RESUMO 24ªEXPANDIDO RAIB 307 126 INFESTAÇÃO DE QUESADA GIGAS (OLIVIER, 1790) (HEMIPTERA: CICADIDAE) EM PLANTAS DE CAFEEIRO M.M. Kubota1*, D.H.B. MacCagnan2, N.A. Pereira1, N.M. Martinelli1 Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/no, CEP 14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 1 RESUMO Quesada gigas (Hemiptera: Cicadidae) é uma importante praga do cafeeiro. Porém, os conhecimentos sobre essa espécie de cigarra são escassos. O adulto tem duração de poucas semanas, até dois a três meses, enquanto que a fase imatura é muito longa. O conhecimento sobre a biologia de Q. gigas é reduzido, devido à dificuldade de coleta e estabelecimento de técnica de criação. Este trabalho objetivou a possibilidade de infestação artificial com ninfas de primeiro ínstar e com ramos secos contendo ovos de Q. gigas, em plantas de cafeeiro. O experimento foi realizado em área experimental do Departamento de Fitossanidade da UNESP, em Jaboticabal, SP, em 19 plantas de café da variedade Mundo Novo. Cada planta foi transplantada isoladamente no interior de caixas de alvenaria. Para a obtenção das ninfas, foi realizada a coleta dos ramos secos de plantas de café em área experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG, em São Sebastião do Paraíso, MG. Os ramos coletados foram levados ao laboratório do Departamento de Fitossanidade da UNESP, em Jaboticabal, SP, onde foi induzida a eclosão das ninfas através da imersão em água. Assim que eram eclodidas, em novembro de 2009, as ninfas eram liberadas na base de nove plantas. Aproximadamente, 60 ramos foram utilizados para serem colocados na base das 19 plantas de café. Os resultados obtidos mostram que é possível inocular Q. gigas em plantas de cafeeiro com ninfas de primeiro ínstar eclodidas em laboratório. Porém, não é possível observar a presença de ninfas no solo, através da colocação de ramos com ovos próximos à base da planta. PALAVRAS-CHAVE: Biologia de insetos, cigarra, inoculação. ABSTRACT INFESTATION OF QUESADA GIGAS (OLIVIER, 1790) (HEMIPTERA: CICADIDAE) IN COFFEE PLANTS. Quesada gigas (Hemiptera: Cicadidae) is an important coffee pest, however the knowledge about this species of cicada is scarce. The adult lasts a few weeks to two to three months, while the immature stage is very long. There is a few knowledge about the biology of Q. gigas, due to the difficulty of collecting and rearing technique non established. This paper aims the possibility of artificial infestation with first ínstar nymphs and branches containing eggs of Q. gigas in coffee plants. The experiment was conducted at the experimental area of Departamento de Fitossanidade of UNESP from Jaboticabal, SP, Brazil, with 19 coffee plants, variety Mundo Novo. Each coffee plant was transplanted alone inside masonry boxes. To obtain the nymphs, branches of coffee plants were collected at experimental area of Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG in São Sebastião do Paraíso, MG, Brazil. The branches collected were taken to the laboratory of UNESP from Jaboticabal, SP, where the outbreak was induced by immersion of the nymphs in water. When the eggs hatched, in November 2009, the nymphs were released at the base of plants. About 60 branches were used to be placed at the base of 19 coffee plants. The results show that it is possible to inoculate Q. gigas on coffee plants with first ínstar nymphs hatched in laboratory. However, it is not possible to observe the nymphs presence in the soil by placing the oviposited branches near the coffee plant. KEY WORDS: Insect biology, cicada, inoculation. Universidade Estadual de Goiás, ,Iporá, GO, Brasil. *Bolsista CAPES. 2 Biológico, São Paulo, v.73, n.2, p.307-310, jul./dez., 2011 308 24ª RAIB INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS Quesada gigas (Olivier, 1790) (Hemiptera: Cicadidae) é uma importante praga do cafeeiro, que ataca principalmente os plantios de Minas Gerais e São Paulo (Martinelli, 2004). São insetos evidentes no meio ambiente, em função do som que emitem. De acordo com Boulard (1965), a longevidade do adulto, que tem duração de poucas semanas até 2 a 3 meses, pode ser considerada efêmera quando comparada com a sua fase ninfal. Embora variável de acordo com a espécie, essa fase é sempre muito longa, podendo atingir dezessete anos. As cigarras são insetos cujo desenvolvimento do imaturo ocorre no subsolo, onde a ninfa se alimenta sugando seiva no xilema da raiz (White; Strehl, 1978). Localizam-se geralmente nas raízes mais grossas e também na raiz principal da planta, onde são encontradas até a profundidade de 1 metro. Geralmente encontra-se uma maior concentração de ninfas em camadas de até 35 cm de profundidade do solo e num raio de 25 cm da raiz principal (Souza et al., 1983). Durante a fase em que a ninfa está no solo, esta é móvel. Posteriormente, abandona o solo por meio de uma galeria cilíndrica, individual, geralmente sob a parte aérea da planta. A ninfa sobe ao tronco do cafeeiro ou em qualquer outro suporte onde, depois de fixada, passa para a fase de ninfa imóvel, a qual dura aproximadamente duas horas, geralmente a partir do anoitecer. Após esse período, há ruptura do tegumento na região dorsal, emergindo o adulto e deixando no tronco a exúvia (Souza et al., 1983). Os insetos adultos costumam emergir nos meses de setembro a novembro, embora haja relatos de que isso ocorra entre os meses de agosto e outubro (Gallo et al., 2002). Em relação à duração do ciclo, os mesmos autores supõem um tempo entre três e quatro anos. O inseto que vive no solo, seja durante todo o ciclo de vida ou em uma das fases de desenvolvimento, é mais difícil, em geral, de ser criado, se comparado com insetos da parte aérea. A criação em laboratório demanda a reprodução das características do solo em que o inseto vive, sob o ponto de vista químico, físico e biológico. Todavia, a reprodução de tais condições nem sempre é fácil (Parra, 2007). As cigarras recebem relativamente pouca atenção por causa da dificuldade de coleta e da dificuldade na identificação desse grupo de insetos (Sanborn, 2008). O conhecimento da biologia de um inseto é de fundamental importância para o desenvolvimento de estratégias de manejo eficientes (Parra, 2000). Assim, este trabalho objetivou avaliar a possibilidade de infestação artificial com ninfas de primeiro ínstar e com ramos secos contendo ovos de Q. gigas, em plantas de cafeeiro da variedade Mundo Novo. O experimento foi realizado em área experimental do Departamento de Fitossanidade da UNESP, em Jaboticabal, SP, em plantas de café da variedade Mundo Novo. Foi utilizado um total de 19 plantas. Cada planta de café foi transplantada, isoladamente, no interior de caixas de alvenaria com um metro de profundidade e 1,5 m de largura e comprimento. As fêmeas de Q. gigas colocam os seus ovos sob a casca, dentro dos ramos, pelo seu ovipositor. Para a obtenção das ninfas, foi realizada a coleta dos ramos secos de plantas de café, na área experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG, em São Sebastião do Paraíso, MG, em 13 de novembro de 2009, referente ao final do período de emergência de Q. gigas, para o referido local. Os ramos coletados foram transportados ao laboratório do Departamento de Fitossanidade da UNESP, em Jaboticabal, SP, onde, seguindo a metodologia proposta por Moriyama; Numata (2006) e Ribeiro (2010), foi induzida a eclosão das ninfas através da imersão em água. As ninfas obtidas foram liberadas junto à base de nove plantas de café, de forma gradativa, de acordo com sua eclosão em condições de laboratório, totalizando, aproximadamente, 100 ninfas por planta. Essa liberação ocorreu de dezembro até o início de janeiro. No momento da liberação, o solo era previamente umedecido. Para evitar a dispersão e a predação das ninfas por formigas, colocava-se um recipiente transparente invertido sobre elas. Na base de todas as 19 plantas de café foram colocados, aproximadamente, 60 ramos, na expectativa de que destes também houvesse a eclosão de ninfas e posterior inoculação das plantas de café por essas. De modo a se evitar a oviposição de forma não controlada das cigarras nas plantas de cafeeiro, antes do início do experimento foram retirados todos os ramos secos que essas apresentavam, seguindo recomendação de Decaro Junior (2010). Após a inoculação das ninfas e a colocação dos ramos, as plantas foram cercadas por tela, evitando a oviposição de Q. gigas, de modo que todas as ninfas encontradas sejam provenientes da inoculação artificial. Em agosto de 2010, para avaliar as ninfas presentes no solo, a terra próxima à base de duas plantas foi retirada, expondo as raízes. Em julho de 2011 avaliaram-se todas as plantas restantes, onde foram colocados apenas os ramos e duas plantas com infestação artificial de ninfas de cigarra. Para confirmar que as ninfas encontradas eram de Q. gigas, estas foram identificadas segundo MacCagnan; Martinelli (2004). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na avaliação realizada em 2010, com a finalidade de verificar a presença de Q. gigas na planta em que Biológico, São Paulo, v.73, n.2, p.307-310, jul./dez., 2011 309 24ª RAIB ocorreu a inoculação artificial de ninfas de primeiro ínstar, retirou-se o solo da base de uma planta e foram encontradas sete ninfas. Estas ninfas estavam a uma profundidade em relação à superfície variando entre 9 e 20 cm e associadas com raízes de diâmetro entre 2 e 5 mm. O diâmetro de suas galerias era. aproximadamente, 1,3 cm. Numa segunda avaliação, em julho de 2011, retirou-se o solo da base de duas plantas inoculadas com as ninfas e foram encontradas 17 ninfas de Q. gigas. Estas ninfas estavam presentes na raiz principal. O diâmetro das galerias aproximava de 3,6 cm. Estes resultados demonstram que através da infestação artificial de ninfas eclodidas em laboratório, é possível dar início à criação deste inseto em raízes de plantas para futuras pesquisas com Q. gigas. No entanto, nas plantas de café que tiveram apenas os ramos secos colocados em suas bases, não foi constatada a presença das ninfas em nenhuma das duas avaliações. Este resultado pode ser explicado devido à baixa umidade do ambiente, ocasionando a dessecação das ninfas de cigarra (Moriyama; Numata, 2006) e pela predação por formiga (Ito; Nagamine, 1981), uma vez que não havia recipientes protegendo os ramos. Para os insetos, com seus pequenos corpos, a perda de água é um problema a ser contornado (Chown; Nicolson, 2004). Imediatamente após a eclosão das ninfas, espera-se que essas sejam mais sensíveis a baixa umidade do ambiente e de deficiências nutricionais, devido ao seu pequeno tamanho e difícil acesso aos recursos alimentares (Woods; Singer, 2001). Portanto, estes fatos podem ter ocasionado a morte das ninfas antes delas iniciarem a vida subterrânea e a busca por alimento. Em um trabalho conduzido por Pachas (1966) com plantas de erva-mate em Misiones, Argentina, o autor observou que o ramo com oviposição da espécie de cigarra Fidicina mannifera ao ser mantido sem umidade por 45 dias, não apresentava eclosão das ninfas. Para não perder este ramo, o autor o colocou dentro de um tubo de ensaio cobrindo a abertura com uma tela e o pendurou na mesma planta. Após a ocorrência de precipitação de 8 mm e o tubo de ensaio encher de água, as ninfas eclodiram, sucessivamente. A presença de umidade elevada mostra-se importante para as cigarras, tanto no momento da eclosão quanto para a sobrevivência nas primeiras horas de vida para chegar ao subsolo. Desta forma, a inoculação de plantas de cafeeiro com Q. gigas é uma alternativa para impulsionar futuros estudos com esta importante praga. CONCLUSÕES É possível inocular Q. gigas em plantas de cafeeiro a partir de ninfas de primeiro ínstar eclodidas em laboratório, sendo possível iniciar a criação desta espécie em raízes de plantas para futuras pesquisas. Porém, não é possível observar a presença de ninfas no solo através da colocação de ramos com ovos próximos à base do cafeeiro. REFERÊNCIAS BOULARD, M. Notes sur la biologie larvaire de las cigales (Hom. Cicadidae). Annales de la Société Entomologique de France, v.1, p.503-521, 1965. CHOWN, S.L.; NICOLSON, S.W. Insect physiological ecology. Oxford: Oxford University Press, 2004. DECARO JUNIOR, S.T. Aspectos da oviposição de Quesada gigas (Olivier, 1790) (Hemiptera: Cicadidae) em plantas de café. 2010. 66p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal, 2010. 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