Gerenciando com o cérebro em mente Pesquisa da neurociência mostra a natureza social do local de trabalho de alto desempenho. Por David Rock Naomi Eisenberger, uma pesquisadora líder de neurociência social da Universidade da California, Los Angeles (UCLA), buscou entender o que acontece no cérebro humano quando se sente rejeitado por outros seres humanos. Ela criou um experiência cientifica na qual voluntários jogavam um jogo chamado “Cyberball” enquanto o cérebro de cada participante era monitorado por um equipamento de ressonância magnética funcional (fMRI). O jogo de Cyberball lembra das maldades que aconteciam no recreio escolar. “Os voluntários pensavam que estavam jogando um jogo de arremesso de bola através da internet”, explica Eisenberger. ”Eles podiam ver um avatar que representava o próprio jogador e outros avatares (supostamente) para duas outras pessoas. Depois da metade do jogo com os três jogando a bola um para o outro, os sujeitos paravam de receber a bola e os outros dois supostos jogadores só jogavam a bola entre si.” Mesmo depois de terem descoberto que não havia outro jogadores humanos envolvidos, eles se sentiam zangados, esnobados ou julgados, como se os outros avatares não gostassem deles por algum motivo. Esta reação pode ser diretamente vinculada a respostas do cérebro. “Quando pessoas se sentiam excluídas” diz Eisenberg, “podíamos observar uma atividade na área dorsal do córtex cingulado anterior – a área neuronal envolvida no componente de estresse da dor, ou, o que se as vezes é referido como o componente de sofrimento da dor. As pessoas que mais se sentiam rejeitadas tinham uma atividade mais alta nesta região. (veja imagem). Recentemente , pesquisadores documentaram que a resposta por ameaça é frequentemente ativada em situações sociais e tendem a ser mais intensas e duradouras do que as repostas dadas por sensação de reconhecimento. Dados levantados através de medições das atividades cerebrais, usando fMRI e máquinas de eletroencefalogramas (EEG) ou medições de secreções hormonais – sugerem que a mesma resposta neuronal que nos leva à buscar comida ou nos avisa de perigos é ativada pela nossa percepção de como somos tratados por outras pessoas. Estas descobertas estão reformulando a visão prevalecente sobre o papel que impulsionadores sociais exercem para influenciar o comportamento humano. Matthew Lieberman aponta que a teoria de Abraham Maslow sobre a “Hierarquia das Necessidades” pode estar equivocada em certos aspectos. Maslow propõem que seres humanos tentam satisfazer as suas necessidades em uma certa sequência, começando com a sobrevivência fisiológica situada na base da pirâmide e se movendo para cima até a realização pessoal no topo da pirâmide. Nesta hierarquia, a necessidade social está situado no meio da pirâmide, mas estudos mostram que o cérebro iguala as necessidades sociais as da sobrevivência; por exemplo estando com fome e sendo rejeitado ativa respostas neuronais similares. A resposta por ameaça é tanto mentalmente repressora quanto mortal à produtividade de uma pessoa ou organização. Pelo fato destas respostas usarem oxigênio e glicose do sangue, os mesmos são desviados de outras partes do cérebro, incluindo a função da memória, que processa novas informações e ideias. Isto impede o pensamento analítico, insights criativos e a solução de problemas; em outras palavras, exatamente quando as pessoas mais precisam da sua capacidade mental sofisticada, os recursos internos do cérebro são tirados delas. O impacto da dinâmica neuronal pode ser visto com frequência nas organizações. Por exemplo, quando um líder aciona uma resposta de ameaça nos funcionários, seus cérebros se tornam menos eficientes. Ao contrário, quando um líder faz com que as pessoas a sua volta se sentam bem sobre si mesmas, quando ele comunica claramente as suas expectativas, dá autonomia de decisão aos empregados, apoia o esforço das pessoas na criação de boas relações e trata toda a organização de forma justa, aciona-se uma resposta por recompensa. Outros na organização se tornam mais eficientes, mais abertos a ideias e mais criativos. Eles notam o tipo de informação que é assimilada quando o medo e ressentimento torna difícil focar a atenção. Os funcionários são menos suscetíveis a burnout (depressão por esgotamento) porque conseguem administrar o estresse. Eles se sentem intrinsicamente recompensados. Entendendo as respostas por ameaça e por recompensa pode ajudar lideres a implementarem mudanças de grande escala. Os registros de tentativas mal sucedidas para motivar um comportamento de alta performance levou muitos gestores a concluírem que a natureza humana é simplesmente inacessível para mudança: ”Não se pode ensinar novos comandos a um cão velho.” No entanto, a neurociência descobriu que o cérebro humano e altamente plástico (moldável). Conexões neuronais podem ser remoldadas, novos comportamentos podem ser aprendidos e mesmo os comportamentos mais enraizados podem ser modificados em qualquer idade. O cérebro só fará estas mudanças se ele estiver engajado em um processo consciente de atenção plena. Este é o estado de pensamento que acontece quando alguém observa os próprios processos mentais (ou, numa organização, dando um paço para trás para observar a dinâmica de uma conversa enquanto ela acontece). Atenção plena requer serenidade e concentração; num estado em que as pessoas se sentem ameaçadas é mais provável que atinjam um estado de “estupidez plena”. A atenção delas é desviada pela ameaça e elas não conseguem facilmente entrar em um processo de auto descoberta. Em um atrigo anterior (“The Neuroscience of Leadership – A Neurociência da Liderança,” s+b, Summer 2006), a neurocientista Jeffrey Schwartz e eu propomos que organizações podem conduzir mudanças organizacionais com processos de atenção plena. As organizações podem fazer isso pouco a pouco, implementando uma rotina na qual as pessoas podem observar o padrão de seus pensamentos e sentimentos enquanto trabalham, desenvolvendo assim uma maior autoconsciência. Nosso argumento é de que este é o único caminho para mudar comportamento organizacional. Os incentivos do tipo “faça isso e ganhe um bônus” (e psicologia comportamental) não funcionaram e o aconselhamento e a empatia gerados ao longo do desenvolvimento organizacional não foram suficientemente eficientes para fazer a diferença. O colega de Eisenberger, Matthew Liebermann, também da UCLA, montou a hipótese de que os seres humanos desencadearam esta associação entre conexão social e desconforto físico “porque, para um mamífero, ser socialmente conectado aos que lhe dão cuidado é necessário para a sobrevivência.” Este estudo e muitos outros que estão emergindo tornam uma coisa muito clara: O cérebro do ser humano é um órgão social. Sua fisiologia e reações neurológicas são direta e profundamente moldadas pela interação social. De fato, como Lieberman coloca, “A maioria dos processos que operam no plano de fundo quando o seu cérebro esta descansando estão conectados com o pensar em outras pessoas e sobre si mesmo.” Isto apresenta um enorme desafio para líderes. Embora um emprego seja frequentemente visto como uma pura transação econômica na qual pessoas trocam seu trabalho por uma compensação financeira, o cérebro experiencia o espaço de trabalho primeiramente como um sistema social. Assim como os participantes do experimento com os avatares que foram excluídos do jogo, pessoas que se sentem traídas ou não reconhecidas no trabalho – por exemplo, quando são repreendidas, lhe são dadas tarefas que parecem insignificantes ou quando descobrem que terão um corte salarial – experienciam isso como um impulso neuronal tão poderoso e doloroso como um golpe na cabeça. A maioria das pessoas que trabalham no corporativo aprendam a racionalizar ou manipular suas reações; como diz o ditado popular, elas “engolem o sapo”. Mas elas também limitam seu comprometimento e envolvimento com a empresa. Elas se tornando empregados puramente transacionais, que relutam a dar mais de si mesmos pela empresa, pois o contexto social as está bloqueando. Líderes que entendem esta dinâmica podem de um modo mais eficiente engajar os talentos de seus empregados, apoiar equipes colaborativas e criar um ambiente que promove mudanças produtivas. De fato, a habilidade de acionar o cérebro social intencionalmente a serviço de uma performance ideal será uma capacidade de liderança distinta para os anos que seguirão. Fonte: strategy+business issue 56, Autumn 2009 David Rock ([email protected]) is the founding presidente of the NeuroLeadership Institute (www.neuroleadership.org). He is also the CEO of Results Coaching Systems, which helps global organizations grow their leadership teams, using brain research as a base for self-awareness and social awareness. He is the author of Your Brain at Work (HarperBusiness, 2009) and Quiet Leadership: Six Steps to Transforming Performance at Work (Collins, 2006). Tradução: Thomas Per Erichsen Revisão: Ana Münzner Para o artigo completo em inglês, visite: http://www.davidrock.net/files/ManagingWBrainInMind.pdf