ESPAÇO E RELIGIÃO EM CAMPINA GRANDE

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ESPAÇO E RELIGIÃO EM CAMPINA GRANDE: O PENTECOSTALISMO E
SUAS TERRITORIALIDADES
Eduardo da Silva Gomes
[email protected]
AGB – Campina Grande
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
Graduando em História pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
INTRODUÇÃO
Nos últimos trinta anos o interesse pelo estudo das religiões vem tomando grande
impulso, pois, a globalização com suas múltiplas facetas, não se verifica uma uniformização do
planeta, pelo contrário, diferenças de natureza cultural tem se acentuado (CORRÊA, 1995).
A religião como importante manifestação cultural chama a atenção de pesquisadores dos mais
diversos campos do saber, sobretudo no campo ciências humanas, pois, além das grandes
contribuições da Antropologia e da Sociologia, a História e a Geografia vem retomando a
dimensão religiosa como objeto de seus estudos.
Inicialmente poderíamos pensar qual a relação entre a Geografia e as manifestações
culturais de cunho religioso? Para isso, Rosendahl (1995) nos responde que, Geografia e
Religião, são em primeiro lugar, duas práticas sociais, e ambas se encontram na análise
espacial, pois o fenômeno cultural acontece dentro do espaço, sendo o espaço a categoria de
análise fundante da Geografia como ciência. É justamente o estudo das manifestações
culturais dentro do espaço geográfico que diferencia os estudos realizados pelos geógrafos
dos realizados, por exemplo, pela Sociologia e Antropologia.
Dentre os vários tipos de crenças emergentes no século XX, destaca-se o movimento
protestante pentecostal, que alcançou uma incrível projeção principalmente a partir da década
de 80 em regiões pobres de periferia dos principais centros urbanos brasileiros, acrescendo
em 2000 (IBGE) uma população de 17,4 milhões de adeptos, ou seja, 10,4% da população
em um país essencialmente de cultura, prática e tradição Católica.
Propomos aqui discutir o fenômeno religioso a partir de uma análise da dimensão
espacial. Essa abordagem foi fundamentada principalmente nos aportes teóricos da Geografia
Cultural e em seu subcampo, a Geografia da Religião. Nesta investida geográfica, vamos
analisar as religiões protestantes, principalmente as do segmento pentecostal, objetivando
descrever e interpretar as territorialidades pentecostais encontradas no espaço urbano
campinense e como esses agentes religiosos através de ações e práticas de poder apropria-se
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de dado espaço constituindo, assim, um território e, nesta função, apresentam territorialidades
a fim de manter-se e adquirir novos espaços de controle. Seria impossível analisar todos os
segmentos pentecostais encontrados na cidade de Campina Grande, dado sua fragmentação e
difusão no espaço urbano, então escolhemos a Igreja Assembléia de Deus, como a mais
representativa e de maior projeção numa escala local, regional e nacional para enfocamos
nosso estudo acerca das territorialidades.
1. O PROTESTANTISMO NO BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Com tamanha pluralidade existente em nossa nação, as questões referentes à
religiosidade no Brasil têm chamado atenção pela forma como essas crenças têm se
difundido, sobretudo, nos centros urbanos de grande e médio porte. Se, no passado, as
cidades nasciam dos templos enquanto estes estruturavam o mundo como eixo e centro, hoje
um fenômeno inverso está acontecendo, os templos nascem na/da cidade.
Quando discutimos a respeito da urbanização brasileira esta se deu em um ritmo
bastante próprio, que, de algum modo, influenciou certos aspectos de nossa formação
cultural, hoje cada vez mais urbana em sua constituição e dinâmica. Estamos falando de duas
características que marcaram fortemente a história contraditória de nossa urbanização ou
inserção no processo de modernização: uma urbanização tardia e um processo de
metropolização freneticamente acelerado. Essa dinâmica acelerada, contraditória, fluída e
multicultural encontrada nas urbes brasileiras possibilitou aos indivíduos um processo de
desfiliação social e cultural, permitindo a experimentação de dos mais variados vínculos,
inclusive a possibilidade de novos vínculos religiosos.
É nesse contexto de transformações que surge o movimento Protestante Pentecostal,
crença emergente no século XX e que chegou ao Brasil a partir de 1910, e que vem
alcançando uma incrível projeção principalmente a partir da década de 70 em regiões pobres
de periferia, se transformando em um fenômeno religioso essencialmente urbano.
Faz importante saber que, dada à diversidade de denominações evangélicas ou
protestantes no território brasileiro está são classificadas em grupos, segundo Mônica
Sampaio Machado (1994) existe o grupo Protestante Histórico (Luterana, Congregacional,
Batista, Presbiteriana, Anglicana, Metodista) e o grupo da Protestante Pentecostal
(Assembleia de Deus, Deus É Amor, Brasil para Cristo, Maranata, Congregação Cristã do
Brasil, Nova Vida, dentre outras). Já existem pesquisadores (FRESTON, 1996;
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MARIANO, 2004) que defendem a existência de um terceiro grupo derivado dos
Pentecostais clássicos, os dos Protestantes Neo-Pentecostais (Universal do Reino de Deus,
Igreja Renascer, Internacional da Graça).
2. A DIFUSÃO DO PENTECOSTALISMO NO ESPAÇO URBANO BRASILEIRO
Segundo o sociólogo Antônio Flávio Pierucci (2004), vivemos em nosso país um
momento de decisiva inflexão, especificamente do ponto de vista da demografia religiosa, um
momento de despedida do último vestígio do Brasil tradicional que estava escondido no
campo das religiões.
Compreender a grande receptividade de novas religiões na sociedade brasileira é
entender sua dinâmica, que se insere num contexto de rápidas e profundas mudanças
socioculturais, mudanças que colocam essa população no ambiente cada vez mais urbano,
que por vezes se encontra contraditório, cosmopolita e frenético. Mircea Eliade (1962)
aponta a religião como à solução das crises existenciais, por ser indefinidamente repetível e
por ser considerada de origem transcendental, recebida de um outro mundo, de um mundo
trans-humano, detendo o poder de resolver as crises e permitindo aos homens ultrapassarem
qualquer situação de desconforto pessoal.
A discussão também nos permite citar, por exemplo, o geógrafo Marcus Vinicius de
Faria (2004), em seu estudo acerca da expansão das igrejas e seitas (neo)pentecostais no
município de Volta Redonda no Rio de Janeiro, que aponta o fascínio pelo maravilhoso
dentre os vários motivos que contribuíram para o grande crescimento da população de
evangélicos observada nos anos 90 nas cidades brasileiras:
A falência do modernismo, a crise econômica, o desconforto social, provocam
uma espécie de desencantamento do mundo e favorecem um fascínio pelo
mágico e pelo maravilhoso que vem sendo capitalizado pelas religiões de tipo
pentecostais. Diante da complexidade da crise econômica e tecnológica, e
mergulhados em dívidas, frustrações e no desemprego, assistimos a uma
regressão do indivíduo; empobrecidos e desorientados as pessoas
abandonam sua confiança nos procedimentos racionais em prol de práticas
irracionais e infundadas; uma atração pelo irracional, pelo sobrenatural, e pelo
maravilhoso. (...) Atrelado a este fato, constatamos uma total incompetência e
incapacidade dos dirigentes políticos para enfrentar os dilemas políticos e
econômicos, criando certo ceticismo, uma descrença e um descrédito em
relação à classe política, que utiliza medidas paliativas, assistencialistas, e
populistas (...)(FARIA, 2007).
Essa confiança no mágico e no maravilhoso, naquilo que é transcendental externo a
natureza humana fez com que o movimento protestante pentecostal encontrasse seus
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principais adeptos nas camadas mais pobres da sociedade brasileira; indivíduos despossuídos
de um conhecimento intelectual mais crítico, e que vivem em áreas de periferia dos grandes
centros urbanos, compartilhando vivencia de locais com acentuada pobreza, onde muita das
vezes a violência e o descaso público são uma constante. Esse mesmo discurso “salvador”
parece não ser tão receptivo nas populações mais abastardas, pois segundo Mariano a “(...) a
expansão conversionista enfrenta barreiras de classe. A classe média mais escolarizada, por
exemplo, resiste ao tradicional sectarismo, moralismo e ascetismo contracultural das
agremiações pentecostais” (2008, p. 70).
3. O PENTECOSTALISMO
GEOGRÁFICO
EM
CAMPINA
GRANDE:
UM
OLHAR
Em nossa pesquisa nos detemos ao município de Campina Grande – PB, segundo
centro urbano mais importante do estado paraibano com uma população de 371.060
habitantes (IBGE, 2007), e que vem apresentando um grande crescimento nos últimos anos
das religiões protestantes, principalmente de segmento pentecostal (ver gráfico 1) . Nesta
perspectiva procuraremos descrever e interpretar os territórios e as territorialidades das
igrejas pentecostais, analisando o caso particular das Igrejas Assembléia de Deus – AD.
Nessa investida, vamos lançar um olhar geográfico sobre o estudo do Pentecostalismo,
contemplando os conceitos de território, territorialidade e rede geográfica.
GRÁFICO 1: POPULAÇÃO PROTESTANTE PENTECOSTAL POR IGREJA
CAMPINA GRANDE – PB (2000)
Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2000. (Org. por GOMES 2009).
Percebermos que no momento que uma instituição religiosa baseia o seu poder
através de uma organização espacial está claramente visando ressaltar o seu equilíbrio entre
diferentes religiões ou buscando a conquista de um mesmo espaço por cada uma delas
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disputado. Com estratégias de controle de pessoas e coisas, a religião se afirma como
instituição religiosa.
A estrutura organizacional da Igreja Assembléia de Deus em Campina Grande – PB,
por exemplo, apresenta uma territorialidade complexa e muito bem organizada, por vezes
semelhante à organização administrativa encontrada na Igreja Católica. A gestão do território
da Igreja em estudo compreende um espaço dotado de estruturas muito especificas
(ROSENDAHL, CORRÊA, 2003). Analisando a materialidade sagrada da Assembleia de
Deus percebemos que existe uma normatização na forma de construção de seus templos,
sempre com a pintura azul celeste, com a fachada de três colunas e duas janelas e uma porta
no centro, sendo esse o aspecto exterior do sagrado e o poder da instituição religiosa em sua
forma concreta.
A padronização/normatização na forma de realização dos cultos e até mesmo nas
normas de comportamento da vida cotidiana de cada um dos fiéis; homens com roupas
discretas e sociais, mulheres sempre de saia longa e com muito pudor é outro aspecto peculiar
que difere essa denominação pentecostal das demais.
Esse aparato de regras de
comportamento, de padronização das manifestações concretas do sagrado, dos modos de
vestir e falar, transmitidas diretamente pelos seus líderes, nesses espaços do sagrado será
interpretado, de acordo com nossa orientação teórica, como sendo o território pentecostal
4. A LÓGICA DE REPRODUÇÃO DA TERRITORIALIDADE ASSEMBLEIANA
Devemos lembrar que em nosso trabalho, o conceito de território, é o da perspectiva
geográfica, ou seja, todo aquele espaço definido e delimitado por e a partir das relações de
poder (SOUZA, 2001). Cada comunidade religiosa, e nesse caso especifico a comunidade
pentecostal, constrói sua própria gestão, formando um espaço dotado de doutrinas e
estruturas muito especificas.
As regras de comportamento, de como prestar culto, de como se vestir e falar
naquele espaço, transmitidas diretamente pelos líderes dessas comunidades, pode ser
percebido como sendo um território. “Assim o efeito do poder sagrado reflete uma
identidade de fé e um sentimento de propriedade mútuo. A comunidade dos fiéis
pertence ao território religioso e este também pertence à comunidade.” (ROSENDAHL;
CORRÊA, 2003 p. 03).
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A territorialidade vai surgir no momento que são adquiridos novos espaços de
controle, que são muito bem representados pelos níveis de hierarquia da estrutura
organizacional das igrejas pentecostais. A territorialidade é uma tentativa, ou estratégia, de um
indivíduo ou de um grupo para atingir, influenciar ou controlar recursos e pessoas através da
delimitação e do controle de áreas específicas – os territórios. Em linhas gerais, esta
delimitação torna-se território somente quando seus limites são utilizados para influenciar o
comportamento das pessoas através do controle de acesso de seus limites (SACK, 1986).
Tendo como fonte os registros das congregações fornecidos pela instituição religiosa
em estudo e a pesquisa in loco, percebemos que a estrutura organizacional da rede
assembleiana é composta de divisões territoriais que são de grande importância para produzir
uma bem organizada e hieraquizada gestão territorial e circulação de informações, coisas e
pessoas. Na territorialidade pentecostal assembleiana, identificamos quatro níveis de
hierarquização administrativas, assim como proposto por Machado (1994) em sua pesquisa.
Constatamos que no primeiro nível encontra-se a igreja Central, ou seja, o templo-mãe
instância principal de poder dos territórios, por onde passa todo o controle pastoral, bem
como todos os tipos de recursos arrecadados nos demais templos filiados.
No segundo nível de gestão religiosa, encontram-se os templos sedes de área,
templos que servem como instâncias de controle territorial de acordo com as zonas
administrativas do município de Campina Grande, zonas Norte, Sul, Leste e Oeste, sendo as
zonas Leste e Oeste, as zonas pobres de periferia da cidade, e onde estão situados os
maiores templos (ver mapa 1). No terceiro nível hierárquico encontramos as congregações,
que estão diretamente ligados aos templos sedes de área. A congregação é o lugar principal
da vida das comunidades locais (ROSENDAHL; CORRÊA, 2003) é o local por onde se dá
o controle da vida cotidiana das pessoas, lugar de convívio e intimidade dos fiéis ali
estabelecidos, onde os sentimentos de pertencimento a comunidade religiosa, coletividade e
de identidade religiosa são mais fortes e presentes. “Assim o efeito do poder sagrado reflete
uma identidade de fé e um sentimento de propriedade mútuo. A comunidade dos fiéis
pertence ao território religioso e este também pertence à comunidade” (ROSENDAHL;
CORRÊA, 2003 p. 03).
É em meio às populações de renda mais baixa que podemos encontrar com muita
freqüência às práticas de cura e exorcismo tão difundidas nos meio pentecostais. Para Mônica
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Sampaio Machado (1994) a estratégia de expansão se reproduz por uma rede de ação
estabelecida pelos crentes que pode ser identificada pela apropriação espacial que este
movimento religioso realiza. Essa apropriação espacial é sua territorialidade.
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MAPA 1: ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA REDE ASSEMBLEOIANA EM CAMPINA GRANDE –
PB (Templo mãe, templos-sedes e congregações)
Fonte: SEPLAN/PMCG (2008), adaptado por Gomes (2009).
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Ao considerar, ainda, a rede geográfica produzida pela Igreja Assembleia de Deus,
percebemos que a circulação de informações hierarquicamente distribuída entre as
congregações dessa instituição religiosa é de fundamental importância para manter o controle
de seus territórios e manter ativa gestão de seus templos vinculados e sua dimensão
organizacional. Essa Igreja tem um sistema doutrinário-religioso muito tradicional e especifico,
se comparado a outras igrejas pentecostais. As regras de comportamento e conduta, de
como prestar culto, de como se vestir e falar, aversão aos esportes, a determinados
alimentos, torna a doutrina uma informação muito poderoso, um instrumento de poder que
controla as mínimas parcelas da vida cotidiana dos fiéis.
O uso das redes é objeto de estudo de diversos campos da ciência, a saber, as
ciências humanas e sociais, exatas e biológicas, sendo ainda um conceito muito caro a
Geografia. É consenso entre todos esses campos do saber, que as redes são entendidas
como sendo vários pontos que se articulam e se (re)organizam dentro de uma trama. Por
exemplo, Roberto Lobato Corrêa (2005) entende a rede geográfica como sendo “(...) um
conjunto de localizações geográficas interconectadas entre si por um certo número de
ligações” (p. 107). Na perspectiva de Milton Santos (2006) admitimos a rede enquadrada em
duas grandes matrizes conceituais, uma que leva em consideração os aspectos materiais que
compõe a rede, e outra que leva em consideração os aspectos sociais da rede.
Retomando as bases conceituais de território encontradas em Sousa (2001),
percebemos que o território-rede da Igreja Assembleia de Deus apresenta “territórios
contínuos” e “territórios descontínuos”. As congregações, as menores instâncias de poder
na organização pentecostal assembleiana e que exercem forte poder local, formam os
chamados territórios contínuos, ou seja, os espaços territorializados pelo sagrado, são elas os
ditos “nós” dessa rede. A instituição religiosa Assembléia de Deus só existe pelo conjunto
formado desses territórios do sagrado, caracterizando-se como possuidora de um território
descontínuo.
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES
A construção de um estudo acerca das territorialidades pentecostais só foi possível
partir da flexibilização conceitual dos termos território e territorialidade propostos
recentemente em Geografia. Esse tipo de apropriação espacial é um entre tantos outros temas
que podem ser objeto de pesquisa atualmente na ciência geográfica.
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Acreditamos que o crescimento das igrejas pentecostais nas áreas urbanas,
principalmente zonas de periferia, a exemplo da igreja Assembléia de Deus em Campina
Grande, pode ser entendido como a forma encontrada de ocupar uma lacuna deixada pelo
Estado, quanto aos problemas sociais como desemprego, violência, favelização e
precariedade de acesso aos serviços públicos; oferecendo um discurso emocional,
carismático, mágico e libertador que pode soar muito bem as ouvidos de um indivíduo que
vivencia um momento de aflição e descrença em seu cotidiano.
Percebemos que a marginalização de um grupo que convive com pessoas que dividem
a mesma realidade sociocultural fortalece uma rede de relacionamentos e identidade própria,
formada pelos membros da mesma igreja ou denominação, que buscam uma realidade
alternativa produzindo espaços, regras, valores e sentimentos próprios; procurando na religião
auxílio e ajuda para superar as dificuldades geradas pelas desigualdades do capitalismo
contemporâneo, já que não encontram esse apoio no Estado.
Como abordado anteriormente, os territórios poderão ser regulados por diferentes
agentes. Ao pensar na regulação dessas áreas por um agente religioso, teremos a categoria de
território religioso. Nesta perspectiva, a instituição Assembleia de Deus insere-se,
apresentando uma nítida dimensão espacial em suas ações de esfera institucional, pois ao
implantar novos territórios religiosos hierarquicamente distribuídos pelas periferias da cidade,
produz uma seletividade espacial, seguindo, em primeira importância, a lógica de ocupação
populacional desta da cidade.
A Igreja apresentou uma expansão objetivando difundir sua fé doutrinária e gerir sua
população religiosa, sendo o mapeamento desta territorialidade muito útil para nossa análise.
Assim é função do geógrafo, como conhecedor do homem e do meio, reconhecer o poder do
sagrado na produção e organização de espaços. A territorialidade imprime-se assim, como
um atributo comportamental intrínseco ao indivíduo social e aos grupos organizados e
institucionalizados, assim
A territorialidade, como um proponente de poder, não é apenas um meio para
criar e manter a ordem, mas é uma estratégia para criar manter grande parte do
contexto geográfico através do qual nós experimentamos o mundo e o
dotamos de significado (SACK,1986:219)
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A territorialidade em rede assembleiana é um forte instrumento de poder espacial,
imprimindo grande controle sobre a área oeste de Campina Grande, caracterizada por uma
localidade de perfil socioeconômico com populações de baixa renda e que se mostram mais
receptivas as doutrinas pentecostais. O recorte espacial e social é antes de mais nada uma
escolha de descrições seletivas, porém, de forma alguma arbitrárias, visando sobretudo uma
melhor operacionalização de nossa pesquisa.
As informações fornecidas pela própria instituição religiosa juntamente com a pesquisa
in loco deram suporte para que tal pesquisa pudesse ser realizada. Essas informações são os
registros de cada uma das igrejas da A.D. existentes na zona oeste campinense, a partir daí,
foi possível identificar a materialidade do sagrado bem com o mapeamento da territorialidade
assembleiana em Campina Grande.
O término de nossa investida geográfica não esgota as possibilidades acerca do
objeto aqui proposto. Compreender a territorialidade pentecostal, percebendo seus territórios
sagrados de gestão religiosa no espaço urbano da zona oeste campinense, era nosso principal
objetivo e acreditamos tê-lo alcançado. Ao longo de nossa pesquisa, respondemos muitos de
nossas inquietações e despertamos para novas proposições.
Enfim, esperamos com esta singela pesquisa ter auxiliado na compreensão da
dinâmica das territorialidades pentecostais e da expansão religiosa em Campina Grande,
permitindo novas propostas e metodologias aos geógrafos encantados com as relações entre
o sagrado e o espaço urbano.
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