Índice Introdução 3 Perfil do empreendedor 5 Conceito e avaliação do negócio 13 Análise do mercado 21 Plano de Produção 27 Estratégia de Marketing 37 Finanças da Empresa 51 Plano de Marketing 59 Plano de Negócios 67 Gestão do negócio 77 Introdução | Introdução Todos os anos são criadas novas empresas, ao mesmo tempo que outras são encerradas ou absorvidas. É um processo normal de selecção competitiva, em que só as empresas mais fortes conseguem sobreviver e prosperar. As ideias inovadoras tomadas por indivíduos arrojados são, portanto, fundamentais para o progresso dos negócios. Mas isto não significa que uma boa ideia constitua, forçosamente, um bom negócio. Nem tão pouco que qualquer pessoa, pelo facto de ter uma grande ideia, tenha a capacidade para a transformar num negócio interessante e fazê-lo progredir. E, mesmo quando ambas as condições estão reunidas (boa ideia e capacidade pessoal para a sua concretização), é difícil para os empreendedores, sejam eles já empresários ou aspirantes a tal, obterem o financiamento e o apoio de gestão necessários para realizarem os seus novos projectos, seja através de uma nova pequena ou média empresa (PME) ou de uma já existente. Isto porque há vários obstáculos ao sucesso de uma empresa que podem ditar a morte prematura desta ou mesmo a não concretização do projecto. Manual Prático do Empreendedor | 3 Perfil do empreendedor Perfil do empreendedor | Nem todos os empresários são empreendedores na sua actividade e nem todos os empreendedores são empresários. Podem ser gestores, por exemplo. Conheça os traços típicos do perfil de um empreendedor e descubra se já é um ou poderá vir a ser. Lembre-se no entanto que nem todas as pessoas com este perfil que se lançam no mundo dos negócios são bem sucedidas. Na verdade, entre todos os novos negócios, são mais aqueles que fecham prematuramente, do que aqueles que sobrevivem e crescem. O que é um empreendedor? O empreendedor é aquele que organiza e dirige um novo negócio ou projecto, assumindo os riscos inerentes a uma nova iniciativa. Assim, a função que lhe é específica é a capacidade de, com os factores de produção clássicos - trabalho, terra e capital - produzir bens ou serviços novos ou, pelo menos, processos mais eficazes de produzir e comercializar esses mesmos bens ou serviços. Tarefas a realizar pelo empreendedor categorias exemplos Planeamento Estabelecimento do mix de produtos/serviços Definição da capacidade de produção Aprovação de orçamentos Organização Centralização/Delegação de tarefas Distribuição de funções pelos membros da empresa Escolha dos fornecedores e distribuidores Controlo Comparação dos custos reais com os orçamentos Inspecção do nível de qualidade Verificação dos índices de produtividade Motivação Desafiar os colaboradores através do seu próprio desempenho Reconhecimento das performances positivas Estímulo constante à melhoria de desempenho (recompensa) Manual Prático do Empreendedor | 7 | Perfil do empreendedor Características típicas no perfil dos empreendedores São orientados para a acção Os empreendedores tendem a prosseguir objectivos desafiantes, principalmente de longo prazo, focalizando-se mais na visão do seu negócio no futuro do que nas respectivas questões quotidianas. São, portanto, mais “estratégicos” do que “operacionais”. São tolerantes ao risco Por norma, os empreendedores não receiam assumir tarefas com algum grau de risco. Contudo, isto não significa que sejam completamente propensos ao risco, preferindo assumir riscos intermédios e evitar riscos elevados, sempre que possível. Possuem muita vitalidade e energia Os empreendedores tendem a ser fisicamente resistentes, trabalhando com frequência fora de horas para o desenvolvimento do seu negócio, recusando parar mesmo quando têm algum problema de saúde. São líderes natos Eles assumem a “iniciativa do jogo”, sendo normalmente os primeiros a identificarem os problemas e a propor a solução dos mesmos e, se a primeira solução que encontram não resulta, rapidamente encontram uma solução alternativa. São auto confiantes Os empreendedores têm uma confiança quase inabalável nas suas capacidades e competências, acreditando que as suas acções podem, de facto, modificar o curso dos acontecimentos. Evitam relações emocionais fortes Procuram status Normalmente, os empreendedores são algo vaidosos com as suas conquistas, encontrando satisfação nos símbolos de sucesso dos seus negócios. No entanto, muitas vezes preferem que eventuais elogios sejam dirigidos aos seus negócios a à sua actividade profissional e não à sua pessoa. Manual Prático do Empreendedor | 8 Muitas vezes, estes indivíduos têm dificuldade em criar laços pessoais fortes com família e amigos. Necessitam de realização pessoal Como são muito orientados pela realização pessoal, têm alguma dificuldade em integrarem-se em estruturas organizacionais tradicionais, desprezando mesmo algumas actividades de gestão típicas das grandes empresas. Perfil do empreendedor | São criativos Existe nestes empreendedores uma constante procura sobre como fazer coisas novas ou, pelo menos, as mesmas coisas de uma forma mais eficaz. Em suma: - São orientados para a prossecução de objectivos desafiantes e acreditam no controlo sobre o seu destino. - São muito independentes, não criando nem procurando laços emocionais fortes. - Tendem a focalizar-se no futuro, no que toca à administração dos seus negócios, ignorando a gestão corrente dos problemas organizacionais. Razões para o sucesso São auto-suficientes Os empresários de sucesso trazem a sua autoconfiança para o ambiente de trabalho, enfrentando os problemas sozinhos se for necessário, não recuando perante as adversidades. São prudentes O facto de serem tolerantes ao risco, não implica, de forma alguma, que não procurem sempre equacionar as diversas decisões alternativas para uma dada situação, optando por aquela que, sem pôr em causa a prossecução dos objectivos, minimize os riscos. São objectivos Quando encontram soluções para um problema, partilham-na com o maior número possível de pessoas qualificadas, de forma a evitarem ser “juízes em causa própria”. No entanto, enquanto líderes, a decisão final é sempre deles. Razões para o insucesso Falta de competências e experiência de gestão Gerem por objectivos Antes de decidirem quais os caminhos a seguir, os empreendedores inteligentes tentam definir, com a clareza possível, os objectivos para cada uma das áreas da empresa. Motivam os colaboradores O verdadeiro líder é aquele que consegue impor a sua autoridade sem ser autoritário. Consegue assim induzir os comportamentos dos colaboradores mais pela persuasão do que pelo imposição. Entrar num negócio e geri-lo são coisas muito diferentes e a verdade é que muitos empreendedores falham no entendimento de todas as condicionantes do negócio. Além disso, muitos empreendedores têm a tendência para se concentrarem na sua área específica de conhecimentos, ignorando outras. Incapacidade para delegar Conforme referimos, muitos empreendedores têm uma tendência para se envolverem directamente em todos os detalhes do negócio, mesmo tratando-se de áreas em que, claramente, não são especialistas. Manual Prático do Empreendedor | 9 | Perfil do empreendedor Carências ao nível da gestão financeira Gastos exagerados Muitos empreendedores são, de facto, péssimos no planeamento financeiro. Seguindo o optimismo que lhes é peculiar, tendem a subestimar as verdadeiras necessidades de capital para arrancar e para manter o negócio, sobretudo nos primeiros tempos. Existem empreendedores que tendem a gastar muito dinheiro na aquisição de activos que pouco valor trazem ao negócio (mobiliário de escritório demasiado caro, automóveis, etc.). Má gestão do crédito Esta insuficiência está um pouco ligada ao anterior. Com efeito, muitos empreendedores tendem a avaliar o seu próprio negócio olhando simplesmente para as vendas, esquecendo-se dos prazos de pagamento. Ao assumirem práticas de crédito por vezes laxistas, os empreendedores incorrem em dificuldades de tesouraria porque simplesmente os clientes não pagam em tempo útil. Crescimento exagerado Se é certo que muitos negócios têm que crescer para sobreviver, não é menos verdade que um crescimento assente em alicerces frágeis é meio caminho para o falhanço. Muitas vezes, esse crescimento faz-se sem as correspondentes melhorias ao nível dos equipamentos e dos recursos humanos o que, logicamente, traduz-se na degradação do serviço prestado ao cliente. Falta de planeamento Antes de iniciarem qualquer novo projecto, seja numa empresa já existente seja numa nova, os empresários devem proceder a um planeamento rigoroso dos recursos e aptidões necessárias, confrontando-as com aquelas que a empresa (e ele próprio) já possui. Só assim pode ser possível suprimir ou pelo menos minimizar cada uma das razões acima apontadas. Questões para auto-análise Chegou a hora de testar se realmente é empreendedor ou não. Auto-analise-se respondendo a um conjunto de questões fundamentais que todo o empreendedor deve colocar a si próprio, de forma a avaliar as quatro dimensões que deve ter em consideração para a decisão de lançar uma empresa nova ou um novo projecto numa empresa já existente: Ineficácia de controlo Personalidade Este problema está muito ligado ao anterior. Nesta medida, muitos empresários falham na adopção de medidas de controlo (práticas contabilísticas, inventários, qualidade, prazos de entrega, etc.) quando os seus negócios crescem até um ponto em que uma pessoa apenas deixa de ser suficiente para estar em todo o lado ao mesmo tempo. - Possui a energia e a saúde necessárias para suportar longas horas seguidas de esforço e concentração? - Está disposto a trabalhar longas horas para benefícios que não serão imediatos? - É auto-suficiente a ponto de trabalhar e tomar decisões empresariais sozinho? Manual Prático do Empreendedor | 10 Perfil do empreendedor | - Consegue dar resposta rápida e fica a problemas inesperados? - É tolerante ao risco e ao stress? - Tem a auto-confiança necessária para aceitar os falhanços pontuais e transformá-los em novas oportunidades ou, pelo menos, usá-las como fonte de aprendizagem? Estilo de vida - Será capaz de conciliar a sua vida familiar com a direcção de um negócio próprio? - Conta com o apoio da sua família para os seus projectos? Estão preparados para fazer os sacrifícios necessários? - Está disposto a abdicar de parte da sua vida familiar? E a sua família, estará também preparada para isso? - É capaz de dizer “não” a férias e outras actividades de lazer com as quais sempre se habituou? - Até que ponto consegue manter a sua família informada e envolvida nos seus projectos, sem que isso implique uma excessiva confusão entre vida pessoal e profissional (as duas são frequentemente indissociáveis)? Qualificações - Possui a capacidade de planeamento e o sentido de responsabilidade necessários para ser um empresário bem sucedido? - Detém as qualificações técnicas e estratégicas adequadas ao sector de actividade da sua empresa e para a fase do ciclo de vida em que se encontra (arranque, crescimento, maturidade)? - Tem qualidades de comunicação e liderança para poder dirigir uma equipa, sobre a qual é o máximo responsável? - É capaz de hierarquizar as principais aptidões técnicas que possui e atribuir o nível de competência que detém em cada uma delas? - Está disponível para adquirir as competências em falta, seja através de auto-aprendizagem, seja recorrendo ao mercado de trabalho ou até aceitando um sócio? Finanças - Está a ser realista quanto às expectativas de retorno (imediato e a prazo) dos seus projectos? Será que trabalhando por conta de outrem não ganharia substancialmente melhor? - Possui um “fundo de emergência” para fazer face a eventuais problemas que surjam? Este aspecto é crítico, sobretudo nos novos negócios, em que os rendimentos desejados demoram a aparecer. - Fez uma avaliação rigorosa das necessidades de tesouraria (dinheiro para fazer face a compromissos de curto prazo) do seu negócio? - Terá a vontade e as aptidões necessárias para assumir o controlo dos custos dos seus novos projectos de uma forma rigorosa? - Se as coisas correrem mal, sabe o que vai fazer? Nota: Para além destas questões, muitas outras poderiam ser colocadas. Aliás, o empreendedor deve procurar criar ele próprio as questões que julgue serem relevantes para o seu caso particular. O importante é que seja capaz de responder às questões que formule com rigor e, principalmente, com muita objectividade. Deve procurar apoiar-se na sua experiência passada e na opinião daqueles que melhor o conhecem. Desta forma, aumentará substancialmente a fiabilidade das respostas às questões formuladas. Manual Prático do Empreendedor | 11 Conceito e Avaliação do Negócio Conceito e avaliação do negócio | Avaliar com rigor o conceito de negócio é o primeiro passo de um bom empreendedor. Assim este poderá: - avaliar o potencial e a própria viabilidade da empresa -analisar de forma rigorosa sobre aquilo que pretende oferecer ao mercado Aspectos fundamentais do conceito de negócio Definição do produto Bens vs Serviços A diferença fundamental entre bens e serviços tem a ver com a natureza material ou imaterial do output gerado. Produtos “Puros” - Industrias de produção em “massa” (automóveis, electrodomésticos, CDs audio, chips electrónicos, ferramentas) - Industrias “pesadas” (refinação de petróleo, industrias químicas, siderurgias, pasta e papel, etc.) - Outros: têxteis, vestuário e calçado, mobiliário, pastelarias e padarias (estas últimas no caso de apenas venderem “para fora” do estabelecimento) c/ Forte Componente de Serviço - Informática (hardware) - Mobiliário (nos casos em que produtor é também o vendedor final e responsável pela instalação no domicílio do cliente - Equipamentos de produção industrial (elevado grau de sofisticação) Nota: Esta classificação procura distinguir os produtos e os serviços de acordo com o respectivo grau de estandardização, por um lado, e com o volume de produção de cada item, por outro, abrangendo dois tipos de combinações possíveis: a)produtos ou serviços fortemente estandardizados e produzidos em grandes quantidades: electrodomésticos, padarias, etc., de forma a gerar ganhos de eficiência, o que permite reduzir custos e, consequentemente, manter ou até melhorar as margens de negócio sem que isso implique aumentos substanciais no preço final. b)produtos ou serviços de acordo com as especificações do cliente e produzidos em pequenas quantidades: equipamentos industriais, médicos, etc., sendo o valor gerado pela adaptação às necessidades específicas do cliente. Manual Prático do Empreendedor | 15 | Conceito e avaliação do negócio Produção Estandardizada Produção Especializada Bens Automóveis, electrodomésticos semicondutores, padarias... Equipamentos industriais, alta costura... Serviços Fast-food, grande distribuição, lavandarias... Médicos, advogados, reparação de automóveis... Nota: Esta classificação é de grande importância, pois o volume de produção e o grau de estandardização são variáveis críticas para se fazerem escolhas quanto aos processos de produção a adoptar. Complexidade Elevada Complexidade Baixa Especialização elevada Médicos, maquinaria específica, informática (software)... Serviços de limpeza, oficinas de reparação, hotelaria... Especialização baixa Automóveis, informática (hardware),auditoria empresarial... Transporte de passageiros, certos serviços de construção civil,... Nota: Esta classificação relaciona a complexidade do produto/serviço com o grau especialização às necessidades específicas de cada cliente. Trata-se de catalogar o output com base nos níveis de qualificação, aptidões e investimentos exigidos (a complexidade), por um lado, e no índice de adaptação às necessidades específicas de cada cliente, por outro. A importância desta classificação é também óbvia, na medida em que é nela que o empreendedor se deve basear para determinar e planear as suas necessidades em termos de competências humanas e tecnológicas. Manual Prático do Empreendedor | 16 Conceito e avaliação do negócio | Consegue ganhar dinheiro com as suas ideias e projectos? O seu conceito de negócio deve ser avaliado de acordo com os seguintes aspectos: Originalidade do projecto A missão da empresa Paralelamente à descrição do bem ou serviço que pretende oferecer ao mercado, o empreendedor deve definir a missão da sua empresa, isto é, o objectivo essencial do negócio. Num curto parágrafo (uma frase pode ser suficiente), deve ficar preto no branco qual a visão que o empreendedor possui do (e para o) seu negócio. Essa visão deve ser partilhada por todos os elementos da organização e estar sempre presente nas decisões estratégicas da empresa. Para ser eficaz, a missão deve, então, reunir as seguintes características: - Constitui a própria razão de ser da empresa; - Representa um desafio; - É simples e “vendável”; - Transmite confiança e envolve os membros da empresa; - Reúne condições para se manter estável. Avaliação do conceito de negócio Depois de ter sido capaz de clarificar qual o conceito e objectivos fundamentais do seu negócio, o empreendedor deve agora procurar avaliar o potencial da sua ideia de negócio para responder a uma questão não muito romântica, mas muito clara: Obviamente, se alguém já está no mercado a produzir um bem ou a prestar um serviço semelhante ou melhor do que aquele que tem para oferecer, então, provavelmente, não valerá a pena prosseguir com o seu projecto. Seria uma perda de tempo e dinheiro perfeitamente desnecessária. A sua empresa poderia até sobreviver durante uns tempos, no caso da conjuntura ser favorável. Porém, a prazo, os seus concorrentes, sobretudo aqueles com maior dimensão e há mais tempo instalados no mercado, acabariam por ocupar todo o espaço disponível, empurrando-o para uma situação insustentável. Nunca esqueça que, quando a conjuntura é menos favorável, são normalmente os maiores e mais poderosos que sobrevivem. O carácter único do seu negócio é por isso essencial para a sua sobrevivência, sobretudo em momentos de crise económica. Essa “originalidade” pode assumir várias vertentes. Logo, quando falamos em “originalidade”, não estamos necessariamente a falar de um grande invento ou de uma inovação tecnológica. Por exemplo, se numa zona densamente povoada não existe nenhuma papelaria ou padaria, pode fazer sentido abrir uma, na medida em que estará a oferecer algo que é único, ainda que não particularmente inovador ou original, àquele conjunto de Manual Prático do Empreendedor | 17 | Conceito e avaliação do negócio potenciais consumidores. Assim, podem constituir uma boa ideia de negócio. Para se certificar da originalidade dos seus projectos, não tenha receio de questionar pessoas do sector sobre a existência de negócios semelhantes. Esta questão pode, conforme já vimos, referir-se à existência ou não de uma tecnologia igual ou melhor do que aquela que pretende desenvolver ou à proximidade geográfica de negócios semelhantes. De forma a impedir que outros possam apropriarse da sua ideia, baseie as suas perguntas em aspectos genéricos, não revelando os detalhes das suas ideias e projectos. Competências do projecto Coloca-se agora a questão de saber se o empreendedor consegue ou não reunir as competências necessárias para a concretização das suas ideias. Podem, então, suceder duas situações possíveis: a) O empreendedor, através de uma empresa que já possua ou através de uma nova empresa tem a capacidade e os recursos necessários para conduzir o projecto que idealizou. b) O empreendedor não possui essa capacidade. Neste caso, se quer ver as suas ideias concretizadas, o empreendedor terá que recorrer a terceiros. De facto, os projectos de negócio podem ser excelentes, mas o empreendedor pode não ter a capacidade para os concretizar. Pode, então, fazer sentido estabelecer parcerias com empresas de maior dimensão do seu sector, que possuam as competências técnicas e humanas para apoiarem esses projectos. Manual Prático do Empreendedor | 18 Infelizmente, as grandes empresas nem sempre se mostram interessadas nas ideias de pessoas exteriores à sua organização, a menos que estas já tenham, de alguma forma, provado o seu sucesso no mercado. Então, em alternativa, pode propor parcerias a empresas de menor dimensão, para quem o facto de os seus produtos ou serviços ainda não estarem implantados no mercado seja encarado como uma oportunidade e não como um problema. Estas, apesar de não terem as capacidades tecnológicas e de marketing das grandes empresas, têm pelos menos a vantagem de partilharem problemas e objectivos comuns aos da sua empresa. Entre os extremos de conduzir a sua ideia sozinho ou com parceiros externos, está a possibilidade de subcontratar certas fases do processo produtivo. Esta estratégia permitir-lhe-á concentrar esforços e recursos nas fases da produção geradoras de vantagens competitivas, deixando as funções menos importantes a cargo de terceiros. Conceito e avaliação do negócio | Rentabilidade do projecto Esta é a questão que preocupa qualquer empresário. O objectivo de qualquer empresa de qualquer sector quando lança um novo projecto é, sem dúvida, ganhar dinheiro, dentro de um prazo que se deseja tão curto quanto possível. Apesar de crucial, dificilmente se pode ter, à partida, certeza quanto a esta questão. Os mercados são dinâmicos e aquilo que hoje vende muito bem, pode já não ter tanto sucesso depois de algum tempo. Além disso, são muitas as variáveis que podem influenciar a rentabilidade de um negócio, para além da qualidade dos projectos que desenvolve. Estas variáveis envolvem a concorrência, o ritmo de inovação tecnológica, os constrangimentos legais, etc. No entanto, a dificuldade em avaliar o potencial de mercado dos seus produtos não retira, antes aumenta, a importância de procurar determinar as possibilidades do seu negócio gerar resultados financeiramente positivos. Protecção da ideia Depois de concluir que o projecto é, de alguma forma, original, que existe uma forma eficiente de produzir os bens ou serviços pretendidos e que estes são susceptíveis de serem colocados no mercado de forma rentável, o empreendedor tem que considerar a hipótese de proteger determinados aspectos do seu projecto (marcas, tecnologias, etc.). Afinal, se já encontrou respostas para as três questões anteriores, é capaz de estar perante um projecto realmente interessante. Se a empresa possui algo que é susceptível de ser registado ou patenteado, devem ser averiguadas as seguintes questões: a) Está disponível (ou seja, não foi registado por outrem)? b) É susceptível de protecção eficaz. É muito difícil assegurar a protecção de patentes, sobretudo tratando-se de serviços. c) Tem um valor distintivo, ou seja, o conceito a patentear propicia uma vantagem competitiva real. Depois de respondidas as três questões anteriores, o empreendedor deve avaliar se o investimento compensa. É que os custos relacionados com o registo de patentes não são negligenciáveis (custos legais de registo, despesas com solicitadores e advogados,etc.). Manual Prático do Empreendedor | 19 Análise do mercado Análise do Mercado | Análise do Mercado Depois de analisadas as questões de foro interno (a ideia, a pessoa e a situação financeira particular), chegamos ao momento em que o empreendedor tem que se voltar para o exterior. É altura de proceder à análise de mercado. Definição de análise de mercado A análise de mercado é a base para as decisões de produção, marketing e finanças da sua empresa. Objectivo da análise de mercado Procurar avaliar se existe ou não uma verdadeira oportunidade de negócio: - Qual a dimensão do mercado-alvo, em número de clientes e em valor? - Qual o perfil dos clientes actuais e potenciais da empresa? - Como é o ambiente competitivo do sector? - Em que medida é que o produto ou serviço que a empresa oferece ou pretende oferecer é único? - Que oportunidades de crescimento se apresentam à empresa? Análise da concorrência A primeira coisa a fazer na análise de mercado é identificar o conjunto das empresas que produzem bens ou serviços susceptíveis de concorrerem com o bem ou serviço que a sua empresa oferece ou pretende oferecer ao mercado. Critério fundamental para identificação dos concorrentes A substituibilidade, total ou parcial, entre produtos ou serviços oferecidos por empresas diferentes. Essa substituibilidade deve ser avaliada com base nas percepções do consumidor: Logo, as empresas englobadas na definição do mercado devem ser aquelas que produzem bens ou serviços que os consumidores identifiquem como sendo substituíveis entre si, isto é, que satisfaçam, total ou parcialmente, necessidades semelhantes. Isto significa que, por exemplo, a Coca-Cola não concorre só com a Pepsi, mas também com refrigerantes de outros tipos. O mesmo se passa com os restaurantes. Estes, ainda que o serviço que prestam possa ter características diferenciadoras (cozinha portuguesa, italiana, chinesa, etc.), são sempre concorrentes, sobretudo quando estão próximos uns dos outros. Manual Prático do Empreendedor | 23 | Análise do Mercado Análise dos consumidores A análise de mercado do lado da procura pressupõe, em primeiro lugar, uma análise das características externas dos consumidores e, em segundo lugar, das suas motivações pessoais. O conhecimento dos consumidores começa, então, pela recolha de informação de base sobre determinadas características externas, nomeadamente: O número de compradores A abordagem ao mercado concebida e posta em prática de uma forma completamente diferente, consoante o número, a dimensão e a importância económica dos compradores. De facto, grandes mercados tanto podem ser constituídos por muitos compradores de pequena dimensão (como acontece para os produtos de grande consumo) como por poucos compradores de grande dimensão. As empresas ligadas à indústria de componentes de automóvel, por exemplo, movimentam grande volumes de facturação para dois ou três construtores da indústria automóvel. Esta situação, muito frequente em mercados business to business (ou seja, os bens e serviços produzidos não são para consumo final, mas sim para serem incorporados em processo produtivos de outras empresas), traz exigências específicas nas diversas áreas funcionais da empresa, nomeadamente produção, marketing e finanças Exemplificando, ao nível da produção, é necessário proceder, com alguma frequência, a certas adaptações às necessidades do cliente; em termos de estratégia de marketing, este tende a ser mais personalizado, existindo um acompanhamento pessoal do cliente; finalmente, e uma vez que exis- Manual Prático do Empreendedor | 24 te uma grande dependência face a um reduzido número de clientes, podem surgir problemas no planeamento financeiro da empresa, no caso de um cliente atrasar o pagamento devido. A localização geográfica Em muitos negócios, sobretudo naqueles em que existe um contacto mais directo com o público (comércio a retalho, restaurantes, etc.), a proximidade geográfica com os clientes pode ser um factor chave para o sucesso. Assim, é natural que os proprietários destes estabelecimentos procurem situar-se onde estão os seus potenciais clientes. Critérios sócio-económicos Por último, o empreendedor pode ter interesse em caracterizar os seus clientes com base em outros critérios como o sexo, a idade, o nível de instrução, a actividade profissional, etc. ou, se os clientes forem empresas, o sector de actividade, a forma jurídica, etc. A relevância destes critérios depende do tipo de actividade e, claro, das respostas que o empreendedor pretende obter com a análise de mercado realizada. Porém, para conhecer os seus potenciais clientes, a empresa tem que saber mais do que as respectivas características externas. Tem que conhecer aquilo que eles pensam e o que os motiva para a compra, de forma a poder satisfazer as suas necessidades. Logo, para manter os actuais clientes e conquistar outros, o empreendedor deve procurar entender os comportamentos e as motivações dos seus consumidores. Entender os consumidores começa pelo reconhe- Análise do Mercado | lhê-la pelos seus próprios meios, ou seja, terá que produzir ou pelo menos tratar essa informação. Se nunca ninguém tiver realizado estudos de mercado sobre o seu sector de actividade com as questões que precisa de ver respondidas, então terá que ser a sua empresa a realizar esse estudo. cimento de que estes não compram só produtos, mas também (e sobretudo) satisfação: - Eles não só exigem qualidade como também adaptabilidade aos seus propósitos. Em suma, conhecer os clientes implica compreender aquilo que eles verdadeiramente procuram quando compram determinados bens ou serviços: - Nunca esqueça que os produtos mudam, mas que as necessidades individuais básicas (higiene, saúde, segurança, entretenimento, status) se mantêm imutáveis com o passar do tempo. - Compreender e identificar essas necessidades é fundamental para tomar as decisões acertadas na abordagem ao mercado. Fontes de informação Sabendo agora as informações que necessita para aprofundar o conhecimento sobre o mercado em que a sua empresa actua, a questão que se coloca em seguida é onde e como obter essa informação. Informação secundária A informação secundária de mercado é aquela que já existe num formato susceptível de ser utilizado: - Informação estatística produzida e disponibilizada por organismos públicos como o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Instituto de Comércio Externo (ICEP) ou por organizações sectoriais são exemplos deste tipo de informação. Outras fontes de informação muito importantes são as bibliotecas públicas, os órgãos de comunicação social e, claro está, a Internet. Normalmente, a informação secundária é mais fácil e menos dispendiosa de obter do que a informação primária. Uma vez que já existe, está normalmente disponível ao mínimo custo. Então, faz sentido esgotar primeiro todas as fontes de informação secundária antes de desenvolver processos de recolha de informação primária. O tratamento dos resultados Dois tipos básicos de informação sobre o mercado: Informação primária A informação primária é aquela que ainda não existe de todo ou, pelo menos, não existe na forma em que o empreendedor pretende utilizar. Nesta medida, se necessitar deste tipo de informação para responder a uma determinada questão de mercado, o empreendedor terá que reco- Obtida que está a informação de mercado relevante, é agora necessário proceder à organização dessa informação: - Toda a informação obtida através de entrevistas, questionários e fontes de informação secundária é organizada em categorias, de acordo com a questão de mercado à qual deram resposta. Exemplificando, numa categoria são incluídos os Manual Prático do Empreendedor | 25 | Análise do Mercado dados obtidos sobre as características externas (idade, sexo, profissão, etc.) dos consumidores, em outra, colocam-se as informações relativas às suas atitudes e comportamentos, a outra categoria corresponderão os dados sobre os competidores, etc. - Do tratamento da informação estatística decorrem três números que constituem uma âncora para a análise dos resultados obtidos: a moda A moda constitui o número que ocorreu mais vezes. a mediana A mediana é o número que divide a amostra a meio (metade dos inquiridos respondeu abaixo da mediana e a outra metade respondeu acima). a média A média resulta do somatório de todas as pontuações, dividido pelo número de inquiridos. As conclusões Depois da análise de mercado que conduziu, o empresário deve ter adquirido um conhecimento mais aprofundado sobre os seus potenciais clientes e concorrentes, bem como das tendências gerais do mercado. Manual Prático do Empreendedor | 26 Quanto mais o empresário souber, melhor poderá avaliar a sua situação competitiva e quais os ajustamentos e alterações que tem que fazer para dar uma resposta mais eficaz ao mercado. E, em última análise, verificar se a sua nova ideia constitui de facto uma oportunidade de negócio ou se a sua empresa tem potencial de crescimento. Em face da situação da empresa e do empreendedor, por um lado, e da análise de mercado, por outro, o empreendedor deve ser capaz de tomar as decisões mais adequadas ao nível do sistema de produção da empresa, da estratégia de marketing para conquistar o mercado e das formas de garantir, ano após ano, o financiamento da sua actividade. Tudo isto, obviamente, de acordo com as disposições legais e fiscais a que o Estado impõe às empresas. Produção, marketing, finanças e legislação são, portanto, as áreas fundamentais a ter em consideração na gestão de uma empresa. Plano de Produção Plano de Produção | Plano de Produção O que é a Produção? - Processo pelo qual os membros de uma organização transformam determinados inputs - trabalho, capital, equipamento, etc. - em outputs - bens ou serviços destinados a satisfazer as necessidades dos respectivos clientes. A produção é assim a função central de uma empresa pois os bens que produz e/ou os serviços que presta são a própria razão da sua existência. Recorrendo a uma definição mais elaborada, “Produção” (seja de bens, seja de serviços) pode ser descrita como um processo pelo qual as empresas, mediante a transformação e conversão dos recursos humanos e materiais ao seu dispor, criam bens e serviços adequados para a prossecução dos seus objectivos e para a satisfação das necessidades dos seus clientes. O nível de satisfação dos clientes e o feedback daí resultante deverá determinar a necessidade ou não de se procederem a alterações nos processos adoptados. Sistema de Produção Inputs Sistema de Produção Outputs (bens ou serviços) Transformação Clientes (feedback) A função produção assume então particular importância na prossecução da estratégia global da empresa porque: - estabelece os padrões de qualidade dos bens ou serviços que oferece; - tem naturalmente um impacto considerável nos custos globais da empresa, tendo portanto uma importância central na sua viabilidade. Apesar da importância fulcral da produção, o empreendedor não deve esquecer que esta é apenas uma das funções que coexistem nesse sistema mais vasto que é a empresa: - Na verdade, a capacidade de produzir bens ou serviços de qualidade não é suficiente se não existir mercado para esse bem ou serviço. - Por outro lado, um óptimo produto não pode ser Manual Prático do Empreendedor | 29 | Plano de Produção viável se não o for de um ponto de vista económico, ou seja, se num prazo tão curto quanto possível não gerar mais recursos financeiros do que aqueles que consumiu. - Aliás, a excessiva focalização nos aspectos intrínsecos do produto, nomeadamente na inovação e na excelência técnica, conduziu a que, num passado recente, muitas jovens empresas tecnológicas fechassem as portas ou fossem vendidas a empresas de maior dimensão pois, ou não tinham mercado, ou não eram economicamente eficientes. É então claro que a função produção, pelas suas características próprias e pela inter-relação com as outras áreas funcionais da empresa tem uma influência determinante no custo, na qualidade e, claro, na própria disponibilidade dos bens ou serviços da empresa. As forças e as fraquezas do processo produtivo têm por isso um forte impacto na sua estratégia global. Por estes motivos, o empreendedor deve proceder regularmente a uma análise das competências actuais em termos de recursos humanos, tecnologia, equipamentos e instalações disponíveis e confrontá-los com os desafios que, a prazo, se colocam à empresa - concorrência, internacionalização, reconversão ou inovação tecnológicas, etc. Só partindo de uma avaliação rigorosa dos recursos disponíveis é possível definir quais os investimentos necessários para produzir a desejada quantidade de output - expresso em Euros, toneladas, unidades de produto ou outros - ou seja, só assim se pode elaborar um plano de produção. Manual Prático do Empreendedor | 30 O que é o Plano de Produção? Plano das operações que estabelece as características e a quantidade de output que a empresa tem que produzir num determinado horizonte de planeamento e quais os recursos necessários para o fazer. Trata-se no fundo de um guia que permite a fixação de objectivos e facilita o controlo, na medida em que constitui um termo de comparação sobre o qual se podem detectar e corrigir desvios. O plano das operações é por isso o compromisso assumido pela função produção de suportar a estratégia global da empresa, em coordenação com as restantes áreas funcionais. A dimensão e a complexidade de um plano de operações variam de acordo com: - o sector de actividade - a dimensão da empresa - o ambiente competitivo - etc. No entanto, um planeamento de operações só é eficaz se incluir considerações sobre os seguintes aspectos: - a quantidade de bens/serviços que pretende produzir (quantos?); - os métodos de produção mais indicados (como?); - o local das instalações em que as operações vão ocorrer (onde?); - finalmente, mas não menos importante, como escolher as pessoas que vão executar as operações (quem?). Plano de Produção | O planeamento da capacidade Definição O Planeamento da capacidade é o processo de previsão da procura e quantificação dos recursos necessários (sejam humanos ou materiais) para satisfazer essa procura. O primeiro passo do plano de produção consiste em definir quantos produtos se pretendem produzir ou que quantidade de serviço se pretende prestar num determinado horizonte temporal: - Planear a capacidade produtiva com eficácia pressupõe uma previsão rigorosa do volume de vendas para o período de tempo considerado. - Além disso, a qualidade das previsões de vendas dependem: a) a priori, de uma cuidadosa análise do mercado e do ambiente competitivo b) a posteriori, de uma estratégia de marketing que permita colocar aquilo que se produz no mercado. ainda é determinar a melhor forma de disponibilizar essa capacidade. Trata-se, portanto, de definir quais as variáveis de produção que devem ser ajustadas num determinado horizonte temporal para fazer face às necessidades dos clientes ao mínimo custo possível. Estes ajustamentos são sobretudo necessários em negócios que não tenham uma procura uniforme ao longo do horizonte de planeamento. Mais do que prever a procura para, digamos, um ano, o empreendedor deve procurar determinar quais os momentos em que a procura atinge os seus picos (altos ou baixos) ao longo desse ano. Estratégias de Produção A ausência de uma planificação rigorosa dos recursos financeiros necessários para assegurar os volumes de produção desejados, pode gerar situações de ruptura financeira e, no limite, inviabilizar o próprio processo de produção num prazo mais ou menos curto. O planeamento da capacidade envolve, no entanto, mais do que simplesmente prever qual o volume de produção adequado. Mais importante As dicas relativamente aos tipos de produtos e serviços mais adequados a cada uma das estratégias não são regras absolutas, mas apenas linhas de orientação, não tendo necessariamente que ser seguidas “à risca”. Tudo dependerá das condições particulares da sua empresa e do seu negócio e, claro, das quantidades que pretende oferecer. A decisão é sempre do empresário. Manual Prático do Empreendedor | 31 | Plano de Produção Os Serviços Embora o facto de o serviço ser mais ou menos estandardizado possa, conforme veremos, ser um factor fundamental das escolhas tecnológicas, a estes temos que juntar outro: - o grau e a simultaneidade de contacto entre prestador cliente Exemplos de serviços cujos sistemas produtivos requerem elevado ou reduzido contacto com o cliente: Serviços - Grau de Contacto com os Clientes Finais CONTACTO BAIXO CONTACTO MODERADO CONTACTO ELEVADO Correios Hotelaria (hotéis, restaurantes) Professores Transporte de mercadorias Supermercados Transporte de passageiros Oficinas de reparação Bombas de gasolina (self-service) Consultores Com efeito, uma das principais diferenças entre bens e serviços é justamente esta proximidade entre quem presta e quem consome o serviço. definição de fluxos de produção e layout tendem a ser mais orientadas para a satisfação das necessidades de produção. Desta forma, as opções adoptadas (em termos de equipamentos, fluxo de produção e layout) têm que ter em conta não só os interesses do produtor mas também, e principalmente, os desejos do cliente. Aquilo que está em causa é o cliente ser ou não um agente activo no próprio processo produtivo. Assim, nos casos em que o contacto com o cliente é elevado, essas opções têm um carácter mais de “mercado” do que de “produção”. É como se a fronteira entre marketing e produção se esbatesse. Nos casos em que o for, os equipamentos no interior das instalações de um serviço de elevado contacto (as mesas de um restaurante, as estantes de um estabelecimento comercial, os livros de uma biblioteca, os veículos de uma empresa de transporte) têm que ser ajustados sobretudo aos interesses do cliente, proporcionando-lhe conforto e bem-estar. Pelo contrário, se o contacto com o cliente é reduzido, então a escolha de equipamentos e Ao contrário, nos serviços em que exista uma separação clara entre prestação e consumo (transpor- Manual Prático do Empreendedor | 32 Plano de Produção | te de mercadorias, desenvolvimento de software informático, serviços administrativos, etc.), os equipamentos devem, sobretudo, responder às necessidades do processo produtivo propriamente dito. Nos serviços de elevado contacto, o fluxo de produção tem um efeito directo sobre o cliente, sendo que ele pode mesmo executar várias etapas do processo. Nesta medida, o comportamento do cliente tem um impacto directo na própria rapidez e qualidade do serviço prestado. Então, a sequência das etapas no interior das instalações deve procurar ao máximo facilitar a vida ao cliente, evitando estrangulamentos e atrasos. No que toca ao layout das instalações de serviços de grande contacto, estas devem acomodar as necessidades físicas e psicológicas dos clientes, mais do que a eficiência do processo produtivo. As instalações e a sua localização As instalações são a face visível do negócio, o que, por si só, evidencia a importância das mesmas. De facto, sejam grandes ou pequenas, as instalações de uma empresa constituem uma projecção material da sua imagem. As condições de mercado A decisão de colocar determinada unidade produtiva neste ou naquele local está, por isso, intimamente ligada à análise de mercado. Antes de tomar qualquer decisão sobre a localização das operações de produção, o empresário deve avaliar qual o impacto potencial daquelas nas receitas da empresa. A proximidade face aos consumidores é crítica para qualquer tipo de operação, simplesmente coloca-se de forma diferente consoante o sector de actividade em causa. Para além da localização dos potenciais clientes, devemos também ter em conta a proximidade dos competidores. Voltando ao retalho, o empresário não deve esquecer que lojas integradas em grandes cadeias nacionais ou internacionais usufruem de uma notoriedade e de uma capacidade financeira que fazem delas competidores muito fortes. No entanto, a verdade é que certos estabelecimentos comerciais (pronto-a-vestir, restaurantes, bares) tendem mesmo a localizar-se próximo de concorrentes directo, sobretudo nas zonas críticas (centro das cidades ou centros comerciais) acima mencionadas. Nestes casos funciona o princípio de que o cliente relaciona certas zonas com determinadas actividades. Logo, a proximidade dos potenciais concorrentes pode ser um factor positivo. O sucesso dependerá da qualidade e do grau de diferenciação dos produtos vendidos ou dos serviços prestados. Manual Prático do Empreendedor | 33 | Plano de Produção Custos de transporte Definição Os custos que decorrem de forma mais imediata da localização são naturalmente os custos de transporte. A localização das operações de produção não só afecta o potencial da empresa gerar de receitas, como pode também ter um impacto substancial no lado dos custos. Qualquer etapa da cadeia de valor recebe itens de diversas fontes e distribui itens para fases posteriores da cadeia. Sobretudo nas operações de produção de bens, os custos de transporte costumam representar uma fatia importante dos custos. Assim, a localização deve procurar minimizar os custos de abastecimento de materiais e de distribuição dos produtos. Desta forma, a proximidade de múltiplas e variadas vias de comunicação (rodoviária, ferroviária, marítima, fluvial ou até aérea) traduz-se em menores custos e numa maior flexibilidade no transporte de itens de características, formas e dimensão diversas. No entanto, as vias de comunicação não devem ser o único ponto a considerar ao nível dos custos de transporte. Um outro aspecto que pode influenciar os custos de transporte são as características dos materiais utilizados e dos bens produzidos pela empresa. Normalmente, itens maiores ou mais pesados tendem a incorrer em custos de transporte mais elevados. Além disso, certos produtos (alimentos, combustíveis, etc.) exigem condições de transporte especiais, o que torna a sua distribuição mais dispendiosa. Assim, optar por localizar a função produção próxima da fonte dos materiais ou dos clientes do output produzido também deve ter em consideração as características dos itens (inputs e outputs) envolvidos. A importância dos problemas de transporte tornam-se ainda mais decisivos quando estão envolvidas operações internacionais. O número de meios de transporte possíveis (e necessários) aumenta e, logo, novas questões se colocam. A distância percorrida pelos materiais e pelos produtos aumenta e, com isso, aumentam também os custos envolvidos. Paralelamente, surgem custos relacionados com o comércio externo (impostos sobre importação, taxas alfandegárias, custos de administração portuária, etc.) A constituição de um armazém central para todos os itens importados ou a expedir pode ser uma solução a ter em conta. Nas empresas industriais, sobretudo naquelas que não vendem directamente ao consumidor, preocupação com os custos de transporte é central na escolha da localização das operações, sobrepondo-se às considerações relacionadas com o mercado. Manual Prático do Empreendedor | 34 Plano de Produção | Custo de obtenção A localização pode ter um forte impacto no custo de obtenção de instalações. Procure sempre avaliar se o retorno adicional decorrente de uma melhor localização compensa o esforço financeiro implícito. Recursos humanos A localização pode também ser um factor determinante para a capacidade de uma empresa atrair pessoas em número suficiente e com as qualificações necessárias, a um custo razoável. Factores com os quais uma boa localização pode contribuir para a atracção dos recursos humanos necessários: - Proximidade física dos potenciais trabalhadores, seja pela existência de boas vias de comunicação ou de aglomerados populacionais próximos. - Proximidade de universidades ou de centros de formação profissional, o que pode facilitar o contacto e o acesso a pessoas mais qualificadas. Decisivo em actividades que requeiram competências complexas. - Custos de mão-de-obra. Este aspecto é sobretudo relevante em actividades de trabalho intensivo, ou seja, que utilizam mão-de-obra abundante, normalmente pouco qualificada. - Questões de qualidade de vida, nomeadamente, proximidade de escolas, hospitais e locais de lazer (desporto, cultura, etc.), custo de vida razoável face às remunerações praticadas (habitação, alimentação, etc.), baixos índices de criminalidade e de poluição, o clima, entre outras. Fiscalidade e incentivos O Estado e os municípios concedem benefícios fiscais e incentivos com o objectivo de atraírem novas indústrias e negócios para certos locais, podendo mesmo assumir parte do investimento do projecto a taxa zero ou até a fundo perdido. Assim, sobretudo para projectos de investimento de maior envergadura, este aspecto pode ser crucial na selecção da localização. Questões legais Existem certas restrições legais que se impõem à escolha de determinada localização. De facto, existem regulamentação (governamental ou municipal) que define quais os negócios e em que circunstâncias podem operar em certas áreas. Um outro tipo de restrições legais são aquelas que têm a ver com a defesa do ambiente. Proximidade de recursos naturais Em actividades que requerem uma utilização abundante de recursos naturais (minérios, água, gás natural, petróleo, etc.) como acontece em diversos sectores industriais, a localização das instalações pode ter grande influência na capacidade de os disponibilizar em tempo útil a preços competitivos. Manual Prático do Empreendedor | 35 | Plano de Produção As medidas que este tipo de restrições impõem devem ser antecipadas e respeitadas não só para evitar problemas com os organismos públicos, mas também porque podem pôr entraves a certos projectos que pretenda desenvolver no futuro, como sejam a diversificação do serviço prestado ou o alargamento das instalações. O planeamento das necessidades de pessoal A qualidade de um negócio é directamente proporcional à qualidade das pessoas que nele estão envolvidas. Assim, a escolha das pessoas certas para os lugares certos é um aspecto crítico num ambiente empresarial cada vez mais competitivo. Constituir uma equipa sólida possuidora das competências e experiência necessárias para acrescentar valor à sua empresa é uma tarefa cada vez mais exigente. E, embora à primeira vista possa parecer que esta dificuldade se resume a quadros altamente qualificados, isto não é verdade. Aliás, em Portugal, o maior problema é mesmo a falta de quadros técnicos intermédios (mecânicos, electricistas, serralheiros, etc.), tendo já conduzido empresas a situações muito complicadas de carência de mão-de-obra nesse tipo de postos. Mesmo no comércio a retalho ou na hotelaria, muitos empresários referem as dificuldades em encontrar pessoas adequadas para relacionamento e venda ao público. É que, apesar de não exigirem grandes qualificações profissionais, estes postos de trabalho exiManual Prático do Empreendedor | 36 gem qualidade de relacionamento interpessoal da parte dos trabalhadores, pois são eles que, de forma imediata, representam a empresa diante dos clientes. A importância dos recursos humanos exige, portanto, que seja realizado um esforço de planificação, à semelhança do que acontece com os aspectos “materiais” da produção, abordados nas secções anteriores deste capítulo. O planeamento dos recursos humanos envolve três aspectos básicos: - Planeamento das necessidades futuras; - Plano de recrutamento; - Plano de formação. Estratégia de Marketing Estratégia de Marketing | Estratégia de Marketing O que é o Marketing? O marketing é a área funcional da empresa que estabelece o elo de ligação entre esta e o mercado, devendo, portanto, ser encarada como uma função central, a par da produção e das finanças, na prossecução da estratégia global da empresa. A função de marketing nas empresas modernas assenta numa dupla concepção: - Orientação da empresa para a satisfação das necessidades dos clientes. - Um volume de vendas rentável é preferível a um volume de vendas máximo. Uma estratégia de marketing eficaz é aquela que focaliza os esforços da empresa na identificação e satisfação das necessidades dos clientes, de uma forma rentável. Passos para a elaboração de uma estratégia de marketing Análise-diagnóstico Antes de formular uma estratégia, o empreendedor tem que estudar cuidadosamente o terreno em que se move, ou seja, o mercado no qual a sua empresa actua, e avaliar os pontos fracos e fortes dos seus potenciais concorrentes. Paralelamente, tem ainda que fazer uma avaliação rigorosa dos recursos materiais e humanos que possui para conquistar o mercado e enfrentar a concorrência, analisando as forças e fraquezas da sua empresa. Manual Prático do Empreendedor | 39 | Estratégia de Marketing - Traços do mercado importantes na análise externa Do meio envolvente em geral Tecnologia grau de desenvolvimento tecnológico e da investigação no mercado em análise; Economia diagnóstico da situação económica geral (preços, consumo, crescimento económico, etc.); Legislação levantamento da legislação relevante para a empresa; Sócio-política análise do ambiente social e político (tipo de regime político, existência ou não de paz social, nível cultural da população, etc.) do mercado em que pretende actuar. Do sector em que a sua empresa actua - Tendências tecnológicas mais relevantes; - Volume de vendas por tipo de produto; - Número e características dos compradores, consumidores e utilizadores; - Comportamentos e motivações dos consumidores e compradores (quem compra, onde e como, em que contextos e sob que influências). rada do mercado e quais as oportunidades que essa mesma evolução pode oferecer à empresa. Traços do mercado importantes na análise externa Recursos que a sua empresa dispõe (ou pode vir a dispor) para concretizar os seus projectos Dos concorrentes - Quais são as categorias de produtos (ou serviços) substituíveis; - Quem são os principais concorrentes; -Quais as quotas de mercado de cada um e como evoluíram recentemente; - Existe um líder, co-líderes e/ou operadores de nicho; - Qual a sua imagem e grau de notoriedade no mercado e quais as suas estratégias de marketing; - Quais são as suas perspectivas de evolução futura. Da análise externa, o empreendedor deve ficar com uma ideia sobre qual é a evolução mais provável do mercado. Daí deve retirar quais são as principais ameaças decorrentes da evolução espeManual Prático do Empreendedor | 40 - Tecnológicos - Materiais (equipamentos, instalações, etc.) - Financeiros - Humanos - Comerciais (nomeadamente, força de vendas) Evolução recente da sua empresa - Volume de vendas e quota de mercado; - Grau de penetração dos produtos na clientela potencial (o número de clientes da empresa); - Perfil e características dos clientes comparativamente com os da concorrência; - Análise dos custos e da rendibilidade dos produtos e serviços da empresa; - Evolução recente as notoriedade e da imagem de marca da empresa. Estratégia de Marketing | Partindo da análise interna, deverá ser elaborado um diagnóstico dos principais aspectos que distinguem a empresa da concorrência, identificando os seus pontos fortes e os pontos fracos. Da confrontação das condições de mercado com as competências da empresa ou projecto, o empreendedor deve elaborar uma análise SWOT. Análise SWOT Análise interna Análise externa Pontos fortes Pontos fracos Oportunidades Ameaças Do inglês, Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats, uma análise SWOT não é mais do que uma avaliação rigorosa das ameaças e das oportunidades que a envolvente apresenta, por um lado, e os pontos fortes e os pontos fracos da empresa, por outro. Diagnosticando a situação interna e externa, a empresa está apta a definir objectivos claros e realistas de conquista de mercado e níveis de rendibilidade. Definição de objectivos Em todos os domínios de actividade, é útil sabermos com clareza aquilo que pretendemos antes de optarmos por este ou por aquele caminho. No caso concreto de uma estratégia de marketing, a definição prévia dos objectivos assume particular importância por três razões: - Assegura a coerência dessa estratégia com as restantes áreas funcionais e com a política geral da empresa. - Permite que todos aqueles que participam na ela- boração dessa estratégia tenham consciência e se coloquem de acordo quanto aos objectivos definidos. - Facilita a constituição de indicadores de performance da estratégia escolhida e clarifica os critérios de avaliação das pessoas responsáveis pela sua implementação. Contudo, a definição de objectivos não é uma tarefa fácil: - Uma empresa pode ser constituída por diversas Manual Prático do Empreendedor | 41 | Estratégia de Marketing pessoas e grupos de pessoas com interesses e ambições distintas e nem sempre é fácil definir objectivos susceptíveis de agradarem a todos os interesses individuais e colectivos instalados. E isto tanto é verdade para o marketing, como para todas as funções da empresa, principalmente se envolverem um conjunto alargado de pessoas. Uma estratégia de marketing tende a apontar para três ordens de objectivos: - objectivos de volume e de quota de mercado; - objectivos de rentabilidade; - objectivos qualitativos. O que é a segmentação de mercado? A segmentação consiste na divisão do mercado global em subconjuntos (os segmentos de mercado), devendo cada um deles ser suficientemente homogéneo quanto às características, comportamentos e motivações dos elementos que o compõem. Para subdividir o mercado em conjuntos mais pequenos e homogéneos é necessário definir quais os critérios que irão presidir a essa divisão são os critérios de segmentação Critérios de segmentação Nota: Estes últimos podem ter a ver com a imagem de marca junto dos potenciais clientes e/ou com o grau de satisfação desses mesmos clientes. Os dois primeiros critérios dizem respeito às características intrínsecas dos elementos da população, enquanto os restantes estão mais ligados a comportamentos face aos produtos e serviços que se pretendem colocar no mercado. Critérios demográficos, geográficos, sociais e económicos De acordo com este primeiro conjunto de critérios, a população é dividida com base em características objectivas e observáveis dos potenciais clientes. Então, a utilização de critérios demográficos divide a população de acordo com certas características externas, como a idade, o sexo, certas características físicas (altura e peso dos indivíduos, por exemplo), a composição da família, entre outras. Definição do mercado alvo Uma estratégia de marketing numa PME envolve a identificação de grupos de consumidores que a sua empresa pode servir melhor do que os seus competidores de maior dimensão. A escolha dos alvos da estratégia de marketing deve ser precedida da definição de segmentos de mercado. Manual Prático do Empreendedor | 42 Os critérios geográficos, como é natural, dividem a população em regiões. Assim, o mercado pode ser dividido em interno e externo, norte e sul, litoral e interior, etc. Os critérios sociais e económicos dividem a população de acordo com questões de natureza mais qualitativa, como o rendimento, o nível de instru- Estratégia de Marketing | ção, a actividade profissional, a religião, entre outras. Critérios de personalidade e estilo de vida Este tipo de critérios dizem respeito a características gerais e estáveis dos indivíduos, mas num nível muito mais profundo do que aqueles apresentados no ponto anterior. O foro eminentemente “psicológico” destes critérios dificulta a sua observação e medição objectivas. Por estes motivos, a sua validação teórica e utilidade prática levantam algumas reservas, o que é confirmado pelo facto de serem utilizados muito raramente. Critérios de comportamento relativamente ao produto Pretende-se com este tipo de critérios agrupar os elementos de uma população de acordo com as características do seu comportamento, isto é, as condutas ou os actos que são observáveis de um modo relativamente simples. Os critérios de comportamento mais utilizados são as quantidades consumidas e os hábitos de consumo. A segmentação com base nas quantidades consumidas pode ser interessante pois níveis de consumo diferentes implicam necessidades diferentes. Exemplificando, para um revendedor e instalador de equipamentos informáticos pode ser aconselhável segmentar o mercado consoante se tratem de clientes grandes e regulares (ou seja, que compram e actualizam equipamentos com frequência) ou de clientes pequenos e esporádicos. As necessidades e exigências de cada um são naturalmente diferentes e a empresa tem que estar preparada para isso. Frequentemente, no entanto, o modo de utilização é mais relevante como critério de segmentação do que as quantidades consumidas. Numa confeitaria, por exemplo, pode ser interessante distinguir aqueles clientes que consomem com maior frequência no interior do estabelecimento, daqueles que normalmente compram para levarem para as suas casas. Enquanto para os primeiros a qualidade do serviço/atendimento pode ser fundamental, para os segundos aquilo que é relevante é a qualidade do produto propriamente dito. Critérios de atitude psicológica relativamente ao produto Por vezes, a segmentação do mercado baseia-se não nos comportamentos, mas sim nas atitudes psicológicas face a um determinado produto (ou serviço). Assim, por exemplo, existem consumidores que tendem a olhar para certos produtos numa lógica puramente utilitarista, enquanto outros encaramnos como símbolos de status ou de um determinado estilo de vida. O exemplo clássico é, logicamente, o dos automóveis. Para muitos, estes são símbolos de sucesso, o reflexo de um estilo de vida ou uma cabina indicada para o romance... Existem mesmo algumas pessoas que os compram como meios de transporte. Imagine agora o exemplo dos relógios; ninguém compra um Rolex só para ter um meio de “ver as horas”. Manual Prático do Empreendedor | 43 | Estratégia de Marketing Também nos serviços pode fazer sentido segmentar o mercado com base em atitudes psicológicas. Imagine que é proprietário de um ginásio. Alguns dos seus clientes frequentam o seu estabelecimento porque gostam da actividade física e da prática desportiva ou simplesmente para aliviar o stress de um uma actividade profissional intensa. Porém, a maioria fá-lo essencialmente para moldar o seu corpo e melhorar o seu aspecto físico. Em suma, o mesmo serviço está a satisfazer necessidades bastante diferentes. Segmentação multicritérios Como é natural, nada impede o empreendedor de segmentar um mercado com base em mais do que um critério. Na verdade, é muitas vezes útil fazer o cruzamento de diversos critérios para obter uma divisão do mercado mais relevante e, por isso, mais eficaz. É claro que, ao fazê-lo, o responsável pelo processo de segmentação é obrigado a renunciar ao princípio da homogeneidade perfeita, pois, nesse caso, as combinações possíveis seriam imensas e, como tal, a segmentação seria ineficiente. Nestes casos, é necessário recorrer a métodos de divisão mais flexíveis, designados por tipologias. Os métodos de tipologia permitem segmentar a população do mercado em conjuntos “semelhantes”, ainda que certas características sejam diferentes. A solução pode passar por determinar quais são os critérios mais relevantes para a segmentação, ainda que outros menos relevantes possam ser utilizados para aprofundar o conhecimento do mercado. Manual Prático do Empreendedor | 44 Definição da estratégia de marketing Antes de preparar o plano de marketing, o empreendedor tem de delinear a estratégia de marketing. Definição de Marketing Mix Conjunto de decisões fundamentais adoptadas pela empresa relativamente às principais ferramentas de marketing que tem ao seu dispor - produto, preço, distribuição e comunicação - no sentido de prosseguir os objectivos traçados na estratégia de marketing e de conquistar os segmentos de mercado definidos como prioritários. O marketing mix é usado para descrever a forma como o empreendedor vai combinar as quatro variáveis fundamentais - os meios de acção de marketing - num programa de marketing coerente. Meios de Acção de marketing Política de produto (ou serviço) Definição A política de produto está relacionada com as características dos produtos ou serviços prestados, ou seja, trata-se da ferramenta que liga o marketing à função produção da empresa. Em termos gerais, abrange as características intrínsecas do produto ou serviço em causa, a embalagem e a marca (esta última específica do marketing). Marketing mix centrado no produto (ou serviço) Consiste na escolha da política de produto como elemento central do marketing mix. Pode basearse em três factores principais: - Inovação tecnológica; - Qualidade superior; - Especialização. Estratégia de Marketing | O design e a embalagem são factores fundamentais para a fixação de uma imagem de marca de um produto ou serviço. A marca Basear o marketing mix no produto pode ser a abordagem mais indicada para uma empresa de pequena dimensão: De facto, para as PME, as vantagens competitivas estão normalmente relacionadas com a capacidade de prestar um serviço diferente da concorrência, seja pelo seu carácter inovador, pela qualidade ou pela adequação às exigências específicas de um conjunto relativamente pequeno de consumidores. As características do produto É vital definir os atributos e qualidades do produto, que vão identificá-lo no mercado e determinar se ele corresponde ou não às reais expectativas dos consumidores. Aliás, falar em “qualidade” na óptica do marketing consiste em avaliar a adequação das performances dos produtos ou serviços que a empresa oferece às necessidades dos clientes. A “qualidade” pode ser aferida em múltiplas dimensões: - produtos simples, orientados para clientes pouco exigentes e com baixo poder aquisitivo (neste caso, terá que ser suportada por preços baixos); - produtos ou serviços com alguns atributos que os diferenciam da concorrência (atendimento, design, etc.); -produtos claramente diferenciados e inovadores, com um ou mais elementos completamente originais. Mais do que simplesmente identificar os produtos ou serviços de uma empresa, a marca diferenciaos e dá-lhes sentido. A marca é como que um ponto de ancoragem dos produtos da empresa ao conteúdo simbólico que lhes é atribuído pelos consumidores. Nesta medida, a marca tem valor comercial, pois pode constituir uma vantagem concorrencial importante e um activo negociável, seja através da venda ou através do aluguer da marca (franchising). Existem certos princípios que devem ser seguidos quando de pretende denominar um produto ou serviço que, com as devidas adaptações, são igualmente aplicáveis à escolha do próprio nome das empresas: - A marca deve ser distintiva, credível e de fácil memorização; - O nome escolhido deve respeitar a lei; - “Transculturalidade” da marca. Política de comunicação Definição Esta área de decisão de marketing inclui os meios de comunicação e promoção que serão utilizados para atrair a atenção de potenciais clientes para os seus produtos e/ou serviços. Nesta medida, envolve decisões sobre que meios utilizar e sobre o orçamento global de comunicação e sua distribuição pelos diferentes meios alternativos: publicidade, marketing directo, etc. Manual Prático do Empreendedor | 45 | Estratégia de Marketing Mix de comunicação O Mix de Comunicação é o conjunto de meios de comunicação que a empresa pode utilizar. Normalmente, o mix de comunicação das empresas envolve uma combinação entre acções nos media (ou seja, publicidade) e fora dos media (marketing directo, relações públicas, etc.). Assim, regra geral, a empresa não deverá utilizar um único meio de comunicação, mas sim uma combinação eficiente de meios. Mix de comunicação Nos media Fora dos media Televisão Rádio Imprensa Outdoors Marketing directo Internet Relações públicas Correio directo Contactos pessoais Telemarketing Eventos Publicações Patrocínios & Mecenato Publicidade nos media Definição A publicidade nos media apresenta duas características essenciais: - permite alcançar muitos públicos (por exemplo, a publicidade da Vodafone nas camisolas do Manchester United é vista por milhões de pessoas, quase semanalmente) - funciona segundo um princípio da repetição, através de uma mensagem simples, forte e única e da continuidade das campanhas. Veículos das mensagens publicitárias - Televisão - Imprensa (jornais e revistas) - Rádio - Cinema - Outdoors - Internet Manual Prático do Empreendedor | 46 Marketing directo Definição O marketing directo envolve um conjunto de técnicas de comunicação individualizada e interactiva. Estratégia de Marketing | Colóquios, concursos, conferências de imprensa, etc. Ao contrário dos media, o marketing directo visa estabelecer relações personalizadas com os seus potenciais clientes, tendo normalmente por objectivo uma resposta concreta (uma encomenda, uma assinatura, a adesão a um clube, etc.). Dois tipos fundamentais de marketing directo: Publicações Relatório anual da actividade da empresa, press releases (comunicados sobre a empresa contendo informação relevante para os públicos a que se dirige), jornais e revistas internos, etc. Patrocínios, mecenato e acção social Concessão de apoio financeiro a manifestações de carácter desportivo, cultural ou social. Definição do mix de comunicação - Correio directo - Marketing telefónico (ou telemarketing) Relações Públicas Definição Genericamente, as acções de relações públicas têm como objectivo o estabelecimento de relações de confiança entre a empresa e os seus públicos, originando opiniões favoráveis destes relativamente à empresa. Esses “públicos” tanto podem ser os clientes (actuais ou potenciais) da empresa, como os seus colaboradores, a comunicação social, o governo, os accionistas, a comunidade financeira, entre outros. Tratam-se então de acções de comunicação que podem ser especificamente orientadas para todos aqueles que, de forma directa ou indirecta, podem influenciar a performance e a imagem da empresa. Meios ao dispor das empresas para divulgar a sua imagem e cativar os seus públicos: - Contactos pessoais Encontros, participação em congressos e seminários, clubes, visitas às instalações da empresa, serviço de atendimento pós-venda, etc. - Realização de eventos As principais variáveis a ter em consideração para definir o mix de comunicação são os alvos e os objectivos da comunicação, por um lado, e o orçamento disponível para a comunicação (dentro do velho princípio segundo o qual “quem não tem dinheiro não tem vícios”), por outro. Os alvos e os objectivos de comunicação Para se escolherem os meios de comunicação adequados é essencial saber-se o que é que se pretende comunicar e, para cada um dos alvos identificados, quais são os objectivos de comunicação. O orçamento de comunicação Definidos os objectivos e os meios de comunicação mais adequados, há que determinar qual o custo total de implementação do mix de comunicação escolhido. Naturalmente que quanto maior for o orçamento, maior é o número de meios que pode utilizar simultaneamente. Porém, como já referimos, nem sempre o orçamento de uma PME permitelhe, por exemplo, investir dezenas de milhar de Manual Prático do Empreendedor | 47 | Estratégia de Marketing contos em publicidade na televisão. Assim, a colocação num jornal de um anúncio bem elaborado e convenientemente posicionado, pode ser uma solução adequada. Porém, mesmo meios de publicidade nos media mais baratos podem não estar ao alcance da empresa. Nestes casos, pode justificar-se a utilização de acções de comunicação fora dos media, como o marketing directo ou as relações públicas, que, sendo bem delineadas, podem produzir resultados muito interessantes com um custo pouco significativo. Política de preço Definição Ao nível da política de preços, o empresário tem que determinar quais as condições de obtenção por parte dos seus clientes (actuais e potenciais) dos bens ou serviços produzidos, tais como, o preço base e os métodos para respectivo cálculo, a política de descontos, entre outras. Nesta variável é visível a ligação estreita entre marketing e finanças no interior da empresa. Colocar o preço nos produtos ou serviços de uma empresa é, indiscutivelmente, uma das decisões mais importantes em qualquer negócio. A empresa deve ser capaz de vender os produtos a um preço que, por um lado, os consumidores estejam dispostos a pagar e, por outro, permita à empresa a obtenção de lucro. Caso não consiga estabelecer um preço que preencha ambos os requisitos mencionados, dificilmente o empresário ficará no negócio por muito tempo. Então, as decisões relacionadas com o preço devem ter em consideração três factores fundamentais: os custos (directos e indirectos) de produção e comercialização, a concorrência e, claro, a percepção dos potenciais clientes quanto ao valor do bem ou serviço em causa. Manual Prático do Empreendedor | 48 Cálculo do ponto crítico Antes de tomar qualquer decisão quanto ao preço justo do seu produto ou serviço, o empreendedor tem que determinar com rigor quanto custa produzi-lo e comercializá-lo. Depois de identificados esses custos, é possível determinar o ponto crítico de vendas (break even point, na terminologia inglesa), ou seja, aquele ponto em que a sua empresa atinge lucro zero na produção de um bem ou na prestação de um serviço. O empreendedor tem agora que definir quais os métodos de fixação do preço para atingir o lucro. A sua empresa não está obviamente interessada em registar lucro zero, pelo menos a partir de um determinado horizonte temporal. Genericamente, o empresário pode optar por três formas de fixação dos preços dos seus produtos: - Fixação do preço com base no custo unitário de produção; - Fixação do preço com base na análise de mercado (consumidores e concorrência); - Fixação do preço com base nas características do produto. Descontos A estratégia de preço de uma empresa pode ainda complementada por descontos a determinados clientes. Esta prática é frequente em diversos sectores de actividade, podendo ter como objectivos o aumento do volume de vendas sem alteração dos preços base (não afectando, deste modo, a imagem do produto ou serviço) e/ou premiar certos comportamentos dos clientes. A estratégia de preços Uma estratégia de preços consiste no plano de acção para colocar um preço nos bens ou produtos oferecidos, de acordo com toda a informação recolhida relativamente aos custos de produção, às Estratégia de Marketing | - A primeira consiste em convencer os consumidores a comprarem aquilo que a empresa tem para vender - a venda. - A segunda consiste em fazer chegar às mãos dos consumidores esses produtos ou serviços que compraram - a distribuição. condições de mercado (do lado da oferta e da procura) e às características do produto. Outros esquemas para “reduzir” o preço podem passar, por exemplo, por oferecer dois pelo preço de um. Se utilizar este tipo de estratégia, o empresário deve no entanto ter cuidado para que ao seu produto ou serviço não fique irremediavelmente associado uma imagem de “preço baixo”. É que, cobrar hoje um preço baixo e amanhã um preço alto, pode ser uma tarefa muito complicada e não muito bem aceite pelos consumidores. Em muitos casos, não existe uma separação entre venda e distribuição. São aqueles casos em que o produtor está directamente em contacto com o consumidor final. No entanto, existem outros (e cada vez são mais os sectores em que isso acontece) em que os produtos ou serviços têm que percorrer um determinado caminho desde o momento em que são produzidos até ao momento em que chegam às mãos do consumidor final. A esse caminho designamos de circuito de distribuição. Ao longo desta secção vamos então analisar cada uma destas vertentes da política de marketing da empresa A venda Política de distribuição Definição Trata-se aqui de determinar quais as formas para levar o produto ao cliente. Envolve questões como a dimensão e organização da força de vendas, a selecção dos canais de distribuição e as condições a acordar com os distribuidores. Este processo está dividido em duas fases: O acto de vender é essencial para a empresa, uma vez que é uma das razões fundamentais da sua existência. Por muito bons que sejam todos os aspectos da estratégia de marketing, esta nunca terá sucesso se não for apoiada em pessoas com a capacidade, a experiência e a motivação para colocar os bens ou serviços que a empresa oferece nas mãos dos consumidores. A Distribuição O circuito de distribuição consiste no itinerário percorrido por um produto ou serviço, desde o estáManual Prático do Empreendedor | 49 | Estratégia de Marketing dio da produção ao do consumo. A eficiência do circuito de distribuição é fundamental para que o produto seja disponibilizado aos consumidores na hora certa, nas quantidades necessárias e, claro, em condições técnicas e de conservação adequadas. Independentemente de serem realizadas pelos produtores ou por intermediários, as funções de distribuição podem ser divididas em dois tipos principais: a distribuição física e os serviços. Avaliação da estratégia de marketing Desenvolvida e implementada a estratégia de marketing, o empreendedor deve procurar determinar e avaliar os resultados produzidos. Mais uma vez recordamos que todo o investimento (seja em I&D, em equipamentos ou em marketing) deve ser sempre equacionado numa perspectiva de custo/benefício. Assim, o empreendedor deverá analisar com alguma regularidade (trimestre, semestre, ano, conforme o dinamismo revelado pela sua empresa e pelo sector em que está inserida) em que medida é que a estratégia de marketing adoptada teve ou não um impacto positivo na performance da empresa. No entanto, esta deve ser uma análise comparada, isto é, a empresa deve definir uma referência para poder qualificar de forma mais rigorosa a sua estratégia de marketing. De facto, performances boas ou más podem ter a ver com questões económicas conjunturais e não tanto com as opções da empresa. Normalmente, os comparáveis uilizados são a média do sector e performance histórica da própria empresa. A eficácia de uma estratégia de marketing deve ser medida em termos qualitativos e quantitativos. Manual Prático do Empreendedor | 50 Os critérios qualitativos estão relacionados com o objectivo central de uma estratégia de marketing, isto é, a satisfação dos desejos e necessidades dos clientes. Então, periodicamente, o empresário deve colocar aos colaboradores, aos clientes e a si próprio diversas questões destinadas a clarificar três aspectos chave: - A empresa está a fazer tudo o que está ao seu alcance para ser orientada para o cliente? - Os funcionários asseguram a satisfação total das necessidades e desejos dos clientes? - Finalmente, será que o cliente tem alguma percepção quanto ao facto das suas necessidades estarem ou não a ser satisfeitas a um preço e com uma qualidade competitivas? Os critérios quantitativos são naturalmente de natureza financeira e têm a ver com a prossecução de certos objectivos traçados para estratégia de marketing. Assim, as questões a colocar são as seguintes: - Qual foi o impacto da estratégia de marketing na evolução do volume de vendas? - A estratégia adoptada permitiu a conquista ou manutenção da quota de mercado da empresa? - Em que medida é que a estratégia elaborada contribuiu para eventuais ganhos de rentabilidade? Diante das respostas obtidas, o empreendedor pode tomar uma das seguintes decisões: - Repetir a estratégia e o mix que concebeu. -Proceder a pequenos ajustamentos nessa mesma estratégia. - Rejeitar a estratégia adoptada e elaborar uma outra totalmente nova. - Pôr em causa os objectivos da estratégia de marketing, ao concluir que estes estão desfasados da realidade. Finanças da Empresa Finanças da Empresa | As Finanças da Empresa Entre as principais causas do insucesso das PME estão a má gestão financeira e a insuficiência de capital. Logo, todos os planos e medidas financeiras que o empresário adoptar serão uma parte importante para o sucesso da sua empresa. Esse sucesso requer que, nas alturas chave, o montante de dinheiro adequado esteja sempre disponível quando necessário. Lembre-se ainda, que um planeamento financeiro eficaz é justamente aquele que permite antecipar as suas necessidades financeiras antes delas acontecerem. O plano financeiro O planeamento financeiro pode afectar como e em que termos a sua empresa irá obter financiamento, bem como os bens ou serviços que será capaz de produzir e se será ou não capaz de colocá-los no mercado de forma eficiente. Será também determinante para os recursos físicos e humanos que a sua empresa será capaz de adquirir. E, finalmente, será absolutamente fundamental para definir se o seu trabalho árduo irá, num prazo mais ou menos curto, produzir os lucros desejados. Elementos de um Plano Financeiro 1º Análise das opções e necessidades de investimento da empresa. O plano deverá descrever os investimentos previstos, descriminando-os por tipos de investimento. - Devem ser referenciados quais os investimentos em instalações, em equipamentos produtivos e administrativos (computadores, mobiliário, consumíveis, etc.), em acções de marketing, em investigação e desenvolvimento, na verificação de certos requisitos legais (constituição da empresa, registo de marcas e patentes, controlo de poluição, etc.) ou em outros que sejam relevantes para o negócio. 2º. Projecção do impacto das decisões presentes na performance futura da empresa. Para além do programa de investimento, o plano deve conter previsões quanto à evolução do negócio, apoiadas em demonstrações financeiras previsionais (Demonstração de Resultados, Balanço Manual Prático do Empreendedor | 53 | Finanças da Empresa e Mapa de Origem e Aplicação de Fundos) para o longo prazo, e em orçamentos de tesouraria, para o curto prazo. 3º. Estabelecimento de objectivos financeiros. Os objectivos financeiros podem passar por: - Aumento/manutenção do ritmo de crescimento das vendas; - Aumento/manutenção das margens de negócio (o que implica redução dos custos unitários); - Contenção de custos. O plano financeiro deve reflectir a estratégia da empresa: - Se esta pretende realizar um crescimento agressivo, com introdução de novos produtos, com a expansão para novos mercados ou com a conquista de quota de mercado, as vendas aumentarão mas, pelo menos no curto prazo, as margens unitárias sobre as vendas poderão cair. - No caso de pretender manter apenas um crescimento “normal”, então o objectivo financeiro poderá estar na redução/contenção de custos, de forma a aumentar/manter as margens de negócio. 4º. Necessidades e opções de financiamento Determinadas as necessidades de investimento, estimada a evolução do negócio e definidos os objectivos financeiros, o plano financeiro deve incluir quais as necessidades de financiamento que se colocam à empresa, no curto e no médio/longo prazo. Os fundos necessários tanto podem ter origem no próprio empresário ou em pessoas que lhe são próximas (familiares e amigos), como em investidores profissionais (bancos, capital de risco, etc.), podendo assumir a forma de capital ou dívida. Manual Prático do Empreendedor | 54 As demonstrações financeiras As demonstrações financeiras são instrumentos contabilísticos que reflectem a situação económico-financeira da empresa, evidenciando os respectivos pontos fortes e fracos de acordo com a “verdade dos números”. Além disso, permitem estabelecer comparações claras relativamente ao passado (ou seja, a performance financeira histórica da empresa) e aos competidores mais directos, assim como face a objectivos pré-definidos. São ainda utilizadas para a realização de projecções financeiras, que permitem verificar em que condições o negócio é viável, bem como detectar eventuais ajustamentos (operacionais, de investimento ou de financiamento) necessários para assegurar essa viabilidade. Demonstração de Resultados A Demonstração de Resultados reflecte os proveitos e os custos ocorridos ao longo de um determinado período de tempo - o trimestre, o semestre ou o ano. A diferença entre esses proveitos e custos constitui então o lucro da empresa durante o período considerado. Estrutura da Demonstração de Resultados 1º Resultado operacional É o resultado gerado pela actividade principal da empresa. É obtido pela diferença entre as vendas da empresa e os custos operacionais (compra de mercadorias e matérias-primas, salários e encargos conexos, custos gerais de produção e amortização do imobilizado). 2º Resultado financeiro Resulta da diferença entre proveitos e custos de natureza essencialmente financeira (juros pagos e recebidos, descontos de pronto pagamento obtidos e concedidos, rendimentos e encargos de participações de capital, etc.). Finanças da Empresa | 3º Resultado extraordinário Abrange os custos e proveitos com um carácter inesperado (sinistros, multas, dívidas incobráveis ou recuperadas, etc.) ou meramente pontual (por exemplo, mais ou menos valias resultantes da alienação de componentes do activo imobilizado). 4º Resultado líquido Resulta da soma algébrica das três componentes anteriores, deduzida do IRC devido. Balanço O Balanço representa a situação patrimonial da empresa (activos, dívida e capital) num determinado momento de tempo. Tal como a Demonstração de Resultados, é normalmente apresentado no final de um período contabilístico (trimestre, semestre, ano). Ao contrário da Demonstração de Resultados, que pretende representar factos ocorridos ao longo de um período, o Balanço é uma "fotografia" respeitante a um momento preciso. Princípio Básico da Contabilidade Activo = Passivo + Capital Próprio Esta expressão constitui o princípio básico da contabilidade, dizendo-nos que a aquisição de todo o património da empresa (activo) tem que ser financiada ou por capitais dos sócios (capital próprio) ou por capitais alheios (passivo). Um outro aspecto a ter em atenção na análise do Balanço de uma empresa é a relação existente entre activo circulante e passivo de curto prazo ou exigível num prazo inferior a um ano. Se o primeiro for superior ao segundo, então a empresa evidencia capacidade para satisfazer os seus compromissos de curto prazo. Caso isso não aconteça, é provável que a empresa se veja forçada a recorrer a empréstimos para saldar as suas dívidas mais imediatas. 3 conselhos para o empresário saber explicar e justificar todos os pressupostos em que se basearam as previsões 1. Seja prudente nas suas estimativas Lembre-se que novos negócios ou novos projectos enfrentam sempre dificuldades na sua fase de arranque. Além disso, não deve existir apenas uma previsão, mas, pelo menos, duas: uma que reflicta uma visão optimista, ou seja, aquela que o empresário espera que se verifique, e uma pessimista, que preveja a evolução das vendas no caso de as coisas não correrem de acordo com o esperado. Assim, poderá prevenir os efeitos de uma evolução mais negativa e delinear antecipadamente planos de emergência. Em suma, considere sempre o melhor e o pior dos cenários. 2. Se possível, recorra a especialistas Projecções financeiras de qualidade (que, por exemplo, garantam a congruência entre os três tipos de demonstrações financeiras apresentadas anteriormente) exigem conhecimentos técnicos que poderão não estar ao dispor da sua empresa. 3. Envolva outras áreas funcionais da sua empresa na elaboração das projecções Os especialistas em finanças percebem do seu ofício mas podem não ter (é natural que assim seja) sensibilidade para certos aspectos do seu Manual Prático do Empreendedor | 55 | Finanças da Empresa negócio. Assim, quem melhor do que o responsável da produção para expor quais os custos de produção e os investimentos produtivos necessários? Quem melhor do que o responsável de marketing para definir quais os custos da estratégia de comunicação a adoptar? Ainda que não existam pessoas especificamente responsáveis por cada uma daquelas áreas funcionais, existe sempre alguém na sua empresa que está mais por dentro deste ou daquele assunto. A sua colaboração permitirá elaborar projecções muito mais rigorosas e realistas e, como tal, mais úteis à tomada de decisão. Com base nas projecções financeiras, o empresário deve obter respostas fiáveis às seguintes questões: - Em primeiro lugar, o modelo de negócios definido cumpre os requisitos financeiros necessários para ser bem sucedido, isto é, revela-se capaz de gerar lucros e cash flows no horizonte temporal definido? Serão necessários ajustamentos? - Em segundo lugar, quais as necessidades de financiamento até que o negócio seja autosustentável? E quanto tempo levará a atingir essa sustentabilidade? O financiamento A falta de capital é uma das principais causas de insucesso das PME. Mais do que definir quanto precisa, o empresário tem que definir qual ou quais as fontes de financiamento que mais lhe convêm para satisfazer as diversas necessidades de capital que se lhe deparam. Fontes de Financiamento Capitais Alheios Empr. Bancário Leasing Capitais Próprios Linha de crédito Sócios “iguais” Business Angels Factoring Capital de Risco Mercado de Capitais Tipos de financiamento Linhas de Crédito As linhas de crédito são uma forma de empréstimo bancário de curto prazo, em que a instituição credora confere à empresa o direito de, dentro de um plafond previamente contratado, retirar fundos consoante as suas necessidades de tesouraria. Esta forma de crédito permite complementar outras formas de gestão de tesouraria e é muito flexível, na medida em que a empresa contrai o empréstimo quando precisa e repõe-no quando julga mais conveniente, pagando juros apenas sobre o montante em utilização. Aos juros costuma juntar-se no entanto uma comissão. Manual Prático do Empreendedor | 56 Finanças da Empresa | Esta forma de financiamento revela-se muito útil nas seguintes situações: - Fazer face a insuficiências de tesouraria temporárias e previsíveis Por exemplo, em negócios fortemente sazonais, podem haver momentos em que a empresa tem dificuldades de tesouraria que são claramente previsíveis e, portanto, podem ser planeadas. - Fazer face a rupturas inesperadas e momentâneas Ainda que a empresa seja lucrativa e geradora de cash flow, podem existir momentos em que, por razões inesperadas, existam rupturas momentâneas de tesouraria. Nota: As linhas de crédito não devem ser utilizadas para financiar grandes investimentos (são sobretudo um instrumento de gestão de tesouraria) e para satisfazer necessidades de tesouraria que são permanentes como, por exemplo, os custos com pessoal. Nestes casos, em que as obrigações de pagamento são constantes e revelam alguma continuidade, a empresa deve recorrer a instrumentos de financiamento de longo prazo. Factoring O factoring, tal como as linhas de crédito, é um instrumento de gestão de tesouraria, ou seja, de cobertura de necessidades de curto prazo. O contrato de factoring consiste na cedência dos créditos da empresa a uma sociedade que se irá responsabilizar pela cobrança desse crédito: A sociedade factoring adianta uma parcela do valor do crédito objecto de contrato à empresa, recebendo em troca uma comissão. Este instrumento tem a vantagem de possibilitar à empresa realizar os seus créditos (ou uma parte deles) sem estar dependente dos prazos de pagamento dos clientes. No entanto, tem a desvantagem de implicar custos acrescidos (as comissões), o que reduz a rentabilidade das vendas. Além disso, o recurso regular ao factoring constitui um indício de má gestão dos tempos médios de recebimento. Deve ser um instrumento apenas utilizado em situações muito particulares. Empréstimos financeiros Uma dívida financeira consiste na obtenção de um empréstimo junto de um credor, normalmente um banco, durante um período de tempo prédeterminado. Quando contrai uma dívida, a empresa está não só obrigada à restituição do capital emprestado, como também ao pagamento de juros, fixados com base numa taxa que é aplicada ao valor do empréstimo. As instituições bancárias tendem a preferir empresas com experiência no negócio, cujas equipas de gestão mantenham boas relações com a instituição e que apresentem planos de negócio que demonstrem capacidade para cumprir o serviço da dívida. Normalmente, o crédito bancário é uma forma de financiamento adequada se a empresa está moderadamente endividada e manifesta boa capacidade de gerar cash flows. Empresários com negócios nestas condições podem recorrer a empréstimos bancários para financiarem as suas operações e programas de expansão em condições muito vantajosas sem cederem parte do controlo da empresa. Como é natural, os bancos são muito mais receptivos a emprestarem dinheiro a empresas sólidas já estabelecidas no mercado, do que as empresas emergentes. Manual Prático do Empreendedor | 57 | Finanças da Empresa O financiamento bancário pode ser aconselhável nas seguintes condições: Expansão de um negócio lucrativo Quando a empresa não se encontra desesperada, consegue obter condições muito mais vantajosas. Financiamento de uma grande aquisição Equipamentos, instalações, etc., que irá incrementar substancialmente a rentabilidade do negócio ou garantir a existência de um património suficiente para cobrir as garantidas exigidas pela instituição bancária. Elevada capacidade de geração de cash flow O que permite à empresa demonstrar que vai ser capaz de cumprir o serviço da dívida. Leasing O leasing é um instrumento de financiamento ao qual a empresa pode recorrer quando não pretende afectar grandes quantidades de capital para ter acesso a um determinado bem (normalmente tratam-se de bens de equipamento). Num contrato leasing, o proprietário do equipamento, o locador, autoriza o utilizador, o locatário, a dispor do equipamento em troca de pagamentos periódicos, que incluem capital e juros. Findo o prazo de vigência do contrato, o locador pode adquirir oequipamento objecto do contrato mediante o pagamento de um valor residual préestabelecido. Ao diferir os pagamentos, a empresa consegue garantir uma melhor liquidez. No entanto, tem a desvantagem de não ser proprietário do equipamento, tendo por isso que indemnizar a locadora no caso de acontecer algum acidente com o equipamento que seja da responsabilidade da empresa. Nota: Este tipo de financiamento é sobretudo aconselhável para a aquisição de equipamentos Manual Prático do Empreendedor | 58 que, ou não são estratégicos para a empresa, ou apenas serão utilizados por um período de tempo limitado. Um exemplo típico são os automóveis ao serviço da empresa, que tendem a ser adquiridos em sistema de leasing. Venda de uma participação no capital da empresa Consiste na troca de dinheiro por uma parcela do capital e, como tal, da propriedade uma parte da empresa. Numa primeira fase, o empreendedor, face à carência de fundos próprios e aos problemas decorrentes do crédito, pode recorrer a investidores privados, sejam eles: - Família - Amigos - Business angels - Capitalistas de Risco link para os textos de Capital de Risco Plano de Marketing Plano de Marketing | Simulação de um Plano de Marketing O que é O Plano de Marketing é um guia de acção, isto é, é a corporização da estratégia de marketing de uma empresa. Para que serve O Plano de Marketing permite acompanhar de um modo quantificado a evolução e a situação concorrencial da empresa. Elementos-chave de um Plano de Marketing Para elaborar um plano de marketing eficaz existe uma grelha que é geralmente apontada, ainda que possam surgir algumas adaptações decorrentes do tipo de actividade ou das condições particulares da empresa. Existe um conjunto de elementos que, de uma forma mais ou menos desenvolvida, um plano de marketing deve sempre conter: Definição do negócio Objectivo O objectivo desta secção é enquadrar o plano de marketing a ser desenvolvido nas secções seguintes. Descrição - Em primeiro lugar, esta secção deve definir de um modo resumido o negócio, apresentando os bens e serviços oferecidos, bem como os mercados atingidos. - Em segundo, deve incluir uma breve descrição do modo como a empresa pretende actuar no mercado e/ou da forma como a empresa pretende que o mercado a considere. Observações No caso de a empresa actuar em vários negócios, a definição do negócio deve traduzir a forma como este contribui para a estratégia global da empresa. Manual Prático do Empreendedor | 61 | Plano de Marketing Posição concorrencial Objectivo Apresentar uma análise da situação da empresa no negócio a que se refere o plano. Descrição - Esta secção deve iniciar-se com um resumo da evolução do(s) mercado(s) na qual a empresa actua. - Seguidamente, deve ser apresentada a evolução da empresa nesse(s) mercado(s), nomeadamente aos níveis do volume de vendas e da quota de mercado. - Paralelamente, se possível, deve ser traçada a evolução da concorrência no(s) mesmo(s) mercado(s). - Esta secção deve encerrar com a identificação (e hierarquização) dos principais problemas e das oportunidades que se deparam à empresa. Observações - No resumo da evolução do(s) mercado(s) não devem ser esquecidos os mercados que, mesmo indirectamente, influenciam a actividade da empresa. Por exemplo, uma indústria de componentes de automóvel não é apenas influenciada pelo mercado com que lida directamente (constituído pelos grandes construtores), mas também, e sobretudo, pela evolução do mercado dos consumidores finais de automóveis. - A análise comparada com a evolução dos mercados é fundamental pois, no ambiente cada vez mais competitivo das economias modernas, só os mais fortes sobreviverão a prazo. Objectivo Descrever os pressupostos subjacentes às previsões implícitas no plano. Descrição Deverão ser referidos aspectos como: - a evolução prevista para os contextos político, económico, tecnológico e social - as possíveis movimentações de concorrentes actuais e potenciais - as prováveis modificações no mercado-alvo Observações Estes aspectos funcionarão como base para justificar o conjunto de actividades a desenvolver e os objectivos traçados pela empresa. Pressupostos Manual Prático do Empreendedor | 62 Plano de Marketing | Objectivos Objectivo Estabelecer os objectivos preliminares a atingir durante o período a que se refere o plano de marketing. Descrição Os objectivos são definidos com base nos elementos analisados nas secções anteriores e poderão estar relacionados com: - o crescimento de facturação - a melhoria da rentabilidade - o aumento da notoriedade da empresa ou marca Observações A possibilidade de atingir esses objectivos será testada ao longo das fases seguintes do plano. Consoante os resultados dos testes, os objectivos poderão ser reformulados ou não. Objectivo Apresentação, da forma mais detalhada possível, das acções específicas a desenvolver, no sentido de serem atingidos os objectivos fixados. Descrição As acções devem abranger todos os elementos do marketing mix: - Política de produto (ou serviço) Está relacionada com as características dos produtos ou serviços prestados, ou seja, trata-se da ferramenta que liga o marketing à função produção da empresa. Em termos gerais, abrange as características intrínsecas do produto ou serviço em causa, a embalagem e a marca (esta última específica do marketing). - Política de comunicação Inclui os meios de comunicação e promoção que serão utilizados para atrair a atenção de potenciais clientes para os seus produtos e/ou serviços. Nesta medida, envolve decisões sobre que meios utilizar e sobre o orçamento global de comunicação e sua distribuição pelos diferentes meios alternativos: publicidade, marketing directo, etc. Programa de acção Manual Prático do Empreendedor | 63 | Plano de Marketing - Política de preço Envolve a definição das condições de obtenção por parte dos clientes da empresa (actuais e potenciais) dos bens ou serviços produzidos, tais como, o preço base e os métodos para respectivo cálculo, a política de descontos, entre outras. Nesta variável é visível a ligação estreita entre marketing e finanças no interior da empresa. - Política de distribuição Destina-se a definir a forma como o produto vai chegar ao cliente. Envolve questões como a dimensão e organização da força de vendas, a selecção dos canais de distribuição e as condições a acordar com os distribuidores. Observações - Todas as acções definidas devem ser devidamente orçamentadas e devidamente calendarizadas, e os seus objectivos claramente traçados, de forma a possibilitar o controlo futuro e a medição da sua eficácia. - O conjunto das acções deve ser coerente, corporizando a estratégia global de marketing do negócio, quer se pretenda que seja mais centrada no produto, no preço, na distribuição ou na comunicação. Objectivo Prever o impacto financeiro das acções indicadas na secção anterior no negócio objecto do plano. Descrição Este resumo financeiro assume geralmente a forma de uma conta de exploração previsional e os valores indicados devem ser comparados com os valores históricos e as alterações previstas devidamente justificadas. Observações À medida que o plano vai sendo implementado no terreno, este resumo permite testar a possibilidade de os objectivos anuais fixados poderem ou não ser atingidos. Resumo Financeiro Manual Prático do Empreendedor | 64 Plano de Marketing | Sistemas de Controlo Objectivo Avaliar a prossecução dos objectivos traçados ao longo da execução do plano de marketing. Descrição Para cada programa de acção deve ser apresentado um responsável bem definido pela sua execução e obtenção dos resultados previstos, bem como um sistema de controlo bem definido e eficaz. Observações Este sistema de controlo deverá ser devidamente articulado com mecanismos de remuneração variável e responsabilização pessoal, obriga os responsáveis pela execução de cada uma das acções de marketing a focalizarem-se nos objectivos traçados e no cumprimento dos calendários pré-definidos. Manual Prático do Empreendedor | 65 Plano de Negócios Plano de Negócios | Simulação do Plano de Negócios Conceito e Finalidade O plano de negócios é uma descrição daquilo que é o presente e o que será o futuro do seu negócio. Trata-se então de um documento que descreve aquilo que o empresário pretende fazer e como tenciona fazê-lo. Assim, o seu plano de negócios deve incluir os objectivos do seu negócio, as estratégias que pretende implementar para os atingir, os problemas que se podem colocar, a estrutura organizacional da empresa (incluindo pessoaschave, títulos e responsabilidades) e, claro, o montante de capital que será necessário obter até que o negócio se torne auto-sustentável. Um plano de negócios pode ser um documento de grande utilidade para prosseguir diversos objectivos de e não apenas angariar fundos junto de investidores (embora, claro, esta seja a motivação mais comum que preside à elaboração de um plano de negócios). Apresentamos agora algumas finalidades possíveis de um plano de negócios: 1. Obtenção de financiamento (dívida ou capital) É o objectivo mais comum subjacente à elaboração de um plano de negócios. Este deverá dar especial atenção ao sumário executivo, à equipa de gestão e aos aspectos de marketing e finanças. O plano tem que mostrar uma visão clara de como a empresa vai ganhar dinheiro. Se está à procura de financiamento bancário, deve destacar a capacidade da empresa para gerar cash flow suficientes para cumprir o serviço de dívida. Já no caso de se tratarem de investidores de capital (como o capital de risco), o destaque terá que ser dado ao retorno de investimento que poderão vir a obter quando, mais tarde, quiserem alienar a sua participação. 2. Atracção de pessoal qualificado Um plano de negócios adequado pode ser especialmente útil na atracção de pessoas para os lugares chave da sua empresa. Devem ser destacados a política de remunerações (fixas e variáveis) e outros benefícios (direito a telemóvel, automóvel, combustível, sistema de saúde, entre outros), assim como outros aspectos, tais como a localização, o ambiente de trabalho e a cultura da empresa e o potencial de crescimento da empresa. 3. Conquista de fornecedores Um plano de negócios sólido pode ser um instrumento eficaz para convencer os fornecedores que você é capaz de trazer-lhes algum valor acrescentado, quando comparado com os seus rivais (por exemplo, uma boa localização ou uma excelente imagem junto dos clientes finais). Pode ainda ajudar a negociar prazos de pagamento mais vantajosos. Para convencer os fornecedores, o plano de negócios pode, por exemplo, destacar a lista de clientes da sua empresa (sobretudo se forem prestigiados ou em grande número) ou o seu track record impecável no que toca ao pagamento das dívidas. 4. Conquista de grandes clientes O quarto objectivo possível consiste em convencer grandes empresas que a sua empresa pode ser um fornecedor ideal, especialmente em Manual Prático do Empreendedor | 69 | Plano de Negócios contratos que impliquem um relacionamento estável e/ou que envolvam grandes montantes. Neste caso deverá enfatizar aspectos como a sua capacidade produtiva, as suas competências tecnológicas e a apetência para encurtar prazos de entrega e oferecer soluções inovadoras. 5. Propósitos internos Por fim, o empresário pode querer estabelecer formalmente uma grelha de acção e orientação para si próprio e para os seus colaboradores, que constitua uma declaração de objectivos e processos, por um lado, e instrumento de monitorização e controlo de gestão, por outro. Nestes casos, o documento elaborado deve incluir objectivos operacionais devidamente quantificados (por exemplo, produzir tantos itens com uma percentagem de defeituosos inferior a 4 por cento, vender cinco mil unidades ou cem mil contos num determinado período, etc.) que irão constituir termos de comparação e avaliação de performance no fim do período estabelecido. Estes aspectos podem não ter muito interesse para um banco, mas são de grande importância para a gestão corrente do negócio. Diante deste conjunto de finalidades possíveis, o leitor pode ser levado a crer que a elaboração de planos de negócios pode ser um processo demasiado dispendioso em termos de tempo e dinheiro (até porque para certos aspectos pode ser necessário recorrer a especialistas), na medida em que precisará não de um, mas de vários planos de negócios. Porém, caro empreendedor, não pretendemos de forma alguma que gaste todos os seus recursos intelectuais e financeiros na elaboração de um plano para cada finalidade especifica. Basta-lhe simplesmente construir um plano base que, com os ajustamentos adequados, poderá ser utilizado para as diversas finalidades. Manual Prático do Empreendedor | 70 Elementos de um Plano de Negócios Para elaborar um plano de negócios eficaz existe uma grelha que é geralmente apontada, ainda que possam surgir algumas adaptações decorrentes do tipo de actividade ou das condições particulares da empresa. Por exemplo, é normal que o plano de negócios de uma empresa implantada há alguns anos no mercado e de maior dimensão tenha que ser mais exaustiva na elaboração de um plano de negócios do que uma start-up. Também é natural que uma empresa cujos bens ou serviços prestados requeiram um elevado grau de sofisticação tecnológica, seja obrigada a elaborar um plano de negócios mais exaustivo relativamente àquelas empresas que não possuem esse grau de sofisticação. No entanto, quer se refiram a grandes ou a pequenas empresas, mais ou menos sofisticadas, existe um conjunto de elementos que, de uma forma mais ou menos desenvolvida, um plano de negócios deve sempre conter, nomeadamente: 1. Sumário executivo. Um sumário de uma ou duas páginas que deverá resumir os aspectos essenciais contidos no plano de negócios. O sumário executivo aparece no início do plano de negócios e resume os pontos mais importantes de todos os assuntos abordados no plano. O propósito do sumário executivo é convencer os leitores potenciais dos méritos do seu negócio e encorajá-los a ler as restantes secções do plano. Assim, devem ser escritos num tom entusiástico, mas sempre realista, em não mais do que uma ou duas páginas. Deve incluir os seguintes elementos: - Objectivos do plano. A intenção que esteve por trás da elaboração do plano (angariação de capitais próprios ou Plano de Negócios | potencial para crescer, por um lado, e apresentar como pretende assegurar esse crescimento, por outro. obtenção de empréstimos, a atracção de pessoas qualificadas ou garantir o interesse de futuros parceiros) deve estar explícita de forma clara no sumário executivo. Por exemplo, não basta dizer “preciso de algum dinheiro para conduzir os meus projectos nos próximos dois anos”; é necessário ser mais objectivos e dizer “preciso de cinquenta mil contos para financiar o meu negócio ao longo do próximo ano”. - Conceito de negócio. O seu negócio deve ser definido de uma forma clara e breve. Deve apontar o que vai ser vendido, a quem e porquê o negócio possui uma vantagem competitiva. - Realizações importantes. Envolve todos os detalhes e desenvolvimentos que podem ser importantes para o sucesso da empresa, tais como, patentes, óptima localização das instalações, contratos importantes, resultados de estudos de mercado eventualmente conduzidos, etc. Assegure-se que o sumário executivo é tão perfeito quanto possível. Lembre-se que, por vezes, esta é a única secção do plano que o potencial investidor vai ler, logo deve ser escrito de forma a captar a sua atenção. Se o sumário falhar na motivação do leitor, o mais certo é que este simplesmente não leia o resto do plano de negócios. Então, escreva-o de forma clara, concisa e apelativa, salientando os seus objectivos fundamentais e aquilo que distingue a sua empresa da concorrência. - Dados financeiros. Apresentação daqueles pontos mais importantes, incluindo vendas, lucros, cash flows ou taxas de retorno do investimento. - Necessidades financeiras. Quantificação em termos financeiros dos montantes necessários para assegurar a execução do plano de negócios. - Situação actual da empresa no mercado. Trata-se de descrever brevemente qual a posição da empresa no mercado (é líder ou seguidor ou actua num nicho de mercado, qual a quota de mercado actual, entre outras). - Expectativas de crescimento. Consiste em demonstrar que a empresa tem 2. Apresentação da empresa. Descrição breve da empresa e da sua actividade. A existência desta secção pressupõe que o leitor do plano de negócios não conhece quase nada Manual Prático do Empreendedor | 71 | Plano de Negócios acerca da empresa. Assim, na apresentação da empresa devem figurar quem é a empresa e os seus máximos responsáveis, assim como o caminho que a empresa pretende seguir. Os elementos a incluir são, portanto, os seguintes: - Nome do negócio (incluindo formato jurídico SA, Lda, etc.) e dos sócios. - Historial da empresa (fundação, como surgiu a ideia, como começou, etc.). - Objectivos fundamentais da empresa (tais como taxa de crescimento para os próximos cinco anos, prazo para entrada em bolsa, conquista de uma determinada quota de mercado nos próximos anos, entre outros). 3. Análise do produto ou serviço. Esta secção deve começar com uma breve descrição dos produtos ou serviços da empresa, bem como os motivos pelos quais eles são melhores que aqueles oferecidos pela concorrência. Nesta secção, o plano de negócios deve descrever em detalhe os bens os serviços que a sua empresa pretende oferecer e a forma como os pretende produzir. Logo, envolve não só a descrição clara e pormenorizada do produto (características, especificações técnicas, etc.), mas também o processo produtivo subjacente. O objectivo é estabelecer claramente o que distingue o seu negócio dos competidores. Nesta medida, a análise do produto envolve as seguintes questões: - Benefícios para o consumidor, mostrando o porquê do seu produto (ou serviço) ser único, distinto ou de qualidade superior do que outros disponíveis no mercado. Manual Prático do Empreendedor | 72 - Identificação do custo dos recursos humanos (remunerações) e materiais (fixos e variáveis). - Apresentação das necessidades de investimento em equipamentos e instalações. No caso das instalações, refira ainda os motivos da escolha de uma determinada localização (se esta for um aspecto relevante, claro). - Considerações sobre a tecnologia, sobretudo no caso desta ser inovadora ou única, incluindo elementos como caracterização de processos e a possibilidade de protecção de propriedade industrial (patentes registadas). - Perspectivas quanto à evolução do produto no futuro, que pode passar pela criação de novos produtos (sejam complementares ou extensões de gama) oferecida ou de simples ajustamentos/alterações nos produtos actualmente oferecidos. Esta perspectiva é de grande importância, sobretudo em sectores de rápido incremento tecnológico, em que os respectivos ciclos de vida dos produtos tendem a ser mais curtos. Refira-se que estes aspectos foram já discutidos em capítulos anteriores, pelo que não existe necessidade de desenvolvê-los muito mais. 4. Análise de mercado. Consiste na identificação do mercado alvo e quais as formas de segmentação do mesmo que foram adoptadas pela empresa, de forma a assegurar a penetração no mercado. A análise de mercado ao nível do plano de negócios, deve incidir sobre dois aspectos. Em primeiro lugar, deve identificar e caracterizar os competidores (actuais e potenciais), os consumidores (actuais e potenciais), assim como incluir uma análise da indústria em geral. Plano de Negócios | - Distribuição. Descrição dos canais de distribuição que pretende utilizar. Em segundo lugar, deve explicar em que medida é que o produto ou serviço tem condições de sucesso naquele mercado, apresentando quais as necessidades de mercado que satisfaz e como se diferencia da concorrência em termos de qualidade, preço, localização, ou quaisquer outros factores. 5. Estratégia de marketing. Aqui são tratadas as estratégias a implementar para colocar o produto ou serviço no mercado (ou seja, para o vender). Nesta secção do plano, são descritas a estratégia global de marketing e as diversas políticas do marketing mix (Produto, Preço, Distribuição e Comunicação). De seguida, apresentamos um pequeno sumário das questões a incluir: - Estratégia global de marketing. Identificação dos principais elementos do programa de marketing e da forma como se interligam num todo coeso. - Preço. Explicação e justificação da política de preços (métodos de determinação e objectivos subjacentes). - Vendas. Referência à forma como planeia vender os seus produtos ou serviços (no estabelecimento, no domicílio do comprador, se vai ou não constituir uma força de vendas especializada, etc.). - Comunicação. Trata-se aqui de mostrar o mix de comunicação que irá utilizar para promover o seu negócio junto do seu público alvo. - Produto. Aspectos que não tenham sido abordados na secção do plano relativa à “análise do produto” (embalagem, marca, etc.). Nesta secção do plano, devem ainda ser incluídas as previsões relativas à evolução futura das vendas, bem como os pressupostos assumidos nessa previsão. 6. Análise financeira. Deve incluir as demonstrações financeiras históricas (no caso, claro está, de não ser uma start up) e previsionais da empresa. Esta secção incorpora o plano financeiro da empresa no seu plano de negócios, ou seja, é chegado o momento de traduzir em euros todos os aspectos já discutidos no plano. A base da análise financeira são as demonstrações financeiras (Demonstração de Resultados, Balanço, Mapa de Origens e Aplicações de Fundos). Estes instrumentos serão utilizados quer para análise histórica, quer para a projecção da evolução do negócios nos próximos anos (as previsões não devem ir para além dos três a cinco anos). Esta secção deve ainda conter um orçamento de tesouraria (previsão dos recebimentos e pagamentos a realizar num determinado período) pelo menos para o primeiro ano de Manual Prático do Empreendedor | 73 | Plano de Negócios actividade e, eventualmente, uma análise do ponto crítico de vendas ( volume de vendas em valor e em quantidade para o qual a empresa obtém “lucro - 0”). 7. Perfil da gestão. Apresentação perfil dos gestores, dos colaboradores, dos profissionais externos contratados para prestarem apoio em certas áreas específicas, etc. O currículo dos elementos da equipa de gestão está incluído nesta secção do plano. Além do passado profissional e académico dos principais responsáveis da empresa, devem ainda ser referenciados: - A estrutura organizacional da empresa, incluindo títulos e níveis responsabilidade. - Descrição das realizações e experiência dos principais responsáveis da empresa. - A estrutura de recursos humanos (dimensão, competências, etc.) actual e a sua desejada evolução no futuro. - Apresentação dos profissionais externos (advogados, contabilistas, consultores) aos quais a empresa recorre ou pretende vir a recorrer. Esta secção é de extrema importância no plano de negócios, uma vez que as qualidades e a experiência da equipa (sobretudo dos mais altos responsáveis da empresa) tendem a ser um aspecto considerado absolutamente fundamental pela generalidade dos potenciais investidores. Regras Práticas O plano de negócios deve ser um documento pensado para quem o lê, e não para quem o desenvolve. Nesta medida, para ser eficaz e garantir a atenção (e persuasão) de investidores, clientes, fornecedores ou colaboradores, não chega referir e explicar todos os elementos básicos de um plano de negócios. Manual Prático do Empreendedor | 74 Há que obedecer a uma série de regras, que vão no sentido de garantir a atenção e compreensão do plano de negócios por parte de quem lê, por um lado, e convencê-los a apoiar os projectos da empresa, por outro. Ao longo desta secção, apresentamos 10 regras práticas para a elaboração de um plano de negócios eficaz. Regra nº 1: Assegure facilidade de leitura Se pretende atrair a atenção dos destinatários do seu plano de negócios, este tem que estar escrito de forma a que as pessoas o entendam e consigam acompanhar o raciocínio que lhe está subjacente. Lembre-se que os leitores potenciais do seu plano de negócios têm já muitos outros documentos para ler (inclusivamente outros planos de negócio) e, como tal, é fundamental que o seu texto esteja bem formatado e seja de fácil compreensão. Para garantir que isso aconteça, aqui ficam algumas dicas práticas: - Em primeiro lugar, não exagere na dimensão do seu plano de negócios. Embora não exista um número de páginas ideal (tudo depende de questões como o grau de complexidade do produto ou o historial da empresa), procure não exagerar no número de páginas do seu documento. - Em segundo, procure focar-se naquilo que é essencial e que interessa ao leitor do seu documento. Seja claro e conciso e construa um glossário com termos técnicos que utilize no plano, sobretudo se forem específicos do negócio. Lembre-se que se o investidor ou qualquer outro leitor tiver que usar um dicionário para compreender o seu plano, o mais certo é que simplesmente não o leia. Plano de Negócios | Regra nº 3: Evidencie a qualidade da equipa -Em terceiro lugar, destaque aspectos importantes do texto utilizando os mecanismos de formatação (negrito, sublinhado, itálico, espaçamento, etc.) que qualquer processador de texto coloca a sue dispor. Inclua ainda gráficos, quadros ou até ilustrações para apoiar o texto. Regra nº 2: Dê um aspecto profissional ao documento Quando está a elaborar um plano de negócios, o empresário deve procurar que este pareça o mais profissional possível. Aspectos de ordem puramente “estéticos”, como a qualidade do papel, o design e material da capa e a qualidade da impressão são a primeira imagem que o potencial leitor tem do seu plano e, até, da sua empresa. Assim, para garantir a qualidade gráfica do documento final, deve ser previamente criada uma versão exactamente igual àquela que será distribuída aos potenciais investidores. Além das questões estéticas, não se esqueça de incluir um índice, bem como subtítulos e números nas páginas. Isto permite que o leitor se “movimente” ao longo do documento e demonstra que o plano é completo e foi construído de uma forma consistente. E um plano de negócios consistente é a primeira evidência de que o empresário está a construir um negócio viável e consistente. Prove que a sua empresa é composta por pessoas qualificadas e de grande credibilidade, possuidores da capacidade e dos conhecimentos necessários para dar resposta aos diferentes problemas e oportunidades que se deparem à empresa. Indique ainda quais os incentivos e as relações pessoais existentes que, no futuro, irão garantir a coesão da equipa. Não hesite em colocar em anexo o currículo detalhado dos principais elementos da equipa. Regra nº 4: Apresente uma abordagem de mercado Isto opõe-se a uma abordagem focada no produto. Logo, concentre o plano na forma como o seu produto ou serviço vai ser recebido no mercado e não tanto nas respectivas características técnicas. Aquilo que realmente interessa aos potenciais investidores é a forma como o seu negócio vai crescer e gerar cash. E, para isso, o negócio tem que conquistar mercado e vender. Regra nº 5: Assegure a adequação do plano aos leitores Conforme já referimos, um plano de negócios pode ter diversos objectivos, o que implica que se pode dirigir a diversos tipos de indivíduos ou instituições. Nesta medida, devem ser elaboradas versões diferentes do documento, adaptadas à finalidade do mesmo (garantir financiamento, conquistar clientes ou fornecedores). Regra nº 6: Mostre que o seu negócio é único Explique qual o factor crítico de sucesso da sua empresa, ou seja, aquelas características que são Manual Prático do Empreendedor | 75 | Plano de Negócios únicas e, como tal, lhe dão uma vantagem competitiva relativamente aos seus competidores actuais e potenciais. Podemos estar a falar de questões como a excelência do produto, a qualidade do serviço, a boa localização, relações privilegiadas com certos clientes, fornecedores ou distribuidores, entre outras Regra nº 7: Refira os riscos Os investidores ou outros agentes para quem o plano de negócios possa estar destinado (grandes clientes e fornecedores, indivíduos qualificados, etc.) sabem que não existem negócios perfeitos. Por isso, o plano deve não só evidenciar os pontos fortes da empresa e as oportunidades que o mercado apresenta, mas também referir eventuais pontos fracos (carência ao nível das competências de gestão, instalações insuficientes, etc.) e ameaças impostas do exterior (competidores fortes, consumidores muito exigentes, etc.). A inclusão dos riscos e a apresentação de medidas para contrariar esses riscos indicia que os responsáveis da empresa são realistas e têm consciência das dificuldades, o que constitui um factor de credibilização junto daqueles que lerem o seu plano, sobretudo se se tratarem de potenciais investidores. Regra nº 8: Seja realista Para além de apresentar os riscos de negócio, o plano deve também ser realista quanto à capacidade da empresa e o potencial de mercado dos seus produtos ou serviços. Em princípio, aqueles que irão ler o seu documento são pessoas que, não sendo especialistas no seu negócio, tendem a possuir um elevado nível de conhecimentos e experiência e, como tal, reconhecerão facilmente onde está a realidade e onde estão meras “fantasias”. Manual Prático do Empreendedor | 76 Logo, não peque por excesso em questões como a dimensão do mercado, o volume de vendas e a quota de mercado esperados, a capacidade produtiva instalada, nem por defeito em questões como os custos de produção, o número e dimensão dos competidores, entre outros. Tal como no ponto anterior, mais do que a credibilidade da empresa, é a sua credibilidade pessoal que está em jogo. Regra nº 9: Conclua “em grande” Enfatize que está a propor um óptimo negócio ao leitor do seu plano de negócios. Explique ao investidor como é que este irá obter um retorno de 30 a 50 por cento ou a um trabalhador qualificado como é que o seu salário base pode ser aumentado em mais de 20 por cento através de uma componente de remuneração variável baseada na sua produtividade. Em suma, procure que aqueles que lêem o seu plano atribuam, no final da leitura, um peso significativamente maior aos aspectos positivos do que aos aspectos negativos do negócio. Regra nº 10: Obtenha uma revisão crítica Antes de dar por concluída a elaboração do plano de negócios, mostre-o a pessoas da sua confiança cujo julgamento considere relevante e incorpore as suas sugestões. Uma análise crítica e fundamentada do seu plano pode ser o “toque” extra que faltava para um plano perfeito, ou seja, que seja capaz de assegurar o interesse e a colaboração futura de quem o lê. Gestão do Negócio Gestão do Negócio | aspectos da vida da empresa é fundamental para evitar problemas e garantir o sucesso. A gestão do negócio 5 Dicas práticas para gerir o dia-a-dia da sua empresa 1. Estabeleça objectivos A gestão com base em objectivos específicos e devidamente quantificados para o curto e para o longo prazo e a colaboração de todos os elementos da equipa na definição desses objectivos podem ser aspectos críticos para uma gestão bem sucedida. Vantagens na implementação da gestão por objectivos: - Todos os membros da empresa sabem aquilo que deles se espera no sentido de ajudar a empresa a cumprir com os seus objectivos. Isto ajuda à congregação e coordenação do esforço de todos. - Ao participarem na definição dos objectivos, os seus colaboradores sentem-se parte integrante da empresa, e não apenas seus trabalhadores, o que tende a traduzir-se em maior motivação e produtividade. - O processo de definição de objectivos favorece a partilha de ideias na procura das melhores soluções. - A gestão por objectivos evidencia a importância do planeamento (de produção, de marketing, financeiro, ou outros) para todos os membros da empresa. Conforme referimos diversas vezes ao longo deste manual, o planeamento eficaz dos diversos 2. Motive os colaboradores Por muitos bons que sejam os seus recursos materiais, a chave do seu sucesso será sempre a qualidade e a disponibilidade dos seus colaboradores. Colaboradores motivados tendem a produzir mais e melhor e estarem menos disponíveis para abandonar a empresa. Linhas de orientação da motivação - Estabeleça formas de remuneração variável ligadas à performance individual dos seus colaboradores. Lembre-se no entanto que, para serem eficazes, este tipo de medidas têm que obedecer a regras claras e, claro, estarem devidamente adequadas aos objectivos de curto e de longo prazo da empresa. - Procure manter um relacionamento um pouco mais do que meramente profissional relativamente àqueles que trabalham consigo. Isso irá aumentar a sua autoestima e reforçar um sentimento de pertença. No entanto, nunca deixe de mostrar quem é o líder. - Se cometer um erro, admita-o e não tente culpar outros pelas suas acções, o que pode constituir um péssimo exemplo e prejudicar a imagem que os colaboradores têm de si. - Demonstre satisfação por um trabalho bem feito e não receie usar a palavra “obrigado”. - Não hesite em apontar eventuais erros aos seus colaboradores. No entanto, tenha tacto e não esqueça que estes têm sentimentos. - Nas situações de tensão, procure manter o entusiasmo e a calma. O seu comportamento nestas situações irá influenciar fortemente as acções dos seus colaboradores. Manual Prático do Empreendedor | 79 | Gestão do Negócio 3. Observe Muitas vezes, a melhor forma de detectar p r o b l e m a s e o p o r t u n i d a d e s co n s i s t e simplesmente em observar aquilo que se passa na sua empresa ou com aqueles com que esta se relaciona directamente. Dicas para observar - Periodicamente, realize rondas pelas suas instalações, de forma a observar questões como a aparência dessas instalações, as atitudes e comportamentos dos seus funcionários, e a apresentação e disposição dos seus produtos e equipamentos. - Mantenha contactos regulares com os seus clientes. Observe os seus comportamentos nas suas instalações (importante em estabelecimentos abertos ao público), converse com eles e faça perguntas. Reveja as queixas dos clientes e certifique-se que as medidas correctivas estão a ser implementadas. - Se possível, experimente os produtos ou serviços que a sua empresa oferece, colocando-se na posição do seu cliente, e procure fazer uma avaliação isenta. - Procure novas formas de melhorar a performance global da sua empresa e aceite sugestões construtivas de colaboradores, clientes e fornecedores. Manual Prático do Empreendedor | 80 4. Mantenha registos contabilísticos actualizados Os proprietários e gestores de PME devem procurar formas de aceder a informação de gestão essencial (vendas, margens, saldos de clientes e fornecedores, etc.) de forma rápida e económica. As decisões do dia-a-dia devem, tanto quanto possível, depender da situação económica e financeira da empresa. Negligenciar essa informação contribui para a tomada de decisões de gestão com base na pura intuição e, por isso, pode originar dificuldades e até situações de ruptura financeira. De facto, a ausência de informação contabilística de qualidade em tempo útil, pode tornar impossível a correcção, e até a própria detecção, de trajectórias adversas ao nível das vendas, dos custos ou dos prazos de recebimento de clientes. Quanto mais cedo os problemas forem detectados, mais rápida e eficazmente poderão ser resolvidos. 5. Constitua arquivos Contactos, datas relevantes, registos de conversas e reuniões importantes, actas, compromissos e acordos verbais, constituem informação muitas vezes perdida porque não é gerida e armazenada de forma conveniente. Assim, a manutenção de um arquivos (em papel ou formato digital) é essencial para que não se extravie informação que se pode revelar valiosa no futuro.