CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL MÁRCIA ANDRADE DOS SANTOS GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: O CASO DE ADOLESCENTES NO CENTRO DE SAÚDE DA FAMÍLIA ANASTÁCIO MAGALHÃES - CE FORTALEZA 2013 MÁRCIA ANDRADE DOS SANTOS GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: O CASO DE ADOLESCENTES NO CENTRO DE SAÚDE DA FAMÍLIA ANASTÁCIO MAGALHÃES - CE Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Sob a orientação da professora Virzângela Paula Sandy Mendes. FORTALEZA 2013 S237g Santos, Márcia Andrade dos Gravidez na adolescência: o caso de adolescentes no Centro de Saúde da Família Anastácio Magalhães - CE / Márcia Andrade dos Santos. Fortaleza – 2013. 79f. Orientador: Prof.ª. Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes. Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2013. 1. Adolescência. 2. Gravidez na Adolescência. 3. Questão social. I. Mendes, Virzângela Paula Sandy. II. Título CDU 618.2(813.1) Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274 MÁRCIA ANDRADE DOS SANTOS GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: O CASO DE ADOLESCENTES NO CENTRO DE SAÚDE DA FAMÍLIA ANASTÁCIO MAGALHÃES - CE Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: 20/09/2013 BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________________ Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes _______________________________________________________________ Ms.Lara Abreu Cruz _______________________________________________________________ Ms. Mayra Rachel da Silva À Deus, o criador de todas as coisas... Aos meus pais, que me deram amor e dedicação e ao meu filho tão amado. AGRADECIMENTOS Acima de tudo à Deus, Pai misericordioso que sempre está ao meu lado e por me privilegiar com o exercício de uma profissão magnífica. Aos meus pais Antonio e Terezinha, que deram toda a estrutura para que me tornasse a pessoa que sou. Pela a confiança e pelo amor que me fortalece todos os dias. Ao meu filho Airton Júnior, razão da minha vida, que muito me compreendeu na minha ausência, e por ser meu maior motivador, se muitas vezes pensei em não continuar, foi você meu filho com seu beijo carinhoso, ao ver minha chegada, que me deu força para prosseguir. A realização deste trabalho significa a simbolização da nossa vitória... Te amo! Ao meu irmão Washington, na certeza de ser um exemplo e espelho de vida. Ao meu namorado Marcos Aurélio ofereço um agradecimento mais do que especial, por ter vivenciado comigo passo a passo todos os detalhes desse trabalho, ter me ajudado durante toda a construção deste, por ter me dado o apoio que necessitava nos momentos difíceis, o carinho, por ter me aturado nos momentos de estresse e por tornar minha vida cada dia mais feliz. As minhas colegas de turma Alba, Flávia, Natasha, Natália, Elenita, Carol e Eliene a quem aprendi a amar e construir laços eternos. Obrigada por todos os momentos em que fomos estudiosas, brincalhonas e cúmplices. Obrigada também pela paciência, pelo sorriso, pelo abraço, pela mão que sempre se estendia quando eu precisava. Esta caminhada não seria a mesma sem vocês. A todos os professores e professoras que muito contribuíram para o processo de conhecimento ao qual adquiri durante esses quatro anos. A minha orientadora Virzângela Sandy, pelo apoio, paciência, compreensão e pelo conhecimento transmitido. Agradeço à todos meus amigos e colegas de trabalho que de alguma maneira ajudaram para esta realização. À banca examinadora pelas críticas assim como as contribuições. Enfim, obrigada à todos que tanto contribuíram para a conclusão desta etapa e para a Márcia Andrade que sou hoje. “A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade” Paulo Freire RESUMO O presente trabalho tem por objetivo analisar os aspectos sociais decorrente da gravidez na adolescência vivenciado pelas adolescentes assistidas no Centro de Saúde da Família Anastácio Magalhães. A fundamentação teórica contou com discussões e análises das categorias adolescência, gravidez na adolescência e questão social, especificando e pautando: conceitos e definições sobre adolescência, sexualidade e maternidade na adolescência; questão social com seu conceito e suas repercussões, a gravidez na adolescência como uma de suas expressões, bem como as políticas publicas e direitos voltados aos adolescentes. O cerne deste trabalho foi compreender a problemática que envolve a gravidez na adolescência em sua totalidade através das percepções e narrativas das adolescentes, a partir da pesquisa bibliográfica e de campo realizada por meio das entrevistas semi-estruturadas e observação. Palavra- Chave: Adolescência, Gravidez na adolescência, Questão Social. ABSTRACT This study aims to analyze the social aspects resulting from teenage pregnancy experienced by adolescents attending the Center Family Health Ce-Anastasius Magalhães, The theoretical discussion and analysis included in categories adolescence, teenage pregnancy and social issue, specifying and basing: concepts and definitions about adolescence, sexuality and teenage motherhood; social issue with your concept and its repercussions, teenage pregnancy as one of its expressions, as well as the rights and public policies geared to teens. The core of this work was to understand the issues surrounding teenage pregnancy in its entirety through the perceptions and narratives of adolescents from the literature and field carried out by means of semi-structured interviews and observation. Keyword: Adolescence, Teen Pregnancy, Social Issues. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CSA Caderneta de Saúde do Adolescente CSF Centro de Saúde da Família DHEG Doença Hipertensiva na Gravidez DSTs Doenças Sexualmente Transmissíveis ECA Estatuto da Criança e do Adolescente EJA Educação de Jovens e Adultos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira LOAS Lei Orgânica de Assistência Social OMS Organização Mundial de Saúde PAISM Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais PROSAD Programa de Saúde do Adolescente PSE Programa de Saúde na Escola RN Recém-nascido SESA Secretaria de Saúde do Estado TCC Trabalho de Conclusão de Curso UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UOL Universo Online SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS E SIGRAS .................................................................... 08 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10 2. GRAVIDEZ E ADOLESCÊNCIA, DUAS CATEGORIAS EM ANÁLISE ................. 16 2.1 Conceitos e definições sobre a adolescência .................................................. 16 2.2 Sexualidade na adolescência........................................................................... 22 2.3 Maternidade na adolescência .......................................................................... 25 3. GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS30 3.1 Questão Social, seu conceito e suas repercussões ......................................... 30 3.2 A gravidez na adolescência como uma das expressões da questão social ..... 38 3.3 Políticas Públicas e direitos voltados aos adolescentes .................................. 46 4. PERCEPÇÃO E NARRATIVAS DAS ADOLESCENTES GRÁVIDAS ................... 56 4.1 Perfil das entrevistadas .................................................................................... 56 4.2 Análise dos dados ............................................................................................ 57 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 64 REFERENCIAS ......................................................................................................... 66 APÊNDICES.............................................................................................................. 75 ANEXOS ................................................................................................................... 78 10 1. INTRODUÇÃO A gravidez na adolescência tem sido considerada uma questão de saúde pública por diversos setores da sociedade e transformada em objeto de discursos e de ações (SILVA, 2011 p.08). Fanelli explica: Os estudos sobre esta temática ganham grande impulso e representatividade no final dos anos de 1980 e no decorrer da década de 1990. Apontando para a constituição deste fenômeno, tanto no Brasil como em outros países do mundo, como uma das expressões da questão social. (2003, p. 13) Nessa perspectiva, a concepção contemporânea de gravidez na adolescência conflui de três modalidades de discurso, sendo o biomédico, o psicossocial e o social. O primeiro discurso enfatiza os perigos decorrentes da gestação durante a adolescência para a saúde materno-infantil; o segundo, partindo da categoria imaturidade psicológica das adolescentes, aponta riscos psicossociais para às mesmas e o terceiro pauta-se no agravamento da pobreza, que pode estar relacionado à interrupção precoce da trajetória escolar, assim como a inserção precária no mercado de trabalho. Tais fatores contribuem para configurar o fenômeno como intrinsecamente relacionado à "exclusão social". (HEILBORN, 2002 p. 18). A adolescência, portanto, tem sido mais recentemente, objeto de investigação de significado, no sentido de demarca-la como uma etapa de transição para a vida adulta e que deve ser reservada prioritariamente à dedicação aos estudos, que capacitariam esses jovens sujeitos a um ingresso melhor no mercado de trabalho, condição futura de suas vidas. Nesse sentido, a fecundidade do grupo adolescente é comumente chamada de “fecundidade precoce” 1. Contudo, vale frisar que aquilo que hoje se abriga o rótulo de gravidez na adolescência refere-se a uma faixa etária que por muito tempo foi considerada a etapa ideal para a mulher ter filhos. Assim, estamos diante de um problema que muda seu ângulo de apreciação consonante com as preocupações de uma determinada agenda social. Certamente, há outro problema aí embutido, que 1 Segundo Camarano (1998, p.35), a fecundidade do grupo de 15 a 19 anos é comumente chamada de "fecundidade precoce", "não apenas por razões biológicas, relacionadas ao desenvolvimento humano, mas principalmente porque a gestação nessa idade antecipa os movimentos socialmente institucionalizados para a reprodução e, com isto, traz uma série de resultados indesejados para as mulheres e seus filhos". 11 sinaliza aos profissionais do Serviço Social a desenvolver sua capacidade crítica e reflexiva para compreender essa problemática, bem como propor políticas públicas que possam responder pelo acesso do segmento jovem em defesa dos seus direitos. Diante desse exposto, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar os aspectos sociais decorrentes da gravidez na adolescência a partir da percepção e narrativas das adolescentes grávidas assistidas pelo Centro de Saúde da Família Anastácio Magalhães. Já os objetivos específicos visaram identificar os fatores determinantes da gravidez na adolescência; analisar a gravidez na adolescência enquanto uma expressão da questão social e compreender a gravidez na adolescência a partir do olhar das adolescentes. Para tal, abordaremos como categorias teóricas e analíticas a adolescência, gravidez na adolescência e questão social. Desse modo, para o alcance dos objetivos propostos essa monografia se desenvolveu a partir do percurso metodológico a seguir. A metodologia ocupa lugar central no interior da sociologia do conhecimento, uma vez que ela faz parte intrínseca da vida social de mundo, veiculada na teoria. É o “caminho do pensamento”, com a apresentação adequada e justificada dos métodos, das técnicas e dos instrumentos. É “a criatividade do pesquisador”, ou seja, a sua marca pessoal e especifica na forma de articular teoria, métodos, achados experimentais, observacionais ou qualquer outro tipo especifico de resposta às indagações científicas. (MINAYO, 2010). Nossa pesquisa apresentará dados quali-quantitativos, da qual irá nos permitir uma ideia mais ampla da complexidade da realidade que nos propomos pesquisar, e como nos trás Goldenberg “A integração da pesquisa qualitativa e quantitativa permite que o pesquisador faça um cruzamento de suas conclusões de modo a ter maior confiança que seus dados não são produtos de um procedimento especifico ou de uma situação particular”. (2009, p. 62) Rocha (2008) nos trás que o significado da gravidez na adolescência varia muito de acordo com o contexto social que a adolescente está inserida. Nas classes socioeconômicas mais baixas observa-se este fenômeno mais recorrente. O desejo de ter um filho se manifesta mais precocemente, há uma valorização maior em torno da gravidez. As perspectivas restritas de estudos e de carreira promissora 12 no mercado de trabalho fazem com que essas adolescentes encontrem na gravidez e no papel social de ser mãe um objetivo para suas vidas. Além disso, temos a repetição de um ciclo vivenciado por mães, nessa perspectiva, o interesse em pesquisar essa temática surgiu devido à frequência e relevância com que vem se manifestando o fenômeno da gravidez na adolescência em nossa realidade social, associado ao interesse pessoal, já que vivenciei esta realidade durante minha adolescência. O método que norteou a pesquisa foi da hermêutica-dialética, por considerá-lo o melhor para abranger o amplo e complexo universo estudado dando conta de uma interpretação mais aproximada da realidade. Este método não determina técnicas de tratamento de materiais e sim sua autocompreensão. Essa combinação entre hermenêutica e dialética foi primeiramente descrita por Habermas (1987), por entender que, do ponto de vista do pensamento, ela faz a síntese dos processos compreensivos e críticos. Do ponto de vista metodológico, a abordagem hermenêutica se encaminha dentro dos parâmetros seguintes: (a) busca esclarecer o contexto dos diferentes atores e das propostas que produzem; (b) acredita que existe um teor da racionalidade e de responsabilidade nas diferentes linguagens que servem como veiculo de comunicação; (c) coloca os fatos, os relatos e as observações no contexto dos atores; (d) assume papel de julgar e tomar posição sobre o que ouve, observa e compartilha; (e) produz um relato dos fatos em que os diferentes atores se sintam contemplados. (MINAYO, 2010) Já a dialética, é a ciência e a arte do diálogo, da pergunta e da controvérsia. Diferentemente da hermenêutica, ela busca nos fatos, na linguagem, nos símbolos e na cultura, os núcleos obscuros e contraditórios para realizar uma critica informada sobre eles. Ao falar da articulação promissora entre dialética e hermenêutica, Habermas diz que: “a mesma razão que compreende, esclarece e reúne, também contesta, dissocia e critica” (HABERMAS, 1987, p.20). O mesmo autor lembra ainda que a própria linguagem é um instrumento de dominação, necessitando, por isso, ser desmitificada e torna-se objeto de reflexão: tanto a que é comunicada pelos informantes como a que é utilizada pelos os investigadores. (Ibidem, 1987). 13 Em síntese, o método hermenêutico-dialético busca a compreensão do texto nele mesmo. Ele coloca a fala em seu contexto para entendê-la a partir de seu interior e no raio da especificidade histórica em que é produzida. Minayo (2010) utiliza a expressão “entender-se na coisa”, ultrapassando a simples tarefa de ser uma ferramenta de pensamento. Acrescenta ainda que a hermenêutica-dialética: Leva a que o intérprete busque entender o texto, a fala, o depoimento como resultado de um processo social e de um processo de conhecimento, ambos frutos de múltiplas determinações, mas com significado específico. Esse texto é a representação social de uma realidade que se mostra e se esconde na comunicação, onde o autor e o intérprete são parte de um mesmo contexto ético-político e onde o acordo subsiste ao mesmo tempo em que as tensões e perturbações sociais. (MINAYO, 2010, p. 227-228). Desse modo, a escolha da hermenêutica-dialética como um caminho de pensamento para a interpretação dessa pesquisa reafirma minha crença na pesquisa não como um ponto de chegada definitiva e intransponível, mas como um ponto de chegada que se assume, dialeticamente, também como ponto de partida para novos olhares investigativos. Assim, quanto ao tipo de pesquisa esta investigação se caracteriza como um estudo bibliográfico e de campo, no primeiro fizemos uso de material já publicado, principalmente em livros, revistas, impressos e periódicos eletrônicos, dos quais contribuíram para as reflexões aqui expostas. O campo em que foi desenvolvida essa pesquisa foi o Centro de Saúde da Família – CSF - Anastácio Magalhães, localizado na Rua Delmiro de Farias nº 1679, no bairro Rodolfo Teófilo, em Fortaleza - Ce. A instituição oferece atendimento em várias especialidades médicas para a população. Ao todo são 11 especialidades de atendimento: ginecologia, endocrinologia, infectologia, cardiologia, fisioterapia, urologia, fonoaudiologia, dermatologia, oftalmologia, clinica médica e obstetrícia. De acordo com o coordenador do CSF, são atendidas diariamente em média 600 pessoas. Nossa pesquisa teve como sujeito, adolescentes grávidas que realizavam pré-natal no CSF, com faixa etária entre 12 e 17 anos, incompletos, e que aceitassem participar de nossa pesquisa. Tivemos um universo de 15 adolescentes grávidas, mas conseguimos realizar a pesquisa com 10 destas, já que apenas estas aceitaram participar. A coleta das informações ocorreu após a liberação do diretor 14 da unidade e consentimento pelo próprio sujeito a ser entrevistado por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A) que foi lido em voz alta, oportunidade em que foram esclarecidas as dúvidas e explicitadas o teor ético da pesquisa, resguardando a confidência das informações. Neste documento, constava que seria preservado o anonimato dos relatos e que a pesquisa não acarretaria nenhum prejuízo às adolescentes. Este documento é composto de duas vias e, depois de assinado, uma via fica em posse da adolescente e outra com o pesquisador. Assim, visando uma aproximação maior com as adolescentes sobre sua visão em torno da gravidez, nossa pesquisa utilizou-se das fichas de atendimento da instituição como instrumento para a efetivação dessas técnicas, bem como para a coleta de dados nos utilizamos da entrevista, com roteiro semi-estruturado, já que essa técnica segundo Oliveira (2005, p.86) “é um excelente instrumento da pesquisa por permitir a interação entre pesquisador e entrevistado e obtenção de descrições detalhadas sobre o que está pesquisando”. Sobre essa técnica Ribeiro (2008), também discorre: A entrevista é a técnica mais pertinente quando o pesquisador quer obter informações a respeito do seu objeto, que permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir além das descrições das ações, incorporando novas fontes para interpretação dos resultados pelos os próprios entrevistados (p. 141). Outra técnica utilizada foi a observação, que tem por finalidade conhecer como as adolescentes grávidas lidam com os aspectos psicossociais desencadeados pelo processo da maternidade. A observação é um elemento essencial de pesquisa cientifica, e, portanto de acordo com Márconi e Lakatos (1999): A observação ajuda o pesquisador a identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não tem consciência, mas que orientam seu comportamento. Desempenha papel importante nos processos observacionais, no contexto da descoberta, e obriga os investigados a um contato mais direto com a realidade. É o ponto de partida da investigação social (p. 90). 15 Para que os sujeitos dessa pesquisa se sentissem mais à vontade para responder as perguntas, todas as entrevistas foram realizadas na sala do Serviço Social da instituição, uma a uma, logo após suas consultas de pré-natal. Com o intuído de deixar o momento mais acolhedor e explicitar o trabalho para que não restassem dúvidas sobre o mesmo, realizamos uma roda de conversa no CSF, que aconteceu no primeiro dia do mês de julho do ano corrente, onde foi proporcionado momentos para que as adolescentes pudessem se expressar abertamente. Este momento nos proporcionou material para sistematizar os discursos das adolescentes, dos quais podem ser observados no terceiro capitulo com mais detalhes bem como o perfil das entrevistadas. Dessa maneira, para uma melhor sistematização dos resultados, dividimos este trabalho em três capítulos, apresentados na seguinte ordem: No primeiro capítulo, intitulado “Gravidez e Adolescência: duas categorias em análise” é abordado os conceitos e definições sobre a adolescência, a sexualidade na adolescência, bem como a maternidade como uma possível ocorrência durante esse período. No segundo capítulo, intitulado “A gravidez na adolescência, questão social e políticas públicas”, trouxemos a relação estabelecida entre essas três categorias e no decorrer dessas discussões traremos as narrativas dos sujeitos pesquisados na perspectiva de relacioná-los com os resultados do levantamento bibliográfico. Já no terceiro capítulo, intitulado “Percepção e narrativas das adolescentes grávidas”, trouxemos o perfil de cada entrevistada, bem como realizaremos a análise dos conteúdos obtidos. 16 2. GRAVIDEZ E ADOLESCÊNCIA: DUAS CATEGORIAS EM ANÁLISE 2.1 Conceitos e definições sobre adolescência A adolescência é um período que, devido sua diversidade de manifestações, desencadeou inúmeros conceitos. Essas manifestações, por sua vez, subsidiaram inúmeras publicações disponíveis: Autores nacionais e estrangeiros lotam as prateleiras das livrarias fornecendo seus conhecimentos sobre o assunto. Assim, a repercussão dos fatores manifestados durante essa fase da vida nas dimensões biológica, psicológica, social e cultural direciona um olhar mais focalizado para os indivíduos que se encontram na fase adolescência. Nesse sentido, são várias as definições da adolescência, sendo que cada cultura possui seu conceito, baseando-se sempre em diferentes idades para definir esse período. Outeiral (1994) ressalta que quando falamos em adolescência, precisamos pensar em dois elementos básicos: o primeiro, temos que considerar que existem distintas experiências adolescentes, e essas, dependem dos aspectos psicológicos e sociais de onde vive o adolescente; o segundo, é necessário compreender que a adolescência tem diferentes fases e que estas têm características peculiares. Ainda de acordo com o autor (1994) citado, a adolescência é constituída em duas fases, sendo a primeira, dos dez aos dezesseis anos, e a segunda, dos dezesseis aos vinte anos. Assim, existem três etapas que caracterizam a adolescência, estas estão descritas como: A) A adolescência inicial, que vai dos dez aos catorze anos, caracterizada pelas transformações corporais e as alterações psíquicas. B) A adolescência média, dos catorze aos dezessete anos, que tem como seu elemento central as questões relacionadas à sexualidade, em especial, a passagem da bissexualidade para a heterossexualidade. C) A adolescência final que varia dos dezesseis ou dezessete a vinte anos. Nesta etapa, o adolescente procura estabilidade social e viabilidade econômica, ocorrem novos vínculos com os pais e novos processos psíquicos do “mundo adulto”. 17 Para Osório (1992), a adolescência não é apenas o período em que ocorrem acentuadas modificações, mas aquela etapa evolutiva onde se caracteriza o processo de aquisição da individualidade, com todos os comemorativos que assinalam o esforço pessoal para se diferenciar da matriz sócio-familiar de origem e criar o seu próprio universo vivencial. Aberastury e Knobel (1992) acrescentam que na psicologia, a adolescência é uma fase marcada por intensos processos conflituosos, com esforço de autoafirmação. É também um período no qual ocorre uma grande absorção de valores sociais e a elaboração de projetos que levam à plena integração. Para a Organização Mundial de Saúde – OMS (1999) revelam a adolescência é um período de mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais que separam a criança do adulto, prolongando-se dos 10 aos 20 anos incompletos. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)2 define, em seu artigo 2º, que “se considera criança a pessoa até 12 anos incompletos, e adolescentes aquela entre 12 e 17 anos incompletos”. (ECA, 1990, p. 01). Zagury (1996), define a adolescência como: Uma fase de transição entre infância e juventude. Pode ser uma etapa extremamente importante do desenvolvimento, com características próprias, na qual levará a criança a torna-se um adulto. As mudanças corporais que ocorrem são universais, enquanto as psicológicas e sociais variam de cultura para cultura, de grupo para grupo e até de indivíduos de um mesmo grupo (p. 25). Paralelamente ao desenvolvimento de mudanças corporais, ocorre também o desenvolvimento à nível social. Nessa perspectiva a adolescência está envolta a um emaranhado de modificações. De acordo com França (2007) é neste período que o humor tende a se alterar consideravelmente, pois este está coadunado com esta fase. A essa alteração humorística Tiba (1994), classifica como “onipotência pubertária”. Em que o adolescente passa a defender-se como pode diante de novas situações. Completa ainda que no caso de menino, este tende a ficar mais bravo, 2 O ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado para promover a regulamentação dos direitos das crianças e dos adolescentes, sua promulgação ocorreu através da lei 8.069. Seu objetivo é de garantir as crianças e adolescentes uma formação sólida e harmoniosa perante a sociedade. 18 mal-humorado, contestador, insatisfeito, agressivo, impulsivo; a menina luta mais pelo que considera “seus pontos de vista” e fica enfurecida contra injustiças, principalmente a colegas, a quem defende como ardor. É uma severa vigilante dos castigos aos irmãos, fala muito e chora com facilidade. Nessa perspectiva, a adolescência constitui-se como um período de contradições, de formação da identidade e da autoestima, pois é, a saída do mundo mágico das crianças para a entrada no mundo repleto de responsabilidades e cobranças. Nesta fase há uma busca constante pela identidade pessoal para qual o jovem precisa de tempo. Conforme Zagury (2009), na adolescência também se destaca o interesse pelas coisas do mundo, por preocupações sociais. Os jovens adolescentes começam a perceber as diferenças sociais, as carências de determinados segmentos da população. Não é a toa que um grande número de movimentos revolucionários encontra nos jovens seus maiores defensores e até lideres. É o momento do sonho, em que se acreditam como verdadeiro superheróis, capazes de corrigir injustiças e consertar o mundo. Esta fase é de suma importância para que estes adolescentes mais tarde, se engajem num trabalho em que a preocupação social coexista, tornando-os cidadãos não apenas voltados para o campo da individualidade, mas com o campo da coletividade, visando à melhoria e aperfeiçoamento da sociedade como um todo. O autor supracitado (2009), completa ainda dizendo que durante essa fase é comum vermos a oposição de obediência às normas e as figuras de autoridade, todas se tornam alvos de contestações. “Aqui se questiona a autoridade do juiz, do padre, do pastor, do professor, do pai, considerando-se que essa noção de autoridade dos adolescentes se atualiza continuamente, sendo o jovem cada vez mais influenciado pelo ambiente” (p. 20). É assim à medida que os vínculos sociais vão se expandindo e se estabelecendo, um conjunto de novas características vai se tornando importante ao adolescente. Para os pais esse período também conduz algumas angústias. Nas muitas palestras e encontros a que venho tendo com os pais, pude perceber que há uma grande, uma enorme ansiedade no que se refere á chegada dessa fase do desenvolvimento. Seja porque tanto a mídia escrita como eletrônica ou os inúmeros livros publicados a respeito parecem difundir uma certa aura ao mesmo tempo mágica e temida a respeito dessa 19 etapa, como pelos relatos de amigos, ou testemunhas pessoais dessas dificuldades, o certo é que existe uma grande expectativa sobre “como será, quando o meu filho for um adolescente (ZAGURY, 2009, p. 20-22). Complementando esta análise a autora, citada acima, ressalta que, apesar de muito difícil, é justamente nesse momento que eles precisam do apoio e compreensão da família (muito embora às vezes não pareça dada a onipotência que costumam demonstrar). Conhecer, portanto, o pensamento do adolescente certamente irá auxiliar muito nesse propósito. Outra manifestação importante e inerente ao processo da adolescência é a puberdade, um processo biológico que se peculiariza pelo surgimento de uma atividade hormonal que desencadeia os chamados caracteres sexuais secundários, nos quais levarão à capacitação reprodutiva, ou seja, o amadurecimento sexual. A respeito dessa análise, Tiba discorre: As características sexuais masculinas secundárias surgem geralmente nesta sequência: início do crescimento dos testículos: nascimento de pelos pubianos lisos, pigmentados; início e aumento do pênis; primeiras mudanças de voz; primeira ejaculação; surgimento dos pêlos pubianos encarapinhados, distribuídos em forma de losango com uma das pontas atingindo o umbigo; crescimento máximo; aparecimento dos pêlos axilares; acentuadas mudanças de voz; desenvolvimento da barba. No surgimento das características sexuais femininas secundárias, a sequência é como segue: aumento inicial dos seios; aparecimento dos pêlos pubianos lisos, pigmentados; aparecimento dos pêlos pubianos encarapinhados, distribuídos em forma de triângulo, com borda superior na horizontal; menstruação; crescimento dos pêlos axilares (1991, p.06) Diferentemente da puberdade, que se constitui apenas em um processo biológico, a adolescência se configura como um fenômeno psicológico e social. Essa maneira de compreendê-la traz importantes elementos de reflexão, pois, sendo um processo psicossocial, a adolescência terá diferentes peculiaridades conforme o ambiente social, econômico e cultural em que o adolescente está inserido. (OUTEIRAL, 1994). No que tange a dimensão cultural a adolescência surge no ocidente sob contexto da consolidação do individualismo – cujo marco histórico fundamental é a Revolução Francesa -articulado à constituição dos limites entre as esferas pública e privada da vida social. Nesse novo contexto cultural, a adolescência, apresentandose como um conceito peculiar e específico de uma cultura em que a liberdade e a autonomia tornaram-se os valores hegemônicos. (FOUCAULT, 1980). 20 Nessa perspectiva, conforme destaca Tiba (1998), a adolescência é como um segundo parto: o filho nasce da família, para entrar na sociedade. Esse parto que vai do final da infância ao início da fase adulta começa com iniciadores biológicos e o seu término está relacionado à autossuficiência social. Dessa maneira, a adolescência nada mais é, do que um novo nascimento de características mais elevadas e mais plenamente humanas. Atualmente, os jovens vivem um momento histórico no qual a tensão local e global se manifesta de maneira contundente (PORTES E GONÇALVES, 2008). Nunca houve tanta integração globalizada e, ao mesmo tempo, nunca foram tão profundos os sentimentos de desconexão. Destaca ainda os autores que as profundas mudanças no mercado de trabalho atingem de maneira particular os jovens contemporâneos. Entretanto, ser adolescente em um mundo dominado pela mídia, especialmente a mídia televisiva, tornou-se um marco desta geração. Conforme Azambuja (1995) um estudo feito pelo Instituto Datafolha (1991) mostra que 93% das crianças/pré-adolescentes que participaram da pesquisa costumam assistir TV como fonte de entretenimento, ou seja, conforme os dados dessa pesquisa, quase a totalidade das crianças estão expostas aos efeitos midiáticos. Como bem trata Adorno (2006) que nos fala sobre a produção da indústria cultural assinalando que esta se direciona para o retorno de lucros tendo como base padrões de imagem cultural preestabelecida. A mídia conquista o interesse das massas sem trabalhar o caráter crítico do espectador, influencia as pessoas no modo de agir, de pensar e até no modo de se vestir. Cria as demandas, orienta os costumes e hábitos da sociedade, além de definir estilos, bordões e discussões sociais. A mídia dita às regras, as tendências e os ídolos a serem adorados e seguidos. A respeito desse assunto, Chauí (2006) ressalta que a produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias. Para a autora, o espectador é visto como incapaz de pensar a imagem e a mídia faz a mediação entre a imagem e como o espectador deve interpreta-lá. 21 Nesse sentido, Quadrado (2008) traz que vivemos em um tempo em que não podemos mais estabelecer a adolescência como uma mera condição de idade. É preciso entendê-la como uma produção discursiva e heterogênea, uma vez que existem múltiplas formas de ser adolescente devido aos diversos meios sociais. Assim, não existe adolescência como acontecimento biológico, psicológico, homogêneo e estático; existem adolescências múltiplas, mutáveis, heterogênea, (re) construídas a cada momento nos diversos nós da rede social. Desta forma, sob uma perspectiva moderna, não existe conhecimento absoluto, realidade cristalizada, esperando para ser conhecida e domada; um entendimento universal, que se faça fora da história ou da sociedade. No lugar disso, o projeto modernista propõe que o mundo e o conhecimento dele sejam vistos como socialmente construídos. Isso significa pensar que todos nós estamos engajados na construção de significados, em vez de engajados na descoberta de verdades. Desse modo, não existe somente uma realidade, mas várias. O conhecimento não é único, e sim múltiplo, variável, fragmentado e mutável, inscrito nas relações de poder, que lhes determinam o que é considerado como verdade ou falsidade. A verdade é compreendida somente como uma correspondência, uma representação como tal deve ser tomada. Pelo exposto, conceituar e definir adolescência envolve uma gama de aspectos e fatores relacionados às transformações por completa que ocorrem na vida da pessoa, nas quais, para serem compreendidas necessitam a interpretação da totalidade dos aspectos e fatores relacionados nesse processo de transição. A seguir, explanaremos sobre a sexualidade, que está intimamente relacionada à fase humana designada como adolescência. 2.2 A Sexualidade na Adolescência Ao se abordar o tema adolescência no contexto contemporâneo é indispensável discutir o fenômeno da gravidez na adolescência que, por sua vez, emerge com outros pontos centrais, tais como sexualidade e gênero, moralidade e relações familiares, nos quais, revela complexidade desse fato social. Comecemos com um resgate histórico sobre o papel feminino, no qual se 22 constituiu perante a sociedade para dedicação única e exclusiva aos cuidados para com o lar e os filhos. Em outrora a posição destinada às mulheres era a de extrema submissão ao marido. A vida reprodutora feminina começava muito próxima da puberdade, devido à única atribuição que lhe era pertinente na época. Nesse contexto, o casamento não se baseava numa escolha afetiva de parceiros e sim muito mais como uma forma de obediência às expectativas familiares e sociais. (SILVA, 1987). Fatos que ocorreram na dinâmica social concomitantemente ao fim da II Guerra Mundial subsidiaram transformações consideráveis no que tange a ótica dos valores sociais, impulsionando os jovens a se posicionarem com mais liberdade sobre a prática sexual, ou seja, ao uso do corpo em sua totalidade. Com o advento da pílula anticoncepcional permitiu-se uma separação entre ato sexual e procriação e desse modo houve uma reconfiguração de práticas heterossexuais. (PRIORE, 2011) Como nos lembra Sarti (2004), foi o movimento feminista dos anos 1970 e 1980 que pôs em pauta o tema da sexualidade feminina. As meninas que vinham sendo educadas para a virgindade (enquanto os meninos eram incentivados a exercer sua sexualidade o quanto antes), culminando num casamento em que exerciam o papel subserviente, passam a reivindicar o prazer e o fim da estrutura social de dominação masculina. Nesse contexto pela a primeira vez as mulheres tiveram coragem de exigir o seu orgasmo. Mesmo com o movimento revolucionário ocorrido em torno da sexualidade a luta ainda não se apresenta totalmente vencida. Ainda hoje é forte o paradigma entre as mulheres que não se sentem a vontade e segura para lutar pelo prazer sexual, seja por timidez ou por medo de parecerem levianas, a verdade é que para muitas a verdadeira revolução sexual ainda não aconteceu. Os homens também não estão isentos desse paradigma que envolve a sexualidade, pois, embora historicamente seja melhor a situação masculina, os homens não vivem o prazer de forma perfeita ou ideal, pois, as pressões sociais sobre o desempenho masculinos são muito fortes. A manutenção constante de um desempenho viril, de potência, pode ser muito difícil e estressante (FONSECA, 2009). Sobre o assunto da sexualidade, Foucault (1980) acredita que esta deve 23 ser compreendida como “uma invenção social”, um construto histórico que abrange toda uma transformação na sociedade, sendo também um dado histórico/local e não uma condição natural do indivíduo como foi amplamente divulgado pelas ciências de tendência positivista. É possível observarmos que o contexto moderno destinou ao campo da sexualidade discursos que inauguram seus vários sentidos, entendimentos e tratamentos, produzindo uma série de estranhamentos e percepções estereotipadas, as quais são digeridas em conteúdos escolares. Além disso, o apelo sexual da máquina consumista é irresistível. Cada vez mais a sexualidade se estabelece como objeto; cada vez mais o consumismo e a pornografia alimentam os jovens, produzindo uma confusão sobre a prática sexual, como uma verdadeira libertação sexual. Ou seja, cada vez mais e mais se apreende sexo por exclusão. Sobre a sexualidade e o espaço educacional, Ozella, diz que: Vale acrescentar, que a reflexão sobre a sexualidade traz a tona o tratamento sobre o tema sexo no espaço educacional. Enquanto parte do corpo humano, há toda uma classificação de cada componente; já enquanto ato, há a reiteração de sua função reprodutiva. Ainda que, nas aulas de Ciências e Biologia ensaiem uma exploração do tema, termina-se por cair, numa perspectiva médico – patologizante. É notório que sexo é objeto de estudo da medicina, ou, no máximo, da psicologia ou ainda da sexologia. Perdura a naturalização do pensamento do sexo como apenas mais um aspecto natural da vida humana. Contudo, o sexo se personifica em um processo de inteirações de encontro com a realidade diferente da sua, a procura de uma identidade, em outras palavras, um fato social. (OZELLA, 2003, 181) A sexualidade, portanto, está presente na vida do individuo em um conjunto que envolve gênero, identidade, orientação, erotismo, envolvimento emocional, amor, reprodução e cultura, se manifestando através de pensamentos fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, práticas, papeis e relacionamentos. Portanto ela não se remete somente ao prazer e a reprodução. (HEILBORN, 2006) Desta forma, a sexualidade não se estabelece tão somente no campo da ciência e da biologia. A categoria se emerge também no campo social e cultural, pois, relaciona-se como as pessoas vivem e sentem seus desejos, trocam carinhos, afetos, prazeres, interligados com a identidade de cada indivíduo que se intercambia, se tocam e se chocam. Esta dinâmica está para além da genitalidade e se faz presente na vida do ser humano desde a primeira infância até a velhice. 24 Nessa perspectiva, as concepções sobre sexualidade devem ser abordadas de forma articulada entre os componentes da identidade e gênero, considerando sua construção histórica, social e cultural, pois, elas apresentam uma estreita relação com a formação da identidade dos indivíduos pelo processo civilizatório de cada sociedade. (LOURO, 1997) Desse modo, uma educação aliada ao material didático-pedagógico ausente de uma revisão curricular atualizada para questões voltadas ao campo da sexualidade e suas especificidades, embasada numa percepção de igualdade e integração dos seus indivíduos, configura-se um enorme vazio, articulado a uma lacuna que dificulta uma visão positiva da sexualidade. É preciso ir além e, ao mesmo tempo, partir de outros pressupostos, uma vez que a sexualidade é um dos direitos à saúde sexual e reprodutiva. Vale ressaltar que, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2008), as políticas voltadas para o público são orientadas mais a campanhas sanitárias, cuja finalidade nem sempre é reconhecida pelo o jovem como algo que lhe diz respeito. Em vários casos, o jovem se confunde como um problema que se pretende combater. Alguns dados do IPEA apontam, ainda, um despreparo das instituições de saúde para lidar com essa faixa etária, tornando corriqueiras as dúvidas éticas e a atuação de um controle de sexualidade, transformando o usuário do serviço em origem do problema. Com isso, o poder público tem o desafio de oferecer políticas públicas capazes de alertar para a importância de uma experiência sexual saudável e que esteja com sua atenção voltada não só para doenças sexualmente transmissíveis e gestações indesejadas, mas, ir mais além, de um modo mais simétrico, como algo essencial à vida e ao bem estar. Como já trouxemos, o sexo como um fato social, emerge uma compreensão de sua prática para além do caráter biológico; a sexualidade não se resume apenas em um modelo biológico, ela se constitui em uma dimensão socialmente construída, que contempla as perspectivas físicas, emocionais, psicológicas, culturais e sociais. Vimos que abordar o tema adolescência é levantar discussões não só sobre o tema sexualidade, mas também outros pontos centrais, como a questão que envolve o processo da maternidade ocorrida na adolescência. Desse modo, a seguir 25 explanaremos sobre o tema. 2.3 A Maternidade na Adolescência Falar de maternidade leva-nos de imediato a pensar num outro conceito – o de gravidez, os quais, frequentemente são tidos como sinônimos, embora traduzam duas realidades bem diferenciadas entre si, tecidas que são em imaginários diferentes (LEAL Apud CORREIA, 1998). Sobre o assunto Maldonado (1980), nos explicita que a gravidez refere-se ao período, de mais ou menos 40 semanas, que se compreende entre a concepção e o parto. Informa ainda que é nesta fase que as alterações permeiam nas alterações físicas e hormonais. Sendo que estas acarretam, obviamente, vivências psicológicas particulares. Ainda o mesmo autor (1980) diz que a maternidade se caracteriza por ser um projeto de longo prazo no qual envolve a suficiente prestação de cuidados e dádiva de amor que possibilita um desenvolvimento sadio e harmonioso à criança recém-nascida. De acordo com o autor acima, a categoria maternidade está para além de um fato biológico, refere-se a uma vivência inscrita numa dinâmica sócio-histórica que envolve prestação de cuidados e envolvimento afetivo em medidas variáveis, enquanto que gravidez se caracteriza por ser um período de cerca de quarenta semanas entre o momento da concepção e o parto; é uma fase temporalizada, na qual se peculiariza por modificações no corpo, acompanhadas das consequentes vivências psicológicas. A fase temporária caracterizada como gravidez, se apresenta como um momento delicado, no qual exige atenção e, semelhante à adolescência, possuem particularidades próprias. Quando se juntam esses dois momentos, adolescência e gravidez desencadeiam um leque de transformações que ocasionam um emaranhado de mudanças. Vale destacar que o fenômeno da gravidez na adolescência vem se apresentando como um tema relevante na realidade social tanto no Brasil, como no mundo. De acordo com o ultimo levantamento feito pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2009), em cada cinco partos no Brasil um deles é de 26 mãe adolescente. Só em 2006, nasceram 22.161 bebês, filhos de mães com menos de 15 anos. Na faixa dos 15 aos 19 anos, chega à 551.093. O porcentual de nascimentos de filhos de adolescentes já alcançou 20,5% do total no país, mas este quantitativo difere entre regiões brasileiras. Ainda com dados da pesquisa (2009), o Ceará é um estado com 430.661 milhões de habitantes, dividido em 184 municípios. Sua capital, Fortaleza, tem 2.141.402 habitantes, ou seja, 28,8% do total do Estado. Quanto aos adolescentes cearenses, totalizam1. 687.924, representando 22,71% do número de habitantes, sendo que destes, 1.174,681 vivem em áreas urbanas. De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado – SESA (2009), a gravidez na adolescência tem como público mais vulnerável as meninas entre 10 a 14 anos de idade. Em 2002, 35.210 partos e abortos foram realizados em pessoas na faixa etária de 10 a 19 anos de idade. Em 2003, nesse mesmo público, foram feitos 32.725 procedimentos médicos dessa natureza. As pesquisas acima citadas emergem reflexões em torno do porquê, que mesmo com tanta informação sobre os métodos anticoncepcionais na sociedade moderna, ainda há tantas adolescentes engravidando. Uma pesquisa realizada pelo médico Dr. Galleta (1998), com adolescentes grávidas, no setor obstétrico do Hospital das Clínicas em São Paulo demonstrou que 60 % das jovens atendidas no hospital desejavam a gravidez, enquanto 25% (um quarto) tinham planejado a gravidez e apenas 7% não queriam a gravidez e não aceitavam este fato. A pesquisa demonstrou também sobre a informação contraceptiva que 92% das adolescentes conheciam pelo ao menos um método anticoncepcional, enquanto 60% conheciam mais de três métodos. Com estes dados, se levanta a discussão que em torno deste fenômeno existe um complexo de fatores envoltos. Como já foi discutido, esse fenômeno não se constitui como um fato novo. Em outrora, a maternidade era por excelência a única posição social pertinente ao gênero feminino. Essa posição social ocorreu com a consolidação da ideia de amor materno na França no século XX, a partir de pressupostos de que a mãe dispunha de uma natural capacidade de afetividade com seus filhos. Essa ideia socialmente consolidada naturalizou-se com o conceito de “instinto materno”, e assim, foram construídas diversas argumentações biológicas e científicas para 27 justificar e normatizar comportamentos (CARNEIRO, 2002). Conforme Prenh (1990) a mulher é biologicamente pré-determinada a gestar e foi criada, desde os tempos primitivos, para cuidar da prole. Enquanto a mulher possuía a função da domesticação e cuidado dos filhos, o marido possuía a função da caça e de outras atividades que exigiam força e velocidade. Reforça ainda que: Essa conjuntura encontrou terreno fértil no campo de produção de gênero, ou seja, as características pertinentes e naturalizadas na mulher como mãe foram ao encontro de interesses masculinos como forma de exercer o poder (PRENH, 1990, p.32). Pressupondo outra versão sobre a mesma teoria, a autora Elisabeth Badinter discorre que: O amor materno é resultado de uma construção social e cultural, nada tendo a ver com instinto, fator sanguíneo ou um determinismo da natureza. Uma mulher pode ser feliz sem ser mãe, e que não existe, por parte dela, uma pulsão irresistível em se ocupar do filho. Neste entendimento, a maternidade não seria um fenômeno inerente à condição feminina, uma etapa onipresente no seu ciclo vital. (BADIENTER, 1985, p. 28) Ao decorrer dos anos e com o surgimento da modernidade, a função da maternidade determinada historicamente para a mulher sofre mudanças, alterando seu posicionamento frente à sociedade. Essas mudanças ocorridas na ótica da maternidade marcam também a estrutura familiar com ampliação da autonomia feminina, as mulheres passaram a dividir com os homens o sustento da casa e a exercer as novas funções. Este exercício profissional da mulher, mãe, esposa e dona de casa passa a exigir, por parte da figura feminina, uma sólida estrutura de personalidade, uma capacidade rápida de decisão e uma grande habilidade para contornar os múltiplos problemas e contratempos que encontra em sua caminhada diária em busca de uma auto-realização dentro e fora do lar. (ARIÉS, 1981). Nessa perspectiva, Patané (2008) traz que com a desvinculação do exercício sexual da reprodução, o acontecimento de uma gestação se estabelecesse como um período socialmente determinado pelos os novos arranjos modernos, e dentro desse contexto a gravidez na adolescência se estabelece como um problema. 28 Segundo, a OMS (1999) a gravidez na adolescência devido às suas repercussões sobre a saúde da mãe e do bebê deve ser considerada de alto risco, devido a adolescente não ter sua formação fisiológica completamente desenvolvida, pela ossatura da pelve em processo de desenvolvimento e pelo o útero não preparado para receber e deixar desenvolver um feto. Assim, a gravidez no período da adolescência apresenta mais riscos de complicações que mulheres em idade fértil apropriada. (BRASIL, 1999). Por outro lado, Brandão (2006), destaca que a gravidez na adolescência não é de alto risco, contanto que a adolescente tenha um acompanhamento adequado, boa alimentação, cuidados higiênicos necessários e apoio emocional. Também não é um problema da sociedade moderna, porque em todas as épocas as mulheres engravidaram na adolescência. É um problema da sociedade moderna a gravidez indesejada na adolescência, que ocorre de forma desestruturada. Nesse sentido, a maternidade, pode está associada com o fato de adolescentes, desejarem gestar precocemente, ser mãe pode ser um projeto de vida consagrado, em função das representações sociais da maternidade, que levam à obtenção de reconhecimento e valorização social. Essas jovens podem perceber que a ascensão social através de estudo e trabalho não está garantida, em função de questões contextuais (DADORIAN, 2003). Contemplado o assunto, Pinheiro discorre: A gravidez e a maternidade têm uma repercussão desigual entre as classes sociais. Nas classes economicamente mais favorecidas, observa-se a valorização da formação acadêmica e profissional, devendo a maternidade e/ou a constituição de uma família ser adiados para não comprometer sua futura inserção no mercado de trabalho. Já nas classes populares sem muita perspectiva ao mercado de trabalho, as fontes de gratificação e reconhecimento para a mulher estão ligadas ao desempenho dos papéis de esposa e de mãe (2000, p.32) Desse modo, considerando a amplitude de fatores que envolvem este fenômeno pretendemos compreende-lo a partir da interação de vários pontos de análise. Ressaltando, que várias são as abordagens em torno da temática e que dependendo da orientação teórica e empírica de alguns autores, o tema pode ser abordado de forma simplista com uma única causa. Nesse sentido, superar o discurso fatalista, que sublinha a gravidez na 29 adolescência enquanto problema de saúde pública ou simplesmente um dado demográfico, que o atrela a um discurso conservador e inflexível, é não considerar o jovem, em pleno exercício de sua sexualidade, do seu contexto familiar e sociocultural é simplesmente forjar explicações que concebem a questão da gravidez na adolescência enquanto uma sequência biográfica juvenil dotada de um único sentido. A respeito da análise Heilborn discorre: Transformar a gravidez na adolescência como uma problemática que carrega invariavelmente várias formas de sofrimento é simplificar a questão e defini lá como uma resposta homogênea para todas as jovens e mães que atravessam essa etapa. É preciso então, contextualizar o fenômeno a partir dos próprios sujeitos, situando-os, principalmente em suas estruturas socioeconômicas para que seja possível determinar suas especificidades (2006, p.25) Em suma, considerar os fatores familiares, socioeconômicos e culturais do contexto de pertença da adolescente se faz relevante para uma análise mais ampla deste fenômeno. 30 3. GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS. 3.1 Questão Social: conceito e repercussões A expressão “questão social” surgiu na Europa Ocidental, na terceira metade do século XIX, para designar o fenômeno do pauperismo. Nesse contexto, pela primeira vez, a pobreza crescia na proporção em que aumentava a capacidade produtiva do capitalismo. (NETTO, 2001). Nessa perspectiva e complementando esta análise, Marx tinha como certo que, no capitalismo, o crescimento da riqueza produz, no pólo oposto, o crescimento do pauperismo, tanto que a isso chamou de lei geral, absoluta da acumulação capitalista. Sua demonstração se baseava em argumentos estritamente técnicos, pois à medida que avançam os progressos tecnológicos e a centralização de capitais, as máquinas passam a ser um elemento mais importante no processo de acumulação que a mão de obra. Daí que, como ele diz: A acumulação capitalista sempre produz, e na proporção de sua energia e de sua extensão, uma população supérflua relativamente, isto é, que ultrapassa as necessidades médias da expansão do capital, tornando-se, desse modo, excedente. (MARX, 1980, p. 747). Nesse sentido, podemos assim vincular o surgimento da questão social com o surgimento da classe trabalhadora e identificá-la no momento em que a contradição fundamental do capitalismo, como modo de produção social, se desenvolve e se revela, evidenciando que, no capitalismo, quem produz a riqueza não a possui, e ainda que, não há espaço para todos no mercado. Parafraseando Marx, Mota (2000, p. 01) discorre que: “A sociedade capitalista é nada mais, nada menos que o terreno da reprodução contínua e ampliada da questão social”. Assim, com o capitalismo, o desenvolvimento das chamadas forças produtivas não acompanhou a elevação nos níveis e condições de reprodução social. E o fenômeno do pauperismo no século XIX passou a fazer parte da agenda de debates da burguesia dirigente quando lamentavelmente para a ordem burguesa que se consolidava, os pauperizados não se conformaram com a sua situação, se 31 estabelecendo, dessa forma, uma ameaça real às instituições sociais vigentes. (NETTO, 2001). Nesse sentido, cabe destacar, que a questão social só toma características de “problema” quando, pela a primeira vez, a naturalização da miséria é politicamente contestada. Acrescente-se, ainda, a soma do processo de urbanização com a industrialização, que culminou na combinação dos seguintes determinantes indissociáveis: o empobrecimento agudo da classe trabalhadora; a consciência desta classe de sua condição de exploração, onde a luta desencadeada por esse processo, põe esta classe contra os seus opressores a partir dessa consciência. Em face disto, não podemos perder de vista outro elemento, os sujeitos envolvidos nesse processo, aqueles que colocam a questão na cena política, uma vez que, não considerar esses sujeitos é tratar a questão social de forma despolitizada. Nessa perspectiva, a autora Iamamoto define o conceito de questão social: O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 1999, p. 27). A autora (1999) acima citada discorre ainda “que a questão social é o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, ela é também rebeldia, pois envolve sujeitos que vivenciam estas desigualdades e a ela resistem e se opõem” (p.38). Portanto, a desigualdade ocorrida no século XIX, manifestada nas péssimas condições de moradia, na superpopulação dos bairros operários e consequentemente na piora das condições sanitárias, subsidiou a organização da classe através do movimento operário, com suas lutas na busca de melhores condições de trabalho e proteção social. Assim, a questão social foi se expressando a partir do processo de formação e desenvolvimento da classe operária no cenário político da sociedade e dessa forma, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. (IAMAMOTO, 1994). 32 Nesse contexto, o enfretamento da questão social sob a pressão da classe explorada se estabelece como sendo tarefa atribuída ao Estado. Contudo, as mudanças constantes na forma de organizar, produzir e se relacionar em sociedade decorrente do processo de produção do capitalismo vai alterar intrinsecamente o modo de intervenção do Estado. Dentro desse cenário, Pereira (2001) destaca três modelos de organização durante o século XX, conforme relação estabelecida entre o Estado e a sociedade, trata-se: do Estado Liberal, do Walfare State e do Estado Neoliberal. O autor frisa ainda, que durante esses três momentos distintos, nenhum atingiu o âmago da sociedade capitalista, ou seja, nenhum alterou a importância do trabalho no desenvolvimento dessa sociedade e o fato dela se basear na exploração de uma classe sobre a outra. Nessa perspectiva, para que possamos compreender essa conjuntura, em uma rápida introdução histórica e conceitual, iremos percorrer esses três momentos distintos. O primeiro modelo de organização estatal, o Liberal, nasce junto com o próprio capitalismo. Seu princípio básico de organização estatal é a “teoria da mão invisível” de Adam Smith, na qual preconiza que o mercado se auto-regula, não sendo necessário qualquer tipo de intervenção estatal. Pelo contrário, uma possível intervenção estatal só viria a prejudicar o equilíbrio das forças no mercado. As funções do Estado, em sua formatação liberal, estariam limitadas ao zelo pela segurança pública e pelos direitos civis, aqueles direitos necessários à liberdade individual. No modelo liberal, os indivíduos, livremente (através do seu direito à liberdade) e como iguais (direito à igualdade) disputavam no mercado o seu “lugar ao sol” e o fracasso ou a conquista, neste mercado, nada tem a ver com a coletividade, no caso, representada pelo Estado. Contudo, colocar no mercado o poder absoluto de prover e garantir todas as necessidades humanas, e mais, isolar os indivíduos como únicos responsáveis pelo seu sustento, foram ideias que se mostraram ineficazes na prática. O mercado não foi e não é capaz de absorver a todos e, mesmo os que conseguem se inserir ou se incluir, nem sempre adquirem as condições mínimas para subsistência. (LESSA, 2001). 33 Desse modo, somando-se à questão social, outros fatores contribuíram para a derrocada do Estado Liberal e à adoção de “medidas sociais” por parte do Estado capitalista. A ameaça do comunismo em escala mundial, a crise econômica pela qual passaram a maioria dos países no período entre guerras e a Grande Depressão, também tiveram papel preponderante nesta mudança de perfil por parte do Estado. Após a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, o mundo capitalista passou a vivenciar uma crise de escalas impressionantes, que combinava queda dos níveis de produção com aumento desenfreado do desemprego. (PEREIRA, 2001). Neste contexto catastrófico, ganham espaço ideias como as de John Maynard Keynes, favoráveis aos benefícios da eliminação permanente do desemprego em massa, visto que a renda dos trabalhadores com pleno emprego estimularia as economias em recessão. Era o começo da discussão sobre o novo modelo de organização estatal, o Welfare State, que combinava a doutrina keynesiana com o modelo fordista de produção. Seguindo as ideias de Keynes, ampliam-se as políticas sociais e tem início assim a experiência histórica de um Estado intervencionista que vai efetivar um pacto entre interesses do capital e dos trabalhadores: o chamado consenso pósguerra. Ou seja, os modernos sistemas de proteção social no século XX surgiram para atenuar as diferenças sociais criadas pelo livre funcionamento dos mercados e causa da produção de desigualdades. Seguindo do financiamento e provisão de um grande número de bens e serviços que os cidadãos não poderiam acessar única e exclusivamente pela renda obtida pelo trabalho, ou quando sem trabalho necessitassem desses bens. Nesse sentido, as políticas keynesianas buscaram gerar o pleno emprego, criar políticas e serviços sociais tendo em vista a criação de demanda e a ampliação do mercado de consumo. Assim, as mudanças na forma de intervenção do Estado no mercado só foram possíveis em função do tripé que funcionava da seguinte maneira: o Estado assumia uma série de obrigações e construía novos poderes institucionais. Passando a investir em educação, saúde, assistência social, previdência, de forma a garantir um tipo de “tranquilidade” para o mercado atuar. Com isso, ampliava o mercado consumidor com a inclusão da classe média e de parte dos trabalhadores e consequentemente aumentava a lucratividade das 34 empresas desoneradas de parte dos custos da reprodução da força de trabalho. Se, por um lado, elas colaboravam com impostos para que o Estado pudesse investir em políticas sociais e garantir o bom funcionamento do mercado e da sociedade, por outro, a subsistência de seus trabalhadores agora também consumidores deixava de ser exclusivamente de seus salários. O Estado passava, agora, a enfrentar diretamente à questão social, através de políticas sociais públicas, inaugurando o modelo de Bem Estar Social, que conforme salienta Pereira (2008) [...] é parte integral do sistema capitalista. Isso que dizer que ele, como um complexo moderno de proteção social, ancorado nos conceitos de seguridade e cidadania social [...] tem a ver com os rumos adotados pelo sistema capitalista, que deixou de ser liberal, nos anos de 1940, por uma questão de sobrevivência, para ser temporariamente regulado (p.87) A mesma autora discorre ainda que, nesse contexto: As políticas sociais passou ser vista nas melhores análises marxistas como um fenômeno contraditório, porque ao mesmo tempo em que responde positivamente aos interesses dos representantes do trabalho, proporcionando-lhes ganhos reivindicados na luta constante contra o capital, também atendem positivamente a interesses dos representantes do capital, preservando o potencial produtivo da mão de obra. (PEREIRA, 2008, p.54). Contudo, a implantação do Welfare State nos países capitalistas desenvolvidos representou um avanço, pelo menos no nível ideológico, no que se refere à concepção de cidadania e de direitos sociais. Pois, atribuir ao Estado o dever de garantir aos seus cidadãos o acesso às necessidades mínimas para a subsistência representa uma mudança fundamental na concepção do papel do referido. Se no modelo liberal a regra era que se lutasse e sobrevivesse ou não, no mercado, no Welfare State a premissa era de que o mercado não consegue sobreviver se os trabalhadores não tiverem as mínimas condições de vida e que cabe ao Estado garanti-la. Nessa perspectiva e complementando esta análise, é no final do século XX, sobretudo a partir de 1970, que as transformações se aceleraram e tomam forma de fenômeno mundial global. Diante na crise mundial da economia, as ideias neoliberais começam a ganhar terreno e os estados capitalistas passam a adotar 35 uma série de medidas econômicas visando conter a crise. O Estado vai se configurar como neoliberal. No mundo do trabalho, também ocorre uma série de mudanças. Todas essas mudanças, juntas, demarcaram uma experiência até então nunca vista. Pela primeira vez, o capitalismo conseguiu o feito de se tornar hegemônico ideologicamente. Desse modo, a expressão globalização é utilizada no sentido ideológico, na qual, estivesse o mundo inteiro a um processo de integração econômica sob a égide do neoliberalismo, caracterizado pelo predomínio dos interesses financeiros, pela desregulamentação dos mercados, pelas privatizações das empresas estatais e pelo abandono do Estado de Bem-Estar Social. Nesse contexto, o século XX chega ao o fim com a ideia de que a realidade está dada, e que cabe agora, tentar melhorar as condições que precisem ser melhoradas. E a história a partir de então é de um mundo que perde suas referenciais e desliza para a instabilidade. Acontece uma dupla mudança na classe trabalhadora, por um lado verifica-se uma transformação quantitativa dos trabalhadores inseridos em determinados ramos ou setores da produção, percebese uma importante diminuição no número de trabalhadores contratados no setor industrial e uma ampliação quantitativa do emprego do setor terciário, mas, por outro, constatam-se alterações qualitativas na forma de realizar o trabalho relacionado com a desespecialização dos operários e a criação de trabalhadores polifuncionais, conjuntamente com uma requalificação especializada. (MOTTA, 2008). Frente a isto, o mercado de trabalho apresenta tendências na classe trabalhadora polarizada, onde pequena parcela possui trabalho estável e a grande maioria em trabalhos precários e a modernização no processo de trabalho implica neste contexto, na redução da demanda de trabalhadores e expulsão da mão de obra do mercado de trabalho. Nesta dinâmica, a exclusão dos trabalhadores do trabalho socialmente protegido gera a sua inclusão na economia de insegura e sem proteção. Os trabalhadores se percebem agora em torno de um vasto número de estatutos trabalhistas e reprodutivos de forma precarizados e desprotegidos. Dessa maneira, surge neste contexto, o que Iamamoto chama de "uma nova pobreza", onde uma ampla gama da população não tem acesso ao mercado de trabalho, e com isso, percebe-se o agravante dessa situação no constante 36 desemprego, no aumento da violência, conflitos por terra e nos trabalhos insalubres e clandestinos. (IAMAMOTO, 2007). Assim, a promessa do livre comércio e o desenvolvimento econômico como profícuo á diminuição das desigualdades sociais do cerne neoliberal, se mostra uma falácia, pois o que se manifesta é um aumento cada vez mais elevado da riqueza dos mais ricos e uma diminuição drástica das condições de vida dos mais pobres. Diante desse contexto, Bauman (1999, p.81) acrescenta que: “O mundo proposto é o da fome, pobreza e miséria absoluta, onde 800 milhões de pessoas estão em condições de subnutridas e 4 milhões de pessoas vivendo na miséria”. A pobreza nesse sentido, leva ao processo de degradação social que nega as condições mínimas de vida humana. A soma do resultado fome= miséria, derivam outros fatores que enfraquecem os laços sociais e passam a destruir também, os laços afetivos e familiares. Seguindo essa lógica, na sociedade moderna, tudo é volátil; as relações humanas não são mais tangíveis e a vida em conjunto, familiar, de casais, de grupos de amigos, de afinidades políticas e assim por diante, perde consistência e estabilidade. Medo, exclusão social, produção do mal: são estes os elementos que Bauman (2001) considera como “os efeitos colaterais” da modernidade líquida marcada pela globalização. Desse modo, a preferência ao econômico em detrimento do social, tem levado a uma banalização do humano, além da radicalização das necessidades sociais. Ou seja, o aumento do desemprego, a instabilidade do trabalho, perda dos direitos trabalhistas, aumento da pobreza, empobrecimento da classe média, privatização dos serviços sociais, as novas configurações familiares (aumento da monoparentalidade feminina), por exemplo, colocam muitos em situação de extrema vulnerabilidade social de pobreza, exclusão e subalternidade. Nessa perspectiva, a realidade é que os sujeitos da desigualdade encontram-se, em suas vidas cotidianas, carentes de conexão viva com a genericidade humana. Ser genérico, em termos marxianos, entendido como ser consciente, que vive a efetividade humana, ou seja, ser que se relaciona consigo mesmo como gênero vivo, universal e livre. (ANTUNES, 1995). Isso porque, sob a ótica do capital, o indivíduo é atravessado pelas determinações classistas que 37 obstaculizam e rompem com a ideia de uma individualidade plena, fundada no bem comum e na satisfação das necessidades humanas. Vale enfatizar que a substância da desigualdade, do consumismo, do individualismo e da mercantilização desenfreada, não está no aprimoramento da técnica, da ciência nem das inovações tecnológicas em si, mas no conjunto das relações sociais que as dirigem, que comandam o trabalho, impedindo os indivíduos de alcançarem as condições sócio-históricas que possibilitem torná-los sujeitos do seu espaço-tempo. Faz-se necessário, portanto, forjar processos que promovam o resurgimento de sujeitos que coloque a ciência, a técnica e todo o desenvolvimento das forças produtivas a serviço da realização das necessidades individuais e coletivas, para, assim, verdadeiramente, se apropriarem com vida e sentido de socialização do patrimônio sociocultural da humanidade. (Ibidem, 1995). Nesse sentido, cresce as desigualdades; há o aumento das lutas cotidianas por um trabalho digno, por acesso a direitos, e serviços no atendimento às necessidades básicas dos cidadãos, além de questionamentos das diferenças étnico-raciais, gênero, diversidade sexual e religiosa. Todas essas questões dão origem aos chamados “novos sujeitos”, “novos usuários” e “novas demandas”. Diante da origem das questões supracitadas, algumas indagações emergem. Haveria o surgimento de uma “nova” “questão social”? Seria nova por romper com o período capitalista industrial e por se metamorfosear? Castel (1998) coloca que a “questão social” foi se metamorfoseando e sendo transformada com o passar do tempo, resultado da reestruturação internacional do capitalismo. Logo, isso gerou um grande número de problemas como o desemprego estrutural de longa duração, que marcam uma ruptura na trajetória do salariado e servem de fundamento para o que o autor coloca como a existência de uma “nova questão social”. Esse discurso gerou um acirrado debate no meio acadêmico ao redor do mundo, inclusive no Brasil a partir da década de 1990; quando se deu visibilidade e importância à temática entre os acadêmicos das ciências sociais, em especial entre os profissionais do Serviço Social, que tem a “questão social” como fundamento e justificação do trabalho profissional especializado. Contudo, autores como Iamamoto (2008), Netto (2001), Yazbek (2001), Potyara (2001) e Pastorini (2007), são categóricos em afirmar que não há uma nova 38 “questão social”, já que se mantêm os traços essenciais da “questão social”, surgidos no século XIX, cujo fundamento é o trabalho. Eles não foram superados e permanecem até os dias atuais, só que em sua forma mais radical e alienada: na banalização do humano e invisibilidade do trabalho social. Pois, a “questão social” assume expressões particulares dependendo das peculiaridades de cada formação social e da forma de inserção de cada país na ordem capitalista. Diante disto, sem pretensão de esgotar o debate, o que se percebe é que temos um desafio à enfrentar na conjuntura atual, o de identificar as expressões emergentes da questão social e sua relação com as modalidades de exploração e expropriação dos direitos dos cidadãos. Trata-se, portanto, de discernir as armadilhas do capital para delas se diferenciar, de romper com visões economicistas e politicistas no trato às expressões da questão social e de consolidar estudos e pesquisas que possibilitem o conhecimento profundo da realidade brasileira. Para melhor compreendermos as repercussões das políticas neoliberais que usam como discurso uma assombrosa atribuição de modernidade ao que existe de mais conservador e atrasado na sociedade brasileira: fazer do interesse privado a medida de todas as coisas, obstruindo a esfera pública, anulando a dimensão ética da vida social pela a recusa das responsabilidades e obrigações do Estado. A desigualdade que se encontra no processo de desenvolvimento do país tem sido uma das particularidades históricas recriando aspectos persistentes e, ao mesmo tempo, transformando-a no contexto da globalização. Dessa maneira, considerando a forma multifacetada da questão social, a seguir, trataremos sobre a gravidez na adolescência como uma de suas expressões manifestadas na contemporaneidade, enfatizando os aspectos psicossociais a ela relacionados. 3.2 Gravidez na Adolescência como uma das Expressões da Questão Social A gravidez na adolescência como já foi discutido em um capitulo anterior não é um fato novo. Novo é seu conceito na contemporaneidade que se manifesta devido aos vários fatores sociais que o envolvem como, por exemplo, fatores: 39 econômicos, psicológicos, sociais e educacionais. Desse modo, sua compreensão exige uma visão ampla, que leve em consideração também os diferentes aspectos culturais de cada segmento que interagem em nossa sociedade. (MENEZES, 1996 ). Nesse sentido, ao nível de uma dimensão mais ampliada, onde os contextos individuais e relacionais se inserem, convém assinalar as condições sociais e econômicas da adolescente grávida. Durante a construção deste trabalho, temáticas nos indicaram que as condições sociais de um estatuto socioeconômico baixo, é uma das variantes antecedentes da gravidez na adolescência e que a pobreza se apresentaria como o melhor preditor deste fenômeno. A esse respeito Pantoja, afirma: A gravidez na adolescência resultaria da pobreza e levaria a um esforço da mesma, uma vez que a maioria das jovens abandonará os estudos e terá dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Uma menina que nasce e cresce em uma periferia de baixa renda, com poucas perspectivas de estudo, muitas vezes filha de mãe solteira, com pouco ou nenhum exemplo próximo de ascensão econômico-cultural, vislumbra na maternidade, tão valorizada nas classes de baixa renda, uma alternativa para sua vida. (2003, p.21) Nesse sentido, a gravidez na adolescência nas classes baixas, representaria uma possibilidade de status social, como tentativa de um reconhecimento social em resposta à situação de pobreza. Permanecendo nessa mesma linha de raciocínio, o mesmo autor ressalta ainda, que, “filhas de mães adolescentes com historia de gravidez na adolescência tem maior probabilidade de serem também elas, mães adolescentes, conforme perspectiva social”. (PANTOJA, 2003, p.22). No que tange sua repercussão no âmbito da saúde, a gravidez na adolescência se torna um grande problema de saúde pública devido os riscos que podem se manifestar na adolescente e no recém-nascido (RN). Uma situação de gravidez da adolescência pode acarretar á jovem riscos elevados de Doença Hipertensiva na Gravidez (DHEG), anemia, maior números de abortos, parto prematuro e maior morbi-mortalidade no parto e no puerpério. O RN tem risco aumentado de nascer com baixo peso, de sofrer internações frequentes, assim como ter morte subida nos primeiros seis meses de vida. (LOPES, 2008). Nessa perspectiva, Figueiredo destaca que: 40 : A maternidade na adolescência pode resultar em consequências que são globalmente avaliadas como negativas com potencial de dano futuro, nas quais se situam a diversos níveis: social, educacional, profissional, econômico, físico, saúde e ainda psicológico. (FIGUEIREDO, 2001, p.22) Dessa maneira, pelas consequências avaliadas pelo fenômeno tidas como negativas e por sua relevância na vida dessas adolescentes, é elevada a frequência com que autores verificam em trabalhos empíricos altas taxas de mães adolescentes, sob um contexto de pobreza e precariedade de um ciclo que se auto perpetua. Vale enfatizar ainda referente a este fenômeno, a relevância da reação familiar. Que, conforme Petrini (2005) o impacto nas reações familiares é tão intenso que deveríamos pensar em termos de família grávida, e não somente em termos de mulher grávida. Nesse sentido, discutir o tema gravidez na adolescência é abordar obrigatoriamente o tema família em toda sua amplitude. A importância da família é decorrente de sua inegável missão humana e função social, onde esta se torna um sujeito educativo, econômico, associativo e político, como também base de apoio de todos seus membros. Destaca ainda o mesmo autor: A família é considerada uns dos maiores recursos de sustentação para a pessoa e para a sociedade, sendo escolhida como parceria da administração pública e para realização de políticas sociais. Além disso, sondagens de opinião revelam que os jovens brasileiros a julgam como valor essencial. (Ibidem, p. 9-10). É fato que, com a modernidade a liquidez das relações sociais vem crescente se ampliando e, com isso, novas configurações vêm se manifestando. O moderno trouxe consigo, portanto a distância, o estranhamento, a individualidade, a incumplicidade e a instabilidade, tudo que era sólido foi se descompondo. (BAUMAN, 2008). Como efeito do novo, estamos vivenciando por exemplo, a crescente falta de tempo por parte dos pais nas funções educativas e afetivas para com seus filhos, que se amplia à medida que se aumenta a exigência do esforço constante de sobrevivência humana cobrado pelo mercado. Isto favorece a permanência dos 41 filhos em um estado de entrega a si próprio. O resultado disto é o distanciamento e o estranhamento entre as partes que atinge a relação familiar. Nessa perspectiva e complementando esta análise, o âmbito familiar é visto como um fator de extrema importância, uma vez que o relacionamento é influenciado por valores e atitudes que são transmitidos e construídos nessas relações. No que tange às atitudes e aos valores, a gravidez na adolescência, pode em algumas situações vezes, desencadear transtornos familiares, principalmente no aspecto emocional. Os pais, geralmente, se sentem decepcionados, traídos ou culpados. Esses sentimentos vêm a reboque de uma postura que se manifesta como incredulidade, pois os pais observam que os adolescentes têm comportamentos, relacionamentos mais ousados e que a gravidez na juventude não é algo esporádico, todavia, acreditam que isso aconteça somente aos filhos dos outros, não com os seus. (OLIVEIRA, 1998). Nesse sentido, os pais são obrigados a reavaliar suas condutas e posturas frente ao mundo com mudanças que nele ocorrem. Tudo isso leva a um grande sofrimento, pois a estrutura e os valores que julgavam sólidos desmoronam, ao mesmo passo em que a decepção e a preocupação se manifestam. O diagnóstico da gravidez durante a adolescência, em muitas situações, se apresenta ainda mais como uma despesa para a família, devido ao fato que serão os pais dos adolescentes que irão prover o sustento da criança que está por vir. Grande parte das mães adolescentes quer coabite ou não, com seu companheiro, continua majoritariamente a viver com seus pais ou familiares, sendo mais raras as situações de emancipação imediata do casal. (PINHEIRO, 2000). Ainda sobre o aspecto econômico, traremos abaixo, algumas falas das adolescentes referentes a esta temática: Na minha casa mora eu, minha mãe, meus três irmãos, só quem trabalha é minha mãe fazendo faxina e dois irmão pastorando carro nas ruas o meu outro irmão é pequeno aí juntando tudo acho que é mais ou menos uns oitocentos reais. (Entrevistada nº2) Moro com minha mãe e meu pai, o pai do meu filho só quis fazer nunca mais olhou para mim. Graças a Deus tenho meus pais que me dão muita força. (Entrevistada nº 7) 42 Eu continuo morando lá na casa do meu pai e minha mãe, ainda vivo às custas dos meus pais que é o único que está trabalhando no momento como servente de pedreiro acho que ele ganha uns seiscentos reais, mais vou me mudar para a casa da minha sogra antes do meu filho nascer. (Entrevistada nº 3) Eu moro com uma tia minha só enquanto meu namorado consegue um trabalho para a gente alugar uma casa. Porque na casa dele não dá para morar a mãe dele me odeia e eu odeio ela. Eu vivo do salário que minha tia ganha da pensão do marido dela que morreu eu acho que é setecentos reais. (Entrevistada nº 8) Os discursos acima evidenciam que frente à gravidez as adolescentes entrevistadas puderam contar com o apoio familiar, especialmente dos pais. Este apoio é bastante significativo, pois estas geralmente mantém um relacionamento instável com o pai do bebê, não podendo dessa forma contar com o apoio dele. Com menos frequência foi citado um relacionamento amoroso estável. Assim, para o grupo estudado, a gravidez acarretou maior dependência de seus pais, o que de certa forma frustra o desejo comum de independência e liberdade, visto que as maiores partes das entrevistadas residiam com seus ou familiar. Outro aspecto que merece ser abordado é que o diagnóstico da gravidez na adolescência pode oscilar ainda da repressão ao acolhimento familiar. Com a repressão a jovem grávida se julga abandonada, com diminuição da autoestima, como se estivesse em um caminho sem destino e sem soluções e com isso patologias de âmbitos psicológicos podem se desenvolver e agravar mais ainda os aspectos psicossociais durante esse contexto. (PETRINI, 2005). Para uma melhor compreensão sobre a análise acima os depoimentos a seguir retratam a reação familiar após a descoberta da gravidez das adolescentes. Quando minha mãe soube que eu tava grávida me chamou de tudo quanto foi de nome, disse que tinha acabado com minha vida, que filho só dar despesa e mandou eu me virar com o pai d meu filho, pois ele já tinha três bocas para dar comida, eu chorei muito pensando no que ela me falou e fiquei pensando em tirar o nenê. Só que minha mãe tá me ajudando mesmo passando na minha cara todo o santo dia. (Entrevistada nº 1) Quando minha mãe soube que eu tava grávida chorou muito disse que não era o que ela pensava pra mim. Mais disse que não ia me abandonar e que eu podia chamar o pai do meu filho para morar lá em casa porque a onde mora e come cinco tem lugar para mais três. (Entrevistada nº 2) No começo quando soube que tava grávida meu pai queria me botar para fora de casa. Agora ele tá aceitando, mais não fala comigo. (Entrevistada nº 3) 43 Foi uma confusão minha mãe queria me dá uma surra e meu pai disse que depois que saísse da cadeia ia matar meu namorado se ele não assumisse o nenê. Só que graças a Deus minha mãe está me ajudando. (Entrevistada nº 4) Nesse sentido, cabe ainda destacar que foi possível observamos durante e após a gravidez, a ocorrência de episódios depressivos, influenciados por vários fatores, entre eles pelas condições existenciais e vivenciais nas quais se dá a gestação. A respeito dessa ocorrência Ballone (2008) em pesquisa realizada sobre essa temática confirma que o porcentual de incidência desse transtorno em parturientes adolescentes é de 23%, enquanto para pacientes adultas é de apenas 11,9%. Dados revelam também mais elevada à incidência de Depressão Pós-parto em pacientes que experimentam dificuldades adaptativas à gestação como, por exemplo, nos casos de gravidez não desejada, gravidez contrária à vontade do pai, situação civil irregular, gravidez repudiada por familiares, carência social e outros fatores capazes de desestabilizar emocionalmente a relação entre a paciente e sua gravidez. Complementando está análise, Pereira discorre: A depressão tem sido bastante estudada no caso da maternidade na adolescência, não só por ser uma ocorrência esperada devida sua prevalência ser maior em adolescentes que enfrentam situações de carências, mas, sobreduto por reconhecer o potencial adaptativo das jovens que engravidam diante do impacto de um evento ou processo sobre sua vida. (2009, p.31) Outra preocupação referente a este fenômeno gira em torno da fertilidade, pois, geralmente tem-se uma tendência maior que jovens que engravidaram na adolescência tenham um segundo filho ainda neste período. Essa probabilidade se manifesta [...] como sendo mais elevada quanto menor for à idade da mãe na altura do primeiro nascimento de seu filho. (WAISSMAN, 2006). No entanto, ao confrontarmos essa análise com os dados de nossa pesquisa de campo, foi possível constatar que apenas 03 das entrevistadas engravidaram pela segunda vez durante a adolescência. Desse modo, esse porcentual não nós permite apresentarmos com segurança a veracidade da probabilidade do estudo acima citado. Expusemos agora algumas das respostas, a saber: 44 Tenho um filho de dois anos, tive ele com 15 anos e agora engravidei desse.( Entrevistada nº 9) Já tenho um filho de um ano e agora vou ter mais esse. (Entrevistadanº3) Tenho um filho um de nove meses, me descuidei, amamentando e agora vou ter mais um. (Entrevistada nº 10) Por outro lado, a idade parece não ser o único elemento a ponderar ao averiguar o risco de repetição da gravidez precoce. Segundo os estudos de Bruno (2009), outros elementos colaboram com a repetição da gravidez nessa etapa, sendo estes fatores individuais e psicossociais, como as baixas habilitações escolares, competências cognitivas, ajustamento emocional consumo de substâncias, situação de violência e abuso físico e sexual. Ainda nesta mesma linha de raciocínio o autor (2009) supracitado destaca ainda, que a maternidade vai implicar para essas adolescentes, mudanças significativas nas suas atividades e estilo de vida, pois, está necessitará desempenhar determinadas tarefas e papeis, mesmo que não estejam preparadas do ponto de vista cognitivo, emocional, social e ao nível do desenvolvimento. Sua relação com pares e grupo de amigos irá traduz-se a partir da maternidade, em menor disponibilidade para atividades de lazer, o que pode acarretar maior insatisfação com a vida por parte dessas adolescentes com história de gravidez. Assim, todas essas implicações de eixo psicossocial na gravidez durante a adolescência pode desencadear na interrupção da gestação. Nesse caso, o aborto3 se manifesta como a única saída para as adolescentes, e estas arriscam suas vidas quando decidem interromper a gravidez, utilizando-se de quaisquer recursos que tenham a mão, sendo muitas vezes esta decisão solitária e clandestina. Conforme dados da OMS (2006), o medo da gravidez leva muitas adolescentes à solução do aborto clandestino. São 04 milhões de abortos praticados no Brasil por ano, 01 milhão ocorrem entre adolescentes, muitas delas ficam estéreis e cerca de 20% morreram em decorrência do aborto. 3 O aborto consiste na interrupção da gravidez que se conceitua como sendo espontâneo ou provocado. Quando espontâneo, [...] ele acontece de forma involuntária, causado por diversos motivos. Quando provocado se constitui por ser uma escolha da mulher pela interrupção da gravidez. No Brasil esse aborto provocado é tipicamente constituído como crime como a vida humana, conforme o código penal. (DINIZ, 2007, p. 24) 45 De acordo o código penal brasileiro, são estabelecidas somente três situações em que a prática do aborto é permitida, a primeira é quando a gestação coloca a vida da mulher em risco, a segunda situação é quando a gravidez é resultado de estupro e por ultimo quando o feto for anencéfalo, ou seja quando este feto possuir má formação do cérebro. Uma pesquisa do Ministério da Saúde (2012) aponta que a ilegalidade do aborto não freia à prática, pois fosse contrário, esse não seria a quinta principal causa de mortalidade materna no país. Em suma, a discussão sobre aborto carrega sobre si um emaranhado de opiniões e posições, nas quais não serão neste momento aprofundadas. No que tange à vida escolar das adolescentes com história de gravidez, autores como Fávero e Mello (1997) realizaram uma pesquisa com intuito de verificar a relação entre a gravidez na adolescência e a vida escolar. Nessa pesquisa foram realizaram entrevistas semi-estruturadas com dez mães adolescentes, as quais lhes permitiram as conclusões que seguem: Os resultados sugerem que a difícil conciliação de papéis de ser mãe e ser estudante está relacionada com as concepções socioculturais sobre gênero e com a questão da identidade feminina. A interrupção ou não da vida escolar depende do apoio social. Desse modo, e como complemento da análise acima, exponho a seguir algumas falas das entrevistadas desse ensaio monográfico a respeito de sua vida escolar: Quando descobri minha gravidez parei de estudar porque tava enjoando muito, com muito sono, não prestava atenção na aula.( Entrevistada nº 01) Parei de estudar pra começar a trabalhar em uma casa de família para comprar o enxoval do meu nenê, pois o pai do meu filho ganha muito pouco. Aí eu ficava muito cansada pra estudar e trabalhar. (Entrevistada nº 03) No começo da minha gravidez eu vomitava demais, ai eu resolvi parar de estudar, para depois que o nenê nascer eu voltar estudar se eu consegui que alguém fique com o nenê. (Entrevistada nº 05) Resolvi parar os estudos porque acho que deveria me dedicar mais ao meu filho e com minha casa. (Entrevistada nº 07) Não tive animo para continuar estudar, dá é preguiça senti muito sono no começo, agora vou esperar eu ter o nenê. (Entrevistada nº 08) 46 Parei de estudar quando soube que tava grávida não sei nem porque, mais quando tiver meu filho vou voltar a estudar se Deus quiser. (Entrevistada nº10) Outro aspecto que merece ser abordado refere-se às questões de gênero, os quais se entrelaçam nessas discussões sobre gravidez na adolescência e que neste trabalho é compreendido como constitutivo das relações sociais com base nas diferenças percebidas entre os sexos e como forma primária de significação das relações de poder. Neste sentido, as relações de gênero são consideradas construções sociais nas quais as diferenças sexuais, biológicas e naturais são percebidas, apropriadas e transformadas em desigualdade. Sua concepção parte do principio de justificar ou naturalizar determinados comportamentos e atitudes sociais, entre eles a sexualidade, a maternidade e a paternidade. Em suma, por tudo aqui já debatido, as adolescentes com história de gravidez na adolescência enfrentam múltiplas variáveis de cunho psicossocial, nas quais conduzem a um período de ansiedade e insegurança devido às aquisições de competências de autodeterminação que exige a prática da maternidade. Essa prática força essas adolescentes envolvidas a amadurecerem antecipadamente e as obriga a abreviar uma etapa de sua vida para assumir uma fase adulta. E, em uma perspectiva de violação, tem sua função social trocada em um prazo de aproximadamente nove meses, para assimilarem e incorporarem esse novo papel. Diante disto, para que possamos compreender de que forma os direitos vêm se constituindo na sociedade, com implementações de inovações, propostas e programas, neste caso, as voltadas para a adolescência e especificamente para a gravidez na adolescência, faz se necessário o conhecimento de políticas do Estado na efetivação dos direitos dos adolescentes. 3.3 Políticas Públicas e direitos voltados aos Adolescentes. As sequelas da proposta neoliberal no âmbito das políticas sociais são claras, como foi colocado no capítulo anterior, tornando-se “políticas cada vez mais focalizadas, mais descentralizadas, mais privatizadas" (IAMAMOTO, 1999, p.36). A proposta de redução do Estado incide diretamente nos direitos sociais dos cidadãos, limitando-se à condição de consumidor. A Carta Constitucional de 47 1988, fruto do protagonismo da sociedade civil na década de 80, expressa como direito social básico a saúde, a educação, entre outros, sendo estes direitos de todos os cidadãos e dever do Estado à garantia do acesso aos mesmos. Partindo desse pressuposto legal é que discutiremos à partir de agora sobre as referidas políticas voltadas ao publico adolescente, buscando fazer os aportes com a sexualidade e a gravidez na adolescência. Os pressupostos que constituem as bases das políticas sociais destinadas à população jovem vêm mudando de forma significativa nas últimas décadas. Em particular, os anos 1980 e 1990 apresentaram condições favoráveis a mudanças expressivas de enfoque e ação. A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), bem como a participação de diferentes setores organizados da sociedade em defesa dos direitos desse publico, constitui parte importante destas mudanças, tornadas possíveis dentro do contexto de redemocratização do país. As mudanças no enfoque e ação das políticas sociais teve sua premissa a partir da concretização dos direitos universais, comuns a todos os seres humanos promulgados em 1948. A promulgação dos direitos humanos universais subsidiou a necessidade de medidas especificas dirigida a alguns segmentos mais vulneráveis com violações de seus direitos para a garantia da igualdade. Nesse sentido, para atender demandas especificas criou-se um sistema especial de proteção que destacou alguns sujeitos, como: negros, mulheres, crianças, adolescentes, idosos e portadores de deficiência. Essa medida materializou as diversas convenções firmadas pelas Nações Unidas, obrigando os Estados a implementarem políticas publicas voltadas as diferenças e vulnerabilidades dos sujeitos nos diversos contextos sociais, com vista a redução das desigualdades e á promoção da garantia dos direitos. Sobretudo, aqueles que têm maior dificuldade ao acesso devido á sua condição social. (BRASIL, 2006). Dentro desse cenário, principalmente após a redemocratização do país, a gestão da questão da infância e da adolescência deveria a partir de então ser norteada pela descentralização político-administrativa, pela participação popular, por meio de suas organizações, nas formulações de políticas e no controle das ações nos níveis: municipal, estadual e federal. Em acréscimo ainda esse publico deveriam ser acolhido pelo Conselho Municipal dos direitos da criança e do 48 adolescente que formula e controla a efetivação dos programas definidos, a partir das políticas publicas para este segmento instituído por lei municipal e pelo Conselho Tutelar de Direitos, órgão que aplica as medidas de proteção. (LOPES, SILVA, MALFITANO, 2006). Nessa perspectiva, o ano de 1990 propõe novos paradigmas de atenção aos segmentos da infância e da adolescência, os quais tem como base preceitos de garantia de direitos preconizados na Convenção Internacional dos Direitos da Criança, da qual o Brasil é signatário. Nessa convenção, estipularam-se normas que visavam à proteção da criança com vistas ao seu desenvolvimento integral, conclamando a família, o Estado e a sociedade a proverem condições adequadas ao desenvolvimento de todas as crianças e adolescentes, sem qualquer tipo de distinção ou discriminação. Com esse novo direcionamento político em defesa aos direitos das crianças e dos adolescentes, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é promulgado rompendo com o regime anterior, o Código dos Menores de 1979, que estigmatizava as crianças pobres como menores e delinquentes por meio de sua situação irregular. Nesse sentido, com o ECA, esse tratamento se modifica, e todas as crianças e adolescentes passam a ser tratados como sujeitos de direitos, nas diversas condições sociais e individuais. Esse novo direcionamento dá cumprimento aos compromissos internacionais assumidos na Convenção Nacional dos Direitos da Criança das Nações Unidas e regulamenta o artigo nº 227 da Constituição Federal de 1988. A esse respeito Malfitano e Adorno acrescentam: O ECA abandona o termo menor substituindo-o por criança e adolescente, pretendo ser uma lei para toda e qualquer criança e adolescente brasileiro, independente da situação de infração ou abandono, buscando uma mudança cultural que retira da criança pobre o aspecto identificador daquele que requer ações do Estado e pauta o direito de todos enquanto elemento central para o debate. (2006, p.16) Desse modo, marcos ético-legais internacionais e nacionais foram extremamente significativos para a implementação de políticas que de fato efetivassem os direitos desse público. Permanecendo no percurso histórico sob o âmbito das políticas sociais voltadas para o publico adolescente, cabe ressaltar o Programa de Assistência 49 Integral à Saúde da Mulher - PAISM, que foi elaborado pelo Ministério da Saúde em 1983, em meio a forças antagônicas. A política de atendimento materno infantil até então vigente foi reelaborada, incorporando as reivindicações do movimento feminista e da sociedade civil como um todo. O PAISM, mais que um programa, é o conjunto de diretrizes para reorganização de assistência à mulher, tendo em vista o dramático quadro epidemiológico da população feminina. A proposta de prática assistencial traçada pelo programa estava voltada para atender a saúde da mulher de forma integral (COSTA, 1992). A estratégia política do governo brasileiro de incluir as atividades de contracepção no PAISM atendia, contraditoriamente, às demandas das mulheres e dos movimentos sociais, assim como para administrar e manter sob controle pressões externas e internas presentes no momento em que o programa foi lançado. O objetivo do PAISM, conforme MINISTÉRIO DA SAÚDE (1984) é Oferecer atividades de assistência integral clínico-ginecológica e educativa, voltadas para o aprimoramento do controle pré-natal, do parto e do puerpério; a abordagem dos problemas presentes desde a adolescência até a terceira idade; o controle de doenças transmitidas sexualmente, do câncer cérvico-uterino e mamário, e a assistência para a concepção e contracepção. Como pode ser observado nas bases dessa política de saúde as práticas educativas ganham destaque tendo em vista a valorização da necessidade da mulher se conhecer e assim contribuir mais no auto-cuidado e na reapropriação do corpo. Além disso, os movimentos de mulheres insistiam que o PAISM incluísse ações definidas de educação sexual e em saúde de ele ser usado como controle populacional (COSTA 1992). Apesar de reconhecermos os méritos da luta do movimento de mulheres pelo PAISM no Brasil, assim como a história dos direitos reprodutivos que ressaltam a necessidade de dar visibilidade e legitimidade à defesa da maternidade como opção, não podemos suprimir do debate, a lacuna existente entre o avanço nas definições formais de "direitos reprodutivos" e "cidadania" e a realidade reprodutiva da maciça maioria das mulheres. 50 Giffin (2001) sugere que observemos uma estreita relação entre os modelos econômicos que concentram riquezas e que sustentam esses programas e os congressos internacionais que consagram os "avanços" dos direitos reprodutivos. A referida autora ainda adverte que a ideologia que desponta internacionalmente faz uma estreita relação entre o controle populacional com a diminuição da pobreza, entretanto, comprovadamente esta tese com tendências eugenistas e neomalthusianas caem por terra com agravamento das condições de vida da maioria da população. Apesar de todas as tensões e contradições existentes no PAISM não podemos deixar de reconhecer a sua importância ao propor a perspectiva de integralidade na assistência às mulheres. Nessa perspectiva e complementando está análise, no âmbito da saúde do contexto nacional e levando em consideração os devidos processos históricos e sociais, a disposição constitucional de 1988 também estabelece que a saúde seja direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos com acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Com isso, é implementado o Sistema Único de Saúde (SUS), que possibilita o acesso à saúde para todos os brasileiros, sem distinção. (BRASIL, 2005). Nesse direcionamento é criado o PROSAD – Programa Saúde do Adolescente, pela Portaria do Ministério da Saúde nº 980/ GM de 21/12/1989 que se fundamenta, numa Política de Promoção de Saúde, de identificação de grupos de riscos, detecção precoce dos agravos com o tratamento adequado e reabilitação, respeitadas as diretrizes do Sistema Único de Saúde, garantidas pela Constituição Brasileira de 1988. O PROSAD é dirigido a todos os jovens entre 10 e 19 anos e é caracterizado pela integralidade das ações e pelo enfoque educativo preventivo, com o objetivo de promover a saúde integral do adolescente, favorecendo o processo geral de crescimento e desenvolvimento, buscando reduzir a morbimortalidade e os desajustes individuais e sociais; normatizar as ações consideradas nas áreas prioritárias; estimular e apoiar a implantação e/ou implementação dos Programas Estaduais e Municipais, na perspectiva de assegurar ao adolescente um 51 atendimento adequado às suas características, respeitando as particularidades regionais e a realidade local; promover e apoiar estudos e pesquisas multicêntricas relativas à adolescência; contribuir com as atividades intra e interinstitucional, nos âmbitos governamentais, visando a formulação de uma política nacional para a adolescência e juventude, a ser desenvolvida nos níveis Federal, Estadual e Municipal. O acesso a esse programa se realizaria prioritariamente através das unidades primárias de saúde, onde deverá haver recursos humanos preparados para esse fim: os profissionais de saúde identificados deverão ser sensibilizados e/ou capacitados, visando à formação de equipes multiprofissionais voltadas para atenção integral do adolescente, assim como essas equipes deverão ser capacitadas e supervisionadas periodicamente. Além das atividades estratégicas colocadas anteriormente o Ministério da Saúde ressalta ainda a necessidade de se promover ações com interfaces com as áreas de educação, cultura, esporte, lazer, trabalho e justiça. As ações educativas no PROSAD ganham relevância a fim de permitir que os adolescentes se reconheçam a si próprio como “protagonistas", observando o contexto familiar, comunitário e cultural, assim como permitir aos pais, educadores e sociedade o conhecimento da adolescência. Já no âmbito da assistência social, o maior avanço, no contexto brasileiro, foi a Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, que regulamenta o direito constitucional no art.nº 203 a assistência social do Estado, independente de contribuição, e garante a proteção especial a adolescência e o amparo aos adolescentes carentes. A LOAS estabeleceu a criação do Sistema Descentralizado e Participativo da assistência social, do qual emergiram ações políticas e programas de assistência social. O intuito foi de fortalecer e ampliar os benefícios assistenciais e políticas compensatórias, como estratégica para redução das vulnerabilidades e agravos de saúde dos jovens. No contexto da educação brasileira, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB, surge para regulamentar o direito a educação também como direito publico a todo cidadão. Nessa legislação, a educação sexual é prevista como um dos temas transversais a serem incluídos nos Parâmetros Curriculares 52 Nacionais - PCNs, em todas as áreas do conhecimento, desde ensino fundamental até o médio. Nos PCNs, ao tratar do tema “orientação sexual”, defini-se a sexualidade como algo inerente a vida e a saúde, que se expressa desde cedo no ser humano, colocando a necessidade do tema a ser discutido e orientado no cotidiano da escola. Nessa perspectiva dos direitos sexuais e reprodutivos em 2003 é lançado o Programa Saúde e Prevenção nas escolas. Este Programa resultou da parceria entre Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Unesco e Unicef, visando a redução da vulnerabilidade dos adolescentes e jovens às doenças sexualmente transmissíveis – DST, e a gravidez não planejada, com ênfase na promoção da saúde,por meio de ações educativas de prevenção e ampliação desse publico ao preservativo masculino. (BRASIL, 2007). O programa supracitado também visou reforçar a qualificação e a formação continuada de professores do ensino fundamental e médio nestes temas voltados para a adolescência, prevendo a disponibilização de preservativos masculinos a adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, matriculados no ensino fundamental e médio da rede pública. Nessa direção, também se destaca o Programa Saúde na Escola -PSE, instituído pelo Decreto Presidencial nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007, como proposição de uma política intersetorial entre os Ministérios da Saúde e da Educação, na perspectiva da atenção integral a saúde de crianças, adolescente e jovens do ensino básico publico (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação profissional e tecnológica e na Educação de Jovens e Adultos EJA, no âmbito das escolas e/ou das unidades básicas de saúde, realizadas pelas as Equipes de Saúde da Família. O PSE visou à integração das políticas setoriais, em que a política de educação em saúde articulasse a saúde e a educação como parte de uma formação ampla para a cidadania e a efetivação dos direitos humanos; permitindo a progressiva ampliação das ações executadas pelos sistemas de educação e saúde, com vista a atenção integral a saúde de crianças, adolescentes e jovens e a educação em saúde; visando promover a articulação de saberes, a participação de alunos, pais, comunidade escolar e sociedade em geral na construção e controle social dessa política. 53 No que tange ao contexto da gravidez na adolescência, o Estado regulamentou a Lei nº 6.202/75 que estabelece a gestante estudantil o direito a receber o conteúdo das matérias escolares em sua residência, a partir do oitavo mês de gestação e durante os três meses após o parto, sendo que este tempo pode vir a ser prorrogado, dependendo da prescrição médica. As avaliações serão realizadas em seu domicilio, e o aproveitamento pode ser avaliado por meio de trabalhos realizados também em sua residência. Este direito precisa ser conhecido, divulgado e cumprido pelas as instituições escolares brasileiras. O documento “Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos: uma prioridade de governo”, lançado em 2005, apresenta as diretrizes do governo para garantir os direitos de homens e mulheres, adultos e adolescentes em relação à saúde sexual e à saúde reprodutiva, focando principalmente o planejamento familiar. A atenção à saúde sexual e à saúde reprodutiva de adolescentes e jovens foi uma das prioridades proposta por este documento, para o período de 2005 à 2007. Esta prioridade se consolida por meio da articulação entre diversas ações, dentre as quais, a ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS; a elaboração de manuais técnicos para profissionais da saúde da atenção básica e cartilha educativa sobre atenção integral á saúde adolescentes e jovens. (BRASIL, 2009). Nessa perspectiva e complementando está análise, no ano de 2009, o Ministério da Saúde cria a Caderneta de Saúde do Adolescente (CSA) com o objetivo de monitorar a saúde da população entre 10 e 19 anos e facilitar as ações educativas voltadas para este segmento. A implantação da caderneta ocorreu em etapas e priorizou, no início, os municípios inseridos no Programa Saúde nas Escolas, já que é um instrumento para a saúde e educação dos adolescentes. Há duas guias do material, sendo uma voltada para o público feminino e outra para o masculino, com dicas e temas de interesses variados. Uma das questões abordadas são os direitos e deveres do jovem com incentivo à cidadania. A caderneta traz ainda, aspectos em relação ao autocuidado, nas mais variadas áreas como odontologia, higiene pessoal e doenças sexualmente transmissíveis. Há ênfase na educação sexual, com o objetivo de orientar os jovens sobre as dúvidas mais frequentes e o modo correto de prevenir uma gravidez indesejável assim como as DSTs. 54 Ainda em relação à Caderneta de Saúde do Adolescente, o crescimento, desenvolvimento e a vacinação também recebem especial atenção, mostrando que esses cuidados não devem ser esquecidos na adolescência. Os assuntos são descritos de forma lúdica e linguagem acessível, favorecendo a compreensão não só pela equipe de saúde como, principalmente, pelo jovem e sua família. Contudo, essas análises não podem nos deixar esquecer que apesar dessas transformações positivas e progressistas no escopo legal das políticas publicas na construção e efetivação de novas diretrizes, projetos e programas, reconhecendo a necessidade de atuação junto está parcela da população, ainda verificamos dificuldades para aplicar e interpretar adequadamente a legislação especifica, em especial quando se trata da sexualidade e reprodução na adolescência. Não obstante, torna-se possível afirmar que o fato das dificuldades em torno da interpretação e aplicabilidade da legislação especifica se inicie a partir tanto dos instrumentos legais nacionais quanto dos documentos internacionais que ainda enfatizam os aspectos patológicos relacionados à sexualidade e à reprodução, se omitindo expressivamente aos aspectos positivos do exercício da sexualidade e reprodução nesta fase inerte da vida humana. Cabe ainda ressaltar, que hoje após mais de 20 anos decorridos da aprovação do ECA ainda há muito o que fazer, conforme destaca Fonseca e Cardarello: O fato de o Brasil ter “altos ideais para uma sociedade ideal” sem que se concretizem os caminhos para atingir os princípios promulgados pelas leis de defesa dos direitos, contextualiza a premissa que os direitos humanos em sua forma abstrata pouco significam. (1999,p.84) : Essa forma abstrata referente à aplicabilidade dos direitos no Brasil, não poderia ser de outra forma, posto a elevadíssima concentração de renda vigente no país e, consequentemente, a desigualdade e a miséria continuam a afetar perversamente a vida de todos os brasileiros, em especial, a da maioria de nossas crianças, adolescentes e jovens. Dessa maneira é interessante refletirmos sobre a forma como são desenvolvidas as políticas e ações nas diferentes áreas, tais como: a saúde, assistência social, educação, cultura e justiça, questionando seus limites, sua 55 eficiência e suas metodologias, se de fato essas intervenções concretizam á promoção dos direitos dos adolescentes. Para tanto, para que possamos compreender tudo o que até aqui viemos debatendo em face ao fenômeno da gravidez na adolescência, no próximo capitulo, iremos expor o percurso metodológico utilizado para a concretização dessa pesquisa em torno das percepções e as narrativas das adolescentes que vivenciam a gravidez. 56 4. PERCEPÇÃO E NARRATIVAS DAS ADOLESCENTES GRÁVIDAS 4.1 Perfil das Entrevistadas Com o intuito de visualizamos cada sujeito dessa pesquisa, apresentaremos a seguir o perfil de cada entrevistada: Entrevistada 1: 15 anos de idade, cor branca, solteira, no 6º mês da gestação, mora com os pais, parou os estudos quando descobriu que estava grávida, relata pretensão para continuá-los, teve sua menarca aos 13 anos, sua primeira relação sexual aos 14 anos, sua gravidez aconteceu de forma casual, relata nunca ter tido liberdade para estabelecer conversa com os pais sobre sexo. Entrevistada 2: 16 anos de idade, cor negra, solteira, no 6º mês da gestação, mora com a mãe e mais três irmãos, estudou todo o ensino fundamental, não continuou devido aos sintomas que manifestou durante a gravidez, relata pretensão para continuá-los, teve sua menarca aos 14 anos, sua primeira relação sexual foi aos 14 anos, sua gravidez foi desejada, relata ter certa liberdade para estabelecer conversa sobre sexo com sua mãe. Entrevistada 3: 17 anos de idade, cor parda, solteira, no 4º mês de gestação, mora com os pais e mais dois irmãos, já tem um filho de um ano que mora com o pai, preferiu parar de estudar para depois continuá-los, teve sua menarca aos 14 anos, sua primeira relação aos 15 anos, sua gravidez foi casual, relata não ter liberdade para estabelecer conversa sobre sexo com os pais. Entrevistada 4: 15 anos de idade, cor negra, solteira, no 6º da gestação, mora com a mãe e mais três irmãos, seu pai encontra-se detento, parou de estudar para continuar depois da gestação, teve sua menarca aos 12 anos, sua primeira relação sexual aos 14 anos, sua gravidez foi casual, relata nunca ter tido liberdade para estabelecer conversa sobre sexo com seus pais. Entrevistada 5: 17 anos de idade, cor negra, no 6º mês da gestação, mora com os pais, dois irmãos e o namorado, parou de estudar devido a gravidez, diz pretender continuá-los, teve sua menarca aos 15 anos, sua primeira relação aos 15 anos, sua gravidez foi desejada, relata nunca ter tido liberdade para estabelecer conversa sobre sexo com os pais. 57 Entrevistada 6: 17 anos de idade, cor branca, no 5º mês de gestação, mora com o pai do seu filho, parou de estudar porque o pai da criança exigiu, diz pretender continuá-los e que vai convencê-lo a permitir, teve sua menarca aos 15 anos, sua primeira relação sexual 16 anos, sua gravidez foi desejada, relata nunca ter tido liberdade para estabelecer conversa sobre sexo com seus pais. Entrevistada 7: 15 anos de idade, cor negra, no 6º mês de gestação, mora com os pais e dois irmãos, parou de estudar por conta dos sintomas da gravidez, diz pretender continuá-los, teve sua menarca aos 14 anos, sua primeira relação sexual aos 15 anos, sua gravidez foi casual, relata ter liberdade para estabelecer conversa sobre sexo com os pais. Entrevistada 8: 16 anos de idade, cor branca, no 7º mês da gestação, mora com uma tia viúva e com seu filho, continua estudando, está no primeiro ano de ensino médio, relata não pretender parar os estudos, teve sua menarca aos 15 anos, sua primeira relação sexual aos 15 anos, sua gravidez foi desejada, relata nunca ter tido liberdade para conversar sobre sexo com seus pais. Entrevistada 9: 17 anos, cor branca, no 6º mês de gestação, reside com a mãe, o padrasto e mais três irmãos, já tem um filho de dois anos, parou de estudar para trabalhar, relata pretender terminá-los, teve sua menarca aos 13 anos, sua primeira relação sexual aos 15 anos, sua gravidez foi casual, relata nunca ter tido liberdade para estabelecer conversa sobre sexo com sua mãe.. Entrevistada 10: 17 anos, cor branca, no 5º mês de gestação, reside com o pai de seu filho, já tem um filho de nove meses, parou de estudar para se dedicar ao lar, relata pretender continuar os estudos, teve sua menarca aos 15 anos, sua primeira relação sexual também aos 15 anos, sua gravidez foi casual, relata nunca ter tido liberdade para estabelecer conversa sobre sexo com os pais. 4.2 Análise dos Discursos De acordo com Bardin (2009) análise de conteúdo é uma técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática, e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações. 58 Nesse sentido, a análise dos resultados coletados nesse ensaio monográfico serão apresentados através de quadros para facilitar a compreensão do leitor. Para tanto, referente à faixa etária das entrevistadas foi possível identificar que 70% das referidas encontravam-se na faixa etária entre 16 à 17 anos incompletos, conforme quadro abaixo: Quadro 1- Faixa etária das adolescentes IDADE De 12 a 15 anos De16 à 17 anos incompletos TOTAL Nº DE ADOLESCENTES 03 07 10 Fonte: Pesquisa de campo No que tange a vida escolar foi possível identificar que 90% das adolescentes entrevistadas pararam o percurso escolar devido ao fato de terem engravidado, somente uma entrevistada permanece com sua vida escolar em percurso, conforme quadro abaixo. Quadro 2- Vida escolar das entrevistadas após a descoberta da gravidez. ESCOLARIDADE Nº DE ADOLESCENTES Permanece estudando 01 Pararam de estudar 09 TOTAL 10 Fonte: Pesquisa de campo 59 Diante desses resultados obtidos, no quadro acima, podemos considerar que a evasão escolar foi de quase 100%, ou seja, das 10 entrevistadas somente 01 permanece estudando. Devido a gravidez essas adolescentes acabam por adiar ou abandonar seus estudos e consequentemente uma formação profissional, pois todas as nove adolescentes grávidas que interromperam seus estudos atribuem esse fato à ocorrência da gravidez. Esse fato é de extrema relevância no que tange às repercussões na vida da adolescente, da criança e de sua família, salvo a educação ser considerada o caminho para uma das poucas opções de inserção social e de ascensão econômica. Ao observarmos as transformações societárias ocorridas nas últimas décadas emergiu como paradigma para produção, denominado de "acumulação flexível", o qual apoia-se na flexibilização dos processos produtivos e nos padrões de consumo. Este modelo de produção promove profundas mudanças na estrutura da sociedade que extrapolam a estrutura de classes, exigindo cada vez mais a capacitação e o aperfeiçoamento da força de trabalho em potencial para sua inserção na esfera produtiva. Desse modo, quanto menos escolarizada e qualificada for a mão de obra, menores serão as chances de inserção no mercado, mesmo que esta se dê de acordo com as novas exigências conjunturais, ou seja, com a precarização dos vínculos e relações de trabalho. Nesse sentido, diante desse cenário, constata-se um ciclo reprodutivo da marginalização, ou seja, de sujeitos cada vez mais e mais à margem da sociedade, sem perspectivas futuras que se centralizam no ciclo da pobreza. No que diz respeito ao conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais, nenhuma das entrevistadas relataram desconhecê-los. Do total das entrevistadas, 70% relataram conhecer pelo menos três dos métodos anticoncepcionais e 20% relataram conhecer apenas dois dos métodos. No entanto, apenas 1% afirma conhecer todos os métodos contraceptivos, conforme quadro que segue. 60 Quadro-3 Conhecimento das entrevistadas sobre os métodos anticoncepcionais. CONTRACEPÇÃO Nº DE ADOLESCENTES Tem o conhecimento de pelo menos 07 03 métodos contraceptivos. Tem o conhecimento de pelos menos 02 02 métodos contraceptivos. Conhece todos os métodos que 01 envolvem a contracepção. TOTAL 10 Fonte: Pesquisa de campo No quadro-3, podemos identificar que as adolescentes entrevistadas conhecem os métodos contraceptivos. Essas informações nos leva a desconsiderar que seria a falta de conhecimento o maior causador da gravidez na adolescência. Nesse sentido, como já foi abordada em outro momento, a maternidade na adolescência deve ser analisada em diferentes perspectivas, pois cada adolescente está inserido em um perfil social diferente, apresentando, portanto, perfis,classes sociais, conhecimentos, valores e atitudes diferentes um dos outros. Nesse caso, as adolescentes engravidam não apenas pela falta de conhecimento sobre anticoncepcionais, como lembra Pantoja (2003), a gravidez para muitas garotas, é tida como projeto de vida, que lhe ajuda na construção da sua identidade, lhe proporciona estabilidade, autonomia, maturidade, que garante status e lhe diferencia perante seu meio social. Portanto, reconhecer que a gravidez na adolescência pode ser um desejo consciente ou inconsciente da adolescente, não significa não dar importância às políticas de contracepção, consideramos que o problema não se concentre nisso, mais, sim, em torno da necessidade em melhorar a educação sexual por intermédio de políticas publicas que realizem a visualização dos jovens sobre valores e atitudes 61 de maneira que estes se estabeleçam como sujeitos de seu próprio destino para que possam optar por suas escolhas e almejarem o seu futuro. A respeito da liberdade em estabelecer conversa sobre sexo com os pais, foi possível observar que apenas 20% das entrevistadas afirmaram que estabelecia conversa sobre sexo com seus pais, dessa maneira segue o quadro abaixo. Quadro–4 Orientação familiar sobre o sexo. ORIENTAÇÃO Nº DE ADOLESCENTES Estabelece liberdade para conversar 02 sobre sexo com os pais Não estabelece liberdade para 08 conversar sobre sexo com os pais TOTAL 10 Fonte: Pesquisa de campo No quadro acima foi possível identificar que falar sobre a sexualidade continua sendo um desafio, pois este acarreta mitos e preconceitos. A sexualidade é, sem sombra de dúvidas, um dos campos de maior importância e complexidade da vida que se faz presente em todas as etapas do nosso desenvolvimento como ser humano, manifestando-se, diariamente, em circunstâncias aparentes ou não. Assim, se observa que, diante de todas as transformações atuais decorrentes da dinâmica social, é diante da fase da adolescência que as famílias costumam sentir-se despreparadas para atender as “exigências” dos filhos, como é o caso da orientação sobre sexualidade em suas várias dimensões. Nesse sentido, nos foi possível identificar, que a educação sexual dos filhos apesar de ser uma das tarefas que também diz respeito à família, há uma recorrente esquiva dos familiares no que tange a abordagem sobre esse assunto, e esse distanciamento só tem a formalizar potencial para muitas dúvidas e curiosidades que normalmente já são característicos do processo da adolescência. Buscar estabelecer diálogo com os filhos, sobre vários assuntos e dentre eles sobre a sexualidade e todas as questões que perpassem este assunto é um caminho que reforça laços bem como também possa ser uma forma de preparar estes 62 conscientemente para serem sujeitos conscientes e possam tomar decisões com responsabilidades. Sobre a pergunta realizada para as entrevistadas ao significado da palavra mãe, 70% das referidas foram taxativas ao afirmarem que ser mãe é simplesmente um dom feminino. Quadro-5 O significado da palavra mãe. SER MÃE Entrevistada nº 1 DISCURSO É muito importante para uma mulher, pois é um dom que permitiu a nós. Entrevistada nº 2 É um dom Entrevistada nº 3 É dom. Toda mulher precisa. Entrevistada nº 4 É muito forte Entrevistada nº 5 É uma coisa que toda mulher deve ser. Entrevistada nº 6 É amor, um dom divino. Entrevistada nº 7 Não tenho palavras. Entrevistada nº 8 Só mulher pode sentir. É um dom. Entrevistada nº 9 Um dom que Deus deu para as mulheres. Entrevistada nº 10 É tudo de maravilhoso, dom permitido por Deus. Fonte: Pesquisa de campo No quadro-5 foi possível identificar que das 10 entrevistadas 07 responderam que a maternidade se apresenta como algo já predestinado a todas as mulheres. Tais discursos nos emergem uma reflexão sobre a ideia construída culturalmente em torno maternidade como posição principal atribuída ao sexo feminino, esta ainda muito introjetada socialmente. 63 Referente a esse tema muitas são as controvérsias sobre esse assunto a antropóloga Mirian Goldenberg diz, em uma entrevista4, que falar de instinto aprisiona as mulheres ao papel de mãe. "Elas também podem ser outras coisas". Para muitos estudiosos sobre o assunto, como por exemplo, Badinter (1985) o mito que envolve a maternidade, como representação hegemônica, corresponderia de modo persistente a uma dádiva divina e consagraria um amor além de qualquer entendimento. Essas representações naturalizadas e que se querem assentar soberanas, esforçam-se em não consentir à mulher divisar claramente a castração de sua própria identidade, convertendo-as em um ser só: mãe. Não é intuito aqui criticar preferências, mas sim entender que as circunstâncias maternas mudam conforme as características culturais de uma época e de acordo com a sociedade em que se vive. Nesse sentido, para desmitificarmos esse mito é necessário levantar discussões em torno deste assunto, haja vista a compreensão de que a maternidade é sim uma condição. Nessa perspectiva, urge assimilar que o amor materno não é e nem pode ser universal e invariável. Se considerarmos a condição em que a mulher se encontra, não podendo inviabilizar toda uma história de vida e posicioná-la no mesmo patamar de todas as outras. 4 Entrevista concedida ao site: <www.uol.com.br/mulhercomportamento> em 07/05/2013, que abordava o mito do instinto materno. Acessado em 23/07/2013 as 16:05h 64 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Buscamos neste estudo identificar as percepções e narrativas das adolescentes em relação à gravidez. Detectou variadas manifestações de sentimentos e reações ocasionadas pela singularidade da história, dinâmica familiar e contexto sociocultural e econômico vivido por parte de cada uma. Sentimentos e reações observadas no primeiro momento da descoberta da gravidez pela maioria de seus familiares, no quais se transformaram, em seguida, em atitudes de cuidado e apoio, fundamentais para estas adolescentes no momento. No que tange aos fatores determinantes desse fenômeno diversas causas foram observadas, como por exemplo, o desejo de engravidar e constituir sua família; a procura de uma identidade social; a falta de uso de métodos contraceptivos; o mito da maternidade que envolve as mulheres a vir ser mãe sem maiores reflexões sobre este papel; pouco diálogo entre a adolescente e sua família; e o afastamento dos familiares até mesmo por necessidades laborais, o que permite que os adolescentes permaneçam sozinhos, sem uma orientação e/ou apoio por um bom período de tempo. Das entrevistadas, 90% foi a comprovação da evasão escolar decorrente da gravidez, este é um dos desafios a ser enfrentado pelas políticas de saúde e educação. Com a evasão escolar surgem outras consequências, como por exemplo, quando uma adolescente abandona a escola esta pode estar perdendo oportunidades de trabalho e o mercado está cada vez mais exigente e competitivo, nesse caso, a adolescente, as que desejarem ou necessitarem se inserir no mercado de trabalho, esta terão menos condições para competir com outros profissionais mais qualificados por terem continuado a estudar. Consequentemente, a jovem acaba se vendo obrigada a se submeter a trabalhos subalternos, sem registro em carteira e, desse modo, sua situação só tende a agravar cada vez mais na dimensão social. Desse modo, como já foi citado, a gravidez na adolescência se constitui um desafio para as políticas públicas no contexto contemporâneo, esse desafio se emerge em fornecer aos adolescentes subsídios para viver sua sexualidade de 65 forma consciente sem prevalência de recortes sobre esta, que inclui apenas as DSTs e as drogas, das quais direcionam o sexo à uma perspectiva negativa. Diante das desigualdades decorrentes das relações sociais financiadas pelo sistema capitalista, é possível observar outro ponto importante que se estabelece no fato que grande parte dos adolescentes vive o processo da adolescência de forma extremamente curta e desigual. O direito a uma boa educação, uma boa alimentação, uma boa habitação, a saúde e ao lazer, são direitos pelos quais não se exercem de forma universal a todos, e alguns adolescentes vivem junto às suas famílias, constantemente violados a exercerem estes. A verdade é que, as condições pela quais muitos adolescentes vivem não oportuniza a eles elaborar e amadurecer seus conflitos maturacionais e essa condição os restringe-os a possibilidade de experiência intelectual e afetiva não os permite questionar, reformular e duvidar. Essa é a situação de desvantagem em relação a outros adolescentes de mesma faixa etária, porém em outras condições socioculturais e socioeconômicas. Percebemos neste estudo que a gravidez na adolescência é um tema bastante complexo, no qual necessita ser abordadas de maneira ampla por parte dos profissionais de saúde, educadores, famílias, comunidade e governantes, não centrando apenas na questão de como evitar a gravidez, mas buscando meios de promover a valorização da pessoa humana, oferecendo-lhe conhecimentos para que possam decidir com a devida consciência e responsabilidade o melhor momento de engravidar. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERASTURY, A. Knobel, M. Adolescência normal. Porto Alegre: Ed. Artes médicas; 1992. AIRES, Philippe. História social da criança e da família. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. ANDRADE, G. Vaistman, J. “Apoio social e redes: conectando solidariedade e saúde”. Ciência e saúde coletiva. vol.7, nº 4, 2002. Rio de Janeiro. ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995. AZAMBUJA, R.S. A decodificação do discurso adulto da televisão pelo público infantil. in SOUSA, Mauro Wilton de Sousa (org) sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995. BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. BALLONG, G. L. Drepessão pós-parto, in. Psiqweb, Internet, disponível em <www.psiqweb.med.br>, revisto em 2008. BARDIN, L. Análise de conteúdo, Lisboa, Portugal: Edições 70. Ltda, 2009. BARROS, M. C. Gravidez na adolescência: perfil sócio-demografico e comportamental de uma população da periferia São Paulo, Brasil. Cadernos de saúde Público, vol. 23, n. 1, 2007. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambiviência. 1ª Ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1999. 67 ________, Medo Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. . ________, Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. ________, Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. BRANDÃO, E. R. Vulnerabilidade no uso de métodos contraceptivos entre adolescentes e jovens: intersecção de políticas públicas e atenção a saúde. Ciência e saúde coletiva. São Paulo, 2009. ________, Gravidez na adolescência: juventude contemporânea e laços familiares. Projeto de tese (doutorado em saúde coletiva) – Instituto de medicina social. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001. BRASIL, Ministério da Saúde. Pesquisa nacional de demografia e saúde da criança e da mulher – PNAS 2006. _______. Ministério da saúde. Informações em saúde 1999. Disponível em <http//www.saude.gov.br> acesso em: 20 de agosto de 2013. _______. 2009. Lei n. 8.069, de 13-07-1990: Estatuto da criança e do adolescente. Brasília: 2009. _______. Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Brasília, 2006. Disponível em< http://www.mj.gov/sedh/ct/spdca/sinase/sinasepaf> acesso em: 20 de agosto de 2013. _______, Ministério da Saúde. Assistência integral à saúde da mulher: bases da ação programática. Brasília, 1984. 68 ________, Ministério da saúde. Secretária de vigilância em saúde. Departamento de análise de simulação em saúde: guia de vigilância epidemiológica do óbito materno. Brasília, 2012. Disponível em <HTTP//svs.aids,gov.br/dashboard/mortalidade/materna.show.mtw>. Acesso em: 15 de agosto de 2013. ________, Ministério da Saúde. Secretária de atenção à saúde integral de adolescentes e jovens: orientações para organização de serviços de saúde. Brasília, 2005. ________. Ministério da Assistência Social/coordenação de descentralização: Relatório Final de Encontros Regionais das Comissões Intergestores Bipartites, mimeo, novembro, 2003. _________. Fundação instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Jovens mães. Disponível em < http://www,ibge.gov.br/ibgeteen/datas/saude/jovensmaes.html> acesso em: 20 de agosto de 2013. BRUNO, Z. V. Reincidência de gravidez em adolescentes. Revista Bras Ginecol Obstet. Rio de Janeiro, n.31, 2009. CARNEIRO, T. Construção do feminismo pós aos sessenta: o caso da maternidade como produção independente. Psicologia, reflexão e crítica. Vol. 15, n. 1, Porto Alegre, 2002. CASTEL, Robert. Metamorfoses da questão social. Petrópolis. Vozes, 1998. CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2006. COSTA, A. M. O PAISM: uma política de assistência integral à saúde da mulher a ser resgatada. São Paulo, comissão de cidadania e reprodução, 1992. 69 DADOORIAN, Diana. Gravidez na adolescência: um novo olhar. Psicologia ciência e profissão, Brasília, 2003. FAVERO, M. H.; MELLO, R. M. Adolescência, maternidade e vida escolar: a difícil conciliação de papéis. São Paulo. Psicologia teoria e pesquisa, 1997. FIGUEREIDO, B. Maternidade na adolescência: do risco à prevenção. Revista Portuguesa de Psicossomática, n. 3, 2001. FONSECA, C. CARVALHO, A. Direitos dos mais e menos humanos. Horizontes Antropológicos, ano 5, n. 10, maio, 1999. FOUCAUT, Michel. História da sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de Janeiro, 3 Ed., Graal, 1980. GIFFIN, R. Conformação do campo político dos direitos reprodutivos no Brasil: uma visão crítica. São Paulo, 2001. HABERMAS, J. Dialética e hermenêutica. Porto Alegre, LAPM, 1987. HEILBORN, Maria Luiza et al. Aproximações sócio-antropológicas sobre a gavidez na adolescência. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, ano 8, n. 17, 2002. _________. Sexualidade e gravidez na adolescência entre jovens de camadas médias do Rio de Janeiro. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro: vol. 22, n. 7, 2006. IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade; trabalho e formação profissional. 2 ed. São Paulo; Cortez, 1999. _________. Renovação e conservadorismo no Serviço Social. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1994. 70 _________. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esborço de uma interpretação histórico-metodológica. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2007. _________. A Questão Social no capitalismo. Revista Temporalis, Brasília: ABEPSS, n. 3, 2001. _________. Serviço Social em tempo de capital Fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo, 3 Ed., Cortez, 2008. IBGE. Síntese de indicadores sociais: Estudos e pesquisas. Informações demográficas e socioeconômicas. Rio de Janeiro, 2009. ______. Censo demográfico. Brasil, 2008. Disponível em < http//www.ibge.gov.br.> IPEA. Objetivos de desenvolvimento do milênio – relatório nacional de acompanhamento. Brasília: Ipea, 2008. LAKATOS, A. M. Marconi, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 3 ed. São Paulo. Atlas, 1993. LESSA, Sérgio. Contra revolução, trabalho, classes sociais. In: Temporalis, Brasília, ABEPSS, ano 2, n. 4, 2001. LIMA, C.T B. Percepções e práticas de adolescentes grávidas e de familiares em relação à gestação. Revista Brasileira saúde mater. Infantil. N.4, 2004. Disponível em< www.scielo.br. Acesso em: 15 de agosto de 2013. LOPES, R. C. S. Atenção a saúde do adolescente. 2 ed,. Belo Horizonte, 2008. LOURO, G. L. Gênero, sexualidade, educação, uma perspectiva pós- estruturalista. Editora vozes, 1997. MARX, Karl. Teoria da mais-valia. São Paulo: Bifel, 1980. 71 MALDONADO, M. T. P. Psicologia de gravidez – parto e puerpério. Coleção “nova psicologia”, 8 ed. Petrópolis. Vozes, 1980. MALFITANO, A. P. S. Infância, juventude e vivências nas ruas: entre o imaginário da instituição e do direito. Imaginário. São Paulo, 2006. MENEZES, Maria Costa Moreira. A gravidez e o projeto de vida. São Paulo. Artes Médicas, 1996. MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, 29 Ed., Vozes, 2010. MOTA, A. E. O Serviço Social na contemporaneidade: “a questão social” e as perspectivas ética-política. XXIX Encontro nacionais do CFESS/CRESS. Macéio – AL. Setembro de 2000 _______. A nova fábrica de consenso: ensaios sobre reestruturação empresarial, o trabalho e as demandas do Serviço Social. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008. NETTO, J. P. Cinco Notas a propósito da “Questão social”. Revista temporalis. N. 3, ABEPSS. Brasília, 2001. OLIVEIRA, D. P. R. Sistemas, organização e métodos: uma abordagem gerencial. 15 ed. São Paulo, Atlas, 2005. OLIVEIRA, M. W. Gravidez na adolescência: Dimensões do problema. Rio de Janeiro. Zahar, 1998. OLIVEIRA, Fabio. Mito do instinto materno gera culpa em mulher que não quer ter filhos. Disponível em <www.uol.com.br. > Acesso em: 23 de agosto de 2013. OSÓRIO, L. C. Adolescente hoje. 2 ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. 72 OUTEIRAL, J. ADOLESCER – Estudos sobre a adolescência. Porto Alegre: Artes médicas, 1994. OZÉLIA, S. Adolescência construída: A visão da psicologia sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2003. PANTOJA, A. L. N. “Ser alguém na vida”: uma análise sócio-antropológica da gravidez/maternidade na adolescência em Belém do Pará, Brasil. Caderno de saúde pública, vol., 19, Rio de Janeiro, 2003. PASTORINI, Alejandra. A categoria “questão social” em debate. São Paulo. 2 ed,. Cortez, 2007. PEREIRA, P. A. Questão Social, Serviço Social e Direitos da cidadania. Revista Temporalis, Brasília: ABEPSS, n. 3, 2001. ________. Estado, regulação social e controle demográfico e políticas social e democracia. São Paulo: Cortez, 2001. ________. A política social no controle da seguridade social e do Welfare State: a particularidade da assistência. Brasília, 1997. PEREIRA, P. R. Complicações obstétrica, eventos estressantes, violência e depressão durante a gravidez em adolescentes atendidas em Unidade Básica de Saúde. Revista psiquiátrica clinica. Vol. 37. São Paulo, 2009. PETRINI, João Carlos. Mudanças sociais e mudanças familiares, Família, sociedade e subjetividade. Rio de Janeiro, Vozes. PINHEIRO, V.S. Repensando a modernidade na adolescência. Estudo psicológico. Natal, 2000. PINTO, R. V. Maternidade negada. São Paulo: Contexto, 1997. 73 PORTARIA DO PROSAD – Programa de atenção a saúde do adolescente. Disponível em <http//www.uff.br/dissicamep/prosad.html> Acesso em: 20 de agosto de 2013. PREHN, A. R. Divisão sexual do trabalho: isso é coisa de mulher? Gênero por escrito: saúde, identidade e trabalho. EDIPUCRS, Porto Alegre, 1990. PRIORE, Mary Bel. História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2011. QUADRADO, Raquel Pereira. Corpos Gênero e sexualidade: questões possíveis para o currículo escolar. Organizado Por Paula Regina Costa e Raquel Pereira Quadrado. 2 ed. Rio Grande: Forg, 2008. RIBEIRO, Elisa Antônia. A perspectiva da entrevista na investigação qualitativa. Evidência: Olhares e pesquisa em saberes educacionais. Araxá/MG, 2008. Disponível em <http//[email protected]. SILVA, Maria Beatriz N. da. A história da mulher no Brasil: tendências e perspectivas. Revista do Instituto de estudos Brasileiros – USP, São Paulo, n. 27, 1987. TIBA, Içami. O sucesso do país não garante a felicidade dos filhos. 8 ed. editora gente, 1998. _______. Sexo e adolescência. Série princípios. São Paulo, 5 Ed., Atica, 1991. _______. Adolescência: O despertar do sexo. São Paulo, 18 Ed., Gente, 1994. ZAGURY, T. O adolescente por ele mesmo. 7 ed., Rio de Janeiro, Record, 1996. _______. O adolescente por ele mesmo. 16 ed., Rio de Janeiro, Record, 2009. 74 YASBEK, Maria Carmelita. Pobreza e Exclusão Social: expressões da questão social no Brasil. Revista temporalis, Brasília: ABEPSS, n. 3, 2001. WAISSMAN, A. L. Análise dos fatores associados à recorrência da gravidez na adolescência. Faculdade de medicina da universidade de São Paulo. São Paulo, 2006. disponível em< http//www.teses.usp.br>. acesso em: 15 de agosto de 2013. 75 APÊNDICES 76 APENDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA Pesquisa de TCC: Gravidez na adolescência: o caso das adolescentes no Centro de Saúde da Família Anastácio Magalhães-Ce Pesquisadores: Márcia Andrade dos Santos; Virzangela Paula Sandy Mendes (Orientadora) Entrevista nº: ____ Data: ___/___/___ Duração:______ 1. DADOS PESSOAIS 1) Idade: ______ ( ) Etnia: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Amarela 2) Naturalidade: ___________________ 3) Idade da Menarca: ________________ 4) Idade da primeira relação sexual: ________________ 5) Você tem filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos? ______ ( Idade: ________________________) 6) Sua gravidez foi casual ou desejada? ( ) Casual ( ) Desejada 7) Qual a sua relação com o pai da criança? ( ) Amorosa ( ) Amigável ( ) Rejeição 8) Qual o significado da palavra mãe para você? Especifique: ____________________________ ESTRUTURA HABITACIONAL 9) Quantas pessoas moram na mesma casa que você? Especifique:_______________________________ 10) Qual a renda familiar: ____________________ ESCOLARIDADE 11) Qual a sua formação? ( ) Não Alfabetizado ( ) Alfabetizado ( ) Ensino fundamental I ( ) Ensino Fundamental II ( ) Ensino médio 12) Quando descobriu sua gravidez pensou em desistir dos estudos? ( ) Sim ( ) Não Especifique:_________________________ 13) Pretende continuar seus estudos? ( ) Sim ou ( ) Não 77 RELAÇÃO FAMILIAR 14) Você tem liberdade para estabelecer uma conversa com seus pais sobre sexo: ( ) Sim ou ( ) Não 15) Como foi a reação de sua família sobre o conhecimento de sua gravidez? ( ) Rejeição ou ( ) Acolhimento Especifique:_______________________________ EDUCAÇÃO SEXUAL 16) Você conhece métodos anticoncepcionais? Quais? ( ) Sim ou ( ) Não Especifique:_____________________________ 78 ANEXOS 79 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ENTREVISTA Convidamos o(a) Sr(a) para participar da Pesquisa que tem como tema Gravidez na adolescência: o caso de adolescentes atendidas no Centro de Saúde da Família Anastácio Magalhães, sob execução dos (as) pesquisador (as) Virzângela Sandy (responsável) e Márcia Andrade dos Santos (participante), a qual pretende analisar os aspectos sociais decorrentes da gravidez na adolescência a partir das narrativas das adolescentes grávidas assistidas pelo CSF- Anastácio Magalhães. Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, que consiste em respostas a perguntas apresentadas ao Sr (a) pelo pesquisador. A entrevista será realizada após a consulta do pré-natal, com duração aproximada de 20 minutos, no dia previamente marcado, de acordo com a sua disponibilidade. Os depoimentos desta entrevista serão gravados com seu consentimento. Não há riscos decorrentes da sua participação e o Sr(a) possui a liberdade de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e nem ao seu atendimento na Instituição. Ressaltamos que tem o direito de ser mantido (a) atualizado (a) sobre os resultados parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, você será comunicado dos resultados finais. Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados somente para esta pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo. Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os pesquisadores para o esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos dados coletados com a entrevista: orientanda Márcia Andrade pelo fone: (85) 87148403. Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa também pode entrar em contato com a Faculdade Cearense pelo fone: (85) 32017011. Consentimento Pós–Informação Eu,__________________________________, fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós. ________________________________________ Assinatura do Participante ________________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável Data: ___/ ____/ ____