O mundo virou uma aldeia - Apresentações

Propaganda
JORNAL: O Estado de São Paulo
31/03/2015
O MUNDO virou uma aldeia: Comunicação diminuiu distâncias e revolucionou o planeta. O Estado de
São Paulo, São Paulo, n.44359, p.B9 a B11, il., 31/03/2015.
O mundo virou uma aldeia
Comunicação diminuiu distâncias e revolucionou o planeta
Conhecedor do código de Samuel Morse, o telegrafista era quem transmitia as
notícias do País e do mundo
Pontos e traços. Foi assim, de
um jeito binário, que o mundo
começou a encolher. O telégrafo
era uma invenção da Revolução
Francesa, ainda no século 18,
mas foi o americano Samuel Finley Breese Morse quem transformou um sistema baseado em
sinais visuais em um pulso de
comunicação com base em código simples, em 1835. A transmissão da informação seguia por um
104344
fio, e os tais pontos e traços eram
decodificados em palavras quando chegavam ao outro lado da
linha. Tudo se restringia à abertura e ao fechamento de um circuito. Soa familiar? Toda a computação evoluiu a partir desse conceito. Para Morse, era um meio
pelo qual “a inteligência podia
ser instantaneamente transmitida”.
O telégrafo chegou ao Brasil
em 1857 - a primeira linha juntava o Rio de Janeiro a Petrópolis e
tinha 50 quilômetros, 15 dos
quais submersos na Baía de Guanabara. Dois anos antes do nascimento de A Província de S.
Paulo - o nome de fundação do
Estado, o País estava ligado à
Europa por cabos. Na segunda
edição do diário, em 5 de janeiro
de 1875, já havia uma reflexão
sobre os efeitos da invenção na
circulação das cartas do diário.
“Como o livro matou o monumento de pedra e o jornal vai
matando o livro, assim o telegrama ameaça substituir a correspondência epistolar.”
Como se verá nesta e nas
próximas páginas, o telégrafo foi
o primeiro passo de uma corrida
rumo à informação instantânea e
de massa. Para muitos especialistas, o mundo suplantou na segunda metade do século 20 a
chamada Era Industrial, que nasceu com a revolução da manufatura na Inglaterra entre o fim do
século 18 e o início do 19. Hoje
vivemos na Era da Informação,
na qual o conhecimento é o bem
mais precioso.
Essa passagem pode ser determinada de uma forma bem
específica. Em maio de 1948, os
pesquisadores do Bell Lab, nos
Estados Unidos, decidiram bati-
descrição do mundo com a internet, 30 anos antes da chegada da
rede mundial de computadores.
Outro guru, Claude Shannon, em
1948 (ano do lançamento do
transistor), usou pela primeira
vez o conceito de bit como a menor unidade de medida da informação. Hoje os computadores
armazenam ou transmitem informações em bytes (plural de
bit).
Informação ficou
mais veloz
Euclides da Cunha: cobertura para o ‘Estado’ deu origem a Sertões
zar um dispositivo que substituiria as antigas válvulas termiônicas: o transistor, nome que saiu
de uma eleição. “O transistor deu
início à revolução na eletrônica,
colocando a tecnologia no rumo
da miniaturização e da onipresença”, registra James Gleick em
A Informação - Uma História,
uma Teoria, uma Enxurrada.
Se o transistor abriu a porteira para o desenvolvimento da
informática e dos computadores
pessoais, ainda era preciso um
sistema que transmitisse grandes
volumes de informação simultaneamente para todo o mundo. E a
invenção veio de um país insuspeito, no qual as notícias eram
censuradas e a liberdade de expressão, cerceada: a União Soviética. Foi com o Sputnik, em
1957, o primeiro satélite artificial, que começou a corrida espacial – que terminaria 12 anos depois, na Lua. O primeiro a orbitar
a Terra voltado para as teleco-
104344
municações foi o Telstar 1, da
americana Nasa. Foi em 1962,
menos de um século depois da
chegada do telégrafo de Morse ao
Rio de Janeiro. Por ironia, ainda
existem satélites que fazem uso
do código Morse para enviar seu
sinal de identificação e localização por telemetria.
Gurus do meio e
da mensagem
O canadense Marshall McLuhan foi o criador da expressão “aldeia global”. O conceito
está em seu livro A Galáxia de
Gutenberg, de 1962, o ano em
que foi lançado o primeiro satélite de telecomunicações (o Telstar, como se descobre nas páginas
do Estado, batizou um time de
futebol holandês e um cavalo que
corria no Jockey Club de São
Paulo).
Ao acadêmico se atribui uma
Antes do telégrafo, leitor
esperava meses pela notícia
O Brasil foi tema de reportagem logo após ser descoberto. Na
abertura de sua famosa carta,
escrita em 1º de maio de 1500,
Pero Vaz de Caminha, avisa o rei
de Portugal:
“Creia bem por certo que, para aformosear nem afear, não
porei aqui mais do que aquilo que
vi e me pareceu”.
Manuel I, o Venturoso, demorou 53 dias para saber que seu
reino havia crescido consideravelmente. Os meios de comunicação evoluem de acordo com a
velocidade da tecnologia de
transmissão de informação. Se,
antes do telégrafo, os leitores
recebiam as notícias em semanas
ou meses, no meio do século 19 a
tecnologia fazia a riqueza mudar
de mãos em horas. O alemão
Paul Julius Reuter se deu conta
disso e, depois de experimentar o
envio de notícias via pombos-
correios, começou a transmitir
dados da bolsa de Londres para a
Europa continental por meio de
cabos submarinos em 1851. A
Reuters, hoje, é a maior agência
de notícias e de informações econômicas do mundo. O Estado, já
em seus primórdios, exibia na
capa notícias que chegavam “pelos cabos”. O jornal tinha uma
coluna chamada “Telegrapho”,
com as novidades mundiais.
O escritor Euclides da Cunha
se valeu dos cabos para enviar
seus relatos sobre a cobertura da
quarta campanha do exército republicano contra a comunidade
de Canudos, em 1897. Antes já
havia publicado artigo intitulado
a “A nossa Vendeia”, no qual
comparava o conflito baiano a
um episódio da Revolução Francesa, em que o novo governo
reprimiu camponeses contrários
ao alistamento militar obrigatório. A cobertura de Euclides da
Cunha para o jornal deu origem a
um dos maiores clássicos da literatura brasileira, Os Sertões.
No século 20, o Estado se valia de telefotos, enviadas por telefone, e do telex, uma rede de
terminais que transmitiam textos
ao redor do mundo. No Brasil, o
telex tinha limitações. O texto
chegava apenas em maiúsculas e
sem acentos, o que dificultava o
trabalho dos redatores. Outra
forma mais simples de receber
informações: a redação era equipada com “cabines telefônicas”.
O repórter transmitia a apuração
da rua para alguém na tal cabine que fazia o texto chegar aos redatores. O modelo era o padrão até
o final do século 20, quando surgiu a informatização. Com monitores de fósforo verde, repórteres
do jornal usavam a “marmita”,
um avô pesado do notebook, para
transmitir por cabo telefônico. A
chegada do e-mail e da transmissão de arquivos em banda larga
104344
sepultou o jeito heróico de fazer
jornais.
A busca pela
imagem perfeita
A chance de obter uma imagem
de maior qualidade sempre motivou
as melhorias técnicas na televisão. A
estreia da BBC, em 1936, marcou o
primeiro serviço regular de televisão
em “alta definição”, graças às imagens em 405 linhas horizontais, um
recorde de qualidade para a época.
Além de melhor definição, um dos
maiores desafios para os engenheiros era conseguir gerar imagens
coloridas. O grande marco nesse
sentido foi a Copa do Mundo de
1970, quando o campeonato passou
a ser transmitido direto, via satélite.
Dois anos depois, o Estado publicava a seguinte manchete: “A
grande novidade da TV a cor: a
cor”. A matéria dizia que a partir de
março de 1972 as televisões poderiam passar filmes importados ao
menos duas horas por dia. E que as
TVs Gazeta e Bandeirantes iriam
transmitir ao vivo esportes e jornalismo. “A mudança ocorreu devagar,
porque os equipamentos de transmissão em cores eram caros. Nos
guias de programação era informado
quais programas seriam coloridos e
quais não”, explica Igor Sacramento.
A evolução da imagem foi um
curioso exercício de causa e efeito:
havia a demanda por televisões de
maior porte, mas telas maiores exigem imagens com melhor definição,
o que não se consegue com imagens
analógicas. Na década de 90, paralelamente à chegada das TVs de tela
plana, plasma e cristal líquido, surgiu a transmissão digital. No Brasil
ela foi implantada em 2006. A nova
tecnologia substituía as linhas por
pixels. O que conhecemos como HD
- ou High Definition - estipula telas
com fileiras de 720 pixels na vertical, que também foram suplantados
pelos 1080 pixels do Full HD. Não
para por aí: já foram lançadas telas
em Ultra HD, ou 4K, com o dobro
de pixels do Full HD, que logo estarão no mercado.
Em 1884, o alemão Paul Nipkow inventou um dispositivo
redondo com 24 furos que permitia enviar uma imagem em movimento de um ponto a outro. A
novidade gerou pouco interesse mas foi a base para as primeiras
televisões mecânicas da década
de 1920. Era o início de uma revolução. Menos de uma década
depois, em 1936, ela se consolidaria com o primeiro serviço
regular de TV inaugurado no
mundo, o da inglesa BBC.
No Brasil, a revolução televisiva começou em 18 de setembro
de 1950, quando o dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, inaugurou a TV Tupi.
“Chatô” trouxe dos Estados Unidos equipamentos de transmissão
e 200 televisores, uma vez que o
aparelho era inacessível à população. “As TVs foram contrabandeadas com vista grossa do governo, uma vez que a importação
levaria muito tempo”, lembra
Igor Sacramento, doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos organizadores do
livro História da Televisão no
Brasil. O programa inaugural foi
o TV na Taba, que tinha no elenco artistas como Lima Duarte e
Amácio Mazzaropi.
Como é comum em mídias
Chateaubriand: pioneirismo
o gênero Janete Clair, autora de
tramas como Irmãos Coragem e
Selva de Pedra.
A década de 1980 viu surgir a
TV Manchete e o SBT, enquanto
na Globo o Cassino do Chacrinha consagrava de vez o “Velho
Guerreiro”. Em 1992, o Estado
criou o “Telejornal”, caderno que
trazia a programação completa,
os destaques da semana e o resumo das novelas. Também contava sobre os bastidores. Nessa
época, a TV tinha se consagrado
como o maior entretenimento
popular do País.
Escola pioneira
recém-nascidas, as atrações aproveitavam ideias já testadas em
outros meios. O Repórter Esso,
levado à TV em 1952, se limitava
à leitura das notícias, tal como no
rádio. Já as novelas, que se tornariam marca registrada da televisão brasileira, eram adaptações
de peças radiofônicas ou teatrais
- e por isso mesmo chamadas de
“teleteatro”.
Leitores do jornal. Três anos
depois que Chateaubriand trouxe
os aparelhos de TV para São Paulo, o Estado já começava a receber cartas que demonstravam a
preocupação dos paulistanos com
o tema. Uma das correspondências perguntava se a expansão da
TV não poderia “afetar as intimas
estruturas de nossa já periclitante
sociedade”. O jornal respondia
apontando para as estatísticas,
que chamavam atenção para o
americano permanecia três horas
por dia na frente da TV. O Estado
alertava para a responsabilidade
que o novo meio de comunicação
precisava ter.
104344
A TV brasileira foi amadurecendo com o surgimento de programas que, com o passar dos
anos, se tornariam clássicos. Na
TV Paulista, o jornalista e humorista Manuel de Nóbrega levava
ao ar A Praça da Alegria, em
1956. Mesmo ano em que Abelardo Barbosa, o futuro Chacrinha, estreava na Tupi com Rancho Alegre. Enquanto isso, a Record lançava o Mesa Redonda,
sobre futebol.
Na década de 1960, a TV
brasileira foi dominada pela TV
Excelsior. A emissora de vida
breve – criada em 1960, encerrou
as atividades em 1970 -, porém
intensa, tem em seu currículo
atrações que fizeram história,
como Moacyr Franco Show, o
programa de luta-livre Telecatch
e a Beto Rockfeller, até hoje considerada uma das novelas mais
inovadoras. Por falar em novela,
a primeira a ser transmitida diariamente foi 2-5499 Ocupado, da
Excelsior. Mas foi a Rede Globo,
criada em 1965, que popularizou
O Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), fundado
há 50 anos em Minas Gerais, foi
a primeira escola de engenharia
com foco em telecomunicações
no País. Nos anos 1960, envolveu-se na implantação da Discagem Direta a Distância, o DDD.
No final da década de 1990, formou os responsáveis pela migração da internet via cabo, do analógico ao digital. No início do
século, a escola trabalhou no desenvolvimento da TV Digital no
Brasil e em 2005 realizou a primeira transmissão aberta do sistema em alta definição, com tecnologia 100% nacional. “Ao longo dos 50 anos foram diversas
contribuições do Inatel que influenciaram a sociedade brasileira”,
afirma o diretor do instituto,
Marcelo de Oliveira Marques.
TV Tupi inaugura o programa Divino e Maravilhoso, em 1968,
com Caetano e Gil
professor da Universidade de
Boston, que havia encontrado
anos antes, ensinando em uma
Brasil, o 2º país a classe de surdos—mudos. Foi
assim que o imperador poliglota
implantar linhas
se apresentou ao inventor, como
Com um empurrãozinho,
alguém que se depara com um
do imperador, Brasil virou velho amigo, e em bom inglês
pioneiro da telefonia.
disse: “Professor Bell, I’m delighted to see you again!” (estou
encantado em vê-lo novamente).
Imediatamente, todo o comitê de
premiação, do qual ele fazia parte, juntou-se em volta do estande
até então ignorado. Bell tinha que
concorrer com invenções como a
lâmpada elétrica, a máquina de
escrever e um telégrafo musical
de Elisha Gray, que havia inven“Meu Deus, isto fala!” É tado um sistema concorrente de
bem conhecida a história de dom telefonia. Dom Pedro, por outro
Pedro II, que se espantou ao ou- lado, estava curioso. “O invento
vir pela primeira vez um telefone não tinha despertado interesse até
funcionando na Exposição Cen- o momento em que o imperador
tenária da Filadélfia, de 1876, parou para examiná-lo”, afirma o
ano seguinte à fundação do Esta- professor Paul Jean Etienne Jesdo. Geralmente a história é con- zensky, da Escola Politécnica da
tada em tom quase folclórico, do Universidade de São Paulo. Ver o
brasileiro estupefato com a tecno- prestigioso imperador — que
logia de fora, mas o fato é que teve a honra de ligar o motor a
nosso imperador deu uma imensa vapor que inaugurou a exposição
— se descompor com “Santo
mão ao inventor.
Na feira, dom Pedro reco- Deus, isto fala!” — ou, mais pronheceu Alexander Graham Bell, vavelmente, “My God! It talks!”
104344
como foi registrado por quem
estava na exposição, foi a senha
para o início da telefonia e da
gigante AT&T, a descendente da
empresa de Bell.
No ano seguinte, o Rio de
Janeiro recebia os primeiros telefones, no início estabelecendo a
comunicação entre o Palácio da
Quinta da Boa Vista e as casas
dos ministros, e depois com o
quartel-general dos bombeiros.
Em 1881, o imperador autorizou
a operação em território nacional
da Telephone Company of Brazil, primeira empresa a oferecer
linhas que passavam por um cabo
submarino ligando o Rio a Niterói. O Brasil foi o segundo país a
ter linhas telefônicas (ainda que
não comercialmente). O aparelho
rapidamente se tornou parte do
cotidiano. Em São Paulo e no
Rio, números de telefones (com
dois ou três dígitos) eram anunciados em jornais. Nos classificados do Estado, as linhas telefônicas surgiam como atrativos, diferenciais, de mansões à venda. A
nova tecnologia influenciou até a
música. Em 1916, foi composto
Pelo Telefone, de Donga e do
jornalista Mano Almeida, o primeiro samba gravado em disco,
em 1917. O novo ritmo anunciava o Brasil moderno, urbano e
conectado.
A Era do Rádio
Meio de Comunicação
começou como telefone
sem fio
Por Fábio Marton
O pai, a mãe, os filhos e o
cachorro colados em frente à TV.
A cena batida - e meio obsoleta já existia nos anos 30, bastando
trocar a TV pelo rádio. Era então
um aparelho enorme e solene,
ricamente construído em madeira. Era pelo rádio que as famílias
americanas, brasileiras, soviéticas, alemãs e japonesas nervosamente recebiam as notícias da
Segunda Guerra, tentando imaginar em sua cabeça as cenas muitas vezes protagonizadas pelos
próprios filhos.
O rádio foi inventado décadas antes de realmente pegar.
Como o avião, é uma criação
com muitos pais. O italiano Gugliemo Marconi costuma levar a
fama, por lançar o radiotelégrafo
em 1896, dando origem a um
império industrial. O italiano foi,
no entanto, contemporâneo de
muitos outros cientistas, como
Nikola Tesla, que um ano antes
já estava transmitindo numa distância de 80 quilômetros. Teve
até um brasileiro, o padre Landell
de Moura, que projetou um
transmissor de rádio e fez a pri104344
meira transmissão de voz através
de ondas eletromagnéticas na
Avenida Paulista, em São Paulo,
em 1893, quando Marconi ainda
estava no início do radiotelégrafo. Em 1899, o padre virou notícia no Estado, ao fazer nova
transmissão de um colégio no
bairro de Santana, na zona norte.
“Ele só foi reconhecido após sua
morte”, afirma a pesquisadora
Magaly Prado, autora de História
do Rádio no Brasil. “Ele recebeu
propostas de empresários americanos, mas decidiu voltar ao Brasil.”
Seja quem for o autor da
invenção, até os anos 20 o rádio
era visto como um dispositivo de
comunicação de duas vias, um
telefone sem fio. Foi nessa função que a tecnologia foi impulsionada pela Primeira Guerra. No
começo do conflito, o equipamento era enorme e nada prático.
Em 1916, o Mark I britânico, o
primeiro tanque de guerra, foi
concebido com portinholas para a
saída de pombos-correios. Aviões
se comunicavam por bilhetes
enrolados em pedras. Ao fim do
conflito tudo estava pronto para a
revolução da comunicação de
massa.
Só faltava alguém perceber o potencial. David Sarnoff
era empregado da Companhia
Marconi de Telégrafos Sem Fio.
O jovem imigrante russo foi o
operador de radiotelégrafo que
recebeu o pedido de socorro do
Titanic, em 1912, e passou 72
horas trocando mensagens com
navios para coordenar o resgate.
Em 1916, Sarnoff falou para os
executivos da Marconi sobre a
“caixa de música de rádio”, um
aparelho de uma via só, para ser
instalado em casa e receberia os
sinais de uma emissora com
grande potência.
Em 1920, foi fundada a
primeira emissora comercial do
mundo, a KDKA, propriedade da
Corporação Elétrica Westinghouse - a ideia era tentar incentivar a
venda de aparelhos da empresa,
não um negócio em si. Sarnoff,
pela rival RCA, acabaria por
transmitir uma partida de boxe
em 1921, no que é considerado o
primeiro “hit” da transmissão
radiofônica, com 300 mil ouvintes — isso foi a fagulha que iniciaria a Era do Rádio. Percebeuse, então, que o negócio ia muito
além de vender aparelhos.
Em 1922, a transmissão
radiofônica chegava ao Brasil
pelas mãos do médico Edgar Roquette-Pinto, chamado pelo Estado de “homem-multidão”. Sobre
o fundador da Rádio Sociedade
do Rio de Janeiro - a primeira do
País -, o jornal escrevia: “Estamos desabituados a esses homens-multidão, capazes de aplicar sua inteligência e ação a interesses tão amplos e múltiplos.”
No ano seguinte, a Rádio Educadora Paulista abriu as portas. As
estações funcionavam por assinaturas. “Os colecionadores (de
discos) é que faziam a programação. Era uma rádio de elite, tocava música erudita”, afirma Magaly Prado.
Isso acontecia porque os
aparelhos eram ridiculamente
caros - nos Estados Unidos, um
rádio custava em média 139 dólares em 1929 (quase 2 mil dólares
de hoje). A produção em massa,
com uma mãozinha da Grande
Depressão, barateou o produto no
início da década de 1930, deforma que, em 1933, o preço era um
terço de quatro anos antes.
Ficção criada para
divertir causou
histeria coletiva
Em 30 de outubro de
1938, com apenas 22 anos, o então radialista Orson Welles apresentou um especial de Halloween
em seu programa The Mercury
Theatre on the Air, pela rádio
CBS. Era uma adaptação de A
Guerra dos Mundos, livro de
1897, que descreveu uma invasão
marciana. Welles decidiu fugir
do formato da radionovela de
outros episódios e apresentou
tudo como se fosse um bloco de
notícias. “Pela qualidade da interpretação e também em decorrência das tensões mundiais da
época - o mundo ingressaria na 2ª
Guerra – um em cada cinco ouvintes simplesmente não notou
que se tratava de uma obra de
ficção”, explicou o Estado, quando o fato virou tema de análise de
outro livro, em 1997, em razão da
histeria provocada na época. Há
relatos de acidentes nas ruas causados pelo desespero. A polícia
invadiu a rádio, interrompendo o
programa quase a cassetetes. Por
sorte, Welles não respondeu judicialmente pelos estragos ocorridos. E no fim saiu lucrando com
a confusão que o programa de
ficção causou. A polêmica gerada
pelo fato alavancou a carreira do
futuro cineasta.
104344
Download