Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS O PARADOXO DA ÁGUA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE SOBRE A PROBLEMÁTICA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO BAIRRO DO ALGODOAL EM ABAETETUBA/PA Érika Renata Farias RIBEIRO 10 Discente do PPGEO/UFPA [email protected] Carlos Alexandre Leão BORDALO Docente do PPGEO/UFPA [email protected] Jones Remo Barbosa VALE Discente do PPGEO/UFPA [email protected] Juan Pablo Heredia ROJAS Discente do PPGEO/UFPA [email protected] Resumo A disponibilidade de água doce é um dos principais problemas enfrentados pela comunidade mundial no século XXI, a região amazônica tem uma abundancia de recursos hídricos, no entanto, o abastecimento de água doce e potável tem sido um dos principais problemas enfrentados pela sua população. Este artigo tem por objetivo fazer uma análise sobre o paradoxo da água vivenciado pelos moradores do bairro do Algodoal no município de Abaetetuba/PA, que apesar de se localizarem a margens dos rios Maratauíra e Jaquarequara, a população enfrenta problemas referentes ao precário abastecimento de água. Desta forma, primeiramente apresenta-se uma análise sobre a expansão da cidade de Abaetetuba as margens do rio Maratauíra, no segundo momento foi feita uma discussão sobre o paradoxo da água na Amazônia brasileira e por último será analisado o bairro do Algodoal que expressa uma realidade típica da região amazônica, de uma população que vive as margens do rio, mas que não tem acesso à água potável. Para realização do estudo foram realizadas pesquisas bibliográficas e documentais, além de registros fotográficos. Os resultados mostram que mesmo ser uma localidade cercada por água, a população sofre com problemas de abastecimento, principalmente, por conta da ausência de infraestrutura pública, fato que não é exclusivo do bairro de Algodoal, mas de muitas cidades ribeirinhas na Amazônia, ou seja, a disponibilidade hídrica não significa que a população será beneficiada com este recurso. Palavras-Chave: Água; Paradoxo; Amazônia. Abstract The availability of fresh water is a major problem facing the world community in the XXI century, the Amazon region has an abundance of water resources, however, the sweet and drinking water has been one of the main problems faced by the population. This article aims to make an analysis of the water paradox experienced by the residents of Algodoal the neighborhood in the town of Abaetetuba/PA, which despite being located on the banks of Maratauíra and Jaquarequara rivers, the population faces problems related to poor water supply. Thus, first we present an analysis of the expansion of the town of Abaetetuba the banks of Maratauíra river, the second time will be a discussion of the paradox of water in the Brazilian Amazon and lastly will analyze the Algodoal the neighborhood that expresses a typical reality the Amazon region, a population living on the banks of the river, but without access to clean water. To conduct the study were carried out bibliographic and documentary research, as well as photographic records. The results show that even be a location surrounded by water, the population suffers from supply problems, mainly because of the lack of public infrastructure, a fact that is not unique to Algodoal neighborhood, but in many cities river in the Amazon, so, water availability does not mean that the population will benefit from this feature. Keywords: Water. Paradox. Amazon. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS 1. INTRODUÇÃO A realidade abordada neste artigo é comum em muitos municípios da Amazônia brasileira que são esquecidos no que diz respeito a políticas públicas onde a população tem pouco acesso ao saneamento básico em especial a água potável. Esta situação crítica evidencia o paradoxo da água em muitas cidades amazônicas que apesar de estarem localizadas geograficamente na maior bacia hidrográfica do planeta, apresenta uma população que sofre com problemas relacionados à distribuição e qualidade da água. Isto acontece, pois muitas cidades da Amazônia foram crescendo de maneira espontânea partir dos cursos fluviais sendo este processo identificado por Trindade Jr (2011) como expansão das cidades ribeirinhas devido ao intenso crescimento urbano, as margens de rios e igarapés (pequenos cursos fluviais) foram sendo ocupadas por uma população mais pobre que não tem acesso a infraestrutura urbana. Diante deste contexto, a cidade de Abaetetuba,considerada cidade-pólo do Baixo Tocantins no Estado do Pará, teve sua ocupação urbana desenvolvida inicialmente as margens do rio Maratauíra (afluente do rio Tocantins) e o bairro do Algodoal fica situado entre a costa Maratauíra e o rio Jaquarequara, sendo identificado como o bairro mais populoso e com grande crescimento espontâneo devido a ocupação da comunidade da Chicolândia. Alencar e Ribeiro (2015) colocam que essa localidade representa a área mais critica referente à infraestrutura urbana em especial ao acesso a água o que evidencia um verdadeiro paradoxo na Amazônia, pois este estudo de caso tratase de uma realidade que muitas das vezes é desconhecida por muitos brasileiros. No primeiro momento da estrutura deste artigo será feita uma abordagem sobre o crescimento da cidade de Abaetetuba e o rio, no segundo momento será feita breve discussão conceitual sobre o paradoxo da água na Amazônia brasileira e por fim a análise sobre o paradoxo da água no bairro do Algodoal. Para alcançar os resultados deste estudo, este trabalho realizou uma pesquisa bibliográfica, utilização de uma coleta de dados e informações na unidade de saúde do bairro e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do município. Durante os trabalhos de campo foram realizados registros fotográficos e a identificação das coordenadas geográficas a fim de se espacializar a área de estudo. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. 11 Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS 2. A CIDADE E RIO: O PADRÃO RIBEIRINHO DE OCUPAÇÃO DAS CIDADES NA AMAZÔNIA BRASILEIRA O município de Abaetetuba pertence à mesorregião do nordeste paraense e a microrregião de Cametá, tem uma área de aproximadamente 1.607,45 km² caracterizando-se por apresentar um 12 conjunto de 45 ilhas, núcleo urbano com 14 bairros e uma zona rural. Segundo o censo demográfico do IBGE de 2010, a população do município era de 147.846 habitantes. Pode-se observar na figura 01 a localização da comunidade da Chicolândia (ocupação espontânea) que faz parte do bairro de Algodoal, o mais povoado no município com 12.383 mil habitantes conforme o censo 2010. Figura 01 – Mapa de localização do bairro do Algodoal, Abaetetuba/PA Fonte: Rojas, 2015. A ocupação urbana em Abaetetuba desenvolveu-se historicamente durante o início do século XX, nas proximidades do rio Maratauíra, afluente do rio Pará, quando foi estabelecido, nesta porção da cidade, um incipiente entreposto comercial sustentado pela venda de produtos regionais como o pescado, frutas e ervas cultivada pelos ribeirinhos de localidades próximas (ALVES, 2007). Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS A forma de ocupação do território em Abaetetuba possuiu uma configuração que caracterizou grande parte dos municípios ribeirinhos da Amazônia brasileira. Pois, ao localizaremse as margens dos rios apresentam particularidades, conforme ressalta Trindade Jr. et. al.(2011, p.119), que a partir dos cursos fluviais vai acontecer processo de expansão das cidades ribeirinhas, 13 que inicialmente apresentam ruas e traçados orientados pelo rio evidenciando o padrão ribeirinho do espaço intraurbano. Destaca-se que a relação desta população com o rio é marcante, o que revela a particularidade de cidades com este padrão. Por isso, a área urbana de Abaetetuba foi se desenvolvendo as margens da costa Maratauíra, tendo pouca ou nenhuma infraestrutura adequada para garantir o bem-estar do ser humano. Sendo este um dos grandes problemas e desafios enfrentados por muitos municípios da Amazônia que tem o padrão ribeirinho de ocupação. A expansão urbana do município está associada à instalação do projeto Albrás-Alunorte em Barcarena nos anos 1980, que permitiu um novo vetor de crescimento no município impulsionando a oferta de empregos e consequente o surgimento de novos aglomerados populacionais, em áreas de várzea sem apresentarem nenhuma infraestrutura urbana. Até 1970 o conjunto espacial ocupado mais densamente em Abaetetuba era formado por quatro bairros: Centro, Algodoal, São Lourenço e Santa Rosa. O crescimento demográfico impulsionado pelas transformações de ordem econômica (atividades industriais na Vila do Conde e Cabanos em Barcarena) juntamente com o maior uso da Rodovia Dr. João Miranda (PA-252) interligada a PA-151,indicavam o “novo” sentido da expansão territorial em Abaetetuba.Com a abertura da rodovia PA-252 ligando Abaetetuba à Belém, despontou um novo vetor de crescimento, direcionado para sudeste, em função do qual, começou a aparecer novos aglomerados populacionais (ALVES, 2007 p. 84). Outro fator que contribui para expansão urbana do município e atraiu mais o contingente populacional foi à implantação da Rodovia PA-483 (Alça Viária) durante o ano de 2002, pela Política Pública de Integração do Governo do Estado do Pará. Permitindo um melhor acesso do município a capital Belém e ao Sudeste do Pará, facilitando mais a migrações devido à melhoria na malha viária que desenvolveu uma maior mobilidade urbana, contribuindo consequentemente para uma expansão territorial e populacional. 3. O PARADOXO DA ÁGUA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA A disponibilidade de água doce é um dos principais problemas enfrentados pela comunidade mundial no século XXI, pois a água doce existe em pequena escala, perfazendo 2,5 % do total presente no planeta (GLEICK, 2000 apud BERNARDI et al., 2012). O problema de disponibilidade de água doce tem sido tratado como uma verdadeira catástrofe mundial, Becker (2003) coloca que a Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS água terá a mesma importância econômica e militar que o petróleo teve no século XX, configurando-se no cenário mundial atual como o “ouro azul”. Bordalo et al. (2012, p.2) colocam que apesar do “risco” mundial de escassez da água doce, para grande maioria dos brasileiros, e principalmente a população da região amazônica, esse “risco” 14 parece estar em uma realidade muito distante, tendo em vista que somos um país muito rico em recursos naturais1, em especial os hídricos. Segundo Costa (2003) das reservas hídricas mundiais cerca de 20% estão localizadas em território brasileiro e desse montante 70% está na Amazônia, apesar deste quantitativo, a região amazônica enfrenta problemas graves de má distribuição de água, onde parte da população carente não tem acesso a este recurso. De acordo com os dados do IBGE (PNSB, 2008), no Brasil houve um crescimento de 23% entre 2000/2008 no número de domicílios abastecidos de água por rede geral, no entanto, é notório a precariedade deste serviço na Região Norte, pois neste mesmo período houve apenas um crescimento de 2,25%, onde em 2000 era de 44,3% e subiu em 2008 para 45,3%, ficando abaixo das demais regiões brasileiras, contrastando com os dados da mesma pesquisa que mostram um aumento no número de domicílios atendidos no país de 63,9% em 2000, para 78,6% em 2008 (BORDALO et al., 2012). A região amazônica tem inúmeros rios, cidades cercadas por águas, mas o consumo direto desta água é inapropriada ao consumo humano. A água necessita de alguns cuidados específicos, pois pode conter elementos químicos, microrganismos e as mais variadas substâncias, devendo haver tratamento adequado para eliminação destes elementos para que não haja interferência de forma negativa na saúde humana. Outro problema grave é o de saneamento que tem ligação direta com as questões hídricas, pois com falta de saneamento básico, a população é vulnerável à contaminação dos recursos hídricos, sua principal fonte de captação, devido ao convívio simultâneo entre a necessidade de obtenção do recurso e ao mesmo tempo o desconhecimento dos riscos decorrentes do despejo direto de seus resíduos sobre fontes de águas superficiais. No Brasil, estima-se que 60% das internações hospitalares estejam ligadas a precariedade do saneamento básico, diminuindo, assim, a expectativa de vida da população.Outros estudos indicam que 90% dessas doenças se devem a ausência de água em quantidade satisfatória ou qualidade imprópria para consumo, sendo que, no país, essa situação tem sido comumente encontrada (DI BERNARDO, 2005 apud LARSEN, 2010). Desta forma, a população ribeirinha sofre bastante com 1 Recurso Natural pode ser definido como qualquer elemento ou aspecto da natureza que esteja em demanda, seja passível de uso ou esteja sendo usado pelo homem, direta ou indiretamente, como forma de satisfação de suas necessidades físicas e culturais em determinado tempo e espaço (VENTURI, 2006, p 17). Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS esses problemas, pois a infraestrutura é precária e o consumo de água por vezes ocorre de forma direta dos rios, sem o mínimo de tratamento. Segundo Araújo et al. (2011) as inadequadas condições de saneamento, sobretudo nas áreas rurais e nos subúrbios das grandes cidades, associadas à falta de conhecimento da população, 15 aumentam a prevalência de doenças transmitidas pela água, principalmente em crianças e jovens,interferindo em seu desenvolvimento físico e mental. Morar na região mais rica em água doce do planeta o ano inteiro, no entanto, apresentar os piores índices de acessibilidade a água tratada à população no país torna-se um verdadeiro paradoxo da água. A população da região amazônica tem convivido com esse dilema, pois os índices evidenciam esta problemática e quem mais sofre com essas dificuldades são as pessoas mais carentes, moradores das áreas periféricas das cidades, ribeirinhos e de áreas mais afastadas dos centros. 4. A PROBLEMÁTICA DE DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO BAIRRO DO ALGODOAL EM ABAETETUBA/PA Podemos observar que a poluição dos corpos hídricos é um problema que afeta países pobres e também países em desenvolvimento, como o Brasil que tem uma abundância de recursos hídricos, porém estes se encontram muitas vezes poluídos causando problemas à saúde da população. Este problema está relacionado ao crescimento populacional, falta de infraestrutura urbana e o aumento de áreas periféricas. A ausência de saneamento básico é um problema latente, em especial na região Norte do país como se observa na figura 02, de acordo com Rebouças (2003) no Brasil e no mundo a poluição das águas devido ao lançamento de esgotos não tratados nos rios, atingem níveis nunca imagináveis tanto no contexto nacional como internacional, onde se estima que mais da metade dos rios do mundo está poluída pelos dejetos dos esgotos domésticos, efluentes industriais e agrotóxicos. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS Figura 02 – Mapa da população urbana brasileira atendida pela rede coletora de esgotos 16 Fonte: Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2009 (ANA). Isto ocorre porque acredita-se que o tratamento de esgoto se torna caro, no entanto, o não tratamento vem ocasionar uma serie de consequências negativas aos gestores e a sociedade. Portanto, podemos dizer que existem muitas dificuldades em relação à gestão dos seus recursos hídricos devido a ausência de políticas públicas no que diz respeito a melhoria da infraestrutura. Hoje se torna difícil entender que esta é uma realidade vivenciada na Amazônia, que paradoxalmente possui a maior bacia hidrográfica do planeta, mas que muitos de seus habitantes sofrem com relação ao abastecimento de água, conforme podemos observar na figura 03, como esta situação apresenta-se de maneira bem critica na região Norte do Brasil, em especial no Estado do Pará. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS Figura 03 – Mapa da população urbana brasileira atendida com água potável 17 Fonte: Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2009 (ANA). Esta realidade pode ser bem observada na área de estudo, no bairro do Algodoal em Abaetetuba, pois mesmo estando entre dois cursos d’água a população enfrenta problemas relacionados à distribuição e qualidade da água, em especial na comunidade Chicolândia, uma ocupação espontânea dentro do bairro, onde as famílias não tem acesso a água encanada tendo que recorre à utilização de poços artesianos que podem ser de uso individual ou coletivo. Os individuais foram feitos pelos moradores com recursos próprios e os coletivos existem apenas quatro que foram feitos por lideranças políticas, mas que não recebem nenhum tipo de manutenção. As famílias que tem acesso a água do rio reclamam, pois tem consciência que a mesma é poluída devido ao recebimento de esgoto das casas e de efluentes do matadouro de boi que é despejado diretamente no rio Jaquarequara (ALENCAR e RIBEIRO, 2015). Os demais moradores do bairro do Algodoal que tem acesso a água encanada também reclamam das constantes faltas de água e também de sua má qualidade, portanto, compreende-se que morar em uma região rica em recursos hídricos não significa ter acesso a água potável, quando não se tem políticas públicas que possam garantir a infraestrutura urbana que seja capaz de assegurar o bem-estar da população. Desta forma, Rebouças (2003) coloca que é um verdadeiro Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS paradoxo brasileiro, onde apesar da presença dos rios, muitas cidades não possuem sistema de abastecimento de água, principalmente, nas áreas abundantes de recursos hídricos como é o caso da Amazônia. Diante desta realidade observada, buscou-se fontes de dados oficiais do IBGE para 18 caracterizar esta problemática no bairro do Algodoal em Abaetetuba, pois ele é o mais populoso e apresenta sérios problemas relacionados ao abastecimento de água. De acordo com o Censo Demográfico do IBGE de 2010, o bairro possui uma população de aproximadamente 12.383 habitantes e a partir de uma amostra de 2.740 pessoas consultadas, constatou-se que 722 pessoas utilizam água de poço ou nascente para o abastecimento de água, 71 pessoas utilizam água diretamente do rio, lago ou igarapé, 1.169 pessoas utilizam da rede geral, 762 pessoas se abastecem de poço particular, 2 pessoas da água da chuva e 2 pessoas de outra forma de abastecimento. Observa-se que mais da metade da população consultada não depende da rede geral de distribuição de água e procura suprir suas necessidades utilizando a água subterrânea e até mesmo o rio, mas ambas são consideradas de qualidade duvidosa pela população, principalmente, a água do rio que recebe esgotos domésticos e efluentes do matadouro da cidade. Figura 04 - Ponto de coleta de água na área central e aterrada da Chicolândia. Figura 05 - Casas na beira do rio Jaquarequara na área urbana de Abaetetuba Fonte: Rojas, 2015. No que diz respeito à existência de banheiro ou sanitário ou esgotamento sanitário referente ao mesmo ano num total de 2.671 domicílios consultados, constatou-se que 1.885 possuem banheiro de uso individual e destes 456 os dejetos dos banheiros são despejados diretamente para o rio. Os 786 domicílios que possuem sanitário (banheiro coletivo), 457 destinam os dejetos também para o rio. Além de que 69 não possuem nem banheiro ou sanitário. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS Diante desses dados do último censo constata-se que o saneamento básico é quase inexistente neste bairro, e o mesmo vem crescendo consideravelmente em especial na área da ocupação espontânea da Chicolândia que constantemente tem sido aterrada com entulho (madeira, caroços de açaí, serragem e etc.) e as condições são ainda mais precárias. Vale ressaltar que a população do bairro é de baixa renda e de acordo com o último censo num total de 2.740 a faixa de rendimento domiciliar per capita é baixa, pois 816 recebem menos de 1/4 do salário mínimo, 817 recebem mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo, 678 mais de 1/2 a 1 salário mínimo, 220 mais de 1 a 2 salários mínimos, 47 mais de 2 a 3 salários mínimos,15 mais de 3 a 5 salários mínimos, 10 mais de 5 salários mínimos e 137 sem rendimento. A partir destes dados podemos perceber que essas famílias não têm condições econômicas de adquirirem um imóvel em uma área mais urbanizada da cidade, que possua uma infraestrutura melhor, por isso ocupam a várzea do rio, além de também possuírem uma identificação com o local devido sua origem ribeirinha, como é o caso da população que mora na Chicolândia, que baseado nos estudos feitos por Alencar e Ribeiro (2015), seus moradores não tem acesso à água dentro dos padrões de potabilidade e muitos deles usam a água do rio para o abastecimento doméstico, para pescar e para se deslocar para o interior, sendo este mesmo rio utilizado para que receber os dejetos produzidos pelas residências por outras fontes poluidoras. O grande problema é que mais da metade da comunidade que depende dos poços públicos recebem uma água de qualidade duvidosa, pois os poços ficam no meio da rua ao lado das residências e os próprios moradores reconhecem que a água é poluída. Mas esta é a única opção para quem não tem condições de ter outra fonte de abastecimento. Além de que existe todo um histórico de doenças relacionadas à contaminação da água como: dengue, distúrbios gastrointestinais, verminoses e casos de hepatite e micoses. Nesse sentido Braga (2012) analisa que apesar de existir legislação que garante a proteção dos recursos hídricos desde 1934, como o código de águas e mais diretamente na sua proteção com o código florestal de 1965, o que se vê na prática é o lixo e o esgoto tomarem conta da paisagem. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir desta análise sobre o bairro do Algodoal, torna-se evidente os problemas relacionados ao abastecimento de água, onde mesmo tendo uma localização privilegiada junto à costa do rio Maratauíra e do rio Jaquarequara, que banham a cidade de Abaetetuba, apresenta problemas de infraestrutura urbana, onde este espaço é segregado justamente por ser ocupado por Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 02, n. 04, p. 10-21. jul./dez. 2015. 19 Paradoxo da água na Amazônia brasileira: uma análise sobre a problemática de abastecimento de água no bairro do Algodoal em Abaetetuba/PA DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v2n4p10-21 Érika Renata Farias RIBEIRO; Carlos Alexandre Leão BORDALO; Jones Remo Barbosa VALE; Juan Pablo Heredia ROJAS uma população de baixa renda. Uma localidade que não apresenta saneamento básico e acaba expondo esta população a doenças de veiculação hídrica. Esta situação critica é uma realidade de muitos habitantes da Amazônia uma região rica em recursos naturais em especial a água, tanto superficial a partir de seus caudalosos rios, quanto 20 subterrânea através do aquífero Alter do Chão. Este problema caótico poderá ter um fim quando as políticas públicas considerarem em sua gestão as bacias hidrográficas, pois elas são de fundamental importância, pois a água é um recurso natural essencial para a manutenção da vida na Terra. Principalmente, a água dos rios, que são utilizadas para o consumo humano, agricultura, produção industrial e etc. Por isso, é essencial que as bacias hidrográficas sejam preservadas, garantindo, assim, água de boa qualidade para todos os seres vivos e para os mais diversos usos. Apesar de existirem legislaçõesa fim de garatir a proteção dos recursos hídricos, o que se percebe é que essas leis não são executadas e quem mais sofre com a problematica hidrica é a população mais carente, que acaba sendo esquecida em meio a um mar de água doce constamente poluída e imprópria para o consumo. Concluimos que pouco adianta ser rico em recurso natural, como é o caso da água na Amazônia, pois isso não significa correspondencia direta entre disponibilidade de recursos naturais e bem estar da população. REFERÊNCIAS ALENCAR, Isa Costa.; RIBEIRO, Érika Renata Farias. Análise da ocupação da Chicolândia em Abaetetuba/PA: Uma proposta de gestão ambiental sustentável. In: CONGRESSO DA CONFERÊNCIA LATINO AMERICANA DE GEÓGRAFOS (CLAG), 33., 2015, Fortaleza. Anais... Universidade Federal do Ceará: 2015, p.88. ALVES, Cledson Nahum. Gestão ambiental e planejamento urbano em Abaetetuba: uma análise a partir das concepções e ações do poder público local. 2007. 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