A Copa do Mundo de Futebol como Estratégia de

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A Copa do Mundo de Futebol como Estratégia de Marketing Político na Rede
Social da Presidente do Brasil1
Ada Ferraz 2
Cláudia Oliveira 3
Lumárya Souza 4
Cristiane Portela 5
Resumo: Este artigo analisa como a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, utilizou a
rede social Facebook para explorar a Copa do Mundo de Futebol 2014, com a finalidade de
promover e consolidar sua imagem política em um período próximo à eleição presidencial.
Para isso, são utilizados conceitos de marketing político, identidade, imagem política, mídia e
nacionalismo. Com base na técnica da Análise de Conteúdo (AC), foram estudadas 14
publicações da página do Facebook da presidente, correspondentes a primeira e última
semanas da competição. Conclui-se, portanto, que Dilma, via rede social, utilizou o
megaevento esportivo como estratégia de marketing político favorável ao seu governo, a fim
de retratar o Brasil de forma positiva.
Palavras-chave: Evento Esportivo. Facebook. Futebol. Marketing Político. Rede
Social.
Abstract: This article analyzes how the president of Brazil, Dilma Rousseff, used
the social network Facebook to explore the 2014 FIFA World Cup in order to promote and
consolidate her political image at a time close to the presidential election. For this, concepts
are used in political marketing, identity, political image, media and nationalism. Based on the
technique of Content Analysis (CA), were studied 14 Facebook page publications of the
president, representing the first and last weeks of the competition. We conclude, therefore,
that Dilma via social network, used the mega sports events as a political marketing strategy
favorable to her government, in order to portray Brazil positively.
Keywords: Sporting Event. Facebook. Soccer. Political Marketing. Social Network.
1
Artigo enviado na modalidade Paper para o Simpósio Internacional de Tecnologia e Narrativas Digitais.
Graduanda em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Email: [email protected].
3
Graduanda em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Email: [email protected].
4
Graduanda em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Email: [email protected].
5
Doutora em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Mestre em Comunicação pela
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora adjunta do Curso de Comunicação Social - Habilitação
Jornalismo, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Orientadora desta pesquisa, desenvolvida durante a
disciplina Tecnologias Midiáticas, ministrada no Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo, da
UFPI. E-mail: [email protected].
2
Resúmen: Este artículo analisa como la presidente de Brasil, Dilma Rousseff, utilizó
la rede sociale Facebook para explorar la Copa del Mundo del Fútbol 2014, con el fin de
promover y consolidar su imagen política en um período cerca de las elecciones
presidenciales. Para eso, se utilizan conceptos de marketing político, identidade, imagens
política, medios de comunicación y nacionalismo. Basado em la técnica de Análisis de
Contenido (AC), se estudiaron 14 publicaciones da página del Facebook de la presidente,
correspondientes la primera y última semana de la competición. Por lo tanto, se deduce, que
Dilma, a través de la rede sociale, utilizó lo mega evento sociale desportivo como estrategia
de marketing político de su gobierno, com el fin de representar lo Brasil positivamente.
Palabras clave: Acontecimiento desportivo. Facebook. Fútbol. Marketing Político.
Rede sociale.
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Introdução/Contextualização
A partir do final do século XIX, por meio de filhos das elites que tiveram contato com
o futebol em escolas europeias, este esporte vem sendo disseminado no país. Com o passar
dos anos, o Brasil recebeu a analogia de “país do futebol”, sendo, portanto, forte referência
quando se trata do tema.
O nacionalismo, ufanismo e patriotismo, na realidade brasileira, são aflorados,
principalmente, quando se aborda o futebol no tocante à Copa do Mundo, o que se tornou um
importante aspecto cultural. Thompson (1998, p. 52) define identidade nacional “como um
sentido de pertença a uma pátria ou a uma nação particular, partilhando direitos, deveres e
tradições comuns”. Já o sentimento de nacionalismo, para o referido autor, é essa “identidade
canalizada para objetivos políticos”. Esse sentimento, portanto, é difícil de identificar no povo
brasileiro. Todavia, na Copa do Mundo de Futebol 2014, além da excitação identitária
brasileira e da comoção popular, notou-se que a realização deste megaevento no Brasil foi
utilizada pela Presidência da República como instrumento de marketing político na Internet.
Nesse contexto, a exacerbação da identidade nacional é impulsionada, sobretudo, pelas
mídias sociais. Dessa forma, o uso do marketing político digital é evidente no perfil da
presidente Dilma Rousseff, no Facebook, no período da Copa do Mundo Brasil 2014,
servindo para exaltação da pátria à torcida e, principalmente, consolidando sua identidade
política e influenciando a sua promoção para a eleição presidencial de 2014.
Dessa forma, avaliar de que forma a Copa do Mundo de Futebol 2014 foi utilizada
como instrumento para promover a presidente Dilma Rousseff é o objetivo geral deste artigo.
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Analisar como as publicações na página da presidente no Facebook funcionaram como
estratégia de marketing político, contribuindo para o nacionalismo coletivo, consolidando a
identidade política da presidente e influenciando sua promoção na eleição presidencial de
2014, são os objetivos específicos deste trabalho.
A escolha do tema e a forma como ele será abordado tem como justificativa a
excitação expressiva provocada pela Copa do Mundo de Futebol 2014 e o cenário político
nacional observado na época. Além da contribuição para o campo do marketing político, uma
estratégia relativamente nova no país, evidenciada, principalmente, durante períodos de
campanha eleitoral.
O tradicionalismo do futebol no Brasil transcende as linhas do campo, tornando-se
uma questão social e política. Para contextualizar este trabalho, é importante ressaltar como a
mídia e a sociedade abordaram as Copas do Mundo da Federação Internacional de Futebol
(FIFA) realizadas no Brasil, em 1950 e em 2014. Além disso, é fundamental entender porque
a presidente Dilma Rousseff considerou a Copa do Mundo de Futebol 2014 um evento
estratégico na construção da imagem positiva de seu governo.
O Brasil é conhecido internacionalmente como “país do futebol”, discurso ideológico
alimentado pelos meios de comunicação. A seleção brasileira de futebol é a que mais vezes
venceu o maior torneio de futebol do mundo, a Copa do Mundo da FIFA. O esporte é
comumente utilizado como símbolo do nacionalismo pelos brasileiros e pela mídia, a exemplo
do Carnaval.
Adorno e Horkheimer (apud COHN, 1978) afirmam que há uma “indústria cultural”
de bens de consumo alimentada pela mídia, que utiliza linguagens e articula significados a
determinados referentes, favorecendo apenas uma parcela da sociedade que impõe sua cultura
sobre a “massa”. Assim, o esporte pode ser considerado um destes “bens culturais”
propagados pela mídia. No Brasil, a emissora que possui os direitos de transmissão das Copas
do Mundo FIFA tem a hegemonia de audiência e propaga a ideia de “país do futebol” para
aumentá-la ainda mais.
Na Copa do Mundo de Futebol de 1950, que também foi realizada no Brasil, os meios
de comunicação mais utilizados no mundo eram o rádio e o jornal impresso. A televisão
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estava sendo inserida no cotidiano das pessoas e no Brasil ainda era uma grande novidade. O
meio por onde o mundo acompanhava as partidas ao vivo era o rádio.
O Brasil de 1950 não possuía infraestrutura para sediar uma Copa do Mundo, pois não
tinha estádios suficientes e dois novos foram construídos especialmente para o evento. A
imprensa da época criticava o governo pelo atraso das obras, a exemplo do que aconteceu na
edição 2014 do evento.
Em 1950, a competição no Brasil foi a primeira Copa do Mundo da FIFA realizada
após a Segunda Guerra Mundial, o que carrega ainda mais simbolismo. Muitos países
recusaram suas vagas na competição por uma série de fatores. Os do Leste Europeu, por
exemplo, estavam sobre o domínio da União Soviética e não participaram daquela edição.
Apenas 13 países disputaram o megaevento daquele ano.
A seleção brasileira da época já era considerada campeã pela imprensa do Brasil, com
um dos melhores elencos de jogadores de todos os tempos. Por isso, a derrota para o Uruguai,
na final do mundial, no Maracanã, foi ainda mais devastadora. Os jornais da época chamaram
a derrota de “Maracanazo”, em espanhol, em referência a língua falada no Uruguai, seleção
campeã da Copa do Mundo FIFA daquele ano.
Já a Copa do Mundo de Futebol 2014 foi marcada, inicialmente, pelo atraso nas obras
de infraestrutura e na entrega dos estádios. Tanto a imprensa nacional como a internacional
criticaram duramente o governo da presidente Dilma Rousseff, que era evidenciado de forma
negativa. A Presidência tentava mostrar as melhorias que o evento traria, por meio de canais
midiáticos como o Facebook, mas o atraso da preparação contradizia este argumento. Em ano
eleitoral, o sucesso da Copa do Mundo de Futebol 2014 seria fundamental para a aprovação
da presidente.
A cobertura da imprensa em 2014 utilizou ativamente o jornalismo online, com
notícias em “tempo real”, repercutindo os jogos transmitidos pela TV. Imediatamente, as
notícias eram compartilhadas nas redes sociais, o que tornou o evento um dos assuntos mais
comentados da Internet.
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Em 2014, quando o Brasil foi sede do maior mundial futebolístico e assistiu às
eleições presidenciais, o histórico da relação entre o esporte, em especial, o futebol, e a
política se evidenciou. Ribeiro (2002) ressalta, nesse contexto, o conjunto de técnicas de
persuasão política e procedimentos de natureza estratégica voltados para a disputa pelo
controle da opinião pública, a tentativa de domínio da recepção das imagens públicas, ou
melhor, o marketing político.
De acordo com Kunts (2006), o planejamento é o pai da estratégia e, também, o marco
zero da transição do sonho para a realidade. Dessa forma, com esforço estrategicamente
planejado para se cultivar a atenção, o interesse e a preferência de um mercado de eleitores, o
marketing político vem utilizando a realização de megaeventos esportivos como ferramenta e
estratégia para tal.
No caso da Internet, ela foi utilizada pela primeira vez como estratégia de marketing
político nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 2008, na campanha do então
candidato à presidência, Barack Obama. A partir disso, é vista como uma ferramenta que
possui elevado poder de comunicação e repercussão imediata do que é noticiado e,
principalmente, aproximação aos internautas, eleitores em potencial.
Parafraseando Marshall McLuhan, os homens criam as ferramentas e as ferramentas
recriam os homens. A gradativa evolução e disseminação das tecnologias de informação e
comunicação nos conduziram a um cenário de conexão global (MUSTO, 2013). Há, nesse
cenário, além de uma representação do eu, a construção da imagem de pessoas e/ou
instituições. No palco, que é a vida social, durante o processo de representação do eu, o
desempenho do ator social é constantemente avaliado pelo outro. Assim, para Musto (2013),
em um jogo de revela/esconde, as pessoas selecionam quais informações pessoais devem ser
apresentadas em cada contexto para construir a reputação desejada. É nesse sentido que o
marketing político atua.
O desenvolvimento tecnológico ao longo dos anos provocou rupturas nas formas de
adquirir conhecimento, informação e até mesmo nas relações sociais. A Internet, em especial,
revolucionou a comunicação de uma forma que nenhum outro meio havia feito antes dela.
Castells (2003) afirma que a Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira
vez, a comunicação de muitos com muitos, num determinado momento, em escala global.
5
Este nível de alcance global permitido pela rede possibilita que ela seja utilizada como
plataforma de promoção.
Segundo Park (1987), as relações sociais estão conectadas às relações espaciais. As
distâncias físicas constituem índices de distâncias sociais. Neste sentido, à medida que a
cibernética possibilita a interconexão de pessoas que estão em diferentes locais do mundo, as
relações sociais não mais deixarão de se estabelecer por limitações geográficas e até mesmo
por diferenças sociais, visto que a relação do homem com o espaço vem gradativamente
mudando e transformando a sociedade contemporânea.
Neste contexto, Terra (2008, p. 31) declara que a comunicação digital é “segmentada,
de relevância para o usuário, bidirecional, interativa, que permite a participação e a
construção coletiva, direta, ágil, de rápida disseminação (capacidade viral) e que pode ser
gerada pelo consumidor”. Assim, fazer uso das mídias sociais, como no caso da presidente
Dilma Rousseff, é permitir ao eleitor ser tratado como co-responsável pela eficácia da
comunicação, uma vez que sua opinião é ouvida de maneira menos formal e mais
democrática.
No caso das redes sociais, elas permitem aos usuários a utilização de uma plataforma
gratuita que permite interações virtuais. Dessa forma, “o Facebook se constitui como um local
rico para pessoas interessadas em interações sociais em rede devido a seus padrões altos de
possibilidades de interações online-offline” (ELLISON; LAMPE; STEINFIELD, 2007, p.
04). Esta interação fez com que a presidente Dilma Rousseff o utilizasse como plataforma de
promoção e divulgação de uma imagem positiva do seu governo e da Copa do Mundo de
Futebol 2014.
Para a realização da análise da amostra, o presente trabalho utiliza a Análise de
Conteúdo (AC) quantitativa e qualitativa para comprovar suas hipóteses, qual Bardin (1977) a
configura como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. No entanto,
ela também afirma que este conceito não é suficiente para definir a especificidade da técnica,
acrescentando que a intenção é a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção.
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A rede social da presidente Dilma Rousseff escolhida para a análise foi o Facebook.
Foram analisadas publicações realizadas na página da presidente em duas semanas da Copa
do Mundo de Futebol 2014: a primeira (12 a 18 de junho) e a última (7 a 13 de julho). O
período procura contemplar a evolução do evento esportivo.
Ao todo foram observadas 101 postagens na página da presidente no período
analisado, das quais 58 são referentes à Copa. Para uma análise mais aprofundada dos
conteúdos veiculados, foram eleitas 14 publicações, uma em cada dia da amostra. Neste caso,
a escolha considerou sempre a publicação com o maior número de curtidas. Para análise
detalhada, foram consideradas características como: uso de hashtags, texto que acompanha a
publicação, sincronia com fatos do momento, fotos, dentre outras.
Ao iniciar a análise, de imediato chamou atenção a foto de perfil da página do
Facebook da presidente Dilma Rousseff, com sua imagem segurando com as mãos a camisa
da seleção brasileira, e a foto de capa, com o texto “Começou a #COPADASCOPAS”, que
indicavam o início de um dos maiores eventos esportivos: a Copa do Mundo de Futebol 2014.
A partir do início do evento esportivo, 12 de junho de 2014, observou-se a
intensificação das postagens da presidente, direcionando-as para a Copa. As interações na
rede social não foram intensificadas apenas no perfil de Dilma Rousseff. O Facebook
informou que, no período da Copa, as interações atingiram a marca bilionária de posts,
comentários e curtidas.
Ainda de acordo com a rede social, em todo o mundo, até o fim de junho, cerca de 220
milhões de pessoas publicaram, comentaram e curtiram posts a respeito do evento,
principalmente sobre os jogos da seleção brasileira. O primeiro jogo mais discutido na rede
social foi o da abertura, Brasil versus Croácia, com mais de 58 milhões de pessoas fazendo
cerca de 140 milhões de registros sobre o confronto. As curtidas da página da presidente
Dilma também aumentaram significativamente, foram cerca de 180 mil curtidas a mais
contabilizadas do primeiro ao último dia do evento.
Nas duas semanas de evento analisadas no presente artigo, a primeira (12 a 18 de
junho) e a última (7 a 13 de julho), foram observadas ao todo 101 postagens, das quais 58 são
referentes à Copa. Os dias 12 de junho e 9 de julho foram os que apresentaram maior número
7
de postagens sobre os jogos. O primeiro com 7 postagens, de um total de 8, e o segundo com
5 postagens, de um total de 7.
Como já dito anteriormente, para uma análise mais aprofundada dos conteúdos
veiculados na rede social da presidente, foram eleitas 14 publicações. No caso, o post mais
curtido em cada dia da amostra. O post mais curtido no primeiro dia do evento (12 de junho),
quando ocorreu a cerimônia de abertura da Copa e o primeiro jogo (Brasil versus Croácia),
simbolizou a alegria dos brasileiros com a vitória de estreia e o agradecimento pessoal da
presidente à seleção brasileira com o texto “Valeu, seleção!”. Essa foi uma situação que
passou a ser comum em todos os posts publicados após os jogos do Brasil na Copa.
Observou-se, portanto, uma tentativa de aproximação de Dilma com a nação brasileira, que
estava eufórica com o início do mundial e a conquista da seleção, e um estímulo ao
nacionalismo representado no país especialmente pelo futebol.
Essa associação entre esporte e nacionalismo não é um fenômeno recente e nem
exclusivo do Brasil. Vinnai (1974) chama a atenção para o fato dessa associação na Alemanha
entre o movimento ginástico e a preparação para a guerra. Guedes (1977) esclarece que essa
identificação nacional com a seleção de futebol, no caso do Brasil, ocorre porque as
avaliações ideológicas brasileiras se dão "através do desempenho de sua seleção de futebol".
Segundo o referido autor, a ideia de unidade nacional, a partir do futebol brasileiro, está tão
enraizada em nossa cultura, que possibilitou a sua utilização como argumento nacionalista.
A repercussão da abertura da Copa do Mundo de Futebol 2014 ocorreu
internacionalmente não apenas pela grandiosidade do evento, mas, também, pelas vaias e
xingamentos à presidente Dilma Rousseff durante sua aparição na cerimônia, que ocorreu na
Arena Conrinthias, em São Paulo-SP. Acredita-se que o grande destaque dado pela mídia
internacional, condenando as vaias brasileiras, talvez tenha sido um dos motivos da presidente
decidir se pronunciar sobre o fato vergonhoso e aproveitar a situação para consolidar sua
imagem, denegrida desde as manifestações de junho de 2013.
A publicação mais curtida no dia 13 de junho representou uma resposta da presidente à
atitude dos brasileiros. O post, com a foto séria de Dilma, dizia: “Não serão xingamentos que
vão me intimidar. O povo brasileiro não age assim, não pensa assim e, sobretudo, não sente
dessa forma”. Isto demonstra que nada intimidou a presidente e que, mesmo com a má
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atitude, ela confiou no povo, acreditou no seu caráter e permaneceu firme. O texto que
acompanhou o post fez um link com a notícia publicada na íntegra no site da Agência PT de
Notícias, dessa forma interagiu com o internauta e ressaltou a vida da presidente durante a
ditadura militar, colocando-a na condição de vítima.
O post do dia 14 de junho representou uma reafirmação do sentimento da presidente
sobre a situação de desrespeito, definida pelo texto que acompanha a publicação como um
“lamentável fato ocorrido na abertura da #CopadasCopas”. A foto, com a imagem do cantor
Chico César e o trecho da sua canção, foi uma tentativa de reafirmação desse sentimento.
Além de retirar o foco do momento de tensão e rejeição vivido na abertura da Copa do
Mundo de Futebol 2014, a presidente, desde antes do início do mundial, já estava ciente da
existência de uma torcida negativa de opositores que acreditavam na realização do evento
apenas para palanque eleitoral e fins políticos, tendo em vista a proximidade das eleições
presidenciais 2014. Com a publicação do dia 15 de junho, Dilma buscou a retirada desta
imagem negativa afirmando que a seleção brasileira estava acima da política e de quaisquer
interesses, com o propósito de aproximação com o povo brasileiro que faz parte de uma nação
declarada para o mundo como apaixonada pelo futebol.
Após quatro dias de evento, a notícia divulgada pelo jornal britânico Eurosport,
classificando a Copa do Mundo de Futebol 2014 como a melhor copa do mundo de todos os
tempos, foi o meio encontrado pela presidente para afirmar aos brasileiros o sucesso do
mundial. Por meio da publicação do dia 16 de junho, quinto dia do evento, Dilma revelou a
notícia para a nação e a #CopadasCopas, criada pela presidente, expressou como, desde o
início, o maior propósito foi tornar o evento um grande espetáculo.
O poema “Viva Vaia”, do poeta e advogado Augusto de Campos, foi utilizado pelo
jornal Folha de S. Paulo para ilustrar as agressões sofridas pela presidente na abertura da
Copa. A foto do post do dia 17 de junho acompanhou o texto do poeta que dizia “Pois eu lhes
digo: Viva Dilma, vaia aos vips”, uma afirmação de Augusto repudiando a atitude do jornal.
A presidente retomou o episódio ocorrido, que ainda estava sendo comentado pela mídia, e
expôs o sentimento do poeta deixando a condição de vítima e colocando-se acima da situação
desagradável.
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A #MomentoTorcedor foi uma hashtag muito utilizada na rede social da presidente no
período da Copa do Mundo de Futebol 2014. A publicação do dia 18 de junho foi um
exemplo do sucesso dessa estratégia. Sendo o post de maior curtidas do dia, a atitude
representou a interação com o internauta/eleitor que se sentiu mais próximo da presidente,
mostrando a ela o seu momento íntimo de torcida pela seleção brasileira.
Sodré (2002) observa que a rede é onde as conexões e as interseções tomam o lugar do
que seria antes pura linearidade. As redes sociais envolvem um conjunto de atores que
mantêm ligações entre si e o surgimento delas proporcionaram uma nova relação de tempo
e/ou espaço, além de interação com o indivíduo. As redes sociais permitiram uma nova
dimensão que promove relações diferentes, por isso, Wellman (1996) verifica, na rede, sua
identidade singular em determinada situação, isto é, a representação e a interpretação das
relações em rede estão fortemente ligadas à realidade que a cerca.
Outra hashtag muito utilizada em todas as redes sociais e não só na página da
presidente Dilma foi a #ForçaNeymar. Na postagem do dia 7 de julho, a presidente Dilma
Rousseff prestou uma homenagem ao jogador que saiu do mundial após uma lesão na
vértebra, durante o jogo Brasil versus Colômbia. A presidente, por meio da solidariedade ao
jogador, buscou igualdade com os brasileiros, que lamentaram o ocorrido.
Após a seleção alemã ganhar, por 7 a 1, da seleção brasileira, Dilma Rousseff
lamentou o ocorrido em sua página no Facebook do dia 8 de julho. “Brasil, „Levanta, sacode a
poeira e dá a volta por cima‟”, dizia a publicação. A presidente demonstrou, dessa forma, que
estava acompanhando e apoiando os brasileiros em todos os momentos, mesmo nos tristes, e
exaltou o diferencial do povo brasileiro: a paixão.
“Superar a derrota é a característica e a marca de uma grande seleção e de um grande
país”, dizia a presidente no post do dia 9 de julho. Ainda sobre a derrota brasileira, em
entrevista à CNN, Dilma ressaltou que o futebol é feito de vitórias e derrotas. No caso, a
estratégia foi explicar ao povo brasileiro que a derrota deve ser respeitada e que, mesmo triste
com o fato, o povo ainda foi vitorioso, pois venceu em carisma, hospitalidade e alegria.
O sonho da taça do hexa já havia sido destruído, a estratégia para o momento era
mostrar aos brasileiros que, apesar das derrotas, também houve grandes vitórias e os mais
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vitoriosos são os brasileiros. Com o único post do dia 10 de julho, a presidente ressaltou o
benefício de micro e pequenas empresas com a #CopadasCopas. A tentativa, naquele
momento, foi elevar a autoestima do povo revelando os vários investimentos e ganhos dados
ao país com a realização do evento.
No dia 11 de julho a presidente fez referência à educação ambiental com o Tatu Bola,
mascote da Copa e animal em extinção, e criou a campanha #EuProtejoOTatuBola. Já no dia
12 de julho a publicação com o maior número de curtidas foi a da vitória da Holanda na
disputa pelo terceiro lugar. O Brasil não foi hexacampeão da #CopadasCopas, mas a vitória
brasileira revelou-se na hospitalidade tão divulgada na mídia durante toda a realização do
evento. Então, nada mais cordial do que parabenizar o adversário. O mesmo ocorreu na
publicação do dia 13 de julho que felicitou a grande vencedora da Copa do Mundo de Futebol
2014: a Alemanha.
2
Considerações finais
A análise da página do Facebook da presidente do Brasil Dilma Rousseff, no período
da Copa do Mundo de Futebol 2014, permite afirmar que a rede social foi utilizada como uma
ferramenta em potencial de marketing político, frente à proximidade das eleições que seriam
realizadas ainda naquele ano.
Assim, no período preparatório ao megaevento, a insegurança e o receio de muitos
brasileiros, e até de alguns setores da própria mídia, de não haver a Copa do Mundo de
Futebol 2014, por atrasos nas obras de infraestrutura no Brasil, deram lugar à “Copa das
Copas”. Os dribles não aconteceram somente nos estádios, mas o cenário também se
perpetuou na rede social da presidente Dilma Rousseff, que utilizou sua página no Facebook
durante o evento para fomentar o nacionalismo coletivo provocado pelo futebol.
As hashtags virais #ForçaNeymar e #MomentoTorcedor foram utilizadas como
formas de aproximar a presidente de seus eleitores e provocar uma maior interatividade. O
Facebook, uma rede social “democrática”, funcionou como uma plataforma política para que
Dilma Rousseff utilizasse o megaevento a seu favor, sem parecer que estava fazendo
propaganda de seu governo.
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Dessa forma, a presidente conseguiu mostrar a Copa do Mundo de Futebol 2014 como
um espetáculo de sucesso, ou melhor, como a “Copa das Copas”, utilizando para isso gatilhos
estratégicos que ajudaram na construção da imagem positiva de seu mandato, ressaltando os
benefícios que o evento trouxe para o Brasil.
3
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