Diários virtuais – Uma ferramenta de comunicação social para a autoria e aprendizagem de Matemática Fabiana Fattore Serres1, Marcus Vinicius de Azevedo Basso2 1 2 Colégio de Aplicação – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Instituto de Matemática – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Porto Alegre – RS – Brasil {fabiana.serres, mbasso}@ufrgs.br Abstract. This report presents a parallel between two experiences with students from Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp-UFRGS) that intend to investigate the contribution of virtual environment for mathematical learning. The first one was developed by distance, trough situations and challenges, and the second was developed presencially, joining mathematics and photograph for the study of functions. We highlight part of the analysis based on students and teachers registers, about the use of digital media as empowerment resource of interaction among the subjects envolved and the contribution for mathematical learning. At last we present the partial results and our future perspectives. Resumo. Este relato apresenta um paralelo entre duas experiências com alunos do colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp-UFRGS) que buscam investigar a contribuição do uso de ambientes virtuais para a aprendizagem de matemática. A primeira desenvolvida a distância, via situações e desafios, e a segunda, na modalidade presencial, unindo matemática e fotografia no estudo de funções. Destacamos parte da análise, a partir dos registros dos estudantes e professores, acerca do uso das mídias digitais como recursos potencializadores da interação entre os sujeitos envolvidos e da contribuição para a aprendizagem de matemática. Por fim apresentamos os resultados parciais e nossas perspectivas futuras. 1. Introdução As novas tecnologias da informação aliadas as mudanças sociais, culturais e a grande quantidade de informação disponível estão modificando o perfil dos estudantes. (Serres, 2008) Ora, se muda o perfil dos estudantes, o perfil da escola também não deve mudar? O que os estudantes necessitam da educação não é somente mais informação, mas a capacidade de buscar, organizar, interpretar e dar sentido a toda esta informação oferecida, ou seja, a escola deve proporcionar ao aluno capacidades de aprender que lhes permitam uma apropriação crítica da informação. Precisamos auxiliar os estudantes a construírem estratégias de aprendizagem própria, formular seu próprio ponto de vista, tornando-se aprendizes autônomos, isto é, criar estratégias e condições para que esses alunos, além de adquirirem conhecimentos específicos, modifiquem sua forma de encarar os desafios propostos. (Pozo, 2003) A partir desta ideia, investigamos possíveis contribuições do uso de pbwikis como ferramenta de comunicação social e de trabalho em grupo para o ensino e a aprendizagem de matemática. Em ambas as situações, alunos e professores registraram XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) os resultados dos trabalhos em diários virtuais, usando como ambiente os pbwikis. Os pbwikis são de fácil edição permitindo uma comunicação de “todos para todos”. Além disso, este ambiente tem algumas ferramentas que auxiliam a realização do trabalho proposto. A seguir descrevemos algumas destas funcionalidades: Figura 1 – Destaque das principais funcionalidades dos pbwikis Clicando em Edit (1), o usuário pode editar o texto do pbwiki e alterar ou acrescentar como se estivesse usando um simples editor de texto, como podemos ver na imagem abaixo: Figura 2 – Destaque das ferramentas de edição dos pbwikis Ao clicar em Edit, na parte superior da tela aparecem controles, como destacado na imagem acima, onde o usuário pode alterar a formatação do texto, inserir links para outras páginas ou criar novas, e na direita da tela clicando em Images and Files é possível fazer upload de arquivos e imagens que o usuário deseje inserir no seu pbwiki. Em Page history (2), o professor tem a informação da evolução dos registros dos estudantes. XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) Em Sidebar (3), se clicarmos em Edit Sidebar, o usuário tem acesso a edição desta barra lateral onde podem ser inseridos links de direcionamento para outras páginas. Em Recent wiki activity (4), temos a informação de quais foram as páginas editadas mais recentemente. Os pbwikis além de permitir o uso de RSS feed que é uma ferramenta usada para facilitar o acesso do usuário a uma grande quantidade de informações, também oferecem a possibilidade de cadastrar um e-mail, cujo usuário receberá um aviso cada vez que uma página for editada. 2. Diários Virtuais Durante o ano de 2008 desenvolvemos um trabalho com diários virtuais com as turmas do terceiro ano do ensino médio do CAp-UFRGS. Nossa idéia era criar um canal de comunicação diferenciado entre professor e alunos. Esperava-se que esse canal permitisse que o professor tivesse acesso a informações sobre como os alunos estão compreendendo os conteúdos. Para os estudantes pretendia-se que o canal propiciasse condições de aprendizagem de conteúdos e o desenvolvimento de capacidades ao mesmo tempo em que ocorresse um atendimento individualizado por parte do professor. Para tanto criamos 98 pbwikis entre pessoais e coletivos, todos com o mesmo usuário e senha para que cada estudante tivesse livre acesso a todos os diários. Como dinâmica de trabalho decidimos, em uma primeira etapa, publicar atividades-desafios que despertassem o interesse dos estudantes e que primassem mais pelo procedimento de resolução do que pela resposta final do problema, procurando evitar perguntas e tarefas que levassem os alunos a apresentarem apenas respostas reprodutivas. Os estudantes deveriam resolver os desafios e registrar em seus pbwikis pessoais a estratégia usada na resolução, seus procedimentos e seus raciocínios matemáticos. Um dos desafios propostos consistia em ajudar três canibais e três missionários a passarem para o outro lado de um rio com o cuidado de nunca deixar mais canibais do que missionários na mesma margem, como ilustrado na imagem ao lado. (figura 3) Figura 3 – Travessia dos Canibais e Missionários A proposta feita aos alunos era que descrevessem o processo de resolução no seu pbwiki. Além disso, os estudantes deveriam fazer comentários sobre a resolução de dois colegas da sua turma. Queríamos com isso que além de interação social surgisse interação do ponto de vista da troca de idéias em relação aos conhecimentos de matemática. Observa-se na resposta abaixo a empolgação da aluna ao resolver o desafio: XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) Muito interessante o desafio, isso que realmente é um desafio. Beijo (16/06/2008 23:05). Depois de algumas tentativas (não foram muitas mesmo), consegui fazer o desafio, nossa, pensei muito. Aqui está a resolução: "Ponho dois canibais dentro da arca, vou até o lado esquerdo do rio, mas deixo apenas um canibal, volto com um canibal na arca e pego o último canibal no lado direito, vou até o lado esquerdo e deixo este canibal também lá, volto para o lado direito com apenas um canibal, no lado direito, tiro o canibal e coloco dois missionários, vou ao lado esquerdo e deixo apenas um missionário, mas ponho um canibal na arca, volto então para o lado direito com um missionário e um canibal (como casais), deixo o canibal e ponho o último missionário, levo-o para o lado esquerdo, deixo os dois missionários no lado esquerdo - sendo que no direito tem dois canibais - volto para o lado direito com apenas um canibal na arca - no lado esquerdo agora existem três missionários - no lado direito ponho mais um canibal na arca, vou para o lado esquerdo e deixo um canibal - agora, no lado esquerdo existem três missionários e um canibal - volto com um canibal na arca para o lado direito, pego o último canibal e o ponho no lado esquerdo - agora existem três missionários e dois canibais - tiro o último canibal da arca e TCHANANANANAM!!!!! Agora os três missionários e os três canibais estão no lado esquerdo." Os estudantes ficaram empolgados com o desafio e curiosos quanto à resolução dos colegas e acabaram comentando além dos dois pbwikis recomendados, aumentando a interação entre eles. No extrato abaixo do pbwiki do aluno x percebemos esta interação: eu fui comentar no diario do marcos e nao entendi o que ele havia escrito, entao eu pensei em um quadro pra explicar melhor.... eu decidir colocar fotos... http://turma113.multiply.com/photos/album/4/desafio =D ILHA DA ESQUERDA | BARCO | ILHA DA DIREITA 0 | 0 | 3m+3c 1c | 1m | 2m+2c 1c | 2c | 3m 2c | 1c | 3m 1c+1m | 1c+1m | 1c+1m 1c+1m | 2m | 2c 3m | 1c | 2c 3m+1c | 2c | 0 3m+3c | 0 | 0 Legendas: C=canibal e M=missionario O aluno x diz que não entendeu o que o colega escreveu e então tem a idéia de construir uma tabela para explicar o seu próprio processo de resolução do desafio. Ele cria uma simbologia própria para representar o problema e, além disso, captura a imagem da tela a cada passo resolvido do desafio e as organiza como se estivessem em um álbum de fotos. Figura 4 - <http://turma113.multiply.com/photos/album/4/desafio> XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) Na segunda fase do trabalho criamos três pbwikis coletivos, um para cada turma, onde os estudantes deveriam descrever com suas próprias palavras o que estavam aprendendo em sala de aula. Essa estratégia visava criar a oportunidade para os alunos refletirem sobre os conceitos aprendidos. Essa proposição vem ao encontro da idéia que para analisarmos como o aluno compreende é necessário propor atividades diferentes na aprendizagem de conceitos e nas quais sejam utilizadas técnicas que tornem inútil a repetição literal. Ao mesmo tempo, é importante incentivar os estudantes a experimentarem a usar seu próprio conhecimento para resolver enigmas, problemas e dúvidas. (Pozo, 2003) O grupo de professores envolvidos acordou que seria sua função a de agir como “provocadores”, ou seja, iríamos acompanhar o progresso dos registros dos estudantes e dialogando e oferecendo um atendimento individualizado, sugerir novos procedimentos via perguntas que levassem os estudantes a refletir sobre os problemas propostos e incentivar a interação entre eles. 19/08/2008 - Diários coletivos: Oi pessoal O novo desafio é coletivo. Isso mesmo!!! Tem 3 novos pbwikis: 111, 112 e 113. A idéia é vocês construírem os novos pbwikis juntos, isto é, todo mundo publicando junto. Publicando o que? Cada wiki vai ter o registro do que vocês estão aprendendo em sala de aula. Regra única: tem de ser escrito com as palavras de vocês, não vale cópia. Também podem usar o espaço para pedir socorro, quem precisa pergunta e quem sabe ajuda ok? bjo Profa xxxxxxxxxxx Abaixo destacamos um extrato do diário coletivo da turma112: ..tá, acabamos de ver geometria analítica com a circunferência. Para saber se uma equação é uma circunferência, ela precisa seguir o modelo: (a-x)(b-y)=r², onde as coordenadas do centro são os valores de x e y, e o seu diâmetro é o raio ao quadrado. Bom, é isso! :D Beeeijos xxxxxxxxxx -----------------------------------------------Oi xxxxxxxxx!! Escrever é difícil mesmo... Quando nos dizem o que fazer, com números, vamos lá e fazemos, não é?! Mas ter de explicar com palavras é bem mais complicado. Temos de ter os conceitos claros em nossa mente. Agora vamos pensar juntos... O diâmetro de uma circunferência é o seu raio ao quadrado? By Profª xxxxxxxxx. --------------------------------------------------Ah é verdade, cometi um GRANDE engano. =D O raio é a metade do diâmetro. Porque assim: se o diâmetro é 10, o raio é 5! e do jeito que eu falei, se elevasse o 5 ao quadrado (5²) daria 25 e não 10. Beeijo pessoal xxxxxxxxxx (14.10.2008) O diálogo acima envolve uma professora e uma aluna. Na primeira fala, a aluna registra que estão aprendendo sobre a equação da circunferência, mas escreve que o diâmetro é o raio ao quadrado. Essa incorreção não foi abordada pela Professora simplesmente apontando o erro. Aqui a estratégia manifesta é a de incentivar a aluna a escrever e sugerindo que ambas pensem juntas sobre o raio da circunferência. Essa conduta por parte da professora estabelece a condição de um diálogo que permitirá que a aluna reflita sobre o conceito matemático envolvido e o corrija logo a seguir, como se constata pela última fala destacada no extrato. XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) A opinião dos professores do CAp-UFRGS tem grande relevância neste trabalho e destacamos a seguir um trecho da avaliação desse trabalho, realizado pelo professor xxxxxxxxx. “Ter a oportunidade de observar como cada aluno tenta explicar, argumentar, descrever, ter idéias diferentes sobre o mesmo assunto e como se depara com suas dificuldades fez com que o meu processo de avaliação também mudasse... o trabalho além de fornecer um ambiente de aprendizagem diferente do convencional, proporciona uma interação aluno-aluno e aluno-professor que antes não conhecia, e espero que eu possa a partir dessas observações reelaborar o meu conceito de aprendizagem buscando novas alternativas de entendimento desse processo.” Pela fala deste professor percebemos que a parceria entre professores licenciandos e professores da Escola fortalece a troca de idéias envolvendo questões de ensino-aprendizagem de Matemática e a criação de propostas de ensino e em contrapartida os estudantes da Escola são beneficiados pela criação de propostas que visam contribuir para a aprendizagem de Matemática e retornam com informações para o grupo de professores e professores-licenciandos. O extrato a seguir é um registro de um aluno: “...toda atividade pedagógica fora de sala de aula contribui para que a prática, no que se refere à resolução de exercícios, somente traga benefícios. Com os Wikis, os alunos têm oportunidade de organizar o seu espaço virtual, podendo interagir com os colegas num espaço diferente da sala de aula. O conhecimento vem, de uma forma distinta da convencional, tanto para a própria matemática quanto o referente ao uso do computador.“ Avaliação do professor XXXXXXX sobre o trabalho: “O trabalho com os wikis possibilita aos alunos desenvolverem autonomia e a capacidade de buscar soluções aos problemas apresentados. Estimula também a interação e a cooperação entre eles na busca pela solução tornando assim a matemática como uma atividade social.” 3. Fotografia e Matemática O segundo trabalho que desenvolvemos com diários virtuais foi em 2009 junto a duas turmas do primeiro ano do ensino médio do CAp-UFRGS. A partir da nossa observação de que os estudantes vivem as voltas publicando fotografias em seus Orkuts e MSNs, pensamos em unir fotografia e matemática no ensino de funções para os alunos do primeiro ano do ensino médio. A idéia principal era, com o auxílio do software matemático “Régua e Compasso”, inserir imagens de fundo e representar suas curvas traçando funções sobre elas. No laboratório de informática os alunos aprenderam a usar o software com facilidade. A proposta da atividade era que via aproximações eles procurassem observar um padrão no comportamento de translação das funções. 3.1 Dinâmica de trabalho Apresentamos então a idéia aos alunos usando muitas fotos questionando-os que funções poderíamos traçar sobre elas para representá-las. Combinamos que faríamos este trabalho em dois momentos: no primeiro eles pegariam imagens da internet para desenvolver o trabalho, e no segundo então, faríamos uma saída todos juntos para tirarmos fotos para o trabalho já que depois de usar o software régua e compasso com as imagens da internet, eles já saberiam o que estão procurando e saberiam qual o melhor XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) ângulo da fotografia e assim por diante. Os alunos ficaram bastante entusiasmados também com a idéia, segundo eles porque teriam uma aula diferente e também porque aplicariam o que estavam aprendendo. Como primeira atividade levamos imagens que possuíam curvas que podiam ser representadas por funções conhecidas pelos alunos como nas figuras 6 e 7. Combinamos que eles deveriam procurar a lei da função usando tudo que eles conheciam e que nós iríamos responder todas as suas perguntas, mas não iríamos ensinar “como se faz para transladar as funções”. Os alunos aceitaram a proposta e experimentaram um estranhamento diante da nova atividade, afinal eles estavam acostumados a primeiro prestar atenção nas explicações sobre como resolver os algoritmos e depois aplicavam estes algoritmos em exercícios. Agora era diferente, eles precisavam descobrir “como se faz”. Figura 5 – Imagens de curvas traçadas pelos alunos Destacamos abaixo a imagem de alguns alunos tentando resolver o desafio: Figuras 6 e 7 – Alunos trabalhando O interesse dos alunos foi geral, até aqueles alunos que costumam apenas “assistir” as aulas sem interagir trabalharam. No encontro seguinte no laboratório os alunos aprenderam a usar o software Régua e Compasso com muita facilidade. A proposta da atividade era que via tentativas eles procurassem observar um padrão no comportamento de translação das funções. O XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) resultado da atividade foi muito positivo, eles conseguiram transladar as funções sem ajuda das professoras e chegaram a algumas conclusões importantes: “Sora a gente já descobriu que pra parábola ficar de cabeça pra baixo o “a” tem de ser negativo”. “Pra subir ou descer a parábola a gente tem de trocar o “c” né?” “Sora olha só pra ficar pra baixo a gente deixou o “a” negativo, pra descer ela um pouquinho mudamos o c e agora queremos fazer ela caminhar pra direita, a gente acha que dá se a gente trocar o “b” agora mas a gente ainda não descobriu como”. 3.2 Os registros dos alunos Os alunos fizeram os registros da atividade no pbwiki do grupo descrevendo as etapas, os procedimentos e os raciocínios matemáticos usados para resolver o desafio. Abaixo destacamos alguns extratos destes registros: Essa função foi a mais dificil, porque ainda não fizemos a última! :) Começamos chutando um valor para 'c', e como não tem raízes não colocamos valores para 'b'. Porém, depois descobrimos que a função tinha sim o 'b'. E começamos a chutar valores para ele. E para 'a', percebemos que a parabola é aberta, e então o 'a' tinha que ser um número menor que 1. Depois de váris tentativas achamos a resposta que é: -1/8*x^2+1/2*x-1.5 No extrato acima percebemos que as alunas descrevem a estratégia que utilizaram com uma linguagem bem descontraída, característica importante da orientação da nossa proposta. Elas dizem: como não tem raízes não colocamos valores para 'b'. Porém, depois descobrimos que a função tinha sim o 'b'. Esta fala das meninas demonstra que elas refletiram sobre seus procedimentos mudando sua estratégia. Depois quando elas escrevem: E para 'a', percebemos que a parabola é aberta, e então o 'a' tinha que ser um número menor que 1, a intenção delas era dizer que precisavam de um número fracionário como coeficiente de x², mas elas dizem apenas menor que 1 sem explicar a distinção entre o “a” ser negativo para a parábola ser côncava para baixo e o “a” estar no intervalo (0,1) para que a parábola “abrisse” como elas disseram. Na fala destacada abaixo vemos que as meninas compreenderam a proposta do desafio quando falam: Para desenhar o gráfico nós fomos por tentativas a partir do que aprendemos em aula. A seguir descrevem a sua estratégia usando uma simbologia para representar a lei da função igual a usada no software régua e compasso (f(x)=1/4*x^2+x/2-0.75) e não a da sala de aula (1/4x²+ x/2-0,75) demonstrando terem compreendido a “linguagem” do software régua e compasso. Para desenhar o gráfico nós fomos por tentativas a partir do que aprendemos em aula. No começo colocamos x^2, pois é uma função quadrática, depois colocamos negativo pois é côncava para baixo. Para ver onde a parábola cruzava o eixo y, colocamos o 0,75 que era o que melhor se aproximava da realidade. Para que a parábola fosse mais aberta, sabíamos que tinha de ser um número menor que um e fomos tentando ateh chegar no 1/4, que era o número que multiplicava o x^2. O b foi pela tentativa até chegarmos no b=x/2, no final nossa função ficou: f(x)=-1/4*x^2+x/2-0.75. Da mesma maneira, destacamos a explicação de um grupo de alunos que, anteriormente, em sala de aula, não demonstravam clareza nos conceitos trabalhados e que através dessa abordagem conseguiram entender a lógica do comportamento gráfico das funções. XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) Para fazer nossa parábola, nós primeiro fizemos uma lei que ficou meio distante do que deveria ser, depois nós usamos translação para ela ficar com o eixo de máximo no local certo e depois usamos a contração para ela alargar e ficar de acordo com a ponte. Por último determinamos a imagem e o domínio da função para ela ter um fim no lugar certo. Abaixo destacamos um diálogo via pbwiki com um grupo de estudantes: aluna xxxxx (05/11/2008): Nosso grupo chegou a essa conclusão depois de muitas tentativas, e descobrimos que a função seria f(x)=2^x. Profa xxxxx (06/11/2008): Oi eu estava olhando esta função que vocês encontraram aí em cima e pensei: Hummm, se eu colocar 4 na máquina então vai sair 16 dai olhei pro gráfico e fiquei confusa. O que vocês acham? aluna xxxxx (06/11/2008): Nosso grupo chegou a essa conclusão depois de muitas tentativas, e descobrimos que a função seria f(x)=2^1/x Figura 7 – Curva traçada pelos alunos Profa xxxxx (07/11/2008): Gente, eu ainda estou confusa. Se eu colocar 4 na máquina agora vai sair 2^1/4. Está certo isso? Vamos pensar mais um pouquinho? aluna xxxxxx (19/11/2008): Fomos no programa e vimos realmente que aquela função deu um gráfico meio confuso. Agora conseguimos entender qual realmente é a função usando a regra básica da propriedade da potência transformando a base em fração e elevando realmente ela no expoente x. beijossssssssss f(x)=2^-x = (1/2)^x 4. Conclusões provisórias e perspectivas Em ambas as modalidades, a distância e presencial, a característica de priorizar que os estudantes descrevessem os procedimentos de resolução dos desafios neste trabalho permitiu que eles refletissem sobre os seus próprios procedimentos e raciocínios matemáticos. Essas reflexões, por sua vez, criaram possibilidades e condições para que esses estudantes modificassem a maneira como enfrentam as tarefas e os desafios, ou seja, que a cada desafio vencido eles reelaborassem sua maneira de aprender a aprender. (Pozo, 2003) Considerando que a interatividade é um fator que influencia a aprendizagem (Alava, 2002) e que as propostas de trabalho com o uso de pbwikis favoreceram as interações e trocas de informações envolvendo conceitos de Matemática, tanto entre alunos-alunos quanto entre professores-alunos, constatamos que os estudantes participantes desse trabalho apresentaram, no decorrer do ano letivo, uma melhora na escrita envolvendo os conceitos de Matemática. Constatamos também, via análise dos registros escritos dos estudantes, que eles demonstraram compreender conceitos de Matemática presentes nos desafios e situações didáticas e, que igualmente relevante, apresentaram crescimento em termos de aprendizagem de matemática. Na atividade de diários virtuais, constatamos que esta dinâmica de trabalho traz ao professor a informação de como seus alunos estão “entendendo” os conteúdos permitindo assim que ele redirecione seu fazer pedagógico de acordo com as XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009) necessidades mais urgentes de seus alunos. Além disso, ela oferece aos alunos um canal de comunicação com o professor que lhes possibilitam um atendimento individualizado que nem sempre conseguem em sala de aula. Na atividade de fotografia e funções, na modalidade presencial, acreditamos que trabalhar em equipe, respeitando as idéias e posições dos colegas de forma cooperativa, possibilitou aos estudantes desenvolverem estratégias de aprendizagem próprias e atitudes autônomas. Para chegar a tais resultados foi fundamental criar situações nas quais os estudantes tiveram liberdade para fazer-se perguntas e tirar suas próprias conclusões formando seu ponto de vista, influenciando suas atitudes futuras e contribuindo para a aprendizagem de matemática. (Pozo, 2003) Devido à riqueza de possibilidades desta proposta, além de pretendermos dar prosseguimento em 2009 à sua implementação com alunos das demais turmas do Ensino Fundamental e Médio do CAp-UFRGS, e envolvendo outras áreas do conhecimento presentes no currículo escolar., é intenção prosseguirmos o trabalho de investigação movidos por novas interrogações surgidas durante a atual pesquisa. 1 - Como os alunos trabalham cooperativamente usando os pbwikis? 2 - Quais são os limites e quais são os benefícios desta proposta para o fazer pedagógico do professor e para a aprendizagem dos estudantes? 3 - Que possibilidades são oferecidas pelos pbwikis que não conseguiríamos apenas com o trabalho em sala de aula? 4 - Quais são as diferenças dos conceitos de aprender e ensinar no trabalho com os pbwikis em relação ao trabalho em sala de aula? No atual estágio desse estudo, com base nos dados obtidos, concluímos que a proposta apresentada se mostrou favorável à apropriação de novos conceitos, capacidades e atitudes por parte dos alunos, contribuindo, portanto, para a aprendizagem de matemática. Também foi possível constatar que esse trabalho tem um impacto sobre o trabalho dos docentes na medida em que os processos de interação estabelecidos entre esses e seus alunos foi potencializado pelos usos dos recursos digitais de comunicação nas modalidades ora apresentadas. 5. Referências Alava, Séraphin. (2002). “Ciberespaço e formações abertas”. Artmed: Porto Alegre Basso, Marcus V. de A. (2003) Espaços de aprendizagem em rede: novas orientações na formação de professores de matemática. Tese. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação, Porto Alegre. http://mathema.psico.ufrgs.br/tese_m/, Março de 2009. http://www.plastelina.net/game2.html Pozo, Juan Ignacio. (2003) “Aprendizagem de conteúdos e desenvolvimento de capacidades no ensino médio”. In: COLL, César. Psicologia da aprendizagem no ensino médio. Editado por ARTMED. Porto alegre. Serres, Fabiana (2008) “Mídias digitais de comunicação – autoria e aprendizagem de matemática. Trabalho de conclusão de Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. XX Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (2009)