José Carlos da Silva

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O HISTORICISMO DE MARX E ENGELS: Uma nova concepção
materialista e dialética das relações entre história, filosofia e política.
José Carlos da Silva
[email protected]
UFSCar/UFMS
CNPq
Assim como a filosofia encontra no proletariado
suas armas materiais, o proletariado encontra
na filosofia suas armas materiais... A filosofia
não pode realizar-se sem a supressão do
proletariado e o proletariado não pode ser
suprimido sem a realização da filosofia.
MARX.
Contraposto à aplicação do modelo científico-natural positivista, que se julga
livre de juízos de valor e de pressupostos político-sociais na pesquisa e no estudo das
ciências humanas, o historicismo marxista assinala que não existe um conhecimento que
busque explicar, interpretar e compreender a realidade sócio-histórica que não seja
“influenciado, direta ou indiretamente, por uma perspectiva socialmente determinada, e
que “há uma relação entre a perspectiva de classe ou de categorias sociais e o
conhecimento científico” (LOVY, 1985, p.8).
Apesar de existirem marxistas positivistas, isto é, que tentam fazer uma síntese
eclética entre positivismo e marxismo, ou que assumem, a partir do conceito positivista
de ciência, uma visão científica positivista do marxismo, pode-se considerar que Marx é
um legítimo herdeiro do historicismo clássico alemão. Bem lembrado por Konder:
Do ângulo adotado por Marx, nenhum aspecto significativo da realidade humana
poderia ser pensado fora da história, acima da história. Mesmo as realidades que
perduram ao longo da história e mais tarde viriam a ser classificadas ( no século XX)
como de “longa duração” dão conta da dimensão de “continuidade” que também
caracteriza ontologicamente o processo histórico (em ligação com a dimensão de
“ruptura”), mas ainda assim ocorrem dentro do movimento avassalador da história,
quer dizer, se verificam no âmbito de uma historicidade que, na concepção de Marx, é
coextensiva ao ser. Foi essa peculiaridade da perspectiva filosófica de Marx que
levou Gramsci, mais tarde, a caracterizá-la como um “historicismo absoluto”
(KONDER, 1990, p. 58).
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Inicialmente, um hegeliano de esquerda, Marx conheceu e analisou
profundamente o pensamento de Hegel, entrou em contato com as obras materialistas
de Feuerbach, tais como “A essência do Cristianismo” escrita em 1841 e “Princípios
da Filosofia do Futuro” escrita em 1843. A partir daí, ele desfere profundas críticas à
concepção conservadora, abstrata e idealista presentes nas concepções hegelianas sobre
o mundo; assume uma postura histórico-filosófica dialética e materialista de mundo,
faz um “acerto de contas” com o materialismo de Feuerbach, principalmente em “A
Ideologia Alemã” e nas famosas “Teses sobre Feuerbach”. Indo para Paris em 1843,
se aproxima ativamente do movimento operário revolucionário e em 1844 conhece
Engels, um amigo para o resto dos seus dias. E participando da vida política
revolucionária em Paris, foi expulso. Mas em qualquer lugar em que ele vivesse, sempre
tinha que migrar devido às perseguições à sua atuação social junto ao movimento
operário internacional que nesta época só crescia e se difundia por toda a Europa.
É participando ativamente nos rumos da história que Marx, juntamente com
Engels desenvolveram diversos trabalhos jornalísticos, históricos-filosóficos e políticos,
elaborando a teoria revolucionária do proletariado. Além de conhecerem, analisarem e
criticarem radicalmente o idealismo alemão e o materialismo feuerbachiano, também
adotaram esta postura crítica diante dos socialistas utópicos e dos principais
representantes da economia política. Com isto, desvendam o modo de produção
capitalista; as relações sociais de produção que alienam os homens; a base da
exploração capitalista através da propriedade privada dos meios de produção e da
extração da mais valia sobre o operariado; desvendam o modo como a história se faz
concretamente, isto é, através da luta de classes; elaboram a teoria revolucionária do
proletariado abarcando de um modo materialista histórico e dialético as várias
dimensões da história das sociedades, ou seja, a economia, a política, a filosofia, a
educação, etc. Demonstram concretamente que, a economia está, em última instância,
na base estrutural de toda a organização social, de todas as produções culturais ou
ideológicas dos homens, e, com elas, se interagem dialeticamente. Portanto, cabe ao
proletariado, enquanto classe explorada e revolucionária, derrubar a velha sociedade
capitalista, mudar radicalmente as estruturas da sociedade e instaurar uma nova
sociedade, isto é, o comunismo. Esta nova sociedade extinguirá a exploração de classes,
permitirá aos homens superar o trabalho alienado e a sua plena realização dos homens.
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Vejamos então, “lendo” o próprio Marx e Engels, como eles, imersos no
movimento histórico do operariado, elucidam o conhecimento e a práxis filosófica,
histórica, econômica, política e, com isto, elaboram teoricamente a práxis política
revolucionária do proletariado. Tomando o ponto de vista da classe oprimida,
particularmente da classe operária industrial, buscam compreender a realidade em seu
movimento histórico-filosófico no sentido de apoiar e orientar o proletariado na luta
pela sua emancipação. Um movimento de uma classe que contém, em si mesmo, os
caminhos e a única possibilidade de libertação de todos os homens, inclusive dos
opressores. Nesse sentido, Marx e Engels sempre se fundamentaram filosoficamente,
reelaboraram a filosofia compreendendo-a num sentido novo, uma arma revolucionária
na luta contra a opressão do capital. Defenderam sempre uma filosofia que só pode ser
ultrapassada, segundo Marx, com a sua realização na práxis política revolucionária, isto
é, com a extinção do capital e a conseqüente estruturação social sob bases comunistas.
Na Ideologia Alemã, Marx e Engels, em polêmica com os jovens hegelianos,
particularmente com Feuerbach, cuja crítica filosófica “limita-se à crítica das
representações religiosas” (MARX e ENGELS, 2001, p.8), se contrapõem à concepção
idealista da história, rompem com o idealismo hegeliano, mostram a insuficiência e os
limites do pensamento antropológico de Feuerbach e elaboram as linhas gerais do
materialismo histórico. Para eles, a história não parte da Idéia, não é o auto
desenvolvimento do conceito, mas é fruto das ações, da prática humana. Ela é o
processo social real pelo qual os homens se tornam homens, pelo qual eles constituem
suas vidas.
Essa crítica ao idealismo também aparece em A sagrada família, uma obra
onde Marx toma uma clara posição contra o Idealismo presente na concepção hegeliana
de história, abstrata, caricaturado pelo Sr. Bruno Bauer. Segundo Marx, na análise
crítica do “Jornal Literário” de Bruno Bauer, não é a crítica que faz a história; para o
Sr. Bauer:
De um lado está a massa, como elemento material da história, passivo, carente de
espírito e a-histórico; de outro lado está o espírito, a crítica, o Sr. Bruno e
companhia, como o elemento ativo, do qual parte toda a ação histórica. O ato de
transformação da sociedade se reduz à atividade cerebral da crítica (MARX e
ENGELS, 2003, p.104).
A história é feita pelos homens situados concretamente no tempo e no espaço.
A especulação, a crítica não pode se transformar numa força de transformação social.
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Já, em 1846, antes de entrar para a liga dos justos (1847), Marx conclui a redação de A
Ideologia Alemã. Em sua análise crítica, Marx se propôs partir “dos indivíduos reais,
sua ação e suas condições materiais de existência, tanto as que eles já encontraram
prontas, como aquelas engendradas de sua própria ação. Essas bases são, pois,
verificáveis por via puramente empírica” (MARX e ENGELS, 2001, p.10). É ao
produzirem seus meios de subsistência, sob um determinado modo de produção, que os
homens produzem também sua própria vida, isto é, produzem a si mesmos e a sociedade
na qual vivem.
Assim, como a estrutura social e política (o Estado), nascem no processo real
de produção da vida dos indivíduos determinados, reais, vivos:
A produção das idéias, das representações e da consciência está, a princípio, direta e
intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens; é a
linguagem da vida real. O mesmo acontece com a produção intelectual tal como se
apresenta na linguagem da política, na das leis, da moral, da religião, da metafísica,
etc., de todo o restante da ideologia, bem como as formas de consciência a elas
correspondentes, perdem logo toda a aparência de autonomia. Não é a consciência
que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência” (Ibid., p. 18-20).
Desse modo, Marx desmascara a especulação, o idealismo e estrutura na
prática, na vida real dos homens, uma nova concepção científica e filosófica do mundo.
Sob esta perspectiva, “com o conhecimento da realidade, a filosofia não tem mais um
meio para existir de maneira autônoma” (Ibid., p.20). É ao produzir os seus meios de
subsistência, ao trabalharem para satisfazerem suas necessidades que os homens
produzem história, criam relações sociais. Neste processo social os homens adquirem a
consciência de si mesmo, das relações sociais e do mundo como um “produto social”
concreto.
Com a divisão social do trabalho que se efetiva “a partir do momento em que
se opera uma divisão entre o trabalho material e o trabalho intelectual” (Ibid., p. 26) a
consciência do real se aliena, se torna “pura”. Mas com a propriedade privada e pela
divisão do trabalho, acirram-se as contradições em todas as dimensões da sociedade,
aumenta a desigualdade entre os que produzem e os que se apropriam do produto.
Marx está preocupado com a situação da classe oprimida, isto é, dos operários
que, por não serem os detentores da propriedade privada dos meios de produção,
acabaram se alienando nas relações sociais de produção.
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Como resultado necessário desta relação encontramos a relação de propriedade do
não trabalhador com o trabalhador e (com) o trabalho. A propriedade privada, como
a expressão material, resumida, do trabalho exteriorizado, abarca as duas relações, a
relação do trabalhador com o trabalho e com o produto do seu trabalho e com o não
trabalhador, e a relação do não trabalhador com o trabalhador e (com) o produto do
trabalho deste último (MARX, 2004, p. 89-90).
Marx busca entender esta situação de estranhamento, de alienação do trabalho
e do próprio homem e, ao mesmo tempo, encontrar uma saída para que o trabalhador
rompa com a sua situação de estranhamento que ocorre no modo de produção baseado
na propriedade privada, e em todas as conseqüências que isto traz para a vida dos
homens.
Isso leva, também, a uma contradição entre o interesse do indivíduo
considerado isoladamente e o interesse coletivo de todos os indivíduos. Entre esses
interesses destacam-se os interesses das classes que, no intuído de manter a dominação
ou de se tornarem classe dominante, travam uma luta política efetiva para conquistar o
poder político, o controle do Estado e colocá-lo a seu serviço. Para superar a alienação é
necessário que se faça a revolução comunista:
É necessário que ela tenha feito da massa da humanidade uma massa totalmente
‘privada de propriedade’, que se ache ao mesmo tempo em contradição com um
mundo de riqueza e de cultura realmente existente, ambos pressupondo um grande
aumento da força produtiva, isto é, um estágio elevado de seu desenvolvimento
(MARX E ENGELS, 2001, p.31)
Submetido, oprimido pela força estranha do capital, o proletariado o superará
através da revolução comunista e da abolição da propriedade privada dos meios de
produção, destruindo efetivamente as relações sociais concretas do capital, realizando a
libertação de cada indivíduo. Movida pelas contradições sociais, “a revolução e não a
crítica, é a verdadeira força motriz da história, da religião, da filosofia e de qualquer
outra teoria. Por conseguinte, as circunstâncias fazem os homens tanto quanto os
homens fazem as circunstâncias” (Ibid., p.36).
No sentido revolucionário, não se pode fazer filosofia a não ser tratando de
temas verdadeiramente históricos, vinculados à realidade prática dos acontecimentos
que constituem a sua base social concreta. Além disso, “para o comunista, trata-se de
revolucionar o mundo existente, de atacar e de transformar praticamente o estado de
coisas que ele encontrou” (Ibid, p. 42-43), rumo à construção de uma nova vida aos
“homens históricos reais”.
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À divisão do trabalho se estendeu a divisão de classes, a burguesia, proprietária
dos meios de produção, da indústria, e ao proletariado, os despossuidos, gerados pela
classe burguesa. Essas duas classes se opõem e são antagônicas. No entanto, cabe ao
proletariado estar à frente da revolução.
Formada pela maioria dos membros da sociedade e da qual surge a consciência da
necessidade de uma revolução radical, consciência que é a consciência comunista
(...); a revolução comunista (...) suprime o trabalho e extingue a dominação de todas
as classes, abolindo as próprias classes, porque ela é efetuada pela classe que não é
mais considerada como uma classe da sociedade” (Ibid., p.85-86).
Portanto, como ainda lembra Marx, “todos os conflitos da história têm sua
origem na contradição entre as forças produtivas e o modo de trocas” (Ibid, p.91). Essas
contradições provocam as revoluções sociais que assumem diversas formas no concreto
movimento da história.
Como didaticamente resume Konder, ao esclarecer muitas das questões
fundamentais que travava na filosofia, Marx percebeu a articulação dialética no mundo
entre a história e os homens, tratou de esclarecer, de fazer um análise crítica da
realidade histórica e ver, em sua concretude, como se dá o movimento pela
transformação do mundo. Essa análise se dá do seguinte modo:
Marx deixou um pouco de lado sua especulação filosófica e se concentrou no exame
crítico das condições em que se dispunha a travar seus combates pela transformação
do mundo: se dedicou ao exame crítico do “presente como história”. Esse exame
crítico precisava se realizar em dois níveis diferentes: o nível dos movimentos que se
realizavam no modo de produção e o nível das iniciativas que os homens tomavam na
vida política. Marx, então, se empenhou em analisar ( na Contribuição à crítica da
Economia Política, nas Linhas Básicas da Crítica da Economia Política e nos
diversos volumes de O Capital) as características essenciais do modo de produção
capitalista como tal; e se empenhou em analisar os problemas da história política que
estava sendo feita em sua época (nos muitos artigos de jornal que escreveu, em As
lutas de classe na França de 1848 a 1850, em o Dezoito Brumário de Luis
Napoleão, etc.) (KONDER, 1990, p.58).
Os ensaios de Marx sobre a revolução de 1848 com o título “As lutas de classe
na França (1848-1850)” (MARX, 1986) ; A “Introdução” (ENGELS, 1996), uma obra
genial e polêmica, que o amigo e parceiro intelectual de Marx escreveu em 1895 para a
edição de “ As lutas de classe na França”; O “Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”
(MARX, 1997) escrito entre dezembro de 1851 e fevereiro de 1852 e, também, “A
guerra civil na França” (1983), escrito vinte anos depois e onde Marx analisa a
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questão da guerra franco-prussiana e da Comuna de Paris, são fundamentais para se
compreender a maneira como Marx analisa e concebe a história. No Manifesto do
Partido Comunista ele deixa claro que na sua visão, isto é, na dos comunistas, as idéias
e a história “refletem simplesmente a realidade da atual luta de classe, que se desenrola
sob nossos olhos” (MARX, ENGELS, 1985, p.29). Afirma que é necessário “a abolição
da propriedade burguesa (...), a expressão mais acabada do modo de produção e de
apropriação, com base nos antagonismos de classes, na exploração da maioria por uma
minoria” (Ibid., p. 30). A evolução da indústria já destruiu e continua destruindo quase
toda a propriedade fruto do trabalho e do mérito, restando ao trabalhador apenas a sua
força de trabalho, único meio de sobrevivência, mas que através da exploração realizada
pelo capital produz propriedade apenas para enriquecer ainda mais o próprio capital.
Analisando toda a trama dos acontecimentos sócio-políticos de um momento
histórico determinado da França, a partir de uma concepção dialética e materialista
histórica, Marx explica como se dá, concretamente, a luta de classes; como os interesses
políticos, econômicos, etc., de classes são conflituosos, inclusive, entre as frações da
classe burguesa e entre esta e o proletariado. Estes conflitos político-sociais que “em
última instância, eram econômicos” (ENGELS, 1986, p.29) aceleram o surgimento do
descontentamento geral, levando à revolta, a insurreições, acelerando a eclosão da
revolução com a força das armas. Apesar de não se poder ter “uma clara visão de
conjunto” de um dado período da história econômica no momento em que ela ocorre,
mesmo dentro de certos limites:
O método materialista terá de se limitar, freqüentemente, a reduzir os conflitos
políticos às lutas de interesses entre as classes sociais e as frações de classes
existentes, determinadas pelo desenvolvimento econômico, e a demonstrar que os
diversos partidos políticos são a expressão política mais ou menos adequada das
referidas classes e frações de classes (Ibid., p.30).
Nas obras acima citadas, Marx analisa o “presente histórico” e deixa claro que
a escravidão assalariada é a base da produção burguesa, que a burguesia enquanto
classe, seja comerciante, banqueiro ou industrial, luta com todas as armas possíveis,
para manter a sua dominação sobre o proletariado, sobre o camponês e, até mesmo,
sobre a pequena-burguesia. Nessa luta, o controle do Estado e a composição do governo
enquanto instrumento de dominação de classe, reflete um conjunto de interesses de
classes e suas respectivas frações, mas esteve sempre a serviço do Capital em
detrimento da exploração do proletariado. “Ao transformar a sua sepultura em berço da
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república burguesa, o proletariado obriga esta, ao mesmo tempo, a manifestar-se na sua
forma mais pura, como o Estado cujo fim confessado é eternizar a dominação do capital
e a escravidão do trabalho” (MARX, 1986, p.74).
Marx mostra que na luta política, em suas sucessivas derrotas, o proletariado
perde a ilusão de uma sociedade republicana fraterna, percebe o engodo do Estado
burguês, toma consciência e se põe em luta revolucionária contra a burguesia. Nesse
processo, a classe oprimida (o proletariado) toma consciência do opressor (a burguesia
que sempre se une em prol de seus próprios interesses de classe) e do Estado burguês,
republicano, como instrumento de poder a serviço da opressão e exploração de classes.
A experiência francesa denota claramente que o campo da história social, política,
econômica e cultural é o terreno da luta de classes; que a burguesia enquanto classe
dominante, além de explorar, tenta enganar o proletariado, engana e usa também a
pequena-burguesia e os camponeses colocando-os a seu serviço para conquistarem e se
manterem no poder; que a burguesia esconde as suas reais intenções, pois após usar a
pequena burguesia para tomar o poder e massacrar o proletariado, como satélite ela não
mais arrancará concessões da burguesia e também será empobrecida, arruinada, isto é,
“quando já estava concluído o grande problema com o proletariado, podia concluir-se
também o pequeno problema com o épicier” (Ibid., p.81); que a burguesia assusta e joga
a pequena burguesia contra o proletariado, dificultando uma aliança entre ambos, o que
os levaria à tomada do poder em detrimento da burguesia; que a burguesia, na luta para
enganar, iludir, conquistar e se manter no poder além das armas, das polícias e dos
exércitos, controla e utiliza os meios de comunicação disponíveis, pondo-os ao seu
serviço, divulgando a sua ideologia, tais como a imprensa, o jornal “Le National” do
republicanismo burguês o fizera.
Em “O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte”, uma obra de Marx na busca da
profunda compreensão dos acontecimentos, principalmente os políticos, que assolavam
a França em fevereiro de 1852, ele mostra como se aplica o pensamento dialético na
“leitura” e conhecimento da realidade histórico-social. Na exposição de seu trabalho,
fundamentado em uma visão e método dialéticos de explicação da realidade, Marx
aplica a sua teoria da luta de classes. Como nos lembra Engels, em 1885, no “Prefácio
para a Terceira Edição Alemã” desta obra:
Fora precisamente Marx quem primeiro descobrira a grande lei da marcha da
história, a lei segundo a qual todas as lutas históricas, quer se processem no domínio
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político, religioso, filosófico ou qualquer outro campo ideológico, são na realidade
apenas a expressão mais ou menos clara de lutas entre classes sociais, e que a
existência, e portanto também os conflitos entre essas classes são, por seu turno,
condicionados pelo desenvolvimento de sua situação econômica, pelo seu modo de
produção e pelo seu modo de troca, este determinado pelo precedente(ENGELS,
1997, p.18).
Aqui fica claro que na construção da história, pelos homens, existe uma
profunda ligação dialética entre os interesses de classes, a base econômica da sociedade
e as diversas elaborações e difusões de filosofias, religiões, políticas, ideologias,
concepções de ciência, etc., no seio desta mesma sociedade. Portanto, só se pode
compreender as ações humanas e suas produções materiais e espirituais, os seus reais
significados, enquanto inseridas “no caldo dos acontecimentos econômicos e políticos”
(NOSELLA, 2004, p.24 ) em que foram realizados, isto é, na produção histórica
concreta dos homens.
Todavia, nos lembra Marx que, “os homens fazem sua história, mas não a
fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas
com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (MARX, 1997,
p.21). Assim sendo, devemos entender que as ações humanas do presente se relacionam
dialeticamente com o passado histórico que ajudaram a estruturar um determinado tipo
de sociedade. No entanto, como resultado da ação concreta dos homens, das lutas de
classes que se desenrolam dialeticamente nas diversas dimensões da sociedade, ou seja,
nos campos econômicos, políticos, filosóficos, ideológicos, etc., a sociedade “herdada”
historicamente, em que se vive no “presente histórico” pode sofrer ou não
transformações fundamentais dependendo das ações concretas dos homens no processo
de luta de classes, uma luta que se dá em determinadas condições objetivas da
sociedade.
Comentando esta obra de Marx, o papel fundamental que as classes sociais têm
nos rumos da sociedade, pode-se assinalar que quem cria as superestruturas ideológicas,
as “maneiras de pensar”, não são os indivíduos, mas são as classes sociais. Porém como
observa Lovy:
Os criadores das visões de mundo, das superestruturas, são as classes sociais, mas
quem as sistematiza, desenvolve, dá-lhes forma de teoria, de doutrina, de pensamento
elaborado, são os representantes políticos ou literários da classe: os escritores, os
líderes políticos, etc., são eles que formulam sistematicamente essa visão de mundo,
ou ideologia, em função dos interesses da classe” (LOVY, 1996, p.95).
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Os políticos, literatos, filósofos, ideólogos, cientistas histórico-sociais, são
representantes de uma classe social, e, ao problematizarem a realidade, colocam
problemas sob a ótica de uma classe social determinada, ou seja, da classe que possuem
o compromisso de representar. Com isso, surgem diversos enfrentamentos teóricos,
científicos e ideológicos no seio da sociedade, influindo direta ou indiretamente, de
modo diverso nos rumos político-econômicos da mesma e, também, nos rumos da
própria produção filosófica, ideológica, e das ciências histórico-sociais.
Já, na “Miséria da Filosofia”, uma polêmica contra Proudhom escrita durante o
inverno de 1847, em Buxelas, Marx demonstra como pode se dar o embate no campo
teórico, não apenas entre capitalistas e socialistas, mas entre diferentes perspectivas
socialistas presentes no seio da classe operária, isto é, a concepção utópica e reformista
defendida por Proudhon em a “Filosofia da Miséria” e a revolucionária defendida por
ele nesta obra.
Neste livro, Marx critica a concepção geral do movimento histórico-social
defendida e utilizada por Proudhom, isto é, o seu discurso desistoricizado que pretendia
conciliar conservação e movimento, economia política e socialismo, propriedade e
comunidade, recusando a força criadora revolucionária no surgimento da nova
sociedade. Além disso, neste confronto Marx estende a crítica à filosofia alemã e tenta,
com isto, estabelecer sistematicamente os fundamentos da teoria histórico-social de
análise do modo de produção capitalista, estabelecendo, assim, uma crítica da economia
política.
Segundo Marx, Proudhon, ao tentar explicar o ato de formação das categorias,
princípios, leis, pensamentos econômicos existentes na sociedade adota uma visão
metafísica, hegeliana, tomando-os como “pensamentos abstratos”, imutáveis, fora da
vida ativa dos homens.
A partir do momento em que não se persegue o movimento histórico das relações de
produção, de que as categorias são apenas a expressão teórica, a partir do momento
em que se quer ver nestas categorias somente idéias, pensamentos espontâneos,
independentes das relações reais, a partir de então se é forçado a considerar o
movimento da razão pura como a origem desses pensamentos (MARX, 1985, p.102103).
Desse modo, Marx reforça a importância e a necessidade, na análise das
produções superestruturais da sociedade, do enraizamento histórico dos pensamentos,
das idéias, das categorias econômicas, etc., que existem na sociedade, mas não em uma
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visão logicista, abstradas, das idéias puras, da Razão, mas como parte da “história
segundo a ordem temporal” (Ibid., p.106), não eternos, mas transitórias, dos homens
concretos, das relações sociais de produção. E Marx vai ainda mais adiante, quando diz
que Proudhon não entendeu e é preciso compreender, que “estas relações sociais
determinadas são também produzidas pelos homens (...). De acordo com a sua
produtividade material produzem, também, os princípios, as idéias, as categorias de
acordo com as suas relações sociais” (MARX, 1985, p. 106).
Em sua compreensão deste livro, Konder percebe a sua relevância para o
entendimento da concepção de história de Marx. Dela, ele extrai a conclusão de que
Marx:
Adverte que as “relações de produção de toda a sociedade formam um todo” e
sustenta que uma certa visão de conjunto, imprescindível para a avaliação do
verdadeiro alcance de cada fenômeno observado, tende necessariamente a escapar ao
historiador que despreza a importância das relações de produção. Marx investiu
contra a ilusão que levava Proudhon a se basear, não na totalidade dinâmica das
relações de produção, mas numa pretensa natureza imutável, para avaliar os
problemas históricos da sociedade de seu tempo (KONDER, 1990, p.57).
Na sétima e última observação à obra de Proudhon, Marx assinala que apesar
dos economistas burgueses tentarem eternizar as leis presentes nas relações sociais de
produção capitalistas e o seu próprio modo de produção burguês; apesar de afirmarem
que houve história, antagonismos de classe, pois não se pode negar as diferentes
relações de produção feudais, mas agora que a burguesia se impôs, que se consolidou no
poder, não mais existe. A classe revolucionária torna-se conservadora, omite os
conflitos de classe e o fato de que as relações de produção capitalistas só produzem as
riquezas da classe burguesa e as misérias para o proletariado sempre crescente. Essa
miséria produz o proletariado, a classe subversiva, revolucionária que derrubará a velha
sociedade. É necessário lembrar que:
O modo de produção, as relações nas quais as forças produtivas se desenvolvem, não
são leis eternas, mas correspondem a um desenvolvimento determinado dos homens e
das suas forças produtivas e que uma transformação nas forças produtivas dos
homens conduz necessariamente a uma transformação nas suas relações de
produção (MARX, 1985, p.116).
Ignorado por muitos, é na história, em seu processo concreto de produção
material da existência, em meio aos conflitos de classe, que a “natureza” humana se
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transforma continuamente. Nas palavras de Marx, não se pode, como o Sr. Proudhon,
ignorar que “toda a história não é mais que uma transformação contínua da natureza
humana” (Ibid., p.138). Nesse sentido, a 11ª. Tese de Marx sobre Feuerbach, criticando
o antigo materialismo vulgar, metafísico, nem histórico nem dialético, “os filósofos
apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras, o que importa é
transformá-lo”, mostra a necessidade de mudar a concepção abstrata, especulativa e
metafísica de “essência humana” como se fazia na filosofia alemã de Hegel. Trata-se de
compreendê-la como o conjunto das relações sociais que são concretamente
determinadas pela história, o homem real, e que, a prática revolucionária pode mudá-la,
levando os homens a buscar a sua emancipação, a sua onilateralidade e se realizarem em
sua plenitude. Para transformar o mundo, não basta apenas interpretá-lo de diferentes
modos, ou seja, ecléticos, metafísicos, especulativos, idealistas, materialista vulgar, mas
de interpretá-lo e agir, ou seja, de filosofar de uma outra forma, de modo materialista
histórico e dialético, uma filosofia enraizada no mundo concreto dos homens, que
exprime a sua época histórica e possa, enquanto política, se concretizar na ação
revolucionária dos homens. Já dizia Marx em “A questão judaica”:
As armas da crítica não podem, de fato, substituir a crítica das armas; a força
material tem que ser deposta por força material, mas a teoria também se converte em
força material uma vez que se apossa dos homens. A teoria é capaz de prender os
homens, desde que demonstre sua verdade face ao homem, desde que se torne radical.
Ser radical, é atacar o problema em suas raízes. Para o homem, porém, a raiz é o
próprio homem (MARX, 2005, p.94).
Sendo radical, um pensamento estimulado pela realidade das lutas reais,
concretas, se torna uma “base material” para uma “revolução radical” da realidade, que
comandada pelo proletariado, dissolva a ordem existente, negue a propriedade privada
e que objetive a emancipação humana não apenas para uma parcela minoritária da
sociedade, como o foram as revoluções burguesas. Assim Marx conclui que:
Assim como a filosofia encontra no proletariado suas armas materiais, o proletariado
encontra na filosofia suas armas espirituais. O cérebro desta emancipação é a
filosofia; seu coração, o proletariado. A filosofia não pode se realizar sem a extinção
do proletariado nem o proletariado ser abolido sem a realização da filosofia” (Ibid,
p.101-102).
Portanto a filosofia não pode existir independente da política que se dá,
concretamente, na trama histórica das relações sociais. Ela somente existe na unidade
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entre teoria e prática, uma filosofia que dialeticamente, pela práxis, revoluciona o
pensamento e a ação dos homens, uma filosofia da práxis. Essa nova concepção de
filosofia, essa nova forma de ver o mundo, essa nova concepção e sentido da vida e do
homem, será também abordada, mais adiante, ao se estudar o historicismo gramsciano.
Na análise da luta revolucionária empreendida pelo proletariado, Marx vê que
os partidos operários se propõem a reorganizar a economia fazendo com que os meios
de produção sejam apropriados pela sociedade, que seja instituído o “autogoverno dos
produtores” (MARX, 1983, p.241). Por trás do “direito ao trabalho” exigido pelo
proletariado estão as pretensões revolucionárias do proletariado:
Pode-se ler: “mas por detrás do direito ao trabalho, há o poder sobre o capital e, por
detrás do poder sobre o capital, há a apropriação dos meios de produção, sua
submissão à classe operária associada, isto é, a supressão do trabalho assalariado, a
do capital e de suas relações mútuas” (ENGELS, 1986, p.32)
Numa análise histórica dos movimentos revolucionários empreendidos até
então, Engels, na “Introdução” escrita para a publicação de “As lutas de classe na
França” , afirma que houve equívocos na avaliação do momento histórico político e
econômicos que impulsionaram a luta armada do proletariado, “que era impossível, em
1848, conquistar a transformação social por um simples ataque de surpresa”(Ibid., p.36),
uma explosão social de baixo para cima, liderada pelo proletariado em prol de suas
aspirações ainda imaturas, e, até mesmo no combativo proletariado da Comuna de Paris
que veio a cair sob Bismark.
Após a sangria de março de 1871 e a derrota da Comuna, o desenvolvimento
da indústria, o surgimento de uma “verdadeira burguesia” e um “verdadeiro
proletariado” da grande indústria, o crescimento das cidades e suas largas ruas, o
enorme aumento dos exércitos com tropas vez melhor preparados e com muitos
armamentos modernos e mais eficazes (dinamites, canhões, fuzis modernos,
metralhadoras) as barricadas não resistirão e as lutas de ruas terão um novo papel:
Significa apenas que, a partir de 1848, as condições se tornaram muito menos
favoráveis para os combatentes civis, e muito mais favoráveis para as tropas. Um
combate de rua não pode, pois, ser vitorioso no futuro a não ser que essa
inferioridade de situação seja compensada por outros fatores. Se as condições
mudaram na guerra entre povos, não mudaram menos para a luta de classe.Passou o
tempo dos golpes de surpresa, das revoluções executadas por pequenas minorias
conscientes à frente das massas inconscientes.Onde quer que se trate de transformar
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completamente a organização da sociedade, cumpre que as próprias massas nisso
cooperem, que já tenham elas próprias compreendido de que se trata, o motivo pelo
qual dão seu sangue e sua vida. Mas para que as massas compreendam o que é
necessário fazer é preciso um trabalho longo e perseverante (Ibid., p.43-44).
Vendo o novo contexto e tirando lições da história da luta operária na Europa,
nos últimos cinqüenta anos, Engels, mesmo reconhecendo o direito à revolução,
reconhece também a validade e utilidade do emprego do sufrágio, da conquista de todos
os postos, todos os espaços possíveis, isto é, que estiverem ao alcance do proletariado,
tais como os vários conselhos, as câmaras, as assembléias nacionais, as atividades
parlamentares, através das eleições, do uso do direito do voto que pode conquistar seus
eleitores. Os partidos socialistas, a exemplo do Partido Social Democrata da Alemanha,
devem conquistar milhões de eleitores não só operários, mas também os pequenos
camponeses, a maioria camada média da sociedade e da pequena burguesia; tornar-se
um partido de massas, criar as condições nas quais as suas aspirações se amadureçam,
eduquem e ganhem as massas, adquirindo condições concretas de assumir o efetivo
governo da sociedade, subvertê-la, instaurar o socialismo, a verdadeira democracia e
libertar não só o proletariado, mas todos os homens da dominação de classe e da
exploração do trabalho assalariado, oferecendo condições para o seu pleno
desenvolvimento. Com isto, os socialistas podem se converter:
Na força decisiva do país, força diante da qual terão de se inclinar, queiram ou não,
todas as outras. Manter incessantemente esse crescimento, até que por si mesmo ele
se torne mais forte que o sistema de governo atual, não desgastar em combates de
vanguarda essa “força de choque” que se reforça cotidianamente, mas conservá-la
intacta para o dia decisivo, eis a nossa tarefa principal. A ironia da história mundial
põe tudo de pernas pro ar. Nós os “revolucionários”, os “subversivos”, florescemos
muito melhor pelos meios legais que pelos meios ilegais e pela subversão. Os partidos
da ordem, como se denominam eles, perecem em virtude da legalidade que eles
próprios criaram. E se nós não formos tão insensatos que nos deixemos arrastar ao
combate de rua para ser-lhes agradáveis, não lhes restará, afinal, outra coisa a fazer
senão romperem eles mesmos essa legalidade que lhes é tão fatal. Só poderão conter
a subversão social-democrática, que no momento se dá tão bem respeitando a lei,
mediante a subversão dos partidos da ordem, os quais não podem viver sem violar as
leis. Se uma das partes quebra o pacto, todo ele é nulo e a outra parte está
desobrigada. Portanto, se violais a Constituição do Reich, a social democracia ficará
livre para fazer o que lhe parecer melhor a vosso respeito (ENGELS, 1986, p.46-47).
Posto isto, não significa que o proletariado deve renunciar “de modo algum ao
seu direito de revolução. O direito à revolução é um ‘direito histórico’ real” (Ibid.,
p.45). Não significa que o espírito revolucionário deve arrefecer-se, que novas crises
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econômicas mundiais não surgirão no sistema capitalista. Não se trata de se iludir com a
democracia vulgar, mas também se trata de saber que sob as novas condições históricas
capitalistas é difícil triunfar uma revolução conduzida por uma minoria, mesmo que no
interesse de uma maioria.
Além disso, o controle por parte do Estado burguês de meios de dominação
ideológicos de diversos tipos, formando uma consciência burguesa e impondo esta às
demais classes e camadas sociais, tornou-se ainda mais difícil a ação revolucionária,
pois com isso uma minoria não pode tão facilmente convencer a massa do povo
oprimido da necessidade da revolução, repetindo aquele processo já apontado por
Engels, da revolução da minoria, mas acrescido agora da necessidade de uma grande
luta ideológica para a conscientização do povo oprimido em relação à revolução
(BERTELLI, 1986, p. 25).
Sem que as massas populares, proletárias, camponesas e até grande parte da
pequena burguesia, junto com o partido do proletariado, se eduquem na luta política
concreta, tomem consciência da realidade da exploração, do trabalho alienado e da
possibilidade de sua emancipação através da construção de novas relações sociais no
socialismo e se organize, dificilmente o proletariado sairá vitorioso contra a burguesia
que além da força, utiliza os meios de comunicação para tomar o poder e nele se manter.
Sem dúvida, o proletariado, deve usar o sufrágio universal, o direito do voto
conquistado dentro do regime democrático burguês, que para a burguesia tem sido “um
meio de engodo das massas”, e transformá-lo em uma “nova arma”, em um novo
instrumento de luta em prol de sua emancipação.
Vendo algumas semelhanças e analogias entre as posições defendidas por
Engels em sua polêmica “Introdução” e as desenvolvidas posteriormente por Gramsci
nos Cadernos do cárcere a respeito da revolução proletária na moderna sociedade
ocidental, Bertelli afirma que é importante mencionar que “as colocações engelsianas
dessa dialética da revolução nos tempos modernos são sintomaticamente semelhantes
àquelas que trinta anos mais tarde outro marxista europeu, um italiano, viria
desenvolver: Antonio Gramsci” (BERTELLI, 1986, p.26).
Desse modo, vemos que o historicismo de Marx e Engels, ou o chamado
historicismo marxista, presente no materialismo histórico se contrapõe a categorias
meta-históricas, metafísicas, abstratas de mundo, de homem, de sociedade. “Trata-se, ao
invés, de uma constituição totalmente empírica, produzida empiricamente e
empiricamente verificável” (LUPORINI, 1969, p.53). Como teoria, traz sempre uma
sistematização conceitual em respostas aos problemas concretos surgidos na vida dos
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homens, que, na sua condição de sobrevivência e na sua própria constituição possui o
trabalho, a sua prática histórico-social, como algo imprescindível e fundamental. Em
sua concepção materialista histórica, a dialética “era um instrumento que servia para
revelar e para descrever, criticamente,
as contradições da sociedade capitalistas”
(KOSIK, 105, p.104), de todos os fenômenos da sociedade contemporânea e apontar os
caminhos para a sua superação.
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classes na França (1848-1850). São Paulo: Global, 1986.
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Janeiro: UNIVERSITA, UFRJ/IFCS, 1990.
KOSIK, Karel. A dialética da moral e a moral da dialética. In: VOLPE, Galvano Della,
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