III Encontro da ANPPAS 23 a 26 de maio de 2006 Brasília-DF Análise da Negociação e Construção da Estratégia Regional de Biodiversidade para os Países do Trópico Andino Elias David Morales Martinez Cientista Político Universidade Nacional da Colômbia Mestre em Relações Internacionais UnB Doutorando em Integração da América Latina PROLAM/USP Resumo O propósito do presente artigo é analisar como foi o processo de negociação e construção da Estratégia Regional de Biodiversidade para os Países do Trópico Andino (ERB), como os atores trabalharam na sua execução e por que os países andinos decidiram cooperar entre eles e outras instituições para atingir esse propósito. Para tanto, será feito inicialmente um estudo da importância da biodiversidade para a região andina considerando sua geopolítica e suas características gerais, para passar imediatamente ao processo de formação, desenvolvimento e execução da ERB. Também será analisada a estrutura geral da ERB, incluídos os instrumentos e a sua viabilidade no futuro imediato. Para finalizar será feita uma análise crítica em dois planos: o primeiro é sobre os eixos definidos pra construir a ERB e, em um segundo plano, uma análise sobre as redes estabelecidas entre os diferentes atores que trabalharam para construir a ERB. 1 “Igualmente en los últimos años se viene hablando de la importancia que reviste la conservación y gestión de los recursos vivos del planeta (biodiversidad) en relación con el progreso de la biotecnología. Esto por uma doble razón: por um lado, la diversidad biológica representa uma gigantesca reserva de “oro verde”que em su mayor parte está inexplorada, y que en última instancia es la matéria prima de los programas de investigación y desarrollo de buena parte de la biotecnología; y por otro lado; (y no menos importante), porque los países ricos en biodiversidad, que suelen ser naciones en vias de desarrollo, tienen el legítimo interés de que la comunidad internacional valore sus recursos vivos, y que se vean compensados de um modo justo por su conservación y su disponibilidad para la humanidad.” (Pareja, 2000) Introdução Os países andinos detêm 25% da biodiversidade do mundo. Uma grande riqueza que pode contribuir para atingir o tão desejado desenvolvimento sustentável. Essa riqueza pode ser bem aproveitada, pois a biodiversidade é a matéria prima para a biotecnologia, ciência que se encontra em pleno desenvolvimento e que está permitindo um novo esquema de cooperação dentro das relações internacionais. Assim, no XII Conselho Presidencial Andino realizado em Lima, Peru, em 2000, os Chefes de Estado dos países membros aprovaram um programa mínimo de trabalho complementar para a integração, na qual decidiram convocar uma reunião de alto nível das autoridades nacionais em matéria ambiental, com o objetivo de realizar os trabalhos que conduziram à adoção de uma Estratégia Regional de Biodiversidade. Também foi propósito fundamental contribuir para a geração de alternativas viáveis de desenvolvimento regional sustentável, a partir dos recursos naturais e da concentração de posições conjuntas diante os diversos foros internacionais de negociação. 1. CONTEXTO REGIONAL Os países andinos (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) se localizam numa das regiões mais diversas do mundo, composta por muitos biomas megadiversos que permitem uma ampla variabilidade genética em espécies vegetais e animais, na qual se concentra 25% da diversidade biológica mundial, e se encontra também associado à imensa riqueza e diversidade cultural andina. Portanto, sua conservação é fundamental para preservar a vida na terra e o equilíbrio natural entre as espécies. Nesse sentido, os Andes Tropicais constituem uma eco-região considerada pelos peritos mundiais como epicentro global da biodiversidade, pois ocupa o primeiro lugar no mundo em variedade biológica e endemismos (espécies que só existem num local determinado) de plantas, aves e anfíbios. Além disso, no Trópico Andino se encontra a maior origem de importantes recursos fitogenéticos andino-amazônicos, que provêm cerca de 35% da produção agroalimentar e industrial do mundo.i 2 Essa riqueza natural constitui um dos maiores recursos e oportunidades para o desenvolvimento sustentável dos países andinos, que requer tanto políticas locais como regionais, que garantam a conservação e aproveitamento sustentável da biodiversidade com uma justa distribuição dos benefícios que dela sejam derivados. A propósito, o mercado mundial de recursos biológicos alcança uma soma superior aos 900 bilhões de dólares e está em contínuo crescimentoii. Não resta dúvida, então, do enorme potencial que encerra a riqueza da diversidade biológica da qual dispõem os países andinos. Esse capital natural os coloca numa posição privilegiada para aproveitar vantajosamente esses recursos e, ao mesmo tempo, assegurar a sustentabilidade na sua utilização. Tabela 1. CONTRIBUIÇÃO DAS PRINCIPAIS REGIÕES DO MUNDO EM RECURSOS GENÉTICOS PARA A PRODUÇÃO AGROALIMENTAR E INDUSTRIAL REGIÃO PRODUÇÃO AGRICOLA (%de produção) CULTIVOS INDUSTRIAIS (%área coberta) Chinesa –Japonesa 12,9 2,1 Ásia central e ocidental Indochina 30 7,5 10,8 13,7 Mediterrânea 1,4 18,2 Africana Andino-Amazônica 4 35,6 8,3 34,5 Norte-americana 0 10,5 Fonte: Gonzáles, 2002 Como mencionado, os países da região andina são detentores de um importante patrimônio natural, e os produtos oriundos dessa diversidade biológica são essenciais para a segurança alimentar mundial (ver tabela acima). Todavia, é paradoxal a população ter uma das menores rendas per capita da América Latina e os índices de desnutrição ainda permanecerem muito altos. Portanto, são necessários a conservação e o uso sustentável dos recursos da biodiversidade e dos recursos genéticos, pois são fundamentais para melhorar a produtividade e a sustentabilidade da agricultura, contribuindo para o desenvolvimento nacional e regional, a segurança alimentar e a diminuição da pobreza. Os países andinos têm economias similares, mas não iguais. A estrutura produtiva desses países enfrenta um contexto internacional marcado pela globalização, o que os leva a serem mais vulneráveis diante das crises financeiras internacionais e sofrerem um maior impacto dos novos regimes de mercado que exigem alta eficiência para a competitividade. A década de 1990 significou uma relativa recuperação do ritmo do crescimento econômico logo após várias crises durante anos que levaram a criar diferentes estratégias de recuperação da economia em cada um dos países da região. Assim mesmo foram produzidos importantes progressos no âmbito político institucional como a ocorrência de processos de 3 descentralização, fortalecimento da democracia e melhoras na promoção dos direitos humanos. Tais progressos serviram como base para gerar uma agenda pública na qual o tema do desenvolvimento sustentável teve relativa importância (PNUMA, GEO-Andino 2003). Contudo, sabe-se que os países andinos têm diferentes tipos de desenvolvimento econômico, mas no nível regional, por volta de 20% do PIB corresponde à extração e processamento de recursos naturais. A Bolívia produz principalmente minerais, hidrocarburos e produtos agrícolas. No Equador e Peru, grande parte da produção é gerada pelos setores agrícola, pesqueiro e petroleiro; na Venezuela o petróleo e o gás natural contribuem com uma grande porcentagem ao PIB. Na Colômbia a importância econômica das atividades agropecuárias e minerais é substancial. (Gonzales, 2002) Com relação à composição das exportações, pode-se observar que em todos os países os principais produtos de exportação são recursos naturais não manufaturados. Se levamos em conta a importância dos recursos naturais para as economias da região, pode-se afirmar que sua exploração inadequada pode ter sérias conseqüências ao desenvolvimento e estabilidade da região. Portanto, foi necessário contar com marcos regulatórios que estão promovendo o aproveitamento sustentável dos recursos naturais e que garantem o crescimento econômico com igualdade de oportunidades, como é o caso da ERB. No gráfico 1 pode-se observar claramente como os recursos biológicos aumentaram consideravelmente dentro do PIB em cada um dos países da região andina em 20 anos, e como isso aumentou também o PIB da CAN em geral. A importância adquirida dos recursos genéticos e biológicos nos últimos anos é refletida nestas estatísticas com esse despertar das comunidades andinas em avaliar suas potencialidades, para abrir novas vias de desenvolvimento tanto econômico quanto social. Se por um lado o gráfico mostra essa situação, por outro, no Relatório sobre Desenvolvimento Humano de 2002, as cinco nações andinas foram avaliadas como países de desenvolvimento humano mediano. Uma análise mais detalhada permite observar diferenças marcantes entre os cinco países; por exemplo, na Venezuela a expectativa de vida alcança os 73 anos e, por enquanto, na Bolívia é quase 10 anos inferior. Assim mesmo, pode-se observar maior homogeneidade quanto aos indicadores relativos à educação, mas não para o PIB per capita, no qual, a Colômbia e a Venezuela ficam na ponta. Isso significa que em relação à produtividade de recursos, o índice de desenvolvimento humano pode ser melhorado se forem realizadas políticas que beneficiem os setores menos favorecidos, como é o caso da saúde, da educação e do saneamento básico. Embora a situação econômica, social e política dos países da região não seja a melhor, pode-se identificar que em matéria de proteção ao meio 4 ambiente, as normativas desses países têm evoluído consideravelmente, sendo renovadoras na proteção da biodiversidade por meio de legislações nacionais visando a proteger o patrimônio que possuem. Pode-se afirmar que a biodiversidade é também importante como recurso estratégico, nos ciclos dos bioelementos para manter a regulação do clima e para manter a viabilidade a longo prazo da agricultura, da pesca, e de outras atividades relacionadas com a segurança alimentar. Não obstante, a biodiversidade do planeta está diminuindo a um ritmo mais rápido que em qualquer outra época passada. Por exemplo, os bosques tropicais úmidos estão desaparecendo a uma taxa 40% maior do que há 10 anos atrás. Do mesmo jeito, mais de 50% da vegetação original da região dos Andes tem sumido como resultado dos impactos causados pelas atividades humanas descontroladas.iii Os países andinos não fogem dessa realidade, seus abundantes recursos naturais têm sido explorados de forma insustentável e sua disponibilidade para o desenvolvimento da região está sendo ameaçada pelos processos de degradação ambiental como a destruição da floresta, erosão, sedimentação, contaminação e urbanização acelerada em locais não apropriados para esse tipo de atividade. Gráfico 1. CONTRIBUIÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO PIB DA REGIÃO ANDINA (Milhões de dólares) 30000.00 25000.00 20000.00 BOLIVIA COLÔMBIA EQUADOR PERU VENEZUELA CAN 15000.00 10000.00 5000.00 0.00 1980 1990 2000 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos de CEPAL, 2001, GEOAndino 2003 Tabela .2 INDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E SEUS COMPONTENTES Classificação Países Expectativa de vida BOLÍVIA 114 62,4 COLÔMBIA 68 71,2 EQUADOR 93 70,0 PERU 82 68,8 VENEZUELA 69 72,9 Fonte: PNUD, 2002- GEO-Andino, 2003. Taxa de alfabetização % 85,5 91,7 91,6 89,9 92,6 Taxa de matricula % 70 73 77 80 65 PIB percápita (US$) 2.424 6.248 3,203 4.799 5,794 Valor IDH 0,653 0,772 0,732 0,747 0,77 5 Além disso, muitas das ameaças recentes à biodiversidade andina provêm derivam do processo de globalização em marcha, pois as políticas de abertura econômica, adiantadas nesse contexto, principalmente ao longo da década de 90, levaram a uma “re-primarização” das economias dos países da região, e, em conseqüência, ao incremento da exploração da biodiversidade. Assim, um dos maiores objetivos propostos pela comunidade global e particularmente pelos países megadiversos é a definição de estratégias que permitam fomentar o uso da biodiversidade com critérios de sustentabilidade, para a geração de oportunidades que contribuam ao desenvolvimento econômico e social e, portanto, a melhora da qualidade de vida de suas populações. 2 PROCESSO DE FORMAÇÃO DA ERB Durante a década dos anos 90 os países desenvolvidos e em desenvolvimento se comprometeram a conservar a biodiversidade e fazer bom uso sustentável dela. Em 1992, na Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas no Rio de Janeiro, os países desenvolvidos negociaram mecanismos para proporcionar recursos financeiros novos e adicionais para apoiar os países de menor desenvolvimento no cumprimento das obrigações do Tratado, e, por sua vez, os países em desenvolvimento concordaram em preparar estratégias nacionais para a preservação e o uso sustentável da biodiversidade. Tendo em consideração os acordos estabelecidos na Convenção do Rio, muitas comunidades científicas começaram a trabalhar para resgatar a importância dos recursos naturais da região andina, com o propósito de apresentar essas pesquisas aos governos, para que eles tomassem decisões a partir dos resultados científicos demonstrados. Essas organizações pertencentes aos cinco países da CAN realizaram pesquisas sobre a situação da biodiversidade andina e os possíveis benefícios que traria o bom aproveitamento do um uso sustentável desses recursos. Foi assim que instituições diversas participaram nas pesquisas e cooperaram para trazer a temática para os níveis políticos tanto nacionais quanto regionais. Entre as diversas instituições e organizações podemos mencionar as seguintes: Instituto Colombiano Agropecuário (ICA), o Instituto de Pesquisas de Recursos Biológicos Alexandre Von Humboldt (Colômbia), o Instituto de Estudos Ambientais (Colômbia) a Liga de Defesa do Meio Ambiente (Bolívia), Equador, Fundação Futuro Latino-americano no Equador, Efficacitas Consultora no Ekodes Consultores (Peru), Conservação Internacional (Peru), Instituto de Ecologia da Universidade de San Andrés 6 (Bolívia), Fund-eco (Bolívia), Fundação Konrad Adenuer, Instituto Andino de Glaciologia e Geoambiente, Fundação para a Preservação do Meio Ambiente Venezuelano. Pode-se apreciar que nas questões ambientais dentro dos países da CAN, as comunidades epistêmicasiv realizaram um papel importantíssimo, pois foram elas que com as suas pesquisas e os resultados obtidos conseguiram canalizar as preocupações existentes relativas aos recursos biológicos e genéticos da região, até poder influenciar não somente os governos locais e nacionais mas também conseguiram ultrapassar as fronteiras e chegar com aportes importantes na esfera legislativa regional. Em outros termos, o trabalho de inúmeras instituições e organizações ambientais de cada um dos países andinos permitiu que a problemática ambiental fosse discutida no âmbito parlamentar da integração regional. Para tanto, em junho de 1997, o Parlamento Andino organizou um Simpósio sobre Legislação e Gestão Ambiental na Região Andina, contando com o apoio das comunidades epistêmicas e das organizações e instituições ambientais regionais. Um dos resultados desse simpósio foi a proposta para o desenvolvimento de uma estratégia regional em biodiversidade como um dos temas de maior prioridade na agenda regional. Aqui passamos a outra esfera do processo de criação da ERB, que é relacionado com a questão de como essa demanda ambiental, em forma inicial como perspectiva acadêmica e científica, passou a ser temática importante dentro das negociações tanto entre os Chefes de Estado e as delegações de cada país, como também dos ministros do meio ambiente e de relações exteriores (Documento do BID ATN/SF-5887/1998). Foi assim que durante o XI Conselho Presidencial Andino, reunido em Cartagena em maio de 1999, os Presidentes considerando que os países membros da Comunidade Andina concentram aproximadamente 25% da diversidade biológica mundial, declararam que o patrimônio biológico representa um dos maiores recursos da região e uma fonte de oportunidades para o desenvolvimento dos países membros. Nesse sentido, reafirmaram que a conservação, a recuperação e o uso sustentável desse patrimônio biológico requer a concentração de políticas e estratégias comunitárias que garantam o desenvolvimento sustentável, contribuam para o aprofundamento e aperfeiçoamento do processo andino de integração e promovam uma distribuição eqüitativa de seus benefícios. No XII Conselho Presidencial realizado em Lima, Peru em 2000, os Chefes de Estado dos países membros aprovaram um programa mínimo de trabalho complementar para a integração, no qual dispuseram convocar uma reunião de alto nível das Autoridades Nacionais em matéria ambiental com o objetivo de realizar os trabalhos que conduziriam à adoção de uma estratégia de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Portanto, começou7 se a executar o projeto “Estratégia Regional de Biodiversidade para os Países do Trópico Andino” com o propósito de contribuir para a geração de alternativas viáveis de desenvolvimento regional sustentável, a partir dos recursos naturais e da concentração de posições conjuntas diante os diversos foros multilaterais. A Secretaria Geral da Comunidade Andina (SGCAN) em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) elaboraram o Convênio de Cooperação Técnica Não Reembolsável ATN/JF-5887-RG “Projeto Estratégia Regional de Biodiversidade para os Países do Trópico Andino”. Mediante Concurso Público Internacional de Méritos No. 001-99, a CAN contratou o Consórciov GTZ/FUNDECO/IE vi para que apoiassem a CAN e o Comitê Andino de Autoridades Ambientais (CAAAM) na formulação dessa Estratégia. O Objetivo foi desenvolver uma estratégia regional e um plano de ação para uma coordenação regional em temas chaves como conservação, recuperação e uso sustentável dos ecossistemas dos países andinos. Como parte desse projeto foram realizados cinco encontros (workshops) regionais, nos cinco países membros que versaram sobre os temas de: 1. “Biossegurança Regional”: Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Janeiro, de 23 a 26 de 2001. Organizado por: BID, Secretaria Geral da CAN, Vice-ministério do Meio Ambiente, Recursos Naturais e Desenvolvimento Florestal de Bolívia e Consórcio GTZ-FUNDECO-IE. 2. “Conservação de Ecossistemas Transfronteriços e Espécies Ameaçadas”: Lima, Peru. Março, de 26 a 28 de 2001. Organizado pelo BID, Secretaria Geral da CAN, Conselho Nacional do Ambiente (CONAM) e o Consórcio GTZ-FUNDECO-IE 3. “Conservação Ex-Situ”: Quito, Equador. Maio, de 29 a 31 de 2001. Organizado pelo BID, Secretaria Geral da CAN, Ministério do Meio Ambiente do Equador e o Consórcio GTZ-FUNDECO-IE. 4. “Acesso a Recursos Genéticos, Conhecimentos Tradicionais, e Repartição de Benefícios”: Ilha Margarita, Venezuela. Julho, de 17 a 19 de 2001. Organizado pelo BID, Secretaria Geral da CAN, Ministério do Ambiente e Recursos Naturais de Venezuela, e o Consórcio GTZ-FUNDECO-IE. 5. “Comércio, Valoração e Impacto de Megaprojetos de Infraestrutura”: Bogotá, Colômbia. Setembro de 25 a 27 de 2001. Organizado pelo BID, Secretaria Geral da CAN, Ministério do Meio Ambiente da Colômbia e o Consórcio GTZ-FUNDECO-IE. Como se pode observar, sendo a Bolívia e a Colômbia líderes na formulação da iniciativa, foram os países que tiveram o privilégio de inaugurar e encerrar os Encontros Regionais (Workshops), onde todos os países representados pelas suas comitivas debateram e negociaram a estratégia, que foi construída a partir da assessoria feita pelo convênio de cooperação técnica entre o Consórcio GTZ-FUNDECO-IE e os delegados peritos de cada país. 8 Em relação ao que foi afirmado anteriormente, no ano de 2002, os países andinos, na cúpula do Conselho Andino dos Ministros de Relações Exteriores, aprovaram a Estratégia Regional de Biodiversidade para os Países do Trópico Andino (ERB), por meio da Decisão 523. Ela foi o resultado de um processo iniciado em 1999 no XI Conselho Presidencial Andino realizado em Cartagena, e que manifestou a necessidade de estabelecer uma política regional comum sobre desenvolvimento sustentável e aproveitamento da riqueza que a Biodiversidade oferece dentro da região (CAN, 2002). A formulação da ERB tem sido produto de um intenso processo desenvolvido durante mais de cinco anos, no qual participaram ativamente mais de quinhentos representantes dos países andinos relacionados com a conservação e uso sustentável da biodiversidade nos cinco países. Eles são provenientes do setor público, de comunidades indígenas, afro-americanas e locais, do setor empresarial, acadêmico, sociedade civil e organismos internacionais, entre outros, o que permitiu dar um caráter multi-setorial ao processo e lograr uma proposta unificada que procurasse harmonizar os múltiplos pontos de vista. O processo de formulação da ERB esteve dividido em duas grandes fases: os Workshops (oficinas) Regionais e as Consultorias Nacionais. Nesse sentido, houve os cinco workshops e 13 consultorias nacionais em cada país. Isso permitiu fortalecer o intenso diálogo regional e contribuiu para reforçar os processos nacionais com o propósito de amadurecer as normas locais ambientais em cada um dos países membros (Consórcio GTZ/FUNDECO/IE, 2002, pp. 11-14). O documento da ERB se organiza em três partes. A primeira apresenta um diagnóstico da situação andina referente aos temas selecionados no nível sub-regional, como resultado dos documentos técnicos apresentados e discutidos nos workshops regionais. A segunda parte contêm o Marco Geral da Estratégia que inclui as linhas de ação e os resultados esperados para o ano 2010. A terceira parte do documento apresenta uma descrição dos instrumentos políticos econômicos e institucionais identificados para assegurar a implementação da ERB, concluindo com um esboço das ações imediatas que deverão ser realizadas no curto prazo para fazê-la viável. 3. ANALISE CRÍTICA Pode-se observar no conteúdo da ERB que o desejado desenvolvimento sustentável está impregnado em todos os lineamentos, diretivas, diretrizes, princípios e objetivos desenhados para tal fim. Sem embargo, pode-se encontrar também uma preocupação contínua inclusive em cada um dos cinco componentes negociados que é o tema do acesso aos 9 recursos genéticos e a distribuição de benefícios. O fato de os negociadores deixar no último lugar a temática do acesso aos recursos genéticos, conhecimentos tradicionais e repartição de benefícios, leva a entender que o que se desejava era construir progressivamente essa estratégia negociando cada um dos componentes prévios a esse para poder se obter assim um componente forte e coeso, pois a importância que a CAN atribui a essa temática é bastante notável: “Los conocimentos tradicionales y los recursos genéticos referidos a la biodiversidad, teiene como lo reconoce também la Decisión 391/1996 de la CAN, importancia estratégica internacional y regional, debido a que constituyen la llave para acceder más facilmente al aprovechamiento de los recursos de la diversodad biológica. Los compromisos que han concentrado la atención tanto internacional como regional son los relativos al aceso a los recursos genéticos, conocimentos tradicionales, transferencia de tecnologias y distribuición de benefícios (ERB, p.24- 25). Finalmente nas decisões 391 e 486 determina-se que é preciso definir uma norma que regule e proteja os processos de acesso aos recursos genéticos por serem vitais, e para obter deles um desenvolvimento sustentável que beneficie as comunidades andinas em geral e aumente a produtividade nacional dos países membros. Assim, pode se conferir que o propósito fundamental da ERB na sua implementação foi a de desenvolver habilidades específicas que permitiram fortalecer o componente de Acesso aos Recursos Genéticos a partir das experiências obtidas com os componentes prévios. Já passando a uma segunda análise crítica, e como foi observado no decorrer do presente artigo, os países andinos decidiram cooperar na construção de uma estratégia que daria conta do uso sustentável da biodiversidade regional como um dos elementos fundamentais para conseguir vias alternativas de aproveitamento dos recursos naturais que possui. Não obstante, é também importante analisar o papel dos atores que trabalharam numa perspectiva conjunta, e que pode ser resumido no fluxograma desenhado a partir do arcabouço teórico e das fontes primárias e secundárias sobre essa estratégia. Nesse fluxograma podemos observar claramente como esses institutos de pesquisa científica que operam na região andina (comunidades epistêmicas) trabalharam por muito tempo motivados nas suas pesquisas sobre a conservação da diversidade biológica e como manter esse recurso para benefício dos países que o possuem. Para tanto, depois de muito tempo foram elas que começaram a entrar em contato com outras comunidades para trocar a informação que possuíam e colaborar na obtenção das metas propostas. Assim, na realização do Simpósio sobre legislação ambiental organizado pelo Parlamento Andino (PAN), essas comunidades epistêmicas aproveitaram sua participação e 10 conseguiram canalizar as suas preocupações por intermédio dos parlamentares dos países membros. Uma vez concluído o simpósio sobre legislação ambiental nos países andinos, recolhidas as observações finais, o Parlamento Andino encaminhou a iniciativa ao Conselho Presidencial Andino que reunido em várias oportunidades delegou a responsabilidade da organização e criação dessa estratégia à SGCA. Por sua vez a SGCA determinou chamar o BID para que elaborasse um plano de trabalho a desenvolver e foi este quem determinou os parâmetros e as diretrizes a serem implementadas. O que é curioso aqui é poder ver como os países andinos delegam essa responsabilidade a instituições que impõem mecanismos de supranacionalidade e que podem afetar as políticas internas de cada um dos países que fazem parte dos blocos negociadores. Vargas (1997) explica que este fenômeno é parte essencial do mundo da Pós-guerra Fria, especificamente a partir das mudanças que trouxe o fim do bipolarismo, na qual o Estado antes aparecia mais como protagonista e quase exclusivo da vida social tanto interna quanto internacional, e que pouca relevância dava assim à multiplicidade de atores, interesses e poderes que estavam surgindo. Portanto, o Estado passou a ser compreendido como uma instituição integrada por múltiplos atores que exercem diversos poderes, interagem e influem nas decisões coletivas; e na arena internacional esses atores interagem com outros similares, junto ao fortalecimento de instituições e organizações internacionais que agruparam poder e começaram a abordar os Estados com implicações políticas e econômicas e portanto levaram a questionar o conceito de soberania, na qual muitos assuntos que antes eram internos agora passam a ser debatidos e negociados fora dos limites das fronteiras nacionais (Vargas, 1997 ) O quadro descrito é um claro exemplo de globalização e formação de redes trasnacionais que Castells (1996), Beck (1998), Garay (1999) e Libreros (2000) apontam especificamente nos seus estudos. Para Castells, com a aparição de redes e atores novos com novas capacidades de ação política, os Estados passam a ser concebidos como entidades políticas parcialmente autônomas encarregados dos direitos individuais, mas com atuações influenciadas pelo consenso trasnacional que adquire uma ampla margem de manobra em temas específicos e de índole mundiais. Isso significa que o que presenciamos com a ERB é simplesmente o que diz Garay quando afirma que a globalização é definida como os processos em virtude dos quais os Estados soberanos se inter-relacionam e atuam mediante os distintos atores trasnacionais e suas respectivas probabilidades de poder, orientações e identidades assim como a criação de vínculos e espaços transnacionais (Garay, 1999); ou seja, a globalização estabelece o 11 surgimento de redes e sujeitos com capacidades de acionar política e decisivamente nas funções que em princípio somente eram atribuídas aos Estados. Fluxograma: REDES DE ATORES NA CONSTRUÇÃO DA ERB. Comunidades Epistêmicas - Cientificas PAN SGCA BID CEPALPNUMA CAAAM IE/ FundEco / GTZ ERB Fonte: Desenho próprio a partir da informação obtida na ERB, Instituições da CAN Instituição Financeira Comunidades científicas Organismos Internacionais Consórcio contratado Produto final Relação entre instituições da Comunidade Andina Relação entre instituições da CAN e Órgão Financeiro Outras redes de analise internas e externas da ERB Assim, para complementar esta análise da construção da ERB, evoco a definição que faz Libreros na qual a Globalização foi o resultado de um processo de concentração da 12 riqueza por parte dos grupos financeiros transnacionais que levou ao deslocamento da tomada de decisões públicas dos Estados nacionais para os Organismos Multilaterais (caso OMC, BM, FMI, BID, acordos regionais de integração e demais) controlados de maneira corporativa por esses grupos, alimentando assim o espírito supranacionalista que essas instituições estão desenvolvendo recentemente (Libreros, 2000). Tais afirmações nos levam a pensar em que medida os paises andinos permitiram a ajuda do BID e porque este aceitou colaborar com fundos japoneses a elaboração da ERB. Em que forma essas comunidades epistêmicas tiveram a ver na decisão do BID de cooperar impondo como exigência a criação de um Comitê Andino Ambiental? Como foi construída essa rede entre as comunidades epistêmicas e como conseguiram influenciar tanto no PAN quanto na SGCA? Elas tiveram influência ou participaram no trabalho feito pelo consórcio IE/FUNDECO/GTZ? E finalmente como é o relacionamento entre as instituições externas à CAN entre elas mesmas e como influenciam no processo da funcionalidade atual e futura da ERB? Estas questões aqui enunciadas abrem uma nova pista de reflexão para uma pesquisa futura por fugir dos planejamentos iniciais e delimitados para o desenvolvimento do presente artigo. Conclusões Vale ressaltar que as questões ecológicas se, por um lado, são globais, por outro lado, confrontam interesses múltiplos que servem como instrumento de poder nas relações internacionais. Daí a importância de refletir sobre as dinâmicas e processos políticos nesta área, podendo oferecer elementos para as posições defendidas pelos países andinos sobre suas políticas de conservação e uso racional dos recursos biológicos e genéticos como também para os países que têm as tecnologias para desenvolver pesquisas e cuja matéria-prima é fundamentalmente aqueles recursos. A adoção da Estratégia marca o início de um diálogo ambiental na sub-região andina, o que está permitindo criar projetos para traduzir em ações concretas os objetivos propostos e ao mesmo tempo fortalecer e dar continuidade a esse diálogo iniciado orientando e facilitando a cooperação financeira internacional. A ERB constitui o código de ação de cinco países soberanos e megadiversos relacionado com o tema da biodiversidade e é uma evidente expressão das múltiplas vantagens e benefícios da integração andina, a partir da perspectiva do desenvolvimento sustentável. Também constitui uma expressão avançada de integração que permite augurar desenvolvimentos equivalentes em muitos outros âmbitos de importância para os cinco países membros da região andina (Consórcio GTZ/IE/FUNDECO, 2002 p. 14). 13 A cooperação internacional representa um instrumento de política exterior de grande importância, pois a concepção os objetivos, os mecanismos, e os instrumentos presentes nessa cooperação estabelecida, adotam variantes que podem ser capazes de satisfazer os diversos interesses dos Estados envolvidos. Este foi o caso dos países andinos que encontraram satisfazer suas preocupações sobre os recursos biológicos que possuem, negociando estrategicamente como poder atingir o melhor nível de beneficio tanto nacional quanto regional sobre esses recursos. Nessa mesma linha, concordamos com Plonsky (1994) quando afirma que a realização do esforço na cooperação apresenta quatro componentes: 1- um grau elevado de complexidade gerencial por envolver culturas diferentes e distâncias físicas consideráveis entre os países cooperadores; 2- assimetria entre os protagonistas no que se refere aos conhecimentos do objeto de cooperação e, freqüentemente também quanto à competência gerencial; 3- defasagem no tempo entre o resultado tangível da cooperação e a solução do problema para o qual a cooperação contribui; e 4- número elevado de interfaces organizacionais. Pode-se concluir, então, que a ERB apresenta esses quatro componentes no seu processo de construção e implementação, pois ela contém um elevado grau de complexidade na gestão pelo fato de se delegar algumas funções às instituições externas ao bloco regional. De outro lado, é bem sabido que embora os países andinos possuam uma cultura muito similar, não quer dizer que não têm diferenças entre elas. Portanto a assimetria entre os diferentes protagonistas que participaram na construção e execução da ERB pôde considerar essas diferenças e, de algum modo, realizar com sucesso a cooperação entre eles nos processos iniciais de cooperação. Desta mesma forma, pode-se concluir que a cooperação internacional constitui um instrumento importante no auxílio ao desenvolvimento dos países. O interessante da ERB é que é uma cooperação entre países do mesmo nível de desenvolvimento e que compartilham as mesmas preocupações e, além disso, são países megadiversos. A cooperação que se deu para construir essa estratégia, sem dúvida, é muito interessante e complexa pelo fato de ser feita entre países similares e na qual não há países prestadores e receptores, mas sim que compartilham muitos problemas, ao mesmo tempo em que têm vontade de procurar soluções conjuntas, apesar de grandes divergências político-econômicas. O anterior leva a concluir que a ERB entra na esfera da Política Ambiental Global como elemento que reforça os regimes de Biodiversidade e de Biossegurança, que se encontra em processo de fortalecimento institucional. Isto se deve ao fato de ser negociada 14 imediatamente após a aprovação do Protocolo de Cartagena. Existem, entretanto, fatores políticos econômicos internos e aspectos estruturais de cada nação, os quais devem ser considerados, pois poderiam afetar a cooperação que se vem apresentando no interior das negociações ambientais entre os países andinos, uma vez que eles têm consolidado o reconhecimento da importância dos recursos genéticos como fonte de desenvolvimento sustentável para essa região. Além das conclusões pontuais, pode-se afirmar que a ERB constitui um dos primeiros esforços da sub-região em desenvolver uma plataforma integral para a ação comunitária, promovendo a cooperação entre os países membros e projetando-os com uma nova identidade, própria e diferencial para o resto da comunidade internacional. É também uma das primeiras estratégias de caráter comunitário adotada sobre esta matéria por um grupo de paises signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica e uma contribuição específica para alcançar os objetivos dessa Convenção. Simultaneamente, constitui-se num valioso instrumento para elevar a própria percepção dos povos andinos sobre a importância de seu rico patrimônio cultural e uma base fundamental para a sustentabilidade da bacia amazônica no seu conjunto. Ao mesmo tempo, constitui uma ferramenta de fundamental importância para lograr novas formas de relação entre países regiões e continentes. Espera-se, no entanto, que a ERB tenha sucesso e possa atingir cada um dos seus objetivos e, portanto, seja um exemplo a seguir por muitos outros países megadiversos que poderiam cooperar em conjunto nas suas respectivas regiões e assim poder manter uma governança ambiental global, pois os resultados não muito alentadores das últimas negociações multilaterais estão levando a consolidar este tipo de mecanismos de negociações por serem mais pertinentes na identificação de objetivos e por compartilhar interesses comuns tanto para cada país quanto para a região na qual pertencem. NOTAS i Dados extraídos da ERB/CAN-BID. 2002. p. 11 ii Dados extraídos da ERB/CAN-BID. 2002. p. 11 iii Dados obtidos do documento introdutório da ERB. (2002) iv Quem define o conceito de comunidade epistêmica é Peter Hass (1993, p. 3) que o caracteriza como uma rede de profissionais de várias disciplinas e origens com reconhecida especialização e competência num domínio particular, e com um valor de autoridade sobre conhecimentos politicamente relevantes naquele domínio ou área que compartilham. v Um consórcio é um grupo constituído para executar uma ordem. O consórcio é fundado num contrato no qual se regulamenta a cooperação entre seus membros determinando quem é o coordenador que assume a representação do consórcio diante das outras instituições e, particularmente, diante do contratante. vi GTZ: Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit, Cooperação Técnica Alemã. É uma empresa federal alemã que trabalha para contribuir positivamente ao desenvolvimento, político, econômico e social dos países em desenvolvimento e que realizam processos de reformas para melhorar as condições de vida e as perspectivas da população. Além disso, apóia processos complexos de desenvolvimento e reformas contribuindo ao desenvolvimento sustentável no mundo. É uma empresa de direito privado fundada em 1975 e atua também 15 por encargo de outros ministérios de outros países e de contratantes internacionais como a União Européia, ONU, Banco Mundial, entre outros. FUNDECO: Fundação para o Desenvolvimento da Ecologia, criada pela cooperação técnica alemã que apóia as atividades acadêmicas de pesquisa e prestação de serviços do Instituto de Ecologia da Univesidade Mayor de San Andrés na Bolívia. Está legalmente estabelecida pela Resolução Suprema No. 21284 e está integrada por diferentes professionais de áreas ambientais, e com ampla experiência na conservação da biodiversidade e gestão ambiental. Nos últimos anos tem trabalhado com diversas instituições de alto prestígio internacional, construindo parcerias na execução de projetos ambientais especialmente com a GTZ. IE: Instituto de Ecologia da Universidade de San Andrés, é um centro de pesquisa e prestação de serviços na área ambiental, considerado como um dos mais importantes na região andina e amazônica. Mediante convênio, a Fundeco colabora com o IE na gestão administrativa, financeira e nas execuções de projetos científicos de organismos governamentais, não governamentais, privados e de cooperação internacional e nas consultorias de temáticas ambientais. Bibliografia ACUERDO DE CARTAGENA. Codificación del Acuerdo de Integración Subregional Andino. Cartagena 1996. ALBAGLI, Sarita. Geopolítica da Biodiversidade. 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