UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social KARLA CALDAS EHRENBERG Bola na rede: uma análise das estratégias comunicacionais de empresas esportivas no ambiente digital conectado São Bernardo do Campo, SP, 2016 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social KARLA CALDAS EHRENBERG Bola na rede: uma análise das estratégias comunicacionais de empresas esportivas no ambiente digital conectado Tese apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção do grau de Doutor. Orientador: Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno São Bernardo do Campo, SP, 2016 FOLHA DE APROVAÇÃO A tese de doutorado sob o título: “Bola na rede: uma análise das estratégias comunicacionais de empresas esportivas no ambiente digital conectado”, elaborada por Karla Caldas Ehrenberg foi defendida e aprovada em 29 de abril de 2016, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Daniel dos Santos Galindo (Titular/UMESP), Prof. Dr. Kleber Markus (Titular/UMESP), Prof. Dr. Ary José Rocco Junior Titular/USP), Prof. Dr. Luciano Victor Barros Maluly (Titular/USP). __________________________________________ Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno Orientador e Presidente da Banca Examinadora __________________________________________ Profa. Dra. Marli dos Santos Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Programa: Pós Graduação em Comunicação Área de Concentração: Processos Comunicacionais Linha de Pesquisa: Comunicação Institucional e Mercadológica FICHA CATALOGRÁFICA Eh22b Ehrenberg, Karla Caldas Bola na rede: uma análise das estratégias comunicacionais de empresas esportivas no ambiente digital conectado / Karla Caldas Ehrenberg. 2016. 228 p. Tese (doutorado em Comunicação Social) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2016. Orientação : Wilson Costa Bueno 1. Comunicação organizacional 2. Mídias digitais 3. Marketing esportivo 4. Interação I. Título. CDD 302.2 DEDICATÓRIA À Carlos Luiz Barroso Ehrenberg, meu pai, que durante esse projeto enfrentou a sua mais dura batalha, com força, esperança e fé, e me ensinou que mesmo quando a vida não se faz mais presente, o amor e os ensinamentos permanecem. À Solange Maria Caldas Ehrenberg, minha mãe, meu porto seguro, que nos últimos três anos intensificou, por meio do mais vivo exemplo, o ensinamento de que desafios e obstáculos devem ser superados com fé, esperança e determinação e que Deus sempre nos dá força para continuar. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, e acima de tudo, agradeço a Deus a oportunidade de ter vivênciado essa experiência, de ter acumulado conhecimento e ter conseguido amadurecer durante essa jornada. Agradeço aos professores da Universade Metodista que, em cada disciplina, contribuíram para aumentar meu conhecimento, aprimorar meus estudos e apresentaram novas perspectivas acadêmicas e de vida. Destaco o Prof. Dr. Daniel dos Santos Galindo e o Prof. Dr. Kleber Markus que compuseram minha banca de qualificação com apontamentos e sugestões fundamentais para que a tese seguisse no caminho certo. Agradeço especialmente ao meu orientador, Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno, que além de competente se mostrou um grande companheiro nessa jornada. Sua paciência, amizade, compreensão e bom humor foram fundamentais para que essa caminhada fosse mais amena. À Universidade Metodista, representada pela coordenadora do PósCom, Marli dos Santos, e pelas secretárias Kátia Bizan França e Vanete G. R. Viegas pela atenção, prestatividade, agilidade e simpatia com que me auxiliaram em todos os momentos. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, pela bolsa de estudos que possibilitou a concretização desse projeto. Aos meus familiares e amigos que compreenderam meu estresse, minhas ausências e mesmo não conhecendo profundamente os meus estudos acreditaram no meu potencial, incentivandome e orgulhando-se de mim. À minha irmã, Mônica, e meu cunhado Alexandre, que muitas vezes fizeram minha parte para que eu pudesse me dedicar à essas páginas, e aos meus sobrinhos, Théo e Melissa, que sempre trazem alegria e frescor para meus dias. Aos meus amigos, companheiros dessa jornada acadêmica, Ana Maio, Ana Silva, Marcelo da Silva e Vânia Braz pelas risadas, piadas, companheirismo, solidariedade e apoio mútuo. Galera, chegamos lá! Aos meus colegas professores do Unasp, especialmente aos docentes e coordenadores dos cursos de Jornalismo e Comunicação Social, pelo incentivo, apoio e por compartilharem dessa longa e profícua trajetória. Agradeço, especialmente, ao amigo Martin Kuhn por fazer com que eu acreditasse que o doutorado era mais um sonho possível. Ao meu esposo, Rogério Furlan, que acompanhou muito de perto a dedicação, o suor, as lágrimas, as alegrias e as vitórias contidas em cada uma dessas páginas. Sua compreensão e amor foram fundamentais para que eu pudesse dedicar horas e horas nesse projeto, sem pressões, questionamentos ou reclamações. Muito obrigada! EPÍGRAFE “Uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida.” Sócrates RESUMO O uso das mídias sociais digitais como meio de divulgação de produtos, serviços e conteúdos organizacionais tem crescido nas últimas décadas e ganhou especial atenção nos planejamentos de comunicação organizacional e nos estudos acadêmicos sobre o tema. Nesse sentido, o segmento de empresas esportivas atua com destaque, despertando o interesse e a empatia do consumidor. Por meio de análise bibliográfica e estudo empírico, esta pesquisa teve como objetivo investigar as ações de comunicação mercadológica do segmento esportivo no ambiente digital conectado, através de um estudo de caso múltiplo das empresas Nike e Adidas. Para a obtenção dos dados, foram realizadas entrevistas em profundidade com profissionais do mercado e aplicado um protocolo de investigação de redes sociais digitais nos perfis das duas empresas. Após a coleta dos dados, estes foram analisados à luz das teorias estudadas nos capítulos iniciais (que abordaram temas como comunicação organizacional, comunicação digital, esporte e comunicação esportiva), e foi possível concluir, entre outros pontos, que, no universo do segmento esportivo, a comunicação digital conectada não prioriza o diálogo com seus públicos de interesse, sendo essencialmente baseada na divulgação unilateral de conteúdos, nem tampouco explora a potencialidade de cada uma das plataformas digitais disponíveis, replicando conteúdos em diferentes ambientes. Ficou evidente, também, o uso dos elementos constituintes do universo esportivo como argumentos estratégicos de comunicação das empresas, decorrente de sua capacidade de estreitar os laços relacionais com os públicos de interesse, por meio de seus apelos simbólicos de fácil identificação social. Palavras-chave: Comunicação organizacional. Mídias digitais conectadas. Marketing esportivo. Interação. ABSTRACT The use of social media as a means of promoting products, services and organizational content has grown in the last decades and has obtained especial attention in organizational communication planning and academic studies about the subject. Accordingly, the sports companies segment operates with importance, arousing interest and costumer empathy. Through bibliographic review and empirical study, this research It is intended to investigate the marketing communication actions of sports segment on the connected digital environment, through a multiple case study of Nike and Adidas companies. To collect the data, interviews were performed in depth with market professionals and applied a digital social networks research protocol on the companies studied profile. After collecting the data, these data were analyzed based on the theories studied in the initials chapters (which covered topics like organizational communication, digital communication, sport and sports communication), and it was possible to conclude, among other issues, that in the sports segment universe, the connected digital communication doesn’t prioritize the dialogue with its stakeholders, being essentially based on the unilateral spreading of content, nor exploit the potential of each available digital platforms, replicating content in different environments. Also, It was evident the use of the sports universe elements as strategic arguments of corporate communication, due to capacity to strengthen the relational ties with stakeholders through their symbolic appeals of easy social identification. Keywords: organizational communication. Digital media connected. Sports marketing. Interaction. RESUMEN El uso de los medios sociales digitales como medio de difusión de productos, servicios y contenidos organizacionales ha crecido en las últimas décadas y ha ganado especial atención en la planificación de la comunicación organizacional y en los estudios académicos sobre el tema. En ese sentido, el segmento de empresas deportivas se destaca, despertando el interés y la empatía del consumidor. A través de análisis bibliográfico y estudio empírico, este trabajo ha tenido como objetivo investigar las acciones de comunicación mercadológica del segmento deportivo en el ambiente digital conectado, por medio de un estudio de caso múltiplo de las empresas Nike y Adidas. Para la obtención de los datos, han sido realizadas entrevistas en profundidad con profesionales del mercado y aplicado un protocolo de investigación de las redes sociales digitales en los perfiles de las dos empresas que se ha investigado. Después de la recolección de los datos, éstos han sido analizados a la luz de las teorías estudiadas en los capítulos iniciales (que han abordado temas como comunicación organizacional, comunicación digital, deporte y comunicación deportiva) y ha sido posible concluir, entre otros puntos, que en el universo del segmento deportivo, la comunicación digital conectada no da prioridad al diálogo con su público de interés, basándose, esencialmente, en la divulgación unilateral de contenidos, ni tampoco explora el potencial de cada una de las plataformas digitales disponibles, replicando contenidos en distintos ambientes. Ha quedado evidente, también, el uso de los elementos constitutivos del universo deportivo como argumentos estratégicos de comunicación de las empresas, debido a su capacidad para estrechar los lazos relacionales con las partes interesadas, por medio de sus apelaciones simbólicas de fácil identificación social. Palabras clave: Comunicación organizacional. Medios digitales conectados. Marketing deportivo. Interacción. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Plataformas digitais on-line. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Figura 2 – Marcas patrocinadoras de seleções em mundiais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Tipo de ação no Facebook da Adidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 GRÁFICO 2 – Formato de publicação no Facebook da Adidas. . . . . . . . . . . . . . . . 139 GRÁFICO 3 – Conteúdo de publicação no Facebook da Adidas. . . . . . . . . . . . . . . 140 GRÁFICO 4 – Local de publicação no Facebook da Adidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 GRÁFICO 5 – Tipo de ação no Twitter da Adidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 GRÁFICO 6 – Formato de publicação no Twitter da Adidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 GRÁFICO 7 – Conteúdo da publicação no Twitter da Adidas. . . . . . . . . . . . . . . . . 143 GRÁFICO 8 – Local da publicação no Twitter da Adidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 GRÁFICO 9 – Tipo de ação no Facebook da Nike. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 GRÁFICO 10 – Formato da publicação no Facebook da Nike. . . . . . . . . . . . . . . . . 145 GRÁFICO 11 – Conteúdo da publicação no Facebook da Nike. . . . . . . . . . . . . . . . 146 GRÁFICO 12 – Local de publicação no Facebook da Nike. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 GRÁFICO 13 – Tipo de ação no Twitter da Nike. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 GRÁFICO 14 - Formato de publicação no Twitter da Nike. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 GRÁFICO 15 – Conteúdo da publicação no Twitter da Nike. . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 GRÁFICO 16 – Local da publicação no Twitter da Nike. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 GRÁFICO 17 - Tipo de publicação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162 GRÁFICO 18 - Comparativo de engajamento por tipo de posts publicados. . . . . . . 163 GRÁFICO 19 - Interação com os posts publicados pelas marcas. . . . . . . . . . . . . . . 164 GRÁFICO 20 – Valores absolutos de pessoas falando sobre as marcas. . . . . . . . . . 165 GRÁFICO 21 - Tipo de publicação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166 GRÁFICO 22 - Comparativo de engajamento por tipo de posts publicados. . . . . . . 167 GRÁFICO 23 - Interação com os posts publicados pelas marcas. . . . . . . . . . . . . . . 168 GRÁFICO 24 - Valores absolutos de pessoas falando sobre as marcas. . . . . . . . . . 169 SUMÁRIO INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1. METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 1.1. Instrumentos de coleta de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2. Universo e amostra da pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Capítulo I – PANORAMA DE UMA SOCIEDADE DIGITAL, CONECTADA E GLOBALIZADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 24 26 1. As relações sociais no ciberespaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Capítulo II – O UNIVERSO EMPRESARIAL E A COMUNICAÇÃO 42 1. A comunicação integrada e sua importância para a gestão organizacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2. Organizações se comunicando em um mundo conectado por redes digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1. As principais plataformas para contato com o público digital . . . . 2.2. Estratégias de comunicação organizacional em plataformas digitais conectadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 58 68 76 Capítulo III – O MUNDO DOS ESPORTES TAMBÉM SE COMUNICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 1. Definições e conceitos sobre o marketing esportivo . . . . . . . . . . . . . . . 1.1. O produto esporte e seus processos comunicacionais . . . . . . . . . . . 1.2. O esporte como alavanca estratégica da comunicação empresarial 2. Esporte e vida social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1. Futebol: o esporte que o Brasil adotou como seu . . . . . . . . . . . . . . . 3. As marcas patrocinadoras que entram em campo . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1. Nike e Adidas: as gigantes do mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 91 97 101 106 115 119 Capítulo IV – OLHARES COMPLEMENTARES SOBRE O MERCADO ESPORTIVO E A COMUNICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 Capítulo V – ADIDAS E NIKE NAS MÍDIAS SOCIAIS DIGITAIS: METODOLOGIA, DADOS E ANÁLISE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 APÊDICE I – Roteiro e transcrição de entrevistas . . . . . . . . . . . . . . .. . . 189 APÊDICE II – Amostras digitalizadas e descrições . . . . . . . . . . . . . .. . . 222 ANEXO A –Modelo de Termos de consentimento livre e esclarecido . . 223 ANEXO B –Parecer consubstanciado do comitê de ética em pesquisa. . 226 12 INTRODUÇÃO Por meio de análises preliminares, acerca do estado da arte dos estudos da comunicação organizacional, é possível perceber que muitos avanços foram feitos e pode-se notar que, cada vez mais, a comunicação realizada por empresas busca fortalecer o laço relacional entre marcas/produtos e seus consumidores e a sociedade em geral. Contudo, é notório também que o conhecimento construído neste segmento ainda abre espaço para muitas investigações, especialmente no campo da comunicação organizacional (institucional e mercadológica) realizada no ambiente das mídias digitais on-line. Com a expansão da internet e a ampliação das bandas de tráfego de dados, é crescente o número de empresas que utilizam o ambiente digital on-line como um meio de comunicação com seus públicos de interesse. O surgimento de cada novo dispositivo, plataforma, aplicativo ou software (como o Twitter, Facebook, YouTube, Instagram, Linked In) demanda a criação de ações específicas por parte das empresas, que passaram a contar com profissionais especializados para atuação nesse ambiente digital conectado. A corrida pela presença na plataforma mais moderna pode ocultar o entendimento sobre o processo comunicacional como um todo, impulsionando questionamentos sobre qual a melhor forma, do ponto de vista estratégico de cada empresa, para atuar nesses ambientes tão específicos. Uma análise inicial permite perceber que as empresas do segmento esportivo são atuantes no desenvolvimento de ações comunicacionais no ciberespaço. Nike e Adidas aparecem com destaque, seguidas por outros concorrentes como Puma e Reebok. Impulsionadas pelo mundo do esporte, que envolve a paixão por modalidades e clubes, a admiração por atletas e o acompanhamento de campeonatos, essas empresas desenvolvem planejamentos e criam campanhas e ações que encantam seus públicos de interesse, fortalecendo o laço relacional entre marcas e consumidores. Nas ações de comunicação desenvolvidas para o universo digital on-line, observa-se a busca das empresas pela interação com o consumidor e pelo uso de elementos criativos e capazes de impactar o público, criando engajamento nas ações e envolvimento com as marcas. Entre as empresas que atuam no segmento esportivo, esse cenário se apresenta de maneira evidente, com filmes impactantes, promoções com atletas 13 renomados, aplicativos que auxiliam na prática esportiva, posts e twittes com conteúdos exclusivos sobre as marcas e seus patrocinados e tantas outras iniciativas que são oferecidas aos consumidores internautas. As ações das principais empresas desse segmento causam grande impacto entre seus públicos de interesse e tornam-se referências mercadológicas. Quando é realizado um recorte, reduzindo o mundo dos esportes ao do futebol, torna-se evidente que as ações comunicacionais atraem e encantam o público não só pelo seu formato, mas principalmente por seu conteúdo. Os campeonatos, as novidades de cada clube, a vida e os desafios encarados pelos atletas, enfim, a vida real do esporte atraem a atenção do público que no Brasil se apresenta como “apaixonado pelo futebol”. O peso cultural que o futebol tem para a sociedade brasileira foi o fator impulsionador para que esta tese se restringisse à investigação da comunicação esportiva realizada especificamente sobre essa modalidade. Toda a relação da sociedade brasileira com o futebol será detalhada no capítulo 3 desta tese. Considerando o grande impacto que as redes sociais digitais criaram na comunicação organizacional como um todo e tomando como recorte o segmento esportivo, buscou-se encontrar elementos capazes de contribuir como exemplos para o desenvolvimento desta tese. Assim, ficou determinado que as empresas Nike e Adidas seriam os objetos de um estudo de caso múltiplo, já que elas configuram os dois maiores representantes desse segmento mercadológico, como será apresentado e justificado no decorrer da pesquisa. A partir desse quadro inicial, foi elaborado o problema de pesquisa desta tese: Estarão as empresas do segmento esportivo envolvidas na construção de estratégias comunicacionais eficientes e duradouras nas mídias digitais conectadas, ou interessadas apenas em responder a reclamações de consumidores ou lançar promoções nas redes, sendo essas ações pontuais e de baixo envolvimento? Analisando o universo da comunicação conectada por redes digitais on-line, a interatividade apresenta-se como uma possibilidade para que seja estabelecido um diálogo entre as partes envolvidas no processo comunicacional digital. Nesse processo, espera-se que a troca de mensagens resulte em uma “espécie de conversa”, que seu desenvolvimento apresente um início, um desenrolar e um término que atinja os objetivos esperados pelas partes envolvidas. A publicação de uma mensagem ou de simples respostas padronizadas não compreende, no universo desta pesquisa, um 14 processo interativo. Para que esse processo se estabeleça de maneira real, é preciso que o contato entre as partes seja um pouco mais relacional, que exista interação entre os participantes, pois, como afirma Recuero (2009, p.30), “a interação seria a matériaprima das relações e dos laços sociais”. O uso dos potenciais da convergência, outra característica da comunicação digital conectada, pode ser observado quando uma empresa utiliza variados suportes midiáticos para transmitir suas mensagens. Quando diferentes plataformas, como sites, blogs, mídias e redes sociais são utilizados para que uma mesma mensagem impacte a vida do consumidor, é possível afirmar que o conceito de convergência pode estar presente ali. É interessante observar que a convergência não significa apenas colocar a mesma peça publicitária em diferentes veículos de comunicação. Ela consiste em pensar a produção de um conteúdo comunicacional capaz de ser veiculado em diferentes mídias, com conteúdos semelhantes (mas não iguais) e interligados entre si. Nesse conceito, deve ser observado que as mensagens podem ser compreendidas separadamente, mas, se analisadas em conjunto, elas têm o seu potencial comunicacional ampliado. A convergência pode abordar também meios de comunicação tradicionais, não se restringindo a interligação apenas de plataformas digitais. “A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento” (JENKINS, 2008, p.41). Outra característica da convergência, apontada por Jenkins (2008), é a possibilidade de participação dos internautas na construção do conteúdo. Seja no papel de consumidores, seja como leitores ou ainda de espectadores, no universo convergente o público passa a ter também uma função de produtor. Esse trabalho pode ser desempenhado quando o internauta elabora um produto comunicacional (um texto, uma foto, um vídeo) ou quando ele interage com os conteúdos diversos, formando sua própria história a partir de suas reflexões e impressões pessoais. A convergência não ocorre por meio de aparelhos por mais sofisticados que venham ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana. (JENKINS, 2008, p.28) 15 Em uma análise prévia, observou-se que toda a potencialidade do meio ainda não é explorada de maneira evidente pelas empresas que serão estudadas nesta pesquisa. A página do Facebook da Nike Futebol1 exibia, em 2013 – ano do início da pesquisa empírica –, 4.364.718 “curtidas” e 37.238 pessoas “falando sobre isso” 2 , enquanto a da Adidas Football possuía 14.302.115 “curtidas” e 256.992 pessoas “falando sobre isso”. Apesar da grande diferença de números entre as empresas, esse não é o foco em questão: a inquietude aparece na diferença entre as pessoas que apenas curtem (uma ação mais pacífica) e aquelas que interagem com a marca (ação esperada no ambiente das redes digitais). No Twitter, a Nike possuía 176.747l seguidores, mas seguia apenas 133 e, na Adidas, os números eram 102.809 seguidores e 212 seguidos3; isso pode demonstrar que a empresa está muito mais preocupada em falar do que em ouvir, outra característica que não condiz com as potencialidades do meio. Outro dado interessante é que a maior parte dos conteúdos se repete nas duas redes sociais, os posts do Facebook viram twittes no mesmo dia, demonstrando claramente a não preocupação em criar conteúdos exclusivos para cada rede. Vale destacar, também, o baixo volume de publicações. No mês de agosto de 2013, foram postados apenas 08 conteúdos no Facebook e 3 no Twitter da Nike, e foram feitos 21 posts no Facebook e 32 no Twitter da Adidas. Análises, mais complexas, precisas e atuais, estão apresentadas ao longo desta tese a fim de que seja estabelecida uma resposta ao problema colocado anteriormente. Contudo, os dados apresentados não podem ser ignorados e já podem sinalizar uma situação interessante. Assim, tendo como pano de fundo as potencialidades oferecidas pelos meios digitais e tomando como base a leitura prévia dos principais canais de comunicação em redes sociais digitais das empresas Nike e Adidas, no recorte do futebol, foi possível elaborar a seguinte hipótese: As empresas esportivas atuam no universo da comunicação realizada em redes sociais digitais explorando timidamente as 1 Serão analisadas apenas as páginas oficiais com conteúdo em português sobre o segmento do futebol. Nike: <https://www.facebook.com/nikefootball?fref=ts>; Adidas: <https://www.facebook.com/adidasfootball?fref=ts>. 2 “Estão falando sobre isso” é uma métrica do Facebook utilizada para medir quem realmente interage com o conteúdo postado pela marca em sua fan page, seja por meio de posts no mural, comentários em fotos, marcações em fotos da marca e até check ins usando o places. É uma ferramenta que avalia o engajamento do cliente com a marca. 3 Dados obtidos em visita ao Facebook e Twitter da Nike Futebol e Adidas Futebol no dia 02 set 2013. 16 potencialidades que o ciberespaço oferece. Realizam ações pontuais e de baixo envolvimento com seus públicos de interesse, oferecendo conteúdos padronizados para diferentes plataformas e não se mostrando completamente abertas ao diálogo e à construção de conteúdos diferenciados em parceria com seus públicos. Dentro das premissas iniciais desta pesquisa, também foram elaborados o seu objetivo geral e os específicos. O objetivo geral é investigar as ações de comunicação digital on-line de empresas do segmento esportivo, representadas por Nike e Adidas, e verificar se existe a utilização das potencialidades comunicacionais oferecidas pelas mídias digitais on-line, como o diálogo e a variedade de formatos dos conteúdos. Como objetivos específicos da pesquisa destacam-se: Verificação sobre a aplicação das potencialidades dos meios digitais nas ações realizadas pelas marcas estudadas; Investigação sobre presença do futebol – clubes e atletas patrocinados ou produtos – como conteúdo comunicacional das empresas Nike e Adidas; Observação da influência da Copa do Mundo de Futebol como temática das ações desenvolvidas pelas empresas. A pertinência e justificativa para o desenvolvimento da tese iniciam-se pela evidente presença da internet e das tecnologias digitais conectadas (como smartphones, tablets, aplicativos, entre outros) na sociedade brasileira. Segundo dados da pesquisa Tic Domicílios, realizada pelo Cetic.br4, em 2014, no Brasil, 50% dos domicílios possuem acesso à internet, sendo 2% com acesso discado, 67% com acesso à banda larga fixa e 25% com acesso à banda larga móvel, 80% das pessoas que utilizam a internet o fazem diariamente e 76% desenvolvem essa atividade em casa. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (Pnad5), em 2014 o Brasil tinha cerca de 95,4 milhões de usuários de internet em diferentes plataformas, o que representa um crescimento de 11,4% (ou 9,8 milhões) de usuários em relação a 2013. As atividades realizadas pelos internautas variam de acordo com a idade, classe social e grau de escolaridade, passando por visita a sites, atuação em redes sociais, envio de e-mails, participação em jogos e realização de compras. Segundo a 4 5 Dados disponíveis em: <http://cetic.br/tics/usuarios/2014/total-brasil/>. Acesso em: 30 out. 2015. Dados disponíveis em: <http://www.ibge.gov.br/biblioteca/visualizacao/livros/liv94935.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2105. 17 Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, desenvolvida pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, 67% dos internautas utilizam a internet para entretenimento ou para informação, e entre as redes sociais o Facebook é a mais utilizada, com 83% de usuários dos entrevistados. Ainda nesse campo, o relatório do IAB Brasil, intitulado “Brasil Conectado - Hábitos de Consumo de Mídia 2014”6, afirma que 87% dos entrevistados consideram a internet um tipo de mídia muito importante e 78% dos entrevistados pesquisam na internet sobre produtos que estão interessados em comprar off-line. O relatório mostra ainda que 22% do entrevistados navegam mais de 20 horas por semana na internet e 17% navegam de 14 a 20 horas, demonstrando que o tempo gasto pelos indivíduos na rede é bastante significativo. Apesar dos dados mercadológicos disponibilizados pelas pesquisas e de já existirem teorias elaboradas por pesquisadores (que estão apresentados ao longo dos capítulos desta tese), o campo de investigações sobre a comunicação realizada em mídias digitais conectadas ainda é considerado recente se comparado aos estudos desenvolvidos a respeito sobre outras mídias. A maior parte das pesquisas sobre a comunicação em mídias digitais se debruça sobre o processo de uma maneira global, buscando um entendimento sobre a atual sociedade e a maneira como se consolidam as relações comunicacionais ou analisando como as mídias tradicionais estão se adaptando ao ciberespaço. Se o foco da comunicação em redes digitais for limitado para o campo da relação entre empresas/marcas e seus públicos de interesse, a quantidade de estudos e pesquisas apresenta-se ainda mais reduzida, tendo a quantidade de lacunas ampliada. Corroborando a importância de se ampliar o conhecimento sobre ações de comunicação organizacional no ambiente digital, Artacho (2013, on-line) considera que o uso das mídias digitais conectadas, em especial das redes sociais digitais, não pode ser deixado de lado no planejamento de comunicação das empresas, pois esse é um espaço midiático de grande importância para a comunicação de marcas. As mídias sociais não são um modismo, mas sim uma mudança extremamente interessante para as marcas. É a chance de comunicar, ouvir (e assim aprender) e de criar grande engajamento utilizando o conteúdo. É a chance para as marcas não só se comunicarem, mas marcarem as vidas das pessoas. Interessante pensar que se as mídias sociais (on-line) existissem há mais de 50 6 Disponível em: <http://iabbrasil.net/portal/institucional-iab/indicadores-mercado>. Acesso em: 20 ago. 2013. 18 anos, talvez as empresas tivessem percebido mudanças no mercado e no consumidor, ou ainda já tivessem passado por uma crise e forçadamente (e positivamente) mudassem e, consequentemente, não teriam perdido seus negócios. (ARTACHO, 2013, on-line) O enfoque no universo das empresas que atuam no segmento esportivo apresenta-se como mais um fator de destaque para esta pesquisa no campo acadêmico, visto que, no Brasil, os estudos com essa temática ainda são escassos e concentrados no campo do marketing esportivo em geral ou em estudos sobre a história e presença do futebol no país. No âmbito mercadológico, é perceptível a relevância desta pesquisa, pois os grandes eventos esportivos realizados no país (Copa do Mundo FIFA, em 2014, e Olimpíadas, em 2016), a profissionalização de clubes e atletas e o interesse de empresas em se comunicar com (ou por meio) o mundo dos esportes estimulam o desenvolvimento de ações comunicacionais. Para se ter noção da importância dos negócios do esporte no país, Belo (2013, p.G1) afirma que o PIB brasileiro iria sofrer um impacto de 0,5% somente com os negócios relacionados à Copa do Mundo de Futebol, além de serem realizados investimentos de cerca de R$ 32,5 bilhões em infraestrutura para esse evento. Belo (2013, p.G1) aponta, ainda, que “só as principais divisões o futebol giram em torno de R$ 3,5 bilhões por ano, segundo estudo da FGV Projetos”. Segundo o Diagnóstico Nacional do Esporte (Diesporte) feito pelo Ministério do Esporte e publicado em junho de 2015, o futebol é o esporte mais praticado no país: 42,7% dos brasileiros praticaram a modalidade em 2013 – período de realização da pesquisa –; em segundo lugar aparece a caminhada (8,4%), seguida do vôlei (8,6%). Quando a análise é especificada por gênero, o futebol continua em posição de destaque. É o esporte mais praticado pelos homens (66,20%) e fica em segundo lugar entre o público feminino (19,20%), estando muito próximo do primeiro colocado, o vôlei (20,50%). Segundo a pesquisa Esporte Clube IBOPE Media 7 , realizada em 2011, a modalidade também é a que desperta maior atenção na busca de conteúdo pelas diferentes mídias: 92% dos entrevistados afirmaram que buscam informações relacionadas ao futebol pela TV, 95% pelo jornal, 97% por rádios AM, 95% por rádios FM e 88% pela internet (o consumo de mídias não acontece de maneira 7 Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/Paginas/Esporte%20Clube%20IBOPE%20Media%20revela%20a%20rela%C3%A7%C3 %A3o%20do%20brasileiro%20com%20os%20esportes.aspx>. Acesso em: 26 ago. 2013. 19 excludente, mas concomitante). A pesquisa apontou, também, que “os motivos que fazem os pesquisados consumirem mais informações pela internet são a atualização constante (32%), as notícias abrangentes (31%), os conteúdos mais completos (28%), a grande variedade de esportes (16%) e a melhor navegabilidade (15%)”. Pesquisa de 2014 do Ibope Recupcom8 aponta que, em 2013, o futebol foi o responsável por 63% das transmissões esportivas, com um total de 34.119 horas de transmissão. Diante dos dados apresentados, a contribuição desta pesquisa, tanto para o campo acadêmico quanto para o mercadológico se concretiza pela análise da comunicação organizacional no segmento esportivo realizada no ambiente das mídias digitais conectadas. Tendo como base os estudos teóricos de autores que discorreram sobre temas como a digitalização de processos, a convergência midiática, a interação mediada por computadores, a interatividade, o marketing esportivo e a comunicação no mundo dos esportes, foi construído um arcabouço teórico consistente para que fossem interpretadas as práticas comunicacionais de mercado realizadas pelas empresas que compõem o objeto deste estudo. 8 Dados disponíveis em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/conhecimento/Infograficos/Paginas/Osesportes-que-dominam-a-TV.aspx> Acesso em: 12 jan. 2015. 20 1. METODOLOGIA A presente pesquisa tem como natureza a investigação qualitativa, pois, segundo Godoy (1995, p.58), a pesquisa qualitativa “envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo”. Para a obtenção de uma resposta para o problema de pesquisa, apresentado anteriormente, foram realizadas análises de cunho teórico e pesquisa de caráter empírico. Na abordagem teórica, foi desenvolvida uma revisão bibliográfica sobre os temas que envolvem a comunicação em mídias digitais conectadas, a especialidade da comunicação organizacional efetuada nesse ambiente e a comunicação esportiva. Autores que se aprofundaram em questões que envolvem a digitalização dos processos sociais, interatividade (ou interações mediadas por computadores), comunicação organizacional e mercadológica e a comunicação no mundo dos esportes foram estudados e analisados a fim de se construir uma base teórica significativa que desse o suporte acadêmico necessário ao desenvolvimento da pesquisa como um todo. Esses estudos aparecem na forma das seções iniciais da tese proposta. A pesquisa empírica teve como base a análise das práticas mercadológicas de empresas do universo esportivo que possuem fluxos de comunicação significativos no ambiente das mídias digitais conectadas. Para isso, foi realizado um Estudo de Caso Múltiplo das empresas Nike e Adidas, escolhidas pela relevância no segmento em que atuam e por suas ações no ambiente digital. A escolha por desenvolver um estudo de caso pode ser explicada pelo argumento de Yin (2010, p.24): Como método de pesquisa, o estudo de caso é usado em muitas situações, para contribuir ao nosso conhecimento dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos e relacionados. [...] Em resumo, o método do estudo de caso permite que os investigadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos da vida real – como os ciclos individuais da vida, o comportamento dos pequenos grupos, os processos organizacionais e administrativos, a mudança de vizinhança, o 21 desempenho escolar, as relações internacionais e a maturação das indústrias. Yin (2010, p.31-32) salienta, ainda, que os estudos de caso são um método que responde a perguntas do tipo “como” e “por que”, e complementa explicando que ele deve ser utilizado quando se estudam fenômenos contemporâneos em que o pesquisador não possui controle das ações dos atores. O estudo de caso é preferido no exame dos eventos contemporâneos, mas quando os comportamentos relevantes não podem ser manipulados. O estudo de caso conta com muitas das mesmas técnicas que a pesquisa histórica, mas adiciona duas fontes de evidência geralmente não incluídas no repertório do historiador: observação direta dos eventos sendo estudados e entrevistas das pessoas envolvidas no evento. (YIN, 2010, p.32) Essas características do estudo de caso, apresentadas por Yin (2010), se encaixam no tipo de investigação a que se propôs esta pesquisa, pois o que se pretendeu investigar foram as ações de comunicação organizacional das empresas Nike e Adidas no universo das mídias digitais online, o que demandou o conhecimento da pesquisadora sobre a sociedade atual e as influências das novas tecnologias, bem como das práticas realizadas pelas empresas (salientando que a pesquisadora não possuía controle ou poder de influência em qualquer um desses cenários). Pelo fato de o estudo de caso ser realizado com empresas que atuam de maneira ampla no universo dos esportes, optou-se por realizar um recorte e analisar a atuação dessas empresas relacionadas a um esporte específico, o futebol. A escolha dessa modalidade aconteceu devido à sua popularidade no país, aos altos investimentos comunicacionais que ele recebe e à realização, no Brasil, do maior evento mundial dessa modalidade: a Copa do Mundo FIFA, em 2014. Por se tratar de empresas com atuação global, é importante destacar que foram estudadas somente as ações desenvolvidas para o público brasileiro. A escolha dessas duas empresas como objeto de estudo se deu por sua importância no segmento esportivo e pelo equilíbrio em suas características mercadológicas. Segundo ranking da revista Forbes1, com as mais valiosas marcas do 1 Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/mikeozanian/2014/10/07/the-forbes-fab-40-the-worldsmost-valuable-sports-brands-2014//>. Acesso em: 07 jan. 2015. 22 segmento esportivo, essas empresas ocupam posição de destaque. Em uma lista com 40 marcas, divididas nas categorias (negócios, eventos, atletas e times), a Nike ocupa a primeira posição entre as marcas de negócios com um valor de US$ 19 bilhões, e a Adidas ocupa a terceira posição com um valor de US$ 5,8 bilhões – atrás somente da empresa de comunicação ESPN, que está avaliada em US$ 16,5 bilhões. Além disso, as duas empresas são as maiores patrocinadoras de clubes de futebol e atletas em todo o mundo. Em uma lista com os dez principais clubes do mundo, a Adidas é responsável por seis patrocínios e a Nike, por dois2 (os outros dois patrocínios são realizados pela Puma e pela Warrior). A Adidas também foi a patrocinadora oficial da Copa do Mundo FIFA, o maior evento de futebol do mundo, e as duas empresas foram as maiores patrocinadoras de seleções na última edição do evento, realizado no Brasil – A Nike patrocinou dez seleções e a Adidas, oito. As duas corporações possuem outras marcas em seu portfólio, aumentando ainda mais sua importância mercadológica, por exemplo: a Adidas também é dona da Reebok, e a Nike foi dona da Umbro até 2012. Mais detalhes sobre as empresas serão apresentados no capítulo 3, que discorrerá sobre o mundo dos esportes. 1.1. Instrumentos de coleta de dados Para delimitar o panorama mercadológico das empresas que atuam no segmento esportivo e compreender o tipo de comunicação que elas desenvolvem, foram realizadas entrevistas em profundidade com profissionais especializados que atuam nesse segmento de mercado, como professores, profissionais de marketing e de empresas de pesquisa. As entrevistas foram escolhidas como forma de obtenção de dados pelo fato de esta ser uma forma flexível e viável de contato com as fontes de informação. Por meio das entrevistas, foi possível fazer perguntas direcionadas e acrescentar ou diminuir tópicos conforme o andamento do contato, permitindo a obtenção completa dos dados necessários para o desenvolvimento da pesquisa. Outra vantagem da entrevista é sua maior flexibilidade. Num questionário, se a pessoa interpreta erradamente uma pergunta ou registra suas respostas de maneira confusa, geralmente pouco se 2 Dados obtidos em: <http://trivela.uol.com.br/10-maiores-contratos-esportivos-do-futebol-adidas/>. Acesso em: 07 jan. 2015. 23 pode fazer para remediar a situação. Numa entrevista, existe a possibilidade de repetir as perguntas, ou apresentá-las de outro modo para que se possa ter a certeza de que são compreendidas, ou fazer outras perguntas a fim de esclarecer o sentido de uma resposta. (SELLTIZ; WRIGHTSMAN; COOK, 1974, p.271-272) A condução das entrevistas ocorreu a partir de “um roteiro de entrevista constando de uma lista de pontos ou tópicos previamente estabelecidos de acordo com uma problemática central e que deve ser seguida” (HAGUETTE, 1990, p.75). A elaboração desse roteiro se fez importante para que não fossem esquecidos tópicos de vital importância para a realização da análise. A investigação sobre as ações das empresas, realizada no ambiente digital on-line, especificamente em seus perfis no Facebook e Twitter, foi desenvolvida com base em um protocolo fechado, desenvolvido especialmente para este estudo, que contemplou tópicos como: frequência das publicações, temas dos assuntos publicados, formato dos conteúdos, interação com o internauta, entre outros. O conhecimento de detalhes das ações desenvolvidas no ciberespaço se fez necessário, pois somente com a posse desse tipo de informação é possível compreender se as ações atingem os objetivos empresariais e se utilizam as potencialidades oferecidas pelo meio. Segundo Cipriani (2011, p.134-139), a avaliação das ações digitais deve ser feita sempre tendo em mente os objetivos traçados e esperados, caso contrário, não será possível interpretar os números obtidos com as ferramentas de métricas. Para complementar as informações levantadas por meio do protocolo desenvolvido para esta pesquisa, também foi utilizada a ferramenta digital de métrica “Buzzmonitor” 3 . Essa ferramenta consiste em um aplicativo pago 4 que permite ao usuário, por meio de palavras-chave e filtros, monitorar as ações digitais de empresas, mesmo que o usuário não seja o administrador da conta. Com essa ferramenta é possível cruzar dados de até três marcas e avaliar, mês a mês, qual foi o volume de referências às marcas, quais as palavras e as plataformas mais utilizadas (Twitter, Facebook etc.), perfil das pessoas que mais falam sobre a marca (sexo, localização geográfica etc.), entre outras informações. 3 4 Disponível em: <http://www.buzzmonitor.com.br/>. O suporte financeiro para a utilização desse aplicativo foi proveniente da taxa de bancada disponibilizada pelo CNPQ junto à bolsa de estudos que a pesquisadora recebe mensalmente. 24 1.2. Universo e amostra da pesquisa Foram analisadas as ações de comunicação das duas empresas – Nike e Adidas no Brasil, sob o recorte dos conteúdos relacionados ao futebol, divulgados em português - no Twitter e no Facebook, nos meses de outubro de 2013, janeiro de 2014, junho de 2014 e julho de 2104. As páginas estudadas foram: <https://www.facebook.com/nikefutebol<, <https://twitter.com/nikefutebol>, <https://www.facebook.com/adidasFutebol> e <https://twitter.com/adidasbrasil<. A escolha por esses períodos é justificada pela compreensão de uma amostra diversificada, com meses em que a atividade mercadológica das empresas e as atividades do futebol se apresentam com diferentes características. O mês de outubro pode ser considerado um mês de atuação rotineira em que não existe final de campeonatos, compra e venda de atletas, lançamento de uniformes e, do ponto de vista mercadológico, o período possui apenas uma data comemorativa de baixo apelo para vendas nesse segmento, que é o Dia das Crianças. Além disso, nesse mês ainda não tinham sido iniciadas as campanhas sobre a Copa do Mundo, o que auxilia na obtenção do perfil rotineiro das ações das empresas nas duas plataformas. Já o mês de janeiro é o mês pós-vendas de Natal, em que os principais campeonatos nacionais ainda não começaram, mas é o período de definições para patrocínios e contratações de atletas, o que pode influenciar a atuação das empresas. Esse também foi o primeiro mês do ano da realização da Copa do Mundo FIFA, e foi de interesse da pesquisa observar como as empresas se posicionaram no início desse ano tão específico. Já os meses de junho e julho de 2014 configuram o período da Copa do Mundo FIFA de Futebol, escolhido de maneira intencional para avaliar o comportamento das empresas diante do principal evento dessa categoria. A fim de se obter uma visão qualitativa sobre a interação realizada pelas empresas, foram estudados os comentários dos posts do Facebook publicados nos meses de junho e julho de 2014. Foram analisados os primeiros comentários de cada post, totalizando cerca de 50 comentários em cada publicação. A escolha por esse período foi definida pela realização da Copa do Mundo FIFA no país, que gerou um 25 grande impacto social, despertando o interesse na pesquisa por investigar como ocorreu a interação entre marcas e internautas nesse período diferenciado. As entrevistas foram realizadas com quatro profissionais, que representam o mercado e a academia nos segmentos da comunicação empresarial e da comunicação esportiva. Atendendo a uma exigência do Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo, os entrevistados não foram identificados. Um dos entrevistados é um professor doutor de uma universidade estadual paulista, especialista em comunicação e gestão do esporte. O outro representante do universo acadêmico é um professor doutor de universidades particulares paulistas, especialista em comunicação, esporte e economia. Os entrevistados que representam o universo mercadológico são um executivo de pesquisa em marketing esportivo, atuante em uma empresa multinacional, e um publicitário, especialista em marketing digital. As entrevistas se desenvolveram pessoalmente ou por meio de conferências virutais em tempo real, permitindo maior interação entre a pesquisadora e os entrevistados. Todas as entrevistas aconteceram no primeiro semestre de 2015, a fim de que as respostas fossem obtidas dentro de um mesmo cenário. Com o conhecimento desenvolvido por meio do estudo teórico e com as informações obtidas nas entrevistas, os dados do estudo empírico foram analisados sob o ponto de vista qualitativo; a partir daí, foi obtida uma resposta para o problema de pesquisa em busca da comprovação da hipótese elaborada previamente, pois, como explica Yin (2010, p.61), “o desenvolvimento da teoria não facilita apenas a fase de coleta de dados do estudo de caso subsequente. A teoria desenvolvida apropriadamente também é o nível em que ocorrerá a generalização dos resultados do estudo de caso”. 26 Capítulo I - PANORAMA DE UMA SOCIEDADE DIGITAL, CONECTADA E GLOBALIZADA Cada período histórico é composto por fatos, momentos e descobertas capazes de influenciar diretamente as relações sociais. As guerras e suas consequências políticas, econômicas e psicológicas, as descobertas de vacinas e medicamentos capazes de extinguir doenças, as invenções como o telefone, a máquina a vapor e a prensa, os movimentos artísticos ligados à pintura, escultura, teatro e cinema são alguns exemplos de acontecimentos que definiram (ou pelo menos influenciaram fortemente) a vida social ao longo dos anos. Desde a metade do século passado, muitos momentos podem ser considerados marcantes e influenciadores da forma como a sociedade atual se desenvolve: o aprimoramento dos meios de comunicação, a facilidade de locomoção ao redor do mundo, os sistemas de gerenciamento de governos interligados, as mudanças na forma de produção e consumo de produtos são alguns deles. É interessante perceber que todos os momentos ou invenções marcantes da sociedade atual têm ligação, direta ou indireta, com os avanços tecnológicos e com as tecnologias da informação, em especial com a internet. “Atividades econômicas, sociais, políticas e culturais essenciais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela Internet e em torno dela, como por outras redes de computadores”, afirma Castells (2003, p.8). As tecnologias digitais foram capazes de mudar paradigmas e influenciar de maneira evidente a forma como os indivíduos se relacionam, como vivem e o que esperam do mundo. A digitalização de processos e o aprimoramento das técnicas de transmissão de mensagens, capazes de trabalhar com cada vez mais fluxos e em menor tempo, possibilitaram uma maior valorização dos processos comunicacionais no seio social. A obtenção, o gerenciamento e a aplicabilidade de informações passaram a influenciar os sistemas políticos, econômicos e sociais. Os meios de comunicação e as tecnologias de informação são componentes cada vez mais presentes em nossa vida. Uma significativa porção de nossas atividades diárias é dedicada simplesmente a nos comunicar com o resto do mundo. [...] Os profissionais da informação já constituem a maioria da força de trabalho, e a proporção de trabalhadores engajados em atividades ligadas à informação mais que dobrou no curto espaço de tempo de 27 uma geração (Dordick&Wang, 1993). (STRAUBHAAR; LA ROSE, 2004, p.1) Os termos “era da informação” ou “sociedade da informação” passaram a caracterizar a vida nas últimas décadas do século XX e as conexões em rede ditaram as novas formas de relações sociais. Em suas análises sobre a sociedade, Castells (2003) dimensiona os impactos da internet em todos os âmbitos sociais. O autor considera que a “galáxia da internet” é uma nova era e as conexões em rede influenciam todos os segmentos sociais. Sobre os aspectos econômicos, por exemplo, o autor afirma: À medida que a tecnologia da informação se torna mais poderosa e flexível, e à medida que as regulações nacionais são atropeladas por fluxos de capital e comércio eletrônico, os mercados financeiros vão se tornando integrados, acabando por operar como uma unidade em tempo real por todo o globo. Assim, a capacidade de interconexão por computador de sistemas de comércio está transformando os mercados financeiros, as novas regras destes estão fornecendo o capital necessário para o financiamento da economia da Internet. (CASTELLS, 2003, p.68) Possuir suportes, aparelhos e competências para gerenciar informação é, atualmente, sinônimo de possuir poder. Fortunas podem ser construídas ou destruídas com a obtenção privilegiada de informações, por exemplo. A possibilidade de crescimento econômico e social dos indivíduos está ligada à sua capacidade de gerenciar informação, de transformar dados em conhecimento e de fazer com que esse conhecimento seja aplicável e rentável. A propriedade de bens continua sendo fator de diferenciação e destaque social, contudo, o acesso à informação e ao conhecimento passou a figurar entre os elementos de grande interesse social, devido à sua capacidade de influenciar as atividades que formam a sociedade. Com os avanços tecnológicos, baseados na digitalização e na conexão de computadores em rede, a vida dos indivíduos pertencentes à sociedade atual passou a contemplar possibilidades até então inimagináveis. Os processos comunicacionais (e, consequentemente, toda forma de relacionamento social) passaram a ter a possibilidade de novas formas de mediação por suportes tecnológicos e a acontecer em tempo real ligando pessoas, empresas e governos em todo o mundo. 28 Todas essas inovações tecnológicas que permitiram avanços positivos em diferentes campos sociais também trouxeram novas preocupações, mostrando que nem toda novidade é apenas benéfica para a sociedade, como ressaltam Straubhaar e La Rose (2004, p.3): O uso e abuso das mídias de comunicação e tecnologias da informação também geraram inúmeros problemas sociais e políticos, os quais periodicamente forçam debates públicos. Esses problemas variam dos efeitos da violência, racismo e sexo na mídia até ameaças à privacidade e liberdades pessoais criadas pela proliferação de sistemas de computadores e telefonia. Quanto mais os sistemas tecnológicos se aperfeiçoam e se integram, mais complexa se torna a sua influência social, positiva ou negativamente. Atualmente, é possível identificar sérios problemas diplomáticos, ou de exposição de indivíduos, ocasionados pelo acesso a informações que, sem essa integração, poderiam ser consideradas privadas. Por outro lado, essa mesma integração tem permitido que grupos da sociedade civil se organizem no mundo todo e se manifestem publicamente, exigindo mudanças sociais. São “os dois lados da moeda” aparecendo em uma sociedade que vive sob a influência da informação e das tecnologias digitais. Assim, é possível perceber que a vida passou a acontecer em dois campos que coexistem: aquele considerado real (existente ao longo dos séculos) e o considerado virtual (consolidado por meio de suportes tecnológicos). Um não elimina o outro, ao contrário, se sobrepõem e se influenciam criando uma nova forma de experiência social para os indivíduos, como comenta Castells (2003, p.109-110): Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da Internet, a interação social on-line desempenha crescente papel na organização social como um todo. As redes on-line, quando se estabilizam em sua prática, podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes das físicas, mas não necessariamente menos intensas ou menos eficazes na criação de laços e na mobilização. Além disso, o que observamos em nossas sociedades é o desenvolvimento de uma comunicação híbrida que reúne lugar físico e ciber lugar (para usar a terminologia de Wellman1) para atuar como suporte material do individualismo em rede. 1 O autor refere-se a Barry Wellman, sociólogo canadense-americano que estuda as comunidades sociais e as mudanças provocadas pela internet e pelas interações sociais mediadas por computadores. 29 No ambiente digital, conhecido como ciberespaço, os indivíduos adquirem a possibilidade de vivenciar experiências que talvez não pudessem viver sem o apoio tecnológico. A visita a museus internacionais, o acesso aos acervos de bibliotecas de outros países e as chamadas “telefônicas” com vídeos são alguns exemplos de experiências que podem acontecer sem que o indivíduo precise sair de casa. Essa possibilidade de “exploração” global fez com que as pessoas se sentissem “cidadãos do mundo”, indivíduos capazes de obter informações, conhecer e debater questões sobre todos os temas e sobre todas as regiões do planeta. A interligação de sistemas políticos, econômicos e de relacionamentos sociais por meio da internet potencializou o conceito de globalização e criou uma atmosfera em que o mundo todo parece ser um só. O conceito de “aldeia global”, cunhado por Marshal MacLuhan na década de 1960, passou a qualificar a sociedade globalizada e, até o final do século passado, os deslumbramentos com as potencialidades oferecidas pela internet consolidaram esse conceito. Entretanto, um mundo tão grande, não pode tornar-se único, pasteurizado e igualado de maneira tão simplificada. Considerar que o mundo se tornou um só, apenas pelas facilidades de acesso oferecidas pela tecnologia, é um entendimento ao mesmo tempo inocente e simplificador. Hall (2005, p.97) comenta que a globalização é um processo complexo que envolve aspectos globais e locais numa trama difícil de ser entendida em um primeiro olhar: Entretanto, a globalização não parece estar produzindo nem o triunfo do “global” nem a persistência, em sua velha forma nacionalista, do “local”. Os deslocamentos ou desvios da globalização mostram-se, afinal, mais variados e mais contraditórios do que sugerem seus protagonistas ou seus oponentes. Entretanto, isto também sugere que, embora alimentada, sob muitos aspectos, pelo Ocidente, a globalização pode acabar sendo parte daquele lento e desigual, mas continuado, descentramento do Ocidente. Apesar de produtos, ideias e notícias circularem pelo mundo de maneira facilitada, isso não pode significar que todo o mundo passe efetivamente a viver com base em um único modelo social. Um filme produzido nos Estados Unidos pode bater recordes de bilheteria ao redor do mundo e fazer com que milhões de pessoas consumam determinado produto, contudo, isso não significa que as identidades culturais locais sejam totalmente substituídas, criando cidadãos iguais (com os mesmos gostos, hábitos e crenças). Uma pessoa que vive na Arábia Saudita pode 30 tomar Coca-Cola e usar calça jeans (produtos tipicamente americanos), mas ela continuará sendo um árabe com todas as implicações culturais que isso acarreta. Hall (2005, p.49) comenta essa força das identidades nacionais ao discorrer sobre os valores sociais, culturais e simbólicos que envolvem cada uma delas e possibilitam às pessoas o pertencimento a um grupo determinado e a sua diferenciação de outros grupos. Segue-se que a nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos- um sistema de representação cultural. As pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da ideia de nação tal como representada em sua cultura nacional. Uma nação é a sua cultura simbólica e é isso que explica seu ‘poder para gerar um sentimento de identidade e lealdade’. Sob o ponto de vista comunicacional, é possível complementar o pensamento acima com a afirmação de Castells (1999, p.52), que reconhece que as simbologias compõem as culturas e as identidades dos grupos. A comunicação simbólica entre os seres humanos e o relacionamento entre esses e a natureza, com base na produção (e seu complemento, o consumo), experiência e poder, cristalizam-se ao longo da história em territórios específicos, e assim geram culturas e identidades coletivas. Nesse mesmo cenário, é possível incluir a perspectiva de Huntington (1997, p.20-21). O autor considera que, mesmo o mundo estando globalizado e os governantes parecerem buscar soluções que sejam boas para que todos vivam de maneira mais igualitária, as motivações políticas partem de estímulos culturais que, na verdade, visam ao estabelecimento de identidades específicas. O autor defende que os grandes choques do século atual serão motivados por questões culturais e não apenas por motivações políticas ou econômicas. As pessoas se definem em termos de antepassados, religião, idioma, história, valores, costumes e instituições. Elas se identificam com grupos culturais: tribos, grupos étnicos, comunidades religiosas, nações e, em nível mais amplo civilizações. As pessoas utilizam a política não só para servir aos seus interesses, mas também para definir suas identidades. Nós só sabemos quem somos quando sabemos quem não somos e, muitas vezes, quando sabemos contra quem estamos. (HUNTINGTON, 1997, p.20) 31 Para auxiliar nas definições da atual sociedade, é interessante, também, destacar a contribuição de Maffesoli (2003). O autor defende que, no mundo atual, os arranjos sociais acontecem por meio de grupos de interesse específicos, em que as pessoas buscam o pertencimento por meio da proteção e da afinidade, reiterando a importância da valorização dos aspectos locais. Maffesoli (2003, p.43) destaca que são crescentes as reivindicações de autonomia ou soberania e do emprego de palavras como “território” ou “país” nos discursos atuais, remetendo à uma configuração tribalizada da sociedade. De fato, as diversas instituições sociais, tornadas cada vez mais abstratas e desencarnadas, não parecem conectadas com a reiterada exigência de proximidade. Daí a emergência de um neotribalismo pós-moderno, baseado, como sempre, na necessidade de solidariedade e de proteção que caracterizam o conjunto social. Nas selvas de pedra que são as megalópoles contemporâneas, a tribo desempenha o papel que tinham literalmente na selva verdadeira. (MAFFESOLI, 2003, p.44) Em suas obras, o autor ainda destaca sua crítica ao pensamento de que a atual sociedade é individualizante. Para Maffesoli (2014), as conexões da socialidade produzem um efeito desindividualizante, em que, ao se associar a um grupo, ou tribo, a pessoa passa a agir, se comportar e pensar de acordo com as regras estabelecidas por esse grupo, regido por interesses culturais, religiosos, sociais etc. Além disso, para ele, as pessoas pertencem a mais de um grupo, de acordo com os seus múltiplos interesses sociais, estabelecendo relações variadas e flexíveis que contribuem para a construção de identidades múltiplas que nada têm em comum com o individualismo egoísta e monocentrado delegado ao cidadão atual por muitos autores. A fusão da comunidade pode ser perfeitamente desindividualizante. Ela cria uma união em pontilhado que não significa uma presença plena no outro (o que remete ao político), mas antes estabelece uma relação oca que chamarei de relação táctil: na massa a gente se cruza, se roça, se toca, interações se estabelecem, cristalizações se operam e grupos se formam. (MAFFESOLI, 2014, p.131) Os pensamentos de Hall (2005), Castells (1999), Huntington (1997) e Maffesoli (2014) contribuem para a caracterização da atual sociedade e devem ser levados em consideração para que sejam respeitadas as idiossincrasias dos grupos, que necessitam manter suas identidades e suas simbologias, a fim de que seja 32 concretizado o sentimento de pertencer a um grupo. Contudo, em um mundo globalizado e conectado, é cada vez mais difícil pensar em identidades puras, que não sofram influência de outras. Em qualquer país é possível encontrar elementos de outros povos, outras culturas, ocasionando uma diversidade cultural extrema. Essa realidade impulsiona o entendimento de que as identidades devem ser respeitadas, mantidas e valorizadas, mas que elas próprias se modificam a partir da influência de outros grupos a elas conectados, em um movimento possibilitado pelo fácil acesso a outros povos e outras culturas. Esse panorama consolida o mundo atual como multicultural e conectado e permite afirmar que um dos maiores desafios da humanidade neste começo de milênio diz respeito à necessidade de uma convivência pacífica entre os povos, em que o conhecimento e o entendimento do outro se fazem urgentes. Wolton (2006, p.43) considera que esse cenário compõe a terceira globalização (sendo a primeira aquela que envolveu aspectos políticos e a segunda, os econômicos). A terceira globalização consiste em levar em conta as questões de cultura e de comunicação e, para administrar a diversidade cultural, que se tornou um fato importante do mundo contemporâneo, ter a vontade de construir a coabitação cultural. Ela é o meio de considerar a importância das identidades culturais da comunicação e os limites destas. Ter ciência de que a sociedade atual é interligada e multicultural é de extrema importância para que sejam desenvolvidos processos comunicacionais eficientes e eficazes. É preciso entender que os cidadãos se comunicam, que a cultura de um povo avança os limites territoriais e passa a ser conhecida por outros grupos e que essa situação cria uma sociedade que se influencia mútua e incessantemente. Todavia, não pode ser deixada de lado a força das identidades culturais locais e a presença dos aspectos que tornam um grupo diferente de outro. Apesar de os cidadãos do mundo poderem consumir os mesmos produtos (lanches, roupas, filmes, carros, produtos de beleza etc.), esse consumo acontece por meio de padrões estabelecidos localmente, com base nas crenças, ideologias, desejos e necessidades de cada grupo. A economia globalizada precisa ter consciência de que na atuação global é necessário o conhecimento sobre os aspectos locais. 33 Se a mundialização/globalização é um componente da cultura contemporânea, isso não significa que ela seja a única lógica capaz de definir os destinos do planeta. A década de 80, que assistiu ao florescimento das doutrinas da globalização financeira e da padronização cultural, conheceu igualmente um movimento de ideias que sublinha a defasagem entre as forças centrípetas e aglomerantes da lógica mercantil e a pluralidade das culturas, e concebe a fragmentação e globalização como dois fatores em tensão onde se joga a decomposição/ recomposição das identidades sociais e culturais. (MATTELART, 2002, p.160) Ao analisar a presença da informação e das tecnologias digitais influenciando a vida social, Castells (1999) também faz um alerta e considera que nem todos os países e as nações receberam essas novidades da mesma maneira, sendo mais uma vez inapropriado considerar que o mundo todo é homogêneo, agora também sob o aspecto da presença das tecnologias digitais e da influência exercida pela informação nos campos sociais. Embora a reestruturação do capitalismo e a difusão do informacionismo fossem processos inseparáveis em escala global, as sociedades agiram/reagiram a esses processos de formas diferentes, conforme a especificidade de sua história, cultura e instituições. Consequentemente, até certo ponto, seria impróprio referir-se a uma “sociedade informacional’, o que implicaria a homogeneidade das formas sociais em todos os lugares sob o novo sistema. (CASTELLS, 1999, p.56) Assim, neste cenário, torna-se imprescindível o conhecimento do local e das características do grupo com o qual se pretende estabelecer um contato, tanto do ponto de vista cultural como da presença informacional e tecnológica em sua sociedade. Essa é uma estratégia inicial e fundamental para que o processo comunicacional (seja ele interpessoal, para a conquista de um mercado de consumo ou para estabelecer políticas internacionais eficientes) seja realizado com o sucesso esperado. Com a valorização das idiossincrasias dos grupos e com a consciência da presença da globalização e de seus processos potencializados pelas redes digitais, é preciso identificar os detalhes que compõem o cotidiano dos grupos para entender melhor à sociedade atual. Segundo Heller (2000), a vida humana é composta por dois campos, o humano genérico e o cotidiano. O humano genérico diz respeito às regras sociais e morais que formam o universo das relações sociais (os aspectos culturais 34 mencionados anteriormente); a vida cotidiana refere-se ao campo mais individual, em que atividades do dia a dia (físicas, intelectuais, sociais) caracterizam a vida particular dos indivíduos. O indivíduo (a individualidade) contém tanto a particularidade quanto o humano-genérico que funciona consciente e inconsciente no homem. [...] O homem singular não é pura e simplesmente indivíduo, no sentido aludido; nas condições da manipulação social e da alienação, ele vai se fragmentando cada vez mais ‘em seus papéis’. (HELLER, 2000, p.37) Esse cidadão fragmentado, que representa “papéis” em sua vida social, constrói a sua identidade a partir de seus anseios mais particulares, mas também pela influência da vida social que o cerca. Assim, resgatando os conceitos trabalhados anteriormente, é possível perceber que a identidade dos indivíduos é influenciada por questões globais e definida pelas pequenas ações da vida cotidiana. Os papéis sociais que o cidadão representa formam pequenas identidades que, juntas, formarão um indivíduo complexo que deve ser compreendido em sua amplitude para que o processo comunicacional e as relações sociais em geral a ele direcionados aconteçam de maneira satisfatória para todos os envolvidos. A coexistência da globalização e suas quebras de barreiras (econômicas, políticas e comunicacionais) e da preservação das identidades culturais dos grupos impulsionam os indivíduos a construírem seus cotidianos de maneira a contemplar esses dois extremos. Em determinados momentos, o peso maior recai sobre as particularidades da vida local; em outros, o que sobressai são as influências externas, globais. Essa dicotomia influencia fortemente a construção da identidade dos indivíduos e de suas relações sociais. E a rede mundial de computadores é capaz de evidenciar essa pluralidade de identidades dos cidadãos, tanto em sua variação localglobal, quanto nos seus “papéis” de representação social. 1. As relações sociais no ciberespaço A vida no ciberespaço se desenvolve por meio do relacionamento entre pessoas de todo o mundo, com as mais diferentes crenças, ideais, objetivos e idades. Como destacado, esse contato entre os diferentes povos por meio das conexões em 35 rede influencia fortemente a construção das identidades e a maneira como os indivíduos se posicionam socialmente. Influencia também o modo como vivem o seu dia a dia, seu cotidiano, não sendo mais possível, na segunda década do século XXI, separar a vida humana em digital e real. A digitalização e os computadores conectados são elementos constituintes da vida social e mesmo os indivíduos que não estão inseridos integralmente na internet têm suas vidas influenciadas, de alguma maneira, por ela. “As redes interativas de computadores estão crescendo exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicação, moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldadas por ela” (CASTELLS, 1999, p.40). As novas tecnologias da comunicação e a internet permitiram que as trocas relacionais e os processos comunicacionais passassem a ser desenvolvidos com base em outras perspectivas. A velocidade no envio de mensagens e obtenção de respostas, as plataformas e programas de comunicação em tempo real, a possibilidade de participação na construção de conteúdos e o acesso a bancos de dados permitiram que as práticas da vida cotidiana passassem a ser regidas por paradigmas diferentes daqueles existentes antes dessa inundação tecnológica. A convergência dos meios digitais criou sistemas que caracterizaram a sociedade da informação e influenciaram mudanças nas práticas sociais. Como afirma Di Felice (2012, p.16): Surge, portanto, não somente uma nova forma de interação, consequência de uma inovação tecnológica que altera o modo de comunicar e seus significados, mas também os pressupostos e as características de uma nova arquitetura social que estimula inéditas práticas interativas entre nós e as tecnologias de informação. As trocas relacionais mediadas por computadores passaram a fazer parte da essência da vida atual e as complexidades em suas estruturas precisam ser avaliadas pois influenciam diretamente as dinâmicas sociais. O primeiro ponto a ser levado em consideração é que a presença de máquinas capazes de influenciar as interações sociais e os processos comunicacionais não apareceu com a internet. O telégrafo, o telefone, o rádio e a televisão já proporcionavam formas de interação entre os indivíduos, as quais permanecem existindo nos meios digitais, mas foram potencializadas ou acrescidas de novas possibilidades conectadas. Em sua obra, Primo (2008) explica que os meios digitais possibilitam dois tipos de interação claros e distintos: reativa e mútua. A “interação reativa” é o 36 processo baseado somente em possibilidades pré-determinadas por processos tecnológicos, em que os indivíduos apenas reagem aos estímulos propostos pelo produtor do conteúdo (seja em um jogo eletrônico, em uma enquete, ou durante a navegação de um site). O autor explica que nesse tipo de interação somente é possível agir dentro de um universo determinado, caminhando por trilhas já demarcadas e atendendo a fórmulas previstas. [...] as interações reativas dependem da previsibilidade e da automatização das trocas. Se um ato foge daquilo que era esperado previamente, ele pode ser ignorado e recusado no processo ou até mesmo acabar com a situação interativa, por se constituir em erro incontornável. Uma interação reativa pode repetir-se infinitamente em uma mesma troca: sempre os mesmos outputs para os mesmos inputs. (PRIMO, 2008, p.149-150) Esse tipo de interação também pode ser observado em processos realizados em meios não digitais. Ao enviar uma carta para um jornal ou para uma emissora de rádio, por exemplo, o leitor/ouvinte segue um caminho proposto pelo produtor do conteúdo: envia uma carta para um endereço determinado, recebe uma resposta (normalmente baseada em padrão comum para todas as respostas) e tem sua interação, muitas vezes, encerrada nesse ponto. A interação é previsível, ela acontece a partir de estímulos e por meio de canais pré-determinados e vai até um ponto especificamente definido. Já no outro tipo de interação definido por Primo (2008), que acontece pelos meios digitais, a relação pode ser considerada mais dinâmica e por isso ela é denominada pelo autor como “interação mútua”. Nesse tipo de processo, a bidirecionalidade proporcionada pelos meios digitais aparece de maneira mais evidente, sendo a troca relacional realizada sem predeterminação, o que permite uma maior liberdade dialógica. Na interação mútua, os indivíduos participantes são considerados elementos mutantes, vivos, capazes de influenciar o processo e se influenciar por ele, podendo mudar o tom, o conteúdo e a direção da comunicação a qualquer momento. Nas interações mútuas a análise se faz a partir do todo, de suas conexões, e não com foco nas ações individuais. Primo (2008, p.116) afirma que “os processos de interação mútua caracterizam-se por sua construção dinâmica, contínua e contextualizada”, e completa: “a interação mútua é ação conjunta muito mais que mero movimento ou reação determinada” (PRIMO, 2008, p.116). 37 Considerando o modelo de interação mútua apresentado por Primo (2008), em que as interações mediadas por computadores podem avançar (e aprofundar) o campo das reações baseadas no binômio “estímulo/resposta”, aceita-se que essas relações possam influenciar e ser influenciadas pelo universo das intencionalidades dos indivíduos e por todo o contexto social. Assim, é interessante observar, também, a análise que Recuero (2009) faz dos laços relacionais estabelecidos na internet. Em sua obra, a autora faz uma profunda análise sobre as formas de interações sociais dentro do ambiente digital e afirma que, para existir uma interação na internet, é preciso que existam atores e conexões, isto é, pessoas – ou empresas, governos etc. – e laços sociais por eles estabelecidos. Destaca, também, que o ator não precisa ser alguém físico, podendo ser identificado como um blog ou um perfil em rede social. Em termos gerais, as conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre os atores. De um certo modo, as conexões são o principal foco do estudo das redes sociais, pois é sua variação que altera as estruturas desses grupos. (RECUERO, 2009, p.30) Os laços sociais constituídos a partir de relações entre indivíduos são chamados pela autora de laços relacionais, já aqueles que determinam a relação do indivíduo a grupos são os laços associativos (RECUERO, 2009, p.39-40). A autora também inclui2 a intensidade da relação como mais um fator de análise, podendo o laço ser considerado forte (marcado pela intimidade, proximidade e intenção em manter a conexão) ou fraco (marcado pela ausência de proximidade ou intimidade). Em sua análise, Recuero (2009) considera que todos esses elementos devem ser utilizados para classificar o tipo de relação que se estabelece no contexto das redes sociais digitais e avança a sua obra propondo classificações para os tipos de redes sociais digitais existentes. Santaella (2013) analisa as estruturas das redes sociais digitais e, sobre as ligações relacionais entre os indivíduos, afirma: [...] os laços se mantêm de acordo com o termômetro da motivação intrínseca, ou seja, na medida em que as relações grupais recompensam nossos desejos, tanto de participação quanto de 2 Para tratar da intensidade dos laços, a autora se baseia em GRANOVETTER, M. The Strenght of Weak Ties. The American Journal of Sociology, v. 78, n. 6, p.1360-1380, maio 1973. 38 compartilhamento. Isto porque nós temos motivações que brotam, espontânea e intrinsecamente, do desejo de fazer coisas pelo prazer que elas nos dão. (SANTAELLA, 2013, p.37) Unindo as características de laços relacionais apresentados por Recuero (2009) e a proposta de interação mútua e reativa de Primo (2008), é possível perceber que as relações estabelecidas por meio da internet e das tecnologias digitais são complexas e heterogêneas, assim como os indivíduos (atores) que a compõem e a sociedade em que estão inseridos. Di Felice (2012) defende que cada elemento social influencia a vida em rede e é influenciada por ela, criando um movimento contínuo, circular e mutável, responsável pela manutenção da vida social, que ele compara a um ecossistema. O caráter cognitivo da rede, a arbitrariedade de sua forma, a não linearidade, a sua propensão à saída do eixo, a sua estrutura reticular e interativa e a sua não externalidade a tornam uma arquitetura ao mesmo tempo interna e externa a nós, isto é, um ecossistema do qual fazemos parte como participantes e não apenas como observadores externos e independentes. (DI FELICE, 2012, p.15) Com as possibilidades oferecidas pelas tecnologias digitais de informação e as conexões disponibilizadas pela internet, é preciso notar que todas as trocas relacionais do ciberespaço podem acontecer com atores localizados em todo o mundo e é neste ponto que se faz necessária a presença da reflexão proposta no início deste capítulo. Os atores participantes de um processo relacional podem firmar um laço associativo (usando a terminologia de Recuero) em um grupo digital e, ao mesmo tempo, pertencerem a grupos culturais (físicos) distintos. Um indivíduo que vive em um determinado continente, por exemplo, pode viver experiências relacionais firmando laços de intensidade forte com indivíduos de outro continente. As particularidades locais de suas culturas coexistem com os interesses globais que os uniram no ciberespaço. A globalização dos processos comunicacionais interpessoais pode ser percebida claramente quando são investigadas as relações estabelecidas no ciberespaço. Superando a etapa das diferenças linguísticas (consideradas por alguns autores como Wolton (2006) um grande problema a ser superado no caminho pela conquista de um mundo unificado), os indivíduos passam a transitar no ciberespaço 39 encontrando-se e construindo relações – fortes ou fracas – mesmo que fisicamente estejam localizados em áreas distintas. Nesse processo, as barreiras físicas e geográficas são eliminadas com a presença dos suportes tecnológicos e as diferenças culturais são minimizadas pela presença dos interesses comuns ao grupo. O indivíduo preserva as particularidades locais que compõem sua identidade, mas sente que ela pode tornar-se mais completa, ou interessante, se adicionar os elementos globais que despertem seu interesse. Esse jogo de coexistência do global e do local, apresentado na discussão sobre o panorama social colocado no início deste capítulo, existe também na composição das identidades dos indivíduos e em como cada um deles se comporta dentro dos grupos a que se associa. Os “papéis” sociais mencionados por Heller (2000), que vão construir o cotidiano, também existem no mundo digital, afinal, as pessoas constroem uma vida no ciberespaço. Um determinado indivíduo pode estabelecer um laço forte com um grupo específico, desenvolvendo uma interação mútua, e, em outro grupo, esse mesmo indivíduo pode posicionar-se de maneira menos ativa, firmando uma interação reativa. Por isso, a análise das relações sociais no ciberespaço não pode ser feita a partir de generalidades e de maneira simplificada. Neste momento, faz-se importante mencionar a contribuição crítica de Trivinho (2005), que, ao analisar os conceitos que envolvem a valorização do global e/ou do local em uma “tecnossociedade”, como ele emprega, lança mão do termo “glocal” para delimitar o contexto social atual. Para o autor, em uma sociedade emparelhada por suportes tecnológicos, que permitem, influenciam e impulsionam a comunicação em tempo real, não é possível mais admitir a valorização de um ou de outro aspecto (global e local), sendo necessária a admissão de sua coexistência como condição para a vida social. O glocal representa a própria condição sine qua non de possibilidade dessa civilização, radicando, como tal tanto na base de sua existência, quanto no modo pelo qual ela se expressa na história. Assim como, na teoria econômica de Marx, a mercadoria, como signo do todo, está para o desenvolvimento integral do capitalismo, o glocal está para o funcionamento estrutural dessa civilização. (TRIVINHO, 2005, p.66) Nessa mesma linha de análise, Di Felice (2012) aponta que, na nova configuração social, baseada em redes que transitam pelas mídias digitais, o sentido 40 de lugar, ou localidade, se transformou. Para ele, “o resultado de tal condição é que o social deixa de ser somente algo que está na nossa frente, observável e reconhecível, para, uma vez descolado também nas redes, se tornar um conjunto infinito de informações a ser reconstruído e reinterpretado por nós” (DI FELICE, 2012, p.17). Trivinho (2005), ainda, considera que a estrutura “glocalizada” da sociedade pode ser entendida por meio da analogia do bunker, capaz de proteger e aprisionar. Para ele, é nesse bunker invisível, criado pela vida tecnossocial, que o indivíduo vive, considerando-se livre, autônomo e empoderado, mas que, na verdade apenas, sucumbe à ordem já determinada pelos detentores da estrutura social. Em geral, esse microcinturão tecnológico alimenta a (ou, ao menos, comparece vinculado à) ilusão de que a condição existencial por ele fundada e reproduzida concentra poder absoluto nas mãos do indivíduo, quando, ao contrário, caracteriza justamente – na perspectiva de uma antropologia politicamente orientada – perda social desse poder, a contar pelo flagrante e significativo decréscimo na autonomia humana observado num universo de dependência tecnológica inaudita, na forma de uma subordinação fatal do corpo e da subjetividade ao objeto infotecnológico e ao cyberspace. (TRIVINHO, 2005, p.73, grifos do autor) O estudo das relações sociais dentro do ciberespaço, seja entre pessoas ou entre indivíduos e empresas, governos, ongs etc., deve ser feito tendo em mente toda a complexidade que envolve o universo digital. É preciso compreender que as práticas existentes em outros meios não devem ser simplesmente transferidas para o mundo digital, pois ele possui particularidades – como a possibilidade de comunicação a distância, em tempo real, com processos de interação mútua e por meio de multiplataformas convergentes – que o diferem dos demais meios comunicacionais. Também se faz necessário entender que os indivíduos não são homogêneos apenas por visitarem as mesmas páginas na internet ou por pertencerem à mesma plataforma de rede social. Os indivíduos presentes no mundo digital também estão presentes no “mundo real” e, por isso, suas identidades são formadas por interesses, hábitos e normas que regem esses dois “universos”. Primo (2008, p.142) afirma que “reduzir a interação a aspectos meramente tecnológicos, em toda e qualquer situação interativa, é fechar os olhos para o que há além do computador.” Nesse mesmo sentido, Recuero (2009, p.31) considera que as “interações não são, portanto, descontadas dos atores sociais. São parte de suas 41 percepções do universo que os rodeia, influenciadas por elas e pelas motivações particulares desses atores.” Com base nos pensamentos dos autores apresentados, entende-se ser preciso contextualizar os fluxos comunicacionais que transitam pelas mídias digitais, compreendendo que os atores envolvidos pertencem a uma sociedade globalizada, que mantêm vivas, porém, as suas particularidades locais. Faz-se necessária a análise do ambiente social global (abordado no início deste capítulo e que inclui a globalização e a necessidade de valorização das individualidades e das identidades culturais) em conjunto com as potencialidades e limitações da presença das tecnologias digitais nos processos relacionais para que se obtenha um panorama da atual sociedade conectada e digitalizada. Defende-se aqui que, somente unindo todos os aspectos essenciais: a influência da internet na vida social, o entendimento da importância da valorização do global e do local e a influência dos papéis desempenhados pelos indivíduos em suas vidas e no social geral, será possível desenvolver a análise proposta para esta pesquisa. As novas tecnologias da informação e a conexão de computadores em rede criaram um ambiente digital bastante particular, que influenciou, de maneira decisiva, a economia, a política e a forma como os indivíduos se relacionam e constroem suas vidas cotidianas. Essa consciência, bem como todos os conceitos apresentados neste capítulo, auxiliam na definição de um panorama geral do universo em que se encontram os principais elementos de análise desta pesquisa que investiga como as empresas do segmento esportivo se relacionam com seus consumidores por meio das redes sociais digitais conectadas. 42 Capítulo II – O UNIVERSO EMPRESARIAL E A COMUNICAÇÃO A busca por eficácia e eficiência nos processos comunicacionais é evidente quando o tema em questão é o estabelecimento de relacionamentos sociais. Ocorrendo entre pessoas, ou entre estas e empresas, é fundamental que os atores envolvidos no processo conheçam todas as etapas que o constituem, pois só assim o resultado objetivado poderá ser alcançado. No campo da atuação empresarial, é possível perceber o crescimento da importância dada à prática comunicacional. É crescente o número de profissionais de comunicação que encontram espaço para trabalhar dentro de empresas, fábricas e lojas de varejo, demonstrando que o universo empresarial tem reconhecido que uma comunicação ineficiente pode comprometer os resultados mercadológicos. A preocupação com a imagem, a reputação e a aceitação dos produtos é evidente, ainda mais em um mundo conectado por redes digitais capazes de levar uma informação (positiva ou negativa) rapidamente a milhares de pessoas. A construção da identidade, imagem e reputação de uma empresa é uma atividade complexa e de grande importância para o desenvolvimento dos negócios e, assim como a sua posterior divulgação, precisa ser desenvolvida por profissionais capacitados, que possuam conhecimento do universo conceitual e prático da comunicação e da administração. A identidade de uma empresa pode ser considerada a linha central de todas as ações que envolvem a rotina empresarial. Ela aborda os aspectos administrativos (posicionamento mercadológico, metas a serem alcançadas, tipo de matéria-prima utilizada, produtos fabricados etc.), os aspectos culturais (políticas empresarias, planos de carreira, posição social que a empresa ocupa etc.) e os aspectos gráficos (logos, cores, padrões visuais de comunicação etc.). Para Bueno (2012, p.21): A identidade corporativa pode ser entendida, simplificadamente, como a ‘personalidade da organização’ e está umbilicalmente associada à sua cultura e ao seu processo global de gestão (filosofia gerencial, competência técnica ou de inovação etc.). Ela inclui o seu portfólio de produtos ou serviços, a forma de relacionamento com seus públicos de interesse (fornecedores, acionistas, clientes, funcionários, imprensa etc.), a sua história e trajetória (social, cultural, política, econômico-financeira) e mesmo, o que nos interessa bastante, os seus sistemas de comunicação (canais de relacionamento, como house-organs, SACs, call centers, sites etc.). 43 A somatória de todos esses atributos ou virtudes é que confere a uma organização a sua singularidade, diferenciando-a de qualquer outra. Como destacou Bueno (2012), a identidade de uma empresa não é importante apenas para que fique claro quem ela é, mas também para diferenciá-la de seus concorrentes. Para ser reconhecida e consumida, uma marca precisa ser facilmente identificada e diferenciada, e isso é elaborado no campo da identidade. As marcas, compostas por nomes, desenhos e cores, são os elementos que diferenciam os produtos de seus concorrentes. É por meio delas que os consumidores são capazes de identificar o que querem comprar e, em muitos casos, a popularidade da marca é tão grande que seu nome passa a substituir o próprio produto (como no caso do Bombril – palha de aço –, Gillete – lâmina de barbear – e Xerox – cópias de documentos). Ter marcas que são facilmente identificadas pelos consumidores facilita muito a compra de produtos, principalmente em um mercado com tantas possibilidades de escolha como o atual. Diante de uma hiperescolha desconcertante, o consumidor pode decidir se orientar graças à clareza do discurso ou à familiaridade de uma marca conhecida. Neste sentido, pode-se dizer que a multiplicação da oferta torna ainda mais necessária a presença das marcas. (SEMPRINI, 2010, p.39) Os profissionais de comunicação desenvolvem suas atividades no sentido de fortalecer a identidade da empresa e torná-la reconhecida. Contudo, ela não é formada apenas por seus esforços. Todos os elementos, sem exceção, que pertencem à prática empresarial compõem a identidade da empresa. Como mencionado acima, a escolha de fornecedores, de matéria-prima e o desenvolvimento dos produtos fazem parte desse universo. Uma empresa que terceirize parte do seu processo de produção, por exemplo, precisa estar atenta a tudo o que faz esse seu parceiro de negócios, pois ele deve atuar de maneira alinhada ao posicionamento da empresa (sua missão, visão e valores) já que uma discrepância nesse campo pode gerar muitos problemas. Outro aspecto importante da construção da identidade diz respeito à cultura organizacional, uma área que demanda muita atenção e cuidado porque envolve os hábitos, costumes e comportamentos do ambiente corporativo. As práticas diárias e a maneira de a empresa se posicionar sobre determinadas questões (como gestão de pessoas, plano de carreira dos funcionários, relacionamento entre departamentos, 44 planejamentos estratégico da organização, entre outros) muito dizem sobre quem a empresa é. A cultura organizacional demanda uma análise profunda, e os profissionais que atuam nesse campo precisam de conhecimento não só na área administrativa e comunicacional, mas também sobre psicologia e sociologia, já que, sob o prisma da cultura, a organização é vista como um ambiente vivo, capaz de mudanças pelo fato de ser formada por pessoas com posicionamentos sociais distintos. Podemos entender a cultura organizacional como um conjunto de evidências tangíveis e intangíveis compartilhadas pelos membros da organização. Ela é, da mesma forma como nos diferentes grupos sociais, o cimento que mantém a organização como um todo, que lhe confere sentido e engendra sentimento de identidade entre seus membros. (GRUNING; FERRARI; FRANÇA, 2011, p.152) Os autores avançam a explicação sobre a cultura organizacional e analisam a importância da comunicação nesse campo: A cultura e a comunicação estão estreitamente relacionadas, por um lado, porque a cultura traz em si os significados compartilhados e, por outro, porque é necessário um grande esforço da organização para comprometer as pessoas com os valores estabelecidos como desejáveis, o que implica no uso de canais de comunicação de todos os tipos. (GRUNING; FERRARI; FRANÇA, 2011, p.153) Caminhando na sequência dos elementos que compõem a identidade organizacional, é importante destacar a parte visual das empresas. Esse aspecto valioso da identidade empresarial é o campo de atuação da comunicação mais visível pelos diferentes públicos e o primeiro item capaz de criar a identificação da empresa com seus consumidores. A cor vermelha em uma lata de refrigerantes, uma letra M amarela em uma lanchonete ou, ainda, o desenho de uma maçã mordida em um computador fazem com que o consumidor saiba rapidamente com qual marca (e o tipo de produto) ele está entrando em contato. Essa rápida identificação é importante, pois determina claramente para o consumidor, e o público em geral, que o produto (ou a comunicação) ali divulgada é de determinada empresa. Após esse primeiro contato visual, todos os outros elementos da identidade organizacional surgem na cabeça do consumidor que passa para o estágio de construção da imagem da marca. Compreendida a importância de se trabalhar a construção e solidificação da identidade, é importante avançar o entendimento sobre o fato de que é preciso 45 ultrapassar a barreira interna da empresa e conhecer aquilo que ela representa para seus públicos. Saber o que os consumidores, a sociedade e a comunidade em que a empresa está inserida pensa sobre ela é fundamental, afinal, nem sempre aquilo que a empresa acredita ser é percebido por seus públicos. Os significados sociais de uma marca, construídos no âmbito da imagem, são de extrema importância para o desenvolvimento de toda sua comunicação, pois, como afirma Kotler (1998, p.529), “imagem é o conjunto de crenças, ideias e impressões que uma pessoa mantém em relação a um objeto. As atitudes e as ações de uma pessoa em relação a um objeto são altamente condicionadas pela imagem desse objeto”. Bueno (2012, p.22) complementa esse conceito ao afirmar que: A imagem corporativa é a representação mental de uma organização construída por um indivíduo ou grupo a partir de percepções e experiências concretas (os chamados momentos de verdade), informações e influências recebidas de terceiros ou da mídia. Ela se constitui numa síntese integradora, que acumula aspectos cognitivos, afetivos e valorativos, e expressa a “leitura”, ainda que muitas vezes superficial, incompleta ou equivocada, da identidade corporativa de uma organização. A comunicação empresarial deve saber trabalhar nessas duas dimensões, no campo da identidade e da imagem empresarial, valorizando cada uma delas quando for necessário. A imagem, em muitos casos, demanda muito mais atenção durante o trabalho do comunicador com seus públicos externos, pois os aspectos intangíveis e simbólicos precisam ser levados em consideração na construção desse tipo de relacionamento. Pinho (1996) comenta que a construção de uma marca é muito importante para seu posicionamento mercadológico e para a economia, de maneira geral, pois produtos e marcas fortes despertam o interesse do consumidor que efetiva o ato de compra, concretizando o principal processo do sistema capitalista. Nesse cenário, o autor explica que a imagem de uma marca é construída por meio de diferentes caminhos e a publicidade, por ser uma forma de comunicação diretamente voltada para o público externo, é um dos recursos de maior importância nessa construção (apesar de não ser o único). 46 A imagem da marca é construída por meio de diversas fontes: informações veiculadas pelos meios de comunicação, experiência no uso do produto, embalagem, identidade da empresa, promoção de vendas, propaganda, publicidade, relações públicas. Entre elas, a publicidade é um importante componente da marca e, por sua natureza, constitui ferramenta essencial no processo de construção da imagem da marca. Como atividade de comunicação, a publicidade destaca-se tanto pelo elevado grau de controle que permite sobre as mensagens quanto pelo poder de penetração e convencimento junto aos consumidores e público em geral. (PINHO, 1996, p.51) Para transmitir mensagens e valores simbólicos de forma efetiva, as marcas precisam ser desejadas e devem manter esse desejo do consumidor como algo permanente. A imagem que os públicos têm das marcas é o fator impulsionador de construção desse universo de consumo conspícuo, já que, na atual sociedade, é possível dizer que consumir marcas se tornou, em alguns casos, mais interessante que consumir produtos. Muitas empresas são conhecidas como “amiga das crianças”, “ecologicamente correta”, “robustas”, “elegantes”, “alegres” e esses “títulos”, em muitos casos, não estão diretamente relacionados ao produto ou serviço que comercializam, mas à ideia ou à sensação que transmitem para a sociedade. Esse imaginário é construído por meio de posicionamentos sociais, discursos, políticas administrativas, ações publicitárias e pela apropriação social que os consumidores fazem das marcas. O consumo simbólico de bens, produtos e marcas é uma prática que impulsiona tanto as relações entre os indivíduos quanto entre esses e as empresas (economia). Os significados que as pessoas dão para os produtos fazem parte de sua vida cotidiana e não podem ser deixados de lado quando se analisa o contexto social do consumo. O consumo de bens é utilizado como um aspecto de diferenciação social, já que consumir determinado produto pode garantir para a pessoa uma característica que ela não possuía antes de ter a posse do objeto. Por meio do consumo de determinadas marcas torna-se possível adquirir um estilo de vida “radical”, “sustentável”, “sofisticado” ou “jovem e moderno”, como exemplifica Shimp (2002, p.38): Os apelos a necessidades simbólicas incluem aquelas voltadas para os desejos que o consumidor tem de autovalorização, participação em grupos, afiliação e integração. O gerenciamento de conceito de 47 marca voltado para as necessidades simbólicas tenta associar o uso da marca com o grupo, o papel ou a autoimagem desejados. Para se posicionarem socialmente, filiando-se ou distanciando-se de um grupo, os indivíduos passam a consumir certas marcas, de maneira a agregar o conceito da empresa (sua identidade e imagem) à sua vida. Essa simbologia adquirida passa a permear a personalidade e o estilo de vida do indivíduo, que crê no fato se ser “mais saudável” por consumir determinada barra de cereal, mais “moderno” por possuir determinada marca de celular ou mais “sofisticado” por ter um carro específico. No cotidiano da atualidade, o consumo simbólico de produtos existe tanto quanto o consumo funcional e, muitas vezes, ultrapassa este. Essa dinâmica passa a ser a dinâmica social, e os estrategistas que atuam no gerenciamento de marcas estudam esse comportamento dos indivíduos e trabalham para a solidificação dessa prática, explorando cada vez mais a imagem social que a marca e a empresa possuem. Tudo o que a empresa faz e que tem impacto na percepção do consumidor deve ser planejado com o objetivo de se desenvolver uma posição desejada, o que inclui não apenas decisões estratégicas relacionadas ao produto em si e a sua comunicação, mas também a sua marca, a sua política de preço e a seu sistema de distribuição entre outros aspectos. [...] Os atributos intangíveis passam a ser, assim, muito importantes no sentido de buscar um posicionamento no mercado. (YANAZE, 2011, p.86) Quando identifica e aceita o discurso vindo da empresa, o consumidor entra em sintonia com a mensagem transmitida pela marca e passa a desejá-la da maneira que esta se posiciona no mercado. O desejo de consumi-la e de experimentar todas as sensações prometidas pela marca atinge o consumidor de maneira direta. Por outro lado, em alguns casos, é a própria dinâmica social que cria a simbologia para a marca. É a interpretação que a sociedade faz de determinada marca ou empresa que cria o seu aspecto intangível, sendo que essa apropriação social pode ser voltada para o lado negativo ou positivo, fortificando um desejo da empresa ou arrasando com todas as expectativas administrativas. De nada adianta uma empresa divulgar incessantemente as características intangíveis de seus produtos se os seus públicos não a percebem dessa maneira. É preciso que os profissionais de comunicação entendam essa via de mão dupla e compreendam que a carga simbólica das marcas é construída tanto pelos discursos e ações comunicacionais da empresa, quanto pela percepção e utilização do consumidor. 48 Esse universo simbólico que existe no consumo de marcas, produtos e serviços precisa ser conhecido, estudado e explorado pelas empresas. Iniciado no campo da imagem, ele avança para o âmbito da reputação empresarial, um espaço mais profundo dentre aqueles que compõem o universo empresarial. A reputação das empresas envolve a história, a missão, os valores, suas políticas e relacionamentos com públicos internos e externos, os produtos e serviços oferecidos e a imagem que a empresa detém em âmbito social. A reputação, finalmente, é uma representação mais consolidada, mais amadurecida, de uma organização, embora, como a imagem, se constitua numa percepção, numa síntese mental. Poderíamos dizer que a reputação é uma leitura mais aprofundada, mais nítida, mais intensa de uma organização e que, na prática, apenas um número reduzido de organizações chega a ser contemplada com este nível de representação. (BUENO, 2012, p.24) Enquanto a imagem pode ser construída com poucos contatos com a marca (ou com a empresa) ou pela percepção social que o indivíduo - ou um grupo pequeno de pessoas – tem da empresa, “a reputação se constrói a partir de vivências, conhecimentos, experiências mais fortes e é mais difícil, se não impossível, alterá-la” (BUENO, 2012, p.25). Assim, os profissionais de comunicação organizacional precisam ter conhecimento profundo da identidade, da imagem e da reputação das empresas em que atuam. É necessário ir além da cadeia produtiva e da identificação dos públicos primários, aprofundando-se nos aspectos simbólicos que formam o posicionamento social da empresa. Para que uma marca ou empresa consiga transmitir as suas mensagens com eficiência, é preciso que o trabalho comunicacional seja realizado em todos esses universos, levando-se em consideração todas as particularidades e alinhando um discurso que seja único e sinérgico entre todos os departamentos da empresa e para todos os seus públicos. Portanto, os executivos devem estar totalmente atentos ao enorme impacto da identidade, da imagem e da reputação, e devem aprender a gerenciar esses recursos críticos. Uma organização com uma identidade corporativa clara, que represente sua realidade subjacente e esteja alinhada com as imagens partilhadas por todos os seus públicos, será beneficiada com uma reputação forte. Uma reputação bem estabelecida, por sua vez, converte-se em orgulho e compromisso – entre os funcionários, consumidores e o público em 49 geral – e essas qualidades são ativos insubstituíveis em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo em escala global. (ARGENTI, 2006, p.103) Na citação anterior, ao avaliar a importância do gerenciamento da identidade, imagem e reputação de uma empresa, Argenti (2006) menciona dois aspectos que merecem maior discussão: o fato de a empresa ter imagens (no plural) e a importância desse gerenciamento todo para empresas que atuam no ambiente global. Ao ter consciência da ligação entre a imagem de uma empresa e a percepção que seus públicos têm dela, os profissionais que atuam nesse segmento precisam entender que esse grupo chamado “públicos” é bastante heterogêneo. A primeira diferenciação aparece no fato de a empresa manter contato com diferentes grupos de interesse. Os fornecedores podem enxergar a empresa de forma distinta de seus funcionários; estes trabalham para uma organização que pode ser vista de uma maneira internamente e de outra forma pela comunidade localizada ao seu redor. Esta comunidade, por sua vez, pode ter um conceito sobre essa empresa totalmente diferente daqueles que consomem seus produtos. Enfim, por se tratar de um “elemento” social, com posicionamento e funções sociais distintas para grupos variados, as empresas passam a ter diferentes imagens, e não apenas uma imagem concisa e facilmente administrável. A partir deste ponto, é preciso avançar e compreender que, mesmo dentro desses grupos distintos, existe também uma diferenciação. Por exemplo, um funcionário que atua na parte administrativa da matriz da empresa pode ter uma percepção diferente daqueles que atuam na produção de uma unidade localizada em outro estado do país. Ou ainda, a relação que a empresa mantém com um fornecedor pode ser diferente daquela mantida com outro, o que pode gerar diferentes imagens dentro do mesmo grupo “fornecedores”. Quando esse detalhamento avança sobre o grupo de consumidores, a situação pode ficar mais complexa e exigir mais atenção. Como mencionado anteriormente, o consumo de produtos pode ser identificado, cada vez mais, não só como um consumo de objetos, mas também de simbologias. Esse consumo conspícuo faz com que a carga simbólica de um produto ou de uma marca varie entre grupos de consumidores. Uma marca pode ser altamente desejada por determinada classe social e rejeitada por outra; em outros casos, um produto extremamente apreciado em um país pode ser recusado por outra população. O conhecimento das idiossincrasias dos grupos é extremamente importante para uma 50 empresa que atue em diferentes mercados, ainda mais se essa atuação for em esfera global. A multiculturalidade dos povos exige que as empresas estudem as particularidades dos mercados em que atuam, não só com foco na economia e política, mas também com vistas para os padrões culturais e sociais de maneira profunda. Kotler (1998, p.159) comenta que “dentro do quadro global rapidamente mutante, os profissionais de marketing devem monitorar suas importantes forças ambientais: demográfica, econômica, natural, tecnológica, política e legal e sociocultural”. Kotler (1998, p.142-159) apresenta esses itens como os campos do macroambiente que devem ser observados com cuidado pelas empresas que pretendem atuar em novos mercados. Os ambientes econômico e político legal, respectivamente, dizem respeito ao mercado em si e à situação financeira e poder de compra da população, bem como às leis, grupos de pressão e cenário político da região em que a empresa pretender atuar. O ambiente natural refere-se, direta ou indiretamente, aos recursos naturais, como possibilidade de escassez de matériaprima, custo de energia, influência de fatores climáticos na produção, papel do governo e da sociedade civil em relação à proteção ambiental, entre outros. Já os ambientes demográfico e sociocultural estão ligados aos hábitos, desejos e influências de consumo e aos valores culturais da sociedade (como normas, crenças, valores e visão de mundo). Estes últimos são aqueles capazes de conduzir de maneira evidente o consumo simbólico de produtos e marcas, pois, como analisa Kotler (1998, p.155), “a sociedade em que as pessoas se desenvolvem molda suas crenças, valores e normas. As pessoas absorvem, quase inconscientemente, uma visão de mundo que define seu relacionamento consigo mesmas, com os outros e com o universo”. Esse estudo do macroambiente deve ser efetuado a fim de serem detectadas as oportunidades e ameaças que a empresa encontrará e servir de subsídio para que ela avalie suas forças e fraquezas mercadológicas. Fazer esse tipo de análise (chamada de análise SOWT 1 por profissionais de marketing) é fundamental para que o planejamento estratégico seja desenvolvido e as ações comunicacionais e mercadológicas criadas. Além de conhecer a si mesma, é preciso que a empresa tenha 1 A sigla SOWT refere-se a Strengths, Opportunities, Weaknesses e Threats, que, em português, significa Força, Oportunidade, Fraqueza e Ameaça (FOFA). Essa análise tem como objetivo verificar o ambiente em que a empresa pretende atuar, bem como a ela própria, para que seja elaborado um planejamento estratégico de gestão. As forças e fraquezas são elementos de análise interna, da própria empresa, já as ameaças e oportunidades dizem respeito à análise externa, do ambiente. 51 consciência do seu local de atuação e das características (desejos, hábitos, valores) de seus públicos. Com essas informações em mão, o planejamento segue seu desenvolvimento, sempre com vistas à efetivação de uma comunicação integrada que leve a marca para alcançar os objetivos desejados pela empresa. 1. A comunicação integrada e sua importância para a gestão organizacional Como visto, a comunicação organizacional diz respeito ao gerenciamento das mensagens que uma empresa (marca) vai divulgar para seus públicos de interesse. Essas mensagens buscam solidificar a identidade da empresa e construir uma imagem e uma reputação baseadas em aspectos positivos do ponto de vista comunicacional e administrativo. Devido à pluralidade de públicos com os quais uma organização mantém relacionamento, a transmissão das mensagens por ela produzidas também se torna variada, podendo ocorrer por meio de um comercial de TV, um patrocínio, uma embalagem, uma promoção, um garoto propaganda, uma referência em material jornalístico, entre outros. Essas diferentes formas de transmissão de uma mensagem são realizadas por profissionais com especialidades variadas no campo da comunicação, como o jornalismo, a publicidade e as relações públicas. Os publicitários são os profissionais responsáveis prioritariamente pelo desenvolvimento da comunicação com os públicos consumidores, que figuram entre os públicos externos formados também por jornalistas, investidores, sindicalistas, governos, ongs e a sociedade como um todo. A conquista de novos mercados, o lançamento de um produto, a divulgação de um evento ou a elaboração de uma campanha de posicionamento institucional são exemplos de atividades realizadas pelos publicitários. Esses profissionais possuem grande conhecimento sobre mercados, comportamento do consumidor e quais as melhores ações (tanto do ponto de vista estratégico, quanto nos aspectos criativos) para conquistar e encantar os consumidores, atingindo os objetivos mercadológicos das empresas. Os jornalistas atuam no campo empresarial desenvolvendo as produções institucionais com características jornalísticas, como jornais, revistas e publicações em geral. Atuam ainda como assessores de imprensa, fazendo o gerenciamento do relacionamento da empresa com os veículos de comunicação e com outros públicos externos, como sindicalistas, governos, entre outros. Nessa atividade, os jornalistas 52 que atuam dentro das empresas oferecem para os jornalistas que trabalham nas redações de jornais, revistas, sites, programas de rádio e TV os conteúdos produzidos institucionalmente, a fim de conseguirem uma colocação da empresa (ou de seus representantes) como notícias ou como fontes para entrevistas. Já os profissionais de relações públicas atuam mais fortemente no âmbito da comunicação com diferentes públicos, inclusive os internos. A preocupação com a comunicação interna da empresa, bem como com a cultura e clima organizacionais, faz parte do dia a dia desses profissionais. O gerenciamento das diferentes formas de executar essa comunicação com excelência (como eventos, palestras, campanhas, jornais internos etc.) são responsabilidade desses profissionais. Além desses três grupos de profissionais bastante conhecidos, outros atuam no âmbito empresarial, como designers, webdesigners, produtores de vídeos, analistas de redes sociais, entre outros. Apesar de atuarem em atividades bem específicas, todos esses profissionais devem ter em mente que a sinergia e a integração de suas ações são fundamentais para que a comunicação como um todo seja feita com sucesso. Essa integração de atuações é a base do conceito de comunicação integrada que defende a necessidade de uma comunicação totalmente unificada entre os setores institucionais, administrativos e mercadológicos de uma empresa, como explica Kunsch (2003, p.150): Entendemos por comunicação integrada uma filosofia que direciona a convergência das diversas áreas, permitindo uma atuação sinérgica. Pressupõe uma junção da comunicação institucional, da comunicação mercadológica, da comunicação interna e da comunicação administrativa, que forma o mix, o composto da comunicação organizacional. Esta deve constituir uma unidade harmoniosa, apesar das diferenças e das peculiaridades de cada área e das respectivas subáreas. A convergência de todas as atividades, com base numa política global, claramente definida, e nos objetivos gerais da organização, possibilitará ações estratégicas e táticas de comunicação mais pensadas e trabalhadas com vistas na eficácia. (KUNSCH, 2003, p.150) Compreender o que cada uma dessas áreas faz é fundamental para que a integração se estabeleça. A comunicação institucional trata dos assuntos relacionados à empresa e à marca de maneira geral. Fatores como a identidade, a imagem e a reputação são trabalhados nesse âmbito. Definições e aplicabilidade da missão, visão e valores da empresa também fazem parte desse universo. A comunicação 53 administrativa abrange os processos e fluxos de comunicação dentro do ambiente das empresas. Busca facilitar o entendimento das questões institucionais por parte dos colaboradores, bem como auxiliar no trânsito de informações, normas, regras e procedimentos dentro da organização. Já a comunicação mercadológica aborda a comunicação da empresa com o mercado (consumidores, concorrentes e sociedade em geral). Aqui, as ações publicitárias ganham destaque, porém, não são a única forma de atuação, já que os profissionais têm procurado alternativas inovadoras para contatar seus públicos. É importante ressaltar que esses campos da comunicação devem ser trabalhados no âmbito interno e externo, pois todos os públicos de interesse da empresa (funcionários, acionistas, fornecedores, clientes, comunidade etc.) devem receber informações de maneira direcionada, com a escolha adequada do conteúdo a ser divulgado e do meio de divulgação. A integração de uma equipe, com atuação multidisciplinar, tem como objetivo essencial fazer com que o discurso da comunicação seja único. Não importa com qual público se deseja estabelecer uma comunicação ou de qual forma ela será executada. No conceito de comunicação integrada, o importante é o alinhamento do conteúdo (o que não deve significar um “engessamento” criativo). Essa atuação exige muita sintonia entre os profissionais da área e a empresa como um todo para que uma mesma mensagem seja transmitida em diferentes mídias, para diferentes públicos, por meio de diferentes estratégias sem que seja perdido o foco central. Comunicação Integrada consiste no conjunto articulado de esforços, ações, estratégias e produtos de comunicação, planejados e desenvolvidos por uma empresa ou entidade, com o objetivo de agregar valor à sua marca ou de consolidar a sua imagem junto a públicos específicos ou à sociedade como um todo. (BUENO, 2013, on-line). Yanaze (2011) avalia que, para o planejamento de comunicação atingir os objetivos desejados, é preciso que a empresa se empenhe em investir e integrar todos os seus processos de maneira geral, que o autor chama de “os 3 PUTS”: inputs, throughputs e outputs. Os inputs dizem respeito àquilo que entra na empresa, os insumos, matéria-prima e todos os elementos que serão adquiridos para depois se transformarem em seu próprio produto; throughputs referem-se à produção da empresa, sua estrutura, seus processos internos, enquanto os outputs compõem tudo 54 aquilo que a empresa oferece à sociedade, e são formados pelos quatro Ps: produto, preço, praça (distribuição) e promoção (comunicação). O autor considera que somente com essa integração global de todas as etapas e fases é que a comunicação poderá ser realizada integradamente, de maneira a garantir as satisfações mercadológicas da empresa. É comum limitar a comunicação à intencionalidade de se promover o produto, de valorizar a marca, de desenvolver e reter clientes, de formar imagens positivas etc. Ou seja, a abordagem, na maioria dos livros, se restringe à comunicação a serviço dos outputs. No entanto, entendemos que nada disso é plenamente eficaz se não trabalharmos adequadamente a comunicação no âmbito dos inputs e throughputs. (YANAZE, 2011, p.332) Kotler (1998) também considera que a comunicação de uma empresa, seja de qual segmento for, deve ir muito além dos processos que envolvem a colocação dos produtos no mercado e suas vendas. O autor acredita que a empresa deve posicionarse como uma comunicadora que utiliza diferentes estratégias para estabelecer um contato direto e relacional com seus diferentes públicos, garantindo sucesso em áreas variadas do universo empresarial. Marketing moderno exige mais do que desenvolver um bom produto, estabelecer um preço atraente e torná-lo acessível aos consumidores-alvos. As empresas devem também comunicar-se com seus consumidores atuais, potenciais, varejistas, fornecedores, outros stakeholders e o público em geral. Inevitavelmente, qualquer empresa assume o papel de comunicadora e promotora. Para a maioria das empresas, o problema não é se elas devem ou não comunicar, mas ao contrário, o que dizer, a quem e em que frequência. (KOTLER, 1998, p.526) Essa forma de compreender a comunicação de uma empresa como elemento estratégico da gestão leva ao entendimento de que é necessária uma articulação de ações não apenas entre os departamentos de comunicação, mas também (e principalmente), entre todos os setores da empresa. É preciso que os profissionais de comunicação tenham acesso total aos objetivos e estratégias administrativos, como mercados a serem alcançados, produtos em desenvolvimento, quem são os fornecedores, o tipo de matéria-prima utilizado, os planos de carreira de funcionários etc., pois só assim a comunicação será verdadeiramente integrada e eficaz. Somente com essa ligação estratégica é que a imagem de uma marca ou de um produto poderá 55 ser construída de maneira sólida e com nitidez, possibilitando o estabelecimento de um laço leal e duradouro com seus públicos de interesse. É preciso que toda a empresa faça parte dessa integração, pois elementos que podem parecer distantes do ponto de vendas (como a escolha de um tipo de fornecedor) acabam por influenciar na escolha de compra de consumidores bem informados. Sob esse ponto de vista, Markus (2012) explica ser necessário que os conceitos maiores que dizem respeito à missão, visão e valores de uma empresa permeiem todo o processo de comunicação organizacional e não fiquem de fora do planejamento de nenhuma ação comunicacional, seja ela uma promoção para aumentar o volume de vendas, seja para lançar um novo produto, sob pena de não ser executada uma atuação verdadeiramente integrada. Se deslocarmos nossos olhares para a marca organizacional, imediatamente receberemos um fluxo de informações que advém do trinômio Missão, Visão e Valores. Não seria esta garantia, um terceiro eixo além do horizontal e do vertical, um eixo z, que poderia referendar que a integração deu-se em sua plenitude máxima? Em outras palavras, a Comunicação Integrada se dá quando todas as ações comunicacionais da organização “conversam entre si”, horizontalmente e verticalmente, e estão aliadas ao que a marca organizacional comunica. (MARKUS, 2012, p.60) Como percebido até aqui, o conceito de comunicação integrada é profundo e complexo, envolvendo todos os setores e estratégias que fazem parte da vida empresarial. O fato de uma campanha utilizar as mesmas imagens, textos e tipologia em diferentes mídias não significa que a comunicação dessa marca seja essencialmente integrada, como explica Kunsch (2003, p.180): A comunicação organizacional integrada deve expressar uma visão de mundo e transmitir valores intrínsecos, não se limitando à divulgação dos produtos ou serviços da organização. Deve contribuir, por meio de uma sinergia da comunicação institucional, mercadológica, interna e administrativa, para a construção de uma identidade corporativa forte e sintonizada com as novas exigências e necessidades da sociedade contemporânea. Ainda nessa mesma direção, Alves (2008) considera que a integração da comunicação acontece em três níveis. O primeiro diz respeito ao planejamento estratégico que, de maneira geral, determina o caminho para atingir os objetivos organizacionais e as estratégias e ações para estabelecer os relacionamentos com os 56 diferentes públicos. Esse nível está ligado às formas comunicacionais da organização, que reproduzirão “o comportamento da organização frente aos seus ambientes” (ALVES, 2008, p.18-19). O segundo nível refere-se à integração entre a comunicação administrativa, interna e institucional, campo responsável pela identidade e imagem da empresa, expressas pela missão, visão, valores e cultura organizacional. Já o terceiro nível trata da relação entre a comunicação mercadológica, por meio da comunicação integrada de marketing (CIM) e a comunicação institucional. O autor destaca que as competências comunicacionais no campo do marketing devem ser trabalhadas em equilíbrio com a comunicação institucional, defendendo que todas as formas de comunicação organizacional são (ou deveriam ser) integradas e não apenas aquelas realizadas no campo do marketing, não sendo necessária, para ele, a ênfase apenas nessa modalidade comunicacional (ALVES, 2008, p.25-26). A preocupação em integrar toda a comunicação mercadológica, muitas vezes refletida nas peças publicitárias, é importante para que se obtenham os resultados desejados no processo comunicacional com o público externo, contudo, ela não é suficiente para que se fale em comunicação integrada sob uma ótica mais ampla, como foi colocado pelos autores citados. A preocupação com uma comunicação integrada ultrapassa o campo da publicidade e das ações voltadas para impulsionar as vendas, (realizadas no campo do marketing), sendo considerada quase uma forma de administrar, um aspecto filosófico que deve permear todo o processo administrativo. Em momento algum deixa de ser observado que todo o processo de comunicação de uma empresa tem como objetivo o seu sucesso mercadológico que, objetivamente, em um sistema capitalista, significa “lucro”. O que se apresenta aqui é a defesa de que apenas focar o trabalho de integração da comunicação no campo do marketing e das vendas pode ser uma limitação do seu poder de atuação, considerando que todas as formas de posicionamento corporativo (de marcas, produtos ou serviços) podem levar ao ato final de compra, seja de maneira direta ou indireta. É importante trabalhar em todos os níveis da comunicação, explorando as potencialidades da comunicação institucional e administrativa, interna e externamente. Sobre essa atuação mais ampla da comunicação integrada, Kunsch (2003, p.179) considera: 57 Nossa proposta sempre tem sido demonstrar que a comunicação integrada precisa ser entendida como uma filosofia capaz de nortear e orientar toda a comunicação que é gerada na organização, como um fator estratégico para o desenvolvimento organizacional na sociedade globalizada. A autora ainda complementa: A importância da comunicação organizacional integrada reside principalmente no fato de ela permitir que se estabeleça uma política global, em função de uma coerência maior entre os diversos programas comunicacionais, de uma linguagem comum de todos os setores e de um comportamento organizacional homogêneo, além de se evitarem sobreposições de tarefas. Com um sistema integrado, os vários setores comunicacionais de uma organização trabalham de forma conjunta, tendo ante os olhos os objetivos gerais e ao mesmo tempo respeitando os objetivos específicos de cada setor. Trata-se de uma gestão coordenada e sinérgica dos esforços humanos e organizacionais com vistas na eficácia. (KUNSCH, 2003, p.180) A visão mais abrangente da comunicação integrada, que tem como objetivo efetivar a integração da organização de maneira a contemplar todos os processos administrativos (desde a compra de matéria-prima e a escolha de fornecedores, passando pelas relações com os funcionários e acionistas, até o contato com a sociedade em geral e com seus consumidores) é a posição defendida nesta pesquisa. Acredita-se que, sem o envolvimento total dos profissionais de comunicação no cenário organizacional como um todo, não é possível realizar com competência as ações de comunicação que têm como objetivo auxiliar no posicionamento mercadológico da empresa. Todas as etapas, processos e estratégias que envolvem o universo organizacional devem ser de conhecimento do setor de comunicação, caso contrário, a empresa corre sério risco de não se sustentar no mercado, em curto, médio ou longo prazo. Não importa o segmento de atuação da empresa, em um mundo conectado, em que o gerenciamento de conteúdos informacionais tem grande relevância social e econômica, e o acesso a informações está cada vez mais facilitado e interligado. Os departamentos de comunicação devem ser vistos como fundamentais em qualquer empresa e devem ter destaque dentro dos organogramas, atuando de maneira efetiva no dia a dia da organização. Tomando como base os conceitos apresentados no capítulo anterior desta pesquisa, é importante avançar o estudo sobre a teoria e a prática da comunicação 58 organizacional realizada na atual sociedade digitalizada. Considerando as organizações como elementos vivos, capazes de influenciar e de ser influenciadas pelas trocas relacionais desenvolvidas no campo social, e sendo o universo digital um dos campos de análise desta pesquisa, este capítulo passa a dedicar-se à comunicação organizacional realizada por meio de redes digitais. 2. Organizações se comunicando em um mundo conectado por redes digitais A necessidade de serem estabelecidas estratégias e práticas de comunicação integrada dentro do ambiente organizacional deve ser compreendida por todos os níveis hierárquicos da empresa, sendo esse o principal desafio dos setores de comunicação. Com essa etapa superada, acreditando-se que a comunicação da empresa efetivamente passa pelos inputs, throughputs e outputs e que os representantes desse setor ocupam um lugar de destaque no organograma, uma das principais preocupações dos profissionais de comunicação organizacional passa a ser a elaboração das mensagens e sua correta divulgação. A escolha dos canais certos para cada um dos públicos é determinante para que a transmissão do conteúdo alcance os resultados esperados. As mensagens divulgadas por uma empresa ou marca devem ser analisadas, essencialmente, sob três pontos: 1) os conteúdos pelos quais são formadas, 2) para quais públicos são direcionadas e 3) quais os objetivos esperados de cada uma delas. Esse tipo de análise tem como objetivo garantir que não sejam desperdiçados esforços ou realizados gastos financeiros desnecessários. Cada uma das formas de contato entre a empresa e os seus públicos deve ser usada de acordo com a sua especificidade. Jornais, revistas e informes institucionais devem ser priorizados para a comunicação com o público interno, com fornecedores e com consumidores que já estão em contato com a marca. Esse tipo de comunicação tem como objetivo apresentar um conteúdo jornalístico, relacionado ao universo da marca, com o propósito de fidelizar e manter o relacionamento com seus diferentes públicos com base na divulgação de informações. As campanhas publicitárias (em todas as suas formas de manifestação) atuam no campo direto do consumo, estimulando o ato efetivo da compra. A sua prática prioritária está relacionada à divulgação de produtos, serviços e marcas e ao incentivo 59 para que o consumidor se direcione ao ponto de vendas, contudo, elas também podem atuar no campo da divulgação institucional que não visa diretamente a um aumento no volume de vendas, mas a um posicionamento mercadológico e à fidelização das marcas. Os eventos são outra forma de fortificar a relação entre a empresa e seus públicos. Priorizando a experiência, a vivência e a exploração dos sentidos do consumidor, os eventos estreitam os laços desse relacionamento, fazendo com que o público se envolva cada vez mais com a marca. Nessa mesma linha, aparecem os patrocínios. Muito utilizados nos universos cultural e esportivo, os patrocínios permitem à empresa associar sua marca a algo de interesse de seus públicos, como um clube, um atleta, um show, uma exposição, entre outros, fazendo com que seus públicos de interesse simpatizem ainda mais com a marca. Como já mencionado neste capítulo, a publicação de conteúdo relacionado à empresa ou a divulgação de seus representantes em veículos de comunicação (jornais, revistas, sites, rádios e televisão) também são uma forma de transmitir conteúdo organizacional e manter viva a presença da marca no dia a dia do consumidor. Esse trabalho, realizado por assessores de imprensa, tem por objetivo fazer com que a organização apareça de alguma forma nos conteúdos da imprensa, o que permite a associação da marca à credibilidade jornalística, algo que não se conquista com a compra de espaço publicitário. Além do uso das mídias tradicionais, as organizações têm explorado cada vez mais o universo digital para estabelecer contato com seus públicos. Sites, e-mail marketing, banners e redes sociais digitais são as formas mais utilizadas para manter relacionamento com um público que se interessa por conteúdos criativos e interativos e está conectado à internet muitas horas do seu dia, seja por meio de plataformas fixas (desktops e Smart TVs) ou móveis (notebooks, celulares e tablets). A definição da melhor forma de contato entre a organização e a sociedade acontece por meio da elaboração do planejamento estratégico, que tem como objetivo maior determinar as estratégias e ações que serão realizadas pela empresa, a fim de atingir os objetivos mercadológicos desejados. Assim, para se comunicar com um público que vivencia cada vez mais a experiência virtual, a conexão em redes e as facilidades proporcionadas pela internet, é preciso que os profissionais de comunicação organizacional compreendam muito bem as dinâmicas do ambiente digital. Não se pretende aqui defender que as mídias tradicionais não mais serão 60 utilizadas como meios de comunicação organizacional; o que se objetiva neste espaço é a exploração dos conceitos e práticas relacionados ao ambiente digital, que ainda possui lacunas e abre possibilidades de investigação, devido à sua presença social recente se comparada aos outros meios de comunicação. O universo digital tem invadido cada vez mais a vida social. Como discutido no capítulo anterior, é cada vez menor o volume de trocas informacionais que não perpassam pelas tecnologias digitais. Os bancos de dados e as conexões proporcionadas pela internet permitem uma experiência comunicacional diferenciada daquela existente nas chamadas mídias tradicionais (como o rádio, a TV e os impressos). A interatividade, a bidirecionalidade, as participações nas construções dos conteúdos e o uso de plataformas múltiplas são alguns dos aspectos que determinaram essa “nova” forma de comunicar. Emprega-se o termo “novo” com certo cuidado, pois os objetivos e a essência da comunicação ainda permanecem os mesmos: alguém dizendo algo para alguém. O fator inovador encontra-se na variedade de formas e formatos em que esse processo pode ser realizado. A união dos meios de comunicação tradicionais com as novas tecnologias permitiu a identificação de um novo cenário, em que as mídias se convergem, proporcionando novas possibilidades comunicacionais. A evolução tecnológica desencadeou o processo de convergência das mídias, assim como estimulou o crescimento da produção e do consumo transmidiático, ou seja, do trânsito de uma mídia para outra, em que um mesmo conteúdo é transposto para diferentes mídias e em que cada mídia desempenha o seu papel da melhor maneira possível. (SANTAELLA; MENDONÇA, 2014, p.22) Essa convergência é mais do que uma mudança tecnológica e pode ser considerada uma nova forma de pensar e fazer a produção, a distribuição e o consumo de conteúdos midiáticos. “Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando” (JENKINS, 2008, p.27). A convergência entre os meios (tradicionais e digitais) pode ser caracterizada pela possibilidade de ampliação de canais para a troca dos fluxos de comunicação, o que corrobora uma mudança de paradigma na forma de produzir os conteúdos. Quanto maior for a capacidade de o conteúdo adaptar-se em diferentes meios, maior será a probabilidade de sucesso na divulgação desse conteúdo. 61 É exatamente essa confluência entre novas tecnologias e a produção da informação como algo valioso que transforma a comunicação em algo diferenciado, pois as novas formas de comunicação dizem respeito às novas formas de produção e distribuição da comunicação, não abolindo nenhum princípio anterior, mas ampliando as possibilidades de armazenagem, articulação, distribuição e, paradoxalmente, a globalização e pulverização da informação. (GALINDO, 2008, p.5) Por esse novo paradigma tecnológico e midiático se ter instalado fortemente no âmbito social, influenciando suas práticas, não é possível supor que a comunicação organizacional de uma empresa (que admite para si os conceitos debatidos até aqui) não lance mão dos recursos digitais disponíveis e dos conceitos de convergência para divulgar as suas mensagens para seus públicos. O mundo on-line é implacável com os que não aderem a ele de imediato, criando rapidamente um fosso entre os que já mergulharam de cabeça no ciberespaço e aqueles que resistem – ou estão impedidos, por restrições financeiras, psíquicas ou culturais – a entrar no barco, temendo não serem conduzidos a um porto seguro. É como se o mundo estivesse cindido em duas partes. Numa delas, residem os que sabem navegar e que, portanto, estão capacitados a encontrar o caminho do paraíso; na outra, os que estão condenados ao insucesso. Parece radical, mas a contundência da afirmação serve para chamar a atenção dos desatentos: longe das novas tecnologias, as organizações e as pessoas só tendem a involuir. (BUENO, 2003, p.49). Sites, banners, posts, tweets, games e vídeos são possibilidades oferecidas para o desenvolvimento da interação comunicacional que passam a ser exploradas com frequência cada vez maior, e uma empresa que desenvolva ações de comunicação no ambiente digital precisa ter consciência de que este meio é, por natureza, diferente dos demais. O acesso à informação hoje começa na palma da mão das pessoas. Isso muda completamente a dinâmica do mercado: o consumidor passa a estar no centro das ações, num processo de “presença ativa” em meio às marcas. A marca passa a ser responsável pela “experiência receptiva” que pode proporcionar ao consumidor, depois da busca e contato com esta. Isso faz com que o planejamento do contato com o consumidor deva ser repensado em relação aos modelos tradicionais de uso de mídia. Se considerarmos que propaganda só acontece quando há propagação, para que se 62 propague hoje, deve estar ao alcance do consumidor, quando ele precisar. (GABRIEL, 2010, p.76) Nesse cenário digital, com possibilidades diferentes daquelas oferecidas pelas mídias tradicionais, as organizações precisam estar atentas ao novo papel desenvolvido pelo consumidor-internauta. É preciso levar em consideração que, nesse ambiente, a construção de conteúdos não está nas mãos de um único produtor e que o conteúdo da “rede mundial de computadores” é formado pela produção coletiva. Quanto mais pessoas colocarem suas ideias, textos, imagens, notícias, pensamentos, vídeos ou áudios na rede, mais conteúdo estará disponível. A cultura de participação é uma das características da rede e, sobre a presença e atuação desses múltiplos atores, Castells (1999, p. 440) considera: “A comercialização do espaço cibernético estará mais próxima da experiência histórica das ruas comerciais emergentes da palpitante cultura urbana que dos shoppings centers espalhados na monotonia dos subúrbios anônimos”. Os consumidores não precisam mais ficar esperando que a empresa os encontre e lhes ofereça seus produtos; ele mesmo é capaz de utilizar os recursos de busca e encontrar o ponto de venda mais próximo. A sociedade também não precisa mais esperar em frente à TV, e em silêncio, o posicionamento de uma empresa sobre determinada questão; as redes sociais digitais permitiram que a voz da opinião pública ganhasse mais força e que mais pessoas ouvissem aquilo que se comentava dentro dos lares ou em pequenas rodas de discussão. A participação e a colaboração parecem impulsionar um desejo de ser ativo em todos os segmentos sociais, e esse novo cenário tem muito a ver com as possibilidades oferecidas pelos recursos digitais e pela convergência midiática. Em sua análise sobre os impactos dessa mudança no campo da cultura, Jenkins (2008, p.228) comenta que esse novo paradigma social é desejado e aceito por muitos, mas também rejeitado por outros tantos. Em toda parte e em todos os níveis, o termo “participação” emergiu como um conceito dominante, embora cercado de expectativas conflitantes. As corporações imaginam a participação como algo que pode iniciar e parar, canalizar e redirecionar, transformar em mercadoria e vender. As proibicionistas estão tentando impedir a participação não autorizada; as cooperativistas estão tentando conquistar para si os criadores alternativos. Os consumidores, por outro lado, estão reivindicando o direito de participar da cultura, sob suas próprias condições, quando e onde desejarem. Este 63 consumidor, mais poderoso, enfrenta uma série de batalhas para preservar e expandir seu direito de participar. Santaella (2013) corrobora o pensamento de que o universo digital conectado impulsiona essa participação dos indivíduos na construção de conteúdos comunicacionais. Para a autora, Além de favorecer a circulação, as mídias sociais abrem espaço para a criação de ambientes de convivência instantânea entre as pessoas. Instauram, assim, uma cultura participativa, onde cada um conta e todos colaboram, portanto, uma cultura integrativa, assimilativa, cultura da convivência que evolui de acordo com as exigências impostas pelo uso dos participantes. (SANTAELLA, 2013, p.29) Essa possibilidade de participação dos usuários na construção dos conteúdos não se restringe ao campo das produções culturais ou de interesses particulares. Muitos são os textos, vídeos e animações sobre o universo empresarial que não foram produzidos pelas próprias organizações. Existem casos de consumidores-internautas que lançam mão de logos, cores e slogans de marcas na produção de seus conteúdos sem a prévia autorização da empresa. Em outras situações, os consumidores podem ser mais agressivos ao publicarem em seus perfis nas redes sociais digitais informações que não beneficiam em nada a imagem das empresas e suas marcas. O controle de acessos, cliques e informações é evidente, e tende a crescer dentro do ambiente digital. Esse controle, porém, não está unicamente associado ao ato de regular e comandar a distribuição de conteúdo, mas também, e principalmente, ao fato de monitorar e fiscalizar aquilo que é publicado. Apesar de parecerem semelhantes entre si, essas palavras possuem significados bastante diferentes nesse contexto, fazendo com que o termo “controle” ganhe mais uma conotação dentro das organizações que atuam no ciberespaço. Uma empresa pode ver aquilo que publicam sobre ela nas redes digitais, pode analisar se o conteúdo é positivo ou negativo e pode, ainda, trabalhar com ele, todavia, não pode impedir arbitrariamente sua publicação ou simplesmente punir quem o fez, sob pena de ver uma situação ruim transformar-se em péssima. Controlar, em muitos casos, passa a ser muito mais uma ação de “vistoria” e de fiscalização do que de domínio e regulação. Esse monitoramento, contudo, não pode ser visto como uma posição pacífica, de espectador. Ele é também um ato de ação, de proatividade, porém mais estratégico, que demandará mais análise para a definição de ações, do que 64 a simples negação ou proibição de publicação dos conteúdos produzidos pelos consumidores. Ficar fora desse ambiente digital não é uma alternativa inteligente por parte das empresas. Apesar de não ser possível controlar o tipo de conteúdo publicado a seu respeito, as empresas podem monitorálos de maneira eficaz, minimizando os impactos dos comentários negativos e exaltando todas as mensagens positivas sobre suas marcas. É preciso estar próximo do consumidor e vivenciar experiências no ambiente em que ele está e, para isso, é preciso atuar no ciberespaço com inteligência estratégica. (EHRENBERG, 2011, p.31) Nesse contexto, a bidirecionalidade e a possibilidade de diálogo efetivo podem ser consideradas características do ciberespaço e de grande importância para o campo da comunicação organizacional. Esse é o ambiente em que as empresas podem (e precisam) explorar o contato direto com seus públicos, a possibilidade de ouvi-los e atendê-los prontamente e de estreitar ainda mais o laço relacional. Uma empresa que não possui interesse em relacionar-se de maneira aberta com seus públicos, ouvindo elogios e críticas e agindo rapidamente toda vez que for solicitada, não pode abrir a porta para o relacionamento digital. É preciso que ela reavalie sua identidade, sua cultura organizacional e seus interesses mercadológicos, pois, sem transparência, agilidade e diálogo, ela não se comunicará com o público atual e estará correndo o risco de sofrer sérias consequências por essa má atuação no meio digital. A introdução das novas tecnologias no quotidiano das organizações tem provocado mudanças formidáveis no processo de gestão e, particularmente, nos processos comunicacionais. Os canais de relacionamentos com os públicos de interesse devem pautar-se, agora, por agilidade e interatividade, e os comunicadores organizacionais devem ter capacidade de estabelecer estratégias que levem em conta a potencialidade da Interne.t (BUENO, 2003, p.6061) Ainda sob o ponto de vista das mudanças necessárias nos conceitos que regem a comunicação das empresas, Galindo (2015, p.30) considera: A compreensão de que os anunciantes e profissionais de comunicação e o mercado começam a chegar a um denominador comum e que este denominador está na substituição das impressões por maior espaço às expressões do consumidor insere a premissa que as outrora transações individuais passam agora pela inevitável 65 somatória total das interações com o cliente, reconhecendo-o como um ser social, dotado de uma ampla rede de opiniões, interações, volições e manifestações que incidem na reputação das marcas e imagens corporativas, construídas coletivamente, e não apenas pelo que as empresas dizem ou mesmo acreditam. Em uma profunda análise sobre o perfil dos jovens consumidores que vivenciam experiências na internet e com novas tecnologias em geral, Tapscott (2010) aponta muitas características desse grupo que o diferem visivelmente de gerações passadas. O autor ressalta que o contato com as tecnologias digitais desde seu nascimento proporcionou aos jovens, chamados por ele de “geração digital”, uma nova forma de encarar a vida. A postura desses jovens em relação ao trabalho, família, consumo, meio ambiente etc. está diretamente ligada à presença das novas tecnologias em suas vidas, e sobre o interesse em dialogar com as empresas, atuando, inclusive, na criação de novos produtos, o autor destaca: Eles não aceitam essa abordagem unidirecional, pois foram imersos em comunicação bidirecional desde a infância. Foram criados em um mundo de marketing e de publicidade, por isso podem detectar uma proposta de venda enganosa em um segundo. Embora não sejam impermeáveis ao poder da publicidade, são mais competentes do que as gerações anteriores nos processos de filtragem, avanço rápido ou bloqueio de publicidade não solicitada. Conseguem comparar o comunicado da empresa com outras versões da mesma história e têm muitas maneiras de descobrir a verdade a partir de uma ampla variedade de fontes – que incluem os críticos da empresa. (TAPSCOTT, 2010, p.224) É evidente que esse tipo de característica aparece de maneira potencializada quando se avalia o grupo de jovens nascidos a partir da década de 1980, conhecidos como geração Y, Z, Net ou Digital. Não importa a nomenclatura adotada, o importante é ressaltar que esse grupo é bastante particular quando se avalia o perfil do consumidor, pois, como salientou Tapscott (2010), eles nasceram em um mundo em que as tecnologias digitais já existiam. Eles são considerados um público importante, pois sinalizam uma tendência de comportamento que tende a crescer e solidificar-se. Habituados em buscar, produzir e distribuir informações com extrema facilidade, os jovens passaram a compor um mercado que exige das empresas uma atuação dinâmica e atrativa no ambiente digital. Para esse público em especial é imprescindível manter o foco no desenvolvimento de ações interativas, inovadoras e que 66 proporcionem experiências únicas, como preveem os conceitos de marketing digital. (EHRENBERG, 2011, p.29) Apesar da grande atenção que o público jovem recebe quando o tema é a comunicação mercadológica realizada no ambiente digital, é preciso ter a consciência de que não é possível tomá-los como um perfil padrão de todos os consumidores, já que grupos específicos existem e muitas pessoas não exploram com a mesma intensidade os recursos disponíveis na rede. Ampliando a análise para pessoas de todas as idades, Cipriani (2011, p.2729) destaca como principais características do consumidor digital: utilizam novos canais on-line e novas ferramentas de comunicação; confiam nas recomendações feitas por amigos reais, virtuais ou até mesmo por estranhos; aumentam seu volume de compras on-line em relação às compras off-line; participam da rede manifestando opinião sobre produtos ou reclamando de suportes on-line; anseiam por um novo tipo de experiência com as marcas; procuram suportes para se conectar com pessoas com os mesmos interesses e ideias. Outro autor que se dedicou a traçar um perfil dos consumidores no ambiente digital foi Jaffe (2008, p.39-54), destacando dez características comuns entre eles. Para o autor, os consumidores digitais são inteligentes, emancipados, céticos, estão sempre “ligados”, não têm tempo a perder, são exigentes, infiéis, acessíveis, ditam tendência e são vingativos. Seguindo esse raciocínio, o de buscar traçar os perfis de comportamento das pessoas no ambiente digital, algumas empresas de pesquisa, agências de publicidade e agências especializadas em comunicação digital desenvolveram estudos que resultaram em classificações bastante interessantes. Os Perfis Digigráficos, criados em 2011 pela agência DM9DDB2, buscou entender, por meio de uma ampla visão social, a relação das pessoas com as tecnologias. Essa classificação se baseou em três questões elementares: a) quanto e como as pessoas utilizam os recursos e equipamentos de tecnologia em suas vidas; b) quais são os objetivos que as fazem consumir os produtos digitais; c) quanto os recursos digitais servem para moldar suas identidades. Com esse direcionamento, o estudo desenvolvido pela agência traçou cinco perfis: 2 Disponível em: <http://www.dm9ddb.com.br/?p=1982>. Acesso em jun. 2015. 67 Imersos: utilizam a tecnologia para definir parte de sua identidade e personalidade; Ferramentados: as tecnologias são aliadas para realizar atividades cotidianas, mas eles não as idolatram nem são completamente dependente delas; Fascinados: utilizam a tecnologia para parecerem modernos e tecnológicos, preocupam-se com sua imagem; Emparelhados: consideram a tecnologia como fundamental para desenvolver os seus projetos de vida; sem ela a vida ficaria muito complicada para esse grupo; Evoluídos: são as crianças e adolescentes que já nasceram adaptados ao mundo digital, sendo esse um ambiente natural para eles. Outro estudo interessante foi o desenvolvido pela empresa E.life3, em 2014, com um recorte mais focado para o relacionamentos das pessoas com as marcas. Por meio da observação do comportamento de 7 mil publicações feitas por internautas no Facebook e Twitter, sobre marcas dos segmentos de telefonia, bens de consumo, fastfood, bebidas e serviços em geral, a empresa traçou os seguintes perfis de consumidores/internautas: Agitadores: unem-se a outras pessoas para que, ao se manifestarem em conjunto, ganhem notoriedade. Costumam utilizar adjetivos exagerados, palavras de baixo calão e até piadas, principalmente em casos de crises; Amantes da marca: são os apaixonados pelas marcas; publicam conteúdos beneficiando e defendendo as marcas ou mostrando o quanto ela está presente em seu cotidiano. Funcionam como embaixadores das marcas; Colaboradores: dão opiniões, sugestões e diversas contribuições para o aperfeiçoamentos dos produtos e serviços; Decepcionados/traídos: são aqueles que relatam a sua insatisfação com os produtos ou serviços como uma forma de desabafo, sem fazer grandes alardes; Especialistas: são os internautas que buscam detalhes técnicos ou aprofundamento sobre os produtos; Pidões: costumam pedir descontos, brindes, amostras grátis, vagas de emprego etc. Pedem de maneira clara e objetiva ou usam argumentos como se fossem 3 Disponível em: <http://pt.slideshare.net/Elife2009/personas-quem-fala-com-as-marcas-nas-redessociais>. Acesso em jul. 2015. 68 “celebridades” ou mais importantes que os outros consumidores por possuírem um determinado cargo, por exemplo; Reclamões: são aqueles que costumam reclamar de maneira recorrente, tendo as suas reclamações anteriores atendidas ou não. Utilizam caixa alta para chamar atenção para os seu problemas; Tira-dúvidas: consumidores que buscam respostas para questões simples. Encontrar traços comuns de comportamento entre os consumidores facilita o entendimento do perfil geral dos públicos que as empresas encontrarão nos ambientes digitais conectados e é importante para que as empresas compreendam que, nesse ambiente, as pessoas agem de maneira particular, se comparado a outros espaços sociais e ao consumo de outras mídias. Contudo, é importante que cada empresa conheça em profundidade os seus públicos de interesse, pois essas características gerais podem ser pouco quando se planejam as estratégias e ações de comunicação no ambiente digital, pois “falar em relacionamento, hoje, é falar sobre um novo status entre os atores sociais, aliás, é falar sobre uma visão realista de interatividade, pois nunca foi tão possível o ato de tornar comum, de compartilhar e, portanto, de comunicar” (GALINDO, 2015, p.39). A preocupação com a escolha adequada do canal de distribuição das mensagens, sinalizado no início deste subitem, se faz presente, também, quando a comunicação acontece no meio digital. O ciberespaço e o público ali presente não podem ser encarados como uma massa única e homogênea. Eles possuem muitas nuances e detalhamentos que necessitam de especial atenção por parte de quem atua na comunicação organizacional. 2.1. As principais plataformas para contato com o público digital Existem diferentes caminhos e possibilidades de comunicação digital e cada um deles possui sua força e sua fraqueza, devendo ser utilizados para grupos determinados. A definição de qual plataforma digital utilizar deve ser realizada com base nos três itens tradicionais de análise já mencionados: qual é o conteúdo a ser divulgado, para qual público e qual a resposta esperada. Considerando que o profissional de marketing é um estrategista, é necessário que ele conheça cada uma dessas plataformas, tecnologias e estratégias digitais com suas respectivas peculiaridades, para poder usá-las da melhor forma em um 69 planejamento de marketing que atenda aos objetivos propostos. (GABRIEL, 2010, p.108-109) A partir desse pensamento, é possível considerar como fundamentais para a boa execução do trabalho de um profissional de comunicação organizacional o conhecimento e a análise das principais formas de contato oferecidas pelo ambiente digital. Sites Os sites foram a primeira forma de as empresas manterem contato pela internet com os seus públicos de interesse. Nesses espaços virtuais, é possível divulgar os aspectos relacionados à comunicação institucional, como missão, visão e valores da empresa, além de seus ramos de atuação, principais clientes atendidos e diferenciais mercadológicos. Apesar de o conteúdo dos sites não ser extremamente interativo, a internet em si possui essa característica, por isso, é preciso que os dados ali disponíveis estejam sempre atualizados e que as respostas sejam dadas com rapidez. Muitas empresas utilizam seus sites como um canal de vendas, empregando as tecnologias disponíveis para o e-commerce. Para atuar com esse tipo de serviço, é preciso que a empresa tenha estrutura adequada e esteja consciente de todos os elementos que envolvem o processo, para não prejudicar a imagem e os negócios de maneira geral. Algumas empresas têm trocado seus sites tradicionais por perfis no Facebook. As chamadas fan pages são uma forma mais interativa de estar em contato com o público presente nessa mídia social digital. Blogs Os blogs são utilizados como um ambiente de divulgação mais informal e permitem uma interação maior que os sites. Os blogs corporativos costumam trazer detalhes sobre produtos, sobre especialidades e diferenciais das marcas e empresas, até mesmo conteúdos correlatos que contribuem para estabelecer um melhor relacionamento com os públicos de interesse das empresas. Eles podem ser criados e gerenciados pela equipe de comunicação ou mesmo por colaboradores de setores específicos que podem ser usados como pessoas estratégicas na divulgação e no estabelecimento de relacionamentos. 70 E-mail Marketing E-mail marketing é uma peça de comunicação que contém informações curtas e objetivas, normalmente sobre uma promoção, um lançamento de produto ou um novo ponto de venda. Enviado para uma lista de e-mails (mailing), o e-mail marketing precisa ter um conteúdo que interesse ao destinatário, além de um layout atraente, para não se tornar spam (lixo). Um fator importante na utilização do e-mail marketing é a consciência de que devem ser utilizadas as regras e técnicas do marketing de permissão4, para que sejam enviados conteúdos apenas para as pessoas que o desejam. Em uma sociedade com cada vez menos tempo para realizar uma atividade, uma empresa não pode criar uma antipatia com seu público por importuná-lo com e-mails que não lhe interessam. Newsletter As newsletters são publicações digitais baseadas na divulgação de informações sobre a empresa e seus produtos. Enviadas para os e-mails de colaboradores, fornecedores ou consumidores, essas publicações são compostas de pequenas chamadas jornalísticas (com texto e/ou fotos) com links para o conteúdo completo, que é constituído de matérias, reportagens, entrevistas ou vídeos. Esse conteúdos costumam estar publicados nos sites ou blogs das empresas, sendo a newsletter uma espécie de compilado de chamadas para os principais conteúdos produzidos em um período de tempo determinado (o envio das newsletters costumam acontecer semanal ou quinzenalmente). Banners Os banners podem ser considerados as primeiras manifestações publicitárias na internet. Esse tipo de anúncio costuma ser veiculado em sites, blogs e portais a que o público de interesse da empresa tem acesso. Assim, como no caso de anúncios veiculados em mídias tradicionais, é preciso escolher corretamente o veículo de divulgação, sob pena de o conteúdo não ser visto por seus consumidores. Os banners têm-se apresentado cada vez mais criativos, utilizando recursos tecnológicos que permitem a interação com o público. Diferente dos anúncios em revistas ou jornais, por exemplo, eles podem levar o consumidor rapidamente ao ato da compra – com apenas alguns cliques e sem necessidade de deslocamento físico. 4 Dois itens básicos do marketing de permissão são o opt in e opt out. Opt in é o conjunto de regras que regularizam o envio de mensagens por mídias digitais somente para as pessoas que expressaram previamente o seu consentimento; o opt out é a ação que permite ao usuário se descadastrar de uma lista de envio de mensagens. 71 Facebook Criado em 2004 pelos então alunos da Harvard University Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin, Andrew Mc Collum, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, o Facebook5 é a plataforma em que se encontra a rede social digital com maior número de usuários do mundo. Cada usuário possui um perfil pessoal em que é possível postar textos, fotos, vídeos e animações a partir da pergunta: “No que você está pensando?” A interação e o engajamento são os pontos fortes da plataforma que permite a divulgação e o compartilhamento de conteúdos variados, bem como eventos e anúncios, além de proporcionar a diversão com jogos e aplicativos. Muitas empresas possuem suas fan pages em que divulgam conteúdos institucionais, promoções, lançamentos, dicas e informações interessantes relacionadas às suas marcas. O Facebook é uma boa plataforma de contato com o público jovem e com consumidores que estão sempre conectados e interessados em novidade e interação imediata com as empresas. Twitter O Twitter 6 foi fundado em 2006 por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams, em São Francisco, Estados Unidos. Chamado de microblog, essa plataforma permite a publicação de pequenos textos (com no máximo 140 caracteres) sobre o assunto que o usuário quiser, a partir da pergunta: “What’s happening?” (O que está acontecendo?). Cada usuário possui uma página pessoal em que posta os seus conteúdos (twittes) e por meio da qual passa a ter seguidores (followers) e também a seguir outras pessoas (following). Na comunicação organizacional, o Twitter é bastante utilizado no campo mercadológico para divulgar promoções, lançamento de produtos e eventos. Pequenos conteúdos capazes de aumentar o laço relacional com o público (como dicas e novidades relacionados a produtos e marcas) também costumam ser publicados pelas empresas. Essa plataforma é muito utilizada pelo público jovem, e os assuntos ali divulgados geram muito engajamento e envolvimento com a marca, chegando a ser divulgados em outras plataformas como sites e até mesmo nas mídias tradicionais. Assim como outras plataformas digitais, o Twitter também é utilizado como 5 6 www.facebook.com www.twitter.com 72 uma espécie de “central de atendimento ao consumidor”. Muitos consumidores postam suas reclamações, dúvidas e elogios sobre as marcas no microblog e esperam das empresas um diálogo nesse ambiente. Por isso, os departamentos de comunicação precisam monitorar os conteúdos postados a seu respeito e interagir com seus públicos. Youtube O Youtube 7 é um site de compartilhamento de vídeos criado em 2005 e, atualmente, pertencente à empresa Google. Nesse espaço é possível publicar vídeos com todos os tipos de conteúdos: entrevistas, clipes, anúncios, documentários e produções caseiras e pessoais (como trabalhos acadêmicos, por exemplo). O site permite a criação de canais específicos para divulgação própria, e muitas empresas utilizam essa possibilidade para publicar o seu material audiovisual de comunicação. Apesar de oferecer possibilidade de interação (com a publicação de comentários nas páginas dos vídeos) esse site é mais utilizado para conquistar visibilidade entre os públicos de interesse, já que todo o conteúdo ali publicado pode ser compartilhado em outros sites, blogs, no Facebook, no Twitter, além de permitir a realização de download do conteúdo. O Youtube não é o único site desse tipo. O Vimeo 8 também é uma plataforma em que os conteúdos audiovisuais podem ser publicados e compartilhados e que tem ganhado popularidade no país9. Instagram O Instagram 10 é uma plataforma baseada na divulgação de fotografias e vídeos, criada em 2010 por Kevin Systrom e Mike Krieger. Nessa rede social on-line, é possível divulgar fotos e vídeos curtos (de até 15 segundos), aplicar filtros digitais e compartilhar esse material com seus seguidores e até mesmo em outras redes, como Facebook e o Twitter. Em 2012, o Facebook comprou o Instagram, aumentando ainda mais a sua participação no mercado digital. 7 www.youtube.com www.vimeo.com 9 É importante ressaltar que existem muitas outras plataformas de redes sociais, além do Facebook, do Twitter e do Youtube, (como o LinkedIn, MySpace, Slideshare etc.). Apenas foi escolhido dar destaque para essas três por serem as mais populares no Brasil. 10 http://instagram.com/# 8 73 Algumas empresas possuem contas nesta rede para promover seus produtos, associar suas marcas à fotografias que gerem comentários e compartilhamentos e divulgar promoções. Mobile marketing O mobile marketing compreende toda forma de divulgação empresarial realizada especificamente em plataformas móveis: celulares e tablets. A individualização proporcionada por esses aparelhos permite às empresas divulgar conteúdos personalizados para públicos bem específicos a partir de informações colhidas em bancos de dados ou por meio de métricas de avaliação digital. Esse tipo de comunicação tem como caraterísticas principais a possibilidade de interação, o envio de respostas rápidas, a segmentação e a inovação. SMS, mobile sites, aplicativos baseados nos recursos de geolocalização, informações distribuídas por meio da tecnologia bluetooth e games são algumas das formas disponíveis para a divulgação de conteúdo institucional ou mercadológico nas mídias móveis. Com o aperfeiçoamento das tecnologias que envolvem a comunicação móvel no país, será cada vez mais comum as empresas incluírem estratégias específicas para esse tipo de comunicação dentro dos seus planejamentos de comunicação. Um movimento que tem crescido é o uso do aplicativo Whatsapp 11 pelas marcas, para criar grupos com consumidores a fim de tirar dúvidas, apresentar novidades e estreitar o relacionamento de uma maneira bastante imediata e interativa. Adwords Os anúncios digitais chamados “Adwords” (Google Adwords, Facebook Adwords, Youtbube Adwords) envolvem a divulgação de anúncios publicados estrategicamente por meio de segmentação e seleção de palavras-chave, atingindo diretamente o público desejado pelas empresas. As estratégias de SEO (Search Engenie Optimization) são utilizadas para melhorar o desempenho das empresas em sites de buscas e com links patrocinados e estão cada vez mais presentes nos planejamentos de comunicação digital. Outras possibilidades comunicacionais oferecidas pelas tecnologias digitais também são cada vez mais exploradas pelas empresas e algumas delas são os jogos e a realidade aumentada. 11 http://www.whatsapp.com/ 74 Por estarem muito presentes na rotina dos jovens, os jogos eletrônicos passaram a ser vistos como mais uma forma de divulgação mercadológica. Assim, muitos passaram a incluir marcas dentro dos contextos, fortificando a presença das empresas no dia a dia dos seus públicos. Já a realidade aumentada lança mão de tecnologias digitais para adicionar conteúdo digital (virtual) a um meio físico. Com o uso de QRcodes 12 é possível agregar um anúncio a uma embalagem ou até mesmo a um produto de informações adicionais. Essas informações podem variar entre a localização de um ponto de vendas, um jogo, um vídeo institucional, a forma de utilizar o produto, entre outras. A fim de se utilizarem nomenclaturas padronizadas ao longo da pesquisa, optou-se pela determinação de que os sites das empresas assim serão chamados pois este é um termo amplamente divulgado, consolidado e de compreensão imediata. No universo das “mídias sociais digitais”, o Youtube será considerado uma “plataforma digital para audiovisual” ou “plataforma de compartilhamento de vídeos” e o Twitter será chamado de microblog. Já o Facebook será mencionado como “rede social digital”, categoria pertencente ao universo das “mídias sociais digitais”, mas que compreende as plataformas em que a interação social entre os participantes é o foco principal. Para que fique mais clara a diferença entre os termos “mídia social digital” e “rede social digital”, é preciso avançar um pouco mais na explicação. As “mídias sociais digitais” podem ser consideradas o suporte midiático em que os conteúdos digitais de interesse social são divulgados ou compartilhados, em que o foco no internauta deve ser prioritário na construção e distribuição de conteúdos. Esse espaço serve como um meio de divulgação, assim como em outras mídias chamadas de tradicionais – televisão, rádio, jornal, revista –, acrescido das possibilidades oferecidas pelo ciberespaço e discutidas no capítulo 1. Fazem parte das “mídias sociais digitais” o Youtube, o Twitter, o Flicker, o SlideShare e as “redes sociais digitais”. É interessante explicar que o Twitter foi criado com o conceito de microblog, em que o foco estava da divulgação de informações. Com o passar do tempo, novas funcionalidades foram acrescentadas à plataforma e a interação passou a ocupar um local de destaque, por isso, nesta tese ele será considerado tanto uma “mídia social digital” quanto uma “rede social digital”. 12 Os QRcodes são códigos de barras bidimensionais utilizados em aplicativos que reconhecem as informações após captura de imagens em câmeras de aparelhos celulares. 75 Mídias sociais são ferramentas que permitem a formação de discussões entre as pessoas e empresas na rede. Elas promovem vida em comunidade e cooperação, possibilidade de alterar ou misturar criações de terceiros, melhor experiência on-line, diversão, educação, controle e domínio do que querermos buscar ou usar, abrindo espaço para assuntos muito específicos e colocando o usuário em primeiro lugar e no centro das atenções. (CIPRIANI, 2011, p.5) Já as “redes sociais digitais” são os espaços digitais em que a interação social acontece como atividade prioritária. Esses espaços são construídos a partir do uso de um suporte digital capaz de proporcionar aos participantes uma interação como a existente na sociedade tradicional, mas também acrescida das possibilidades oferecidas pelo ciberespaço. É importante sempre acrescentar a palavra “digital” à expressão “rede social”, pois as relações sociais não são uma novidade do mundo digital, elas sempre existiram pelo fato de o ser humano ser um ser social que vive em grupos. As “redes sociais digitais” priorizam as trocas relacionais e os interesses comuns entre os participantes, podendo, inclusive, ser temáticas. São exemplos de “redes sociais digitais” o Facebook, o MySpace, o LinkedIn e o antigo Orkut. É importante perceber que as “redes sociais digitais” pertencem ao universo das “mídias sociais digitais” e, por isso, possuem as mesmas possibilidades comunicacionais, acrescidas pelo fato de a interação ser o seu foco principal. Redes sociais. Na Internet são websites, como o Orkut e o Facebook, e qualquer outro que permita a formação de redes de pessoas conectadas e pequenas comunidades virtuais. Existem diversas funcionalidades que podem existir dentro de uma rede social, mas a principal delas, e que a caracteriza como tal, é a possibilidade de conectar-se com várias pessoas simultaneamente em listas de amigos, seguidores e desconhecidos. Sem esta lista de amigos, não há rede e, portanto, não é uma rede social. (CIPRIANI, 2011, p.6) A figura 1 auxilia no entendimento das categorias de elementos que compreendem o universo digital. 76 Figura 1 – Plataformas digitais on-line. Fonte: A autora, 2015. 2.2. Estratégias de comunicação organizacional em plataformas digitais conectadas As características essenciais do ciberespaço devem ser observadas quando o planejamento de comunicação avançar para as estratégias digitais. Nesse ambiente, devem ser priorizadas ações interativas, criativas e que possibilitem ao consumidor uma experiência positiva com a marca. A interatividade não é uma característica exclusiva da internet; mesmo nas mídias tradicionais já era possível interagir com os produtores de conteúdo, por meio de cartas, telefonemas ou e-mails. O diferencial trazido pela rede mundial de computadores foi a possibilidade de essa interatividade ser mais rápida e acontecer em tempo real. As plataformas e aplicativos de trocas de mensagens instantâneas se estão aprimorando cada vez mais (antes era possível trocar conteúdos em texto; hoje, o fluxo abrange fotos e vídeos) e o que, antigamente, era apenas imaginação de roteirista de filme ou de desenho animado, atualmente, faz parte do dia a dia (os 77 telefones com vídeos presentes no desenho animado Os Jetsons13 não são diferentes das conversas que se realizam via Skype14, ou Facetime15, por exemplo). Essa rapidez na troca de conteúdos deve ser incorporada à rotina da comunicação empresarial. O atendimento ao consumidor, por exemplo, deve ser rápido nas respostas e na solução dos problemas. É preciso que a empresa tenha uma estrutura de atendimento adequada ao seu fluxo comunicacional, contemplando não apenas a interação com os consumidores, mas também com funcionários, fornecedores, jornalistas e com a comunidade de maneira geral. Os cidadãos vivem em uma sociedade rápida, querem respostas imediatas e sabem que isso é possível, por isso as empresas precisam oferecer esse tipo de contato; caso contrário, serão rejeitadas pela sociedade. “A etiqueta ou ritual de comunicação on-line não perdoa a demora da resposta e joga no ‘fogo dos infernos’ a empresa que ignora o contato pretendido pelo internauta. Um dia sem que o retorno aconteça é, para a Internet, uma eternidade” (BUENO, 2003, p.59). Além da rapidez na troca de conteúdos, as novas tecnologias também permitiram a exploração de maneiras inovadoras de executar essa tarefa. No ambiente digital é possível ser criativo, envolvente e inovador, e isso é esperado pelos públicos das empresas. O direito à criação e à produção oferecidos pela internet, em que todo internauta pode ser um produtor, como afirma Jenkins (2008), permitiu uma maior liberdade estética e de linguagem na produção dos conteúdos, e as empresas que conhecem em profundidade as regras de comunicação na rede estão saindo na frente, em relação aos seus concorrentes, no contato com seus públicos. Aplicativos, “webséries”, vídeos virais e textos criativos são algumas das formas utilizadas pelas empresas para estabelecer contato com seus públicos. Esses formatos atraem a atenção do consumidor por seu ineditismo, pelo humor ou pela experiência que proporcionam, sendo capazes de gerar grande repercussão positiva para a empresa. A possibilidade de compartilhamento oferecida pela rede faz com que rapidamente milhões de pessoas tenham acesso a um conteúdo, afinal, na rede, “os amigos, dos amigos, dos amigos, também são meus amigos”. 13 Os Jetson foram uma série de desenho animado criada pela Hannah-Berbera na década de 1960 e exibida no Brasil na década de 1980. A série contava histórias da vida de uma família do futuro que tinha, entre outras coisas, uma empregada doméstica robô, carros que voavam e telefones com vídeos. 14 www.skype.com 15 https://www.apple.com/mac/facetime/ 78 Essa divulgação espontânea de conteúdos é conhecida como boca a boca e não é nenhuma novidade trazida pela internet. O diferencial se encontra na potencialidade que a conexão em redes dá para esse tipo de comunicação. Se, antes, os esforços para transmitir uma mensagem no boca a boca eram limitados a círculos restritos de relacionamento, agora eles podem atingir milhares de pessoas rapidamente, como comentam Coelho Neto e Floridia (2008, p.120): “a Internet facilita muito a retransmissão de uma mensagem. Em muitos casos, não é necessário mais do que poucos ‘cliques’ para alimentar o circuito”. Colnago (2015) aponta para uma “multiplicação” de formadores de opinião, provocada por esse movimento de ampla divulgação de comentários e sugestões na internet, delimitando um novo cenário no estabelecimento das relações de confiança na divulgação de conteúdos: [...] atualmente, a tradicional pirâmide de influência (de cima para baixo) está mudando, na medida em que amigos, família e funcionários das empresas estão sendo considerados pelas pessoas como os mais importantes e confiáveis formadores de opinião, tendo duas vezes mais credibilidade que os presidentes das corporações, o que faz com que a confiança em pessoas comuns como fonte de informação tenha aumentado consideravelmente.... (COLNAGO, 2015, p.15) Logo no início de sua obra “Socialnomics”, em que avalia os impactos das plataformas de mídias sociais nos diferentes campos da sociedade e nas relações de consumo, Qualman (2011) aborda esse crescimento vertiginoso que a comunicação boca a boca apresenta quando desenvolvida no ambiente das mídias sociais digitais. Trazendo vários exemplos, o autor demonstra que essas redes sociais digitais mudaram a forma de transmissão de mensagens e que as empresas devem estar cientes disso para não serem soterradas por mensagens negativas. Enquanto o boca a boca tradicional pode ser lento, o oposto é verdadeiro para atualizações do Facebook. Estas atualizações são passadas diretamente para todos os amigos da rede. Ou, em maior escala, uma plataforma como o Twitter lhe dá acesso a 85 milhões de usuários que podem ler seus “tuítes”. Esse processo se desenvolve muito melhor do que um indivíduo contando para alguns amigos por semana sobre um novo produto ou serviço que lhe agrada. (QUALMAN, 2011, p.22) 79 O autor complementa destacando que, se as empresas souberem administrar esse fluxo de conteúdos, é possível aproveitar a oportunidade para conhecer em maior profundidade seus públicos de interesse. A corrente digital é passada intacta. Incluso nos benefícios de a mensagem permanecer intacta, o receptor/leitor pode verificar quem foi o iniciador, ou qual a origem dessa informação. Além disso, é possível normalmente obter ainda mais informações sobre esse indicador, como idade, grau de educação, hobbies, localização, entre outras. (QUALMAN, 2011, p.23) Essa divulgação espontânea de conteúdos, produtos e marcas ajuda a estreitar o relacionamento das empresas com seus públicos, auxiliando na formação da imagem da marca e na experiência que os públicos terão com ela. Como salientado, é preciso que os departamentos de comunicação organizacional estejam atentos para o tipo de repercussão gerado por suas ações. A experiência de um consumidor com uma marca precisa ser avaliada qualitativamente, pois é nesse aspecto que se encontra a chave para o sucesso ou o fracasso da comunicação. Não adianta uma empresa estar presente nas principais plataformas de relacionamento digital, se ela não publica conteúdo de interesse do seu público, não informa sobre as novidades e lançamentos, não responde às solicitações dos usuários, não cria relacionamentos. Além disso, ela precisa ter sempre em mente os seus objetivos de comunicação e de marketing para saber quais são a melhor plataforma e a melhor estratégia digital a ser empregada. Estamos chegando a uma época na qual a interatividade e a experiência são os principais aspectos para o sucesso de estratégias de marketing. O digital é a plataforma que dá vazão plena à interatividade, mas não necessariamente à boa experiência. Conseguir propiciar uma boa experiência ao consumidor/usuário envolve estratégias de marketing que vão muito além da tecnologia em si e dependem de um conhecimento profundo do público-alvo. (GABRIEL, 2010, p.109) É importante interagir verdadeira e rapidamente, estabelecendo um relacionamento adequado no ciberespaço. É necessário pensar, planejar e agir no ambiente digital a partir de suas características e não com base nas técnicas das mídias tradicionais. Planejar a comunicação organizacional digital sem compreender a importância do diálogo, da rapidez nas respostas, da necessidade de criatividade e 80 inovação e de como se comporta o internauta pode ser um caminho direto para o fracasso. Por isso, é importante que todas as empresas, por meio de sua identidade e cultura, estejam integradas com sua atuação no ambiente digital. Como o ambiente digital é vasto e as possibilidades comunicacionais são variadas, é importante que os profissionais levem em conta as particularidades de cada plataforma e das tecnologias empregadas. Existem aquelas mais direcionadas para gerar visibilidade para a marca, outras que possibilitam maior interação entre empresas e clientes, e aquelas que possuem um maior poder para vendas, por exemplo. O conhecimento dessas particularidades é fundamental para que sejam determinadas as melhores estratégias, e a comunicação organizacional aconteça com sucesso. O primeiro passo para desenvolver um plano de ações em mídias digitais conectadas é saber para que serve cada uma das plataformas existentes na internet, afinal, “não se pode usar uma ferramenta sem conhecê-la e dominá-la com maestria” (GABRIEL, 2010, p.295). Almeida (2010, on-line) explica, por exemplo, que o Twitter deve ser utilizado pelo seu poder de viralização, já que seus pequenos textos são facilmente redistribuídos (retweets), e não por sua capacidade analítica, algo impossível de ser desenvolvido em 140 caracteres. Já os fóruns de discussão e as comunidade de marcas do Orkut16 deveriam ser utilizadas por seu poder de análise, pois nesses espaços os assuntos são bastante aprofundados e o debate desenvolvido é amplo, o que dificulta a rápida viralização do conteúdo. A capacidade de viralização do ambiente é importante quando a marca precisa alcançar e impactar o maior número possível de pessoas. O poder analítico do ambiente se torna essencial quando uma marca precisa ganhar relevância e credibilidade, que só são alcançadas com ambientes que propiciem discussão e análise. (GABRIEL, 2010, p.296) Esses detalhes que caracterizam as mídias sociais digitais sinalizam a necessidade de os objetivos organizacionais estarem claros e bem definidos no planejamento de comunicação. É preciso que a empresa saiba exatamente as suas 16 A plataforma de rede social Orkut (www.orkut.com) não tinha sido mencionada no texto até então pois não existe mais. Foi mantida essa citação apenas para auxiliar no entendimento das questões estratégicas. 81 estratégias de comunicação para só então definir onde e como a divulgação do conteúdo será feita dentro dos ambientes digitais. Em reportagem do site Pequenas Empresas Grandes Negócios17, especialistas avaliaram as mídias sociais digitais, os sites e os blogs de acordo com sua capacidade de engajamento, divulgação de marcas, colaboração e vendas. De acordo com a reportagem, o Facebook foi a rede mais bem avaliada para engajamento, seguida pelo Twitter, Youtube e blogs de empresas. A ferramenta com nota máxima é o Facebook, pela facilidade que tem em agregar e divulgar conteúdos de outras fontes, como sites e blogs, e redes de imagens e vídeos, como Flickr e Youtube. Isso potencializa o engajamento dos fãs. O Facebook é uma espécie de blog corporativo ampliado, em que a discussão sobre a marca e os assuntos relacionados é ampla, e o conteúdo tem maior capilaridade. (TEIXEIRA, 2011, on-line) No item divulgação de marcas, os sites das empresas foram considerados os melhores meios, seguidos pelos blogs das empresas, Facebook, Twitter e Youtube. Para gerar colaboração, os especialistas destacaram, em primeiro lugar, o Facebook e, na sequência, os blogs de empresas e o Twitter. Nesse quesito [colaboração], o importante é administrar a informação que está sendo transmitida pelo consumidor e as discussões que ela pode gerar. Sites e blogs têm uma estrutura mais complexa e organizada, com espaços destinados à contribuição do consumidor. Mas é possível pedir ajuda do consumidor em qualquer rede social. O importante é que o ambiente seja atrativo para esse tipo de contribuição – o espaço deve ser amigável e descomplicado. (TEIXEIRA, 2011, on-line) O último item avaliado pelos especialistas, capacidade de gerar vendas, teve como melhor meio o Facebook, seguido dos sites das empresas e do Twitter. O site continua sendo o melhor caminho para fazer vendas on-line, portanto sua loja precisa ser simples e facilitar a vida do consumidor na hora da compra. Mas, para usar o poder social para aumentar vendas, é preciso partir para mídias como Facebook e Twitter. Na primeira, é possível montar uma loja na própria fan page, em que as Esta reportagem é um conteúdo extra da matéria “O Poder da Multidão”, publicada na edição impressa da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios (ed. 273 - outubro/2011). O conteúdo utilizado aqui está disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI27054217184,00-O+PERFIL+DAS+REDES+SOCIAIS+SITES+E+BLOGS.html>, com acessado em: 16 jul.2013. 17 82 opiniões dos contatos do consumidor ajudarão em sua decisão e possível compra. O Twitter auxilia em promoções e propagação de links para produtos. (TEIXEIRA, 2011, on-line) Como demonstrado, é muito importante que o profissional de comunicação organizacional conheça, em detalhes, a utilidade de cada plataforma digital. Devido a essa necessidade, muitos profissionais estão especializando-se para somente atuar como analistas de mídias sociais digitais. Algumas empresas contam com equipes inteiras direcionadas para atuar nesse campo, e agências de comunicação criaram departamentos voltados apenas para atender clientes que desejem comunicar-se no mundo digital. Contudo, tão importante quanto conhecer as plataformas, é identificar em qual lugar, especificamente, o público de interesse da empresa está. Saber que ele se encontra na internet é pouquíssimo e não basta, pois cada perfil de consumidor costuma navegar em determinados sites ou portais e de maneiras particulares. É preciso que a empresa saiba se o seu público possui perfil no Twitter, no Facebook ou em outra plataforma de redes sociais. E mais, se ele se encontra ali de maneira ativa (divulgando conteúdo, compartilhando, criando debates) ou mais pacífica (apenas observando o que outras pessoas postam e fazendo pequenos comentários sem grande relevância). Também é preciso saber se o consumidor usa essas ferramentas apenas para aumentar seus laços sociais com amigos e familiares ou se ele se comunica com empresas e marcas (e, se isso acontecer, como é esse relacionamento: amigável? agressivo? colaborativo?). Os departamentos de comunicação organizacional precisam utilizar seus bancos de dados e as informações disponíveis nas plataformas de redes sociais digitais para traçar um perfil mais próximo do real de quem é o seu consumidor e seus públicos de interesse. A classificação que contempla apenas idade, sexo, escolaridade e classe social é muito simplista para determinar com quem a empresa se comunica. Os consumidores atuais são plurais, vivem on-line e off-line, mudam de comportamento rapidamente, influenciam-se pela internet e sabem posicionar-se frente aos seus desejos de consumo e aos discursos vindos das organizações. As empresas precisam mostrar que sabem com quem se estão relacionando para que os laços sejam estabelecidos e fortificados, pois só assim haverá diálogo e interação positivos entre as partes. 83 Construir relacionamento só é possível quando se conhece – e se respeita – efetivamente o cliente que está do outro lado. Quem fere este princípio terá poucas chances de sair-se bem, porque o cliente (agora cidadão) está atento a estes deslizes e não perdoa quem os pratica. (BUENO, 2003, p.54) Esse conhecimento do público está diretamente relacionado à relevância dos conteúdos produzidos e divulgados. Não adianta a empresa dizer apenas aquilo que ela considera importante; é preciso saber, também, aquilo que o público quer ouvir. A identificação dos gostos, desejos e interesses do público faz com que a empresa elimine ruídos de comunicação e se dedique a construir relacionamentos baseados em interesses recíprocos. Com o conhecimento do público é possível, por exemplo, fazer com que o e-mail marketing seja efetivamente eficiente e não seja transformado em spam (lixo). O marketing de permissão (mencionado no subitem anterior) não diz respeito apenas a mecanismos tecnológicos de cadastramento e descadastramento, mas também ao tipo de conteúdo oferecido, afinal, o aceite para receber um conteúdo de uma empresa está diretamente relacionado àquilo que ela tem para oferecer. As empresas precisam entender que o mundo digital é um ambiente diferente das tradicionais mídias de divulgação unidirecional, pois nele os fluxos são bidirecionais e as interações são parte de sua essência. Um grande erro nas mídias sociais é utilizar conteúdo de forma estritamente expositiva, transformando seu blog, seu Twitter ou sua página nas redes sociais em uma mera vitrine de produtos sem vida, que não escuta nem responde. Existem muitas empresas que ainda teimam em pensar que as mídias sociais são uma mídia como qualquer outra, esquecendo da parte do relacionamento. (CIPRIANI, 2001, p.122) Apesar de o ciberespaço ainda permitir grande experimentação, algumas tendências de atuação já podem ser observadas. As estratégias e o planejamento de ações podem seguir caminhos que já se apresentam com maior claridade e poder de eficiência como explicam Coelho Neto e Floridia (2008, p.119): As consequências que podem advir desse contexto em construção ainda não são inteiramente conhecidas. Entretanto, alguns estudos sugerem tendências com boas chances de consolidação. Entre elas, a aceleração e intensificação dos ciclos de boca a boca, o deslocamento de poder em direção aos consumidores, o surgimento de novos focos de inovação com valor competitivo e a interferência 84 das redes de relacionamentos entre consumidores no processo de criação e gestão de marcas. A partir dos conhecimentos sobre o ciberespaço, as diferentes formas comunicacionais ali disponíveis e sobre o público com quem se pretende relacionar, os departamentos de comunicação organizacional podem elaborar as ações que farão parte de seu planejamento. Os profissionais poderão definir se é mais indicado para a empresa criar uma “websérie” ou vídeo viral, se é melhor investir em uma equipe para o pronto atendimento de solicitações oriundas das mídias sociais digitais, ou ainda se o ideal é melhorar o site da empresa e sua plataforma de vendas. Na sequência, depois da execução das ações, é preciso avaliar se o procedimento realizado, realmente, foi o adequado e, para isso, as ferramentas de métricas passam a ser fundamentais. Com objetivos bem traçados, é possível definir quais as melhores formas de avaliação e mensuração de resultados. Os meios digitais online possibilitam uma avaliação das ações bastante precisa, já que a coleta de dados acontece dentro dos próprios sistemas. A complexidade dos aplicativos de métricas ou metodologias de avaliação podem variar, contudo, a análise dos dados é de vital importância para que as melhores práticas sejam identificadas e outras aprimoradas. O universo da web é o melhor formato de mídia para aqueles que desejam ter uma real percepção de resultados sobre investimentos, reputação, repercussão e engajamentos. E, as vantagens do uso de metodologias de pesquisa na web seriam: a ausência de barreiras geográficas, a redução de custos, os resultados mais rápidos, e o fato dos pseudo-entrevistados ficarem mais abertos e serem mais sinceros. (TELLES, 2011, p.89) Em seu livro, Cipriani (2001) faz uma vasta explanação sobre as estratégias de comunicação em mídias digitais e as formas de mensurá-las. O autor deixa bastante claro que o processo de mensuração começa no planejamento do uso das mídias digitais. Para ele, nesse ambiente é fundamental que as empresas conheçam exatamente seus objetivos, determinem suas estratégias, definam as melhores plataformas, coloquem as ações em prática (com a atuação de uma equipe competente), monitore suas ações e avalie os resultados. Ele apresenta várias possibilidades de mensuração, sempre colocando-as em dois grandes grupos: das 85 métricas qualitativas e das métricas quantitativas, e explica que cada empresa deverá encontrar a forma mais adequada para sua realidade. A métrica ideal é aquela que traduz melhor o que a sua empresa está buscando nas mídias sociais; é preciso experimentar e capturar diversas métricas antes de encontrar a mais adequada. Além disso, não existe uma forma única de medir o que se faz nas mídias sociais. Cada combinação e cada estratégia pedem métricas particulares. (CIPRIANI, 2011, p.139) Essa combinação de métricas, mencionada pelo autor, é importante para que a empresa obtenha um panorama amplo e completo dos resultados de suas ações. Para se chegar a algumas conclusões, não basta saber a quantidade de pessoas que curtiram a página da empresa ou se as reclamações são maiores que os elogios. Provavelmente, seja preciso cruzar dados. Por exemplo, ao avaliar se as reclamações são maiores que os elogios, se elas foram resolvidas e se os clientes ficaram satisfeitos ao final da interação, podem-se obter dados que respondam se o atendimento proposto pela empresa, numa espécie de sac 2.0, está atingindo os objetivos e dando o retorno ao investimento feito. Esses detalhamentos resultam em índices específicos para avaliar cada objetivo e cada ação de comunicação digital. Esses indicadores são chamados de KPIs, Key Perfomance Indicators, ou indicadores-chave de performance, e são utilizados para compreender o andamento da campanha digital e interpretar os dados obtidos por meio das ferramentas de métrica. É importante saber que KPI e métrica não são a mesma coisa. As métricas são ferramentas utilizadas para obter os dados (quantidade de curtidas, quantidade de elogios ao lançamento de um produto, tempo de visitação em uma página etc.); os KPIs são os resultados interpretados dessa métrica, isoladamente ou em conjunto com outras, definidos de acordo com as estratégias e os objetivos traçados pelas empresas. Exemplos de KPI são: as taxas de conversão de um e-mail marketing ou link patrocinado, o retorno sobre investimento (ROI) da campanha etc. Neste momento, faz-se necessária a observação de que, apesar de fundamentais, as métricas não são a única forma de obtenção de resultados. Para se aferirem sentimentos, por exemplo, uma empresa não deve restringir-se ao uso de softwares, pois somente a análise humana é capaz de perceber ironias em comentários ou definir se uma publicação foi positiva ou negativa. 86 Cipriani (2011, p.112) explica que os indicadores não atuam somente no campo do retorno financeiro, e os valores de relacionamento, como a percepção da marca, também podem ser avaliados. Para isso, é preciso que os administradores de empresas compreendam essa dimensão relacional da comunicação e aceitem que ela também resulta em cenários positivos para os negócios, desde que ajustadas ao planejamento estratégico e à essência da empresa. Nesse universo, o autor destaca o capital social como um elemento importante e afirma que o gerenciamento dessas relações sociais são uma estratégia elementar em que as empresas utilizam a conversa, a colaboração e o relacionamento para promoverem uma maior transparência e proximidade com os consumidores, garantindo boa reputação da marca e aumentando a fidelidade do mercado para com ela (CIPRIANI, 2011, p.78). Galindo (2015) destaca a importância dos relacionamentos sociais como ponto fundamental para o desenvolvimento dos planejamentos de marketing. O autor considera que o foco no ser humano relacional está cada vez mais em evidência, e esse novo olhar contribui para um direcionamento mais contemporâneo nos processos comunicacionais de empresas com o mercado. Ao assumir o termo Social CRM18, os profissionais estão assumindo o papel a importância do consumidor social, o consumidor que transita pelas tecnologias de relacionamento, tais como as redes e mídias sociais on-line, portanto descentralizados e conectados em fluxos contínuos com suas comunidades, tribos e pares que determinam os conteúdos relevantes e significativos para eles. Assim, indicam a inevitável postura das empresas frente a este contexto, ou seja, ouvi-los ou, como prefere os especialistas, monitorá-los, e com isso estabelecer uma melhor simetria possível, proposta aqui como sinônimo de relacionamento duradouro. (GALINDO, 2015, p.49) Contribuindo para solidificar a importância de se compreenderem as relações das empresas com seus públicos de uma maneira ampla, que vai além do números de páginas curtidas ou de compartilhamentos em uma foto, Bueno (2015, p.196) comenta: Nesse sentido, a comunicação organizacional, e especificamente a comunicação as mídias sociais, pode desempenhar papel importante na construção do capital intangível global, em particular em ativos 18 CRM é a sigla para Customer Relationship Management, ou Gestão de Relacionamento com o Cliente, que, no contexto dessa citação, coloca o enfoque no lado social das relações. 87 incluídos em duas categorias de capitais anteriormente citadas (o institucional e o de relacionamento), porque repercutem obviamente, na formação da imagem e da reputação, na visibilidade das marcas, na projeção de seus valores, na criação e manutenção de relacionamentos com os stakeholders e mesmo com os cidadãos de maneira geral. Gunelius (2012) aponta para o mesmo caminho quando salienta que a união do uso das mídias tradicionais e das mídias digitais são o melhor caminho para que uma empresa realize uma comunicação com resultados positivos nos dias atuais. Quando uma empresa inclui as ações em mídias sociais digitais dentro do planejamento macro de comunicação, ela amplia muito mais as suas chances de ser bem sucedida em suas estratégias digitais, pois “integrar uma estratégia de marketing para as mídias sociais a um plano de marketing tradicional preexistente tornou-se vital para que as empresas possam desenvolver plenamente os seus potenciais no século XXI” (GUNELIUS, 2012, p.247). Nesses potenciais, o relacionamento com os clientes e públicos de interesse parece ser algo indiscutivelmente importante. Conalgo (2015) também corrobora o entendimento de que a definição de objetivos e estratégias é de fundamental importância para realizar uma comunicação digital de sucesso. A autora aponta que é preciso definir estrategicamente o objetivo central da comunicação; avaliar os impactos e riscos; traçar um planejamento, dividindo papéis, responsabilidades e estabelecendo políticas; ter o apoio dos executivos da empresa e, ainda, destaca: “é fundamental compreender que as mídias e redes sociais digitais não são estratégicas por si sós, simplesmente pelo fato de existirem, e que o que realmente conta e se estabelece como diferencial competitivo é o uso estratégico que se faz delas” (CONALGO, 2015, p.18). O conhecimento sobre o ciberespaço, o entendimento sobre as diferentes plataformas de comunicação digital (suas especificidades e usos mais adequados), a real identificação sobre quem são os públicos de interesse das empresas (seus desejos, hábitos e interesses) e a capacidade de avaliação quantitativa e qualitativa (com o uso das ferramentas de métricas e indicadores) compõem um conjunto de competências fundamentais para que sejam traçadas as melhores estratégias de comunicação organizacional em mídias digitais conectadas. Esses conhecimentos, agregados à compreensão da necessidade de existir integração na comunicação da empresa como um todo, servirão de base para a análise dos dados colhidos nesta pesquisa, que tem como finalidade investigar as ações digitais das empresas estudadas. 88 88 Capítulo III - O MUNDO DOS ESPORTES TAMBÉM SE COMUNICA 1. Definições e conceitos sobre o marketing esportivo A comunicação organizacional pode, e deve ser realizada em todos os segmentos mercadológicos. Empresas de varejo, de alta tecnologia, de bens duráveis, pequena, média, grande, multinacional, direcionada aos consumidores finais ou que atue no campo do B2B (empresas que vendem e negociam com outras empresas), não importa o segmento ou a especialidade, todas se devem comunicar, e bem, com seus públicos de interesse. No segmento de empresas esportivas, a comunicação mercadológica tem despertado o interesse e a empatia social, sendo cada vez mais comum os consumidores se encantarem com comerciais, patrocínios, promoções e eventos realizados por grandes marcas como Nike, Adidas, Puma, Mizuno, Fila, Penalty e Reebok. Esse sucesso se deve, em muitos casos, não apenas à natureza da atividade empresarial dessas empresas, mas principalmente pelo uso do esporte como elemento comunicacional. Bechara (2001, p.4-7) analisa o uso do termo “marketing esportivo” e afirma que seu emprego não deve ser feito para toda a comunicação realizada no âmbito esportivo. O autor considera a existência de dois campos comunicacionais diferentes dentro desse segmento e apresenta duas definições distintas. O primeiro campo referese ao “marketing no esporte”, pois nele os processos comunicacionais são direcionados aos esforços de promover uma marca, um produto ou um serviço por meio do esporte. Nessa situação, o esporte é utilizado como uma espécie de “mídia” de divulgação para slogans e logotipos. As marcas de diversos segmentos que patrocinam clubes, atletas e eventos esportivos são exemplos desse tipo de ação comunicacional. O segundo campo, de acordo com o autor, é aquele que pode, efetivamente, ser chamado de “marketing esportivo”, pois envolve a divulgação do esporte em si. A prática esportiva é o negócio, a razão de ser do divulgador e, por isso, as suas ações de comunicação estão relacionadas ao marketing esportivo. Como exemplo podem-se considerar as ações de divulgação de clubes, federações e até mesmo de atletas que buscam popularizar a prática esportiva na sociedade. 89 Outro autor que aponta para os cuidados no uso do termo “marketing esportivo” é Tambucci (2011, p.670-671), pois, para ele, essa expressão deve ser empregada somente nos casos em que o esporte é o foco principal da divulgação. O autor aprofunda a questão apontando que a comunicação no mundo do esporte pode ser encontrada em três situações distintas: Pensar o marketing na sua relação com o esporte nos coloca diante de duas situações de marketing. Na primeira, as ações de marketing organizam-se ao redor do produto esporte. Na segunda, há uma bifurcação, de um lado, temos ações de marketing que se organizam ao redor de produtos relacionados ao esporte, que não devem ser confundidos com produto esporte. Do outro lado, temos ações de marketing que trabalham produtos não relacionados ao esporte. (TAMBUCCI, 2011, p.671) Mullin, Hardy e Sutton (2004) também consideram que a comunicação esportiva precisa de delimitações teóricas. Os autores consideram que o marketing esportivo deve sempre estar relacionado às atividades designadas a satisfazer às necessidades e desejos dos consumidores esportivos. Consideram que o marketing esportivo “desenvolveu dois eixos principais: o marketing de produtos e serviços esportivos diretamente para os consumidores esportivos e o marketing de outros produtos e serviços através da utilização das promoções esportivas” (MULLIN; HARDY; SUTTON, 2004 p.18). Ainda em busca de uma maior consistência na delimitação da terminologia marketing esportivo, é interessante considerar a análise de Yanaze (2011, p.569-582) sobre o uso da palavra marketing para especificar modalidades comunicacionais que envolvam os esportes, os apoios culturais ou as ações em benefício social. O autor considera que o uso da palavra “marketing”, na maioria dos casos, não é adequado quando o tema envolve ações de empresas nos campos mencionados como uma forma de enriquecer sua estratégia de comunicação. O autor explica que esse tipo de ação está relacionado às estratégias de comunicação e não à de marketing, pois esta última deve envolver, diretamente, a essência administrativa e mercadológica da empresa. Não é demais relembrar que é preciso estar sempre atento para não confundir os objetivos de marketing – aqueles inerentes à própria natureza e razão de ser de um empreendimento – com ações complementares ou até mesmo com os instrumentos (ferramentas) utilizados para realizar esses objetivos. É o caso – infelizmente muito comum – de usar o nome marketing para adjetivar ações 90 instrumentais de marketing, como as ações de comunicação. Isso ocorre, por exemplo, quando um banco – cujo core business (atividade medular) é a atividade financeira – patrocina a manutenção de uma orquestra sinfônica, a fim de comunicar com seu público uma disposição altruística de estar contribuindo para a preservação da cultura nacional; ou quando uma fábrica de laticínios insere em suas campanhas publicitárias o fato de estar subsidiando um time de futebol. (YANAZE, 2011, p.582) Para se obter uma definição consistente sobre o conceito de marketing esportivo a ser empregado nesta pesquisa, é interessante considerar todos os aspectos que envolvem diretamente o universo do esporte. Assim, também será utilizada como base a seguinte afirmação: “O produto esportivo é tanto um conjunto integrado como um lote de componentes com vida própria. No centro está a ‘vivência do evento’, composta de quatro componentes: Forma do jogo, Jogadores, Equipamento e Local” (MULLIN; HARDY; SUTTON, 2004, p.94). Os autores avançam o raciocínio sobre os elementos essenciais do esporte ao afirmarem que “os equipamentos podem também ser uma extensão da vivência do evento [esportivo] essencial. Uma luva, um taco ou um capacete são uma referência para a memória de um jogo ou de uma partida – tanto para os jogadores quanto para os fãs” (MULLIN; HARDY; SUTTON, 2004, p.94). Apesar de muitos autores utilizarem a expressão marketing esportivo para designar qualquer atividade comunicacional relacionada ao esporte, esta pesquisa acredita nos conceitos definidos por Bechara (2001), Yanaze (2011), Tambucci (2011), Mullin, Hardy e Sutton (2004), considerando que o marketing esportivo está relacionado apenas às modalidades esportivas e/ou aos elementos que as envolvam diretamente (equipamentos e acessórios) e não a empresas de diferentes segmentos que utilizam clubes, times e jogadores como “veículos de comunicação” de suas marcas. Considerando que muitas modalidades esportivas não podem ser praticadas sem equipamentos ou acessórios, é possível afirmar que o campo de atuação das empresas de produtos esportivos faz parte do universo prioritário do esporte, pois elas fabricam bolas, chuteiras, roupas e outros itens essenciais para que a prática esportiva possa efetivamente ser realizada. Assim, com base nesse ponto de vista, as empresas Nike e Adidas – objetos de estudo desta pesquisa – serão enquadradas neste estudo dentro do conceito teórico que define o marketing esportivo, por isso, essa será a terminologia adotada na pesquisa. 91 1.1. O produto esporte e seus processos comunicacionais O consumo do esporte faz parte da maioria das nações e solidificou-se como um dos elementos sociais de grande impacto na constituição das identidades (tema a ser desenvolvido mais à frente neste capítulo). Assim, se o esporte é algo vivo na estrutura social, sua constituição deve ser considerada mutante. O esporte não pode ser analisado como se fosse um produto comum, em que o produtor controla todas as etapas, da produção à distribuição. O interesse social pelo esporte está, evidentemente, em sua imprevisibilidade, que é o ponto central capaz de garantir as emoções – a pedra preciosa para os processos comunicacionais. Morgan e Summers (2008, p.180-183) apresentam como componentes especiais do esporte os seguintes aspectos: intangilidade (os eventos esportivos são intangíveis, gerando risco e desconforto para o público que sempre busca um bem físico que justifique o gasto financeiro), inseparabilidade (o produto é consumido enquanto é produzido), heterogeneidade (cada partida é diferente da outra, não existe um produto padrão idêntico ao outro) e perecibilidade (precisa ser consumido no ato que acontece). Esses componentes são fundamentais para que a emoção e a magia presentes no esporte despertem o interesse do consumidor por adquirir um produto (ou serviço) carregado de simbologias. Outro aspecto interessante do produto esportivo, apontado por Dionísio (2014), é que a concorrência se faz necessária para que a existência do produto seja de alta qualidade. O autor explica que, sem um concorrente à altura, tanto para esportes individuais quanto coletivos, “a vitória está quase previamente definida, o que retira a incerteza do resultado e, com ela, o interesse do próprio espetáculo” (DIONÍSIO, 2014, p.262). Esses aspectos corroboram a concepção de um produto diferenciado no mundo dos negócios, como explicam Morgan e Summers (2008, p.196): Portanto, o produto esportivo é uma mistura complexa de elementos tangíveis e intangíveis, e a emoção desempenha um papel fundamental nas percepções do produto pelas várias partes interessadas, o que deixa os profissionais de marketing diante de uma tarefa difícil, já que muitos aspectos do produto esportivo estão fora do seu controle. 92 O esporte, visto como um produto a ser consumido, é de difícil administração. Em sua estrutura encontram-se desde os elementos básicos para que o esporte exista, como os praticantes (jogadores e técnicos) e a estrutura física (quadras, campos, piscinas, raquetes, bolas etc.), até os gestores, dirigentes, associados (no caso de clubes), patrocinadores e a mídia, sem esquecer o público, aquele que faz com que a máquina (e a economia) se mantenha viva. Cada um desses componentes constituintes do esporte requer uma estratégia comunicacional específica, e este pode ser considerado um grande desafio para os profissionais de comunicação que atuam nesse segmento. Não adianta criar, apenas, um planejamento geral para lançar ou posicionar uma marca esportiva 1 , é preciso determinar estratégias específicas para cada um de seus públicos, sempre com base em um planejamento maior que direcionará os objetivos de cada ação. Todas essas ações devem ser interessantes e envolventes, a fim de despertar o engajamento do seu público estratégico, o que faz com que a emoção esteja sempre presente como uma espécie de fio condutor vital para que a comunicação esportiva se realize com sucesso. Incentivar a prática esportiva é a principal forma de manter as modalidades vivas no seio social e uma boa estratégia de comunicação para com a sociedade em geral. Esportes que passaram a ser vistos como violentos, menores ou desnecessários para a sociedade deixaram de existir ou sequer adquiriram um status de “popular”. Determinar estratégias para que as pessoas pratiquem as modalidades é fundamental para despertar as paixões pelos times e atletas e para movimentar a indústria de materiais, roupas e acessórios de cada modalidade. Siqueira (2014) afirma que, para o esporte permanecer vivo, é preciso investir em praticantes, torcedores e consumidores. Estes últimos devem ser estimulados de acordo com seus interesses, sejam eles quais forem: “elevação da autoestima, dissociação do dia a dia, entretenimento, interesse econômico, valor estético, inclusão social, união familiar” (SIQUEIRA, 2014, p.35-36). No campo administrativo encontram-se os gestores, dirigentes e associados. A relação entre esses componentes deve ser mantida tendo, acima de tudo, o interesse pela elevação social da modalidade, do clube ou do atleta, o que nem sempre acontece. Variados são os casos, especialmente aqui no Brasil, de dirigentes que 1 Para “marca esportiva” devem-se compreender clubes, modalidades, atletas e empresas produtoras de equipamentos necessários para a prática esportiva. 93 desviam dinheiro das federações em seu benefício próprio. O caso mais emblemático do país é o da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que foi foco de investigações e de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que buscavam descobrir os desvios financeiros da instituição. Os clubes de futebol brasileiros também passam, frequentemente, por questões semelhantes em que o dinheiro arrecadado com patrocínios, direitos de imagem, ingressos, entre outras formas, não contempla os gastos com folha de pagamento e manutenção da estrutura, abrindo espaço para dúvidas a respeito da forma como o dinheiro é administrado. Apesar de toda a má reputação da administração do futebol brasileiro, esse tipo de situação não se limita a essa modalidade. O ano de 2014 foi marcado para o vôlei brasileiro por um escândalo de desvio de dinheiro na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) que culminou com a suspensão do patrocínio do Banco do Brasil, protesto dos atletas e investigações nas contas da instituição 2 . Vale destacar, também, todo o caso de corrupção envolvendo a FIFA, que culminou em prisões de dirigentes internacionais e foi amplamente divulgado pela mídia em 2015. Além de toda a complexidade administrativa inerente ao esporte e das implicações das más gestões e da corrupção, os profissionais da comunicação esportiva ainda precisam relacionar-se, e comunicar-se, no âmbito gerencial, com os associados. Esse tipo diferenciado de torcedor também passa a ser “dono” do time e age com forte influência nos processos esportivos, principalmente exigindo resultados em campo ou quadra, o que, segundo Morgan e Summers (2008, p.21), acarreta mais dificuldade para o trabalho dos profissionais de marketing. Os patrocinadores são outro público de interesse dos profissionais de marketing esportivo, pois são eles os maiores responsáveis pela arrecadação financeira que permite ao produto esporte ter sua continuidade. O poder de atração mundial do esporte revela um potencial mercadológico muito vasto, pois a maioria das pessoas demonstra, de uma forma ou de outra, algum interesse por ele. Esse nível de interesse produz a identificação pessoal com o esporte discutida anteriormente, tornando-o também um produto bastante atrativo para investidores, por exemplo, os patrocinadores e a mídia. (MORGAN; SUMMERS, 2008. p.179) 2 Informações sobre o caso de má gestão na CBV foram obtidas em: <http://espn.uol.com.br/noticia/467403_banco-do-brasil-suspende-contrato-com-a-cbv-apos-relatorioda-cgu-confirmar-denuncias-do-dossie-volei-da-espn>. Acesso em: 05 jan. 2015. 94 Os patrocínios podem ser realizados por empresas de qualquer segmento, entrando aqui o conceito de comunicação esportiva (e não de marketing esportivo) debatido no início do capítulo. Siqueira (2014, p.40-47) analisa diferentes formas de esse patrocínio esportivo ocorrer, destacando 11 delas. 1) Name Rights: quando uma marca (seja de qual segmento for) dá seu nome para um evento ou para um arena esportiva, por exemplo; 2) Publicidade em uniformes e equipamentos; 3) Merchandising: como anúncios em placas ao redor do estádio, dentro das arenas e quadras, em telões nos campos etc.; 4) Direitos promocionais: para realizar ações promocionais ou de experiência com as marcas durantes os eventos esportivos; 5) Cotas de ingresso; 6) Hospitalidade: como a aquisição de camarotes em arenas; 7) Cotas de transmissão: colocando comerciais dentro das transmissões televisivas e radiofônicas; 8) Direitos de comercialização: possibilidade de vender produtos e serviços dentro dos eventos, normalmente comidas, bebidas e suvenires; 9) Utilização de base de dados: adquirindo a base de dados de fãs e sócios, as marcas ampliam sua lista de possíveis consumidores a serem impactados; 10) Conteúdo exclusivo: utiliza fotos, imagens e símbolos dos eventos em suas ações publicitárias; 11) Associação com a marca: a mais intangível das formas de patrocínio. Ainda que seja, provavelmente, a menos tangível de todas as propriedades de patrocínio, o direito de associação de uma marca comercial a um atleta, equipe ou evento esportivo é, em última instância, o principal ativo de patrocínio, sobretudo no posicionamento de marcas, como “o combustível oficial da Stock Car” ou “a cerveja oficial da Copa América”. (SIQUEIRA, 2014, p.47) O autor destaca, ainda, a permuta como uma forma bastante comum de patrocínio praticado por empresas que atuam produzindo equipamentos, roupas e acessórios esportivos (caso das duas marcas estudadas nesta pesquisa). A importância dessa forma de ação é que “mais do que a exposição de marca e a aquisição de outros direitos comerciais, o patrocinador tem a oportunidade de demonstrar o seu produto em ação, estreitando a relação entre a marca comercial e a marca esportiva” (SIQUEIRA, 2014, p.40). As empresas de mídia são mais um importante público com o qual os profissionais de marketing esportivo precisam relacionar. Elas são as responsáveis pela divulgação e transmissão dos eventos esportivos, contribuindo para ampliar a 95 massa de público das modalidades, além de serem responsáveis pelo pagamento dos direitos de imagem, uma importante fonte de arrecadação financeira. Para os esportes mais prósperos, os direitos televisivos estão hoje no centro de uma lucrativa rede de negócios que movimenta bilhões de dólares anualmente – de forma direta e indireta. Com isso, todos os setores do segmento esportivo ganham: jogadores, agentes, organizadoras de eventos, anunciantes, patrocinadores e as próprias emissoras de televisão”. (AFIF, 2000, p.113) Devido à sua importância, os veículos de comunicação também são um público que influencia de maneira direta na organização e produção do produto esporte, como comentam Morgan e Summers (2008, p.189): Questões como o horário (mudar o horário do jogo das partidas para que não coincidam com outros programas de grande audiência), as regras do jogo (tornar o jogo mais aberto e rápido) e mesmo a forma do jogo foram afetadas em uma variedade de modalidades esportivas por causa da pressão de executivos de redes de televisão, que são obrigados a mostrar retornos financeiros em seus investimentos. De maneira geral, todas essas relações com públicos tão distintos tornam o esporte um produto diferenciado que exige esforços específicos dos profissionais de comunicação que atuam nesse segmento. Diferentemente da maioria dos produtos disponíveis para o consumo, o esporte, visto dentro dessa perspectiva mercadológica, torna-se atrativo sob ponto de vista social e comunicacional justamente por suas características exclusivas, e esses diferenciais também se fazem presentes no relacionamento das marcas esportivas com seus públicos consumidores. O consumidor do esporte, como mencionado anteriormente, consome esse produto (ou serviço) por variados motivos, mas todos carregados de simbologias e aspectos intangíveis. Assim como em outros segmentos, como o automobilístico ou o de produtos de alto luxo, o esporte sempre é consumido a fim de garantir satisfações simbólicas. Mesmo no caso de praticantes que buscam apenas a atividade física, a fim de melhorar a saúde, encontra-se aí a simbologia da aquisição de uma vida saudável. A paixão pelo time ou pelo atleta-ídolo são exemplos da importância que o esporte pode ter na vida dos consumidores. Muitas pessoas dedicam grande parte de suas vidas para o consumo de produtos e serviços esportivos, assistindo a partidas em estádios ou pela televisão, comprando camisas, bolas, raquetes ou suvenires, e até 96 mesmo tatuando o nome ou os símbolos dos times em seus corpos. A importância do esporte na vida do consumidor pode ser tão grande a ponto de determinar seu comportamento em diferentes áreas da vida social – escolha por morar em determinado bairro, ou por não usar determinadas cores em roupas etc. Dionísio (2014, p.260) afirma que ao contrário dos bens de consumo, dos serviços ou dos mercados business to business, de uma forma geral, o mercado do desporto é pautado por enorme envolvimento e paixão do público, onde o “produto” é, de facto, relevante na vida das pessoas. Diferentemente dos consumidores de produtos comuns, os consumidores esportivos desejam a imprevisibilidade. Nenhuma pessoa quer comprar um carro e ter uma surpresa quanto ao desempenho do motor, ou comprar um perfume e só descobrir depois se o aroma combina com sua personalidade. Os consumidores esportivos, porém, compram ingressos para ver o seu time vencer ou perder, e essa incerteza de resultado é o que garante boa parte da diversão e da emoção que eles buscam. Os consumidores esportivos querem ver seu time ou atleta preferido vencerem as competições, mas sabem que, se isso não acontecer, o espetáculo não deixou de existir. Mesmo diante de um adversário superior, as torcidas comparecem às quadras e estádios e incentivam o seu time durante toda a disputa como uma forma de participarem da produção daquele produto, no caso. o evento esportivo. E essa participação acontece de forma real e efetiva, pois são inúmeros os depoimentos de atletas sobre a importância da atuação da torcida para a garantia de determinado resultado ou para o desempenho de um time durante uma competição. A expressão “jogar em casa” não é utilizada à toa, pois, diante de sua torcida, quase todos os times apresentam um desempenho melhor. Essa sensação de contribuição na produção do produto só pode ser sentida pelo consumidor do produto esportivo. “O orgulho e a satisfação emanados pelos torcedores que assistem à seleção de seu país se tornar a melhor do mundo não são sentimentos que podem ser criados artificialmente ou naturalmente atribuídos a coisas como roupas, cervejas ou empresas aéreas” (MORGAN; SUMMERS, 2008, p.289). Cientes desse conceito, empresas de diferentes segmentos lançam mão do universo esportivo para atribuir às suas marcas elementos capazes de despertar o interesse de 97 seus públicos. Esse movimento estratégico, que utiliza o esporte como uma ferramenta comunicacional, é mais uma relação entre esporte e comunicação. 1.2. O esporte como alavanca estratégica da comunicação empresarial Distanciando-se do conceito essencial do marketing esportivo definido no início do capítulo 3 e em busca do desenvolvimento de mensagens e conteúdos adequados aos diferentes públicos e ao perfil da empresa, muitas organizações encontram no mundo do esporte uma fonte valiosa de temas e estímulos. Cada modalidade, atleta ou evento pode trazer para a empresa uma associação de valores que resultará em um saldo positivo para a marca, já que sua imagem estará ligada aos aspectos intangíveis pertencentes a esse universo (como a vitória, a dedicação, o esforço, a empatia social com os atletas etc.). O marketing esportivo é um novo segmento no mercado de comunicação. Trata-se de um tipo de marketing promocional. Diferencia-se da propaganda tradicional, veiculada nas TVs, jornais, rádios e revistas, pelos seguintes atributos básicos: a) faz do consumidor não apenas um objetivo a ser buscado, mas lhe dá também a chance de participar ativamente deste mercado; e b) chega ao consumidor de forma muito rápida e mais direta, possibilitando ótima resposta ao nível de imagem e vendas. (MELO, 2003, p.34) Melo (2003, p.26-27) afirma, ainda, que “o segredo do sucesso, no marketing esportivo, é saber compatibilizar a modalidade esportiva adequada à estratégia de mercado da empresa patrocinadora e ao seu perfil institucional”, pois só assim a associação de empresa e esporte resultará no sucesso objetivado pelas estratégias comunicacionais. Nesse universo, em que a comunicação mercadológica lança mão do esporte como estratégia comunicacional, o trabalho com aspectos intangíveis é evidente, pois as emoções e os sentimentos proporcionados pelo esporte são diretamente transferidos para a comunicação das empresas. Nesse campo, a comunicação passa a ser realizada 3 Alguns autores mencionados ao longo do texto utilizam, equivocadamente, o termo “marketing esportivo” para analisar ações que utilizam o esporte como estratégia comunicacional. Para facilitar o desenvolvimento do estudo e a compreensão do conteúdo geral, esta pesquisa utilizará esses autores e essa terminologia mesmo compreendendo que o melhor termo a ser empregado deveria ser “comunicação esportiva” ou “marketing no esporte”, para o caso de empresas que não têm o esporte como seu objeto mercadológico central. 98 prioritariamente com base na emoção. A razão aparece, na maioria dos casos, nos quesitos de inovação tecnológica que os produtos apresentam, como um sistema de amortecimento específico para um tênis, um tecido que ajuda na ventilação e diminuição do suor do corpo ou ainda em aplicativos e softwares que auxiliam na performance do atleta (seja ele profissional ou amador). Já no campo das emoções, o trabalho comunicacional se encarrega de envolver o consumidor em uma atmosfera de sonho, de conquista, de poder participar de um mundo onde poucos são aqueles que obtêm sucesso. O desenvolvimento do esporte enquanto elemento de comunicação e marketing e o crescimento da indústria do entretenimento e consumo colocaram o fenômeno esportivo no centro do processo de criação de valor para empresas, marcas e produtos. Pelo seu caráter muitas vezes intangível, pelo atributos positivos que podem, em geral, a ele ser associado, o esporte apresenta, em sua plenitude, uma série de possibilidades para edificação de uma marca forte e da criação de valor para seus stakeholders. (ROCCO, 2015, p.171) Associar uma marca aos elementos do mundo esportivo é uma boa estratégia, pois esses elementos são facilmente reconhecíveis por qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. Viana (2003, p.33) comenta que os cinco anéis olímpicos (azul, amarelo, preto, verde e vermelho) são o símbolo mais conhecido do mundo, podendo ser considerados um dos mais potentes símbolos de marketing em todo o planeta. A associação do esporte com marcas e produtos de diferentes segmentos tem ganhado espaço nos planejamentos de comunicação organizacional, pois, cada vez mais, o mercado necessita encontrar formas de estimular o consumo sem que isso seja feito de maneira abrupta e evidente. Muitos são os exemplos da utilização do esporte para enaltecer um produto, (re)posicionar uma marca ou estimular vendas. Na década de 1990, o Banco do Brasil passou a patrocinar a Seleção Brasileira de Vôlei Masculino, e a associação de seu nome com esse esporte fez com que a marca ganhasse elementos de vitória e juventude, conquistando um público jovem e passando a ser um dos bancos preferidos por esse público. O patrocínio do Guaraná Antarctica à Seleção Brasileira de Futebol também é um bom exemplo, pois garante à marca a evidência de sua nacionalidade, além de estimular o consumo do produto por meio de elementos como a alegria, a diversão e a festa desse esporte. Vale ressaltar, ainda, os patrocínios da Caixa Econômica Federal e dos Correios a diferentes esportes 99 olímpicos, aumentando a empatia dessas empresas, que possuem capital estatal, com a população brasileira. Segundo Bueno (2013, p.G4), a Caixa Econômica Federal investiu, ao longo de 2013, R$ 4,5 milhões na realização de aproximadamente 200 corridas de rua. Já Ribeiro (2013, p.G4) afirma que o Banco do Brasil investiu R$ 95 milhões durante o mesmo ano em ações de marketing esportivo, um valor crescente se comparado aos R$ 53,4 milhões investidos em 2011 e os R$ 78,9 milhões de 2012. A imagem institucional de uma empresa é amplamente favorecida quando se associa ao esporte por tudo aquilo que representa, como força, aventura, emoção etc. As alegrias que o esporte oferece ao torcedor (consumidor) acabam se transferindo à imagem da empresa, pois sua marca também está participando daquele mágico momento. (AFIF, 2000, p.25) A presença das marcas no mundo esportivo tem crescido tanto que passou a influenciar os modelos de negócio do setor. Muitos patrocínios são os responsáveis pelo pagamento dos salários de atletas que, em contrapartida, aceitam fazer comerciais e participar de eventos institucionais. Além disso, as cotas de patrocínio são cada vez mais importantes para a realização de eventos, sejam eles de pequeno, médio ou grande porte. Vale destacar também que, com a realização dos grandes eventos esportivos no Brasil (Copa do Mundo FIFA 2014 e Olimpíadas 2016), muitas empresas que nunca atuaram nesse setor passaram a se aventurar, e aquelas que já possuem experiência fortaleceram ainda mais suas ações, fazendo com que a ligação entre marcas e esportes esteja em um momento de expansão – e por que não de consolidação – no país. A emoção proporcionada pelos esportes e a experiência oferecida pelos eventos são os apelos comunicacionais mais utilizados no universo da comunicação esportiva. Apesar de as empresas, em geral, lançarem mão desses elementos como uma associação estratégica de seus produtos e marcas (como explicado anteriormente), é no universo prioritário do esporte que esse apelo se concretiza e é utilizado com evidente sucesso. A emoção no esporte e seu consumo simbólico e hedonista também são abordados por Morgan e Summers (2008). As autoras consideram que assistir a uma partida de determinado esporte ou estar em um evento esportivo pode despertar 100 emoções tão intensas quanto aquelas vividas pelos praticantes do esporte, e que este é o principal apelo comunicacional a ser explorado. As pessoas comentam sobre ficarem exaustas ao final de um jogo, por serem praticamente capazes de “sentir” a ação e a injeção de adrenalina dos jogadores e atletas. É esse canal para o envolvimento secundário apreciado por homens e mulheres, assim como a montanha-russa de emoções vividas com o esporte, que o torna tão atraente para o público moderno. (MORGAN; SUMMER; 2008, p.19). O universo simbólico proporcionado pela prática esportiva também é analisado por Tambucci (2001, p.6791) sob o ponto de vista de acrescentar valores intangíveis aos produtos. O valor simbólico do esporte associado a uma marca ou a um produto lhes confere o valor-signo que estabelece a diferença entre elas e seus concorrentes pelo fato de agregar à marca ou ao produto um valor que, na realidade, supera seu valor de uso. Referimo-nos aos valores atrelados ao esporte como condição de longevidade, de qualidade de vida, de vitalidade e de jovialidade e não apenas ao conceito de esporte, que está mais atrelado ao seu aspecto recreativo e competitivo. Esse tipo de mecanismo se mostra eficaz porque a imagem do esporte é de repercussão excepcional, uma vez que se mantém imolada ao longo da história da humanidade, construindo um imaginário universal de inquestionável credibilidade nas mais diversas culturas. Qualquer marca pode beneficiar-se desse universo simbólico do esporte, contudo, os esportes em si (e seus componentes essenciais) são aqueles que mais podem explorar esse mundo em sua comunicação, pois não se trata de uma simples associação, mas de uma característica intrínseca do esporte. Esporte é: lazer, entretenimento, competição, emoções (alegria, frustação, ansiedade), qualidade de vida etc. O marketing esportivo lança mão desse universo simbólico em suas estratégias comunicacionais, pois é nesse ponto que se encontra o elo entre todos os envolvidos no processo de comunicação. Cada consumidor pode alegar um motivo especial para torcer por uma equipe, para comprar uma raquete ou um simples tênis, mas todos eles (conscientes ou não, explícitos ou não) carregam em si argumentos simbólicos e hedonistas para participar do universo esportivo. É esse consumo simbólico que faz do produto esporte algo tão especial na constituição da vida social, considerando-o um dos elementos constituintes das identidades nacionais. 101 2. Esporte e vida social Como abordado no capítulo 1, as identidades nacionais são formadas por aspectos culturais capazes de fazer com que os indivíduos se identifiquem como pertencentes a um grupo e se diferenciem de outros. Vários são os itens que compõem esses aspectos culturais, como as artes, a música, os hábitos cotidianos (como as vestimentas e a alimentação) e os esportes. Cada um desses elementos é formado pelo desenrolar do desenvolvimento social, sendo influenciado por ele e influenciando-o. É possível afirmar que, desde a Antiguidade, o esporte foi um importante elemento formador da vida social. Antigos povos chineses, gregos, celtas e indígenas praticavam jogos como forma de lazer ou de treinamento militar. Alguns desses jogos desapareceram junto com as civilizações, outros receberam modificações e são considerados os primórdios de modalidades que fazem parte da atualidade. A relação do esporte com a vida social faz com que alguns jogos possam ser considerados como típicos de certas regiões. Os fatores que determinam esse tipo de questão são variados e envolvem aspectos como o clima – que permite a prática de esportes no gelo, nas montanhas ou na água –, a estrutura física das etnias – que possibilita o desenvolvimento de esportes de força ou de agilidade –, ou ainda aspectos políticos – que impulsionam a prática de esportes com fins militares, para que a conquista de novos territórios ou mostrar superioridade de povos. Cada um desses aspectos ajudou na construção das identidades nacionais, e até hoje é visível o impacto que algumas modalidades têm em algumas nações. Em um exercício simples, é fácil identificar quais são “os esportes” de alguns países. Por exemplo, no Canadá é evidente a força do hóquei sobre gelo; nos Estados Unidos, o basquete, o baseball e o futebol americano; na Austrália, o rugby; no Brasil, na Argentina e no Uruguai, o futebol, entre outros exemplos. Esses esportes tiveram sua introdução em séculos passados, alguns de forma mais longeva do que outros, mas todos trouxeram consigo influências da vida social, sendo parte integrante da história desses países. Do ponto de vista da identidade nacional, a prática de determinados esportes ou a torcida pela seleção nacional fazem com que os povos se sintam pertencentes a um grupo, como partes formadoras de um grupo maior, em que o sentimento de união se faz presente: “O esporte de fato une as pessoas fisicamente e também tem o poder de uni-las emocionalmente ao criar um sentimento de apoio mútuo a um time ou 102 mesmo a um país” (MORGAN; SUMMERS, 2008, p.69-70). Do ponto de vista das modalidades, o esporte é capaz de impulsionar o desenvolvimento de subculturas, ou tribos, que também influenciam a vida cotidiana e a construção das identidades. O esporte, visto como um bloco, único tem grande importância na análise da construção da vida cotidiana; quando, porém, se analisam suas modalidades, o entendimento passa a ser mais rico e a construção das identidades, mais fragmentada, mais próxima da realidade vivida pelo indivíduo nos dias atuais. Futebol, basquete, skate, atletismo, hipismo, tênis, esportes de aventura etc., cada uma dessas modalidades carrega consigo características capazes de fomentar a criação de grupos específicos, com identidades definidas e identificáveis. O primeiro aspecto que deve ser levado em consideração para a identificação desses subgrupos esportivos é a própria história da modalidade. A forma como ela foi introduzida na sociedade, os apoios políticos e financeiros, as conquistas nacionais e internacionais e a construção dos ídolos contribuem para que sejam determinadas as características de cada modalidade, que são transferidas para os grupos esportivos. Outro fator de identificação surge por meio das roupas ou equipamentos necessários para a prática. Mesmo em esportes em que o investimento não é considerado grande, como no caso do atletismo, se comparado ao hipismo, por exemplo, é necessário o uso de sapatos, roupas e outros equipamentos que podem ser considerados as primeiras caracterizações físicas dos grupos. Esse item pode remeter a um segundo aspecto de diferenciação que consiste no poder financeiro, ou de classe social, do praticante ou do admirador. No Brasil, esportes como hipismo, tênis, vela, esgrima e automobilismo são considerados “esportes de elite”, praticados por poucas pessoas e, às vezes, com pouca visibilidade social; já esportes como as corridas de rua e o futebol também são praticados por pessoas pertencentes às classes sociais mais baixas, e essa divisão social do esporte contribui também para a construção das identidades dos grupos. Os aspectos simbólicos inerentes ao esporte, já explanados na parte anterior do capítulo, também são fatores que influenciam na caracterização dos grupos e na construção das identidades. Pertencer a um mundo onde as pessoas são consideradas heróis, capazes de superar desafios, ou de se tornar um ídolo famoso e rico, são simbologias que permeiam o mundo dos grupos esportivos. Cada modalidade sustenta a sua aura de simbologias e, consequentemente, cada uma delas possibilita o sentimento de pertencimento a um grupo e o distanciamento de outro. 103 Os subgrupos do esporte não estão restritos à diferenciação por modalidades. A filiação a determinadas equipes, times ou clubes também contribui para que grupos fragmentados sejam formados. Em uma mesma modalidade, por exemplo no futebol, cada time forma o seu subgrupo, facilmente identificável e altamente diferenciado de outro time. Tal como nas antigas tribos, um conjunto partilhado de símbolos e rituais permite identificar os seus membros, facilitando a distinção de quem é ‘dos nossos’ e de quem pertence ao adversário. No desporto, os símbolos mais marcantes são os logotipo, as mascotes, as bandeiras e as cores do clube. (DIONÍSIO, 2014, p.265) Neste momento, é possível resgatar, em Maffesoli (2014), a comparação dos grupos esportivos às tribos pós-modernas. Em busca de um sentimento de pertença e de união, as pessoas se unem a grupos ou subgrupos, neste caso referentes ao mundo do esporte, para criar novos laços sociais e novas identidades. O autor considera que as tribos pós-modernas são construídas por meio de sentimentos e emoções comuns que podem surgir a partir de elementos sociais como a música, o esporte, ou da própria vida cotidiana. Fazendo uso do conceito de Max Weber sobre “comunidades emocionais”, o autor afirma: “As grandes características atribuídas a essas comunidades emocionais são: o aspecto efêmero, a ‘composição cambiante’, a inscrição local, ‘a ausência de uma organização’ e a estrutura quotidiana” (MAFFESOLI, 2014, p.20). O autor analisa, ainda, que cada uma dessas comunidades, grupos ou tribos, atua no sentido da desindividualização, fazendo com que cada pessoa encontre sua identidade em grupos sociais que impulsionarão a construção da socialidade geral. “Para resumir, digamos que nas massas que se difractam em tribos, ou nas tribos que se agregam em massas, esse reencantamento tem como cimento principal uma emoção ou uma sensibilidade vivida em comum” (MAFFESOLI, 2014, p.52) Ao pertencer a um subgrupo esportivo específico, a pessoa não elimina a possibilidade de pertencer a outro também, fato que contribui para a construção das personas apontadas por Maffesoli (2014). Apesar da filiação a um grupo o caracterizar como diferente de outros, é bastante comum encontrar pessoas que praticam ou admiram diferentes esportes, colecionando seus símbolos e divulgando suas simbologias. No Brasil, por exemplo, é comum encontrar pessoas que gostam de futebol e vôlei, ou futebol e corridas de ruas ou, ainda, esportes de aventura e 104 automobilismo – sendo perceptível a grande predominância pelo futebol. O universo dessas modalidades contribui para uma formação fragmentada da identidade desses indivíduos. Ora se sobrepõe a figura do amante do futebol, que vai a campo, usa a camisa do seu time e compra suvenires, ora se sobrepõe a figura do amante do automobilismo, que coleciona miniaturas de carros de corrida e acompanha o campeonato internacional. Essa dualidade não é excludente, ao contrário, caminha no sentido de compor uma identidade única, complexa e fragmentada. O comportamento de pertencer a um subgrupo, muitas vezes, é amplamente caracterizado pela repulsa de outro subgrupo, o que culmina na explosão da violência tão presente no mundo das torcidas organizadas. Em estudo sobre os torcedores organizados no Reino Unido (especificamente Inglaterra e Escócia), conhecidos como hooligans, Giulianotti (2010, p.73-79) comenta que esse comportamento tem várias explicações sociológicas, que vão desde a luta de classes, até a busca pela sobreposição de grupos e a própria necessidade humana de praticar a violência. Contudo, o autor destaca que os estudos apresentados até então sobre o tema não foram completos, pois sempre deixaram algum viés social de fora da análise. Apontando para a complexidade social do problema e sinalizando para a troca de influências entre o mundo dos esportes e a vida social, o autor afirma que o hooliganism deve ser dividido entre tradicional: no início da prática do futebol a violência era quase uma parte do jogo, praticada tanto por atletas, quanto pela torcida inadvertidamente; moderno: a violência sai dos gramados e se concentra nas arquibancadas, expandindo-se também para fora dos estádios, invadindo a vida social: “Aos poucos, a violência foi deslocada do campo, acentuando os diferentes sentidos de identidade dos grupos de hoolingans e sua diferenciação formal do conjunto geral de torcedores” (GIULIANOTTI, 2010, p.74); e pós-moderno: a atuação da polícia e da mídia reduziram o impacto social do hooliganism, e um novo tipo de torcedor apareceu nos gramados, menos focado na violência entre torcidas rivais e mais preocupado com sua diferenciação em relação a outros times, e na união de todos em prol da defesa pela seleção nacional. De maneira geral, sobre o comportamento violento dos hoolingans, o autor afirma: O principal objetivo dos hooligans é aumentar o status de seu grupo em confrontos com os rivais. Cada torcida procura ‘ameaçar’ as 105 outras ‘defendendo-se’ e atacando as opostas, ‘nocauteando-as’, forçando-as a recuar, ou perseguindo-as. Os hooligans mantêm vários graus de prestígio e de respeito pelos que se ergueram e lutaram “corajosamente”, mesmo que tenham desistido do pior, mas aqueles que voltaram para trás e correram de um confronto são considerados humilhados. (GIULIANOTTI, 2010, p.76) Esse exemplo de comportamento de um subgrupo do mundo dos esportes corrobora o entendimento da construção das identidades dos grupos e das pessoas que o compõem, bem como da sua influência na construção da vida social. No Brasil, estudos sobre o comportamento violento das torcidas organizadas também são desenvolvidos a fim de compreender suas motivações e buscar alternativas para minimizar o impacto negativo que geram na sociedade. Todas as particularidades proporcionadas pelo esporte no âmbito social devem ser observadas pelos profissionais de comunicação que atuam no segmento esportivo. É importante que o comunicador perceba essas nuances de comportamento para que possa atuar de maneira assertiva no estabelecimento de uma comunicação da marca esportiva com seu público consumidor, como explicam Morgan e Summers (2008, p.74): A subcultura é um influenciador cognitivo e comportamental poderoso, contudo, os profissionais de marketing deveriam assegurar-se de que dispõem de uma clara compreensão de todos os fatos a serem trabalhados, especialmente no caso de um grupo ou time. Os profissionais que atuam no mundo dos esportes precisam aprofundar o entendimento sobre seu público interlocutor, envolvendo todos os aspectos que compõem essa subcultura, incorporando questões sociológicas, psicológicas, cognitivas e emocionais. No mundo do futebol, esses aspectos influenciam diretamente o comportamento dos indivíduos, pois como Giulianotti (2010, p.42) avalia, “o futebol é uma das grandes instituições culturais, como a educação e os meios de comunicação de massa, que formam e consolidam identidades nacionais no mundo inteiro”. O autor ressalta que a modalidade está presente em praticamente todos os países atualmente e, mesmo em nações em que não é considerado o esporte nacional, ele se faz presente de maneira a influenciar os relacionamentos sociais. Utilizando o recorte do Brasil, é notória a predominância do futebol como um esporte de apelo e paixão popular. Mesmo as pessoas que não possuem um “time 106 do coração” e não pertencem a um subgrupo específico, torcem e se envolvem com os jogos e competições disputados pela seleção nacional. Apesar da ressaca moral proporcionada pelo péssimo rendimento da equipe apresentado na última Copa do Mundo, o brasileiro é um dos povos que mais dá valor à essa competição, fazendo com que ela influencie de maneira direta e evidente na vida social: nos dias de jogos da seleção brasileira nas Copas do Mundo, o horário do comércio, das escolas e do trabalho nas indústrias muda. O fato de a última edição do evento ter acontecido no País impulsionou uma influência ainda mais evidente, fazendo com que toda a rotina nacional fosse pautada pela competição. Além da paixão pela seleção nacional, o envolvimento dos indivíduos com os times de futebol é de forte presença durante todo o ano, fazendo com que os subgrupos sejam evidentes na constituição social brasileira. Os campeonatos estaduais, o nacional e os internacionais dominam os noticiários esportivos das TVs abertas e dos jornais, não deixando muito espaço para a divulgação de outras modalidades que somente encontram possibilidade de divulgação, por exemplo, na TV a cabo e na internet. As conversas cotidianas, os programas sociais em dias de rodada de jogos, o trânsito nas imediações dos estádios e arenas, tudo é influenciado pela paixão que o brasileiro tem por seus times de preferência. Entender a importância e a influência do futebol na construção da identidade nacional brasileira é fundamental para os profissionais que atuam no universo da comunicação esportiva, especialmente do futebol, no país. 2.1. Futebol: o esporte que o Brasil adotou como seu Os primórdios do futebol remetem a jogos de bola praticados por índios localizados na América Central e Amazonas. Alguns historiadores sinalizam que o início do jogo aconteceu na Grécia Antiga, e outros que sua origem se encontra na China. Na Europa, o jogo também estava presente em países como a Inglaterra, a França e a Itália. Essa forma primitiva do futebol era um passatempo das massas e, por isso, a aristocracia não apoiava sua prática, chegando ao extremo de proibição em países como a China e a própria Inglaterra (GIULIANOTTI, 2010, p.15-16). No início do século XIX, as escolas públicas da Inglaterra tornaram-se um foco de desordem, e a prática de esportes, especialmente o futebol, foi um meio encontrado para disseminar a teoria de obtenção de disciplina por meio do esporte. 107 Contudo, cada escola, cidade, bairro praticava o futebol de acordo com suas regras, o que dificultava a realização de partidas e competições. A partir da necessidade de uma organização maior da modalidade, foi criada a Associação de Futebol (FA), para determinar as regras e organizar os campeonatos. No mesmo período, na cidade Rugby, um grupo de pessoas defendia que o esporte deveria ser praticado com as mãos, e não com os pés, criando assim uma separação que culminou com a criação de outro esporte que levou o nome dessa cidade e, hoje, é bastante característico do Reino Unido, o rugby. As novas classes trabalhadoras eram controladas pela ordem moralizadora de uma burguesia municipal inclinada a erradicar toda a intemperança e a diversão não civilizada. Somente na década de 1860, com a legislação do futebol e de outros jogos antigos, o povo teve uma ampla cultura de esportes para nela mergulhar mais uma vez. (GIULIANOTTI, 2010, p.20) A partir da Inglaterra o futebol começou a se espalhar por toda a Europa, por meio de estudantes e imigrantes que passaram a morar em países como a Suíça, Itália e Holanda. Nos países colonizados pela potência britânica, como a Austrália e a África do Sul, o futebol chegou junto com toda a carga cultural inglesa, auxiliando na construção de novas identidades sociais e culturais. Evidentemente, a influência política e cultural inglesa foi vital para a difusão internacional do futebol. As diferenças de classe continuaram importantes. Esportes mais imperiais, como o rúgbi e o críquete, prevaleceram nos domínios, enquanto o novo jogo industrial foi facilmente introduzido por intermédio de redes comerciais e educacionais. A hegemonia cultural britânica em relação ao futebol permaneceu nesses campos estrangeiros. O inglês foi frequentemente a língua oficial das associações de futebol locais, e o termos ingleses (tais como corner, referre, free-kick, penalty e, recentemente, hooligan) tornaram-se padrão entre os jogadores e torcedores. (GIULIANOTTI, 2010, p.24) No Brasil, o futebol chegou por meio de jovens de famílias ricas que foram estudar na Inglaterra, sendo Charles Miller, em 1894, o grande precursor. Ao contrário de seu país de origem, no Brasil, esse esporte teve seu início como uma prática esportiva de elite. Os times eram formados por sócios de clubes elitizados em que só eram associados os ricos e nobres, exclusivamente brancos. Contudo, a dificuldade em formar dois times de doze pessoas nobres e ricas para realizar as 108 partidas fez com que os introdutores e incentivadores do futebol no país começassem a abrir exceções, chamando pessoas de outras classes sociais para participarem das partidas. Devido à forte segregação social (e ao machismo, que permitia a prática apenas para os homens), durante os jogos, alguns negros passavam pó de arroz ou talco no corpo para parecem brancos. Um exemplo bastante conhecido é o do jogador Carlos Alberto que, em 1914, ao sair do América Futebol Clube para jogar no Fluminense, passava pó de arroz no corpo para esconder a sua cor. O jogador passou a ser chamado pelas torcidas adversárias de “pó de arroz” e, ao contrário do que imaginavam os oponentes, esse se tornou um símbolo, e um apelido, da torcida do Fluminense até os dias de hoje. Nessa época, nada era mais elitizado do que o futebol, já que era jogado e comentado por poucos, visto que todos os termos técnicos eram em inglês. Contudo, não demorou muito para o brasileiro pegar gosto por este esporte. Diferente do remo – o grande sucesso até cerca de 1920 no Rio de Janeiro e que exigia grande vigor físico e equipamentos sofisticados –, o futebol impôs-se pela simplicidade das regras e infraestrutura, além de não exigir maiores dotes por parte dos praticantes. (GURGEL, 2006, p.15) Assim, o futebol começou a se popularizar e cada vez mais pessoas, de diferentes classes sociais, passaram a se interessar por esse novo esporte que encantava a sociedade. Alguns times, como o Bangu Atlético Clube, nasceram dentro de empresas, e boa parte dos jogadores eram trabalhadores que praticavam o esporte em suas horas de folga. Estudos indicam que existiu um movimento muito forte dos empresários para que os atletas não fossem considerados profissionais, o que contribuiu para o atraso no desenvolvimento da profissionalização do futebol no Brasil. “Mas uma coisa é clara, não resta dúvida: assim que o futebol chegou ao Brasil, o povo se apropriou dele, ele se espalhou como se tivesse preparado para ação, só esperando para jogar” (ZIRIN, 2014, p.120). As partidas de futebol passaram a fazer parte da vida cotidiana. A população brasileira passou a acompanhar os jogos nos estádios, inclusive as mulheres, e, aos domingos, as partidas davam o tom da rotina, tornando-se um programa, motivo de conversas ou tema de comemorações. A imprensa brasileira passou a incluir o futebol como assunto de suas publicações: primeiro nos veículos impressos, depois no rádio, na televisão e, hoje, na 109 internet. Além das chamadas e resultados dos jogos, o esporte apareceu também em crônicas e críticas sociais. Lima Barreto, Mário de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Nelson Rodrigues, Luís Fernando Veríssimo, Vinicius de Moraes e muitos outros, incluíram o tema futebol em seus conteúdos publicados dos jornais diários de São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais. A ginga dos negros, vinda da capoeira, e todo um traquejo para dribles e jogadas artísticas parecem ter criado um novo jeito de se jogar futebol, mais imprevisível e “alegre” em relação à prática dos outros países. A identificação da população brasileira com o esporte foi crescente, sendo, atualmente, considerado como um dos elementos nacionais responsáveis pela caracterização da nação – junto do carnaval, das belezas naturais e da alegria e hospitalidade do povo. A relação entre o futebol e o Brasil não tem tanto a ver com esportes como com identidade nacional: é o tecido conjuntivo de um país definido por diversas culturas colidindo juntas em violência e beleza. Essa nação é indígena, africana, alemã, italiana, japonesa, libanesa e do leste europeu. Quando as pessoas pensam no que as torna “brasileira”, o futebol representa em grande parte o que o baseball representou para os Estados Unidos décadas atrás: funciona como um portal para uma sensação de pertencimento e para uma identidade nacional diferente daquela de seus antepassados. (ZIRIN, 2014, p.117) Em 1930, aconteceu a primeira participação da seleção brasileira em Copas do Mundo organizadas pela Federação Internacional de Futebol (FIFA). Esse foi um primeiro passo para a solidificação da nação unida em prol de um objetivo único que perdura até hoje. Desde então, o Brasil é o único país do mundo a participar de todas as edições da competição e, também, é o único a ter vencido 5 vezes: 1958, 1962, 1970, 1994, 2002. O envolvimento social do futebol no Brasil ultrapassou o âmbito das conversas cotidianas e da presença nos campos e estádios e chegou ao cenário político, sendo o esporte utilizado claramente como elemento de propaganda política. O exemplo mais conhecido foi durante o governo militar de Emílio Garrastazu Médici, que utilizou a participação e a vitória da seleção brasileira na Copa de 1970, no México, como uma forma de minimizar os impactos sociais negativos que a sua gestão, baseada na ditadura e na opressão, tinha na sociedade. 110 Esse uso político do futebol aconteceu por muitas décadas e, em 2014, quando a Copa do Mundo de Futebol foi realizada no Brasil, esse tema tomou força, pois este era também um ano de eleições. Aproximar o governo da seleção brasileira era uma aposta bastante arriscada, em que tudo poderia acontecer: em caso de vitória em campo, o governo poderia apropriar-se do feito; em caso de derrota, poderia ser considerado tão culpado quanto os atletas. A discrição foi a tônica do governo da presidente Dilma Rousseff, que não saiu tão impactado pela derrota vexatória da seleção brasileira por 7x1 contra os alemães na semifinal. Em uma de suas crônicas, Nelson Rodrigues comentou a derrota do Brasil, em casa, na Copa de 1950. Essa crônica parece ter sido escrita para 2014 também e demonstra claramente a importância social que o brasileiro dá para o futebol e para os resultados em campo de sua seleção nacional. É a fé que dói na gente como uma nevralgia. Acreditamos na seleção com uma dessas certezas fanáticas e totais. Ontem, um urubu de Edgar Allan Poe veio crocitar-me ao ouvido: - “E se o Brasil der com os burros n’água?’ A miserável hipótese soou como uma agressão física. Um insucesso viria desencadear neste país uma espécie de Hiroshima sentimental. Seria uma catástrofe hedionda. (RODRIGUES, apud MACHADO, 2014, p. 123) O futebol é para o brasileiro uma espécie de elemento construtor da identidade nacional. Tanto interna quanto internacionalmente, o Brasil é sempre lembrado por suas belezas naturais, pela alegria de seu povo e por seu futebol. A maioria dos brasileiros possui “o seu time do coração”, e as competições regionais, nacionais e internacionais influenciam a rotina dos brasileiros, mesmo daqueles poucos que não gostam do esporte. Diz-se no Brasil que três assuntos não devem ser discutidos, caso não se queira perder a amizade de seu interlocutor: política, religião e futebol. De fato, essa relação entre povo e futebol tem sido tão profunda e produtiva que muitos brasileiros se esquecem de que o futebol foi inventado na Inglaterra e pensam que ele é, como a mulata, o samba, a feijoada e a saudade, um produto brasileiro. Tal ousadia em mudar uma história recente e bem documentada apenas indica o quanto o “futebol” mobiliza e apaixona as massas. Provavelmente, conforme muitos têm acentuado, porque é uma atividade que indubitavelmente promove sentimentos básicos de identidade individual e coletiva entre nós. (DAMATA, 1994, p.12) 111 Essa importância social do futebol na sociedade brasileira não tem impacto apenas na vida cotidiana ou política, a economia também é um campo de atuação do esporte das bolas nos pés. As negociações no mundo do futebol movimentam grandes valores, tanto na compra e venda de atletas, quanto em patrocínios, prêmios e transmissões de partidas. A realização da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil demostrou claramente a força econômica que a modalidade tem. De acordo com Patu, Amora e Coutinho (2014, on-line), os gastos governamentais com a Copa do Mundo foram de R$ 25,8 bilhões, sendo R$ 8,1 bi para mobilidade urbana, R$ 8 bi na construção e reforma dos estádios, R$ 6,3 bi na ampliação de aeroportos, R$ 1,9 bi em segurança, R$ 600 mi em ampliação de portos, R$ 400 mi em telecomunicações e R$ 400 mi em outros gastos. Já o portal da Revista Exame 4 traz informações da agência de notícias Reuters afirmando que US$ 11 bilhões foram o total investido pelo Brasil para organizar o Mundial, sendo considerado o mais caro da história. Dados da Riotur5 apontam que só o Rio de Janeiro recebeu 886 mil turistas, sendo 471 estrangeiros e 415 mil visitantes nacionais e que eles foram responsáveis por uma movimentação de R$ 4,4 bilhões na cidade. Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) 6 , a previsão de movimentação de negócios das empresas brasileiras durante o mundial foi de US$ 3 bilhões. Vale destacar que, na Copa das Confederações, também realizada no Brasil no ano anterior, o volume de negócios das empresas foi de mais de US$ 1 bilhão. Chade (2015, on-line) destaca que documentos divulgados pela FIFA afirmam que a entidade faturou US$ 5,7 bilhões com o mundial, incluindo valores de bilheteria dos estádios e outros eventos. Esse valor, segundo o autor, representa uma diferença de mais de US$ 800 milhões em relação aos lucros obtidos na edição do Mundial na África do Sul em 2010. O impacto econômico do futebol é visível no mundo todo e, no Brasil, não seria diferente. As variadas formas de patrocínio, o profissionalismo do esporte (ou a 4 Disponível em Exame.com: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/os-grandes-numeros-da-copano-brasil>. Acesso em: 15 ago. 2104. 5 Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/riotur/exibeconteudo?id=5330603>. Acesso em: 15 ago. 2014. 6 Disponível no Portal da Copa: <http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/apex-brasil-prevemovimentacao-de-us-3-bilhoes-em-negocios-de-empresas-brasileiras-durante-a>. Acesso em: 15 ago. 2014. 112 falta dele) e a influência das emissoras de televisão são alguns dos fatores que determinam fortemente como o setor atua. As emissoras de televisão ditam regras nas competições quando compram os diretos de transmissões dos campeonatos. A alta audiência, que traz como consequência o aumento da base de público, e o pagamento aos clubes e atletas dos direitos de imagem fazem com que essas emissoras tenham grande poder na decisão de horários dos jogos, na escolha das partidas que serão televisionadas e até mesmo nos patrocinadores que aparecerão nos intervalos comerciais. Essa influência, que traz consequências negativas para o esporte, vem de décadas passadas, como comenta Gurgel (2006, p. 77-78): De fato a Copa de 1986 é uma das mais expressivas, quando se pensa nas relações entre mídias e futebol. Toda a grade horária dos jogos foi feita pensando na melhor estratégia para o telespectador, principalmente o europeu. A consequência disso é que a maior parte das partidas aconteceu em pleno verão, sob um sol escaldante. Essa era a forma para que os jogos fossem veiculados em horário nobre do continente europeu. Especialistas esportivos e jornalistas criticaram a falta de preocupação com a qualidade do produto que estava sendo veiculada pela TV. Essa lógica não foi modificada até os dias atuais e ficou evidente na Copa do Mundo de 2014, no Brasil, quando o mesmo problema de horário de jogos foi constatado. Com partidas realizadas no período da tarde, com temperaturas elevadas, era notório o interesse em beneficiar o público televisivo europeu e não o esporte, os atletas e o público presente nas arenas brasileiras. Nos campeonatos que ocorrem ao longo do ano, também é possível perceber a influência das emissoras que exigem horários de partidas que não prejudiquem sua grade de programação e a preferência por transmitirem jogos de grandes equipes capazes de atrair público telespectador aumentando sua audiência. A falta de profissionalismo do futebol brasileiro é outro fator que interfere nos aspectos econômicos do futebol. Como mencionado anteriormente, é histórica a tentativa de manter os praticantes do esporte como amadores, já que o interesse era que continuassem atuando como funcionários das empresas e jogassem apenas nas horas vagas. Essa cultura perdurou durante muitos anos, o que contribuiu para que ainda hoje os clubes brasileiros tenham dificuldade em sua administração. Apesar de trabalharem com grandes volumes financeiros e obterem lucro nas negociações com 113 patrocinadores e com a venda de atletas, os clubes esportivos são considerados instituições sem fins lucrativos no Brasil, o que os beneficia, por exemplo, com redução no pagamento de impostos. Mesmo assim, muitos clubes encontram-se endividados, sem dinheiro para pagar a folha de pagamento e manter sua estrutura, o que prejudica o desempenho das equipes e o esporte de maneira geral. Rocco (2015, p.153) avalia que a comunicação pode ser uma grande aliada no processo de gestão do esporte. Para ele, os administradores esportivos precisam profissionalizar a gestão e a comunicação a fim de estreitarem o relacionamento com seus públicos de interesse, fazendo dessa estratégia um diferencial competitivo. Um dos aspectos, em geral, negligenciado pelas entidades esportiva, especialmente no Brasil, é a construção ou valorização de um processo de comunicação organizacional que possa identificar a agremiação com seus stakeholders, sejam eles jogadores, colaboradores, comunidade, profissionais de mídia e torcedores, criando uma identidade clara e definida. (ROCCO, 2015, p.153) Ainda no caminho crítico sobre a administração do futebol e de seus representantes nacionais, Gurgel (2006, p.44) faz a seguinte análise sobre a Copa do Mundo de 1994, quando o Brasil foi campeão: “no discurso construído nas mídias brasileiras, a tônica era que, enquanto conquistava resultados expressivos no campo, o futebol nacional acumula resultados vergonhosos no mundo da gestão e das políticas esportivas”. Mesmo com avanços no legislativo, como a Lei Pelé7, que vislumbrava uma melhora na gestão do esporte brasileiro, essa situação apontada pelo autor só pirou, visto que os resultados em campo, na última Copa do Mundo, estiveram longe do desejável, e os clubes se encontram cada vez mais endividados. Essa questão aborda não só decisões internas dos dirigentes dos clubes, mas também políticas públicas sobre o esporte que deveriam estar na pauta governamental. Mesmo com a realização de grandes eventos esportivos no país, porém, parece que esse tema não desperta o interesse dos governantes. Outro fator que influencia diretamente na relação entre futebol e economia é o universo dos patrocínios e da comunicação. As empresas de diferentes segmentos que pagam grandes valores para ter suas marcas vinculadas ao mundo do futebol são as maiores responsáveis por fazer a bola não parar de rolar. Essa relação é evidente 7 A Lei na íntegra encontra-se disponível em: <http://www.cbcclubes.com.br/site/arquivos/files/novaleipele%209_615atualizada.pdf.>. Acesso em: 06 jan. 2015. 114 quando o País passa por alguma crise financeira, e as empresas recuam nos investimentos no setor, deixando os clubes em situações complicadas para honrarem seus compromissos. Um movimento cada vez mais comum é o aumento no número de patrocinadores que um time tem. Antigamente, uma grande empresa, ou poucas, patrocinava um time durante toda a temporada, e um exemplo clássico foi a parceria entre o Palmeiras e a Parmalat na década de 1990. Hoje, os times jogam com diferentes patrocinadores estampados em suas camisas e nos painéis colocados nas salas de imprensa, demonstrando claramente que o volume de dinheiro investido por empresa individualmente está cada vez menor. Como mencionado no início do capítulo, os investimentos das empresas em comunicação esportiva podem configura-se de diferentes formas: por meio de placas ao redor dos campos ou mensagens nos telões, por licenças para comercializar produtos dentro das arenas, pelo fornecimento de materiais esportivos, pela exposição das marcas nos uniformes, entre outras. Cada uma dessas formas acarreta um valor ou uma forma de pagamento que pode chegar até mesmo a influenciar o modelo de contrato de atletas específicos para atuarem nas equipes. Os patrocínios também podem aparecer para os atletas em particular e não apenas para o clube ou time. Essa forma é cada vez mais crescente e envolve os superastros que passam a se comportar como garotos propaganda de diferentes produtos. No Brasil, o primeiro caso desse tipo de patrocínio foi a associação do chocolate Diamante Negro com o jogador de futebol do Flamengo, durante as décadas de 1930 e 1940, Leônidas da Silva. O apelido de Leônidas era Diamante Negro, e a empresa Lacta “rebatizou” o seu chocolate para associá-lo ao incrível jogador que tinha inventado a “bicicleta”. Leônidas procurou a empresa e ganhou a quantia de 2 contos de réis. Devido ao seu grande sucesso nos gramados, Leônidas tornou-se um exemplo desse tipo de associação entre atletas e marcas, mesmo que de forma bastante amadora, como explica Gurgel (2006, p.27): Leônidas da Silva foi um dos primeiros no Brasil a virar superastro das propagandas. Como revela Mário Filho, o excepcional jogador vivia recebendo convites para fazer propagandas dos mais variados produtos. Faz muitas delas sem critério. Um caso célebre foi o da goiabada Peixe: o atleta assinou um declaração de que só comia aquela marca de doce de goiaba, e isso virou um anúncio de jornal. 115 No entanto, em contrapartida, a remuneração dele foi um caixote dessa goiabada. Atualmente, é possível considerar Neymar como um dos nomes de maior destaque nesse segmento no país. O jogador é garoto propaganda, recebendo patrocínio de marcas de diferentes segmentos, variando entre refrigerante, roupa íntima, empresas de telefonia, banco, entre outras. Esse tipo de patrocínio beneficia financeiramente tanto o atleta, quando seu clube ou a seleção do país, por isso é tão importante para que os negócios do futebol continuem funcionando. Para se ter uma ideia do volume financeiro que os patrocínios (de marcas de diferentes segmentos) geram no mundo dos esportes, segundo pesquisa realizada pela consultoria esportiva Brunoro Sport and Business (BSB)8, o mercado de patrocínio esportivo no Brasil movimentou, no ano de 2013, R$ 665 milhões. A análise foi feita com 89 equipes que disputam as quatro principais ligas esportivas do país, futebol (com 68% dos investimentos), vôlei (com 16%), basquete (com 9%) e futsal (com 7%). Esses dados mostram, também, a soberania que o futebol tem não só para a população, mas também para o mundo dos negócios. É importante salientar que os altos investimentos no universo da comunicação esportiva são realizados, pois é possível comprovar, por meio de métricas específicas, o retorno positivo para as marcas que a associação entre elas e o esporte trazem. 3. As marcas patrocinadoras que entram em campo Se o esporte atrai marcas de diferentes segmentos para estabelecer parcerias financeiras e comunicacionais, essa atração é ainda maior para o universo das empresas esportivas. Nike, Adidas, Puma, entre outras, figuram entre as maiores patrocinadoras de clubes e atletas, fornecendo material esportivo e uniformes como forma de divulgação de suas marcas e de aproximação com seus públicos estratégicos. No mundo todo e, no Brasil, não seria diferente: grandes clubes firmam parcerias com esse tipo de empresa. O investimento dessas marcas vai muito além da visibilidade nas camisas dos times: corporações, como a Nike, possuem laboratórios de desenvolvimento de produtos em que atletas de ponta são utilizados como modelo 8 Informações obtidas em: <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/patrocinio-esportivo-nobrasil-movimenta-r-665-milhoes>. Acesso em: 07 jan. 2015. 116 para o desenvolvimento da melhor chuteira e do melhor tecido para os uniformes, por exemplo. Vale destacar que isso também acontece com outras modalidades como o atletismo e a natação, e não apenas no futebol. O mercado de patrocínio das chamadas marcas fornecedoras, aquelas que trabalham com o fornecimento de materiais esportivos para os clubes de futebol, movimenta milhões de dólares em todo o mundo. Para se ter um exemplo, segundo LOBO (2014, on-line), a Adidas fechou um contrato com o clube inglês Manchester United de US$ 100 milhões para a temporada 2015/2016, sendo esse o contrato mais caro do setor. Ainda segundo o autor, a Adidas mantém seis dos dez maiores contratos anuais com clubes internacionais (Real Madrid – US$ 49 milhões; Chelsea – US$ 43 milhões; Juventus – US$ 30 milhões a partir de 2016; Bayern de Munique – US$ 29 milhões; Milan – US$ 19 milhões, além do Manchester já citado). Nessa lista dos dez maiores contratos do mundo encontram-se, também, a Puma, patrocinando o Arsenal com US$ 45 milhões, a Warrior com o Liverpool, em um contrato de US$ 40 milhões e a outra gigante do mercado, a Nike, com contratos com Barcelona (US$ 43 milhões) e Manchester City (US$ 19 milhões). É importante saber que a maioria desses contratos vigoram por muitos anos, o que aumenta ainda mais o valor das negociações. No universo das seleções mundiais, as grandes empresas também dominam o mercado. Na Copa do Mundo 2014, Nike (com dez seleções), Adidas (com oito) e Puma (com oito) foram as maiores patrocinadoras/fornecedoras de seleções, garantindo, assim, grande visibilidade para suas marcas no maior evento de futebol do mundo e protagonizando um grande duelo fora dos gramados. Para exemplificar os valores desse tipo de patrocínio, Jorge (2014, on-line) afirma que a Nike tem um contrato de R$ 100 milhões com a Federação Francesa de Futebol e de R$ 60 milhões com a Confederação Brasileira de Futebol. A figura 2 apresenta o domínio das grandes empresas em relação ao patrocínio de seleções em Copas do Mundo: Figura 2 – Marcas patrocinadoras de seleções em mundiais. 117 Fonte: Portal Folha on-line, 20159. O universo dos patrocínios e fornecimento de materiais esportivos é tão importante para os clubes e para as empresas que movimenta negociações volumosas não apenas em seus contratos. A tentativa de minimizar o impacto de empresas rivais no mercado e a busca pelo melhor posicionamento estratégico fazem com que negociações entre as próprias empresas chamem a atenção. Dois exemplos clássicos são a compra da Umbro pela Nike e a da Reebok pela Adidas. A Nike comprou a marca inglesa Umbro em 2007, vislumbrando aproximarse do mercado inglês, mais especificamente do clube Manchester City e da seleção inglesa. Essa ação estratégica foi impulsionada também pelo interesse que seus concorrentes, Adidas e Puma, demonstraram em relação à aquisição da marca. A negociação foi de US$ 582 milhões. Cinco anos depois, em 2012, a Nike vendeu a Umbro para a Iconix Brand Group por entender que a marca não mais fazia parte de 9 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/esporte/folhanacopa/2014/01/1397731-nike-adidas-epuma-dominam-uniformes-das-selecoes-nas-copas.shtml>. Acesso em: 07 jan. 2015. 118 seus interesses estratégicos, por não mais atuar de maneira efetiva no mercado da bola10. Já a Reebok foi adquirida pela Adidas em 2005, por US$ 3,8 bilhões. A premissa estratégica era de aproximação da rival Nike, já que a Reebok tinha grande força no mercado norte-americano, o maior centro de atuação da sua principal concorrente. A compra da marca fez com que a Adidas pudesse assumir um contrato com a NBA, a maior liga de basquete dos Estados Unidos, que tinha um acordo anterior com a Reebok, que, neste momento, se encontrava em grande crise financeira e fiscal na Índia. Atualmente, a Reebok reduziu sua atuação no mercado de alta performance, deixando esse espaço para a Adidas, e concentrou suas operações no mundo fitness, sua origem mercadológica. Para a Adidas, essa estratégia de compra facilitou a entrada no mercado norte-americano e impediu que concorrentes fizessem a aquisição da marca11. A forma como são estabelecidos os patrocínios das empresas do segmento esportivo para os clubes podem variar de contrato para contrato, mas, de acordo com Sbalieiro (2013, on-line), as formas mais comuns no Brasil são: patrocínio (verba paga pela empresa para o clube para que seja sua parceira), royalties (porcentagem sobre a venda dos uniformes e produtos do time, no Brasil varia entre 8% a 16%), materiais esportivos (é o fornecimento de todo o material utilizado pelas equipes do clube, dos profissionais às categorias de base), bônus por resultado (valor pago pela conquista de campeonatos), verba de marketing (verba utilizada pelo clube e pela empresa para realizar ações promocionais, eventos etc.) e luvas (valor que a equipe recebe no início da parceria, como uma espécie de bonificação). Sbalieiro (2013, on-line) apresenta também os valores, referentes a 2013, das parcerias dos principais clubes brasileiros com as marcas do segmento esportivo, e entre variações de valores, fica evidente que os montantes, em sua maioria, circulam sempre na casa dos milhões de reais. 10 Informações obtidas em: <http://trivela.uol.com.br/vender-camisa-seu-time-nao-e-o-principal-paramarcas-esportivas/>. Acesso em: 07 jan. 2015. 11 Informações obtidas em: <http://trivela.uol.com.br/vender-camisa-seu-time-nao-e-o-principal-paramarcas-esportivas/>. Acesso em: 07 jan. 2015. 119 3.1. Nike e Adidas: as gigantes do mercado Entre as empresas que atuam no segmento esportivo, vendendo produtos relacionados ao esporte e patrocinando clubes e seleções, a Nike e a Adidas são consideradas as mais expressivas. Como apresentado na metodologia desta pesquisa, segundo ranking da revista Forbes 12 com as mais valiosas marcas do segmento esportivo, as empresas ocupam posição de destaque. Em uma lista com 40 marcas, divididas nas categorias: negócios, eventos, atletas e times, a Nike ocupa a primeira posição entre as marcas de negócios com um valor de US$ 19 bilhões, e a Adidas ocupa a terceira posição com um valor de US$ 5,8 bilhões – atrás somente da empresa de comunicação ESPN, que está avaliada em US$ 16,5 bilhões. É interessante destacar que, na primeira posição na categoria eventos, está o Super Bowl com o valor de US$ 500 milhões, seguido dos Jogos Olímpicos de Verão com U$ 348 milhões; na categoria times está o New York Yankees com U$ 521 milhões, seguido do Real Madrid com U$ 484 milhões; e na categoria atletas está Lebron James com US$ 37 milhões, seguido por Tiger Woods com U$ 36 milhões. Por suas posições de destaque no segmento de mercado em que atuam e por suas fortes influências social e comercial, Nike e Adidas foram escolhidas como objeto de estudo desta pesquisa. Para que o desenvolvimento da investigação aconteça de maneira correta, é preciso, inicialmente, apresentar cada uma delas. Nike13 A Nike é uma empresa americana fundada por Bill Bowerman e Phill Knight na década de 1950. Em 1964, a empresa teve o seu primeiro nome registrado: Blue Ribbon Sports e, em 1971, foi-lhe atribuído o nome Nike, inspirado na deusa grega Nike, em português Nice, que significa vitória. A missão geral da empresa é “trazer inspiração e inovação para todo atleta no mundo. Se você tem um corpo, você é um atleta”. Já nas questões relativas aos consumidores, a missão da empresa é “representar o mais alto padrão de atendimento dentro e fora da nossa indústria, construindo relações de consumo fiéis ao redor do mundo”. 12 Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/mikeozanian/2014/10/07/the-forbes-fab-40-theworlds-most-valuable-sports-brands-2014//>. Acesso em: 07 jan. 2015. 13 Todas as informações sobre a empresa foram obtidos nos sites: <http://www.nike.com/br/pt_br/> e <http://nikeinc.com/pages/about-nike-inc>. Acesso em: 02 set. 2013. 120 A Nike possui atuação no mundo todo e produz roupas, equipamentos e acessórios para diferentes esportes como futebol, basquete, golf e atletismo. Suas principais marcas são: Nike, Converse, Hurley, Jordan e Nike Golf. Com uma política muito clara de apoio à diversidade, em que são delimitadas diretrizes específicas de relacionamento com colaboradores americanos, latinoamericanos ou com diferentes opções sexuais, a Nike possui uma fundação que tem como objetivo principal o auxílio no desenvolvimento de garotas que se encontram em situação de risco em diferentes partes do mundo 14 . De acordo com o site da empresa, A Fundação Nike aproveita o poder das ideias, inovação e inspiração para interromper o ciclo da pobreza entre gerações. Como uma empresa, a Nike acredita no poder do potencial humano. Na Fundação Nike, investimos exclusivamente no que vemos como a maior fonte de potencial humano inexplorado no mundo de hoje: as adolescentes. (NIKE, on-line, sd) A comunicação da empresa com o público externo está baseada em campanhas de publicidade e patrocínios de atletas, times e seleções. Na área do futebol (recorte desta pesquisa), a empresa faz os seguintes patrocínios: o Times nacionais: Corinthians, Internacional; o Times internacionais: Barcelona, Paris Saint-German, Juventus, Roma, Internazionale, Manchester City, Inter de Milão, Atlético de Madrid, Mônaco,; o Seleções: Brasil, Portugal, Holanda, Estados Unidos, França, Inglaterra, Coreia do Sul, Croácia, Austrália, entre outras; o Atletas: Ronaldo Nazário, Cristiano Ronaldo, Neymar, David Luis, Zlatan Ibrahimovic, Wayne Rooney, entre outros. A seleção brasileira de futebol foi o primeiro grande contrato dessa modalidade que a empresa fez, em 1997, quando a CBF trocou a Umbro pela Nike, em um contrato de U$ 160 milhões, por dez anos. Desde então, a empresa patrocina a seleção brasileira e tem contrato até 202615. Além dos patrocínios no futebol, a empresa também investe em times e atletas de reconhecimento internacional em diferentes esportes como Roger Federer, As informações do projeto “Efeito Garotas” estão disponíveis no endereço disponível em: <http://www.girleffect.org>. Acesso em: 02 set. 2013. 15 Informações obtidas em: <http://trivela.uol.com.br/vender-camisa-seu-time-nao-e-o-principal-paramarcas-esportivas/>. Acesso em; 07 jan. 2015. 14 121 Rafael Nadal e Maria Sharapova (tênis), Kobe Bryant e LeBron James (basquete), o que impulsiona a sua visibilidade com diferentes públicos. Dois grandes momentos de divulgação publicitária da empresa foram as campanhas de divulgação do Nike Air com a criação do slogan “Just do it” (década de 1990) e a campanha “Secret Tournament”, produzida em 2002 em âmbito global, que envolveu games on-line, campeonatos para atletas amadores e patrocínios para seleções na Copa do Mundo FIFA, inclusive do Brasil, que foi o vencedor. Essa estratégia abriu as portas da Ásia (sede do mundial) para a empresa. A Nike possui um laboratório de inovações onde são desenvolvidos equipamentos, roupas, chuteiras e acessórios capazes de melhorar, ainda mais, a performance dos atletas profissionais. Acreditando no potencial das novas tecnologias, a empresa também desenvolveu diferentes aplicativos e suportes digitais que auxiliam na prática esportiva de atletas amadores e profissionais, como por exemplo: Nike+ SportWatch GPS, Aplicativo Nike+Running (para Android e iPhone), Nike+Kinect Training (game). Adidas16 A Adidas é uma empresa alemã criada pelos irmãos Adolf Dassler e Rudolf Dassler na década de 1920. O nome foi criado pela união do apelido de um dos irmãos Adi (Adolf) com a primeira sílaba do sobrenome da família – AdiDas. A primeira grande aparição da marca aconteceu nos Jogos Olímpicos de verão de 1936, realizados em Berlim, em que o corredor negro americano Jesse Owens ganhou 4 medalhas de ouro usando tênis fabricados pelos irmãos Dassler. Esse feito de Owens ficou marcado na história das Olimpíadas não apenas pela grande quantidade de medalhas que ele ganhou, mas por todo o impacto social-político que gerou pelo fato de ele ser um negro mostrando superioridade atlética nos jogos em que Hitler era o chefe de Estado anfitrião. Em 1949, o nome Adidas foi registrado oficialmente. Em 1974, os irmãos se separaram e Rudolf criou a empresa Ruda, mais tarde chamada de Puma. A missão da empresa afirma que “o grupo Adidas se esforça para ser o líder mundial na indústria de artigos esportivos, com marcas construídas sobre uma paixão por esportes e um estilo de vida esportivo.” Ainda sobre as políticas institucionais da empresa, é interessante destacar o seguinte: 16 Todas as informações sobre a empresa foram obtidas no site <http://www.adidas-group.com>. Acesso em: 02 set. 2013. 122 Acreditamos firmemente que o esporte tem o poder de mudar o mundo. Esporte une as pessoas, não importa qual a sua origem, fundo, crenças religiosas ou status econômico. Ele tem poder para promover a compreensão e quebrar barreiras. Como Kofi Annan disse: ‘O esporte tem o poder de mudar o mundo. Esporte une as pessoas, não importa qual a sua origem, fundo, crenças religiosas ou status econômico. Ele tem um papel quase inigualável a desempenhar na promoção da compreensão, cura feridas e quebrar barreiras. Quando os jovens participam de esportes, eles podem construir a sua saúde e autoestima, usar seus talentos ao máximo, aprender os ideais de trabalho em equipe e tolerância, e ser desenhado longe dos perigos das drogas e do crime. Devemos usar o poder do esporte como agente de mudança social. (ADIDAS, online, sd) Atualmente, o grupo Adidas possui as seguintes marcas: Adidas (incluindo Originals), Rebook e TaylorMade Golf (adquirida para concorrer diretamente com a Nike nesse segmento). A empresa atua produzindo roupas, equipamentos e acessórios para várias modalidades esportivas, entre elas futebol, atletismo e golf. Assim como a Nike, sua comunicação com o público externo está baseada em campanhas de publicidade e patrocínios de atletas, times e seleções em diferentes modalidades. Na área do futebol, a empresa detém os seguintes patrocínios: o Times nacionais: Flamengo, Palmeiras, Ponte Preta, Botafogo; o Times internacionais: Manchester United, FC Bayern München, Real Madrid, AC Milan, Orlando City, entre outros; o Seleções: Alemanha, Argentina, Espanha, Rússia, Suécia, Dinamarca, Bélgica entre outras; o Atletas: David Beckham, Lionel Messi, Oscar, Lucas, Kaka, Thomas Muller, Luis Suáres, James Rodrigues. Assim como a Nike, a empresa também patrocina times e atletas de outras modalidades, como César Cielo (natação), Damian Lillard, Chicago Bulls e Los Angeles Lakers (basquete), entre outros, ampliando sua base de contato com diferentes públicos. Pela política de sustentabilidade da empresa, é possível perceber a sua preocupação institucional de construir seu posicionamento mercadológico em harmonia com o mundo em que ela está inserida. 123 Nós nos esforçamos para ser uma empresa sustentável, que reconhece as suas responsabilidades para com o meio ambiente, nossos funcionários e as pessoas que fazem os nossos produtos. Todos os nossos programas são construídos em três pilares complementares – o envolvimento da comunidade, o envolvimento dos trabalhadores e universo corporativo – determinados por fatores culturais, econômicos e sociais locais. Ao nível da marca, os nossos programas estão alinhados com as missões das marcas. (ADIDAS, on-line, sd) A Adidas é a empresa oficial dos eventos da FIFA, fornecendo para a Copa do Mundo a bola, os coletes e os uniformes dos árbitros. Essa parceria acontece desde 1970, quando a empresa forneceu a bola utilizada na competição, e tem contrato firmado até 2030 17 . Na última Copa do Mundo, realizada no Brasil, essa parceria garantiu grande visibilidade para a marca, já que, além de patrocinar todo o evento, foi a patrocinadora das duas seleções que disputaram a final, Alemanha e Argentina, e do atleta considerado o melhor da competição, Lionel Messi. Diante do acima exposto, Nike e Adidas mostram-se importantes empresas do segmento esportivo e com forte influência nos campos sociais, justificando, mais uma vez, a escolha de fazer das duas empresas os objetos centrais de investigação desta pesquisa, que passa a apresentar, nas próximas seções, um panorama do mercado de marketing esportivo brasileiro, construído por meio de entrevistas com especialistas e a análise dos dados que compõem sua amostra de pesquisa empírica. 17 Informações obtidas em: <http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/11/21/FIFArenova-contrato-com-adidas-ate-2030-e-parceria-vai-completar-60-anos.htm>. Acesso em: 07 jan. 2015. 124 Capítulo IV – OLHARES COMPLEMENTARES SOBRE O MERCADO ESPORTIVO E A COMUNICAÇÃO A fim de aprofundar o conhecimento sobre o universo da comunicação esportiva e da comunicação de empresas em mídias digitais conectadas, esta pesquisa buscou apresentar o ponto de vista de estudiosos e profissionais de mercado sobre esses temas. Para isso, a metodologia empregada foi a realização de entrevistas em profundidade com especialistas da área, para que um panorama mais atual, e pontualmente voltado ao Brasil, pudesse enriquecer a compreensão do objeto de estudo desta pesquisa. As entrevistas seguiram um roteiro de perguntas previamente elaborado, porém, foi determinado que o roteiro não seria fechado e inflexível. A intenção do roteiro foi servir como um guia para que temas importantes não ficassem de fora, bem como permitir que os entrevistados pudessem falar com total liberdade sobre os temas, de acordo com suas especialidades. Os pontos principais do roteiro foram determinados após os estudos bibliográficos que constituíram as seções anteriores e que apontaram para os principais temas deste estudo. Para se obter um panorama homogêneo, todas as entrevistas foram realizadas no primeiro semestre de 2015. Foram entrevistados quatro especialistas, divididos em dois grupos: acadêmicos e profissionais de mercado. Atendendo a uma exigência do Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo, os entrevistados não puderam ser identificados e, por isso, serão denominados por formações profissionais que se aproximam de suas atuações. O Entrevistado chamado “Professor” é um professor doutor de uma universidade estadual paulista, especialista em comunicação e gestão do esporte. O Entrevistado “Especialista” é um professor doutor de universidades particulares paulistas, especialista em comunicação, esporte e economia. O Entrevistado “Executivo do esporte” é um executivo de pesquisa em marketing esportivo, atuante em uma empresa multinacional. E o Entrevistado “Publicitário” é um publicitário, especialista em marketing digital. As entrevistas foram realizadas pessoalmente ou por meio de conferências virtuais em tempo real, o que permitiu maior interação entre a pesquisadora e os entrevistados. O conteúdo completo encontra-se disponível no apêndice da pesquisa e os trechos de maior interesse serão apresentados a seguir, organizados por tópicos, 125 buscando facilitar a compreensão do que pensam os entrevistados acerca dos temas de interesse da pesquisa. Panorama atual do marketing e da comunicação esportiva no Brasil As percepções dos entrevistados especializados em esporte podem ser consideradas complementares a respeito do panorama geral do marketing esportivo. Para o Professor, especialista em comunicação e gestão do esporte, este é um mercado promissor para marcas que querem investir. Ele pondera que, apesar da situação econômica do país, com planejamento é possível obter bons resultados na união de comunicação e esporte. O entrevistado “Executivo” de pesquisa em marketing esportivo, destaca que este é um mercado em transição e em fase de amadurecimento. A fase de amadurecimento é destacada por ele como um momento em que os investimentos no esporte estão saindo, cada vez mais, das mãos dos patronos (que investiam por motivos pessoais) e se deslocando para os patrocínios realizados por empresas que buscam retorno para o investimento que fazem. Devido a esse movimento, os profissionais precisam atuar de maneira mais complexa, com planejamento, relatórios e estudos que comprovam o retorno dos investimentos feitos pelas empresas. Em relação à transição, o entrevistado “Executivo” aponta a queda da hegemonia do futebol e a crescente presença de outros esportes na pauta do universo esportivo: “[...] É a transição do país, da pátria do futebol e do vôlei, para uma pátria dos esportes olímpicos, da natação, surf, basquete, MMA, UFC, ou seja, os outros esportes também estão usando essas ferramentas para se promover” (ENTREVISTADO “EXECUTIVO, 2015). O entrevistado “Especialista”, especialista em comunicação, esporte e economia, avalia que o mercado não se encontra no alto patamar que se planejava antes da realização da Copa do Mundo em 2014. Para ele, devido a vários aspectos, como a má gestão, falta de estrutura da indústria do esporte e a situação econômica do país, o mercado não está evoluindo como se previa. Com base na análise dos três entrevistados, é possível perceber que o universo da comunicação esportiva tem muito espaço e potencial para crescer ainda, 126 mas precisará de mais planejamento e profissionalização para que essa expectativa se concretize. Crescimento de outros esportes x hegemonia do futebol O crescimento da variedade de esportes com maior visibilidade no cenário nacional, destacado pelo entrevistado “Executivo” no tópico anterior, também é comentado pelos outros dois entrevistados acadêmicos, especialistas em esportes. O entrevistado “Especialista” pontua que é importante descentralizar a visão esportiva do Brasil, tirando o grande foco do futebol. “Eu acho que o Brasil precisa ser o país dos esportes, não do futebol. (Ser o país do) futebol, traz algumas coisas boas e muitas coisas ruins. Eu acho que o grupo de coisas ruins que traz é muito maior do que o número de coisas boas” (ENTREVISTADO “ESPECIALISTA”, 2015). Ele acredita, ainda, que existe uma “midiatização excessiva do futebol”. Para o entrevistado “Professo” é notório o crescimento de algumas modalidades antes não tão conhecidas no país, como o rugby e o futebol americano. Ele comenta: “Eu acho que é um processo lento, um processo que não vai acontecer da noite para o dia, mas a gente vê o aumento do interesse por outras modalidades esportivas” (ENTREVISTADO “PROFESSOR”, 2015). Para ele, além do investimento em outros esportes, um fator que impulsiona a pluralidade esportiva no país é o mau momento do futebol, com queda na qualidade e problemas de gestão. Os focos das ações de comunicação no ambiente esportivo Todos os entrevistados consideraram que o ponto principal para definir as ações de comunicação no ambiente esportivo é um planejamento bem elaborado que leve em consideração os objetivos esperados pela empresa. Para eles, cada ação tem uma finalidade específica e, por isso, é preciso conhecer de maneira clara quais resultados a empresa espera. O entrevistado “Especialista” afirma: “Para saber qual é a melhor estratégia, você tem que saber o que é essa empresa, com quem ela quer falar e onde o esporte entra nisso, quer dizer, é pesquisa, é fonte de informação, é estratégia”. Ele 127 complementa com um ponto de vista interessante a respeito da parceria que deve existir entre patrocinadores e esporte: [...] além de pensar o esporte para o meu negócio, cabe dentro da perspectiva social uma outra pergunta: de que maneira eu posso contribuir para o esporte? Porque existe uma responsabilidade de marca, então não é só um processo de parasitismo, você vai lá no esporte e suga dele. Você faz uma parceria para o esporte em que, num cenário ideal, os dois ganham. (ENTREVISTADO “ESPECIALISTA”, 2105) Ter uma estratégia clara e definida é o ponto que pode culminar em resultados positivos, segundo o entrevistado “Professor”. Fazendo uma análise das empresas Nike e Adidas, objetos de estudo desta pesquisa, ele avalia que as estratégias comunicacionais das empresas podem ser percebidas por meio de suas ações e, para ele, esse é o cerne da questão: as ações refletirem uma estratégia comunicacional bem elaborada. A grande parte das mensagens de comunicação que eu vejo a Adidas soltar no mercado, tenta, de alguma forma, mostrar, através do esporte, qual seria o diferencial do relacionamento que ela tem com o esporte em relação à Nike, que seria a sua grande rival. Então, o que me chama a atenção é que a Adidas faz constantemente menções às tradições que ela tem com o esporte. Por quê? Porque isso é um diferencial, no meu entendimento, com relação à Nike, que é uma marca muito mais nova nesse universo. [...] A Nike tem um posicionamento um pouco diferente, em que ela valoriza mais o personagem, o atleta. [...] E também ao fato de ela tentar vender muito uma imagem de uma marca que está no esporte mas que também está nas ruas. Então, ela desloca muito o esporte do seu ambiente. (ENTREVISTADO “PROFESSOR”, 2015) Com um ponto de vista mais mercadológico, o entrevistado “Executivo” exemplifica como a escolha das ações e as dúvidas em relação a essa escolha aparecem no dia a dia das empresas que investem no segmento esportivo. Hoje em dia, a coisa que eu mais ouço é: ‘eu estou patrocinando a manga desse time, será que eu estou investindo meu dinheiro direito? Será que esses milhões de reais que eu gasto, eu estou tendo um retorno?’ (eu pergunto) Qual é o seu objetivo? Se é construir visibilidade e atitude, é um bom investimento, é um bom retorno. Agora, se o objetivo é outro [...]. (ENTREVISTADO “EXECUTIVO”, 2015) 128 A comunicação no ambiente digital Complementando o início das entrevistas, buscaram-se obter informações sobre o que os entrevistados pensam sobre o universo da comunicação de empresas realizadas em ambiente digital. O entrevistado “Publicitário”, publicitário especialista em marketing digital, aponta que os investimentos em publicidade digital têm crescido no Brasil, seguindo uma tendência mundial. Destaca, porém, que o mercado ainda não está consolidado pois, apesar das agências de comunicação já possuírem conhecimento para atuar no mundo digital, muitas empresas, principalmente as mais tradicionais, possuem restrições com esse meio. Ele considera que, aos poucos, esse cenário se está modificando, mas que é muito forte a dificuldade em compreender o mundo digital, devido, principalmente, à falta de conhecimento dos gestores administrativos e da própria filosofia de muitas empresas. Todavia, o entrevistado “Executivo” é mais otimista e enfático ao afirmar que, no Brasil, a comunicação digital das empresas está consolidada: “O Brasil não está na retaguarda do consumo e uso do mundo digital, o Brasil está longe de estar na retaguarda do mundo de propaganda e marketing” (ENTREVISTADO “EXECUTIVO, 2015). As mídias digitais conectadas e a comunicação esportiva Especificando o uso das mídias digitais na comunicação do segmento esportivo, os entrevistados apresentaram opiniões interessantes e bastante valiosas para esta pesquisa. Para o entrevistado “Publicitário”, as empresas do segmento esportivo atuam com bons exemplos para o mercado, e destaca que muitas ações desenvolvidas por empresas como Nike, Adidas, Gatorade, entre outras, não são de conhecimento do grande público por serem muito bem trabalhadas nos seus públicos específicos. Apesar de destacar a importância das ações de nicho, o entrevistado “Publicitário” explica que plataformas populares como o Facebook devem ser utilizadas por 129 permitirem um grau elevado de conhecimento dos hábitos e interesses dos públicos: “O Facebook é a grande mídia social digital hoje, é possível saber quem são os clientes que gostam do modelo de tênis X da Adidas e veicular determinados anúncios apenas para esses clientes [...]” (ENTREVISTADO “PUBLICITÁRIO”, 2015). Ele destaca que, atualmente, muitas empresas ainda realizam planejamentos separados para mídias tradicionais e digitais e considera que essa não é a postura mais adequada já que “hoje em dia, o ideal é que tudo seja integrado”. O entrevistado “Executivo” pondera que esse é um ambiente bastante novo em que as coisas se estão desenrolando e que não é possível falar em melhores práticas ou base de conhecimento estabelecida. Ele avalia que, em países como os Estados Unidos ou na Europa Ocidental, diferente do que ocorre no Brasil, as mídias de maior interesse são aquelas ligadas ao mundo digital, pois são as que permitem um maior engajamento com o público: “Placa de campo é muito bom para se gerar visibilidade, uniforme é muito bom para se gerar atitude, mas nenhuma das duas gera engajamento” (ENTREVISTADO “EXECUTIVO”, 2015). Na avaliação do entrevistado “Professor” as mídias digitais funcionam como uma espécie de mídia de apoio ao que é comunicado nas chamadas mídias tradicionais, ampliando e repercutindo as estratégias a fim de impactar de maneira mais completa o público de interesse: Obviamente é uma utilização quase que perfeita do conceito de comunicação integrada, onde eu acho que o papel maior das mídias sociais não está em desenvolver o conceito, mas sim em propagar o conceito, em apoiar aquele conceito que já foi e que está sendo trabalhado nas mídias sociais. Então, repercutem, compartilham. (ENTREVISTADO “PROFESSOR”, 2015) Ele considera que o ambiente digital é um espaço que merece amplo monitoramento, pois ali pode ser encontrado um retrato de como a imagem da empresa é vista por seu público de interesse. O entrevistado “Professor” pondera que esta pode ser uma das melhores formas de utilizar o ambiente digital, já que este “é muito mais um espaço de monitoramento do que o público está pensando, do que efetivamente de diálogo”. Atualmente, estar fora do ambiente digital não é uma opção para empresas do segmento esportivo, segundo o entrevistado “Especialista”. Ele salienta que é preciso conhecer a funcionalidade e potencialidade de cada mídia para saber qual é a 130 mais interessante para as estratégias das empresas. Outro ponto destacado é a forma como o esporte pode ser útil para as empresas: “O esporte funciona como uma forma de vinculação positiva, porque permite narrativas, permite boas histórias, permite trabalhar a história de atletas, de clubes, de paixões”, contribuindo para facilitar o contato entre empresas e público. O entrevistado aprofunda a análise sobre o uso das narrativas esportivas na comunicação das empresas. Uma empresa que tem seus valores busca os valores do esporte, ela entende que é possível construir um ponto de contato e de contaminação positiva daqueles valores do esporte com os valores da empresa, construindo uma comunicação. Então, indiretamente, a gente já está falando de narrativa. Quer dizer, aquele atleta que é visto como um cara dedicado, que não desiste nunca, que batalha pelos seus sonhos, que é um exemplo de sucesso, de ascensão social, quando associado à empresa, a empresa tenta explorar essa característica de não desistir nunca, de batalhar pelos seus sonhos para a sua marca. Hoje em dia se usa muito esses termos, mas isso sempre houve. E a gente sabe hoje é que, efetivamente, o valor dessas histórias foram ainda mais estratégicos na sociedade atual. (ENTREVISTADO ESPECIALISTA, 2015) Pontuando esse uso narrativo para as empresas estudadas nesta pesquisa, o entrevistado “Especialista” comenta que elas atuam cada vez mais no sentido de gerenciar suas marcas por meio de gestão e estratégias que envolvem esse universo narrativo, sem deixar de divulgar as características de seus produtos ou preços, por exemplo. O foco central começa ali pela promoção, pelo “p” da promoção, e vai (derivando) cada vez mais para esse lado de branding, de conta de marketing, de construção de histórias, storytelling 1 , ou seja, também fazendo com que a marca exista efetivamente enquanto algo que os consumidores vão ter um contato direto. (ENTREVISTADO “ESPECIALISTA”, 2015) Outro ponto destacado pelo entrevistado “Publicitário”, sobre uma das vantagens no uso do universo digital para a comunicação, é a grande variedade de métricas disponíveis para avaliar resultados. 1 Estratégia utilizada nos planejamentos de marketing que lança mão de uma história para vender um produto, uma marca, um conceito, entre outros itens. Ao introduzir o que se deseja vender em uma história, a divulgação publicitária não se torna evidente, laços emocionais passam a ser estabelecidos com os públicos, e o processo comunicacional pode atingir seus objetivos de maneira mais eficiente. 131 Existem vários especialistas que podem e devem trabalhar juntos para montar, por exemplo, um relatório de resultado de uma campanha específica. O profissional de TI vai trazer as métricas de um site, o especialista em campanhas de e-mail marketing vai trazer os resultados dos e-mails, o de SMS vai trazer dos disparos para celular, o gerente do projeto vai consolidar o relatório e cruzar com dados do cliente para definir se houve ou não retorno financeiro. O profissional de planejamento vai analisar se a campanha trouxe o KPI 2 de cadastros, por exemplo, que era esperado no início. (ENTREVISTADO “PUBLICITÁRIO”, 2015) Caminhos a serem percorridos Quando questionados sobre quais caminhos devem ser traçados para a melhoria do segmento da comunicação esportiva, os entrevistados apontaram duas direções bem claras: melhoria do produto esporte e melhor qualificação dos profissionais. O entrevistado “Especialista” destacou em sua análise que “o marketing pressupõe produto, e o produto esportivo brasileiro ainda sofre muito”. Para ele, o esporte no país ainda é muito incipiente, com várias carências e isso prejudica o interesse das empresas em investir: “Se o esporte é um ambiente estratégico para as empresas, quanto melhor for esse esporte, melhor será esse ambiente, e aí os esportes ganham, e as empresas também” (ENTREVISTADO “ESPECIALISTA”, 2015). Essa visão é compartilhada pelo entrevistado “Executivo”. Ele aponta que o Brasil não caminha para se igualar ao cenário de outros países, pois a qualidade do produto esportivo brasileiro é ruim. O entrevistado sinaliza que um grande problema é de ordem econômica, já que os melhores jogadores de diferentes modalidades, como futebol, basquete e vôlei, não atuam no país porque são vendidos para clubes internacionais, garantindo lucros financeiros imediatos aos clubes nacionais. Como é que você pode querer que a Liga Brasileira de Basquete dispute a audiência, a atenção, com a NBA nos Estados Unidos? Como é que você pode querer que o Campeonato Estadual de São Paulo dispute audiência com a série A, ou a La Liga? Jogadores que você quer ver, não estão aqui, estão lá. A gente tem pesquisa aqui, pesquisa nacional, que mostra que uma parcela grande dos 2 Keys Performance Indicators são os indicadores chave que servem para quantificar o retorno de uma ação de marketing digital, explicado no capítulo 2. 132 jovens de 14 a 29 anos não tem nem time no Brasil. Não torcem para nenhum time do Brasil. (ENTREVISTADO “EXECUTIVO”), 2015) O entrevistado destaca que as federações esportivas precisam divulgar mais seus atletas fora do ambiente esportivo, a fim de aumentarem a visibilidade do esporte. Para ele, é preciso que se compreenda que, no mundo atual, o público tem grande oferta de conteúdos e existe uma “competição universal pela atenção das pessoas”. É preciso entender que, “nessa disputa, você não está mais disputando com outros voleibolistas (por exemplo), ou sequer com outro esporte, mas disputa com gente que quer ver filme, quer jogar videogame [...]” (ENTREVISTADO “EXECUTIVO”, 2015). Para o entrevistado “Professor”, o mercado brasileiro precisa de profissionais com mais competência para atuarem no universo esportivo de maneira administrativa. Ele aponta que, no país, o esporte é visto quase como um elemento político, o que prejudica o seu desenvolvimento. A maior parte da administração de esporte no país tem uma natureza política. Os clubes são administrados politicamente, as federações são administradas politicamente, as confederações são administradas politicamente, o ministério age politicamente. O esporte hoje, é primordialmente uma moeda de troca política. A gente vê muito profissional do esporte saindo do esporte e indo trabalhar em empresas no mundo corporativo que investem no esporte. Porque essas sim utilizam o esporte de uma forma mais profissional. (ENTREVISTADO “PROFESSOR”, 2015) Avaliando esse cenário, o entrevistado comenta que os gerenciadores do esporte no país parecem não se ter dado conta do potencial que a área possui. Neste ponto, ele analisa o papel do governo. Seguindo a divisão proposta pela própria Constituição do país, ele avalia o esporte sob o ponto de vista da educação, da participação e do rendimento. O esporte de educação e participação, para mim, esse deveria ser fortemente gerenciado pelo governo, e o governo (deveria) utilizar o esporte como inclusão social, como elemento de educação, de formação de indivíduo, do caráter do indivíduo, etc. E o rendimento, onde estão as possiblidades de ganho, o governo deveria somente regulamentar e fiscalizar e deixar isso na mão da iniciativa privada. (ENTREVISTADO “PROFESSOR”, 2015) 133 Complementando sua análise, o entrevistado “Professor” afirma que o esporte deve ser visto como um elemento pertencente ao universo do entretenimento. Ele reconhece que essa opinião é bastante controversa e criticada por profissionais do universo esportivo, porém, ele afirma que cada vez mais o esporte passa a pertencer ao mundo dos negócios e da indústria do entretenimento. O entrevistado avalia esse cenário como positivo, pois abre grandes perspectivas para as empresas que investem no esporte. Como exemplo dessa crescente aproximação, aponta as novas arenas construídas pelos clubes de futebol que são utilizadas não apenas para a prática esportiva, mas também para a realização de shows. Com as respostas dos entrevistados, é possível perceber um panorama do atual cenário da comunicação esportiva brasileira. De acordo com os especialistas, esee é um segmento com grandes possibilidades de crescimento, mas que necessita de algumas mudanças de paradigmas na gestão, como a melhoria da qualidade do produto esporte e da capacitação dos profissionais. Esses dois pontos foram considerados primordiais para que a comunicação esportiva possa evoluir no país. O crescente volume de investimentos realizados por empresas que buscam associar-se ao esporte também foi destacado. Os entrevistados pontuaram que várias empresas reconhecem as possibilidades comunicacionais oferecidas pelo esporte para melhorar a imagem das marcas. E as narrativas esportivas, muitas vezes baseadas em histórias de sucesso, superação e emoções, são amplamente utilizadas por marcas que necessitam melhorar ou consolidar os laços relacionais com seus públicos. Os entrevistados destacaram que as empresas Nike e Adidas, objetos de estudo desta pesquisa, utilizam esse tipo de estratégia em seus gerenciamentos de marcas, a fim de se aproximarem de seus públicos de interesse. O crescente uso das mídias digitais foi destacado, porém, foi salientado que ele ainda não pode ser considerado consolidado, por se tratar de um espaço novo, em que as práticas estão em andamento e, de certa forma, em experimentação. O engajamento, que permite uma aproximação mais efetiva entre marcas e público, é apresentado como o foco principal das ações das empresas em mídias digitais, e o monitoramento é um dos principais diferenciais estratégicos que esse ambiente oferece. É interessante perceber que a escolha dos entrevistados buscou a pluralidade de focos no cenário da comunicação digital e esportiva, e essa pluralidade resultou na construção de um cenário abrangente. As respostas se complementaram e trouxeram 134 pontos elucidativos para a construção desta pesquisa. Em determinados momentos, as entrevistas reafirmaram aspectos apresentados nas seções teóricas anteriores, corroborando a sustentação das teorias apresentadas. Exemplos podem ser as menções à necessidade de planejamento adequado aos interesses das empresas, a importância do conhecimento das especificidades e utilidades de cada plataforma digital, ou a importância de se trabalhar o esporte como um produto (de alta qualidade) para que a comunicação possa atingir os objetivos esperados. Por outro lado, os entrevistados apontaram alguns caminhos mais práticos e mercadológicos sobre as ações comunicacionais em meios digitais conectados que poderão ser utilizados posteriormente na análise da amostra coletada para a parte empírica desta pesquisa. De maneira geral, as entrevistas realizadas com os quatro profissionais contribuíram para uma compreensão mais ampla e profunda do universo da comunicação esportiva brasileira e das particularidades de sua realização no ambiente digital. Por não se deterem a casos específicos e ampliarem a análise para um cenário macro, em âmbito nacional, as entrevistas poderão unir-se às teorias apresentadas nas seções anteriores e servirão de base para construir as conclusões da pesquisa. No próximo capítulo, serão apresentadas as amostras empíricas da pesquisa, formadas pelas ações de comunicação conectada das empresas Nike e Adidas. 135 Capítulo V – ADIDAS E NIKE NAS MÍDIAS SOCIAIS DIGITAIS: METODOLOGIA, DADOS E ANÁLISE A metodologia empregada na presente pesquisa compõe-se de diferentes abordagens que, juntas, buscam oferecer maior amplitude ao entendimento dos fenômenos comunicacionais aqui estudados. Neste capítulo, serão apresentadas as descrições e análise das amostras dos conteúdos divulgados pelas empresas estudadas, Nike e Adidas, em suas páginas no Facebook e no Twitter. As páginas escolhidas para a análise são as que divulgam conteúdo relacionado ao universo do futebol e escritas em português: https://www.facebook.com/nikefutebol, https://twitter.com/nikefutebol, https://www.facebook.com/adidasFutebol e https://twitter.com/adidasbrasil. As amostras foram coletadas em quatro diferentes meses: outubro de 2013, janeiro de 2014, junho de 2014 e julho de 2014. A escolha por esses períodos se deu para que as diferentes atividades do mundo esportivo não comprometessem a qualidade da amostra. O mês de outubro pode ser considerado um mês padrão para o futebol e para a venda de artigos esportivos. Os campeonatos estaduais já acabaram no primeiro semestre, a Copa Libertadores da América também já acabou. A Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro estão em andamento, caminhando para suas fases finais. Sob o ponto de vista comercial, é um mês em que a única data comemorativa é o Dia das Crianças, uma data sem forte apelo para esse segmento. O ano de 2013 foi escolhido por ser anterior à realização da Copa do Mundo no país. O mês de janeiro de 2014 foi escolhido por ser o primeiro mês do ano da Copa do Mundo FIFA realizada no Brasil. Esse é um mês sem a realização de campeonatos, em que as equipes estão fazendo as suas pré-temporadas, porém, é um mês de compras, vendas e transferências de jogadores e negociações com patrocinadores. Esses aspectos podem, ou não, influenciar a produção de conteúdo das marcas. Os meses de junho e julho de 2014 foram escolhidos por serem os meses de realização da Copa do Mundo FIFA, que aconteceu entre 12 de junho e 13 de julho. Esse é o maior evento do mundo da modalidade, e as duas marcas estudadas têm grande presença na competição: a Adidas por ser patrocinadora oficial do evento e a Nike por ser patrocinadora da seleção brasileira. Além disso, ambas patrocinam várias seleções e atletas que participaram do campeonato. Outro aspecto que justifica a 136 escolha desses meses é a possibilidade de se verificar a influência que um evento do universo esportivo ocasiona nos conteúdos comunicacionais das marcas. No total foram alisados 657 itens, entre posts e tweets, distribuídos da seguinte forma nos meses estudados: Facebook Adidas Outubro: 58 posts Janeiro: 10 posts Junho: 21 posts Julho: 26 posts Total: 115 posts Twitter Adidas Outubro: 60 tweets Janeiro: 49 tweets Junho: 129 tweets Julho: 107 tweets Total: 345 tweets Facebook Nike Outubro: 14 posts Janeiro: 11 posts Junho: 32 posts Julho: 09 posts Total: 66 posts Twitter Nike Outubro: 15 tweets Janeiro: 14 tweets Junho: 70 tweets Julho: 32 tweets Total: 131 tweets Também foram analisados, de maneira qualitativa, a fim de se perceber o perfil de interatividade das marcas, os comentários dos posts dos meses de junho e 137 julho. A escolha por esses meses para analisar a interatividade se deu pela presença da Copa do Mundo FIFA, que gerou um grande impacto social no país, despertando o interesse na pesquisa por investigar como ocorreu a interação entre marcas e público nesse período diferenciado. Vale destacar que a análise dos comentários nas páginas das empresas foi realizada manualmente pela autora da pesquisa, pois, como afirma Cipriani (2011, p.46), “A análise do sentimento é uma etapa humana, conduzida manualmente por uma equipe porque ainda não se pode confiar 100% na avaliação de softwares sobre se um comentário é positivo ou negativo.” Nessa etapa, foram analisados os comentários de 73 posts e cerca de 50 comentários em cada um, divididos da seguinte forma: Facebook Adidas Junho: 17 posts com comentários analisados Julho: 21 posts com comentários analisados Facebook Nike Junho: 27 posts com comentários analisados Julho: 8 posts com comentários analisados É importante explicar que o número de posts com comentários analisados é inferior ao número de posts com conteúdos analisados, pois o interesse pelos comentários surgiu no desenrolar da tese e sua coleta foi posterior à coleta dos posts. Essa diferença de datas de coletas ocasionou a perda de alguns posts disponíveis nas páginas, que podem ter sido retirados por seus administradores ou excluídos pela dinâmica no próprio sistema do Facebook, que, de maneira randômica, não divulga todos os conteúdos publicados a todo momento. Após uma análise prévia do conteúdo publicado pelas empresas, foram criadas categorias a fim de se organizarem as publicações e definir o perfil comunicacional de cada empresa nas redes estudadas. O interesse na criação dessas categorias é apenas para organizar as informações e não para estudá-las a partir de suas categorizações, por isso, não se fez efetivamente uma análise de conteúdo, com o perfil e amplitude indicados pelos especialistas nessa área. As categorias utilizadas foram: 138 Tipo de ação: Patrocínio de clubes, patrocínio de atletas, patrocínio de eventos, patrocínio de seleção, produtos, divulgação de campanha, data comemorativa e divulgação do esporte Formato da publicação Foto, Vídeo, Texto Conteúdo da publicação Lançamento de produto, divulgação de produto, divulgação de evento, incentivo ao clube, incentivo ao atleta, incentivo à seleção, divulgação de atleta, divulgação de clube, divulgação de seleção, divulgação do esporte Local da produção (idioma) Nacional, internacional O total de conteúdos em cada categoria descrita será maior que 657, pois em um único item podem estar presentes diversas categorias, como, por exemplo, patrocínio de atleta e divulgação de produto ou patrocínio de clube e lançamento de produto ou, ainda, patrocínio de seleção, patrocínio de atleta e divulgação de evento juntos. Dentro dessas categorias, o conteúdo de cada empresa se apresentou dividido da seguinte maneira: Amostra da Adidas no Facebook Tipo de ação: Patrocínio de clubes – 38 Patrocínio de atletas – 38 Patrocínio de eventos – 31 Patrocínio de seleção – 10 Produtos – 50 Divulgação de campanha – 1 Data comemorativa – 1 Divulgação do esporte - 0 139 GRÁFICO 1 – Tipo de ação no Facebook da Adidas. Fonte: A autora, 2015. Formato da publicação Foto – 95 Texto - 94 Vídeo - 18 GRÁFICO 2 – Formato de publicação no Facebook da Adidas. Fonte: A autora, 2015. 140 Conteúdo da publicação Lançamento de produto – 32 Divulgação de produto – 26 Divulgação de evento – 28 Incentivo ao clube – 21 Incentivo ao atleta – 14 Incentivo a seleção – 2 Divulgação de atleta – 11 Divulgação de clube – 4 Divulgação de seleção – 7 Divulgação do esporte – 0 GRÁFICO 3 – Conteúdo de publicação no Facebook da Adidas. Fonte: A autora, 2015. Local da produção (idioma) Nacional - 94 Internacional – 17 141 GRÁFICO 4 – Local de publicação no Facebook da Adidas. Fonte: A autora, 2015. Amostra da Adidas no Twitter Tipo de ação: Patrocínio de clubes – 42 Patrocínio de atletas – 159 Patrocínio de eventos – 184 Patrocínio de seleção – 31 Produtos – 179 Divulgação de campanha – 0 Data comemorativa – 02 Divulgação do esporte – 0 142 GRÁFICO 5 – Tipo de ação no Twitter da Adidas. Fonte: A autora, 2015. Formato da publicação Foto - 308 Texto - 322 Vídeo – 24 GRÁFICO 6 – Formato de publicação no Twitter da Adidas. Fonte: A autora, 2015. 143 Conteúdo da publicação Lançamento de produto – 14 Divulgação de produto – 137 Divulgação de evento – 173 Incentivo ao clube – 19 Incentivo ao atleta – 11 Incentivo a seleção – 0 Divulgação de atleta – 90 Divulgação de clube – 11 Divulgação de seleção – 16 Divulgação do esporte – 0 GRÁFICO 7 – Conteúdo da publicação no Twitter da Adidas. Fonte: A autora, 2015. Local da produção (idioma) Nacional - 328 Internacional - 21 144 GRÁFICO 8 – Local da publicação no Twitter da Adidas. Fonte: A autora, 2015. Amostra da Nike no Facebook Tipo de ação: Patrocínio de clubes – 01 Patrocínio de atletas – 22 Patrocínio de eventos – 26 Patrocínio de seleção – 02 Produtos – 18 Divulgação de campanha – 0 Data comemorativa – 0 Divulgação do esporte – 06 145 GRÁFICO 9 – Tipo de ação no Facebook da Nike. Fonte: A autora, 2015. Formato da publicação Foto - 47 Texto - 66 Vídeo – 19 GRÁFICO 10 – Formato da publicação no Facebook da Nike. Fonte: A autora, 2015. 146 Conteúdo da publicação Lançamento de produto – 0 Divulgação de produto – 17 Divulgação de evento – 26 Incentivo ao clube – 0 Incentivo ao atleta – 0 Incentivo a seleção – 0 Divulgação de atleta – 19 Divulgação de clube – 01 Divulgação de seleção – 01 Divulgação do esporte – 06 GRÁFICO 11 – Conteúdo da publicação no Facebook da Nike. Fonte: A autora, 2015. Local da produção (idioma) Nacional – 66 Internacional – 0 147 GRÁFICO 12 – Local de publicação no Facebook da Nike. Fonte: A autora, 2015. Amostra da Nike no Twitter Tipo de ação: Patrocínio de clubes – 11 Patrocínio de atletas – 51 Patrocínio de eventos – 46 Patrocínio de seleção – 17 Produtos – 40 Divulgação de campanha – 0 Data comemorativa – 0 Divulgação do esporte – 11 148 GRÁFICO 13 – Tipo de ação no Twitter da Nike. Fonte: A autora, 2015. Formato da publicação Foto – 106 Texto - 131 Vídeo – 23 GRÁFICO 14 - Formato de publicação no Twitter da Nike. Fonte: A autora, 2015. 149 Conteúdo da publicação Lançamento de produto – 0 Divulgação de produto – 37 Divulgação de evento – 45 Incentivo ao clube – 0 Incentivo ao atleta – 0 Incentivo a seleção – 0 Divulgação de atleta – 39 Divulgação de clube – 01 Divulgação de seleção – 03 Divulgação do esporte – 11 GRÁFICO 15 – Conteúdo da publicação no Twitter da Nike. Fonte: a Autora, 2015. Local da produção (idioma) Nacional – 131 Internacional – 0 150 GRÁFICO 16 – Local da publicação no Twitter da Nike. Fonte: A autora, 2015. A partir dessa organização, foi possível analisar o tipo de conteúdo mais trabalhado pelas empresas em suas páginas no Facebook e Twitter. A descrição detalhada de cada post e tweet publicados pelas empresas no período de análise encontra-se no item “Descrição das Amostras”, localizado nos anexos desta pesquisa, disponíveis em pendrive. Comentários sobre o conteúdo da Adidas no Facebook Sobre o tipo de ação: A categoria produtos foi a que mais teve itens (50), sendo 32 de lançamento de produto e 26 de divulgação de produto. O patrocínio de clubes e atletas é bem equilibrado (38 cada), mas o patrocínio de seleções é pouco explorado (10), sendo evidenciado apenas no período final da Copa do Mundo. Se forem somados todos os conteúdos relacionados aos patrocínios, esse tipo de ação passa a ser o prioritário da marca. A marca não fez nenhuma divulgação do futebol em si, sempre de produtos, clubes, atletas e seleções, mas não puramente do esporte. 151 O patrocínio de eventos foi representativo devido ao período da Copa, que é o maior evento do mundo da modalidade futebol, do qual a marca é patrocinadora (foram 31 posts, sendo que a Copa durou 30 dias). Sobre o idioma: A predominância é de conteúdo nacional, porém, tem quantidade significativa de material em inglês (17), proveniente das páginas internacionais da marca. Sobre o formato: A predominância é para fotos (95) e texto (94), sendo o vídeo pouco explorado (18). Sobre o conteúdo das publicações: A maioria dos conteúdos refere-se aos produtos, sendo 32 de lançamento de produto e 26 de divulgação de produto. O foco principal foi a divulgação de chuteiras, porém, no período da Copa, a bola Brazuca também foi amplamente divulgada, inclusive por meio de posts produzidos como se a bola fosse um personagem, conversando em primeira pessoa com os internautas. Os uniformes de clubes, principalmente o lançamento de novas camisas, também foi divulgado pela marca. A divulgação de eventos aparece como o segundo conteúdo mais publicado, com 28 itens. Esse número é diferente do número de conteúdos sobre patrocínio de eventos, pois, no caso de patrocínio, não necessariamente ele tinha como foco divulgar o evento. Em alguns casos, o conteúdo entrou na categoria patrocínio de eventos por mencionar a Copa do Mundo, mas o conteúdo era de incentivo a um atleta ou a uma seleção. O incentivo aos clubes (21) e atletas (14) são mais utilizados do que a simples divulgação dos mesmos (respectivamente, 4 e 11). Já o incentivo (2) e a divulgação (7) de seleções são pouco explorados – mesmo a marca patrocinando grandes seleções durante a Copa do Mundo. Notou-se uma predominância desse tipo de conteúdo perto da final da Copa do Mundo, já que as duas seleções finalistas (Alemanha e Argentina) eram patrocinadas pela marca. De maneira geral, a Adidas explora, em suas publicações, a divulgação e o lançamento de seus produtos, quase sempre associando os itens à imagem de atletas patrocinados, o que aumenta o status do produto por trazer a ele valores simbólicos pertencentes aos atletas. Durante a Copa do Mundo, a marca explorou, de maneira evidente, o seu patrocínio ao evento por meio de fotos, textos e vídeos sobre os atletas e seleções, e pela divulgação da bola Brazuca. Nos períodos fora da Copa, porém, a marca utilizou em suas publicações os patrocínios que faz a clubes brasileiros. 152 Apesar de a página analisada ser em português, existe um número considerável de publicações em inglês, muitas vezes, oriundas de suas páginas internacionais. Vale destacar que o esporte, futebol, não apareceu como um elemento exclusivo de publicação: os conteúdos sempre eram referentes aos produtos (chuteiras e bola da Copa), clubes, atletas e seleções. Comentários sobre o conteúdo da Adidas no Twitter Sobre o tipo de ação: O patrocínio de eventos (184) aparece em maior número, devido à grande divulgação feita durante a Copa do Mundo, tanto do evento em si, quanto da bola, a Brazuca. Os itens produto (179) e patrocínio de atletas (159) também foram amplamente explorados pela marca. O patrocínio de clubes (42) e de seleções (31) apareceu em menor número. Tiveram apenas 02 publicações em datas comemorativas e nenhuma divulgação de campanha ou do esporte propriamente dito. Sobre o formato: A predominância é de fotos e texto. Sendo 308 fotos, 322 textos (já que algumas publicações eram só de texto) e apenas 24 vídeos. Sobre o idioma: A grande predominância é de conteúdo em português (328), porém foram encontrados 21 tweets em inglês, quase sempre eram retweets da página em inglês da marca para o futebol ou de atletas internacionais. Sobre o conteúdo: A divulgação de eventos foi predominante (173), seguida da divulgação de produto (137) e de atleta (90). O incentivo ao clube (19), ao atleta (11), a divulgação de seleções (16) e de clube (11) e o lançamento de produtos (14) foram pouco explorados se comparado aos outros itens. Não tiveram publicações de incentivo às seleções e nem de divulgação do esporte em si. Quase todas as publicações feitas no Facebook eram publicadas também no Twitter. Contudo, é grande a diferença na quantidade de conteúdos publicadas em cada plataforma, sendo o Twitter muito mais utilizado pela marca. A marca divulgou com prioridade o patrocínio de eventos, e em sequência explorou o patrocínio de atletas e os produtos. A bola da Copa do Mundo, Brazuca, (enquadrada na categoria produto) também apareceu em várias publicações, muitas vezes por meio de retweets do perfil da própria bola criada e gerenciada pela marca. A marca não divulgou o esporte isoladamente, sendo sempre explorado o patrocínio de clubes e atletas, e em menor quantidade seleções. 153 Comentários sobre o conteúdo da Nike no Facebook Sobre o tipo de ação: A categoria patrocínio de eventos foi a que teve mais postagens (26). Os produtos apareceram em 18 posts, 01 de divulgação de clube e nenhum lançamento de produto. O patrocínio de clubes e seleções foi pouquíssimo explorado, respectivamente 01 e 02. O patrocínio de atletas, porém, apareceu em maior quantidade (22). Não tiveram posts em datas comemorativas nem de divulgação de campanhas publicitárias da marca. Foram feitos 06 posts de incentivo à prática do esporte (futebol), sem que tivesse ligação com clubes, atletas, seleções ou produtos. Sobre o formato: O predomínio foi de conteúdo em texto (66), seguido de fotos (47). Assim como a Adidas, o vídeo foi pouco explorado (19). Sobre o idioma: O conteúdo publicado foi 100% em português. Sobre o conteúdo das publicações: Nenhum lançamento de produto, incentivo a clube, atleta ou seleção foi identificado. Sobre os atletas eles apenas eram divulgados por meio de fotos e vídeos (19 conteúdos), mas o incentivo às suas carreiras não apareceu de forma explícita. O predomínio foi para divulgação de eventos (26). A Batalha das Quadras e os eventos da Casa Fenomenal foram amplamente divulgados, lembrando que a marca não fez qualquer menção direta à Copa do Mundo por não ser patrocinadora nem ter o direito de mencionar o evento em sua comunicação. A marca fez 01 post de divulgação de clube e 01 post de divulgação de seleção. Ficou evidente a estratégia da marca em divulgar seus produtos, especialmente chuteiras, e os eventos que patrocinou durante o período da análise (Batalha das Quadras e Casa Fenomenal). Foi possível perceber que a marca não explorou de maneira considerável, durante o período de análise, o patrocínio que faz a clubes, atletas e seleções. Durante a Copa do Mundo, a marca buscou evidenciar a sua casa de eventos, a Casa Fenomenal, e o patrocínio a alguns atletas da seleção brasileira. O próprio patrocínio à seleção brasileira foi explorado de maneira tímida, de forma indireta, por meio dos jogadores que apareciam com o uniforme da seleção. A divulgação de produtos é o foco principal das publicações da marca. 154 No mês de outubro de 2013, os posts que mais tiveram comentários e curtidas foram aqueles que falavam sobre o futebol de maneira específica, sem divulgar produtos, atletas ou seleções. Comentários sobre o conteúdo da Nike no Twitter Sobre o tipo de ação: O patrocínio de atletas é prioritário (51), seguido do patrocínio de eventos (46) e de produtos (40). O patrocínio de clubes (11) e de seleções (17) e a divulgação do esporte (11) são menos explorados pela marca em seu Twitter. Não foi encontrado nenhum conteúdo relacionado a datas comemorativas ou divulgação de campanha. Sobre o formato: A união de fotos com texto é marcante, sendo 106 fotos e 131 textos, pois alguns tweets eram só de texto – principalmente os retweets. Os vídeos foram pouco explorados (23). Sobre o idioma: Conteúdo 100% em português. Sobre o conteúdo: A divulgação de evento apareceu em maior quantidade (45). Apesar de não poder mencionar a Copa do Mundo, por não ser patrocinadora, a marca fez eventos exclusivos antes e durante o mundial. As publicações sobre atletas (39) e produtos (37) apareceram com destaque. A divulgação do esporte em si apareceu em 11 tweets, e 03 tweets eram de divulgação de seleção. Não foi publicado nenhum conteúdo sobre incentivo a clube, atleta ou seleção e de lançamento de produto. Só um tweet foi de divulgação de clube. De maneira geral, a marca fez poucas publicações no Twitter, sendo a rede utilizada, prioritariamente, para divulgar os eventos que a marca patrocinou ou organizou. O patrocínio de atletas e a divulgação de produtos também foram explorados, mas o patrocínio de clubes e seleções foi contemplado em menor quantidade. Mesmo sendo a patrocinadora da seleção brasileira, a marca explorou pouco esse tipo de conteúdo, aparecendo mais indiretamente, por meio dos uniformes dos atletas patrocinados. O fato de não patrocinar a Copa reduzia as possibilidades comunicacionais da marca, que não encontrou alternativas (ou não teve interesse) para explorar o patrocínio da seleção brasileira em sua comunicação. O uso de fotos e texto foi prioritário, assim como no Facebook, como fez a Adidas. A marca publicou conteúdos de divulgação do esporte, sem que tivesse ligação com atletas, clubes ou 155 seleções, tipo de conteúdo não explorado pela Adidas, o que gerou grande interatividade com os internautas. Interação com internautas Em relação à interação com os internautas foram levantados números de curtidas, comentários e compartilhamentos de cada post do Facebook e a quantidade de retweets e marcações como favoritos no Twitter. A descrição de interatividade de cada um dos conteúdos isoladamente encontra-se no arquivo “Descrição dos Comentários”, localizado nos anexos desta pesquisa, disponíveis em pendrive. A seguir, serão apresentados os números totais de todas as amostras analisadas. Total de curtidas/ comentários/ compartilhamentos Facebook Adidas Curtidas: 599.920 Comentários: 14.302 Compartilhamentos: 32.168 Facebook Nike Curtidas: 2.827.865 Comentários: 110.341 Compartilhamentos: 855.917 Total de retweets e favoritos Twitter Adidas Retweets: 137.631 Favoritos: 143.666 Twitter Nike Retweets: 29.652 Favoritos: 36.137 Análise da interatividade do Facebook da Adidas Foram analisados, qualitativamente, os comentários dos posts nos meses de junho e julho, num total de 38 posts. A postura prioritária da empresa foi não responder aos comentários, tendo um baixíssimo envolvimento interativo com os internautas que fizeram muitos comentários em todas as publicações. A marca interagiu em apensas quatro posts: respondeu a uma dúvida sobre o nome da chuteira 156 divulgada no post (no dia 12/06), respondeu a alguns comentários com dúvidas sobre como participar do desafio Tudo ou Nada (no dia 12/06), respondeu uma dúvida sobre a venda da camisa do Real Madrid (no dia 01/07) e respondeu aos comentários iniciais que elogiavam o produto em um post sobre a chuteira Predator (no dia 30/07). O conteúdo dos comentários dos internautas era bem variado. Sempre que o post era sobre o lançamento de um produto (como camisas e chuteiras), a maioria elogiava e alguns poucos criticavam. Quando o post trazia conteúdo relacionado aos jogadores, clubes ou seleções patrocinados, os elogios e as críticas eram mais equilibrados. Vários comentários abriam a discussão sobre o melhor jogador ou time, mas a marca não interagiu em nenhum. Os posts que mais geraram engajamento foram aqueles que traziam jogadores patrocinados ou divulgação de chuteiras, bem como os que fizeram menção direta à Copa do Mundo. É interessante destacar que a página da Adidas no Facebook permite que o internauta publique conteúdos que ficam organizados no item publicações na página, localizada no lado esquerdo. Foram pontuais as respostas dadas pela empresa nesse espaço para interação. Análise da interatividade do Facebook da Nike Foram analisados, qualitativamente, os comentários dos posts nos meses de junho e julho, num total de 35 posts. A marca interagiu em muitos comentários, tirando dúvidas sobre como participar dos eventos da Casa Fenomenal e da Batalha das Quadras, além de comentários sobre os atletas, eventos e produtos. Ficou evidente que a marca respondia aos primeiros comentários e não entrava nos debates desenvolvidos dentro das repostas dos comentários. Sua postura era responder ao primeiro comentário e ausentar-se da discussão posterior. Em pouquíssimos casos ela respondeu a alguma resposta (localizada dentro de comentários). As respostas sempre marcavam o nome do internauta que fez o comentário (aumentando a aproximação entre marca e internauta), quase sempre continha uma resposta parecida para muitos casos e sempre evidenciava o slogan da sua campanha “arrisque tudo”. A marca usou uma linguagem informal e descontraída, ampliando o interesse do internauta em interagir. Em um post específico, no dia 18/07, a empresa respondeu como se fosse o jogador Zlatan Ibrahimovic (o post era com um vídeo do 157 avatar do jogador divulgando produtos), e isso gerou uma grande descontração entre os internautas; este foi, também, o post em que a empresa mais publicou respostas. A marca tirou muitas dúvidas dos internautas sobre como participar da Batalha das Quadras e da Casa Fenomenal, mas sempre respondia apenas aos primeiros comentários. Durante o período da Copa, alguns posts criticaram a customização das camisas da seleção brasileira vendidas pela marca que não permitia colocar os dizeres “Fora Dilma”, mas, durante alguns dias (até o ajuste do sistema), permitia escrever “Fora Aécio”. A resposta foi sempre a mesma, padronizada, e com caráter visivelmente institucional, com uma linguagem mais objetiva e menos descontraída que o padrão das repostas dadas no Facebook pela marca. Todos os comentários foram respondidos com a mesma resposta padronizada, e seguiu o mesmo estilo de responder apenas o comentários principal e não as respostas dentro dos comentários. Os vídeos com os avatares dos jogadores, que faziam parte da divulgação do vídeo o “Último Jogo”, bem como esse próprio vídeo, foram os posts como maior participação dos internautas em comentários. É importante destacar que a página do Facebook da Nike Futebol não permite que os internautas publiquem conteúdos fora das caixas de comentários ou de respostas nos comentários. Nos conteúdos das duas empresas, divulgados no meses de junho e julho, foi possível perceber que os posts com maior engajamento entre curtidas, comentários e compartilhamentos foram os que traziam atletas patrocinados e/ou chuteiras. É importante destacar que os internautas participaram majoritariamente por meio de “curtidas”, que é a ação de mais baixo envolvimento. Os comentários representavam a menor forma de manifestação, e os compartilhamentos ficavam em segundo lugar na relação entre os tipos de interação. A campanha da Nike, divulgada antes e durante a Copa do Mundo, com os avatares dos jogadores chamou muito a atenção dos internautas levantando os maiores números de interação nos conteúdos divulgados nos meses de junho e julho pela marca. Abaixo seguem as descrições de alguns posts mais relevantes em relação à interatividade das duas marcas. A descrição completa da amostra coletada nos quatro meses de análise encontra-se no item “Descrição das Amostras”, localizado nos anexos desta pesquisa, disponíveis em pendrive. 158 Exemplos de posts com grande interação dos internautas no conteúdo da Adidas Dia 12/06 (quinta): Foto dos jogadores Dani Alves, Marcelo e Oscar, com o texto: “Em busca de um sonho. #tudoounada”. Categoria: Patrocínio de evento e atletas/ foto e texto/ incentivo aos atletas/ Nacional Interação: 86.133 curtidas/ 395 comentários/ 1.845 compartilhamentos Dia 23/06 (segunda): Foto de chuteira com o nome do jogador Oscar, com o texto: “Oscar dos Santos Emboaba Júnior está preparado para garantir a classificação. #tudoounada #predatorinstinct”. Categoria: Produto, Patrocínio de atleta e evento/ foto e texto/ incentivo ao Patrocínio de atleta e divulgação de evento/ Nacional Interação: 51.358 curtidas/ 355 comentários/ 549 compartilhamentos Dia 07/07 (segunda): Foto de torcida e bandeira do Brasil, com o texto: “Amanhã, o país vai acordar unido com um só sonho, um só pensamento. Vamos juntos todos. Pra frente Brasil! #tudoounada”. Categoria: Patrocínio de evento/ foto e texto/ divulgação de evento patrocinado/ Nacional Interação: 44.913 curtidas/ 330 comentários/ 1.165 compartilhamentos Dia 08/07 (terça): Foto da bola Brazuca, com o texto: “A bola é brazuca. O campeonato é aqui. Já está escrito: essa #CopadoMundo é toda nossa. #vaibrasil #tudoounada – com Oscar e outras 6 pessoas. Categoria: Produto, patrocínio de atletas e de evento/ foto e texto/ divulgação de produto, evento e atletas patrocinados/ Nacional Interação: 25.213 curtidas/ 435 comentários/ 424 compartilhamentos 159 Exemplo de posts com grande interação dos internautas no conteúdo da Nike Dia 02/06 (segunda): Vídeo com o avatar do Cristiano Ronaldo, com o texto: “Nike Futebol: Cristiano Ronaldo Arrisca Tudo. Espere o inesperado. Você nunca viu o Cristiano Ronaldo jogar assim”. Categoria: Patrocínio de atleta/ vídeo e texto/ divulgação de atleta/ Nacional Interação: 38.576 curtidas/ 1.382 comentários/ 3.512 compartilhamentos Dia 03/06 (terça): Foto do jogador Neymar, com o texto: “Não há risco maior do que jogar sem ariscar. Arrisque tudo: Neymar Jr”. Categoria: Patrocínio de atleta/ foto e texto/ divulgação de atleta/ Nacional Interação: 70.969 curtidas/ 558 comentários/ 3.082 compartilhamentos Dia 05/06 (quinta): Foto do vídeo com os avatares de vários jogadores patrocinados, com o texto: “Os sonhos não estão na sua cabeça. Estão nos seus pés. ‘O último jogo’ – Aguarde 9 de Junho. Arrisque tudo”. Categoria: Patrocínio de atleta/ foto e texto/ divulgação de atleta/ Nacional Interação: 128.687 curtidas/ 2.408 comentários/ 8.534 compartilhamentos Dia 09/06 (segunda): Vídeo do Último Jogo com os avatares de jogadores patrocinados, com o texto: “Nike Futebol: ‘O Último Jogo’. Saiba mais: http://gonike.me/O_Ultimo_Jogo”. Categoria: Patrocínio de atleta/ vídeo e texto/ divulgação de atleta/ Nacional Interação: 395.884 curtidas/ 42.389 comentários/ 607.069 compartilhamentos Dia 10/06 (terça): Foto de chuteira, com o texto: “Leve a agilidade para todos os cantos. Apresentamos a Elástico Superfly IC, porque a velocidade não para nunca. Venda exclusiva na maior loja da Nike: http://gonike.me/MercFutS14f”. Categoria: Produto/ foto e texto/ divulgação de atleta/ Nacional Interação: 48.797 curtidas/ 1.881 comentários/ 4.477 compartilhamentos Dia 12/06 (quinta): Vídeo motivacional com fala de Ayrton Senna, com o texto: “Nike: Chegue lá – Senna. Há mais de 20 anos, Ayrton Senna deixava uma 160 mensagem perfeita para um dia como hoje. Saiba mais em: www.nike.com/ouseserbrasileiro”. Categoria: Divulgação de esporte/ vídeo e texto/ divulgação de esporte/ Nacional Interação: 408.421 curtidas/ 6.322 comentários/ 73.228 compartilhamentos Dia 12/06 (quinta): Foto do jogador Neymar em campo, com o texto: “A pressão cria lendas”. Categoria: Patrocínio de atleta/ foto e texto/ divulgação de atleta/ Nacional Interação: 285.412 curtidas/ 4.195 comentários/ 14.494 compartilhamentos Dia 23/06 (segunda): Foto de jogadores da seleção brasileira comemorando, com o texto: “Vai sem medo”. Categoria: Patrocínio de atleta e de seleção/ foto e texto/ divulgação de seleção/ Nacional Interação: 291.389 curtidas/ 2.532 comentários/ 9.959 compartilhamentos Dia 13/07 (domingo): Vídeo da nova campanha da marca para as Olimpíadas, com o texto: “Nike: O Amanhã Começa Agora. O amanhã começa agora. #OuseSerBrasileiro. http://gonike.me/CTLSTf”. Categoria: Divulgação de esporte/ foto e texto/ divulgação de esporte/ Nacional Interação: 278.917curtidas/ 2.550 comentários/ 13.689 compartilhamentos A interatividade do Twitter não foi analisada de maneira qualitativa, pois a ferramenta não permitia a inclusão de comentários durante o período de coleta da amostra, apenas permitia que os tweets fossem marcados como favoritos ou reencaminhados (retweet). A partir do mês de abril de 2015, a empresa aprimorou a plataforma e, hoje, é possível incluir comentários de até 114 caracteres, quando o internauta for retwittar o conteúdo. 161 Análise gráfica do engajamento das duas empresas Com a ferramenta de monitoramento Buzzmonitor1, foi possível obter alguns gráficos comparativos do engajamento das duas marcas durante o período de análise da interação, meses de junho e julho de 2014. Vale relembrar que o Buzzmonitor é um aplicativo utilizado por empresas e agências de comunicação para monitorar ações em redes sociais digitais. Por meio de um login e senha pessoais, o usuário obtém dados diversos como, por exemplo, quais as palavras e as plataformas mais utilizadas por seu público para interagir com as marcas, qual o perfil das pessoas que mais falam sobre a marca, qual o tipo de publicação que deu mais retorno em relação aos comentários, curtidas e compartilhamentos, entre outras informações. O funcionamento da ferramenta é baseado no gerenciamento de dados, obtidos por meio do tráfego de informações disponibilizado na internet. Esses dados são considerados métricas e, quando colocados dentro de um contexto analítico, ganham a importância de indicadores chave na análise de redes sociais digitais. No universo desta pesquisa, o foco principal foi a obtenção de dados relacionados ao engajamento, que diz respeito aos conteúdos publicados no Facebook, que receberam comentários ou compartilhamentos, isto é, conteúdos que geraram algum tipo de interação aprofundada entre as marcas e seus públicos. O engajamento diz respeito ao relacionamento que os internautas estabelecem com os conteúdos digitais e não se limita aos números relativos às ações de baixo envolvimento, como curtidas, em uma mensagem ou quantidade de seguidores em uma página. É importante destacar, também, a diferença entre engajamento e métrica “pessoas falando sobre”. O engajamento diz respeito às ações relacionais de alto envolvimento, constituídas por diálogo, interações ou colaboração; o conceito de “pessoas falando sobre” refere-se a todas as ações que envolvem a marca, sejam de baixo envolvimento (como uma simples curtida em uma mensagem), sejam ações de alto impacto, como as que constituem o universo do engajamento. Alguns gráficos obtidos com a ferramenta contribuíram para consolidar as informações apresentadas anteriormente, outros trazem novos elementos que enriqueceram a análise. Seguem, na sequência, os gráficos obtidos. 1 http://www.buzzmonitor.com.br/ 162 Junho de 2014 GRÁFICO 17 - Tipo de publicação. Fonte: Buzzmonitor, 2014. O gráfico 17 demonstra que a empresa Adidas priorizou o uso de fotos em suas publicações, e a Nike, apesar de explorar as fotos em maior quantidade, apresentou de maneira mais equilibrada o uso de fotos e vídeos. O gráfico 17 apresenta, também, o uso de links nos conteúdos publicados pelas empresa. A análise qualitativa permitiu observar que esses links, em sua maioria, são direcionamentos para a compra de produtos, especialmente chuteiras e bolas. Vale destacar que os vídeos publicados nas redes sociais estudadas igualmente estão divulgados no canal do Youtube das marcas. Como o Youtube é uma plataforma de compartilhamento em que a interação e o engajamento não são explorados com a intensidade das outras plataformas, ele não se consolidou em um dos itens de amostra desta pesquisa. 163 GRÁFICO 18 - Comparativo de engajamento por tipo de posts publicados. Fonte: Buzzmonitor, 2014. O gráfico 18 demonstra o engajamento que as duas empresas tiveram no mês de junho e quais os tipos de ações que mais proporcionaram essa métrica. O primeiro ponto facilmente observável é que a Nike teve um grau de engajamento muito maior que a Adidas. A Nike conseguiu ultrapassar 2% na métrica e a Adidas não alcançou 0,2%. Apesar do baixo nível de engajamento da Adidas, é possível notar que os vídeos tiveram mais destaque que as fotos. Os números da Nike demonstram que os vídeos tiveram maior engajamento que as fotos, e que links foram o tipo de conteúdo com menor poder de engajamento. 164 GRÁFICO 19 - Interação com os posts publicados pelas marcas. Fonte: Buzzmonitor, 2014. O gráfico 19 demostra como a interação com os conteúdos aconteceu diariamente. Com ele, é possível perceber, de maneira clara, que os internautas interagiram muito mais com a empresa Nike, com picos bastante elevados em alguns dias, e que a interação com a empresa Adidas se manteve praticamente estável e em níveis baixos. O único pico de engajamento da marca aparece no dia 06, em que foi publicado um vídeo com os jogadores Beckham, Zidane, Bale e Lucas. De acordo com essa representação, o dia 09 de junho foi o dia com maior engajamento, e esse fato também foi observado na análise qualitativa. Esse item refere-se à publicação do vídeo “Último Jogo”, com os avatares dos jogadores patrocinados pela marca, bastante curtido, compartilhado e comentado pelos internautas. O dia 12 também apresentou um elevado nível de engajamento. Nesse dia, a Nike publicou uma foto do jogador Neymar e um vídeo motivacional com a locução do piloto Ayrton Senna. Ambas as publicações tiverem elevados números de curtidas, comentários e compartilhamentos. 165 GRÁFICO 20 – Valores absolutos de pessoas falando sobre as marcas. Fonte: Buzzmonitor, 2014. o gráfico 20 não representa de maneira exclusiva o engajamento das empresas, mas, sim, todas as ações que envolvem as marcas. Quando se avalia a quantidade de “pessoas falando sobre” as marcas, medem-se todas as ações que envolvem as marcas, sendo essas representativas de engajamento ou não como, por exemplo: curtidas, comentários, confirmação em eventos, visualização de fotos, entre outros. O gráfico 20 serve para analisar que, em termos de engajamento, se a Adidas não apresentava bons níveis, quando se amplia para “pessoas falando sobre”, a empresa aumenta os seus índices, o que significa que ela está atuante no meio digital por meio de diferentes iniciativas, mas de uma forma não tão assertiva em relação ao engajamento. Em relação à empresa Nike, o gráfico 20 corrobora a compreensão de que a marca atua no ambiente das plataformas analisadas de maneira ampla, tanto do ponto de vista do engajamento quanto de ações mais abrangentes. Um ponto de destaque é o dia 19, em que a empresa Nike zerou o seu índice. Nesse dia, a empresa não fez nenhuma postagem no Facebook. 166 Julho 2014 GRÁFICO 21 - Tipo de publicação. Fonte: Buzzmonitor, 2014. Assim como no mês de junho, as empresas mantiveram a prioridade em posts com fotos, embora a Nike tenha mantido o equilíbrio entre fotos e vídeos. O elemento diferenciador entre os gráficos foi que a Adidas aumentou o uso de links e a Nike não utilizou essa estratégia em nenhum post. O uso de links da Adidas tem ligação direta com a promoção dos produtos relacionados à Copa do Mundo FIFA, como a bola Brazuca. 167 GRÁFICO 22 - Comparativo de engajamento por tipo de posts publicados. Fonte: Buzzmonitor, 2014. Mantendo o padrão do período anterior, durante o mês de julho, a Nike apresentou um engajamento muito maior do que a Adidas. A diferença de um mês para outro está no tipo de publicação com maior índice. Desta vez, as fotos tiveram maior engajamento que o vídeos (GRÁFICO 22), contudo não atingiram o mesmo patamar que os vídeos no mês anterior, ficando abaixo dos 2%. O engajamento da Adidas também foi menor, não alcançando 0,1%. 168 GRÁFICO 23 - Interação com os posts publicados pelas marcas. Fonte: Buzzmonitor, 2014. A representação do gráfico 3 demonstra, diariamente, o maior engajamento dos conteúdos da Nike em relação aos conteúdos da Adidas. Como no mês anterior, a Adidas teve um baixo e frequente nível de engajamento, com pequenos picos nos dias 13 (em que ocorreu a final da Copa do Mundo), no dia 16 (em que publicou a imagem de uma chuteira como foto de capa), no dia 21 (em que a marca não fez nenhuma nova publicação, e o índice refere-se a engajamento com publicações antigas) e 23 (em que publicou dois álbuns de fotos com as camisas dos clubes Chelsea e Milan). Por seu turno, a Nike apresentou picos de engajamento em vários dias, sendo os maiores destaques no dia 04 (em que publicou um vídeo com o avatar do jogar Davi Luiz), 08 (em que a marca não fez nenhuma nova publicação, e o índice referese a engajamento com publicações antigas), 13 (dia da final da Copa do Mundo em que publicou um vídeo sobre os Jogos Olímpicos), 17 (em que a marca não fez nenhuma nova publicação, e o índice refere-se a engajamento com publicações antigas) e 22 (em que a marca não fez nenhuma nova publicação, e o índice refere-se a engajamento com publicações antigas), 169 GRÁFICO 24 - Valores absolutos de pessoas falando sobre as marcas. Fonte: Buzzmonitor, 2014. O gráfico 24 apresenta maior diferença em relação ao mês anterior. No mês de julho, os índices da Adidas subiram bastante e, entre os dias 14 e 24 e no final do mês, a marca superou a Nike. Este é o período pós Copa do Mundo e, como a marca esteve em evidência na final do campeonato por ser a patrocinadora do evento das duas seleções finalistas e de jogadores premiados como Messi, eleito o melhor da competição, e James Rodriguez, o artilheiro, o índice de “pessoas falando sobre cresceu”. Vale destacar que o primeiro dia do mês já estava com um índice muito maior que junho e, no geral, se manteve superior se comparado a todo o mês passado. A Nike manteve-se superior à Adidas, perdendo a posição apenas no período após o encerramento da Copa do Mundo. O dia com maior índice foi 02, em que foi publicado um vídeo com o avatar do jogador Davi Luiz. No final do mês, as duas empresas tiveram uma queda no número de “pessoas falando sobre”, e a Adidas superou a Nike novamente a partir do dia 27. A partir das representações gráficas apresentadas, é possível consolidar algumas percepções desenvolvidas neste capítulo. O engajamento e a interatividade com a marca Nike se apresentam sempre maiores do que os realizados com a marca 170 Adidas. Apenas no meio do mês de julho, o número de “pessoas falando sobre” as marcas inverte consideravelmente essa posição. Esse fato tem ligação direta com a final da Copa do Mundo, em que a Adidas esteve em grande evidência. Pelos materiais descritos no início deste capítulo, nesse período a marca explorou com fotos e vídeos o patrocínio que fez ao evento, às duas seleções finalistas (Alemanha e Argentina) e aos jogadores premiados (melhor jogador e artilheiro). É interessante observar que, no período pós Copa do Mundo, próximo ao final do mês de julho, a Adiadas retomou uma posição melhor em relação à Nike, isso pode ser resultado das impressões e comentários pós evento. Logo no início do campeonato, a Nike teve um maior índice de “pessoas falando sobre” em relação à Adidas. É possível que essa situação esteja relacionada ao patrocínio que a marca faz para a seleção brasileira e esteja fortemente presente na lembrança do público. Em período pré-competição, em que o público está bastante empolgado com o evento, essa ligação da marca com a seleção impulsionou a participação dos internautas. O contraponto também deve ser avaliado, após a eliminação da seleção brasileira da competição e o crescimento da evidência da Adidas e de seus patrocinados: a Nike perdeu espaço nesse tipo de métrica. Análise geral das publicações e do engajamento das marcas A partir da análise do material descrito, é possível fazer algumas observações que contribuirão para o entendimento e análise geral desta pesquisa. Incialmente, tornou-se evidente que o tipo de publicação, a qualidade e a abordagem do material influenciam de maneira decisiva na participação do internauta e, consequentemente, na exposição da marca. Mesmo uma marca forte em seu segmento precisa conhecer os interesses do seu público para publicar conteúdos que serão compartilhados e comentados nas redes digitais. Só o peso da marca não parece ser suficiente para criar engajamento; é preciso que o internauta goste do conteúdo oferecido, para que o efeito de viralização aconteça. De maneira geral, pode-se afirmar que o volume de conteúdo publicado não influencia diretamente no engajamento do público com as marcas, já que a Nike teve um volume de publicações menor que a Adidas e um engajamento maior em vários momentos. O tipo de conteúdo publicado é a chave para movimentar a marca e o público nas redes sociais digitais. As divulgações de produtos e os conteúdos com a 171 presença dos atletas patrocinados pelas marcas geraram grande engajamento; um bom exemplo são os vídeos com os avatares do jogadores produzidos pela Nike, que serviam de chamada para o vídeo “O Último Jogo”, publicado no dia 09 de julho, e que gerou o maior engajamento registrado. Nos meses de junho e julho, as duas marcas exploraram mais a publicação de fotos, porém, o tipo de publicação que mais gerou engajamento foram o vídeos (da Nike). Neste ponto, é interessante observar que as ferramentas de métricas e os indicadores devem ser utilizados na determinação de novas estratégias. No caso da Nike, se no mês de junho ficou evidente o interesse dos internautas pelos vídeos com menções aos atletas, por que não continuar explorando essa estratégia no mês seguinte? A marca até repetiu esse tipo de conteúdo em alguns posts, mas de maneira bastante reduzida. Se tivesse apostado na continuação desse formato e conteúdo, sua concorrente poderia não se ter destacado tanto no cenário de “pessoas falando sobre” durante o mês julho? Esse tipo de avaliação deve ser constante no planejamento de comunicação em mídias sociais digitais, pois permite identificar os formatos e conteúdos que mais atraem o público e adequá-los às estratégias das empresas. Como debatido no capítulo 2, as métricas devem ser utilizadas de maneira estratégia e não apenas como elementos quantitativos que pouco significam para a elaboração de planejamentos e definição de estratégias. Os gráficos mostraram, também, que as duas marcas utilizaram a divulgação de links no mês de junho, e apenas a Adidas o fez em julho. É importante explicar que links não entraram na categoria “tipo de publicação”, pois eles sempre vinham acompanhados de texto, que já era uma categoria. Esses links serviam de direcionamento para outras páginas, principalmente para a compra de produtos como chuteira e bolas, evidenciando que os conteúdos publicados nas redes sociais digitais também podem colaborar para a divulgação e a venda de produtos. Outro ponto percebido é que os patrocínios que as marcas fazem são uma boa fonte de conteúdos capazes de ampliar o engajamento. As publicações com atletas, clubes e seleções são capazes de fortificar a ligação emocional que o público tem com o esporte, fazendo com que o universo simbólico esportivo se transfira para as marcas que acabam, por consequência, estreitando os seus laços relacionais com os internautas. Elementos como “garra”, “vitória”, “superação”, “espírito de equipe” e “união” entre outros foram explorados de forma evidente trazendo “vida” e “energia” para as marcas, aumentando o seu poder de aproximação com o público. 172 É interessante salientar a presença de elementos globais na comunicação com o público brasileiro. As duas marcas utilizaram atletas internacionais, com grande visibilidade e carisma mundial em suas publicações digitais. Essa estratégia pode ser utilizada como exemplo das teorias apresentadas no capítulo 1, em que autores explicam a importância de serem explorados aspectos globais e locais nos processos comunicacionais e no estabelecimento de relações na atual sociedade. A influência e importância dos acontecimentos do mundo esportivo na elaboração dos conteúdos divulgados pelas marcas também foram evidentes. Os meses de junho e junho/ 2014 apresentaram um volume muito maior de publicações em relação aos meses de janeiro/2014 e outubro/2013. A Copa do Mundo ampliou as possibilidades criativas e gerou, por si só, assunto para as publicações, o que pode ter influenciado no volume de “pessoas falando sobre” as marcas, que aumentou durante e após o evento. Contudo, é importante salientar que não apenas a Copa do Mundo teve esse papel; a divulgação de novos uniformes de clubes e as chamadas para as partidas de campeonatos nacionais e internacionais também foram utilizadas pelas marcas. Esse pode ser um indício de que os eventos da modalidade impulsionam a participação dos internautas nas páginas das marcas. Resgatando os conceitos de Heller (2000) sobre cotidianidade, apresentados no capítulo 1, é possível considerar que os elementos constituintes da vida cotidiana dos públicos devem ser utilizados nas estratégias comunicacionais como uma forma de despertar o interesse e aproximar o diálogo. O engajamento dos internautas ficou evidenciado por meio dos gráficos apresentados, porém, a análise qualitativa contribuiu para conhecer a forma como as empresas estabeleceram o diálogo com esses internautas. A Nike se mostrou mais atenta a esse tipo de relacionamento, respondendo às dúvidas e comentando postagens dos internautas, tendo o cuidado de sempre mencionar o nome dos indivíduos, aumentando a sensação de aproximação entre marca e público. A Adidas não se mostrou muito apta a estabelecer o diálogo, sendo pontuais e restritas as intervenções que fez junto aos internautas. Apesar da atuação mais efetiva da Nike, a empresa não aprofundou o diálogo com os internautas, fazendo comentários simples e superficiais ou respondendo de maneira objetiva às dúvidas postadas. Esse comportamento das duas empresas aponta para um cenário em que, apesar das teorias considerarem o universo digital um espaço altamente dialógico, essa conversa possui características bem particulares que, em 173 certos momentos, fogem do padrão dialógico esperado para que uma conversação se desenvolva. Com a união entre o conteúdo analisado neste capítulo, as entrevistas apresentadas no capítulo anterior e o referencial teórico construído nas seções iniciais, esta pesquisa encaminha-se para suas conclusões, que buscarão responder ao problema de pesquisa, aceitando ou refutando a hipótese proposta e consolidando a análise apresentada nesta tese. 174 CONCLUSÃO O desenvolvimento do presente estudo permitiu um aprofundamento sobre questões teóricas que envolvem o universo da comunicação organizacional realizada em mídias digitais no âmbito do segmento esportivo. Permitiu, também, realizar uma análise empírica de dois casos mercadológicos representativos que possibilitaram a ampliação do conhecimento sobre esses processos comunicacionais realizados no cenário brasileiro, especificamente no âmbito do futebol. Ao longo do primeiro capítulo, foram abordados autores que discorrem sobre os processos comunicacionais na sociedade digitalizada e conectada, dando ênfase para as possibilidades dialógicas, para o imediatismo nas trocas e para a capacidade multiplataforma dos meios digitais conectados. O segundo capítulo discorreu sobre a comunicação organizacional, com destaque para a importância do seu emprego integrado e estratégico, bem como para suas particularidades quando aplicado ao universo das mídias e redes digitais conectadas. Já o terceiro capítulo dedicou-se ao estudo do esporte e de seus processos comunicacionais. Em seu desenvolvimento foram abordados temas como a importância do esporte na vida social, suas características como produto e suas potencialidades para os processos comunicacionais de empresas, tanto para as que atuam diretamente no campo esportivo, quanto para as de outros segmentos. Esses caminhos teóricos percorridos, além das informações obtidas nas entrevistas com profissionais da área, foram de fundamental importância para que os dados obtidos empiricamente pudessem ser analisados de maneira aprofundada, respeitando o rigor metodológico que se faz presente nos estudos de caso, e buscando respostas para o problema de pesquisa proposto. A fim de organizar as conclusões obtidas neste estudo, os dados analisados serão interpretados por temas, destacados a partir das seções teóricas. As amostras das publicações das empresas Nike e Adidas podem ser consideradas um exemplo dos apontamentos teóricos que argumentam sobre os processos comunicacionais realizados em um ambiente global, mas que necessitam de impacto local [Trivinho, 2005; Wolton, 2006; Hall, 2005, entre outros]. Durante o período da Copa do Mundo FIFA – um evento mundial realizado no Brasil –, as duas empresas exploraram claramente a imagem de atletas de projeção internacional para estabelecer contato com o público local. Mesmo não sendo brasileiros, jogadores 175 como Messi, Ibrahimovic, Cristiano Ronaldo, entre outros, foram amplamente utilizados nas publicações das marcas, estratégia que deixava clara a atuação global das empresas e permitiu uma identificação com os brasileiros, uma vez que todos eles possuem grande reconhecimento entre o público pertencente ao universo do futebol. Para que a ligação com os aspectos locais não fosse deixada de lado, já que ela é um dos pilares de sustentação da identificação no processo comunicacional, as marcas também utilizaram ídolos brasileiros em suas publicações, como Neymar, David Luiz, Oscar, entre outros. Fora do período da Copa do Mundo, e ainda dentro desse tema, é interessante observar a atuação da Adidas ao explorar a divulgação dos patrocínios que faz a clubes brasileiros. No mês de outubro/2013, a empresa fez várias publicações referentes às partidas que seus patrocinados fariam no Campeonato Brasileiro e ao lançamento de uniformes (com prioridade para o Flamengo, seguido de Palmeiras e, em menor escala, o Fluminense). Esse tipo de conteúdo aproxima a marca da torcida, aumentando a possibilidade de criação de laços relacionais com possíveis consumidores locais. Durante todo o período da análise, a empresa também divulgou o patrocínio que faz a clubes internacionais e às suas participações no campeonato Liga dos Campeões da Europa, mais uma vez explorando, em sua comunicação, sua atuação global por meio de elementos compreensíveis para o público local. Fora do período da Copa do Mundo, a empresa Nike não explorou os seus patrocínios a clubes locais – fez apenas uma publicação em outubro, no Twitter, sobre o Santos, e uma no Facebook, no final de julho, sobre o Corinthians. Mesmo sendo patrocinadora de grandes clubes com forte apelo nacional, a marca pareceu não escolher esse tipo de estratégia como elemento comunicacional. Sua exploração de conteúdo local foi visivelmente realizada por meio da divulgação de seus eventos: a Batalha das Quadras e a Casa Fenomenal. A utilização de elementos locais nas publicações das duas empresas também apareceu no uso das paisagens, como praias e cenários urbanos, principalmente no período da Copa do Mundo, bem como de textos com fácil interpretação, como os utilizados pela Adidas quando fez as postagens sobre a bola Brazuca, sempre com tom de humor, ou quando a marca fez uma publicação incentivando a equipe da Bósnia em um jogo contra a Argentina, lançando mão de uma situação típica do futebol brasileiro que tem na rivalidade contra a Argentina uma de suas características. 176 Outro aspecto teórico abordado no primeiro capítulo e retomado no terceiro, observado nas publicações das empresas, é a identificação dos grupos e a valorização de suas características no estabelecimento de laços relacionais [Maffesoli, 2003, 2014; Hall, 2005; Giulianotti, 2010 entre outros]. Por ser um mercado de nicho – esporte / futebol, as marcas utilizaram palavras e discursos com total identificação com esse público específico. Apelidos para os clubes (como Mengão e Verdão), exploração de características bem particulares dos atletas patrocinados (como o estilo de a Nike escrever nas publicações com o avatar do jogador Ibrahimovic), slogans e frases com referência ao mundo do futebol (como “quatro linhas” ou “distribua canetas”) foram amplamente utilizados pelas duas marcas numa tentativa bem sucedida de aproximação com o seu público de interesse. A linguagem “futebolística” também pôde ser percebida em alguns comentários das marcas, principalmente da Nike, quando estabeleceu um diálogo com os internautas. Outro exemplo ocorreu quando a marca divulgou seu evento “Batalha das Quadras”, comunicando-se com grupos de aspirantes a jogadores de futebol, também um público estratégico para a empresa. Ainda no primeiro capítulo, é interessante utilizar as teorias de Heller (2008) sobre a cotidianidade para analisar os conteúdos das publicações. As duas marcas utilizaram os eventos cotidianos do esporte, como partidas, campeonatos, lançamentos de chuteiras e uniformes, em seus conteúdos, e essa utilização da “vida cotidiana” do esporte no processo comunicacional das empresas pode ser compreendido como uma tentativa de aproximar as marcas de seus públicos em sua cotidianidade. Especialmente no Brasil, em que o futebol tem grande destaque midiático e social, os internautas considerados públicos de interesse das duas marcas têm, no futebol, um dos elementos constituintes de suas vidas. Ao utilizar esses elementos como conteúdo estratégico de suas comunicações, as marcas tentam fazer parte da vida diária dos internautas, estabelecendo uma ligação entre a presença do esporte com a presença das marcas. Sob os aspectos que envolvem as teorias acerca da comunicação organizacional, debatidos no segundo capítulo desta tese, é interessante destacar alguns pontos. A importância da realização de uma comunicação integrada e estratégica e o trabalho entre identidade e imagem [Kunsch, 2003; Bueno, 2003, 2012, entre outros] puderam ser observados nas postagens das duas empresas. O posicionamento como empresas globais, com desenvolvimento de produtos de alta 177 qualidade e com grande destaque mercadológico, foi trabalhado de maneira clara pelas marcas. Um exemplo foram os lançamentos de chuteiras divulgados amplamente, tanto no Facebook quanto no Twitter, pelas duas empresas. De formas muito parecidas, dando destaque para a complexidade no desenvolvimento do produto, para o seu design e utilizando atletas patrocinados como impulsionadores da divulgação, as duas marcas se posicionaram como empresas de ponta, diferenciadas e com forte preocupação em oferecer produtos que melhorem a performance do esporte. Esses elementos são encontrados em seus discursos identitários organizacionais e fazem parte do imaginário que constitui o campo da imagem institucional das duas marcas (apresentados no terceiro capítulo). Um exemplo é quando a Nike cria uma campanha e um evento para incentivar jovens aspirantes a jogadores de futebol. Em todos os tweets e posts, a marca incentiva cada um a buscar o seu melhor, a não desistir, e esse conteúdo tem total afinidade com os textos institucionais da marca quando afirmam que a Nike aposta no potencial humano. O posicionamento global das duas marcas também é facilmente identificado nas comunicações pelo grande uso dos atletas, clubes e seleções patrocinados. A utilização desses patrocínios reforça a presença das marcas em esfera mundial, pois evidencia a sua atuação em diferentes países, sempre com representantes significativos no mundo esportivo. A linguagem, os aspectos visuais e o tipo de conteúdos publicados também podem ser interpretados como pertencentes a uma estratégia integrada de comunicação. Existe padronização no uso de slogans de campanhas ou eventos, as montagens com imagens dos atletas patrocinados e com chuteiras seguem uma mesma linha criativa, e os textos são desenvolvidos com o mesmo tipo de linguagem. Apenas não foi possível perceber se esse conteúdo pertencia a um planejamento de comunicação que interligasse outras mídias, pois esse enfoque não pertencia a este estudo. Por estar presente no país durante a Copa do Mundo, a autora da pesquisa pôde observar, de maneira descomprometida com o rigor metodológico que esta pesquisa exige, que alguns conteúdos divulgados pela empresa Adidas nas duas plataformas estudadas tiveram ligação com comunicações veiculadas em outras mídias. Essa percepção foi evidente na marca Adidas, pois ela era patrocinadora oficial do evento e pôde usar amplamente o mundial em sua comunicação. Contudo, esses aspectos não foram aprofundados e incorporados na pesquisa e, apesar de observados, pela autora não serão incluídos na análise. 178 Um ponto importante a ser destacado é que, nas teorias apresentadas no segundo capítulo, os autores [Jenkins, 2008; Gabriel, 2010; Cipriani, 2011; Bueno, 2015, entre outros] destacam dois aspectos fundamentais da comunicação organizacional realizada no ambiente digital conectado, e que não são empregados com plenitude pelas duas marcas: uso específico de cada plataforma e o diálogo/interação. As duas marcas publicaram várias vezes o mesmo conteúdo (fotos, textos ou vídeos) no Facebook e no Twitter. Essas publicações repetidas aconteciam no mesmo dia ou no máximo em dias sequenciais, podendo ser realizadas pelos profissionais de comunicação de forma manual ou pelo uso de aplicativos que encaminham as publicações para diferentes plataformas de maneira automática. O fato é que, de acordo com os teóricos e com os especialistas entrevistados – especificamente o entrevistado “Publicitário” –, essa é uma estratégia sem eficácia, pois entrega para o internauta conteúdos repetidos e não explora as potencialidade que cada plataforma possui, o que não desperta o interesse do interlocutor, não gerando engajamento e envolvimento no processo comunicacional. Cada plataforma possui características e funcionalidades específicas e saber usar cada uma de acordo com a estratégia comunicacional da empresa é uma questão de inteligência na gestão da comunicação, o que parece não ter sido a preocupação das marcas estudadas. O outro aspecto observado foi sobre a presença (ou ausência) do diálogo no processo comunicacional. Apresentado no primeiro capítulo teórico como uma das características do ciberespaço [Primo, 2008; Recuero, 2009; Di Felice, 2011/2012, entre outros] e enfatizado como um importante aspecto da comunicação organizacional realizada em redes sociais digitais [Gabriel, 2010; Cipriani, 2011; Qualman, 2011, entre outros] no primeiro capítulo teórica, o diálogo ou a interação não se apresentaram como grande preocupação das empresas. No período de análise deste recorte, as duas empresas não se mostraram amplamente atuantes nas respostas e no desenvolvimento de conversas com os internautas. A Adidas foi extremamente pontual nas poucas respostas ou comentários que fez, ficando evidente que sua estratégia de comunicação se baseia na divulgação de conteúdos, como acontece em outras mídias tradicionais e off-line. Com essa percepção, é possível concluir que a marca não explora a potencialidade do meio, reduzindo as possibilidades comunicacionais que o ciberespaço oferece. 179 Por sus vez, a Nike interagiu mais com os internautas em relação à Adidas, mas, ainda assim, não é possível considerar que ela o fez de maneira ampla e estratégica. A marca respondeu a vários comentários de internautas, tirou dúvidas sobre os eventos (local e inscrições), estabeleceu diálogos de humor com o objetivo de descontrair e até mesmo se posicionou oficialmente quando surgiu a polêmica sobre a customização das camisetas na Copa. Apesar de, aparentemente, ter dialogado com os internautas, a postura da empresa se assemelhava à de um atendimento ao cliente: ela publicava uma respostava e parava ali o diálogo, não dando continuidade ou profundidade nas conversas. Ficou evidente, também, que nenhuma das marcas explorou os conceitos de colaboração que envolvem a construção de conteúdo no ciberespaço [Jenkins, 2008; Recuero, 2009]. Nenhuma delas postou conteúdos que exigissem a participação do internauta para que ele fosse construído ou solidificado. Ambas publicaram conteúdos prontos e pontuais como se estivessem atuando em mídias off line ou tradicionais. O engajamento e a manifestação dos internautas apareciam apenas por meio de curtidas, comentários ou compartilhamentos dos conteúdos elaborados e publicados pelas empresas e não por sua participação em sua construção. Sobre o uso dos esportes como elemento comunicacional [Mullin; Hardy; Suton, 2004; Morgan; Summers, 2008; Tambucci, 2011; Rocco, 2015, entre outros] ficou evidente ser esta uma estratégia amplamente utilizada pelas duas empresas, principalmente sob a forma de divulgação de patrocínios e pelo uso dos elementos simbólicos do esporte. Aspectos e emoções como superação, garra, vitória e rivalidade apareceram em diferentes publicações feitas pelas duas marcas, nas duas plataformas. Seja para divulgar um novo uniforme, uma nova chuteira, seja para incentivar um clube ou seleção em uma partida ou, ainda, para divulgar a superioridade de um patrocinado, as marcas utilizaram elementos simbólicos a fim de impactar os públicos em suas emoções. Essa estratégia se mostrou eficaz, pois essas emoções são facilmente identificadas e compreendidas pelos indivíduos, o que facilita a transmissão das mensagens e o estabelecimento de relações com os públicos de interesse. Uma observação feita pelo entrevistado “Especialista”, que pôde ser constatada nos conteúdos publicados pelas marcas, foi o uso das narrativas do esporte como elemento estratégico na comunicação. A chamada storytelling foi visivelmente utilizada antes e durante a Copa do Mundo pelas duas empresas. O exemplo mais 180 emblemático foi o filme “O Último Jogo” da Nike, divulgado no dia 09 de junho. A animação, que contou a história de jogadores que se unem para enfrentar um time de clones, foi o conteúdo que apresentou o maior número de interações e foi amplamente divulgado pela marca por meio de pequenos teasers com trechos de cada um dos atletas. O uso das animações dos jogadores (avatares) foi muito empregado pela Nike antes e durante a Copa. Diferentes conteúdos sempre traziam os jogadores em situações inusitadas, em bastidores fictícios de jogos ou conversando diretamente com o internauta. De forma menos evidente, a Adidas utilizou os atletas e os elementos do mundial como personagens de um grande espetáculo. Divulgando as danças da seleção colombiana, colocando a bola Brazuca para “conversar” com o público e ampliando o ambiente de “batalha” da final disputada entre as duas seleções patrocinadas pela marca, a empresa buscou criar narrativas que colocassem o público dentro do espetáculo, tentando aproximá-lo da experiência vivida nos gramados durante a Copa. Diante das conclusões expostas, é possível afirmar que a hipótese desta pesquisa: As empresas esportivas atuam no universo da comunicação realizada em redes sociais digitais explorando timidamente as potencialidades que o ciberespaço oferece. Realizam ações pontuais e de baixo envolvimento com seus públicos de interesse, oferecendo conteúdos padronizados para diferentes plataformas e não se mostrando completamente abertas ao diálogo e à construção de conteúdos diferenciados em parceria com seus públicos foi confirmada. Para responder ao problema proposto: “Estarão as empresas do segmento esportivo envolvidas na construção de estratégias comunicacionais eficientes e duradouras nas mídias digitais, ou interessadas apenas em responder a reclamações de consumidores, ou lançar promoções nas redes, sendo essas ações pontuais e de baixo envolvimento?”, é preciso fazer algumas reflexões. A análise desenvolvida permitiu observar que as empresas possuíam uma estratégia de comunicação para as mídias e redes digitais, principalmente no período da Copa do Mundo. Como mencionado anteriormente, a comunicação das duas empresas apresentou aspectos que podem ser considerados como característicos da comunicação integrada. Estrategicamente, ficou evidente que a Adidas explorou o mundial, por ser patrocinadora oficial, e a Nike usou as ferramentas possíveis para 181 não se distanciar do evento, apesar de não poder explorá-lo. Mesmo no período de análise que antecedeu a Copa do Mundo, foi possível notar uma preocupação estética e de conteúdo que podem remeter a um planejamento de comunicação. Com isso, é possível afirmar que as empresas buscaram estabelecer laços relacionais por meio de estratégias comunicacionais eficientes, tendo em vista os objetivos mercadológicos de cada marca. É possível inferir, ainda, que as estratégias buscaram estabelecer relações duradouras, pois a publicação de conteúdos se apresentou contínua, com periodicidade estabelecida e, muitas vezes, com sequências de conteúdos interligados (como no caso do uso das estratégias de storytellig, mencionada anteriormente). Em relação ao desenvolvimento de ações pontuais e de baixo envolvimento, é possível considerar que as empresas assim agiram, pois não foram criados conteúdos que demandassem o envolvimento dos internautas em sua criação. Os conteúdos postados possibilitavam um baixo envolvimento interativo por parte dos internautas e, mesmo quando esses interagiam por meio de comentários, as marcas não aprofundaram o diálogo, respondendo de maneira simples e objetiva. Dessa forma, para responder ao problema de pesquisa, é preciso compreender que uma ação não exclui a outra. O fato de ter estratégias elaboradas não significa que a empresa não atue com ações pontuais e de baixo impacto. Assim, como uma resposta clara e objetiva, é possível afirmar que as empresas do segmento esportivo aplicam estratégias comunicacionais eficientes nas mídias e redes digitais conectadas, buscando estabelecer relacionamentos duradouros com seus públicos de interesse, porém, a interação marcada por ações e diálogos pontuais que não ampliam a interação. Com esse entendimento, é possível compreender que o não uso das potencialidades do meio digital conectado não configura uma ineficiência na divulgação de conteúdos, apenas demonstra que o processo comunicacional não alcança a profundidade interacional possível, e isso pode ser considerado uma estratégia das empresas: nesse caso, o não estabelecimento do diálogo pode ser considerado uma opção estratégica. Ainda como uma conclusão das análises, é possível afirmar que as empresas estudadas atuaram no ciberespaço de maneira complexa, ora servindo de exemplo para o que as teorias apontaram e o que diziam os entrevistados, ora mostrando não se encaixarem nos padrões teóricos. Essa dualidade na forma de atuar demonstra ser o 182 ciberespaço um ambiente plural em que os atores estabelecem suas estratégias e desenvolvem suas ações de maneira muito particular. O que pode ser considerado uma estratégia de sucesso para uma empresa, pode não o ser para outra, pois os processos comunicacionais devem ser planejados com base nos objetivos empresariais, o que é bastante particular para cada empresa. Apesar de cada nova plataforma digital despertar o interesse dos profissionais de comunicação e demandar novas experimentações, é importante compreender que os princípios básicos dos processos permanecem presentes em qualquer uma delas. Conhecer, em profundidade, os objetivos mercadológicos e institucionais das empresas, compreender os comportamentos e demandas dos públicos, conhecer as particularidades de cada mídia e saber elaborar corretamente o conteúdo das mensagens continuam sendo etapas fundamentais no planejamento de comunicação. No ambiente digital conectado esse cenário permanece. No segmento esportivo, é importante relembrar que os apelos emocionais do esporte se destacam como uma estratégia efetiva, já que permitem a identificação, a compreensão e o estabelecimento de relações com públicos diversos. 183 REFERÊNCIAS ADIDAS. Disponível em: <http://www.adidas-group.com>. Acesso em: 02 set. 2013. AFIF, Antonio. A bola da vez: o marketing esportivo como estratégia de sucesso. São Paulo: Infinito, 2000. ALMEIDA, Ricardo. (2010). Escolha as armas certas para utilizar nas mídias digitais. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/blog/planoseideias/2010/08/23/escolha-asarmas-certas-para-usar-nas-midias-sociais/>. Acesso em: 16 jul. 2013. ALVES, Victor Hugo Lima. As interfaces da integração na comunicação mercadológica. In GALINDO, Daniel. Comunicação mercadológica: uma visão multidisciplinar. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008. p.13-29. ARGENTI, Paul. Comunicação empresarial: a construção da identidade, imagem e reputação. 4.ed. 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O futebol ainda é o esporte que mais recebe dinheiro das empresas? Quais as outras modalidades que merecem destaque? Qual a melhor mídia para uma empresa esportiva estar em contato com seus públicos externos? Você acredita que as mídias digitais são um bom espaço para as empresas que atuam na comunicação esportiva divulgarem suas marcas ou os patrocínios e os eventos são um melhor investimento? Por quê? Você considera que existe alguma plataforma digital mais indicada para as empresas atuarem no mundo digital? Como você avalia a atuação das maiores patrocinadoras esportivas no país? Quais as tendências para esse mercado. O Brasil pode ser considerado uma potência em marketing esportivo? Transcrição das entrevistas com os profissionais de mercado Entrevistado “Professor” Nome do entrevistado: Professor Local de atuação profissional: Universidade Estadual Paulista Contatos: não divulgado por exigência do Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo Forma de realização da entrevista: presencial Pesquisadora: Como está o mercado hoje para as empresas usarem o esporte na comunicação? Entrevistado “Professor”: Vou te dar a minha opinião. Eu acho que o mercado hoje [...] Apesar da situação econômica do país, porque ela não anda tão boa quanto ela estava algum tempo atrás. Mas eu vejo o mercado extremamente promissor para marcas que querem investir em esporte. Na realidade, assim, investir em esporte, a 190 empresa precisa ser muito infeliz nas suas estratégias, ela precisa planejar muito mal as suas estratégias para que aquele investimento não dê a ela o mínimo de retorno. Entendo assim. O grande problema no Brasil que a gente tem é que planejamento é uma palavra no qual a gente não gosta muito. Mas pensando numa empresa, uma empresa profissional etc. bem administrada bem gerenciada, o investimento em esporte, se bem planejado, se bem estudado, se você conhecer bem, se tiver pesquisas que indiquem quem é o seu público alvo, definir isso claramente, investir em esporte, para mim, a chance de você acertar é grande. Ou seja, você ter retorno é muito grande. Além do que, me parece que aos poucos a gente está se conscientizando aqui no Brasil, embora existam ainda algumas dificuldades, a gente está se conscientizando cada vez mais de que, principalmente o esporte de alto rendimento, esse que está nos Jogos Olímpicos, Copa do Mundo, alta competitividade etc. A gente relutou muito, mas acho que a gente chegou e começou a acreditar que isso é entretenimento, que é indústria do entretenimento e que o esporte hoje é menos [...] Assim, ele sempre será, mas ele é menos uma identificação da identidade cultural do lazer e muito mais um grande negócio. Isso tem muita gente que não aceita ainda, tem muita gente que não gosta muito dessa visão, mas eu acho que é uma visão inevitável. O Brasil sempre vai ser identificado pelo seu futebol, sempre vai ser uma identificação nacional, mas cada vez mais negócios, cada vez mais entretenimento, cada vez é business. As pessoas até [...] tem muita gente que não gosta quando eu falo isso, principalmente aqui numa escola de educação física, mas eu costumo dizer para elas o seguinte: “se você me perguntar o que eu penso que deveria ser, eu vou te dizer”. Quando eu entro na sala de aula para dar uma aula de marketing esportivo para os meus alunos eu tenho que dizer o que é. E o que é, é cada vez mais negócios, entretenimento. Então acho que finalmente a gente está começando a enxergar o esporte dessa forma. O que abre, para as grandes empresas que investem no esporte uma grande perspectiva. E há cada vez mais uma confusão entre entretenimento e esporte. O esporte está dentro dessa indústria do entretenimento. Pesquisadora: Para o jornalismo isso é bem complicado, para o jornalismo esportivo. Até que ponto é jornalismo, até que ponto as matérias são de entretenimento. Entrevistado “Professor”: Sim. Eu acho que na verdade o jornalismo esportivo é o que mais sofre. É o que mais sofre por quê? Porque assim. Aí de novo tem duas coisas. O que é o jornalismo. O jornalismo investigativo etc. e tal e o que é fazer jornalismo no esporte. Então hoje, para mim o jornalismo esportivo faz entretenimento esportivo, ele não faz jornalismo esportivo. Muito embora haja espaço para isso, as aí eu diria para você, Karla, que, na minha opinião, não é um mal só do jornalismo esportivo. Acho que em várias outras áreas a gente tem caminhado muito por uma espetacularização do fato jornalístico. Pesquisadora: É o que vem vende, não é?! É o que mais tem audiência. Entrevistado “Professor”: E o esporte sofre muito com isso. Acho que o esporte é o que mais sofre porque parte-se daquela ideia de que o esporte de entretenimento não tem espaço para você fazer notícia investigativas, notícias sérias etc. o que não é verdade. Pesquisadora: E muitas vezes barra na questão do negócio. Por que aí tem toda uma questão de anunciantes. Até que ponto vou investigar sendo que aquela empresa está junto. É um nó para o jornalismo, não é?! 191 Entrevistado “Professor”: Sim, é um nó. Então o jornalismo esportivo que na realidade nunca foi muito reconhecido, ele tem enormes dificuldades hoje de se contextualizar. E aí, o que a gente vê, é uma completa aproximação para o entretenimento, e eu diria para você assim: na minha modestíssima opinião, um entretenimento de péssima qualidade. Nem isso se faz direito. Então acho que o jornalismo esportivo sofre muito com isso. Pesquisadora: Vou pegar o gancho lá para a minha última pergunta. Tanto no ponto de vista do jornalismo como no do esporte/entretenimento. A gente está há anos luz de distância do que a gente vê fora do país. Como você veria isso, dar essa fomentada para o esporte aqui no Brasil ser visto como um negócio de verdade, as pessoas consumirem esporte como produto, porque isso parece que é um pouco mal feito aqui, ou não? Entrevistado “Professor”: Não, é muito mal feito. E aí eu vou dizer para você que o grande problema no meu entendimento é a carência que a gente tem de profissionais com competência para fazer isso. Por quê? Porque veja só. Toda administração do esporte no país, a maior parte delas, a maior parte da administração de esporte no país tem uma natureza política. Então os clubes são administrados politicamente, as federações são administradas politicamente, as confederações são administradas politicamente, o ministério age politicamente. Então assim, o esporte hoje, ele é primordialmente uma moeda de troca política. Então isso, para mim, contamina muito a gestão do esporte, onde por vezes o camarada que é eminentemente profissional tem dificuldades de agir politicamente. E aí o que ele faz? Ele prefere ir para outro segmento de mercado. Então, o que é que a gente vê hoje? A gente vê muito profissional do esporte saindo do esporte e ir trabalhar em empresas no mundo corporativo que investem no esporte. Porque essa sim utiliza o esporte de uma forma mais profissional. Patrocinadoras são investidoras e etc. e tal. Entendeu? Então, essas empresas que investem no esporte, elas são geridas por profissionais. Então, se o cara se destaca profissionalmente no meio do esporte, não consegue atuar naquele ambiente contaminado politicamente, porque até no nível do clube essa política existe. Os grupos políticos que administram os clubes. Então, esse camarada vai para a iniciativa privada trabalhar com esporte. Então, por exemplo, a gente tem alunos que saíram daqui da escola de educação física que hoje são gerentes da Under Armor. Por quê? Porque são profissionais que preferiram ir para o mundo corporativo trabalhar com esporte onde lá eles vão exercer sua atividade profissionalmente, vão ser reconhecidos profissionalmente e vão estar livres [...] Assim, política empresarial sempre existe, mas lá, num nível muito menor do que da competição esportiva. Então, para mim, esse é o grande problema. Eu vejo que assim, as pessoas que gerenciam o esporte no país ainda não se deram conta do potencial que a gente tem em mãos. E aí tem uma outra questão, que eu acho que reflete nisso, que é você discutir qual é o papel do governo no esporte. No fomento da atividade esportiva. Então, a gente divide aqui, até porque a constituição divide assim, o esporte em educação, participação e rendimento. O esporte de educação e participação, para mim, esse deveria ser fortemente gerenciado pelo governo, e o governo utilizar o esporte como inclusão social, como elemento de educação, de formação de indivíduo, do caráter do indivíduo e etc. E o rendimento, que onde estão as possiblidades de ganho, o governo deveria somente regulamentar e fiscalizar e deixar isso na mão da iniciativa privada. Só que, como tudo é utilizado politicamente isso não acontece. Então, eu diria para você que esses dois elementos são fundamentais para que efetivamente o esporte 192 possa aproveitar todas as suas potencialidades do entretenimento no Brasil, na minha opinião. Pesquisadora: Certo. E aí você enxerga diferença na forma de uma empresa, que ela é de um segmento qualquer e usa o esporte como alimento comunicacional, e das empresas que são efetivamente do esporte? Entrevistado “Professor”: Muita diferença. Pesquisadora: Fala um pouco pra mim disso. Entrevistado “Professor”: Eu acho, eu acho não, eu tenho certeza que as empresas que investem [...] que não são do esporte e que investem no esporte, elas tratam o esporte de uma forma mais profissional. Tanto que, assim, elas investem no esporte mas elas querem retorno, se o esporte não dá retorno para elas, elas param de investir no esporte. Já as empresas esportivas, empresas do esporte propriamente ditas, elas estão contaminadas por esse viés político, onde na verdade, assim, a eficiência do negócio que está sendo gerenciado, muitas vezes não está em questão. Pesquisadora: Quando você fala de empresa esportiva, você está se referindo a clubes, federações e tudo o mais? Entrevistado “Professor”: As entidades esportivas de uma forma geral. Por exemplo, uma empresa que nem a Adidas, é uma empresa do mundo corporativo que o negócio dela é esporte, então essas empresas são bem gerenciadas. Elas sabem o que querem do esporte e elas administram seu negócio profissionalmente. Quando eu digo empresas esportivas mesmo são clubes, federações, confederações. Pesquisadora: Entendi. Então você coloca em três caixinhas? Uma é uma Sadia, um banco, outra são essas empresas tipo Nike, Adidas e a outra seriam os clubes? Entrevistado “Professor”: São três caixinhas, mas as duas primeiras caixinhas, você tem lá a Sadia etc. e tal, elas gerenciam o esporte de uma forma mais profissional, e você tem as que vivem no esporte, mas que são do mundo corporativo, Nike, Puma, etc. Na realidade essas duas, para mim elas cobram um grau de profissionalismo [...] deveriam cobrar um grau de profissionalismo e etc, e veem o esporte como um negócio. A grande diferença é que inegavelmente, até por uma questão de relacionamento, Nike, Adidas, etc. conhecem o negócio do esporte muito mais do que Sadia e etc e etc. Então elas conseguem, na minha opinião, tirar do esporte, mais do que uma Sadia ou uma outra empresa. Pesquisadora: Não está no business dela, o esporte... E dessas empresas em que o business é esporte. O que você enxerga que para a comunicação delas tem funcionado mais? Patrocínio de atleta, patrocínio de clube, mídias sociais. Você consegue vislumbrar um pouco isso? Entrevistado “Professor”: Na realidade assim. Eu não teria elementos para dizer para você o que eu acho mais eficiente. O que eu posso dizer é aquilo que mais me agrada. Pesquisadora: Ok. Entrevistado “Professor”:: O que mais me agrada é que efetivamente, no geral essas empresas assumem um posicionamento claro em relação ao esporte. Então, veja bem, vou dar um exemplo para você do que eu estou querendo dizer. A relação Adidas e Nike com o esporte. A grande parte das mensagens de comunicação que eu vejo a Adidas soltar no mercado, ela tenta de alguma forma mostrar, através do esporte qual 193 seria o diferencial do relacionamento que ela tem com o esporte em relação à Nike, que seria a sua grande rival. Então, o que me chama a atenção é que a Adidas faz constantemente menções às tradições que ela tem com o esporte. Por quê? Porque isso é um diferencial, no meu entendimento, com relação à Nike, que é uma marca muito mais nova nesse universo. Então, esse posicionamento claro, julgo bastante interessante. E, pelo menos para mim, ele é claro em muitas das mensagens da Adidas e etc. Aí você vê, por exemplo a questão da Nike. A Nike tem um posicionamento um pouco diferente, onde ela valoriza mais o personagem, o atleta. Não que a Adidas não faça isso, ela tem lá com o Messi, etc. mas eu diria para você que não é o que me chama a atenção. Agora, a Nike me chama a atenção, a questão dessa referência ao personagem, o atleta, importante pra ela. O Michael Jordan, Ronaldo. E também ao fato de ela tentar vender muito uma imagem de uma marca que está no esporte mas que também está nas ruas, ela desloca muito o esporte do seu ambiente. Então, de qualquer forma, o que acontece, e para mim é o cerne disso tudo, você vê que existe estratégia, uma estratégia de comunicação que aparentemente, para quem está de fora, uma visão clara do que eu quero do esporte. Entendeu? E aí isso, eu vejo como algo que, assim, que vem do envolvimento que elas têm com o esporte. Então quando a gente pega as empresas da outra caixinha, por exemplo, uma Sadia, Banco do Brasil, você vê uma relação com o esporte, uma relação que é intensa, mas você não vê uma mensagem clara do que eu quero do esporte. Entendeu? E qual é o papel que o esporte tem no meu negócio. Então essa é a diferença que eu vejo. As marcas esportivas, as marcas que vivem do esporte, para mim é muito claro que existe um conceito pensado e uma estratégia do que é que o esporte pode me ajudar no meu processo de posicionamento e marca. Pesquisadora: E você enxerga que isso quando vai para as mídias sociais, essa estratégia, esse planejamento, ele aparece lá ou não? Mídias sociais acabam indo muito pelo embalo e essa estratégia fica mais para as mídias tradicionais? Como você consegue ver isso? Entrevistado “Professor”:: Não. Na realidade assim, eu não diria para você, que as mídias sociais vem no embalo. Mas eu diria para você, daquilo que eu consigo observar, que as mídias sociais elas, para mim, elas funcionam, pelo menos na minha percepção, mais com estratégia de apoio às mídias tradicionais, do que a eu defender e criar meu conceito ali. Porque você vê, constantemente, as mídias sociais, elas remetem a vídeos, eles remetem a fotos, eles remetem a eventos que foram criados que estão trabalhando naquela estratégia. Então, assim, obviamente é uma utilização quase que perfeita do conceito de comunicação integrada, mas onde eu acho que o papel maior das mídias sociais, não está em desenvolver o conceito, mas sim em propagar o conceito, em apoiar aquele conceito, que já foi e que está sendo trabalhado nas mídias sociais. Então, repercutem, compartilham. Ou seja, me parece que eles usam o potencial que essas mídias tem de amplificar algo que ficou trabalhado, por exemplo, para a mídia tradicional. Pesquisadora: E você acha que é válido apostar em mídias sociais? Precisa estar lá, ou não? Entrevistado “Professor”: Eu acho que é fundamental. Hoje, cada vez mais fundamental. Pesquisadora: Mesmo que seja só como apoio? 194 Entrevistado “Professor”: Mesmo que seja só como apoio, porque assim [...] e aí, talvez não tenha nada a ver com a nossa conversa, mas talvez tenha a ver. Tem uma coisa que me chama muito a atenção, por exemplo, esse final de semana eu estava, fiquei trabalhando direto e fiquei com a TV ligada no tal do Lollapaloosa. Aí o que acontece, me chama muito a atenção, e aí dizem que algumas coisas nas nossas cabeças, principalmente na minha que já sou um pouco mais antigo e precisa mudar, é que assim, eu fiquei vendo lá no sábado Robert Plant, Jack White, que é um cara um pouco mais novo, mas não é [...] dois virtuosos, onde na realidade eu ia para ver o cara tocar. E aí você vê no público, assim, uma certa apatia, uma certa assim [...] e no final vibra um pouco mais com o show do Jack White, que toca o Seven Nation Army. Aí no dia seguinte, no domingo, eu estou lá trabalhando e Calvin Harris, um cara que eu até gosto das músicas dele, mas assim, o povo explodindo, super doido com um cara que vai lá e comanda o que? Luz e som. Então assim, onde está o virtuosismo disso? Por exemplo, eu, na minha época, ia num show para ver um cara virtuoso tocar. E hoje o público vai por outras razões. Então assim, o que isso mostra para mim? Alguma coisa aí está mudando, e que eu ainda não consegui perceber, não consegui ver como trazer isso para o esporte, mas com certeza deve ter um reflexo. Pesquisadora: Uma mudança de comportamento do público. Entrevistado “Professor”: Uma mudança de comportamento do público. E aí, pensando nesse público, é fundamental a presença nas mídias sociais. Agora, acho também, que no caso das empresas isso não acontece, mas, por exemplo, no jornalismo. Acho que as mídias sociais, elas, de uma certa forma, elas prejudicam o jornalismo. Porque hoje, qualquer um pode escrever um texto, sobre qualquer assunto, sem nenhuma responsabilidade. Pesquisadora: Lança num blog, isso viraliza em Facebook. É uma loucura. Entrevistado “Professor”: E não há responsabilidade nenhuma. Então, eu acho que isso é muito perigoso. Agora, pensando nas estratégias das empresas, eu acho que é fundamental você estar nesse espaço, e acho fundamental você usar o que esse espaço pode te oferecer que é a possibilidade de propagação. Então acho que é fundamental estar presente. Pesquisadora: Falando em Lollapaloosa, você viu o show do Pharell Willians? Adidas bombando. Entrevistado “Professor”:: Então, eu vi seu comentário. Aí eu não tive tempo de caçar algumas imagens, mas [...] Pesquisadora: A calça dele atrás, todas as dançarinas com roupas da Adidas. No palco você só via Adidas Entrevistado “Professor”: Então, porque eu me lembro de um show antigo, já deve fazer uns cinco, seis anos do Rob Willians usando um agasalho. Que aí, até depois, eu vi e comprei um agasalho igualzinho, não é, porque [...] Mas com aquele símbolo da Adidas original ocupando todo o peito aqui, e uma touca. Eu lembro disso. Dele, da Adidas com o Rob Willians. Mas no Pharell eu não tinha visto. Pesquisadora: E não foi nada discreto. Foi gritante. A gente que vê um pouquinho de comunicação, você bate assim, nossa que patrocínio gritante foi esse. Entrevistado “Professor”: Então, assim, eu não vi especificamente esse caso, mas o que isso mostra? Mostra que entretenimento e esporte conversam cada vez mais. Isso 195 é muito significativo. Por exemplo, caso dos estádios lá que a gente está estudando. Por exemplo, você pega o estádio antigo do grêmio, e o estádio novo, o estádio olímpico. Aí você pega os estádios antigos do nordeste e os estádios novos, as novas arenas. O que você percebe? Que os estádios antigos, lá da década de 70, todos eles têm um campo de futebol e um espaço para a pista de atletismo. Que leitura você faz disso? Que esses estádios, eles foram construídos para dialogar com outras modalidades esportivas. Hoje, quando você faz um estádio de futebol, o que é que some? A pista de atletismo some. E esse novo espaço, esse novo espaço é feito para dialogar com o quê? Com a música, com o cinema. Ou seja, o Palmeiras faz seção de cinema, fez show. Pesquisadora: Nossa, não tinha parado para pensar nisso. É verdade. Entrevistado “Professor”: Então, assim, mais especificamente o futebol no seu espaço, está dialogando com entretenimento e deixando de dialogar com outras modalidades esportivas, no próprio espaço. É uma reconfiguração, ao meu ver, significativa. E aí a gente vê acontecer essas ações. A própria Adidas já fez o Beckham contracenar com o Darth Vader. Pesquisadora: E em relação ao diálogo, pegando esse gancho do diálogo, você acha que as mídias sociais são um espaço para essas marcas dialogarem com o seu público, ou só realmente propagar, e deixar que o pessoal comente e vamos propagar cada vez mais? Entrevistado “Professor”: Eu acho que assim, eu acho que há um espaço [...] para mim é muito mais um espaço de monitoramento do que o público está pensando, do que efetivamente diálogo. Eu, e aí talvez seja uma linguagem um pouco antiquada, mas eu acho ainda muito perigoso você propor diálogo nesse espaço. Porque você, ou você modera muito bem ou [...] você nunca sabe direito o rumo que vai tomar. Mas eu acho que é um espaço que merece ser monitorado, porque ali você tem, de alguma forma, um retrato de como a sua imagem está sendo vista pelas pessoas que de alguma forma te interessam. Então, eu não me furtaria a monitorar esse espaço, eu acho que um monitoramento constante é importante. Mas eu ainda me preocupo em usar esse espaço para proposição de determinados diálogos. Talvez por ser um pouco mais conservador. Pesquisadora: Porque as conversas acabam indo para caminhos que, às vezes, a gestão de marca é muito complicado, não é?! Entrevistado “Professor”: Eu acho, eu acho. Eu ainda acho que algumas outras estratégias como promoção de eventos, patrocínios e etc. Acho que elas ainda funcionam melhor. Pesquisadora: Tá. Esse é um ponto. Você acha que esse tipo de empresa deveria investir mais em ações mais tradicionais, patrocínios, do que colocar energia total em mídias sociais? Entrevistado “Professor”: Então, eu acho que deveria haver um equilíbrio. Eu não concentraria todas as minhas estratégias nesse tipo de mídia ainda. Pode ser que no futuro elas se demonstrem como boas. Também acho que você precisa investir nisso. Você não pode estar fora desse universo, até porque, assim, o público mais novo é onde predominantemente ele está. Quer dizer, a gente tem aí dados que dizem que as pessoas veem menos televisão e que frequentam mais as redes sociais. Então assim, você tem que estar aí, não é?! Agora, eu acho que é importante você estar presente, 196 mas eu vejo uma construção de marca muito mais alicerçada à outros elementos como a construção de vídeos institucionais que passem valores às organizações, e acho que as marcas fazem isso muito bem, a promoção de eventos que tem a ver com o público. Um grande modelo que a gente tem disso é a Red Bull. A Red Bull se comunica muito bem com o seu público muito mais pelos eventos, muito mais pelo conteúdo que ela gera para a mídia do que especificamente pela presença que ela tem nas redes sociais, mas ela esta aí, ela tem um canal no YouTube etc. Na minha opinião o discurso das redes sociais ainda é um discurso vazio, por essa questão de: cada um pode colocar o que quer, cada um pode fazer [...] E quem recebe aquele discurso, as vezes, também, não sabe filtrar onde a informação é boa, onde a informação é confiável, onde a informação é ruim. Então, usar aquilo para construção de marca, eu ainda acho que não é a melhor estratégia. Agora, você não pode deixar de estar lá. Pesquisadora: Seria mais uma mídia, e não A mídia? Entrevistado “Professor”: Isso. Isso na minha opinião. Pode ser, Karla, e esse processo está em construção, e pode ser que amanhã seja A mídia. Mas eu acho que hoje, na minha opinião, não é. Pesquisadora: É, e pelo o que eu estou vendo não é mesmo. Entrevistado “Professor”: Então eu prefiro, eu prefiro, por exemplo construir [...] Que nem, outro dia eu vi uma história, até estava discutindo com um homem que é da área de fisiologia. Bom, a Red Bull criou um projeto onde ela proporciona um monte de coisa num atleta, filma tudo e não sei o que, depois dá para o treinador analisar e fazer [...] Ou seja, ela está construindo um relacionamento. E está construindo um relacionamento, para mim, muito mais marcante do que qualquer ação que ela pudesse fazer numa mídia social. Pesquisadora: Com certeza. Ela está indo no cerne do esporte mesmo, não é?! Entrevistado “Professor”: E aí, ela vai usar as mídias sociais para quê? Para divulgar isso. Mas a ação já foi feita. Entendeu? Então eu vejo como um mecanismo de propagação, não como um mecanismo de construção da marca. Quer dizer, não estar, te desconstrói. Pesquisadora: Exatamente. Entrevistado “Professor”: Mas para mim não é a essência da comunicação ainda. Pesquisadora: Entendi. Deixa eu ver se faltou alguma coisa, mas acho que a gente já passou por tudo aqui. Entrevistado “Professor”: Não se incomoda não com o tempo Pesquisadora: Imagina. E assim, falando de esporte numa maneira geral, futebol ainda é o foco aqui no Brasil, ou você destaca alguma coisa que está chegando perto, ou mesmo o crescimento de outras modalidades ainda está longe de futebol? Entrevistado “Professor”: Eu acho que futebol ainda é o foco, mas a gente pode ver algumas coisas acontecendo aqui. Que nem, por exemplo, a NBA veio aqui e vai ajudar a NBB, a nova liga de basquete a gerenciar o seu campeonato. Então de alguma forma a NBA tem interesse no Brasil. E aí, quando eles chegaram aqui, eles falaram: “ó, para fazer o que a gente faz lá, a gente precisa de instalações”. Pesquisadora: O básico, não é?! 197 Entrevistado “Professor”: Mas, ou seja, há um interesse. Pesquisadora: Claro. Entrevistado “Professor”: Então, de alguma forma eles vislumbraram o mercado aqui. Aí a gente ouve, está um boato muito forte que a gente vai ter o jogo das estrelas do futebol americano no Brasil. Porque o futebol americano aqui tem se mostrado não só do ponto de vista da audiência, mas da prática, uma modalidade de interesse. Quer dizer, sabe, tem tido jogo de futebol americano na arena de Pernambuco, na arena Pantanal. Então assim, eu acho que tem algumas coisas [...] o Rugby [...] eu acho que tem algumas coisas despontando aqui no Brasil que indicam o potencial [...] E por outro lado, você vê o quê? Você uma queda do futebol. Qualitativamente e etc. Então eu acho que é um processo lento, um processo que não vai acontecer da noite para o dia, mas a gente vê o aumento do interesse por outras modalidades esportivas. Pesquisadora: Você acha que a vinda das Olimpíadas para cá impulsionou isso, ou essa vinda das Olimpíadas foi meio jogada política? Entrevistado “Professor”: Então, eu acho que é um pouco das duas coisas. Foi uma completa jogada política, assim como a Copa do Mundo foi uma jogada política, mas eu acho que assim, independente de ser uma jogada política, se a gente souber tirar algum benefício disso, aí vai muito da habilidade dos gestores. Então, tem algumas iniciativas acontecendo que eu acho que se bem aproveitadas, a gente pode usar o momento a favor do esporte. Só que aí, de novo, é aquilo que eu falei para você, acho que isso barra um pouco da gestão. A nossa gestão não consegue aproveitar esses momentos. Então, uma coisa é, o evento foi uma jogada política? O evento foi uma jogada política! Muito claro isso. Só que, o bom gestor do esporte consegue aproveitar isso, porque é o momento em que o esporte está na agenda de discussão. Então, a gente pode aproveitar essa pauta para tirar o benefício dela. Pesquisadora: E só uma pergunta, fugindo um pouquinho disso, a gente observa que as marcas, elas patrocinam muito atletas, e isso, que você até já comentou, é um foco delas. Você acha que, como fica esse gerenciamento: marca, atleta, desempenho de atleta, isso refletindo para a marca, os compromissos. Você acha isso uma coisa legal, é difícil a marca gerenciar o atleta no campo? O atleta, pensar na carreira e nos compromissos. O Ibraimovich que agora negou, não é?! Entrevistado “Professor”: Ele fez muito bem. Pesquisadora: Foi muito legal. Ele foi na contramão de tudo. Como você vê isso, assim, desempenho em campo e patrocínio? Entrevistado “Professor”: Então, eu vejo que assim, na realidade o ambiente do esporte envolve vários interesses e nem sempre são interesses que confluem para o mesmo objetivo. Por exemplo, Brasil na Copa do Mundo. A Seleção brasileira tinha seus interesses, você tinha atletas com interesses diferentes. Porque, você tem lá a assessoria de imprensa da seleção, assessoria de imprensa do Neymar. Aí você tem também os patrocinadores envolvidos nessa história, então assim, o fundamental disso tudo é que cada um saiba reconhecer seus limites. Qual é o limite de atuação de cada um, e onde o meu interesse pessoal acaba indo contra o interesse de quem me emprega, de que, não é [...] Porque, por exemplo, o esporte, mais especificamente aqui no caso do Brasil, o futebol, talvez seja o único negócio profissional do mundo onde o contratado, o funcionário ganha mais de quem o emprega. Então, isso cria uma dificuldade de interesses que dificulta a gestão. Então, aí acho que é tudo um 198 problema de planejamento de tentar harmonizar interesses. Então, quando você analisa o que aconteceu entre Brasil e Alemanha na Copa do Mundo, você vê claramente isso, porque no caso do Brasil, os interesses comerciais atrapalharam a preparação da seleção. Quando você para treino como Luciano Huck que vai fazer uma ação profissional, você tira o foco dos atletas, os atletas se emocionam, e aí você perde o foco naquilo que é principal: competição. Já a Alemanha, fez uma série de ações belíssimas, com os índios, com a comunidade local e etc. mas os treinos eram fechados. Treino é treino. Aí é um caso de quem cuida da comunicação e do marketing dessas seleções, sentar com quem cuida da parte esportiva e, olha, vamos combinar, vamos planejar. O esporte, ele não pode ser refém da comunicação e do marketing, mas ele tem que trabalhar a favor da comunicação e do marketing e aproveitar isso. Acho que cada vez mais é fundamental o atleta, a organização esportiva saber que é importante o business, mas por outro lado, é importante as empresas que investem no esporte, também saberem que a forma sim é importante. Um tem que respeitar o espaço do outro e eles têm que procurar combinar, porque se não combinar, vai acontecer o que aconteceu na seleção brasileira: 7 a 1. Um não pode ser mais importante do que o outro, mas tem que fazer um planejamento que integre tudo. Essa é a grande dificuldade para que você trabalhe com gestores amadores. Porque se eles têm dificuldade de entender até algumas coisas, imagine isso?! Pesquisadora: Que é muito mais complexo. Entrevistado “Professor”: Que é muito mais complexo. Então, você tem vários interesses que não confluem e alguém precisa harmonizar esses interesses. Pesquisadora: Então acho que é isso. Acho que foi tudo. Nem vou entrar em detalhes em mídias sociais porque acho que o que você falou para mim já foi ótimo Entrevistado “Professor”: Não, você que sabe. Eu, Karla, eu estou à disposição, se precisar de mais coisa. Entrevistado “Especialista” Nome do entrevistado: Especialista Local de atuação profissional: Universidades Particulares Paulistas Contatos: não divulgado por exigência do Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo Forma de realização da entrevista: via Skype Pesquisadora: Eu queria que você me desse um panorama bem geral, do seu ponto de vista, de como está o mercado do marketing esportivo hoje aqui no Brasil. Entrevistado “Especialista”: O mercado, ele não está pra cima. Fruto de um cenário que não é muito bom, não é?! Então, o mercado não está muito bem também não. Houve uma euforia bem grande com o período pré eventos, e essa euforia ela já começou a ruir com a Copa, o processo da Copa, e, assim, é claro que isso acaba contaminando todo o decorrente pós-Copa, e inclusive nesse pré Olimpíada. As coisas não estão paradas, não dá para dizer isso. Mas não estão andando como se previa naquele cenário antes dos mega eventos. () A gente está em 2015, se voltar ali para os anos 2000, 2010 mais ou menos, quando tudo ainda estava por acontecer e parecia que o Brasil ia ter uma revolução no sentido positivo (do termo). Então, o momento 199 girou, o cenário retraiu, fruto de má gestão, fruto de escândalos, fruto de problemas e também fruto da conjuntura macro econômica de hoje. Um exemplo disso são as próprias arenas da Copa que acabaram custando mais do que deveriam e, consequentemente a perspectiva de patrocínio direto se confirmou. Também grandes clubes estão tendo e tiveram, recentemente, muitas dificuldades de conseguir patrocínio. O próprio modelo de financiamento do esporte hoje, está em crise. Pensar, por exemplo, na rede Globo, que é o principal parceiro do futebol brasileiro, que é o modelo mais natural de financiamento do futebol brasileiro é pela transmissão de TV. E esse modelo está começando a fazer água, a audiência já não está mais a mesma, há uma discussão até de mudança de modelo para voltar para mata-mata, etc. Quer dizer, já mostra uma crise. Então, o momento não é dos mais favoráveis. Também por influências macroeconômicas mas, também, não saberia dizer (exatamente) qual é o principal motivo, mas evidentemente tem problemas externos, estruturais, mas também tem muitos problemas de gestão e da estruturação da própria indústria do esporte, principalmente no caso do Brasil, no futebol. Então, o momento, hoje ele é um momento de desaceleração, índices de crise que acabou, também, sendo extremado pelo pós Copa. A Copa foi muito boa, em vista de evento, mas o resultado brasileiro ficou 7 a 1, todos as decorrências que houve depois daquilo mostram que há um problema no esporte brasileiro hoje. Então, talvez o que sobre da Olimpíada, o risco é sempre (o mesmo) seja o mesmo que sobrou da Copa. Uma excelente Olimpíada, mas quanto àquelas promessas de legado e tudo o mais, pode se perder no meio do caminho. Pesquisadora: Entendi. E a gente foca muito no futebol, claro, porque é uma questão [...] é o esporte mais forte aqui no Brasil. Mas você consegue ver, do ponto de vista para as empresas investirem em comunicação esportiva, outros esportes despontando, ou ainda a gente vive a hegemonia do futebol e é muito distante a presença de outros esportes? O que você pensa? Entrevistado “Especialista”: Na verdade eu acho que esse é um dos problemas, problemas entre aspas, porque eu acho que é uma coisa boa. Eu acredito piamente no esporte de maneira ampla e ainda gosto, como, acho, uma grande parte dos brasileiros, de futebol. Mas como pesquisador da área, não tenho a menor dúvida de que o melhor que pode acontecer para o mercado brasileiro do esporte e para a cultura brasileira [...] a cultura esportiva brasileira é uma descentralização. Eu acho que o Brasil precisa ser o país dos esportes, não do futebol. (Ser o país do) futebol, trás (sic) algumas coisas boas e muitas coisas ruins. Eu acho que o grupo de coisas ruins que traz essa peça é muito maior do que o número de coisas boas. Potência esportiva no sentido amplo porque, primeiro: nem todo brasileiro tem (time de) futebol. Segundo: é mais mercado para quem gosta de esporte. Culturalmente isso denota um país com mais patamar de cidadania. Então, hoje a gente tem vários cenários, o futebol tem o seu espaço, mas sempre houve no vôlei, no basquete que continua acontecendo, automobilismo. Mas novas formas de se fazer esporte vão surgindo, no caso do cenário brasileiro; esportes novos. Que é a questão, por exemplo dos esportes americanos por natureza... estão chegando muito forte no Brasil. O próprio futebol americano, o próprio Rugby. O Rugby não é um esporte americano, mas é um esporte estrangeiro que está chegando forte aqui, agora. Baseball, a NBA novamente tentando o mercado brasileiro. Há um interesse muito grande de brasileiros por esses esportes tipicamente da cultura americana. Aí eu tinha citado o Rugby, que cresceu muito no Brasil recentemente, o que acontece no MMA, no UFC também, que está num momento de crise por causa do Anderson Silva, mas pode melhorar. Então há uma 200 descentralização; crescimento muito grande de esporte de aventura, esportes urbanos. Até, [...] a pesquisa última do Ministério da Saúde, falando de práticas esportivas brasileiras mostra um crescimento muito grande do brasileiro nas práticas que envolvem o prazer ligado à sua saúde, então, academia, caminhada. Então, nem tudo é só futebol. Existe uma midiatização excessiva do futebol, o que começou () como falei agora a pouco. Mas no dia a dia, nem todos os brasileiros praticam futebol. Esse gosto começa a ganhar espaço principalmente pelo novo cenário de mídia que a gente em hoje, de muitas formas de divulgar o esporte. Pesquisadora: Legal. E aí, fazendo um recorte das empresas que apoiam os clubes [...] aí a gente falando de futebol mesmo. No seu ponto de vista, o que você acha que é mais rentável para uma empresa para ela ter visibilidade, pensando na comunicação dela, numa parceria com um clube de futebol. É placa em campo, é patrocinar camisa, é patrocinar atleta. O que você acha que é um caminho legal para a empresa usar o esporte como elemento da sua comunicação? Entrevistado “Especialista”: Bem, assim, não quero que minha resposta pareça uma resposta muro, apesar de poder ser visto dessa maneira, mas não é isso. É que efetivamente não dá para dizer isso de uma maneira, fórmula pronta para todo mundo. Efetivamente, cada empresa deve se aproximar do esporte por um motivo muito específico, muito bem estruturado, quer dizer: “que empresa eu sou, em que ramo de negócio eu estou, e de que maneira aproximar o esporte contribui para o meu negócio”? Dentro de uma pensata, acho que, mais contemporânea, além de pensar o esporte para o meu negócio, cabe dentro da perspectiva social uma outra pergunta: de que maneira eu posso contribuir para o esporte. Porque existe uma responsabilidade de marca, então não é só um processo de parasitismo, você vai lá no esporte e suga dele. Você faz uma parceria para o esporte que num cenário ideal, os dois ganham. A empresa atinge seu objetivo, como crescimento de marca, etc. você é um líder de mercado. E o esporte ganha porque tem parceiro, porque pode se preparar melhor etc, etc, etc. então, não existe um formato pronto. Agora, existe sim, a partir do momento que você detecta, pesquisa, por estratégia que o esporte “x” é o melhor para você. E aí tem alguns caminhos possíveis, que vão desde a coisa mais óbvia que é fazer publicidade [...] fazer patrocínio, até os formatos mais complexos, que a gente viu de marketing esportivo, que são plataformas extremamente sofisticadas, e que você vai construir relacionamento, você vai fazer entretenimento, ambiente de marca, construir narrativas no esporte. Então, os cenários são dos mais tradicionais que tem o patrocínio, o tal da marca. Até os formatos mais sofisticados que existem hoje. Mas para saber qual é a melhor estratégia, você tem que saber o que é essa empresa, com quem ela quer falar e onde o esporte entra nisso, quer dizer, é pesquisa, é fonte de informação, é estratégia. Pesquisadora: Certo. E você pensando [...] continuando na sua linha de raciocínio o que você acha desse universo das mídias sociais? É necessário estar ali porque todo mundo está ali, não necessariamente, a marca precisa fazer uma comunicação esportiva por meio de mídias sociais. Como que você encara essa onda de mídias sociais como um canal de comunicação dentro desse recorte da comunicação esportiva? Entrevistado “Especialista”: Dizer que porque uma marca pode não estar preocupada com isso, ou pode ficar fora disso, seria loucura, não é, no cenário de hoje, com o fortalecimento dessas mídias sociais. Agora, não dá para também não colocar o seguinte “senão”, quer dizer, você deve estar sim, mas pense e ouça do entendimento 201 do que são esses vários formatos possíveis de se trabalhar as redes sociais e, obviamente, como cada um deles funciona, e como a sua empresa se relaciona. Porque eu entendo completamente de Facebook, de Instagram, de Youtube etc, cada uma dessas formas de comunicação, ela tem sua natureza, ela tem a forma como você se apresenta, então não dá para não estar no mínimo um reativo acompanhando o que acontece nelas. Agora, como atuar nelas pressupõe uma estratégia um pouco mais sofisticada, e aí para o esporte pode até ajudar. (Vamos dizer) você está em um cenário bastante tenso de relações com públicos, o esporte ele funciona como uma forma de vinculação positiva, porque permite narrativas, permite boas histórias, permite trabalhar a história de atletas, de clubes, de paixões. Então, acho que pode facilitar um pouco desse contato, em alguns momentos. Pesquisadora: Então, o uso das narrativas do esporte como um elemento comunicacional você vê como uma estratégia interessante para as marcas manterem um contato com os seus públicos? Entrevistado “Especialista”: É [...] Na verdade, é assim [...] é claro que eu estou usando um termo que é muito comum hoje, essa coisa de narrativas, de construção de histórias, tudo, mas é o que sempre foi feito, porque quando se busca os valores, uma empresa que tem seus valores busca os valores do esporte, ela entende que é possível construir um ponto de contato e de contaminação positiva daqueles valores do esporte com os valores da empresa, construindo uma comunicação. Então, indiretamente a gente já está falando de narrativa. Quer dizer, aquele atleta que é visto como um cara dedicado, que não desiste nunca, que batalha pelos seus sonhos, que é um exemplo de sucesso, de ascensão social, etc e etc, quando associado à empresa, a empresa tenta explorar essa característica de não desistir nunca, de batalhar pelos seus sonhos para a sua marca. Então é uma associação de histórias, vamos dizer assim. Hoje em dia se usa muito esses termos, mas isso sempre houve. E a gente sabe hoje é que, efetivamente, o valor dessas histórias foram ainda mais estratégicos na sociedade atual. Pesquisadora: Com certeza. E aí, pensando nas duas empresas que são os meus pontos de análise, é bem evidente o uso que as duas fazem dessas histórias dos seus atletas patrocinados, não é ?! Aliás, a comunicação delas gira muito em torno disso. Você vê isso como um diferencial competitivo, já que as duas fazem? Ou não, elas fazem isso porque “a concorrente faz então eu também tenho que fazer”? Como você encara o uso que essas duas grandes marcas, que são ditadoras de tendência, fazem dessa ligação com a história dos atletas? Elas fazem por que é preciso, elas fazem por que elas ditam tendências, elas fazem por que elas estão em uma guerra constante entre uma e outra? Como você avalia isso? Entrevistado “Especialista”: Então, fazendo uma leitura muito direta dela, a concorrência obriga você a reagir. Mas assim, numa perspectiva maior, Nike, Adidas e algumas outras grandes marcas hoje importantes no cenário mundial, elas chegaram a isso por meio de processos de gestão, e de estratégia, e de posicionamento de mercado. É que cada vez mais essas empresas são empresas que vendem, que constroem a marca delas como algo na sociedade, e a vida do produto ela acaba sendo subordinada a isso. Quer dizer, Nike e Adidas estão muito mais preocupadas em fazer essa gestão de marca do que efetivamente vender produto. Não que numa certa instância de um projeto de comunicação mais sofisticado, elas vão também fazer um catálogo falando a novidade, em algum momento de preço, “etc e tal”. Mas o foco central começa ali pela promoção, pelo “p” da promoção, e vai (derivando) cada vez 202 mais para esse lado de branding, de conta de marketing, de construção de histórias, historytelling, ou seja, também fazendo com que a marca exista efetivamente enquanto algo que os consumidores vão ter um contato direto. Dizem que a Adidas acabou de criar um casa Adidas, um espaço de relacionamento para corredores, um exemplo disso, fazendo com que a marca exista. Nesse espaço, provavelmente, o foco não é uma lojinha de vender tênis ou qualquer outro material esportivo, ela é um espaço que busca uma outra coisa, para que, efetivamente no contato com a empresa, você se torna até um evangelizador daquela marca; tem uma relação com a marca de maneira que você vai levá-la para outros lugares. E na hora que compra, obviamente, você vai optar, naturalmente, por aquela marca. Tanto a Adidas e a Nike não têm fábricas próprias, elas são gestoras de marcas, fazem concepções de novos designes, desenvolvem novas tendências, e elas têm parceiros que vão fazer os produtos para elas. Então, o foco delas, efetivamente, está na gerência de negócios, e não necessariamente na fabricação desses produtos. Elas formam parceiros na Ásia e em outros países como Brasil para fazerem os produtos, e o que elas vão fazer, efetivamente, é tentar ser o grande agente das narrativas que vão ser construídas em torno das marcas. Pesquisadora: E buscando um pouco o recorte das mídias sociais, duas coisas que eu queria saber de você: Se você observa que existe planejamento nas ações dessas duas empresas nas redes, ou pode falar de outras também se você quiser. Existe um planejamento estratégico para toda a campanha de marketing quando essas empresas vão para as mídias sociais, você observa que esse planejamento está presente, ou não, vai muito pela onda do que se faz nas redes sociais? E a segunda pergunta, pegando esse gancho que você falou da Casa Adidas para a construção de relacionamento, as mídias sociais, essas plataformas, elas são um bom lugar para manter relacionamento, ou elas são um bom lugar para divulgar conteúdo? Eu queria que você avaliasse esses dois pontos, o planejamento e o relacionamento da comunicação dessas empresas nas plataformas sociais digitais. Entrevistado “Especialista”: É, começando pelo fim, que me parece um pouco mais fácil; a primeira parte eu fiquei com umas dúvidas. Efetivamente sim. Hoje, a grande mídia, a mídia que está se consolidando como a mídia do momento ou espaço de comunicação de referência no momento, ambiente – eu acho que ambiente até funciona melhor – o ambiente do momento é esse. Quer dizer, a gente vê aí as mídias tradicionais impressas em crise, a crise das mídias eletrônicas tradicionais, vemos que isso é um processo natural, estamos falando de cortes de jornal, revista, alguns fechando, alguns reduzindo, já vem nessa sequência. A gente sabe que o modelo tradicional de broadcast também está em crise. E a gente tem na contraparte uma expansão desse universo a partir da cibercultura e das derivações que vão levar, inclusive, às mídias sociais. Então, esse é digamos assim, o “quente” do momento. O que não significa que também é onde está o dinheiro, é tudo muito claro. Vamos dizer assim, é uma infantaria, é para onde a comunicação está indo, mas não significa que as coisas estão fáceis. A publicidade nessa área, dessas novas formas de se fazer comunicação, ainda é algo muito incerto, muito complicado. Então, não tem como não estar lá (por) ser uma trincheira, e principalmente pelas estratégias que essas empresas usam que é de vanguarda. Nike e Adidas fazem coisas de vanguarda, em termos de comunicação, de (relacionamento) de público. Então, não estar lá seria até um certo suicídio com toda uma geração que está o tempo todo nesses espaços. Agora do ponto de vista da estratégia, eu me sinto um pouco desconfortável para fazer uma análise muito contundente porque [...] é aquela coisa, eu tenho um conhecimento do 203 assunto mais superficial [...] Até onde eu entendo – talvez você com a sua pesquisa possa, mais para frente, poder pontuar isso com mais propriedade – mas, até onde eu acompanho, primeiro: eu acho que não dá para não estar nessas áreas e, segundo, elas fazem um trabalho bastante efetivo, principalmente quando criam novos filmes. E observe que já não são mais só vender produtos, são histórias, (dentro daquilo) que a gente estava falando, e são facilmente viralisáveis, são viralisadas muito rapidamente. Sempre que campanhas novas de Nike, por exemplo, de Adidas, elas já sempre terminam com várias formas de interação. Muitas campanhas de alguns anos para cá, já tem lançamentos especiais para redes sociais, Facebook, páginas especiais, estratégias nos mais variados formatos como esses, então isso é um caminho. É claro que não significa que tudo dá certo, que tudo é perfeito. A própria Adidas errou pra caramba quando, antes da Copa do Mundo, lançou aquelas camisetas lá para turista, exemplo de turismo sexual, de estímulo ao turismo sexual, e aquela ideia das mídias sociais como paraíso perfeito vira contra, porque a partir do momento que você faz uma estratégia equivocada dessas, elas são rapidamente viralisadas, e criticadas em redes sociais, então não é um território assim tão confortável para as marcas; elas têm muito a ganhar, mas qualquer coisa que também saia do controle, quer dizer, qualquer coisa que aconteça, a situação pode sair do controle muito rápido. Não há um controle. A mídia tradicional, unidirecional, é que dá controle para quem comunica, para quem compra espaço, para quem é detentor do espaço. Em redes sociais não há um controle porque a forma da comunicação ela é completamente pluridimensional. Então, você pensa que está controlando o processo mas aquilo está completamente descentralizado. Na maioria das vezes, quando você erra ou quando a sua mensagem é interpretada de maneira equivocada, você vai ter que fazer gerenciamento de crise, que é realmente tentar provocar nas redes sociais boas ações que você, gerar buzz “etc e tal”. Às vezes dá certo, às vezes não, a coisa também não repercute, não consegue chegar lá. Então, é um assunto um pouco complexo, não me sinto à vontade para avançar muito, mas eu acho que não dá para não estar lá. E estar lá não significa, também, ser o mundo perfeito porque não é uma zona de conforto para quem quer ter controle; e toda empresa, obviamente, quer controlar o processo de comunicação. Então, é preciso (estar), mas os riscos já fazem parte do processo. Pesquisadora: Bacana. Então, assim, dentro desse universo de redes sociais é aquela coisa: preciso estar lá, porém é um lugar complexo, precisa ter planejamento, mas também não se consegue planejar muito porque tem a participação efetiva do internauta, e aí é onde a coisa pode correr para lados obscuros. Então é um lugar, assim como apostar em um atleta e o desempenho dele pode ser positivo ou negativo para a marca, apostar em comunicação e mídias sociais também pode ser positivo ou negativo para a marca? Você enxerga isso dessa forma? Entrevistado “Especialista”: Sim, claro. É antes vamos dar um exemplo, assim, mal comparando porque é mais de publicidade e minha área é jornalismo, não é (), mas cada vez mais transmídia [...] Dentro da mídia tradicional ela trazia essa questão da zona de conforto, então você cria uma campanha, uma nova comunicação, ela não foi bem vista ou dá algum problema, tira do ar. Antes de ir no Youtube, por exemplo, era muito mais tranquilo. “Ah, fiz uma campanha, foi mal interpretada, gerou um desconforto”; tiro do ar. Com o (crescimento) do Youtube, já está: “já saiu do ar, mas continua a memória lá daquela coisa errada que você fez”. Você vai no Youtube, alguém postou, mesmo que você consiga que alguém tire, um outro vai e coloca [...] Então, já é um exemplo disso. É esse desconforto constante. Você está sob julgamento e, digamos assim, a memória, nesse sentido, ela é constante. Não é porque 204 você errou, que legalmente aquilo foi cancelado, sei lá, que aquilo sumiu; continua lá aquele registro, é para o bem ou para o mal, por causa da informação que a gente vive hoje. Então, esse é o primeiro ponto. E com um Twitter, ou um Instagram, é tudo muito pulverizado, é tudo muito descentralizado, então é um risco muito grande para as empresas. Por outro lado também é uma oportunidade muito grande para as empresas. Todas as empresas hoje sonham com essa capacidade de serem marcas de referência, de marcas quase que religiosas. Porque a partir do momento em que você consegue uma relação meio que religiosa com seu público, ele meio que vai ser um defensor seu. Então, sei lá, surge uma denúncia de uma empresa “X” que é da área de tecnologia, não vamos citar o nome, mas você sabe de quem eu estou falando, [...] () uma situação nova [...] aquele pessoal da área fala “não... não é bem assim... vamos ver... eles são tão bons... é o melhor computador... é o melhor ‘não sei o que’... minha vida [...] eu não vivo sem eles...”. Então, você tem essa guerrilha de vários soldadinhos ali trabalhando para a sua marca. Por isso que hoje o sonho é construir esse tipo de relacionamento, porque você ganha uma capacidade sem trabalhar nas várias trincheiras ao mesmo tempo. Só que isso é difícil. O processo de fazer (que) algumas marcas como Coca-Cola, Apple, mesmo Nike e Adidas, e algumas poucas conseguem, é um processo de trabalho constante, de serem recebidas como essas marcas, especiais, inspiradoras, as pessoas querem fazer parte daquele mundo. Então, isso é um processo muito desafiador, e não dá para parar. O exemplo, eu acho, mais feliz disso é a Coca-Cola que ninguém discute a capacidade da marca Coca-Cola, o poder que ela tem, e continua fazendo campanha, continua fazendo mídia, porque sabe que não dá para parar. Pesquisadora: Com certeza. Para finalizarmos e eu não pegar mais do seu tempo... Você começou dando um grande panorama de como está o mercado. Aí você apontou alguns problemas de gestão, de crise econômica. Teria algum – além de melhorar a gestão, superar a crise econômica – que você acha interessante para melhorar esse universo da comunicação esportiva no Brasil, para a gente chegar a níveis mais internacionais, em relação até a elaboração de eventos, participação maior do público não só em um esporte. Você vê outras alternativas que não só a mudança na gestão e no panorama econômico? Entrevistado “Especialista”: Então, a gente falou muito do ponto de vista dessas empresas que tem interesse indireto no esporte. Quer dizer, são parceiras, é o que a gente chama de empresas que vão ao esporte fazer um marketing no esporte. (Ou seja, usam) o esporte como um ambiente especial para fazer o trabalho delas. O que eu acho que a gente pode contrapor aí é justamente o mundo do esporte. Que também tem empresas, os clubes, as empresas esportivas por excelência, e aí eu acho que tem todo esse quadro. Quer dizer, o esporte brasileiro hoje, pegando o futebol, e gente vive um cenário de crise, não dá para negar, os 7 a 1 são um símbolo da má gestão, há uma tentativa muito interessante com a (MP) de negociação das dívidas, mas o cenário político é muito desfavorável porque, digamos que seria a proposta certa na hora errada. Por que na hora errada? Porque o governo está muito fraco, o Congresso brasileiro é um caos, não dá para esperar nada de bom vindo de lá nesse momento, então é complicado. Se ela fosse aprovada com o modelo atual ou muito próximo dele, seria uma grande contribuição para a melhoria do futebol brasileiro como produto. Mas o cenário político não me faz ser muito otimista. A questão da Olimpíada, dos jogos brasileiros também, as perspectivas [...] muitas das perspectivas que se tinha de (legado), de revolucionar o cenário brasileiro, parece que não se confirmam, o futebol, por exemplo, não se confirmou, a gente pode dizer isso 205 concretamente, quer dizer, a gente pode fazer bons eventos, mas isso seria o mínimo e não o máximo. Quer dizer, o mínimo seria fazer bons eventos, é claro, porque senão você vai ser uma vergonha danada. Agora, fazer só bons eventos é muito pouco para a relação de custos e em relação com a carência que o mercado brasileiro tem para se tornar um país que tem uma relação com o esporte melhor, mais sofisticada, mais positiva para a população como um todo. Então, efetivamente, o marketing pressupõe produto, e o produto esportivo brasileiro ainda sofre muito. Muito incipiente, sofre muito, sofre de carências. Então, ainda que a Olimpíada seja no Brasil, a gente corre o mesmo risco de outras Olimpíadas. Quer dizer, gente que não entende nada do processo de preparação para uma Olimpíada, criticando atletas que às vezes não têm as condições ideais de treinamento, então é muito fácil julgar uma não conquista de medalha sem entender a relação de quem está na batalha com outro que teve, de repente, condições muito melhores de se preparar. Então, é a parte do produto porque, efetivamente, se o esporte é um ambiente estratégico para as empresas, quanto melhor for esse esporte, melhor será esse ambiente, e aí os esportes ganham, e as empresas também. Talvez fosse um estímulo a mais para mais empresas se interessarem a investir no esporte. Pesquisadora: Legal. Nossa, está ótimo. Para mim foi super rico. Obrigada pela disposição. Entrevistado “Especialista”: Boa sorte. Entrevistado “Executivo” Nome do entrevistado: Executivo Local de atuação profissional: Empresa multinacional de pesquisa em marketing esportivo Contatos: não divulgado por exigência do Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo Forma de realização da entrevista: presencial Pesquisadora: No seu ponto de vista, como está o mercado para as empresas acionarem o marketing esportivo? Entrevistado “Executivo”: É um mercado em fase de transição, é um mercado em fase de amadurecimento ainda e é um mercado em fase de grandes dúvidas. Vamos tentar te explicar o que significa cada uma delas; vamos começar pela parte de amadurecimento. Durante muito tempo o Brasil não tinha patrocinadores, o Brasil tinha patronos. O que é um patrocinador, o que é um patrono? O patrocinador é uma empresa que usa a plataforma do esporte, do marketing esportivo, para promover seus produtos e serviços, e avalia o resultado desse investimento de alguma forma mensurável. Pode ser aumento de vendas, aumento de “marketing share”, aumento de conhecimento, goodwill, branding, enfim [...] ou seja, mais revenda, e por aí vai. Ou seja, o patrocínio não é o objetivo final, e sim é um meio para a empresa se promover e vender seus bens e serviços. Isso é um patrocinador, certo?! O que é um patrono? Um patrono é alguém, pode ser uma empresa, pode ser uma pessoa, pode ser o governo, pode ser uma organização qualquer, que investe dinheiro em esporte com 206 objetivos outros que não sejam [...] ou seja, a promoção da sua empresa e o aumento de vendas; aquilo que a gente falou antes. E o Brasil tinha muito disso antigamente. Então, por exemplo, quando o governo da ditadura, ou seja, o governo militar, patrocinava futebol e os times de futebol é porque era o modo que tinha da Petrobrás e o governo brasileiro ficar patrocinando clubes populares e ter “boa vontade”. Ou seja, no fundo era muito mais uma associação com coisas populares do qualquer outra coisa. Isso não era um patrocínio, isso era uma patronagem. Quando o sr. Castor de Andrade botava um milhão de dólares por ano na escola de samba deles que era a Mocidade Independente de Padre Miguel ele não fazia isso para [...] qual era o negócio que ele estava promovendo? Nada. Ele fazia isso por vaidade, ele fazia isso para ajudar a escola que ele era o dono, o patrão, para comprar, angariar a boa vontade da comunidade, se promover socialmente, que tinha disputa entre os bicheiros pelas escolas, para ele ficar sempre visto como um grande bicheiro de sucesso. Isso é patronagem, isso não é patrocínio. E quando alguém investia - prefiro não dar exemplo nesse caso mas [...] – quando alguém investia num time de futebol porque era o time do coração, na verdade era patronagem, ou seja, eu estou ajudando o clube que eu amo; eu não faço isso para o benefício da minha empresa, e sim para o benefício do clube que eu amo. Enfim, então, durante muito tempo no Brasil, eu diria muito tempo, décadas, anos 70, anos 80, anos 90, e até hoje ainda tem um pouco disso, tinha muita patronagem no Brasil e não tinha tanto patrocínio. Isso começou a mudar, basicamente no começo, na virada do século, quando as empresas multinacionais começaram a entrar em esporte mas começaram a exigir dos patrocinados relatórios, visibilidade, transparência, informação, porque eles não tinham pra dar. Então, ou seja, quando a Parmalat foi patrocinar o Palmeiras ela falou assim: “Olha, tudo bem, eu quero saber o que eu, Parmalat, estou recebendo disso?”, “Ah, boa vontade” “Sim, boa vontade, mas eu quero mensuráveis”. E aí isso começou a gerar, ou seja, uma demanda junto à empresas de marketing esportivo de se sofisticarem e usarem ferramentas de aferição, e a eficiência do patrocínio e em empresas como a nossa, que fazem isso. E isso, a cada ano que passa tem mais patrocínio e menos patronagem; é uma coisa boa para a todo mundo. Então, ou seja, por outro lado, isso também forçou aos clubes de futebol a se organizarem e trabalharem com honestidade, transparência, eficiência, ou seja, porque antigamente quando o Flamengo ia vender um patrocínio da camisa “o preço é esse porque eu sou Flamengo” e acabou. Isso durante muito tempo funcionou; não funciona mais. Mesmo quando ele vai vender para a Caixa que é uma empresa do governo, a Caixa pega e fala “sim, mas porque você é Flamengo você está nessa mesa”, mas isso é a abertura da reunião e não o fechamento da reunião. E quando você fala com multinacionais, então, aí é muito mais. Nenhuma multinacional vai falar com qualquer clube, ou confederação, ou federação, ou qualquer detentor de direitos sem entender claramente qual é o retorno em exposição, em patrocínio, em investimento, em objetivo; ele não patrocinou ainda. Então, a transição desse mercado é uma transição que vai da patronagem para o patrocínio. Antigamente era 100% patronagem, hoje talvez seja 80% patrocínio. Isso é uma coisa boa. A outra transição que está acontecendo, é a transição do país, da pátria do futebol e do vôlei, para uma pátria dos esportes 207 olímpicos, da natação, surf, basquete, MMA, UFC, ou seja, os outros esportes também estão usando dessas ferramentas para se promoverem. Porque quando você é futebol é até meio fácil, mas se você é federação de natação ou de esportes aquáticos, como é que você arruma patrocínio? Fora a patronagem, fora ir para o governo, falar com o senador, conseguir [...] você não consegue. Então, esta transição está ocorrendo também nos outros esportes, e em alguns casos até mais rapidamente. Pesquisadora: É visível esse novo posicionamento nos outros esportes? Entrevistado “Executivo”: É visível. E nas Olimpíadas, no ano que vem no Rio, isso vai ficar ainda mais visível porque é um torneio de multinacionais, e as multinacionais que estão dirigindo esse processo. Então, isso cobre aquela parte de em transição, em amadurecimento. A da transição é a transição do mundo analógico para o mundo digital. Durante muito tempo, em grande parte ainda acontece isso, ou seja, patrocínio entende-se placa em algum lugar ou marca em camisa e uniforme de time, ou vinheta na Globo; é isso que as pessoas entendem como as propriedades que são vendidas. Quando, na verdade, fora do Brasil, nos Estados Unidos e Europa Ocidental, as propriedades mais importantes, influentes e desejadas não são essas, essas são as propriedades de mídia digital porque são as únicas que se permite um engajamento direto com o consumidor. Placa de campo é muito bom para se gerar visibilidade, uniforme é muito bom para se gerar atitude, mas nenhuma das duas gera engajamento. Porque são as interfaces que o público, e o patrocinador, ou o clube do coração, ou o que for, interage. Pesquisadora: Isso está sendo bem feito aqui no Brasil? Entrevistado “Executivo”: Está sendo bem feito na medida do possível. Porque, no fundo, isso é tudo muito novo. Então, a gente está tratando de coisas que acontecem quando a gente fala. Ainda não existe uma base de conhecimento estabelecida, best practices, ainda não existe isso. Então, tudo é meio recente, é muito novo, o Twitter começou outro dia, sabe?! Então, segundo, não apenas as plataformas ainda são meio novas, mas também as ferramentas que acessam, são muito recentes. Agora, o Brasil, tem uma grande tradição de internet, tem uma grande tradição de curiosidade, número de usuários. Então, eu acho que está bem feito. Acho que o Brasil, em alguns casos, está até na vanguarda disso. Teve uma coisa interessantíssima, não sei se você soube, em relação à Super Bowl, que a ESPN transmitiu a Super Bowl no Brasil e eles tinham uma hashtag, que era ESPNtemsuperbowl. Durante dois, não, durante um terço do jogo, mais ou menos teve mais buzz nesse hashtag do qualquer um americano. Foi gigantesco, o brasileiro adora, não é?! E tem outra coisa. Só tem uma coisa que o brasileiro gosta de fazer mais do que ver o esporte predileto, é se ver. Então, ou seja, ele adora ver o seu nome na tela, as pessoas respondem. São as celebridades desse mundo virtual que existe. Então, sob esse aspecto é bem legal. Agora, as empresas não sabem na realidade o que fazer, medir resultado não é muito fácil. 208 Pesquisadora: Essa é a minha dúvida: tem um engajamento, tem aquele monte de gráfico, os executivos das empresas conseguem enxergar aquilo e perceber e usar aquilo a seu favor? Entrevistado “Executivo”: Alguns sim. Alguns sim e outros não. Aí depende da sofisticação da empresa e depende muito do business model da empresa. Empresa que tem business model mais complexos, grande canais de distribuição, aí já é mais difícil; fica grande. Agora, coisa mais simples, é legal. E aí você joga no meio disso tudo a tal da celebridade, que o Brasil é obcecado por celebridade, segundo país no mundo em consumo de celebridade. Então, você tem celebridades no mundo digital, ferramentas móveis, um monte de gente opinando, mídias analógicas, mídias digitais que se interagem e tem interseção entre elas, enfim, e um montão de gente participando, então é transição. Isso gera confusão conforme eu falei, entendeu?! A confusão é, saber como usar, como engajar, como investir? Isso é consistente é sustetanble, sustentável, as pessoas podem fazer? E muitas dessas perguntas só o tempo vai responder. A verdade é essa. Então, uma longa resposta para a sua pergunta, mas esse mercado de marketing esportivo, ele é um mercado em transição, um mercado em amadurecimento e um mercado com uma certa confusão. Uma outra confusão é: as pessoas entendem de futebol. Quando se fala de Olimpíada, quem investe com Olimpíada é P&G, Unilever, Adidas, Nike, agora você vai falar da Magazine Luiza, vai falar de Guaraviton, enfim, e eles falam: como é que eu faço isso aí? Pesquisadora: Como que entra nesse mundo? Entrevistado “Executivo”: Você não entra, porque não tem patrocínio Pesquisadora: Exatamente. E as cotas já vem de fora. Entrevistado “Executivo”: Então, o único modo de você entrar é por hospitalidade, ou você entra pelo mundo digital. Eventos; eventos reais, eventos digitais. Eles não sabem como fazer isso. Mas, eu não tenho dúvida que o Brasil, dadas as características que nós discutimos, vai sempre estar na vanguarda dessa revolução digital. Pesquisadora: Legal. Legal ouvir isso, porque alguns autores não falam isso. Tem aquela síndrome do vira-lata de que a gente é sempre [...] “Ah, a gente não faz coisas boas, a gente está atrás de todo mundo”. É bom ouvir um pouco diferente. Entrevistado “Executivo”: Sabe que isso não pode ser mais distante da realidade. Sabe, não pode ser mais distante da realidade. Sabe, esse ponto que você falou da síndrome do vira-lata é uma coisa que aconteceu no Brasil durante décadas, porque durante décadas nós estávamos atrás mesmo de outras pessoas. Mas eu acho que isso, hoje em dia, é muito mais conversa, acho que é muito mais frase de efeito bacana do que qualquer outra coisa. O Brasil não está na retaguarda, ou não é vira-lata do mundo digital, o Brasil não está na retaguarda do consumo e uso do mundo digital, o Brasil está longe de estar na retaguarda do mundo de propaganda e marketing, ou seja, as agências do Brasil são sempre as mais premiadas, mais criativas, mais bacanas, então, 209 eu acho que é generalizar algo que aconteceu no passado, e nesse espaço, pelo menos. Talvez na política seja. Pesquisadora: Se a gente fizer um recorte de mídias digitais, essas grandes redes, plataformas que você mencionou: Facebook, Twitter. Todas elas têm o seu valor, cada uma para alguma coisa, cada empresa teria que avaliar para qual ir ou não? “Vamos fazer um planejamento geral e pular de cabeça em todas”. Como você avalia isso? Entrevistado “Executivo”: Eu acho que tem que ser baseado no objetivo da empresa. Uma das coisas que nós fazemos aqui é os três “R´s”, que quando a gente fala com os nossos clientes a entrega final é o Ro-e, Ro-i e Ro-o, que é o retorno da exposição, o retorno do investimento e o retorno do objetivo. Então são os “R´s” da entrega da gente. Eu acho que qual plataforma usar, eu acho que primeiro, as mais comuns tem que usar mesmo. Eu não vejo uma empresa legítima que não deva ter um Facebook. Por exemplo, eu tenho um amigo meu que tem um negócio que talvez seja mais analógico do mundo, ele é trader de carvão. Acho que poucas coisas são tão analógicas quanto você ser um trader de carvão. E ele falou para mim “eu não preciso ter Facebook”. Eu falei para ele: “Vem cá, quem são as grandes empresas americanas? Todas têm. É o teu cartão de visita. E outra coisa, mostra que você existe, que você é legítimo”. Porque hoje em dia existe essa percepção, que é verdadeira, de que se você não tem um website você não existe, se você não tem um Facebook você não existe. Então, se não é por nenhuma outra razão, você deve ter para mostrar, para legitimar a sua operação nesse nicho, nesse espaço, mesmo que pequeno. Agora, “aonde investir?”, aí a discussão é outra. O melhor que você pode fazer, você deve ter uma conta de Facebook, você tem que estar no Linkedin. Agora, depende do que você faz, do seu espaço, da sua entrega, dos seus objetivos, aí talvez você não goste do Instagram, tem que tuitar aquele outro cenário, e por aí vai. Agora, tudo depende do que você é e do que você quer. Pesquisadora: Planejamento sempre, não é?! Entrevistado “Executivo”: Mas cada vez mais as pessoas vão estar nesse mundo que em um mundo analógico, isso é inevitável. Vai chegar um dia, talvez você e eu não estejamos mais vivos quando acontecer isso, mas não vai ter mais jornal impresso. Pesquisadora: Sim, tem bastante jornalista mesmo de redação que fala isso. Entrevistado “Executivo”: Não tem mais jornal impresso. É até bom pra natureza né, meio ambiente, menos árvore cortada, talvez menos árvore plantada também. Agora, vamos chegar lá. Vamos chegar, também um dia, em que não vai ter mais jornal das sete da noite, porque as pessoas já sabem de tudo. Aliás, não sei se você reparou, vi uma análise, acho que foi no Max Mídia, se não me engano, do tempo que é dedicado a um jornal da noite de televisão. (Relaciona) a notícia versus [...] se notícia de algo, de acontecimento versus narrativa de outras coisas, está cada vez mais narrativa do que notícia, porque as pessoas já sabem da notícia. Já viram no smartphone, na internet, no rádio; já acabou. Então escreve algo mais narrativo, como o Fantástico faz, que é uma revista [...] 210 Pesquisadora: Um jornalismo mais literário do que o hard news. Entrevistado “Executivo”: Que fala dez minutos para dizer sobre corrupção, ou denúncia, enfim, e por aí vai. Então, ou seja, o mundo digital, pela velocidade, pela interação, pela interatividade do mundo digital, faz com que tudo aconteça mais rápido. Você não tem mais carta, é e-mail, ou seja, a notícia é em tempo real, eu vou aqui no globo.com e sei o que aconteceu na China há cinco minutos atrás, o avião que caiu na Suíça há cinco minutos atrás [...]. Então, ou seja, esse meio, ele está se consolidando, ele não é uma coisa passageira, vai ser sempre assim. Pesquisadora: E em termos do mercado do esporte mesmo, para vocês existe alguma diferença entre uma ação de uma Nike, uma Adidas, que são de natureza esportiva, e uma ação de um banco Bradesco, de uma Sadia, ou não? Do ponto de vista da pesquisa para vocês essas empresas se encaixam em um mesmo pacote, não têm diferença? Entrevistado “Executivo”: Em termos de metodologia, a gente usa a mesma metodologia. A gente pode não usar os mesmos produtos, mas usa a mesma tecnologia, é a mesma metodologia. Agora, os objetivos não são os mesmos. Existem, basicamente, meia dúzia de objetivos fundamentais em marketing esportivo. Promoção, ou seja, a construção de marca é um deles, evidentemente. E a gente vê as empresas, as que você citou principalmente, ficarem mesmo circulando, se é uma campanha institucional, ou seja, uma campanha de contas consignadas – falar de banco primeiro – institucional, ou seja, reforçar a marca. Algo como um produto, ou seja, uma conta consignada, um cartão de crédito, uma conta poupança. Se é uma coisa nacional ou regional, se é uma coisa de longo prazo ou esse fim de semana alguma coisa acontece. Então, as ferramentas que serão usadas, serão usadas para atingir esses objetivos do “qual é a marca”, “qual é o objetivo”, “qual é o tempo”, “como é que vai ser mensurado o sucesso disso”. Se é uma Copa do Mundo, se é uma camiseta para a Copa do Mundo. Então as ferramentas são as mesmas, mas a análise em si, eu não analiso o retorno no investimento, quando não analiso o retorno no objetivo. O investimento é muito simples: gastou tanto, gerou tanto, gerou um percentual, é bom ou ruim ou aceitável. É o mais fácil que tem. O objetivo não. É “qual é o objetivo”, ou “quais são os objetivos”, e vai um a um se foi atingido ou não; se foi, por que foi, se não foi, por que não foi. O que a Nike e a Adidas fazem, por serem marcas onipresentes e globais, sempre estão no topo das marcas que tem maior recall, ou seja, a Nike há anos que é a marca que mais recorre no esporte devido ao trabalho de décadas que eles fazem, eles tem uma estratégia que é um dos grandes pilares do marketing esportivo que é a de não dar espaço para o concorrente. Então, se perguntar para o Itaú: “Itaú, por que você está no pacote da Globo do Brasileirão? Tem placa de campo?”. Ele não tem a menor expectativa de que alguém vai ver aquela placa e vai abrir uma conta no dia seguinte; não é isso o objetivo. Pesquisadora: É para não deixar o Bradesco estar lá. 211 Entrevistado “Executivo”: Para o Bradesco não se associar ao futebol. O Bradesco faz o mesmo em relação aos Jogos Olímpicos. Então aí o objetivo é evitar que o concorrente entre no espaço. A Nike e a Adidas eles são um pouco diferentes porque, como é muito um contra o outro. Pesquisadora: É polarizado o negócio lá. Entrevistado “Executivo”: Então, você vê ações e reações que não levam o mercado como um todo em consideração, e sim, é, uma ação sempre é uma contra ação, uma resposta a uma ação precedente. Então, por exemplo, a CBF [...] a Nike fez um acordo com a CBF, a Adidas fez um acordo com a FIFA, aí falou “a é, quais são as 32 seleções que vão disputar? Eu vou ter as seleções, ou a maioria das seleções”. Aí falou “bom, já que eu não tenho todas as seleções, agora eu vou pegar os jogadores”. Agora foi para o Neymar, Cristiano Ronaldo e por aí vai. Então, sempre é uma tentando roubar o espaço da outra. Aí você tem o vôlei, então eu vou ter os jogadores de vôlei. Ah, você tem o futebol, então eu vou ter as seleções de futebol. Eu não me lembro de qualquer outra disputa entre duas empresas que seja tão pontual, que seja tão pontual quanto a da Nike e Adidas. Porque, é claro que elas estão pensando no mercado como um todo, mas sempre tudo o que a Nike e a Adidas fazem é pensando no que o outro está fazendo e em como reagir a isso. Então, ou seja, “ah, você tem a seleção do Brasil? Então eu tenho que ter Argentina. Você tem a Espanha, eu tenho que ter a Itália. Se tem Cristiano Ronaldo, então eu vou pegar o Messi”. E por aí vai. É uma briga por território. Isso é uma guerra, têm dois exércitos brigando por chão. É isso. Isso esse é o chão. Pesquisadora: Tem alguns autores que eles colocam bem diferente na teoria. Marketing esportivo falam que é só clube etc. E as outras empresas fazem marketing no esporte, coisas de epistemologia, teoria, aqui para vocês não tem isso? Marketing esportivo é todo mundo que está navegando no universo do esporte e ponto final, acabou? Ou não, vocês separam? Entrevistado “Executivo”: Não, a gente não separa porque, ou seja, de novo. Qual é a diferença que tem? Pesquisadora: Até os clubes entram no meio dessa caixa? Todo mundo junto? Entrevistado “Executivo”: O marketing esportivo e tem outra coisa, a gente envolve inclusive esportes que não são de competição, por exemplo, Cooper. Sabia que Cooper é o esporte mais praticado no Brasil? Sabia disso? Mas com uma milha e meia. Ou seja, a Nike e a Adidas investem um caminhão de dinheiro em corrida de rua. Não tem uma confederação organizada, não tem um campeonato organizado, não tem um ranking. Certo? E daí, não é marketing esportivo? O quê é? Quem pensa que marketing esportivo é coisa de futebol é uma besteira. Exemplo: corrida de rua. A Acics está gastando um caminhão de dinheiro em corrida de rua. Sabe por quê? Porque é o aspecto de lifestyle. Sabe, de estilo de vida, as pessoas não correm para ganhar, as pessoas correm porque correr faz bem. Isso engaja. Isso engaja terrivelmente. 212 Pesquisadora: Para finalizar, do seu ponto de vista, o que falta para a gente ficar mais elevado ainda em termos de utilização do esporte como meio de comunicação. Para eventos, coisas que a gente vê em outros países, como uma final de campeonato brasileiro, comparado com uma final de Super Bowl? É bem distante uma coisa da outra. Comenta um pouco isso para mim. Entrevistado “Executivo”: Não vai acontecer. O sucesso do esporte, qualquer esporte, de corrida de rua a futebol, ele é baseado em cinco pilares. E os cinco pilares, eles são igualmente importantes, você pode apresenta-los em qualquer ordem que não faz diferença. E um desses pilares é celebridade. Pesquisadora: Me fala os cinco, para eu poder colocar lá na pesquisa. Entrevistado “Executivo”: Existência de celebridades no esporte. Esporte que têm celebridades são esportes que as pessoas tendem a assistir mais. Esportes que não têm celebridades só atraem aquele núcleo de super fãs, que são super fãs do esporte com o Guga jogando ou sem o Guga jogar. Com o Gabriel Medina surfando ou sem o Gabriel Medina surfar. Porque no fundo existem quatro tipos, existe uma matriz. Têm quatro tipos de fãs e cinco tipos de pilares. Você tem o super fã, que gosta do esporte independente, mas é uma base pequena, mesmo para o futebol. Você tem os fãs: gosta do esporte mas tem um tipo de engajamento menor. E celebridades, como em campeonatos importantes, trazem esses fãs. Copa do Mundo, Brasileiro, final, etc. Mas quando não tem algo bacana eles ficam meio na periferia, que é um público muito maior do que o do super fã. Você tem os fãs ocasionais, que é a maioria da população brasileira. Esse só vem quando algo realmente interessante, ou atrativo ou especial acontece. Copa do Mundo, sem dúvida nenhuma. E tem os que não estão interessados. Você exclui os que não estão interessados, e então é o seguinte, para um esporte acontecer em tamanho grande você tem que atrair os ocasionais. Porque os super fãs estão lá de qualquer forma. Esses vem, esses são seus. Os fãs estão perto, estão na periferia. Os outros estão a três quilômetros de distância. Para os trazer, você tem que oferecer algo que os atraia. Aí você tem essa parte dos cinco pilares. Primeira celebridades. Tênis com Guga ou sem Guga? Fórmula 1 com Senna e Piquet ou fórmula sem Senna e Piquet? Surfe com Gabriel Medina ou surfe sem Gabriel Medina. Santos com Neymar? Campeonato Brasileiro com Neymar, Kaká ou Brasileiro sem Neymar, sem Kaká e sem ninguém. Então, basquete com os brasileiros da NBA ou basquete sem os da NBA. Então, a existência do primeiro ponto dos cinco pilares são as celebridades, ele é muito importante, e o Brasil hoje não tem. O Brasil hoje tem celebridades, você tem o Cielo, da natação, o Medina no surfe, esse menino que ganhou e está ganhando e talvez seja uma possibilidade. Você tem alguns brasileiros na NBA e o futebol. Enquanto que a Europa, por exemplo, oferece a seleção das seleções, nos Estados Unidos você tem os melhores do basquete, os melhores do futebol americano, os melhores de tudo. Hoje, no Brasil, você tem uma carência de ídolos, celebridades que atraiam gente de fora do esporte. O segundo pilar é rivalidade. Rivalidade trás gente para o esporte. Falta de rivalidade, afasta. No tempo de Alain Prost e Ayrton Sena. As pessoas acordavam às cinco da 213 manhã para ver. Ou o Federer e o Nadal que ficam carregando o tênis nas costas, há dez anos. Neymar e Messi. Então, quando você tem celebridade e tem rivalidades, ou seja, você trás o público de fora e cresce o esporte. O terceiro pilar [...] Então, ou seja, você vê que o Brasil tem a carência das celebridades e tem a carência das rivalidades. A melhor coisa que podia acontecer na natação, era aparecer o segundo Cielo aí, entendeu?! Que um ficasse brigando com o outro o tempo todo para gerar esse interesse. O terceiro pilar é torneio organizado e ranqueamento, ou seja, é muito difícil um esporte crescer sem ter organização, torneio, quem é o campeão, quem é o vicecampeão. Isso afeta um pouco corrida de rua, que aí é mais uma [...] como é que eles chamam corrida de rua? Não é esporte, [...] alguma coisa recreativa, alguma coisa esportiva, passatempo esportivo, porque você não faz aquilo para competir, você faz aquilo para seu bem estar. Então, o esporte que não tem torneio, competição, ranqueamento, organização, tende a sofrer com isso. Mas isso me lembra o Brasil, por exemplo, essa dificuldade de crescimento de baseball no Brasil. O futebol americano, agora, que deram um torneio que teve lá; até fui em jogo, interessante, enfim. Por quê? Porque você tem que ter torneio, tem que ter transmissão em televisão. E aí falam da PBR. Sabe o que é a PBR? Pesquisadora: Não. Entrevistado “Executivo”: É o Professional Bull Riders, que é montar em touro, não é rodeio, é montar em touro, eles não chamam rodeio. Que nos Estados Unidos é um esporte que movimenta alguns bilhões de dólares com mega patrocinadores: McDonalds, Visa, Ford. Lá tem 26 etapas, nos Estados Unidos, a final em Las Vegas, com televisão aberta, CBS, horário nobre, audiência no teto. E eles fazem lá um pouco de futebol americano. Sabe, o fã tende a gostar disso, porque é violento, físico, tem muito contato, as pessoas se machucam. E é uma liga importantíssima nos Estados Unidos, tem as 10 maiores [...] chega perto do Hockey. Você tem os quatro grandes, aí você tem futebol, você tem MMA e tem PBR. E, nos últimos dez anos, o Brasil ganhou sete anos. Inclusive o campeão atual, chama Silvano Robson, nunca ouviu falar.... Silvano Robson, é lá de Campinas, por acaso, é o tri campeão mundial. Pesquisadora: E ninguém fala nada aqui. Entrevistado “Executivo”: Marchi, Adriano alguma coisa, todos esses foram campeões mundiais. Ganhando [...] e dando surra nos americanos. E no Brasil ninguém conhece. O Brasil não tem um esporte relacionado. Não existe nenhum esporte no Brasil, incluindo Fórmula 1, que o Brasil foi campeão oito vezes, três, três e dois. Não tem nenhum esporte no Brasil [...] o Brasil foi campeão cinco vezes no mundial de futebol, oito vezes de Fórmula 1, sete de campeão mundial de vôlei, enfim, e por aí vai. Não tem nenhum esporte no Brasil, que o Brasil tenha dez mundiais fora além da PBR. E ninguém no Brasil ouviu falar, fora interior de São Paulo, o Barretos, lá [...] Pesquisadora No circuito, é. 214 Entrevistado “Executivo”: Lá esse pessoal é deus. Por quê? Não tem televisão. Não tem transmissão. Não tem transmissão, não acontece. E o quinto, é marketing. Promover, apresentar, decorar, engajar, e por aí vai. Então, ou seja, a dificuldade que o Brasil tem hoje é que nesse mundo global o campeonato brasileiro não disputa a atenção com o Stok Car. Disputa a atenção com o Champions League, com o campeonato espanhol. Todo mundo tem TV a Cabo, você (pega) na internet, você vê jogo se quiser pela internet, ou seja, as pessoas hoje em dia [...] a competição pela atenção do telespectador, ela é global. Acabou aquele monopólio de ou você vê futebol ou vê novela. Ou vê futebol ou vê Sílvio Santos. Você vê futebol, mas qual futebol você quer ver? Quer ver o espanhol, se quer ver o italiano você vê o italiano, se quiser o brasileiro vê o brasileiro. E aí começa ter as mudanças, e nesse contexto a qualidade do produto ficou fundamental. E aí você vê, quando o clube tem qualidade as pessoas assistem. Assistem a Libertadores, muita Libertadores até porque o mata -mata está interessante. Pesquisadora: É mais interessante. Caiu a qualidade, desanima. Entrevistado “Executivo”: Mas não assistem o Estadual. Então o Torneio Estadual de Futebol, que era, no meu tempo, mais importante [...] não tinha nem Torneio Brasileiro. Eu sou de uma época em que não tinha Campeonato Brasileiro. Você tinha Copa de São Paulo, Torneio José Gomes Pedrosa, que era um torneio que tinha três times do Rio, três times de São Paulo, não sei o quê [...] que a CBF nem considera (Campeão) Brasileiro. Mas o que valia era Estadual, ali que, sabe, tinha rivalidade local, as pessoas se matavam e não sei o quê. Hoje, o Estadual é [...] Pesquisadora: O Fred ontem, estava pedindo para acabar com o Estadual do Rio, não é?! Entrevistado “Executivo”: Mas é inevitável por causa da qualidade do futebol. Então, a sua pergunta é: você acha que o Brasil vai conseguir chegar a ser primeiro mundo, de ter um produto de primeiro mundo? Não. Porque tem uma questão econômica nisso. Não consegue reter os jogadores. Como é que você pode querer que a Liga Brasileira de Basquete dispute a audiência, a atenção com a NBA nos Estados Unidos? Como é que você pode querer que o Campeonato Estadual de São Paulo dispute audiência com a série A, ou a La Liga. Jogadores que você quer ver, não estão aqui, estão lá. A gente tem pesquisa aqui, pesquisa nacional, que mostra que uma parcela grande, não é 1 ou 2% dos jovens de 14 a 29 não tem nem time no Brasil. Não torce para nenhum time do Brasil. Meu filho que está aqui do lado, torce muito mais pelo Real Madrid do que pelo Fluminense. Pesquisadora: Não tem identificação, é verdade. A marca está fragilizada, não é?! Entrevistado “Executivo”: Está. A qualidade do esporte está muito ruim e o produto. Então, você vê que durante nossa entrevista toda eu busquei dar um tom positivo, legal, acho que o Brasil vai ficar bem e não sei o quê, mas nesse ponto de qualidade de produto, isso vai continuar sendo um problema. Vai continuar sendo um problema, 215 porque o Brasil não está entregando uma qualidade que seja [...] esquece igual, porque igual não vai acontecer, mas eu diria [...] Pesquisadora: Próxima? Entrevistado “Executivo”: Perto do que é, entendeu?! E aonde a gente conseguia isso, não vai ser mais do que UFC. De fórmula 1, a gente sempre teve os principais pilotos, já não tem a 20 anos de Barrichello. No UFC, há dois anos, em 2012, o Brasil tinha cinco campeões mundiais; simultâneos. Hoje tem um, que é o Aldo, e ele vai perder para esse magrelo na próxima luta. Não tem mais. Júnior Cigano perdeu, o Silva perdeu, o Renan Barão perdeu, Vitor perdeu, e agora o Aldo, que era menos carismático deles todos, era sempre baixinho, pequenininho, enfim, vai perder. Quer ver um outro exemplo interessante? No voleibol. Essa aí é a quinta geração do voleibol brasileiro desde que o Nuzman colocou a mão na Confederação. É a quinta geração. A primeira não tem muito resultado, mas melhorou a qualidade do produto de pessoas interessantes da geração. Que era: Badalhoca, Bernard, Bernardinho, Renan, Montanaro. Eles não ganharam muita coisa, mas é um monte de gente que virou celebridade. Aí veio a segunda geração e ganhou tudo. Tudo, tudo, tudo, tudo! Aí veio a terceira geração, bum, ganhou também, igual. Nessa é a quarta [...] Então, assim, essa garotada, se você sair no núcleo do super fã no voleibol, ninguém conhece os jogadores. O Brasil tem resultado. Continua ganhando título, chega na final do Mundial, não foi campeão, mas foi vice, se eu não me engano, ou seja, e ninguém conhece o jogador. E ele joga no Brasil, não é que ele joga na Europa, ele joga no Brasil, porque a Confederação não fez um trabalho para desenvolver que o jogador seja também celebridade do esporte. Quando por exemplo o Xandy, aquele da Dança dos Famosos, como era o nome dele? Pesquisadora: Giba. Entrevistado “Executivo”: O Giba, todo mundo conhecia o Giba. Todo mundo conhecia esse pessoal. E as meninas a mesma coisa. Paula, Jaqueline, todo mundo conhecia. Hoje ninguém conhece. Você tem que trabalhar essas pessoas fora do contexto do esporte. Então, você vê que até o voleibol, que é o segundo esporte do Brasil, que tem resultado, ganha título, estão todos aqui, não tem nenhum jogando fora [...] Pesquisadora: Não tem essa visibilidade. Não tem identidade. Entrevistado “Executivo”: Não tem identidade fora do esporte. Então eu acho o seguinte. Eu acho que o que tem que fazer [...] são todos clientes nossos. Todas as confederações são clientes nossos, o que a gente fala: entenda que nós vivemos em um mundo diferente. Entenda que esse mundo é diferente e existe uma competição universal pela atenção das pessoas. Entenda que nessa disputa, você não está mais disputando com outros voleibolistas, ou sequer outro esporte ou outra coisa, mas disputa com gente que quer ver filme, quer jogar vídeo game [...] Hoje as pessoas tem um mundo à disposição deles. E ver que as pessoas se sensibilizam com celebridade, com rivalidade, ou seja criem situações em que haja celebridades, rivalidades e 216 estrelas fora do mundo do esporte para atrair as pessoas. Então, sabe, acho que em alguns casos vai ter um progresso grande, em outros casos, talvez não exista um progresso grande, em outros casos, a curto prazo, não há o que fazer. Porque no caso futebol, eu participei de um debate na CBF sobre o que a gente faz. A gente entende tudo, está claro, e o que a gente faz? Aí uma das ideias foi: bom, a gente não tem o Neymar, a gente não tem o Kaká, o Daniel Alves, ou seja lá quem for, mas nós temos o próximo Kaká. Não tem, porque está na Europa também. Pesquisadora: Está ótimo. Super claro. Só uma pergunta rápida para liberar. Você usou muito a expressão engajamento para mídias sociais. Esse é o foco, mídia social ela é mais uma mídia ou ela é A Mídias, ela é necessária porque ela precisa estar ali, ou ela é necessária porque ela é realmente estratégica. Como que essas plataformas que a gente já falou: Facebook, Twitter, se encaixam dentro de um planejamento estratégico de mídia? É mais uma mídia que eu tenho que estar para mostrar que eu existo, como você comentou, ou não, ela tem função estratégica sim? Ela não é só um apoio midiático? Você entende minha pergunta? Entrevistado “Executivo”: Entendo claramente. Eu não tenho uma resposta flash para tedar, entendeu? E você já ouviu isso da minha boca umas quatro vezes: depende. Pesquisadora: Eu preciso ouvir bem para poder transcrever. Não posso ficar na dúvida. Entrevistado “Executivo”: Depende do tipo da empresa, depende dos objetivos dessa empresa e depende dos planos de médio e longo prazo que ela tem. Que eu acho que qualquer empresa tem que ter Facebook. Porque é o modo que tem de interação. Pesquisadora: Não é uma mídia só de apoio, é uma mídia necessária? Entrevistado “Executivo”: É uma mídia necessária. Ou seja, porque ela é uma mídia que engaja. Não tem outra mídia que engaja tano quanto Facebook. Talvez o Twitter, mas está tudo dentro da mesma caixa. Pesquisadora: Está tudo dentro da mesma caixa. É, no meu caso está tudo junto. Entrevistado “Executivo”: Então assim, porque [...] “ah, fazer um website”. Não engaja tanto. Mídia analógica, você não engaja nada. Carta dos leitores [...] não tem um engajamento. Carta dos Leitores, lembra do Carta dos Leitores? Você manda uma carta e não sei o quê. “Eu moro em Botafogo, aqui tem um, como é que é [...] o hidrante está vazando água há três dias () não vem [...]” Está errado isso. Então, evidentemente que as mídias, as plataformas, posso chamar de plataforma? Pesquisadora: Pode chamar. Melhor. Entrevistado “Executivo”: As plataformas digitais, elas são muito importantes, podem ser as mais importantes, podem ser as mais estratégicas, dependendo do tipo de empresa e dos objetivos dessa empresa. Todas tem que ter. O meu amigo lá que atua com carvão, talvez não seja o mais estratégico, talvez seja um cartão de apresentação 217 para falar “ah, me chama para a sua empresa”, que é importante ter mesmo assim. Mas no caso do McDonalds, é extremamente fundamental. Pesquisadora: Não precisa me dar números, nada, nem exemplos com marcas, para mim não tem importância isso. Mas esse engajamento, ele se reflete em números positivos que a empresa, lá no business dela, ela olha e fala “caramba, valeu a pena investir, aumentou o número de pessoas na minha loja, aumentou [...]”. Isso é visível? Entrevistado “Executivo”: Claro. Loja é loja. Quem faz isso brilhantemente, por exemplo, é a Riachuelo. Brilhantemente. Nas promoções das lojas, sabe [...] não pode crescer. Eu vou mostrar para você. Esse eu posso até enviar por e-mail porque não é um arquivo muito grande. Esse aqui acho que endereça a sua pergunta legal. O Cruzeiro foi campeão brasileiro, certo? Bicampeão brasileiro. A gente faz um estudo aqui de ROI, que é um negócio superinteressante. Pesquisadora: E essa pergunta, assim, ela é bem proposital porque a gente vê uma grande distância da academia para o mercado, porque para os acadêmicos, isso não reflete em números. A academia tem um tom crítico de que “ah, fica um buzz só na internet que morre ali que não reflete no mercado”. Então é legal ouvir que não é bem isso. Entrevistado “Executivo”: Absolutamente errado. Eu vou mostrar para você uma que mostra o contrário. Eu vou achar aqui. Espera. É tanto que eu tenho aqui. Isso aqui é a avaliação do ROI do Cruzeiro no mês de novembro de 2014. Isso não é buzz, não é like, não é nada disso. Isso aqui é uma avaliação com uma metodologia que o mundo inteiro usa, e que a gente desenvolveu, e hoje tem mais de 200 clubes de futebol usando isso, que mostra quando foi que o Cruzeiro gerou para os seus patrocinadores [...] ou seja, novembro começou (). Essas são as marcas. Período, clube, marcas nacionalizadas, plataformas. E como é a metodologia? A gente combina o elemento de fator de exposição, de as marcas aparecerem graficamente na tela, visível, grande ou pequeno. Pôster orgânico, pôster não orgânico, é diferente. Com o alcance de todas as plataformas. E o custo mil. O CPM. Então, a gente combina a metodologia e esse é o slide que a gente mostra. O exemplo da página do Barcelona que é um cliente nosso, vemos quais são os elementos, o que que é CPM, o que é pôster em cada um deles. Está aqui o resultado, ou seja, o Cruzeiro no Facebook gerou 1 ponto 9 milhões de reais para os patrocinadores, sendo que deu 700 milhões de qualidade, 615 no twitter e apenas 11 no Youtube. Eles não ativam muito o Youtube, fica um mês o vídeo lá, o mês inteiro. E aqui você vê marca, marca. Só está faltando a plataforma. Pesquisadora: Que legal. Nossa, sensacional. Entrevistado “Executivo”: Comparação total de qualidade. Posso mandar para você isso. E aqui você vê também nos erros. Quer dizer, a grande maioria é em fotografia, eles não ativam em texto. Pesquisadora: E isso, na minha pesquisa, eu já observei, da Nike e da Adidas isso. 218 Entrevistado “Executivo”: Muitas fazem texto é por causa do torcedor. Que foi 20%. A gente falou “vocês têm que ativar em texto, vocês têm que falar dos seus patrocinadores”. E aqui você vê, por exemplo [...] outro erro, no Facebook teve 501 posts no mês de novembro, menos da metade fala de patrocinadores. E mesmo assim já é um valor interessante. Pesquisadora: Sim. Imagina se trabalhar melhor. Muito legal! Entrevistado “Executivo”: Você acha que os nossos clientes não pedem para a gente para ver isso? É claro que eles pedem. Pesquisadora: Acho que é justamente isso que eles querem, não é?! Entrevistado “Executivo”: Claro que eles querem. E essa é uma mídia bacana e uma mídia barata. Ou seja, e segundo: engaja. Porque aí os fãs vão, postam, respondem a fotografia. Então esse tipo de coisa, hoje em dia, a coisa que eu mais ouço é: “eu estou patrocinando a manga desse time, será que eu estou investindo meu dinheiro direito? Será que esses milhões de reais que eu gasto, eu estou tendo um retorno?” Qual é o seu objetivo? Se é construir visibilidade e atitude, é um bom investimento, é um bom retorno. Agora, se o objetivo é outro [...] Entrevistado “Publicitário” Nome do entrevistado: Publicitário Local de atuação profissional: Agência de publicidade Contatos: não divulgado por exigência do Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo Forma de realização da entrevista: chat Pesquisadora: Como você vê o atual mercado de comunicação de empresas em mídias digitais?? Entrevistado “Publicitário”: Bem, os investimentos em mídias digitais vêm aumentando constantemente nos últimos anos, principalmente fora do país, porém, no Brasil isso também é verdade. Mas, a maior parte das empresas ainda não sabe muito bem como utilizar as mídias digitais, principalmente empresas mais tradicionais. Pesquisadora: Mas já é possível afirmar que os profissionais brasileiros estão atuando de maneira mais sólida nesse mercado ou ainda não? Entrevistado “Publicitário”:: Existem fatores externos que influenciam também, ano passado eu estava produzindo uma ação digital para um dos maiores bancos do Brasil quando o tema "Marco Civil" entrou em pauta, devido a votação sobre o projeto de lei que estava ocorrendo naquele período, com medo de represarias (sic), o banco simplesmente abortou toda a campanha até a liberação do departamento jurídico. Mas, existem excelentes profissionais no Brasil com atuação sólida nessa área. 219 Pesquisadora: entendo... então, o universo digital ainda traz insegurança para as empresas, mas não para os profissionais de comunicação. Seria isso? Entrevistado “Publicitário”: Até porque, muitas das agências digitais pertencem a grupos de propaganda de fora do país. A insegurança das empresas se deve ao fato dos profissionais das empresas ou até mesmo a filosofia da empresa ser diferente do mundo digital. Pesquisadora: Comente mais sobre essas "diferenças" do mundo digital. Quais seriam??? Entrevistado “Publicitário”: O processo de criação, desenvolvimento e implementação de projetos digitais é bem diferente do projetos off line geralmente são mais baratos e dependem de apenas um fornecedor. Pesquisadora: As questões referentes à participação do público na construção dos conteúdos, e o fato do universo digital ser mais dialógico também são fatores que dificultam algumas empresas de entrar mais efetivamente nesse universo digital? Entrevistado “Publicitário”: Não acredito nisso, até porque hoje em dia o público pode participar em qualquer processo digital. As empresas têm medo do digital por não dominarem o assunto, mas aos poucos isso está mudando Pesquisadora: Então, o que falta para um maior aproveitamento por parte das empresas seria um maior conhecimento do universo digital? Suas possibilidades, lógicas, diferenciais.... Entrevistado “Publicitário”: Sim, sim, exatamente! Perfeito! Capacitar os funcionárias que vão lidar com esse mercado é essencial. Já vi muitos profissionais de marketing ou de meios digitais de grandes empresas que não entendem nem o básico. Pesquisadora: Mas você fala mais do ponto de vista estratégico ou operacional?? ou dos dois? Entrevistado “Publicitário”: Dos dois! Pesquisadora: Você considera que as mídias digitais são utilizadas dentro dos planejamentos estratégicos de maneira integrada? São consideradas mais uma mídia como as outras ou recebem tratamento diferenciado nos planejamentos? Entrevistado “Publicitário”: Na prática, muitas vezes o planejamento ocorre de forma separada, mas não é o ideal. Hoje em dia o ideal é que tudo seja integrado e algumas empresas já fazem isso, mas não é a maioria. Pesquisadora: Você considera que TODAS as empresas, não importa o tamanho ou segmento de mercado, devem estar, de alguma forma, se comunicando no mundo digital? Por quê? Entrevistado “Publicitário”: Com certeza. O mundo hoje é digital. Se você não está presente na internet está morto, simples assim. Pesquisadora: Voltando ao planejamento, cada plataforma digital (Facebook, Twitter, Youtube, Instagran, etc.) recebe um estudo específico, sendo usado para casos específicos (como por exemplo, uma delas é melhor para vendas, outra para melhorar o posicionamento da marca, outra para atrair novos consumidores...) ou 220 tudo é visto como uma coisa só? Entrevistado “Publicitário”: Não pode ser visto como uma coisa só simplesmente por serem plataformas diferentes, mas isso não significa que as plataformas não possam "conversar". Pesquisadora: E quais as mais usadas, e por quê? Entrevistado “Publicitário”: Existem muitas, as principais são Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp, Youtube, Google+, LinkedIn etc. Mas se você for analisar, até no Tinder tem campanhas. Pesquisadora: Verdade! Então é possível dizer que cada planejamento, cada obejtivo de marketing e de comunicação deve se voltar para uma (ou mais) dessas plataformas?! Entrevistado “Publicitário”: Sim, mas sempre para mais de uma, nunca apenas uma, pois, como dissemos, as plataformas são diferentes e têm objetivos diferentes Pesquisadora:OK! As métricas disponíveis hoje são bem utilizadas pelos profissionais ou eles ainda lançam mão de ferramentas mais básicas? Entrevistado “Publicitário”: Quando a empresa é preparada sim, existem profissionais e ferramentes excelentes de acompanhamento e monitoramento, inclusive áreas dedicadas à isso. Pesquisadora: Dá para falar que o mundo digital é multidisciplinar ?? Tem espaço para diferentes profissionais atuarem na comunicação das empresas nesse ambiente? Entrevistado “Publicitário”: Sim, sim e sim! Pesquisadora: Existem vários especialistas que podem e devem trabalhar juntos para montar, por exemplo, um relatório de resultado de uma campanha específica, quais por exemplo? Entrevistado “Publicitário”: O profissional de TI vai trazer as métricas de um site, o especialista em campanhas de e-mail marketing vai trazer os resultados dos emails, o de SMS vai trazer dos disparos para celular, o gerente do projeto vai consolidar o relatório e cruzar com dados do cliente para definir se houve ou não retorno financeiro... O profissional de planejamento vai analisar se a campanha trouxe o KPI de cadastros, por exemplo, que era esperado no início. Pesquisadora: Não sei se você se sente à vontade para falar de um segmento específico, mas como meu recorte é o esporte, vou fazer uma pergunta e você fica a vontade para responder ou não. Você considera que as empresas que atuam no mercado esportivo, como fornecedoras de materiais atuam de maneira positiva? Quero dizer, você acha que as principais empresas do segmento esportivo exploram bem o universo digital em suas comunicações? Comente. Entrevistado “Publicitário”: As grandes marcas esportivas sabem explorar bem, vide Nike, Adidas, Gatorade. E digo mais, tem muita coisa que essas marcas fazem que a maioria nem conhece por serem ações para um público específico. Pesquisadora: Elas exploraram as mídias digitais para seus mercados de nicho? Entrevistado “Publicitário”: Sim sim...A Adidas, por exemplo, tem uma série de corridas de rua e eles fazem ações específicas para corredores, é bem legal o que a 221 Nike a Adidas fazem com corrida de rua... Pesquisadora: Mas já que elas focam bem em nicho, o que dizer sobre as ações em redes mais populares como Facebook e Twitter?? Elas teriam qual finalidade? Entrevistado “Publicitário”: Bom, o Facebook é a grande mídia social digital hoje, é possível saber quem são os clientes que gostam do modelo de tênis X da Adidas e veicular determinados anúncios apenas para esses clientes ou então se algum cliente buscou na Netshoes determinado modelo de tênis, o anúncio aparece lá no Facebook. Pesquisadora:Verdade!!! Apesar de terem outras tantas plataformas, as marcas devem atuar nessas mais populares por uma questão de "audiência", métricas disponíveis... É isso?! Entrevistado “Publicitário”: Principalmente o Facebook. Pesquisadora: E o que você pensa dos conteúdos que são replicados nas plataformas? Por exemplo, o mesmo post (foto e texto) do Facebook está no Twitter também? Entrevistado “Publicitário”: Isso é bem ruim! Cada plataforma precisa de um planejamento específico, justamente por serem diferentes. As empresas fazem o básico (errado) simplesmente por falta de conhecimento ou verba. É um mercado novo, mas essas empresas deveriam se organizar para se atualizarem de forma rápida, mas não de forma desorganizada. Os grandes executivos, que liberam a verba, não conhecem o mundo digital em profundidade... e aí voltamos no começo da nossa entrevista... Pesquisadora: Então, é um grande mercado para os profissionais ou nem tanto por causa desses entraves?? Entrevistado “Publicitário”: É um bom mercado, mas que depende da evolução dos profissionais e das empresas. Mas isso vai acontecer. Pesquisadora: Voltando ao esporte, é possível dizer se nas mídias digitais é melhor para as marcas explorarem seus patrocínios de atletas ou é melhor fazer a exposição de seus produtos? Entrevistado “Publicitário”: Da para fazer os dois... Tem espaço para tudo. Por exemplo, é possível fazer uma ação no Twitter em que o Messi assuma a conta da Adidas e responda para alguns fãs que mandarem questões em um dia ou expor seus produtos. 222 APÊNDICE II AMOSTRAS DIGITALIZADAS E DESCRIÇÕES 223 ANEXOS ANEXO A - MODELO DE TERMOS DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) O presente termo refere-se a um convite para participação voluntária como entrevistado da pesquisa intitulada: “Bola na rede: uma análise das estratégias comunicacionais de empresas esportivas no ambiente digital”. A pesquisa tem como objetivo analisar as ações de comunicação digital de empresas do segmento esportivo e verificar, além de seu planejamento, se existe a real utilização das potencialidades comunicacionais oferecidas pelas mídias digitais, como a interatividade, a inovação e a convergência. A justificativa dessa pesquisa se consolida pelo campo das mídias digitais ter investigação recente se comparado aos estudos desenvolvidos a respeito de outras mídias. Se o recorte da comunicação organizacional realizada em mídias digitais for levado em consideração, as lacunas científicas se ampliarão. Outro ponto que fortalece a justificativa é o crescimento do segmento esportivo na sociedade brasileira, seja por meio dos grandes eventos esportivos realizados no país recentemente, seja pelos investimentos públicos e privados que a prática esportiva tem recebido. A pesquisa possui caráter teórico e empírico. Além da investigação bibliográfica, um de seus processos de coleta de dados serão entrevistas semi estruturadas, com profissionais especialistas da área da comunicação esportiva, com realização prevista para o segundo semestre de 2014 e primeiro semestre de 2015. Outro método de coleta é a aplicação de um protocolo de investigação de perfis empresariais nas principais redes de mídias sociais digitais. 224 A pesquisa será realizada pela pesquisadora Karla Caldas Ehrenberg, do curso de Pós-Graduação Strictu-sensu de Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo. A ocorrência de riscos apresenta-se pelos desconfortos previsíveis no tipo de entrevista a ser desenvolvida nesta pesquisa, tais como a disponibilidade do tempo do entrevistado e a formulação de pensamento analítico para a elaboração das respostas. Buscar-se-á a redução desse tipo de desconforto marcando previamente as entrevistas em horário e local sugeridos pelos entrevistados. O interesse do participante em concluir a entrevista será respeitado sempre. O nome do entrevistado será identificado na publicação e para minimizar possíveis prejuízos em razão da identificação, a pesquisadora se compromete a considerar somente as informações científicas de interesse da pesquisa, sem menções a questões pessoais ou familiares, entre outras que sejam solicitadas pelos participantes. Entende-se que a quebra de anonimato se faz necessária pois esta garantirá uma maior credibilidade e confiabilidade nas respostas obtidas nas entrevistas. Acredita-se que, na configuração desta pesquisa, o anonimato poderia abrir espaço para o questionamento da qualidade da metodologia escolhida, o que prejudicaria a avaliação da tese. As entrevistas com os profissionais têm como objetivo construir um panorama mercadológico e acadêmico sobre a área a ser estudada e sem a identificação dos entrevistados essa construção pode ficar fragilizada. O benefício se apresenta pela colaboração para a compreensão dos processos comunicacionais organizacionais dentro do ambiente digital, bem como para a elaboração do conhecimento acerca das estratégias de comunicação estabelecidas por empresas do segmento esportivo. Não haverá nenhuma forma de pagamento pela participação nas entrevistas e caso o entrevistado se recuse a participar sua vontade será respeitada. Não está prevista, também, nenhuma despesa para os participantes da pesquisa e dela recorrentes. Caso o participante venha a ter qualquer dano terá direito à indenização, diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa, conforme Resolução 466/12. Ao término da pesquisa será realizada uma devolutiva dos resultados para os sujeitos envolvidos na mesma, com informação da data de publicação. Os resultados da pesquisa serão apresentados no segundo semestre de 2015 e deverão ser publicados e apresentados em eventos científicos. 225 Assim, caso aceite o convite para participar, por favor, preencha os espaços abaixo: Eu, ______________________________________________________________, RG____________________________, fui devidamente esclarecido (a) sobre a pesquisa acima citada e aceito o convite para participar. Estou ciente que este termo foi impresso em duas vias, sendo uma do pesquisador e outra do entrevistado, assinadas e rubricadas pelo entrevistado e pesquisador responsável. Dados da pesquisadora: Karla Caldas Ehrenberg CPF: 296.128.988-20 Rua José Marcelino Piassa, n. 347 Swiss Park- Campinas, SP CEP: 13049- 468 [email protected] (19) 3396 9018 / (11) 99808 8737 Dados do Comitê de Ética da Universidade Metodista de São Paulo Coordenação CEP-UMESP Campus Rudge Ramos - Edifício Capa - Sala 401- 4º andar Rua do Sacramento, 230 - Rudge Ramos CEP. 09640-000 São Bernardo do Campo - SP Telefone: (11) 4366-5814 e-mail: [email protected] ______________________________,_______ de________________ de 2014. __________________________________ Assinatura do pesquisador ___________________________________ Assinatura do participante da pesquisa 226 ANEXO B – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 227 228 221