RESUMO EXPANDIDO 126 INFESTAÇÃO DE QUESADA GIGAS

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RESUMO
24ªEXPANDIDO
RAIB
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126
INFESTAÇÃO DE QUESADA GIGAS (OLIVIER, 1790)
(HEMIPTERA: CICADIDAE) EM PLANTAS DE CAFEEIRO
M.M. Kubota1*, D.H.B. MacCagnan2, N.A. Pereira1, N.M. Martinelli1
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Via de Acesso Prof. Paulo
Donato Castellane, s/no, CEP 14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
1
RESUMO
Quesada gigas (Hemiptera: Cicadidae) é uma importante praga do cafeeiro. Porém, os conhecimentos sobre essa espécie de cigarra são escassos. O adulto tem duração de poucas semanas, até
dois a três meses, enquanto que a fase imatura é muito longa. O conhecimento sobre a biologia
de Q. gigas é reduzido, devido à dificuldade de coleta e estabelecimento de técnica de criação. Este
trabalho objetivou a possibilidade de infestação artificial com ninfas de primeiro ínstar e com ramos secos contendo ovos de Q. gigas, em plantas de cafeeiro. O experimento foi realizado em área
experimental do Departamento de Fitossanidade da UNESP, em Jaboticabal, SP, em 19 plantas de
café da variedade Mundo Novo. Cada planta foi transplantada isoladamente no interior de caixas
de alvenaria. Para a obtenção das ninfas, foi realizada a coleta dos ramos secos de plantas de café
em área experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG, em São
Sebastião do Paraíso, MG. Os ramos coletados foram levados ao laboratório do Departamento de
Fitossanidade da UNESP, em Jaboticabal, SP, onde foi induzida a eclosão das ninfas através da
imersão em água. Assim que eram eclodidas, em novembro de 2009, as ninfas eram liberadas na
base de nove plantas. Aproximadamente, 60 ramos foram utilizados para serem colocados na base
das 19 plantas de café. Os resultados obtidos mostram que é possível inocular Q. gigas em plantas
de cafeeiro com ninfas de primeiro ínstar eclodidas em laboratório. Porém, não é possível observar
a presença de ninfas no solo, através da colocação de ramos com ovos próximos à base da planta.
PALAVRAS-CHAVE: Biologia de insetos, cigarra, inoculação.
ABSTRACT
INFESTATION OF QUESADA GIGAS (OLIVIER, 1790) (HEMIPTERA: CICADIDAE) IN
COFFEE PLANTS. Quesada gigas (Hemiptera: Cicadidae) is an important coffee pest, however
the knowledge about this species of cicada is scarce. The adult lasts a few weeks to two to three
months, while the immature stage is very long. There is a few knowledge about the biology of Q.
gigas, due to the difficulty of collecting and rearing technique non established. This paper aims
the possibility of artificial infestation with first ínstar nymphs and branches containing eggs of Q.
gigas in coffee plants. The experiment was conducted at the experimental area of Departamento de
Fitossanidade of UNESP from Jaboticabal, SP, Brazil, with 19 coffee plants, variety Mundo Novo.
Each coffee plant was transplanted alone inside masonry boxes. To obtain the nymphs, branches of
coffee plants were collected at experimental area of Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas
Gerais - EPAMIG in São Sebastião do Paraíso, MG, Brazil. The branches collected were taken to
the laboratory of UNESP from Jaboticabal, SP, where the outbreak was induced by immersion of
the nymphs in water. When the eggs hatched, in November 2009, the nymphs were released at the
base of plants. About 60 branches were used to be placed at the base of 19 coffee plants. The results
show that it is possible to inoculate Q. gigas on coffee plants with first ínstar nymphs hatched in
laboratory. However, it is not possible to observe the nymphs presence in the soil by placing the
oviposited branches near the coffee plant.
KEY WORDS: Insect biology, cicada, inoculation.
Universidade Estadual de Goiás, ,Iporá, GO, Brasil.
*Bolsista CAPES.
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INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
Quesada gigas (Olivier, 1790) (Hemiptera: Cicadidae)
é uma importante praga do cafeeiro, que ataca principalmente os plantios de Minas Gerais e São Paulo
(Martinelli, 2004). São insetos evidentes no meio
ambiente, em função do som que emitem. De acordo
com Boulard (1965), a longevidade do adulto, que
tem duração de poucas semanas até 2 a 3 meses, pode
ser considerada efêmera quando comparada com a
sua fase ninfal. Embora variável de acordo com a
espécie, essa fase é sempre muito longa, podendo
atingir dezessete anos.
As cigarras são insetos cujo desenvolvimento
do imaturo ocorre no subsolo, onde a ninfa se
alimenta sugando seiva no xilema da raiz (White;
Strehl, 1978). Localizam-se geralmente nas raízes
mais grossas e também na raiz principal da planta, onde são encontradas até a profundidade de
1 metro. Geralmente encontra-se uma maior concentração de ninfas em camadas de até 35 cm de
profundidade do solo e num raio de 25 cm da raiz
principal (Souza et al., 1983). Durante a fase em que
a ninfa está no solo, esta é móvel. Posteriormente,
abandona o solo por meio de uma galeria cilíndrica,
individual, geralmente sob a parte aérea da planta.
A ninfa sobe ao tronco do cafeeiro ou em qualquer
outro suporte onde, depois de fixada, passa para a
fase de ninfa imóvel, a qual dura aproximadamente
duas horas, geralmente a partir do anoitecer. Após
esse período, há ruptura do tegumento na região
dorsal, emergindo o adulto e deixando no tronco a
exúvia (Souza et al., 1983).
Os insetos adultos costumam emergir nos meses
de setembro a novembro, embora haja relatos de que
isso ocorra entre os meses de agosto e outubro (Gallo
et al., 2002). Em relação à duração do ciclo, os mesmos
autores supõem um tempo entre três e quatro anos.
O inseto que vive no solo, seja durante todo o ciclo
de vida ou em uma das fases de desenvolvimento,
é mais difícil, em geral, de ser criado, se comparado
com insetos da parte aérea. A criação em laboratório
demanda a reprodução das características do solo em
que o inseto vive, sob o ponto de vista químico, físico
e biológico. Todavia, a reprodução de tais condições
nem sempre é fácil (Parra, 2007).
As cigarras recebem relativamente pouca
atenção por causa da dificuldade de coleta e da
dificuldade na identificação desse grupo de insetos (Sanborn, 2008). O conhecimento da biologia
de um inseto é de fundamental importância para
o desenvolvimento de estratégias de manejo eficientes (Parra, 2000). Assim, este trabalho objetivou avaliar a possibilidade de infestação artificial
com ninfas de primeiro ínstar e com ramos secos
contendo ovos de Q. gigas, em plantas de cafeeiro
da variedade Mundo Novo.
O experimento foi realizado em área experimental do Departamento de Fitossanidade da UNESP,
em Jaboticabal, SP, em plantas de café da variedade
Mundo Novo. Foi utilizado um total de 19 plantas.
Cada planta de café foi transplantada, isoladamente,
no interior de caixas de alvenaria com um metro de
profundidade e 1,5 m de largura e comprimento.
As fêmeas de Q. gigas colocam os seus ovos sob a
casca, dentro dos ramos, pelo seu ovipositor. Para a obtenção das ninfas, foi realizada a coleta dos ramos secos
de plantas de café, na área experimental da Empresa
de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG,
em São Sebastião do Paraíso, MG, em 13 de novembro
de 2009, referente ao final do período de emergência
de Q. gigas, para o referido local. Os ramos coletados
foram transportados ao laboratório do Departamento
de Fitossanidade da UNESP, em Jaboticabal, SP, onde,
seguindo a metodologia proposta por Moriyama; Numata (2006) e Ribeiro (2010), foi induzida a eclosão das
ninfas através da imersão em água.
As ninfas obtidas foram liberadas junto à base de nove
plantas de café, de forma gradativa, de acordo com sua
eclosão em condições de laboratório, totalizando, aproximadamente, 100 ninfas por planta. Essa liberação ocorreu
de dezembro até o início de janeiro. No momento da
liberação, o solo era previamente umedecido. Para evitar a
dispersão e a predação das ninfas por formigas, colocava-se um recipiente transparente invertido sobre elas.
Na base de todas as 19 plantas de café foram colocados, aproximadamente, 60 ramos, na expectativa
de que destes também houvesse a eclosão de ninfas
e posterior inoculação das plantas de café por essas.
De modo a se evitar a oviposição de forma não
controlada das cigarras nas plantas de cafeeiro, antes do início do experimento foram retirados todos
os ramos secos que essas apresentavam, seguindo
recomendação de Decaro Junior (2010). Após a inoculação das ninfas e a colocação dos ramos, as plantas
foram cercadas por tela, evitando a oviposição de Q.
gigas, de modo que todas as ninfas encontradas sejam
provenientes da inoculação artificial.
Em agosto de 2010, para avaliar as ninfas presentes no solo, a terra próxima à base de duas plantas
foi retirada, expondo as raízes. Em julho de 2011
avaliaram-se todas as plantas restantes, onde foram
colocados apenas os ramos e duas plantas com infestação artificial de ninfas de cigarra. Para confirmar que
as ninfas encontradas eram de Q. gigas, estas foram
identificadas segundo MacCagnan; Martinelli (2004).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na avaliação realizada em 2010, com a finalidade
de verificar a presença de Q. gigas na planta em que
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ocorreu a inoculação artificial de ninfas de primeiro
ínstar, retirou-se o solo da base de uma planta e foram
encontradas sete ninfas. Estas ninfas estavam a uma
profundidade em relação à superfície variando entre
9 e 20 cm e associadas com raízes de diâmetro entre 2
e 5 mm. O diâmetro de suas galerias era. aproximadamente, 1,3 cm. Numa segunda avaliação, em julho
de 2011, retirou-se o solo da base de duas plantas
inoculadas com as ninfas e foram encontradas 17
ninfas de Q. gigas. Estas ninfas estavam presentes na
raiz principal. O diâmetro das galerias aproximava
de 3,6 cm. Estes resultados demonstram que através
da infestação artificial de ninfas eclodidas em laboratório, é possível dar início à criação deste inseto em
raízes de plantas para futuras pesquisas com Q. gigas.
No entanto, nas plantas de café que tiveram apenas os ramos secos colocados em suas bases, não foi
constatada a presença das ninfas em nenhuma das
duas avaliações. Este resultado pode ser explicado
devido à baixa umidade do ambiente, ocasionando a dessecação das ninfas de cigarra (Moriyama;
Numata, 2006) e pela predação por formiga (Ito;
Nagamine, 1981), uma vez que não havia recipientes protegendo os ramos. Para os insetos, com seus
pequenos corpos, a perda de água é um problema a
ser contornado (Chown; Nicolson, 2004). Imediatamente após a eclosão das ninfas, espera-se que essas
sejam mais sensíveis a baixa umidade do ambiente e
de deficiências nutricionais, devido ao seu pequeno
tamanho e difícil acesso aos recursos alimentares
(Woods; Singer, 2001). Portanto, estes fatos podem ter
ocasionado a morte das ninfas antes delas iniciarem
a vida subterrânea e a busca por alimento.
Em um trabalho conduzido por Pachas (1966)
com plantas de erva-mate em Misiones, Argentina, o
autor observou que o ramo com oviposição da espécie de cigarra Fidicina mannifera ao ser mantido sem
umidade por 45 dias, não apresentava eclosão das
ninfas. Para não perder este ramo, o autor o colocou
dentro de um tubo de ensaio cobrindo a abertura
com uma tela e o pendurou na mesma planta. Após a
ocorrência de precipitação de 8 mm e o tubo de ensaio
encher de água, as ninfas eclodiram, sucessivamente.
A presença de umidade elevada mostra-se importante para as cigarras, tanto no momento da
eclosão quanto para a sobrevivência nas primeiras
horas de vida para chegar ao subsolo. Desta forma,
a inoculação de plantas de cafeeiro com Q. gigas é
uma alternativa para impulsionar futuros estudos
com esta importante praga.
CONCLUSÕES
É possível inocular Q. gigas em plantas de cafeeiro
a partir de ninfas de primeiro ínstar eclodidas em
laboratório, sendo possível iniciar a criação desta
espécie em raízes de plantas para futuras pesquisas.
Porém, não é possível observar a presença de ninfas
no solo através da colocação de ramos com ovos
próximos à base do cafeeiro.
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