pacific Ocean. For in such a way form used nine series, yielded for the SUDERHSA. The period of study was of 1945 the 2002. It can be observed that the variability of the streamflow of the basin is associated the occurrence of events ENOS and that this variability occurs space and secularly. Key words: ENOS, basin, streamflow, variability INTRODUÇÃO A ocorrência de inúmeras quedas de água confere a região importante riqueza em potencial hidrelétrico e, por outro lado, dificulta sobremodo a navegação fluvial (IBGE, 1977). A análise fluvial permite adequar o planejamento a essas variabilidades, tornando mais eficiente e racional a utilização de recursos hídricos (Grimm & Ferraz, 1997). Pode-se perceber através da análise da vazão da bacia uma correlação altamente significativa de seu regime hídrico com a anomalia da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) do Oceano Pacífico. METODOLOGIA 1 Prof. Dr Curso de Geografia da UNESP, Ourinhos. Av. Vitalina Marcusso, 1500, 19910-206, Grupo CLIMA e GAIA, [email protected] Para se analisar o comportamento fluvial (vazão) do rio Iguaçu foram utilizados dados de nove estações fluviométricas, selecionadas entre 23 fornecidas pela Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA). Estas apresentaram dados regulares e distribuição espacial representativa dentro da área estudada, Figura 1. Os dados de vazão foram analisados através de gráficos de evolução temporal mensal, para o maior período de 1945 a 2002, buscando-se representar o comportamento da vazão, antes e após a década de 70, momento em que se iniciou a construção das principais hidrelétricas no rio Iguaçu. -24.90 7 -25.90 1 2 6 9 8 5 3 4 -26.90 -54.70 -53.70 -52.70 -51.70 -50.70 -49.70 Figura 1 – Localização das estações de fluviometria utilizadas nesse trabalho. Tabela 1 - Relação dos postos fluviométricos utilizados. Pode-se observar, através da análise dos gráficos, que o comportamento da vazão entre as estações distribuídas na área de estudo, ocorreu com máximas nos anos de 1957, 1982, 1983, 1986, 1987, 1995, 1997 e 1998 e mínimas vazões nos anos de 1951, 1968, 1978, 1985, 1988, 2000 e 2001. Entre estes anos tem-se, períodos de El Niño que se destacaram para a área de estudo, como nos anos de 1982/83, 1997/98 e de La Niña como nos anos de 1985, 1988 e 2001. Ano 1984 foi um ano sem anomalia, sendo estas evoluções temporais as mais significativas para análise. 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 jan/55 jan/56 jan/57 jan/58 jan/59 jan/60 jan/61 jan/62 jan/63 jan/64 jan/65 jan/66 jan/67 jan/68 jan/69 jan/70 jan/71 jan/72 jan/73 jan/74 jan/75 jan/76 jan/77 jan/78 jan/79 jan/80 jan/81 jan/82 jan/83 jan/84 jan/85 jan/86 jan/87 jan/88 jan/89 jan/90 jan/91 jan/92 jan/93 jan/94 jan/95 jan/96 jan/97 jan/98 jan/99 jan/00 jan/01 jan/02 Vazão (m3/s) Comportamento Mensal da Vazão Estação de Fazendinha Meses Figura 1 – Evolução mensal da vazão do posto fluviométrico Fazendinha – 1955 a 2002. 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 jan/45 jan/46 jan/47 jan/48 jan/49 jan/50 jan/51 jan/52 jan/53 jan/54 jan/55 jan/56 jan/57 jan/58 jan/59 jan/60 jan/61 jan/62 jan/63 jan/64 jan/65 jan/66 jan/67 jan/68 jan/69 jan/70 jan/71 jan/72 jan/73 jan/74 jan/75 jan/76 jan/77 jan/78 jan/79 jan/80 jan/81 jan/82 jan/83 jan/84 jan/85 jan/86 jan/87 jan/88 jan/89 jan/90 jan/91 jan/92 jan/93 jan/94 jan/95 jan/96 jan/97 jan/98 jan/99 jan/00 jan/01 jan/02 Vazão (m3/s) Comportamento Mensal da Vazão Estação de Porto Amazonas Meses Figura 2 – Evolução mensal da vazão do posto fluviométrico Porto Amazonas – 1945 a 2002. 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 jan/51 jan/52 jan/53 jan/54 jan/55 jan/56 jan/57 jan/58 jan/59 jan/60 jan/61 jan/62 jan/63 jan/64 jan/65 jan/66 jan/67 jan/68 jan/69 jan/70 jan/71 jan/72 jan/73 jan/74 jan/75 jan/76 jan/77 jan/78 jan/79 jan/80 jan/81 jan/82 jan/83 jan/84 jan/85 jan/86 jan/87 jan/88 jan/89 jan/90 jan/91 jan/92 jan/93 jan/94 jan/95 jan/96 jan/97 jan/98 jan/99 jan/00 jan/01 jan/02 Vazão (m3/s) Comportamento Mensal da Vazão Estação de Rio Preto do Sul Meses Figura 3 – Evolução mensal da vazão do posto fluviométrico Rio Preto do Sul – 1951 a 2002. Observando o volume da vazão dos postos pluviométricos constatou-se que, o posto de Porto Amazonas (Figura 2), localizado na porção superior da bacia e no leito principal do rio Iguaçu, apresentou vazão máxima de 350m3/s. O posto de Salto Cataratas que se encontra na porção inferior da bacia, também no rio Iguaçu constatou-se valores maiores, com 7000m3/s. Isso caracterizou a distribuição espacial, mostrando que a vazão tende a aumentar no sentido montante para jusante, fato presente na maioria das redes de drenagem. As outras estações que se encontram na área da bacia, como no médio curso, por exemplo, impossibilitou fazer referência, por estarem localizadas nos afluentes do rio Iguaçu, recebendo menores tributários. Através dos dados de fluviometria mensal foi calculado o índice de anomalia e correlacionado com a anomalia da TSM. Tabela 2 – Correlação da anomalia da TSM do Pacífico com a vazão da bacia do rio Iguaçu. Posto Fazendinha Posto Porto Amazonas Posto Rio Preto Do Sul Anos 1982/83 1984 1985 1988 1997/98 2001/02 SDef 0.74 -0.24 -0.32 0.16 -0.34 0.00 Def1 0.74 -0.08 -0.48 0.52 -0.35 -0.25 Def2 0.81 -0.14 -0.32 0.18 -0.35 -0.42 Def3 0.83 -0.06 -0.30 0.22 -0.35 -0.53 1982/83 1984 1985 1988 1997/98 2001/02 0.69 -0.26 -0.17 -0.08 -0.37 -0.18 0.78 -0.32 -0.34 0.16 -0.35 -0.34 0.79 -0.10 -0.28 0.19 -0.31 -0.51 0.80 -0.20 -0.31 0.66 -0.22 -0.62 1982/83 1984 1985 1988 1997/98 2001/02 0.68 -0.13 -0.23 0.29 -0.29 -0.30 0.71 -0.03 -0.27 0.34 -0.24 -0.64 0.72 -0.02 -0.27 0.74 -0.19 -0.56 0.74 0.02 -0.29 0.88 -0.10 -0.55 Valores em negrito indicam correlação significativa de acordo com os critérios do software Statistica. Def. – Defasagem (mês). O critério estatístico utilizado, na correlação para a bacia do rio Iguaçu é chamado de produto de Pearson, onde os dados foram selecionados com defasagem de até três meses, buscando uma possível relação defasada entre o resfriamento/aquecimento das águas do Oceano Pacífico e a vazão ocorrida na área da bacia do rio Iguaçu, para alguns postos fluviométricos, com distribuição espacial significativa. Os resultados demonstram que todos os postos fluviométricos analisados apresentaram correlação significativa com a anomalia da TSM. Sendo o período de 1982/83, o mais significativo em todas as defasagens. O ano de 1988 foi significativo somente para defasagem (-3), menos para os postos Fazendinha e Porto Amazonas. Já os demais anos não apresentaram correlação. Estes dois períodos são caracterizados como eventos de El Niño e La Niña com intensidade representativa, podendo-se justificar a correlação. CONCLUSÃO Em períodos de ocorrências dos fenômenos El Niño e La Niña, nota-se uma significativa variabilidade pluviométrica em toda a área da bacia, pois os anos de máximos e mínimos, na sua maioria, são considerados anos relacionados a tais fenômenos, com influência em toda a dinâmica da região sul do Brasil. A análise dos dados de vazão do rio Iguaçu demonstra, maiores volumes na porção inferior da bacia, no entanto, na região da porção superior estes valores são marcadamente inferiores, como ocorre em praticamente todos os rios do mundo. Através da correlação linear dos dados de vazão com a anomalia da TSM, foram obtidos resultados com índices significativos, demonstrando a existência de influência da TSM com a variabilidade da vazão na bacia, principalmente para os anos de 1982/83. Finalmente, ao se analisar o resultado da correlação da precipitação pluvial de cada um dos postos pluviométricos e a distância medida entre eles, nota-se resultados significativos, que explicam a variabilidade temporal e espacial da pluviometria para períodos específicos. A região, à jusante sofre influência do relevo associado com outros fatores climáticos como a dinâmica das massas de ar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRIOTTI, J. L. S., 2003. Fundamentos de Estatísticas e Geoestatística. Editora UNISINOS, RS. 165p. ANDRADE, A. R., 2003. Variabilidade da Precipitação Pluviométrica na Bacia Hidrográfica do Rio Ivaí – Paraná. Dissertação de Mestrado em Geografia. Departamento de Geografia da Uem. Maringá, 99 Pp. CPTEC/INPE., 1998. Relatório elaborado pelo CPTEC-INPE em 15 de Janeiro de 1998 - Sumário Executivo. Disponível em:<http:// www.cptec.inpe.br> Acesso em 18/05/05. ___________., 1998. O El Niño: consequências do fenômeno sobre o território brasileiro e perspectivas para 1998. 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