Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 ECOLOGIA COMPORTAMENTAL DE Aratinga aurea (AVES: PSITTACIDAE) NA ÁREA URBANA DE MORRINHOS-GO. Graziele Alves Campos (UEG)1 [email protected] Drielly Auxiliadora de Oliveira Coelho2 [email protected] Nilson Kássio Pereira Lima (UEG)3 [email protected] Tatiane Linha Torres (UEG)4 [email protected] Rafael de Freitas Juliano (UEG)5 [email protected] Introdução As características do ambiente urbano promovem condições adequadas para sobrevivência de muitas aves em parques, praças, bosques, cemitérios e outras áreas (MENDONÇA-LIMA & FONTANA, 2000), além de permitir nidificação (EMLEN, 1974; ARGEL-DE-OLIVEIRA, 1995). Deste modo, a vegetação variada, incluindo a vegetação nativa presente, é favorável para a manutenção de muitas espécies de aves (ARGEL-DE-OLIVEIRA; MATARAZZO-NEUBERGER, 1995). Essa avifauna presente nas cidades é atraída por flores, frutos, sementes, insetos e outros recursos, porém algumas guildas apresentam estímulos diferentes frente à antropização (VILLANUEVA & SILVA, 1996). Alguns Psitacídeos tem se tornado bastante conspícuos em área urbanas chegando a ser considerados comuns (PARANHOS et.al, 2009; MONTEIRO & BRANDÃO, 1995; MALLET-RODRIGUES et.al, 2008; BRAGA et.al, 2010; PACHECO & OLMOS, 2010). Estudos sobre a utilização da arborização urbana pela avifauna demonstraram que espécies da família Psittacidae se utilizam de vários recursos, podendo até se alimentar exclusivamente de espécies utilizadas na arborização pública (BRUN et.al., 2007). Aratinga aurea, conhecida popularmente como Periquito-rei, é considerada uma espécie típica de áreas abertas, ocorrendo principalmente nas áreas de Cerrado, Cerradão, mata de galeria, jardins e cidades. Os casais ou bandos pequenos voam em formações compostas (GWYNNE, 2010). A espécie nidifica em cupinzeiros arbóreos (GWYNNE, 2010; PARANHOS, 2008). A alimentação é variada, composta por frutos, sementes, flores, folhas e cupins alados (PARANHOS, 2009). A dieta generalista pode ser um fator importante para sua adaptação em ambientes antropizados (PARANHOS, 2009). A espécie pode ser considerada dispersora de sementes, devido ao comportamento de carregá-las em vôo (PARANHOS, 2009). Apesar disso, Paranhos e.al. (2009) observaram que a espécie também age como predadora de sementes triturando-as ou deixando seus restos caírem sob a planta mãe. Os indivíduos têm o comportamento de se agrupar em dormitórios, o que pode reduzir a vigilância individual e aumentar o tempo para outras atividades (LUNARDI & LUNARDI, 2009). 1 Programa PVIC-UEG 2 Programa PVIC-UEG 3 Programa PVIC-UEG 4 Programa PVIC-UEG 5 Professor Coordenador do Projeto 1 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 Apesar de ser considerada comum em cidades (GWYNNE, 2010), existem poucas informações detalhadas sobre a alimentação da espécie (PARANHOS) e sua reprodução (PARANHOS et al., 2008; 2009). Objetivos Os objetivos desse trabalho foram descrever a ecologia e exploração de recursos alimentares por Aratinga aurea na área urbana de Morrinhos, GO, com ênfase na distribuição temporal, espacial e sazonal. Material e Métodos O estudo foi realizado no município de Morrinho, GO, onde predomina a vegetação de Cerrado, com duas estações bem definidas, uma chuvosa e outra seca (EMBRAPA CERRADOS, 2000; KLINK & MACHADO, 2005). Foram amostradas três zonas com diferentes graus de antropização (sensu MILLER; 2006), as áreas foram divididas em Central (C), Periférica (P) e Limítrofe (L). Foram escolhidos cinco pontos por zona, sendo áreas com, no mínimo, três árvores. A cada mês foram realizadas três coletas por zona e por estação, sendo amostradas cinco praças por turno, de Agosto de 2010 a Julho de 2011. Os turnos se iniciaram logo após a alvorada, com 30 minutos de observação, quantificando-se a abundância relativa e o comportamento dos indivíduos. Foi utilizado binóculo 8x40 e câmera Panasonic Lumix DMC-FH20 ® 8x para as observações. Como não foi possível alcançar a normalidade mesmo após transformação dos dados, foram usados testes não paramétricos. As variáveis qualitativas e categóricas e as análises de dados sobre hábitat e forrageamento foram submetidas aos testes KruskallWallis ou sua extensão multifatorial Scheirer-Ray-Hare. Para comparações múltiplas post-hoc foi utilizado o teste de Mann Whitney. As análises principais foram realizadas pelo programa Systat® 12.0 (SYSTAT, CO 2009). Resultados e Discussão Aratinga aurea foi encontrada em atividade em todas as zonas e estações. A espécie utilizou todas as zonas da cidade como percurso, deslocamento interno e sobrevôo de busca. A maior atividade dos indivíduos foi pela manhã com pico às 6:30 h. Independente das estações, os recursos vegetais mais abundantes na área urbana foram flores (44%) e frutos carnosos (23%), porém a maior parte dos registros de alimentação incluiu frutos carnosos (43%) e flores (13%), além de cupins, liquens, sementes e outros itens vegetais. Os frutos carnosos foram mais abundantes na zona central e periférica (Kruskal-Wallis p<0,05). Foram observados indivíduos nidificando em termiteiros, além de utilizá-los como dormitório. A abundância relativa de A. aurea não variou por zona ou por estação (Kruskal-Wallis p<0,05). O tamanho do bando variou por zona, sendo os bandos maiores na zona Limítrofe em relação às outras duas (Kruskal-Wallis p>0,05). O tamanho médio dos bandos não variou por estação (Kruskal-Wallis p>0,05). Aratinga aurea explorou diferentes áreas da cidade e conseqüentemente seus recursos. Na zona Limítrofe o tamanho médio dos bandos foi maior, o que pode ter sido influenciado pela aglomeração dos recursos (Chapman et al., 1989) ou pelos efeitos anti-predação e otimização do forrageamento em grupo (Gill, 2007). Nesta região da cidade, os recursos principais consumidos por essa espécie foram mais escassos e a área 2 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 19 a 21 de outubro de 2011 é mais aberta, sujeita a predadores mais eficientes como os falcões e gaviões. Neste estudo, A. aurea se comportou como predadora de sementes, deixando frutos e sementes danificados caírem sob as árvores mães. Possivelmente, para espécies que produzem muitos frutos a espécie auxilia na manutenção das populações vegetais, inviabilizando muitas sementes (PARANHOS, 2009). Os eventos de alimentação de cupins são raros para Psitacídeos, porém mais freqüentes para Psitacídeos Neotropicais como A. aurea (FARIA, 2007). O comportamento de se alimentar de cupins pode estar relacionado ao oportunismo que ocorre na época de reprodução e construção dos ninhos (PARANHOS, 2009; FARIA, 2007). O tamanho do bando de A. aurea não variou entre as estações e este padrão similar foi encontrado para várias espécies de psitacídeos por Luccas & Antunes (2009). O comportamento alimentar foi generalista, auxiliando na adaptação da espécie a áreas antropizadas. (PARANHOS, 2009). Considerações Finais Aratinga aurea utilizou vários recursos na área urbana, sendo recursos alimentares os mais utilizados. Nas atividades de busca, sobrevôo e deslocamento interno as três zonas foram utilizadas igualmente pela espécie, porém na zona Limítrofe o tamanho do bando foi maior. A nidificação em cupinzeiros arbóreos pode ser observada juntamente com o consumo de cupins. A compreensão da ecologia de A. aurea como modelo leva a compreensão de como a urbanização influencia a biologia de algumas aves. Referências Bibliográficas ARGEL-DE-OLIVEIRA, M. M. Aves e vegetação em um bairro residencial da cidade de São Paulo (São Paulo, Brasil). Revista Brasileira de Zoologia. 12 (1): 81-92, 1995. BRAGA, T. 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