2013-05-06 - H Lerouge - Hitler-Alemanha

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Pelo Socialismo
Questões político-ideológicas com atualidade
http://www.pelosocialismo.net
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Publicado na Revista “Études Marxistes” n.º 101 e em: http://www.marx.be/fr/donnez-moi-quatre-ans
Tradução do francês de TAM
Colocado em linha em: 2013/05/06.
«Dêem-me quatro anos e não
reconhecerão a Alemanha»
Herwig Lerouge
80º Aniversário da tomada do poder por Hitler
Em 30 de janeiro de 1933, quando Hitler chega ao poder, começa uma era de crimes contra
a humanidade, cada qual o mais horrível. Em doze anos, os nazis puseram de pé uma
ditadura sanguinária, provocaram uma guerra mundial e a morte de 70 milhões de
pessoas, planificaram e executaram um genocídio em escala industrial.
Na sua declaração governamental de 1 de fevereiro de 1933, Hitler prometia ao povo
alemão a melhoria da situação dos trabalhadores e dos camponeses e a manutenção e
consolidação da paz. «Dêem-me quatro anos e não reconhecerão a Alemanha»,
profetizava ele1. Depois de quatro anos de guerra, a Alemanha, tal como a Europa,
destruídas, tinham-se, de facto, tornado irreconhecíveis.
Perguntamo-nos como pôde o fascismo chegar ao poder na Alemanha, quem foram os
responsáveis e como impedir o seu regresso. Um conhecimento científico das origens da
natureza profunda do fascismo reforça o combate de hoje.
Um golpe de Estado legal
Em 30 de janeiro de 1933, o presidente alemão Hindenburg nomeia como Primeiroministro Adolf Hitler, o dirigente do Partido nacional-socialista alemão (nazi). Hindenburg
tinha voltado a ser presidente em março de 1932. Os nazis propunham Hitler. O Partido do
Centro apoiava o presidente em fim de mandato, o monárquico Hindenburg. O Partido
Socialista alemão recusava apresentar um candidato em comum com o Partido Comunista
(KPD) e apoiava Hindenburg sob a palavra de ordem: «Derrotar Hitler – votar
Hindenburg». O KPD conduzia a campanha sob a palavra de ordem: «Votar Hindenburg é
votar em Hitler. Votar Hitler é votar a favor da guerra». Nove meses mais tarde, o
presidente Hindenburg nomeava Hitler. Nem nove anos passados, foi mesmo a guerra.
1
Ver, designadamente Thierry Feral, Le nazisme en dates [O nazismo em datas(NT)] (novembre 1918novembre 1945), Éditions L’harmattan, 2010, p. 173.
1
O primeiro governo de Hitler tinha apenas três nazis, entre os quais o próprio Hitler. Não
chegou ao poder através de uma vitória eleitoral, nem na base de uma maioria
parlamentar. Não se atrevia sequer a apresentar-se perante o Parlamento, porque era
minoritário. Preferiu dissolver o Parlamento e organizar novas eleições que foram
marcadas para 5 de março.
Este compasso de espera deu-lhe a oportunidade de governar cinco semanas sem controlo
parlamentar. Tratou-se de um golpe de Estado legal, pois a Constituição alemã da época
permitia ao Presidente dissolver o Parlamento ou suspendê-lo temporariamente.
Um regime de terror
Em 4 de fevereiro, Hindenburg dá uma ordem urgente que proíbe qualquer crítica ao
governo, suprime a liberdade de reunião e de imprensa do Partido Comunista da
Alemanha (KPD) e de outras organizações de esquerda. O KPD estava então a trabalhar na
campanha eleitoral.
Em 27 de fevereiro, um anarquista holandês desequilibrado provoca o incêndio do
Reichstag, o Parlamento alemão. Muitos historiadores estão convencidos de que o incêndio
foi de facto provocado por um destacamento das Secções de Assalto (SA) nazis. O que se
segue confirma a tese da provocação planeada. Antes de qualquer inquérito, a rádio afirma
que a culpa é dos comunistas. Na mesma noite, na base de listas preparadas de antemão,
mais de 10 000 comunistas, socialistas e progressistas são presos. Toda a imprensa
comunista e vários jornais socialistas foram proibidos. A liberdade de imprensa e de
reunião são suspensas.
Apesar desta repressão, as eleições não dão uma maioria aos nazis nem uma maioria de
dois terços ao governo de coligação dirigido por Hitler. Para a obter, o governo elimina os
81 mandatos do KPD, sem que nenhum partido tivesse protestado. Nem mesmo o Partido
Socialista. Ficando o assunto resolvido, o Parlamento vota uma moção de confiança e
autoriza de seguida o governo de Hitler a decretar leis sem o seu consentimento. Foi de
facto uma autodissolução. Os socialistas votam contra a declaração governamental, mas
consideram democráticas as eleições, apesar da repressão.
Em dois anos, os nazis proibiram os partidos políticos, mataram mais de 4 200 pessoas,
prenderam 317 800 opositores, dos quais 218 600 foram agredidos e torturados. Em 20 de
março de 1933, o comissário nazi da polícia de Munich, Himmler, criou, nas instalações de
uma antiga fábrica de pólvora de Dachau, o primeiro campo de concentração destinado a
prisioneiros políticos. Quarenta outros se lhe seguirão no mesmo ano.
Tenho milhões atrás de mim
Hitler não foi, pois, eleito democraticamente, como muitas vezes se ouve dizer. Na
realidade, a decisão de nomear o chanceler tinha sido tomada algumas semanas antes, em
3 de fevereiro, na villa do banqueiro von Schröder. Até então, os grandes industriais e
banqueiros tinham estado divididos a seu respeito.
Com várias repetições entre 1918 e 1923, os círculos mais à direita da classe dirigente
tinham tentado, através de golpes de Estado e de uma ditadura militar (o putsch de Kapp
2
em 1920), desembaraçar-se do sistema parlamentar, suprimir os direitos importantes
adquiridos pelos trabalhadores por ocasião da revolução de novembro de 1918, para se
vingarem assim do que tinham perdido. Estes círculos apoiavam-se numa parte das forças
armadas e em numerosas organizações reacionárias. Uma delas, o NSDAP (Partido
nacional-socialista dos trabalhadores alemães) tinha na Baviera uma inquestionável
influência local. Hitler tinha sido enviado pelo exército como informador no interior deste
partido, uma vez que ainda era militar. Numerosos industriais viam já nessa época no
NSDAP uma das organizações que valia a pena serem apoiadas. Financiaram-no.
Os homens políticos da burguesia alemã tinham retirado lições do fracasso do putsch de
Kapp de 1920 e de todas as tentativas de pôr fim à república de Weimar de modo violento.
Tendo em conta a organização e a força do movimento operário alemão, não se podia
encarar no futuro uma tentativa de putsch. Em 1923, o patrão siderúrgico Stinnes dizia ao
embaixador americano: «É preciso encontrar um ditador que tenha o poder de fazer tudo
o que é necessário. Um tal homem deve falar a língua do povo e ser ele próprio um civil;
nós temos um homem assim2.»
Com a crise económica de 1929, estes mesmos círculos decidiram apostar no partido de
Hitler, que recebeu da sua parte um apoio acrescido. Sem os seus milhões, Hitler nunca se
teria tornado tão importante. Puseram à sua disposição hangares desativados que
transformaram numa versão nazi do Exército de Salvação. Podiam encontrar-se aí infelizes
sem trabalho para comerem um prato de sopa e uma cama para dormir. Antes de se terem
dado conta, puseram-lhes em cima um uniforme e desfilaram em passo de ganso atrás da
bandeira nazi. Durante a campanha presidencial de 1932, os nazis colaram milhões de
cartazes, imprimiram doze milhões de números especiais do seu sórdido jornal e
organizaram 3 000 comícios. Pela primeira vez, usaram filmes e discos. Hitler utilizava um
avião privado para se deslocar de um comício para outro. Em 1932, o partido nazi tinha
milhares de funcionários e só a manutenção das SA (secções de assalto) custava dois
milhões de marcos por semana. Quem pagava tudo isso? Não eram certamente os
desempregados que eram membros do partido nazi…
Nas eleições federais de setembro de 1930, o NSDAP tornou-se o segundo partido, com
mais de 6 milhões de votos. Os representantes mais importantes da classe dirigente
opinam a favor da formação de um governo com ele. Hitler é convidado a expor as suas
ideias perante os círculos de grandes capitalistas e vários deles aderem ao partido. O
diretor da empresa Siemens, Carl Friedrich von Siemens, pronuncia em 27 de outubro de
1931 um discurso perante alguns dos principais membros da finança americana, para
dissipar os receios que suscita uma tal subida dos nazis ao governo. Insiste sobretudo na
vontade manifestada pelos nazis de erradicar o socialismo na Alemanha. A 26 de janeiro de
1932, no Düsseldorfer Industrieklub, Fritz Thyssen, o magnata da siderurgia, organiza uma
conferência de Hitler perante mais de cem grandes patrões, na qual este assegura que o seu
movimento vê na propriedade privada o fundamento da economia alemã e que o seu
objetivo principal é erradicar o marxismo pela raiz na Alemanha.
Em frente depressa antes que seja tarde demais
2
Kurt Gossweiler, «De Weimar à Hitler: les causes de l’avènement de la dictature fasciste [De Weimar a
Hitler: as causas do advento da ditadura fascista (NT)] », Études marxistes, no 67-68, p. 18.
3
Mas foi ainda necessário um ano, antes que os patrões confiassem a chancelaria a Hitler.
Tinham medo da reação do movimento operário. Além disso, entregavam-se a violentas
lutas pelo poder, cada um a querer tomar o comando da ditadura que estava para vir.
Mas, nas eleições federais de 6 de novembro de 1932, o Partido Comunista da Alemanha
aumentou fortemente a sua influência entre os trabalhadores, em detrimento do Partido
Socialista, que perde cada vez mais a sua influência na classe operária. O capital teme uma
sublevação revolucionária. O NSDAP perde dois milhões de votos. Se o partido sofre mais
uma perda importante corre-se o risco de arruinar todas as esperanças do grande
patronato. Põem no armário as suas querelas internas e decidem confiar mais rapidamente
o poder ao partido de Hitler.
Em 19 de novembro, banqueiros, grandes industriais e grandes proprietários de terras
pedem ao presidente Hindenburg que nomeie Hitler para a chancelaria. O encontro entre o
Primeiro-ministro em exercício, von Papen, e Hitler, na villa do banqueiro von Schröder, a
4 de janeiro de 1933, selou os acordos que conduziram ao 30 de janeiro de 1933.
Alguns patrões ainda têm dúvidas sobre a capacidade de Hitler para controlar o seu
movimento em marcha, inflamado pelos discursos demagógicos contra o grande capital.
Mas Hitler sossega-os. Em 20 de fevereiro de 1933, recebe a alta-roda do grande capital
alemão. A ala dita anticapitalista do partido, que tinha acreditado na demagogia de Hitler e
pensava que os nazis tomariam também medidas contra o grande capital, foi eliminada.
Durante a noite das facas longas, em 30 de junho de 1934, Hitler manda assassinar 1 000
quadros das suas próprias secções de assalto (SA).
Foram os Thyssen, os Krupp, os Siemens e outros que determinaram a política económica
de Hitler. Bastava ver a composição do Alto comité económico do governo nazi. Aí
encontramos Gustav Krupp von Bohlen, rei da indústria do armamento, Fritz Thyssen,
barão do aço, C. von Siemens, rei da electricidade, Karl Bosch, da indústria de corantes.
O governo de Hitler bloqueia os salários no já muito baixo nível de 1932, onde tinham
estagnado por causa da crise. Os trabalhadores são privados de todos os seus direitos e
ameaçados de prisão num campo de concentração se fizessem greve.
A lei nazi de 15 de maio de 1934 limita a liberdade de mudar de patrão. Foi introduzido um
livrete de trabalho em fevereiro de 1935. Sem este documento, nenhum trabalhador pode
ser contratado. Tal como na Bélgica do século XIX, um operário que queira ir trabalhar
para outro lado pode ser impedido de o fazer pelo seu patrão se for o detentor do seu
livrete de trabalho.
O fascismo levou a lógica do capitalismo ao seu pior extremo. A busca da competitividade
leva a uma espiral descendente dos salários e dos direitos sociais. O fascismo levou a
competitividade das fábricas alemãs a cúmulos nunca antes atingidos. Nos campos de
trabalho, o custo salarial e os encargos sociais são praticamente reduzidos a zero. Entre as
empresas que rivalizavam para obter a maior quantidade possível de mão-de-obra
proveniente dos campos de concentração, encontra-se a nata do grande capital. Para
poupar nos custos de transporte, várias fábricas construíram as suas instalações nos
arredores mais próximos do campo.
4
O problema do desemprego resolve-se enviando uma parte dos desempregados para o
exército, uma outra para as fábricas de armamento. As duas partes são assim obrigadas a
preparar a sua própria morte e a de dezenas de milhões de outros.
Uma catástrofe evitável
Falar da «facilidade» com que o fascismo conquistou a vitória em 1933 é falso. O combate
que a classe operária da Alemanha travou contra a extrema-direita em marcha durou
quinze anos, antes que a ditadura fascista conseguisse ser instaurada; nesta luta, dezenas
de milhares de operários perderam a vida debaixo das balas do inimigo e se, finalmente,
eles não conseguiram impedir o estabelecimento da ditadura fascista, não foi pela
superioridade do fascismo, mas apenas porque a ação dos trabalhadores foi paralisada por
alguns dos seus dirigentes. Segundo o grande historiador alemão Kurt Gossweiller,
especialista em fascismo, esta catástrofe poderia ter sido travada, mas apenas pelo
movimento operário numa frente unida, pelo combate de massas unido de todos os
antifascistas, inclusive por lutas extraparlamentares.
O Partido Comunista Alemão era a única força política a opor ao fascismo uma hostilidade
irreconciliável. Sem dúvida que ele subestimou o perigo durante demasiado tempo mas,
assim que tomou consciência dele, foi o primeiro a mobilizar todos os meios e todas as
forças necessárias para impedir a tomada de poder pelos fascistas. Mas não foi
suficientemente forte para sublevar sozinho os trabalhadores, sem e contra a direção
socialista. Sem dúvida que poderia ter feito mais esforços e mais cedo para criar uma frente
com os trabalhadores socialistas. Mas é muitíssimo duvidoso que a resposta do Partido
Socialista a este esforço tivesse sido positiva.
No período de preparação da ditadura fascista, os dirigentes da ala direita da socialdemocracia desempenharam um papel muito negativo. A classe operária precipitou-se
numa miséria indescritível. O governo do socialista Müller pôs em prática, desde o começo
da crise de 1929, uma política antioperária e pró-capitalista draconiana: em 1929, os
capitalistas obtêm 1,37 mil milhões de marcos de diminuição de impostos. Os impostos
(sobretudo os indiretos) e as taxas que atingem a massa da população aumentam: as taxas
sobre os produtos de primeira necessidade aumentam 2 mil milhões de marcos em 1929.
Este governo votou um plano que suprime ou diminui os subsídios de desemprego para 1,2
milhões de desempregados. O número dos excluídos dos subsídios de desemprego
aumenta de 500 000, em 1927, para mais de um milhão, em 1930. Em janeiro de 1930,
80% dos sem-trabalho beneficiam de subsídio de desemprego. Em dezembro do mesmo
ano, não serão mais de 57%.
De «mal menor» em «mal menor» até Hitler
Em março de 1930, a direita faz excluir os socialistas do governo nacional. Chega o governo
de Brüning do Partido do centro, que faz do «saneamento das finanças públicas» o ponto
principal do seu programa. Em nome do «mal menor», quer dizer, para «evitar o
fascismo», a social-democracia abandona a sua oposição parlamentar ao governo Brüning.
Decide «tolerar» o governo e votar contra qualquer moção de censura no parlamento.
Em novembro de 1931, o governo decide mesmo uma diminuição de 10 a 15% dos salários,
a anulação dos contratos coletivos existentes, o retorno dos salários ao nível de 10 de
5
janeiro de 1927, a supressão do direito à greve, a diminuição dos subsídios sociais e o
aumento dos descontos, o adiamento por um ano das eleições sociais e a proclamação do
estado de exceção. Na prática, estes decretos significavam uma diminuição real dos
salários de 27 a 29% e conduziam praticamente à supressão dos direitos democráticos dos
trabalhadores. Enquanto denunciava isto na sua imprensa, o PSA permite, com a
abstenção dos seus deputados, o voto a favor desta legislação.
Os dirigentes socialistas atacam mais os comunistas que os fascistas. No 1º de maio de
1929, o chefe da polícia de Berlim, socialista, proíbe as manifestações e dá ordem de fogo
contra os 200 000 operários que, mesmo assim, se manifestavam. Mata 33 manifestantes.
Proíbe o jornal do KPD e, a 3 de maio, o ministro socialista do Interior da Prússia proíbe a
Frente vermelha de combatentes, a organização de autodefesa antifascista do KPD.
Ao longo de 1930, mais de 80 antifascistas são assassinados pelas SA, as tropas de choque
nazis. Um clima de violência alastra a toda a Alemanha. Mas Hitler faz o papel do
governante respeitável, respeitador da legalidade. O PSA está quase a acreditar nisso. O
jornal socialista Vorwärts de 3 de dezembro de 1931 escrevia: «Se estivéssemos seguros de
que uma vez no poder os nacional-socialistas cumpririam as regras do jogo democrático
que eles afirmam cumprir para chegar ao poder, então estaríamos dispostos a deixá-los
entrar no governo e o mais depressa possível.»
Mesmo face à ameaça direta do fascismo, recusaram aliar-se aos comunistas. Quando em
maio de 1932 a direita no poder em Berlim destituiu o governo socialista minoritário da
Prússia, o único governo regional socialista que sobrava, a direção do PSA protestou
verbalmente, mas submeteu-se. Classificou como «provocação» a proposta comunista de
apelar em conjunto à greve geral.
Apesar disso, a direita e os fascistas não tinham forças para afrontar uma resistência ativa
do PSA, da sua organização de luta Reichsbanner, do sindicato, do KPD e da FRC3. Julho
de 1932 era provavelmente a última hipótese de impedir o fascismo de chegar ao poder. O
nazi Goebbels dizia nesse momento: «Os vermelhos deixaram passar a grande ocasião.
Ela não se repetirá4.»
Em 30 de janeiro de 1933, os dirigentes socialistas rejeitam de novo a oferta de greve geral
do KPD. Enquanto Hitler «não violasse a constituição», eles não queriam entrar na luta.
Era preciso esperar pelas eleições de 5 de março. Mesmo o terror contra os comunistas e
alguns socialistas, depois do incêndio do Reichstag, não mudou a sua posição.
Ainda em março de 1933, o chefe dos sindicatos socialistas, Leipart, oferece a sua
colaboração a Hitler. «Os sindicatos estão prontos… a entrar em colaboração permanente
com as organizações patronais. O controlo pelo Estado (fascista [NA]) de tal colaboração
poderia, em certas circunstâncias, aumentar o seu valor e facilitar o seu
funcionamento…», disse ele5.
Frente vermelha de combatentes, a organização de luta do KPD.
4 Baay, «Der andere 20 Juli», Die Zeit, no 29, 21 julho de 1972.
3
5
Françoise Knopper, Gilbert Merliop, Alain Ruiz, Le National socialisme, une révolution ?, [O Nacional
socialismo, uma revolução ? (NT)] Presses Universitaires du Miral, p. 156.
6
No 1º de maio de 1933, os nazis e os patrões apelam aos operários a que participem em
massa nas manifestações organizadas pelo regime. Os dirigentes sindicais bebem o cálice
da vergonha até ao fim e juntam-se a este apelo. Isso não lhes serve de nada. No dia
seguinte, os principais dirigentes sindicais são presos e os bens dos seus sindicatos
confiscados.
Mas o PSA vai ainda mais longe. Em 17 de maio, os deputados social-democratas votam a
favor da «revolução pacífica» de Hitler no Reichstag. Tratava-se da exigência de revisão
do tratado de Versalhes, com o objetivo de levantar qualquer barreira aos projetos
expansionistas alemãs. Este servilismo também não beneficia em nada o PSA. Um
considerável número de funcionários socialistas e sindicais, entre os quais o tristemente
célebre ministro do Interior da Prússia, Severing, não hesitam em passar-se para os nazis.
Em 1935, Georges Dimitrov, o dirigente da Internacional comunista dirá: «A vitória do
fascismo era inevitável na Alemanha? Não, a classe operária alemã podia esconjurá-la.
Mas, para isso, ela devia ter obrigado os chefes da social-democracia a terminar a sua
campanha contra os comunistas e aceitar as repetidas propostas do Partido Comunista
sobre a unidade na ação contra o fascismo. Deveria ter respondido em favor de uma
verdadeira luta de massas que teria entravado os planos fascistas da burguesia alemã6.»
Para saber mais sobre as origens do fascismo, sobre as forças que o levaram ao poder,
sobre a resistência, eis algumas fontes:
. Kurt Gossweiler, « Hitler, l’irrésistible ascension ? [Hitler, a ascensão irresistível ?
(NT)]», Études marxistes, 67-68/2004.
. Kurt Gossweiler, « L’économie allemande en 1933-1934 : De la crise mondiale au
redressement [A economia alemã em 1933-1934 : Da crise mundial à recuperação
(NT)] », Études marxistes, 65/2006.
. Herwig Lerouge, « Sans la trahison du parti socialiste allemand, le fascisme n’aurait
jamais triomphé en Allemagne [Sem a traição do partido socialista alemão, o fascismo
jamais teria triunfado na Alemanha (NT)] », Études marxistes, 15/1992.
AUTOR : Herwig Lerouge (herwig.lerouge at teledisnet.be) é redator-chefe d’Études
marxistes.
6
Georges Dimitrov, «O fascismo e a classe operária », Œuvres choisies[Obras escolhidas(NT)], Éditions
sociales, 1972, p. 48.
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