Ministério encomendou vacinas para três milhões

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ID: 25856455
08-07-2009
Tiragem: 52914
Pág: 2
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 29,10 x 35,44 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 3
Gripe A Duas escolas fecharam após casos de crianças infectadas
Ministério
encomendou
vacinas para
três milhões
Um dia difícil no Externato das Pedralvas
Uma dúvida: ministério não definiu
os grupos de risco prioritários. Uma
certeza: a vacina não chega a tempo
da primeira fase pandémica
Alexandra Campos
e Catarina Gomes
a A vacina que o Ministério da Saúde pré-reservou para 30 por cento da
população não vai chegar a tempo da
primeira fase pandémica da gripe A,
avisou ontem a ministra da Saúde,
Ana Jorge. A pré-reserva da vacina
era uma decisão já esperada, mas o
seu anúncio formal coincidiu com o
encerramento de um externato em
Lisboa e de uma creche em Ponta Delgada provocados por casos de contágio de gripe A.
Ana Jorge decidiu seguir o exemplo
de vários países e anunciou que fez
uma encomenda prévia a várias empresas farmacêuticas com as quais já
estava a negociar preços e prazos de
entrega. Portugal demorou mais tempo
a divulgar uma decisão porque estava
à espera de instruções da Organização
Mundial de Saúde (OMS), que continua
também sem certezas em relação a determinados grupos de risco.
A ministra deixou, no entanto, uma
advertência: “Não deverá haver vacina em lado nenhum antes do fim de
Novembro, início de Dezembro”, o
que significa que não vamos dispor
desta arma de contenção da doença
“na primeira fase da pandemia”.
As empresas farmacêuticas estão
há várias semanas empenhadas numa
corrida contra o tempo, mas a presidente da OMS esfriou-lhes anteontem
os ânimos ao anunciar que a vacina
não estará disponível até Dezembro,
altura em que no hemisfério Norte o
frio chega e, com ele, a previsibilidade
do vírus se transmitir em massa.
Até lá, o ministério continuará a
estudar os grupos prioritários para a
vacinação. “Ainda não se sabe exactamente que grupos vamos vacinar”,
admitiu há dias ao PÚBLICO a subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas.
Para já só há certezas em relação a
três grupos de risco que todos os anos
têm indicação para se vacinar contra
a gripe normal: os doentes crónicos,
as grávidas e as crianças. Falta decidir
se vão também ser incluídos os jovens
e os idosos, precisou.
Um quebra-cabeças
Quanto aos eventuais problemas logísticos para vacinar uma quantidade
tão grande da população, Graça Freitas não antevê grandes problemas até
porque, recorda, todos os anos são
vacinadas mais de 1,5 milhões de pessoas contra a gripe normal. O pneu-
mologista Filipe Froes também não
vê dificuldades de maior. É de prever
que haja grande adesão da população,
na sequência de uma campanha em
massa, diz. Para a vacina pandémica
será criado um “circuito especial”,
ao contrário do que sucede com a
Evolução de casos declarados em Portugal
O crescimento do número de infectados disparou nos últimos dias
57
Uma escola de Lisboa é encerrada
Primeiros dois casos por transmissão
secundárias
Primeiro caso
confirmado em
Portugal. No mundo, o
primeiro caso
foi identificado no
México a 24 de Abril
1
4 Maio
Fonte: Ministério da Saúde
Ministério da Saúde decide
passar a divulgar apenas os
casos confirmados, dado “o
crescente número de casos
suspeitos que, diariamente, são
investigados”
2
1 Junho
3
41
20
11
5
1 Julho
da gripe normal, que é vendida nas
farmácias e comparticipada pelo Estado. Para além dos centros de saúde, poderá haver carrinhas móveis
com condições para o transporte de
vacinas que permita a imunização das
crianças directamente nas escolas,
imagina.
Apesar de o número de pessoas infectadas estar a crescer e de os casos
de transmissão doméstica (até ontem
eram nove) começarem a multiplicar-se
em Portugal, os especialistas desdramatizam. “A situação epidemiológica em
Portugal não é crítica”, sublinha Mário
Jorge Santos, presidente da Associação
de Médicos de Saúde Pública. Do que
se conhece neste momento, a gripe
pandémica até se está a revelar menos
agressiva do que a gripe normal, reforça outro especialista de saúde pública,
Mário Durval.
O dia ficou marcado pelos primeiros encerramentos de estabelecimentos escolares devido à gripe A. O primeiro foi o Externato das Pedralvas,
em Lisboa. Ali, um menino de dois
anos, que tinha regressado de férias
no México com os pais, frequentou a
escola durante três dias, sem sintomas aparentes. Foi na sala de aulas
da primeira criança que houve mais
três infecções de crianças da mesma
idade, o quarto caso é já o de uma menina de três anos de outra turma, irmã
de um menino do primeiro grupo (ver
texto na página seguinte).
Em Ponta Delgada, na Creche Nossa
Senhora do Livramento, frequentada
por 30 crianças, a decisão de fechar
por dois dias aconteceu depois de ter
sido detectado o caso de uma menina
de 13 meses, que tinha tido contacto
próximo com uma doente vinda do
Canadá a 29 de Junho.
Uma circular da Direcção-Geral de
Saúde recomenda que as escolas, entre outras medidas, estejam atentas e
que sempre que um aluno apresente febre superior a 38 graus e outros
sintomas de gripe, seja afastado das
restantes crianças e os pais contactados. No caso de se confirmar a doença
num profissional da escola ou num
aluno, estes não devem frequentar
a escola por um período mínimo de
sete dias, ou até que lhes seja dada
alta clínica. O balanço oficial da doença no país dava ontem conta de
mais nove casos, cinco resultantes
de transmissão local e quatro importados – num total de 57 desde o início
de Maio. “Todos estão clinicamente
bem”, garantiu a ministra.
ID: 25856455
08-07-2009
ENRIC VIVES-RUBIO
Tiragem: 52914
Pág: 3
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 23,13 x 33,11 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 2 de 3
Grupos de risco ainda em estudo
Doentes crónicos, grávidas
e crianças serão prioritários?
a A epidemia de gripe A está a evoluir
a ritmos diferentes nos vários países.
Portugal continua numa fase de contenção, porque os casos são ainda esporádicos, explicam os especialistas,
que não conseguem antecipar o que
vai acontecer nos próximos meses.
Mas a directora do ECDC (European
Centre for Disease Prevention and
Control), Zsuzsanna Jakab, traçou
já cenários possíveis para o próximo Verão: “Haverá surtos de gripe
A em datas diferentes nos vários países europeus”, antecipou. E avisou
que, apesar de não ser possível prever
quando é que as primeiras “ondas reais” vão afectar cada país, “elas vão
chegar”. As ondas desenvolvem-se em
quatro fases (início, aceleração, pico
e declínio). Jakab deu o exemplo do
Reino Unido, que parece estar já “na
fase de aceleração”, com as autoridades de saúde a estimarem que, se
tudo continuar como até agora, o país
poderá ter cerca de 100 mil casos por
dia no final de Agosto. A boa notícia é
que a maior parte dos infectados têm
tido uma evolução muito favorável e
alguns não necessitam sequer de ir
ao médico. E os idosos têm quase escapado ao vírus.
No Outono e no Inverno, porém, espera-se que “pelo menos 20 por cento” da população seja afectada pela
pandemia, sublinhou a directora do
ECDC. A experiência dos EUA permitiu perceber que haverá pelo menos
três grupos de pessoas em risco de ser
afectadas com maior gravidade pela
doença: as que sofrem de determinadas doenças crónicas, as mulheres
grávidas e as crianças sobretudo abaixo dos dois anos. São estes grupos que
precisam de receber antivirais cedo e
de ter acesso à vacina pandémica com
rapidez, notou a directora do ECDC.
Mas ainda é necessário confirmar se
os grupos de risco serão exactamente
os mesmos na Europa. Para a próxima
semana está marcada uma reunião
com os estados-membros da União
Europeia e a OMS em que esta situação será analisada. O ECDC estima
que haverá cerca de 60 milhões de
pessoas nestas condições na Europa.
Alexandra Campos
Fecho de externato em Lisboa
Estamos aqui para levar
o nosso menino para casa
Reportagem
Catarina Gomes
Segundo no país
São João cria laboratório para identificar vírus
A identificação do vírus da gripe
A (H1N1) vai começar a ser feita no
Norte do país. A partir da próxima
semana, começa a funcionar
no Hospital de São João um
laboratório, construído de raiz,
para onde vão ser encaminhadas
análises de todos os casos
suspeitos que ocorram na Região
Norte.
O administrador do Hospital
de São João, António Ferreira,
revelou que a decisão foi
tomada há já algum tempo para
responder ao surto da gripe A.
“Desde que foi conhecida esta
nova estirpe com potencial
pandémico, a administração
decidiu instalar uma unidade
laboratorial especializada na
identificação do vírus da gripe”,
afirmou António Ferreira. Os
técnicos adstritos ao laboratório
vão estar dois dias no Instituto
Nacional de Ricardo Jorge para
uniformizar procedimentos, após
o que o de São João passará a
ter capacidade para manusear
amostras de vírus. O laboratório
está totalmente equipado com
uma câmara de fluxo de ar
laminar, sondas e outros meios
técnicos. O São João é um dos
quatro hospitais de referência
para a pandemia da gripe e foi,
de acordo com a administração, o
primeiro a desenvolver um plano
de contingência da gripe. M.G.
a “Estamos aqui para levar o
nosso menino para casa”, explica
o avô de Vicente, de quatro anos,
antes de ver o neto sair da porta
do Externato das Pedralvas, em
Lisboa – o primeiro estabelecimento
escolar a ser encerrado em
Portugal devido à gripe A depois
de confirmados os casos de cinco
crianças. “Anda cá, meu menino!”,
diz Assis Fernandes, estendendolhe os braços como se não o visse há
semanas.
O alarme chegou na segunda
de manhã, conta a directora do
externato, Ana Seixas, interrompida
por vários telefonemas de
alguns dos pais das 200 crianças
que frequentam o externato.
Retomando: a mãe do primeiro
menino infectado ligou-lhe na
segunda a dizer que este estava
internado com H1N1, contactou
então a delegada de saúde, que
a informou que só um caso não
justificava o encerramento. O
menino tinha vindo de férias do
México e ainda esteve três dias
na escola. Acabou a sexta-feira já
febril, mas acharam que era “um
problema intestinal”.
Dizer que se esteve no México ou
não dizer, eis a questão. A directora
do colégio refere que talvez os
pais pudessem ter informado o
externato de que tinham vindo
daquele país, mas as opiniões
dividem-se. Ana Cristina Rebelo,
mãe de um aluno de quatro anos,
afirma que neste momento o
problema já não está apenas no
México e que se os pais têm que
avisar onde estiveram, devem
incluir na lista todos os países
afectados. À porta do externato,
uma mãe que não se quis identificar
dizia, porém, que “a vida particular
deve ser preservada, mas não
quando “afecta os outros. Estes
pais puseram em risco os filhos dos
outros”.
Dezenas de pais estiveram ontem
a ouvir informações sobre a forma
de protegerem os filhos da gripe
A. Dois médicos explicavam que
os cinco meninos infectados “têm
evoluído para a cura”, lê-se nas
folhas informativas distribuídas. Na
sala em frente, onde há papagaios
e sóis de papel suspensos do tecto,
duas enfermeiras distribuíam
embalagens de Oseltamivir para
dez dias. Explicavam também
como o fármaco deve ser doseado e
aconselhavam algum resguardo no
contacto de outras crianças durante
o período da toma.
ID: 25856455
08-07-2009
Tiragem: 52914
Pág: 1
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 29,10 x 6,50 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 3 de 3
Surto de Gripe A fecha infantários e obriga
Governo a pedir vacinas para três milhões
Número de casos registados chega aos 57 a Vacinas não chegam a tempo de travar a primeira
fase da pandemia que se aguarda no Outono a Ministério ainda não definiu grupos de risco
que vão ser alvo da vacinação
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