Os professores optaram por estudar a urbanização

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Os professores optaram por estudar a urbanização, partindo dos espaços conhecidos
pelos alunos no entorno da escola. Buscavam, nesse projeto, refletir sobre as características
das moradias existentes, da infra-estrutura e do saneamento básico, das diferentes formas de
ocupação existentes na realidade local (desordenadas e ordenadas), procurando
compreender por que a forma de organização não beneficiava a maioria dos habitantes do
bairro.
Construiu-se uma rede temática, na qual aparecem delineados as diversas
possibilidades de enfoque e desenvolvimento do trabalho por cada uma das áreas.
Durante a execução do trabalho, foram coletadas informações sobre a realidade
local e construídos conjuntamente com os alunos diversos tipos de materiais, tais como:
imagens fotográficas, ilustrações realizadas por alunos, croqui do bairro, gráficos sobre o
perfil socioeconômico dos alunos, coleta de entrevistas, produção de textos pelos alunos e
professores participantes do projeto, entre outros.
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DE CIDADES E DE NOITES – Língua Materna, em projeto interdisciplinar – Projeto Educação Ambiental
Com esse projeto pedagógico, é possível perceber alguns dos eixos temáticos e
temas do PCN de Geografia que estão presentes na proposta de trabalho, entre os quais se
destacam os seguintes:
Eixo 1 – A Geografia como possibilidade de leitura e compreensão do mundo.
Temas: a construção do espaço; os territórios e os lugares; a conquista do lugar
como conquista da cidadania; itens de conteúdos: o trabalho e a apropriação da natureza na
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construção do território; as diferentes técnicas e costumes e a diversidade de paisagens na
cidade; o lugar como experiência vivida dos homens com o território e paisagens; o
imaginário e as representações da vida cotidiana: o significado das coisas e dos lugares,
unindo e separando as pessoas, e a cidadania como consciência de pertencer e interagir e
sentir-se integrado com pessoas e os lugares.
Eixo 2 – O estudo da natureza e sua importância para o homem.
Tema: a natureza e as questões socioambientais, com o item de conteúdo: modo de vida
urbano e a qualidade de vida.
Eixo 3 – O campo e a cidade como formações socioespaciais.
Tema: o espaço como acumulação de tempos desiguais, com os itens de conteúdo: a
diversidade dos conjuntos arquitetônicos urbanos de monumentos históricos diferentes e o
traçado das vias públicas, como referências de compreensão da evolução das formas e
estruturas urbanas.
Por esse exemplo, é possível perceber que os projetos não podem ficar reduzidos à
escolha de um tema único para todas as áreas, nem a uma lista de objetivos e etapas, mas
devem refletir uma visão na qual a experiência vivida e a cultura sistematizada se integrem,
na medida em que os alunos vão estabelecendo relações entre os conhecimentos
construídos em sua experiência escolar e em sua vida extra-escolar.
A pergunta que se coloca ao professor de EJA é: “Em que sentido o levantamento
das representações e as diferentes possibilidades de interpretação podem auxiliar no
processo de trabalho sala de aula?”
Para que o professor obtenha resultados significativos em seu trabalho, seria
importante ficar atento à boa adequação entre a quantidade de informações selecionadas
para sua programação, quais os conceitos e categorias que devem ser retomados, discutidos
e aprofundados, que recursos didáticos serão necessários, e a disponibilidade de tempo,
especificamente no caso da suplência. Paralelamente à preocupação sobre a adequação da
quantidade e natureza das informações dos conteúdos curriculares e o tempo em que cada
aluno trabalha, deve-se, também, estar atento quanto à natureza dos materiais curriculares
que serão utilizados – é preciso questionar se são ou não eficazes, à medida que permitam
diferentes graus de leitura ou utilidade. Portanto, acreditamos que os recursos devem ser
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mais diversificados, oferecendo múltiplas possibilidades de uso, em função das
necessidades de cada situação e momento.
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
O professor de Geografia, a leitura e a escrita
Muitas vezes, os alunos de EJA do 3º ciclo (5ª e 6ª séries) apresentam dificuldades
relacionadas à leitura e à produção escrita. Nesse sentido, o trabalho do professor torna-se
bastante complexo, uma vez que deve contribuir para que os alunos desenvolvam e
dominem essas habilidades, ao mesmo tempo, que deve propiciar a leitura do espaço
geográfico, suas dinâmicas e diferentes formas de organização; deve também contribuir
para a compreensão e construção de significado dos conceitos e categorias da Geografia,
bem como considerar a realidade específica de seus alunos, saber o que eles conhecem
sobre os diferentes lugares, próximos e distantes, as diferentes leituras que realizam do
espaço geográfico, das relações e interações nele presente. Além disso, deve também criar e
propor atividades desafiadoras de caráter geográfico.
Ao auxiliar os alunos de EJA a desenvolverem o domínio da língua escrita
conjuntamente com os conhecimentos da área, os professores de Geografia estarão
desenvolvendo um trabalho interdisciplinar de apoio no processo de pós-alfabetização e
domínio dessa habilidade, contribuindo também para que os alunos, dominando a língua
escrita em sua área, possam por meio dela representar e expressar a realidade (vivida ou
percebida) e diferentes realidades existentes; registrar informações e conhecimentos;
comunicar-se pelo espaço e pelo tempo – interagindo com outras realidades – e também
realizar diferentes leituras do mundo e de seus espaços geográficos.
Considerando que existem alunos (5ª série – 3º ciclo) que apresentam pouco domínio
da habilidade escrita, convém que o professor explore também a oralidade, estimulando-os
a debater e a expressar suas idéias com clareza, apresentando informações e expressando o
que foi discutido e analisado em aula, estimulando-os a ter confiança para organizar, por
meio da palavra escrita, o que expressam oralmente com mais desenvoltura.
Temos que ter clareza de que o processo de aprendizagem e de domínio da habilidade
escrita, em EJA, pode acontecer de forma lenta e gradual e ser mais difícil do que os alunos
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imaginavam. Desse modo, manter a motivação para aprender Geografia e desenvolver um
conjunto de habilidades necessárias para o melhor aproveitamento do aluno devem ser a
preocupação central do professor.
Para facilitar esse processo de domínio e desenvolvimento das habilidades de leitura e
de escrita com os alunos de EJA, é importante que o professor realize um conjunto de
procedimentos e ações, entre eles podemos destacar:
§
Utilizar recursos visuais diversificados, como imagens, fotografias, mapas, vídeos
(filmes e documentários), solicitando que os alunos expressem pela escrita os temas
abordados.
§ Selecionar textos com conceitos e análises geográficas apropriadas, não muito longas
e objetivas.
§ Utilizar textos que apresentem clareza de argumentos e estejam bem exemplificados.
§
Evitar o uso de textos que simplificam a análise geográfica ou que empobreçam o
significado dos conceitos e categorias próprios dessa área.
§ Sensibilizar os alunos, usando imagens ou recursos que sejam representativos, antes
de discutir ou fazer leitura de textos que expressam idéias, conceitos e categorias mais
específicos da Geografia.
§
Polemizar sobre as imagens, fazendo um levantamento sobre os conhecimentos
socioespaciais que os alunos possuem, verificando aproveitamento desses recursos.
§
Utilizar textos bem ilustrados, com imagens e mapas nítidos, em escala adequada,
que permitam boa visualização e melhor aproveitamento desses recursos.
§ Selecionar imagens e mapas que tenham relação com o assunto tratado no texto.
§
Propor atividades e exercícios desafiadores (problematizadores) que visem ir além
da simples transcrição de trechos ou informações de textos, estimulando o aluno a
comparar e correlacionar informações, ordenar os acontecimentos, a elaborar pequenas
explicações sobre o que compreendeu etc.
Nas séries do 4º ciclo do ensino de EJA, esse processo de trabalho deve ser continuado,
aprofundado e redimensionado, uma vez que os conteúdos geográficos e suas habilidades
específicas tornam-se ainda mais complexos e o grau de abstração e de generalização ainda
maior.
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O texto aparece como um dos meios de ensino mais utilizados pelo professor de
Geografia de EJA. Nas atividades realizadas com a utilização desse recurso, o professor
deve solicitar os seguintes objetivos procedimentais aos alunos, que devem:
•
Observar e interpretar o enunciado e o título dos textos e atividades, seguindo e
aplicando corretamente as orientações, demonstrando autonomia em relação a
procedimentos.
•
Expressar uma compreensão global do tema, localizando informações e idéias
centrais, compreendendo diferentes modalidades de textos.
•
Elaborar explicações próprias, aplicando corretamente os conceitos e categorias
geográficas.
•
Produzir textos coerentes, transmitindo suas próprias idéias, de forma clara e
objetiva, desenvolvendo um modo de pensar e raciocinar geográfico.
Construindo significados geográficos em EJA:
a participação do aluno na produção do conhecimento
Na década de 90, as discussões sobre Geografia promoveram renovações na postura,
na linguagem e nas propostas de trabalho, auxiliando uma reflexão mais ampla sobre a
realidade, a sociedade e a dinâmica do espaço do qual a realidade e sociedade fazem parte.
Era necessário superar a idéia de uma Geografia descritiva, na qual a prioridade era a
memorização, em lugar da análise crítica da sociedade. Pretendia-se levar a discussão das
diferentes concepções do pensamento geográfico para a sala de aula, uma vez que existia
uma grande distância entre o que se produzia nas universidades e o material didático que
orientava o ensino.
Não significava, porém, que o saber ensinado na escola deveria ser o saber
geográfico produzido nas diferentes universidades de forma descritiva, memorizado, da
mesma maneira como era realizado na Geografia tradicional.
Passou-se a considerar que os alunos dentro da escola, e também fora dela,
elaboravam idéias e conhecimentos relacionados com a Geografia, e que a escola deveria
favorecer a ampliação desses conhecimentos, promover a comparação com outros
conhecimentos; desenvolver um conjunto de habilidades e de competências; peãs práticas
intencionais de intervenção pedagógica e mediação contínua do professor.
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Sem essa mediação e sem a intervenção por parte dos professores, os alunos de EJA
apresentam dificuldades para formar um raciocínio geográfico próprio, para estabelecer
relações entre os conteúdos que são transmitidos nas aulas de Geografia, com as
determinações espaciais que permeiam a prática social diária, direta ou indiretamente.
A primeira tarefa do professor passa ser a de conhecer as representações dos alunos
e os saberes que trazem, analisar como e em quais situações se originaram tais
conhecimentos, a partir de quais experiências, vivências e lugares eles foram elaborados,
quais fazem parte do senso comum, quais podem se traduzir em um conhecimento
equivocado falso. A partir desse levantamento, planejar o processo/percurso de seu
trabalho.
Considerando o conjunto de saberes e as diferentes realidades vividas ou percebidas
por eles como ponto de partida, a próxima etapa seria uma reflexão sobre o conhecimento
produzido pela ciência geográfica e, com sua ajuda, se voltaria àquela realidade para
reinterpretá-la, agora não mais no senso comum.
Realidade-teoria-realidade: esse é um processo a ser perseguido, a partir das
observações e das reflexões iniciais dos alunos. Na teoria, buscam-se a fundamentação, o
aprofundamento e a generalização das reflexões iniciais. Volta-se, então, à realidade,
criticando-a e analisando-a à luz da teoria, os conceitos ganham significado para os alunos.
É importante definir de onde se vai partir e onde se pretende chegar. Desse modo, definemse os objetivos principais a serem alcançados ao longo do semestre; e a partir dos objetivos,
organiza-se a seqüência de conteúdos e de recursos didáticos que auxiliariam atingir os
objetivos destacados, tais como: textos, filmes, tabelas, gráficos, mapas, fotografias,
reportagens e notícias publicadas nos meios de comunicação etc .
Os conteúdos são utilizados como meio para se produzir uma seqüência de
conceitos que tenham relação entre si, de forma cumulativa e gradativamente complexa, no
sentido de facilitar a passagem do concreto para o abstrato. Eles devem ser selecionados
para, de maneira integrada e gradual, permitirem ao aluno um amadurecimento da reflexão,
um desenvolvimento do espírito crítico e uma melhor compreensão da realidade em que
vive.
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