Rumos da Filosofia - EaD-UFSC

Propaganda
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
Rumos da Filosofia
I ECONTRO DOS ESTUDANTES EAD FILOSOFIA UFSC-2010
Local: Pato Branco
05/11/10 sexta
19h
Alexandre Luz - Sobre o Ceticismo
20:30h
Aylton Babieri - Maquiavel: procura-se um príncipe para fundar a república
06/11/10 sábado
9h
Roberto Wu - História e narração em Walter Benjamin
10:00
Nazareno Almeida - A Filosofia Grega como técnica da argumentação
11:15
Jair Barbosa - Os filósofos, as mulheres e o amor
14:15
Evandro Marcos Leonardi - Seria Maquiavel maquiavélico?
16:00
apresentação dos trabalhos de Ética III – Coord. Delamar
PROMOÇÃO
COORDENAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA EAD
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
PÓLO UAB - PATO BRANCO
Organização
Delamar José Volpato Dutra
Marco Antonio Franciotti
RESUMOS
Maquiavel: procura-se um príncipe para fundar a república
Ao longo destes cinco séculos, que o pensamento do filósofo florentino está prestes a
completar, surgiram inúmeras interpretações, no entanto, uma das maiores dificuldades reside na
aparente contradição entre as suas obras mais importantes, O príncipe e Os discursos sobre a
primeira década de Tito Lívio, pois, se neste último, Maquiavel parece assumir a defesa dos ideais
de um republicanismo popular que marcou as suas origens e que ele exerceu nas suas atividades
administrativas durante o governo republicano em Florença, no primeiro, ele claramente apresenta
um espelho de príncipe, durante o período de restauração da dinastia Médici. Muitas explicações
podem ser encontradas para resolver esta aparente contradição: Carl Schmitt, por exemplo, depois
de recusar a tese de que Maquiavel expressaria em O príncipe uma versão moderna da ditadura, a
qual era empregada pelos romanos temporária e legalmente em períodos de grandes dificuldades
para a República, pensa que ele procede como um artista do Renascimento, por isso, escreveu duas
obras distintas apenas para fazer um experimento sobre as diferentes técnicas de ensaios, assim
como um pintor pode pintar um quadro sem se envolver com seu conteúdo, mas somente para fazer
um estudo sobre as cores ou a perspectiva geométrica; também os filósofos republicanos modernos
se debruçam sobre o problema e o situam claramente na tradição republicana, por isso, Rousseau,
na mesma linha de Espinosa ou dos Enciclopedistas, afirma que se enganam aqueles que pensam
que Maquiavel escreveu O príncipe para elogiar a monarquia, porque ele o escreveu para o povo,
com a finalidade de denunciar a corrupção da monarquia. Contudo, uma leitura atenta mostra que,
certamente, existe uma diferença de propósito entre as duas obras, mas elas guardam uma unidade
mais profunda, porque, partindo dos ensinamentos da Antigüidade, O príncipe pretende normatizar
como devem agir os fundadores de principados, enquanto Os discursos, como, depois de instituídas,
as repúblicas devem ser organizadas. Maquiavel possui uma concepção muito negativa da natureza
humana, por isso, acredita que a virtude seja um fenômeno raro, conseqüentemente, não cabe
esperar que a república seja fundada diretamente pelos cidadãos, mas por indivíduos extremamente
virtuosos que aparecem de vez em quando, como ocorreram nas repúblicas antigas bem sucedidas
como Atenas, fundada por Teseu, Esparta, por Licurgo, Israel, por Moisés, e Roma, por Numa, os
quais, em lugar de atenderem aos ditames do seu próprio caráter ou princípios morais tradicionais,
são virtuosos no sentido de que aproveitam a fortuna para fazer o que determina a necessidade e,
motivados principalmente pela busca da glória, dão aos cidadãos bons exemplos, fazem boas leis e
criam boas armas, devendo evitar tanto ser odiados como amados, que levam à ruína do estado, na
medida em procuram ser temidos, administrando o bem gradualmente e o mal em um único golpe,
pois, embora seja possível instituir a república em um estado previamente existente, uma vez
instaurada a corrupção entre os homens, isto é infinitamente mais difícil. Depois de fundada a
república, alguns homens podem se tornar igualmente virtuosos pelo efeito das boas leis e torná-la
mais popular, aliando os dois humores, ou seja, a vontade de mandar da nobreza com a vontade de
não ser mandado do povo, sempre atentos à necessidade humana de dominação, o que obriga a
republica a formar milícias de cidadãos para defendê-la, mudar periodicamente os chefes militares e
se expandir constantemente sob pena de ser dominada por seus generais ou por seus vizinhos. No
entanto, toda forma de governo, inclusive as melhores, acaba por ruir sob o efeito da corrupção e o
que cabe esperar dos homens virtuosos é apenas adiar este fim inevitável.
Os filósofos, as mulheres e o amor
Penélope de Homero, Jocasta de Sófocles, Desdêmona e Julieta de Shakespeare, Bovary de
Flaubert, Capitu de Machado de Assis são mulheres de destaque na literatura ocidental. Mulheres
sem as quais literatura e a arte tem dificuldades para sobreviver. Os poetas, romancistas sempre
deram testemunho disso. Todavia, apesar de páginas filosóficas clássicas sobre o amor na filosofia,
como por exemplo em Platão e Agostinho, ainda assim a seriedade da metafísica parece não
combinar com o tema, desde que Tales foi objeto de riso de uma trácia, ao cair num buraco
enquanto filosofava com a cabeça erguida para os céus, esquecendo-se da terra aos seus pés.
Porém, em tempos modernos, as chamadas filosofias da vida, como as de Schopenhauer e de
Nietzsche, conseguem lidar com relativa desenvoltura com o tema, em que pese os preconceitos de
época. Proponho tratar aqui, com excertos de obras destes filósofos, do tema “Os filósofos, as
mulheres e o amor”. O contraste para Schopenhauer e Nietzsche será Kant. A minha reflexão estará
apoiada em Observações sobre o sentimento do belo e do sublime, de Kant; em Sobre as mulheres,
de Schopenhauer; e em alguns aforismos de Para além de bem e mal, de Nietzsche.
Sobre o Ceticismo
O ceticismo constitui-se em um dos mais desafiadores problemas filosóficos. Em parte isto se
deve ao caráter filosoficamente exemplar dos desafios céticos: eles costumam partir de suposições
muito simples e delas chegar com facilidade à conclusão paradoxical de que não sabemos coisas
que cotidianamente supomos saber. Complementarmente, o ceticismo é desafiador porque ele se dá
sob variadas formas: desafios céticos se instalam contra a estrutura do conhecimento (como o
Trilema de Agripa), contra as fontes do conhecimento (como o Problema da Indução e os desafios
contra a percepção), via deduções simples (como os argumentos que se utilizam do fechamento
epistêmico), etc. Mesmo que o ceticismo possa ter uma função positiva para a filosofia, como já
postulavam os pirrônicos, não se pode perder de vista o tipo de dano que ele pode acarretar: a
paralisia da razão e o abandono das pretensões de racionalidade associadas à atividade filosófica,
por um lado, e às nossas pretensões correntes de avaliação racional de nossas crenças, por outro.
Por conta disto, algum tipo de antídoto parece ser exigido. Em nossa comunicação nós pretendemos
discutir 1) o alcance dos argumentos céticos e 2) algumas estratégias anti-céticas contemporâneas,
com especial destaque para o naturalismo, o internalismo falibilista e o contextualismo.
Seria Maquiavel maquiavélico?
O universo de pesquisa sobre a obra de Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) é incontestavelmente
amplo. Seu nome foi largamente divulgado devido à importância que mereceram e ainda merecem
suas ideias para a história e a formação do pensamento político. A celebridade de sua obra no
quadro geral das teorias de Estado, desde o início da idade moderna até os dias de hoje, tornam as
discussões ainda mais estimuladoras. Conhecido mais pelo estigma negativo de sua obra, esse
adjetivo é um dos poucos – senão o único – a nascer diretamente do nome de um pensador da
filosofia política. Maquiavélico, maquiavélica, são homens e mulheres que tencionam a maldade, a
ambição desmedida pelo poder, a esperteza política, a dissimulação e o controle das ações em
amplo sentido. Tirar proveito de tudo e de todos, são em larga medida, atribuições e comandos que
tem Maquiavel como sombra, um mestre capcioso que ensina a arte de enganar. Mas seria
Maquiavel maquiavélico? Haveria algum intervalo para valores morais em seus ensinamentos? Não
encontraríamos nenhum horizonte de bondade para ações políticas seguindo o prisma
maquiaveliano? É justamente sobre isso que repousa nossa discussão: há, sim, em Maquiavel, um
sistema de valores morais fiéis à estrutura de seu pensamento e que merecem, no mínimo, uma
leitura mais atenta do que se costuma fazer. É bem verdade que essa moralidade não alcança o
estatuto de uma estrutura de princípios mais acabados formando um sistema moral completo e
coeso. Essa estrutura existe de forma mais explícita em tantos outros pensadores da filosofia
política. Contudo, isso não autoriza nenhuma amoralidade ou imoralidade em Maquiavel. Mesmo
assim, num primeiro momento de maquiavelismo, se tornou convencional o uso do termo
maquiavélico a partir daquela linguagem popular, ordinária, mas sem maior profundidade de análise
e embasamento sobre o conjunto da obra de Maquiavel. Seu pensamento se traduziria, segundo as
ruelas da linguagem ordinária, por um conjunto de princípios que promoveriam a mentira,
ardilosidade, astúcia, infâmia, guerra pela guerra, força desmedida, brutalidade, crueldade,
ingratidão, enfim, todas aquelas ações próximas de uma finalidade que coincide com a própria
maldade. Outra maneira de oportunizar uma leitura de Maquiavel como maquiavélico é interpretálo com olhar somente de cientista, de inovador em materia de política. As exigências aqui são acima
de tudo acadêmicas. Mas o perigo dessa visão meramente científica, que se apoiaria no cômputo
estratégico de ações políticas com vistas apenas em resultados exitosos e na preservação cega do
Estado, faz a maldade parecer necessária e normal, desde que determinadas circunstâncias e
ocasiões justificassem o emprego desse expediente. Também aí existem falhas de leitura, uma vez
que o pensamento de Maquiavel estaria avalizado somente por objetivos de segurança e
manutenção do próprio Estado e do poder. Assim, uma escala de valores morais supõe adentrar na
obra como um todo e mostrar que, nas entrelinhas de sua obra, podemos descobrir valores que se
traduzem em ações voltadas ao bem comum e à liberdade, expressões que traduzem coerentemente
a moralidade e a defesa do ser humano em sua dignidade como pessoa e cidadão. Se para
Maquiavel, a propensão humana à maldade deveria orientar a pauta das decisões institucionais,
então, ao Estado não caberia somente controlar ou vigiar os homens pela exigência coativa de leis
duras e punitivas. Antes, o Estado deveria orientar a existência coletiva por intermédio de uma
escala de valores morais que se estreitariam na visão unívoca de uma instituição como promotora da
liberdade pública.
História e narração em Walter Benjamin
Walter Benjamin propõe na sua obra uma alternativa ao conceito tradicional de história, que é
contada e avaliada do ponto de vista dos vencedores. Além de não ser a única versão possível, a
chamada história dos vencedores soterra uma série de experiências profundas da humanidade e
propaga a continuidade da dominação socioeconômica mediante uma ideologia disfarçada. A
alternativa que rompe com a manutenção do sistema capitalista, a linearidade indiferente da
pretensa história verdadeira, é a recuperação das experiências fundamentais pela narração. Em O
Narrador, Walter Benjamin apresenta os traços essenciais de um tipo humano que não encontra
mais lugar no mundo técnico contemporâneo.
A Filosofia Grega como técnica da argumentação
Resumo: No período moderno, tornou-se comum pensar na Filosofia Grega como um momento
inicial da História da Filosofia cujo interesse seria meramente historiográfico e não propriamente
filosófico. O estudo da filosofia grega, nesta visão, restringe-se ao campo do que podemos chamar
de história das ideias, sem uma importância direta para a formação filosófica no mundo
contemporâneo. Esta visão historicista, que vê a Filosofia Grega como um momento passado e
ultrapassado, oblitera um aspecto decisivo do pensamento grego que nunca deixou de ser
importante para a formação dos filósofos dos períodos históricos posteriores: as técnicas
argumentativas. Para evidenciar esse aspecto, serão apresentados alguns exemplos de técnicas
argumentativas instauradas e operadas pelos filósofos gregos e de como estas técnicas
argumentativas são importantes ainda hoje no fazer filosófico; além de apresentar exemplos de
como filósofos contemporâneos retomam em suas teorizações temas e questões que estão
diretamente ligados às técnicas de argumentação da Filosofia Grega, apontando para o fato de que
mais do que uma curiosidade idiossincrática e diletante, o estudo deste momento inicial da História
da Filosofia continua sendo um rico campo potencial de aprendizagem da tecnologia da
argumentação necessária à atividade filosófica ainda hoje.
Download