avaliação da literatura cinzenta

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AVALIAÇÃO DA LITERATURA CINZENTA: DIFICULDADES E INADEQUAÇÕES
NA SUA PRODUÇÃO
Antônio Elízio Pazeto
UDESC
Jarbas José Cardoso
UDESC
Márcia Aparecida Goulart
UDESC
Nelci Moreira de Barros
UNISUL-UFSC
Rogério Braz da Silva
UDESC
RESUMO
Projeto Pedagógico ou Projeto Político Pedagógico - PPP, são termos que não
possuem diferenciação no que apresenta; o sentido é de projetar, dar direção,
orientar, lançar. É um instrumento norteador no contexto educacional, apresentando
as práticas pedagógicas das Instituições de Educação Superior e seus cursos,
direcionando para a gestão e a educação das mesmas. Sua elaboração exige
reflexão, sendo projetado de forma participativa originado na coletividade docente,
discente e administrativa, dando uma identidade à instituição ou ao curso. Para
encontrar meios para atualização constante e aprendizagem continuada do processo
de aprendizagem acadêmica, a UDESC/FAED está realizando uma pesquisa sobre
a possível contribuição do acervo de literatura cinzenta da universidade como
elemento para reavaliação permanente do seu Projeto Político Pedagógico.
Entretanto, para a literatura cinzenta oferecer elementos adequados para a
dinamização do Projeto Pedagógico ou produzir comunicação científica, teria que
estar de acordo com a normalização existente para o construto científico. Um
mínimo de requisitos é necessário ser atendido. Entretanto, pesquisas recentes em
curso em várias universidades (UDESC, 2002/2003, UFSC, 2002/2003, UNIVALI,
2002/2003, UNISUL, 2002/2003) revelam que a literatura acadêmica oriunda de
monografias, dissertações e teses registra dificuldade dos autores na elaboração de
documentação científica. São encontradas propostas de pesquisas sem identificação
do problema, sem pergunta de pesquisa, sem que o objetivo esteja coerente com a
questão de pesquisa, sem conclusão do trabalho de acordo com a pergunta de
pesquisa e assim por diante. Nesse sentido, aparentemente, bastaria seguir as
normas instituídas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas -ABNT e a
questão estaria resolvida. Entretanto, o assunto apresenta maior complexidade
como pretende mostrar o artigo.
PALAVRAS CHAVE:
Pedagógico.
1. Introdução
Literatura Cinzenta, Discurso científico, Projeto Político
O Programa de Mestrado em Educação e Cultura do Centro de Ciências da
Educação – CCE da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC está
desenvolvendo uma pesquisa denominada “Avaliação da pertinência da produção do
CCE/FAED em relação ás políticas educacionais institucionais”. A pesquisa em
curso está buscando conhecer a pertinência e a contribuição da produção científica
(monografias e dissertações) dos cursos de pós-graduação em relação às políticas
educacionais institucionais, implementados no âmbito do Centro.
O problema de investigação foi definido a partir de cinco questões de estudo, que
orientam o presente estudo:
a) as monografias e dissertações estão servindo de referência para avaliar os
projetos dos cursos de pós-graduação?
b) as monografias e dissertações estão servindo de referência para avaliar os
projetos dos cursos de pós-graduação.
c) a produção acadêmica da pós-graduação está sendo levada em consideração
na avaliação do Projeto Pedagógico do Centro?
d) há relação de pertinência das monografias e das dissertações do Centro em
relação as políticas educacionais e a administração da educação no âmbito
institucional?
e) a produção acadêmica dos cursos de pós-graduação do Centro expressa as
políticas educacionais institucionais da UDESC?
Além da pesquisa da UDESC, outras pesquisas com o mesmo intuito estão sendo
levadas a efeito, (UFSC, 2002/2003, UNIVALI, 2002/2003, UNISUL, 2002/2003).
Essas pesquisas estão levantando em consideração, dentre outras questões, a
contribuição desse acervo na dinâmica do Projeto Político Pedagógico.
No Brasil, a idéia de Projeto Político Pedagógico começou a ser discutida no início
dos anos 80, em Instituições de Educação Superior. Essa idéia teve o apoio do
PADES - Programa de Apoio e Desenvolvimento, órgão pertencente à Secretaria de
Educação Superior – SESu-MEC. O Projeto Pedagógico ou Projeto Político
Pedagógico foi instituído pela LDBEN (Lei 9.394/96). Com o Projeto Pedagógico as
instituições
de educação superior
podem
apresentar
um
fator diferencial
nacionalmente. O PPP oferece condições para as universidades terem um
desenvolvimento integrado entre graduação e pós-graduação, perfeitamente
sintonizado com o mundo de trabalho e com os avanços tecnológicos.
Projeto Pedagógico ou Projeto Político Pedagógico são termos que não possuem
diferenciação no que se apresenta. O sentido é de projetar, dar direção, orientar,
lançar. É um instrumento norteador no contexto universitário apresentando as
práticas pedagógicas das Instituições de Educação Superior e seus cursos,
direcionando para a gestão e a educação das mesmas. Sua elaboração exige
reflexão, sendo projetado de forma participativa originado na coletividade docente,
discente e administrativa, dando uma identidade à instituição ou ao curso. É um
processo que está e deve permanecer em contínua construção, avaliação e
reelaboração. Desse modo, para dar amplitude dinâmica ao PPP, o grupo de
pesquisa da UDESC foi buscar na literatura cinza da instituição os elementos que
poderiam ajudar a reformular, a cada período, o PPP, tornando o processo dinâmico.
A universidade, de um modo geral, parece não utilizar a literatura cinza como um
acervo para a análise da conformação de seus cursos e tão pouco busca conhecer,
por meio do que produz, os elementos passíveis de adequação a sua proposta
pedagógica. O acervo de literatura cinza reflete os resultados obtidos pelas
pesquisas segundo a orientação do corpo docente, o que mostra em última
instância, a possível contribuição para a sociedade ou a pouca ou nenhuma
possibilidade de utilização pela mesma do que vem sendo produzido pela academia.
Considerando o nível de incerteza a que está submetida a sociedade como um todo,
procurar conhecer esses aspectos para adequar o Projeto Pedagógico dos cursos e
instituições às exigências sociais, justifica a necessidade desse tipo de pesquisa.
Uma vez que a universidade constitui espaço institucional da pesquisa científica,
essa função está diretamente ligada à capacidade de gerar conhecimentos e formar
pesquisadores. Por outro lado, a divulgação, como etapa do processo de criação do
conhecimento científico, também faz parte de suas atribuições. Para proceder à
divulgação de seus avanços em pesquisa, muitas universidades criam suas próprias
revistas, passando a instituição com isso a desempenhar um papel diferencial no
sistema de comunicação da ciência..
A universidade não é apenas uma unidade didática, pois sua finalidade envolve
preocupações com a ciência e com a cultura, transcendendo, assim, o propósito do
ensino. Com sua tríplice missão de formação, investigação e serviço, ela cumpre seu
papel no desenvolvimento cultural, científico e tecnológico da sociedade.
Por outro lado, a universidade não é somente o repositório estático de produtos de
suas pesquisas como relatórios, monografias, dissertações e teses. É necessário
transcender a modalidade estática de guarda dessas informações para um modus
operandi de oferta.
Todavia, a linguagem acadêmica desse tipo de literatura não é propícia ao acesso
da maior parte dos interessados. Não existe para cada monografia, dissertação ou
tese um documento em linguagem de divulgação científica capaz de facilitar o
acesso a esse tipo de informação. Transformar esse acervo nesse tipo de material
implica primeiro em pesquisa que resulte na classificação e tipificação dessa
literatura.
Como é conhecida na academia, a produção científica pode ser classificada,
organizada ou tipificada de várias maneiras. Por exemplo, é possível organizar tendo
por base a temática, o discurso, a análise de dados, o envolvimento do pesquisador
no processo de coleta, a concepção de teoria subjacente, a modalidade de
delineamento, entre outras formas.
O papel do corpo docente da universidade, no sentido de integrar a biblioteca em
suas atividades didáticas, precisa ir além das alternativas oferecidas pelos meios
eletrônicos e faz parte de todo um processo pedagógico.
Nessa perspectiva, os sistemas de informação devem propiciar meios eficientes para
promoção de satisfação e desenvolvimento humano. Assim, para não cair na
obsolescência, os objetivos e propósitos de qualquer organização bibliotecária não
podem ser estáticos e imutáveis. Mas sim dinâmicos e em contínua evolução, sendo
seguidamente reavaliados e modificados, em função das mudanças ambientais e
dos valores sociais.
Comunicar a ciência é transferir as informações geradas pela investigação científica.
Essa comunicação possibilita que ocorra um fluxo de idéias entre uma fonte
geradora e um receptor, por meio de um canal, utilizando a metáfora de
comunicação criada por Shannon (1949).
Entre os canais de comunicação da ciência, as publicações são as formas mais
adequada para tornar conhecidos os resultados da investigação científica. Isso se
deve, principalmente, às propriedades de permanência dos registros gráficos e do
alcance geográfico que podem atingir pela sua distribuição. Por meio das
publicações a informação se torna passível de ser utilizada pela comunidade
científica, servindo, ao mesmo tempo, para registrar e divulgar os resultados da
pesquisa, impulsionando novas idéias e descobertas. Concebidas desta forma, as
publicações são tanto insumo básico quanto produto final da atividade científica.
Por essa razão, todo trabalho intelectual de estudiosos e pesquisadores, depende de
um intrincado sistema de comunicação, que compreende canais formais e informais,
os quais os cientistas utilizam tanto para comunicar os resultados que obtêm quanto
para se informarem dos resultados alcançados por outros pesquisadores. Assim,
toda pesquisa envolve atividades diversas de comunicação e produz, pelo menos,
uma comunicação formal. Na verdade, uma determinada pesquisa costuma produzir
publicações, geradas durante a realização da pesquisa e após o seu término.
Conforme Mueller (2000a, p. 21-22)
“Tais publicações variam no formato (relatórios, trabalhos
apresentados em congressos, palestras, artigos de periódicos,
livros e outros), no suporte (papel, meio eletrônico e outros),
audiências (colegas, estudantes, público em geral) função
(informar, obter reações, registrar autoria, indicar e localizar
documentos, entre outras). O conjunto dessas publicações, que
chamamos de literatura científica, permite expor o trabalho dos
pesquisadores ao julgamento constante dos seus pares, em
busca do consenso que confere a confiabilidade.”
A confiabilidade é uma das características mais relevantes da ciência, pois a
distingue do conhecimento popular, não científico. Para obter confiabilidade, além da
utilização de uma rigorosa metodologia científica para a geração do conhecimento, é
importante que os resultados obtidos pelas pesquisas de um cientista sejam
divulgados e submetidos ao julgamento de outros cientistas, seus pares. A ampla
exposição dos resultados de pesquisa ao julgamento da comunidade científica e a
sua aprovação, propicia confiança nesses resultados.
Por outro lado, o denominado acervo cinza já classificado pela biblioteca em termos
de facilidade de recuperação necessita receber tratamento próprio para fazer parte
de um processo de comunicação. Desse modo possibilita muito mais que gerar
facilidades para a consulta, pois pode revelar o resultado do esforço de pesquisa em
termos de contribuições para a sociedade. Como simples repositório do material de
pesquisa, a biblioteca não revela contribuição e avanço obtidos pelos pesquisadores
nos mais variados campos do conhecimento humano.
A expressão ‘literatura cinzenta’ tradução literal do termo inglês grey literature, é
usada para designar documentos não convencionais e semi-publicados, produzidos
nos âmbitos governamental, acadêmico, comercial e da indústria. Tal como é
empregada, caracteriza documentos que têm pouca probabilidade de serem
adquiridos por meio dos canais usuais de venda de publicações, já que nas origens
de sua elaboração o aspecto da comercialização não é levado em conta por seus
editores.
A expressão se contrapõe àquela que designa os documentos convencionais ou
formais, ou seja, a literatura branca. Segundo Gomes et alii (1998, p. 97-99)
“(...) Inicialmente, o conceito de literatura cinzenta compreendia
apenas os relatórios técnicos e de pesquisa, e a verdade é que
eles constituem, ainda hoje, o material predominante no
conjunto de documento que a integram, a saber: publicações
governamentais, traduções avulsas, preprints, dissertações,
teses e literatura originada de encontros científicos, como os
anais de congressos (...) A não-disponibilidade em esquemas
comerciais de venda é sua principal característica. (...) São
geralmente documentos de caráter provisório ou preliminar e
reproduzidos em número limitado de cópias, normalmente
inferior a mil exemplares e algumas vezes muito menos. Não
recebem numeração padronizada (ISSN ou ISBN), além de não
serem objeto de depósito legal.”
2.
Discurso científico na universidade: ciência ou literatura
Ainda que o objetivo da ciência possa variar com o domínio e a época, por quase
quatro séculos numerosos cientistas e filósofos realistas expressaram o objetivo da
ciência de alguma forma próxima da seguinte proposição: o objetivo da ciência é
representar as estruturas, processos e leis subjacentes aos fenômenos e, a partir
disso,
descobrir
novos
fenômenos.
Formulações
historicamente
anteriores
englobavam restrições mais robustas, tais como o mecanicismo e o determinismo
(Bachelard, 1938).
Embora seja, sem dúvida,
objeto da ciência descrever o ambiente em que a
humanidade se encontra,é papel do discurso científico fazer recuar os limites de
nosso conhecimento sobre este ambiente por meio da discussão e argumentação.
A caracterização do discurso científico dá-se como um tipo de discurso de ação.
Apresentam-se dois tipos de discurso: o da descoberta, do tipo narrativo - discurso
individual do cientista em busca de "saber" (enigma-solução), e o da pesquisa -
discurso social do "fazer-saber" à comunidade o que se descobriu. (Severino, 1984,
p. 99).
A atividade científica constitui o ápice destas atividades e aqueles que a exercem
são tidos como uma elite capaz de "guiar a nação em sua emancipação" (Lyotard,
1979, p.89). Este conceito, hoje, no entanto, tornou-se bem mais funcional e objetivo
- busca-se preparar profissionais qualificados para realizar os fins pragmáticos a que
se propõem as instituições.
Os diversos conceitos sobre o processo de compreensão da realidade tendem ao
equilíbrio entre o cognitivismo e o aspecto social da leitura. Assim, uma vez que todo
indivíduo possui suas próprias estratégias cognitivas de leitura, isso não pode ser
visto apenas sob a ótica do mecanicismo ou do individualismo. Ninguém se expressa
apenas a partir do seu próprio interior. Todas as nossas idéias são construídas ao
longo de todo um processo histórico-social, no qual o próprio discurso científico
desempenhou e desempenha um papel nessa construção.
A maneira peculiar pela qual o indivíduo expressa e interpreta a realidade está ligada
ao discurso que ele absorve desta mesma realidade. Absorvido como o mais válido
dentre todos, o discurso científico tem refletido, na sua estrutura todas as mudanças
por que passam a sociedade e a realidade estudadas. A leitura tem absorvido estas
mudanças na emancipação do sujeito cognitivo e na teoria da leitura interativa,
emoldurando o discurso científico a partir da visão do seu processo produtivo.
Uma vez que a universidade constitui espaço institucional da pesquisa científica,
essa função está diretamente ligada à capacidade de gerar conhecimentos e formar
pesquisadores. Por outro lado, a divulgação, como etapa do processo de criação do
conhecimento científico, faz parte de suas atribuições. Para proceder à divulgação
de seus avanços em pesquisa, muitas universidades criam suas próprias revistas,
passando a instituição, com isso, a desempenhar um papel diferencial no sistema de
comunicação da ciência. Entretanto, o ideal é publicar em revistas indexadas fora do
âmbito de sua universidade, evitando a endogenia e possibilitando que fora de seu
próprio círculo de pares o assunto venha a ser discutido.
Entretanto, para a literatura cinzenta oferecer elementos adequados à dinamização
de qualquer Projeto Pedagógico ou produzir comunicação científica, é necessário
estar de acordo com a normalização existente para o construto cientifico.
Para que se garanta um mínimo de requisitos para o construto científico, é
indispensável que se adote “consistência” como um valor cognitivo com base em
considerações a priori. Nesse caso, cabe a ressalva de que essa é uma condição
necessária, embora
na prática se revele insuficiente, se adotada isoladamente.
Nesse sentido, é que a proposição recebe contestação de Da Costa & Bueno (1996),
que sustentam que apenas a “não-trivialidade” (nem todos os enunciados bem
formados com as categorias de uma teoria podem ser afirmados na teoria) pode ser
fundamentada desse modo.
Isso fica mais bem identificado quando se encontra um produto cuja firma possui
certificação de qualidade, portanto, quanto às normas satisfaz a condição
estabelecida como padrão, mas não tem a qualidade esperada, embora estritamente
dentro das normas. Assim, somente a consistência não será suficiente e outros
artifícios complementares a análise serão propostos. Mas o que pensar das teses e
dissertações que não alcançam nem a consistência normativa?
De acordo com esse quadro, a teoria científica representa objetos (coisas, eventos,
domínios) simplesmente em termos de sua estrutura e de seus componentes que
interagem
entre
si
segundo
leis
formuláveis
matematicamente.
Não
são
representados como portadores de valores ou algo que tem lugar nas práticas
humanas.
Dentro desse escopo, Laudan (1984, p.63) apresenta a questão: os valores
cognitivos “justificam” as práticas científicas, bem como as práticas científicas,
“mostram a viabilidade” dos valores cognitivos, e as teorias (escolhidas no curso das
práticas cientificas) e valores cognitivos “ devem harmonizar-se”.
Vale esclarecer que um critério poderia ser tanto um reflexo dos interesses de uma
dada cultura, quanto universalmente válido. Assim, para denegar a validade
universal de um critério não é suficiente exibir sua origem histórica numa prática
contingente de uma cultura particular. Hoje, o critério mínimo esperado é o dado pela
NBR 14724 - Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos -, que
estabelece os princípios gerais para a elaboração de trabalhos acadêmicos (teses,
dissertações e outros), visando a sua apresentação à instituição (banca, comissão
examinadora de professores, especialistas designados e/ou outros). Barros (2003)
apresenta uma Matriz de Consistência
para uma primeira análise de teses e
dissertações. A matriz busca a universalização necessária para análise do
encadeamento lógico, com o intuito de assegurar consistência, de acordo com a
normalização acadêmica vigente.
SIM
NÃO
SIM
Conclusão
NÃO
SIM
NÃO
Título
X
Pergunta de
partida
Justificativa
X
X
X
X
Limitações da
pesquisa
X
Conclusões
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
INCONSISTENTE
NÃO
CONSISTENTE
SIM
Justificativa
Pergunta de
partida
Objetivo Geral
Matriz de Consistência
X
X
X
Quadro – 2 Matriz de Consistência
Barros, Projeto Cinza (2002).
A matriz é auto-explicativa. É utilizada para verificar a consistência das dissertações
e teses acadêmicas. Assim, será analisado (uma vez que exista uma pergunta de
pesquisa e os respectivos objetivos da pesquisa) simplesmente se o título está de
acordo com a pergunta de pesquisa, se a pergunta está de acordo com o objetivo,
se o objetivo está de acordo com a justificativa e por último se a conclusão é
compatível com todos os itens anteriores.
3.
Literatura cinzenta: primeiros resultados da pesquisa
A presente pesquisa, além de outras (UFSC, 2002/2003, UNIVALI, 2002/2003,
UNISUL, 2002/2003), revelam que boa parte da literatura acadêmica oriunda de
monografias,
dissertações e teses registra dificuldades para a
elaboração de
documentação científica de acordo com o estabelecido.
A análise do material da literatura cinzenta, que vem sendo pesquisada, apresenta
inadequações que precedem à dissertação, como por exemplo, a elaboração da
problemática onde se insere a questão de pesquisa, seguida de uma pergunta de
partida. Como assinala Barros (2002), “historicamente, é conhecido que disciplinas
como Iniciação Científica e outras congêneres, ao longo do tempo, estiveram
divorciadas das mais elementares práticas de iniciação às ciências. Isso se revela
em dissertações desprovidas de problematização, pergunta de pesquisa e outros
requisitos essenciais de uma proposta acadêmica de pesquisa”.(Barros, 2003).
Esta constatação é preocupante, pois, a universidade não é o repositório estático de
produtos de suas pesquisas como relatórios, dissertações e teses. É indicado
transcender a modalidade estática de guarda dessas informações para um modus
operandi de oferta. Isso porque sua orientação vai além da simples transmissão de
informações. Faltando a construção do conhecimento, há apenas instrução e não
"formação". Estão todos de acordo que não há pesquisa sem pergunta, não há
caminhos para construção de conhecimento sem a indagação, não omitindo na
atividade, como é conhecida no meio acadêmico a pergunta de partida. Assim,
Bachelard, lembra: “(...) se não há pergunta, não pode haver conhecimento
científico. Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído. (Bachelard, 1938, p.
18).
Ora, uma primeira reflexão sobre as pesquisas e produções acadêmicas, faz pensar
no plano de trabalho como conjunto de atividades bem organizadas. Entretanto, há
muito mais na essência de uma proposta de pesquisa delineada adequadamente.
No instante da condução do projeto de pesquisa tem que estar claro ao aluno, antes
de tudo, que está abrindo as portas para a iniciação científica. A falta de
delineamento e organização do trabalho científico vem sendo constatada pelos
pesquisadores, que vêm encontrando dissertações e teses aprovadas por bancas
examinadoras, sem que atendam os mínimos requisitos acadêmicos de um trabalho
científico. Esta situação é confirmada ao serem encontradas propostas de pesquisas
sem identificação do problema, sem pergunta de pesquisa, sem que o objetivo esteja
coerente com a questão de pesquisa, sem conclusão do trabalho de acordo com a
pergunta de pesquisa e assim por diante.
Ao buscar o caráter de universalidade para uma tese ou dissertação, é possível
tomar por base a normalização da Associação Brasileira de Normas Técnicas –
ABNT, o órgão responsável pela normalização técnica no país, fornecendo a base
necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro.
A literatura cinzenta analisada está indicando que para uma dissertação ou tese
estar aprovada por uma banca examinadora é condição necessária mas, entretanto,
não se mostra suficiente para designar o documento como de cunho cientifico.
Teses e dissertações sem pergunta de pesquisa, sem procedimentos metodológicos
que permitam validar a pesquisa ou reproduzi-la quando necessário, vêm tornando
difícil a categorização desse acervo cinzento como trabalhos de contribuição
científica. Um traço de visão científica de conhecimento que pode ser assinalado é a
preocupação constante com critérios de validação.
Nesse sentido, a análise do discurso não foge a essa necessidade quando exige que
o texto contenha início, meio e fim inter-relacionados, onde afirmações não podem
ser apresentadas a partir da verdade revelada (a não ser em texto de caráter
religioso).
Assim, um saber acerca da experiência só é cientifico se contiver indicações sobre a
maneira como foi obtido, e de modo suficiente para que as suas condições possam
ser reproduzidas. Caso se trate de uma avaliação de uma grandeza empírica, serão
fornecidos limites de aproximação que permitam julgar o significado de uma
verificação aproximada. Quando se trata de um enunciado matemático, deve estar
associado ao teorema proposto, às hipóteses, às definições e ao conjunto de regras
admitidas para demonstração. Ao se adotarem tais parâmetros, o conhecimento
científico torna-se, necessariamente, público ou seja, exposto ao controle
competente de quem quer que seja.
A literatura cinzenta, que vem sendo avaliada, em boa parte, não atende aos
preceitos de consistência e por definição metodológica, quer da ciência ou do
discurso, não oferece resposta à pergunta: Qual a contribuição para a sociedade e
avanços da ciência obtidos por meio das pesquisas reveladas pelo acervo cinza da
universidade? Para assegurar tal contribuição, o mínimo esperado é que sejam
atendidos os padrões estabelecidos e aceitos pela academia.
4. Conclusões Preliminares
O projeto de pesquisa pretendia conhecer e avaliar a contribuição da produção
acadêmica decorrente de monografias e dissertações oriundas dos cursos de pósgraduação em relação ao Projeto Pedagógico dos cursos, do CCE e da UDESC.
Com esse intuito, foram elaboradas e aplicadas matrizes de consistência tanto para
analisar a leitura das monografias e dissertações como para a leitura dos projetos
pedagógicos de curso, do CCE e da UDESC.
A avaliação decorrente dessa análise permite, até o presente, fazer as seguintes
considerações:
a) as monografias e as dissertações produzidas não atendem às condições
necessárias vigentes na NBR 4724;
b) há monografias e dissertações que se caracterizam como relatórios de
pesquisa;
c) há monografias e dissertações que se enquadram como trabalho literário,
uma
vez
que
não
apresentam
problema,
pergunta
de
pesquisa,
procedimentos metodológicos;
d) não há Projeto Pedagógico que esteja embasado na LDBEN/96 ou na portaria
nº10/2003-CAPES.
Em síntese, os fundamentos teórico-metodológicos tanto das monografias e
dissertações como dos Projetos Políticos Pedagógicos analisados tendo por base as
matrizes de consistência, apresentam inadequações em relação aos termos de
referência, seja no âmbito da ciência ou da legislação em vigor, dificultando,
sobremaneira, avaliação como processo que permite as modificações nos Projetos
Políticos Pedagógicos no âmbito dos cursos, do CCE e da UDESC.
Entende-se que a literatura cinza, resultado das pesquisas acadêmicas orientadas
por professores doutores, pode se tornar elemento de informação para as
sucessivas revisões do Projeto Político Pedagógico, como parte do instrumental de
gestão a sua dinamização. Entretanto, antes é necessário que as condições básicas
da pesquisa e elaboração de monografias, dissertações e teses sejam atendidas
para que se assegurem consistência metodológica e conseqüente contribuição para
a sociedade, de novos conhecimentos obtidos por meio da pesquisa acadêmica.
Por último fica o convite: façam todos sua própria avaliação. Acessem
http://www.capes.gov.br e consultem o acervo, aplicando a Matriz de Consistência e
buscando estabelecer coerência entre pergunta de pesquisa, objetivo e conclusões.
O resultado pode ser interessante e talvez revele o estágio em que cada um se
encontra no mister de fazer ciência.
Referências
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 14724 - Informação e
documentação – Trabalhos acadêmicos.
BACHELARD, Gaston. La formation de l'esprit scientifique : contribution à une
psychanalyse de la connaissance objective, Vrin, Paris, 1938.
BARROS, Nelci. Projeto Cinza. Avaliação de trabalhos monográficos e dissertações
de Mestrado. Instrumentalização do Projeto Político Pedagógico. UFSC, 2001-2003.
BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo Científico no Brasil: aspectos teóricos e
práticos. São Paulo, CJE/ECA/USP, 1988.
CHAUÍ, M.S. Escritos sobre a universidade. São Paulo: Editora UNESP, 2001.
GOMES, Grazielle de Oliveira, Proposta de Método para Recuperação de
Informações do Acervo de Literatura Cinzenta para Atualização Permanente do
Projeto Político Pedagógico, (Análise de teses e dissertações: (UDESC, 2002/2003,
UFSC, 2002/2003, UNIVALI, 2002/2003, UNISUL, 2002/2003;) dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Orientação
Prof. Nelci Barros, Dr., UFSC, 2003.
LAUDAN, L Science and Values. Berkeley (CA): California Press, 1984.
LYOTARD, Jean François. A Prescrição. Revista de Comunicação e Linguagens
Número:10:1990.
MUELLER, Suzana Pinheiro Machado. 2000a - A ciência, o sistema de comunicação
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Beatriz Valadares,
KREMER, Jeannnette Marguerite (org.). Fontes de informação para pesquisadores e
profissionais. Belo Horizonte: Ed da UFMG, 2000. cap. 1, p. 21-34. (Aprender)
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 11. ed. São Paulo:
Cortez, 1984. p.237 p .
SHANNON, Claude e Weaver Warren. The mathematical theory of communication.
Urbana, University of Illinois Press, 1949.
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