Ana Cristina Águas Privacidade nos Cuidados de Enfermagem

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Ana Cristina Águas
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do
4ºano do Curso de Licenciatura em Enfermagem da UFP - Porto
Universidade Fernando Pessoa
Faculdade das Ciências da Saúde
Porto, 2010
Ana Cristina Águas
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do
4ºano do Curso de Licenciatura em Enfermagem da UFP - Porto
Universidade Fernando Pessoa
Faculdade das Ciências da Saúde
Porto, 2010
Ana Cristina Águas
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do
4ºano do Curso de Licenciatura em Enfermagem da UFP - Porto
___ _______________________________
A aluna Ana Águas
Projecto de Graduação apresentado à
Universidade Fernando Pessoa como parte
dos requisitos para a obtenção do grau de
licenciada em Enfermagem
Porto, 2010
Siglas e Abreviaturas
CDOE - Código Deontológico da Ordem dos Enfermeiros
CLE - Curso de Licenciatura em Enfermagem
Fig. - Figura
Pág. - Página
SPSS - Statistical Package for Social Sciences
UFP - Universidade Fernando Pessoa
Vol. - Volume
% - Percentagem
Sumário
O presente trabalho de investigação foi elaborado no âmbito do 4º ano do Curso
de Licenciatura em Enfermagem da Universidade Fernando Pessoa, sendo o tema
abordado “ Privacidade nos cuidados de enfermagem: importância atribuída pelos
alunos do 4º ano do CLE, da UFP - Porto ”.
Devido à prevalência e aumento de enfermidades, surge uma maior procura de
cuidados, tornando a pessoa dependente da equipa de enfermagem para a satisfação de
algumas necessidades que ficam comprometidas pela doença. Assim, alguns dos
cuidados proporcionam um contacto mais íntimo, podendo o enfermeiro em algum
momento, consciente ou inconscientemente, invadir a privacidade da pessoa a quem
presta cuidados.
Esta investigação tem como objectivo geral, identificar a importância que os
alunos do 4º ano do CLE da UFP - Porto, atribuem à Privacidade nos Cuidados de
Enfermagem.
A opção metodológica adoptada no estudo é de natureza exploratória - descritiva
inserida numa abordagem quantitativa e transversal, a uma amostra de 60 alunos do
CLE da Universidade Fernando Pessoa - Porto, no ano lectivo de 2009/2010. O
instrumento de recolha de dados utilizado foi um questionário aplicado no dia 4 de
Junho de 2010, na Faculdade de Ciências da Saúde da UFP.
Os resultados do estudo apontam no sentido de dar resposta às questões de
investigação inicialmente levantadas. Assim a amostra em estudo, considera a
privacidade um direito do doente que assume especial relevância no âmbito do cuidar,
bem como a considera muito importante na prática dos cuidados. No entanto, na
admissão do doente e na administração de terapêutica, consideram-na menos
importante.
Os alunos da amostra, costumam reflectir sobre a privacidade sobretudo durante
a prestação de cuidados e durante o final do turno.
Palavras-chave: Privacidade, Direito à Privacidade, Intimidade, Ética em Enfermagem.
Abstract
The present work of investigation was developed in the 4th year of the Degree in
Nursing at Fernando Pessoa University, and the subject is “Privacy in nursing care:
importance attributed by 4th year CLE, UFP - Porto students”.
Due to the increase and prevalence of diseases some cares are required, which
make people more dependent on the nursing team. These qualified people should satisfy
the patients’ needs, i.e. they should provide a close contact with him/her and at some
point they might even invade his/ her privacy, consciously or unconsciously.
This investigation has a main goal: identify how important is privacy in nursing
care for students of 4th year of CLE, UFP - Porto.
The methodology adopted in this investigation is mainly exploratory-descriptive
as a part of a quantitative and transversal approach involving a sample of 60 CLE
students of Fernando Pessoa University - Oporto in the 2009/2010 academic year. The
instrument of data gathering was a questionnaire applied on 4th June 2010 in the UFP
Sciences Health Faculty.
Therefore, the students that took part in the questionnaire argued that privacy
should be seen as a patient´s right not only as far as the context care is concerned but
also in practical terms. However, they saw the admission of patients and the
administration of medicines less important.
These students usually reflect about the privacy while they are taking care of a
patient or at the end of the shift.
Keywords: Privacy, Right to Privacy, Intimacy, Ethic in Nursing.
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Lino e Arlinda, ao meu irmão Miguel e aos meus avós Laurinda e
Manuel. A todos aqueles que directa ou indirectamente, acreditaram e me incentivaram
a correr atrás dos meus ideais.
AGRADECIMENTOS
Um trabalho de investigação é sempre fruto de um trabalho de equipa, não
podendo ser nunca individual. Nesse sentido, não seria justo e muito menos correcto
deixar passar esta oportunidade de agradecer a todos aqueles que de alguma forma
contribuíram para a realização deste trabalho.
À orientadora deste trabalho, Mestre Teresa Guerreiro, pelo apoio, sugestões,
saberes transmitidos e disponibilidade, que foram fundamentais para esta breve
investigação, o meu muito obrigado.
Aos meus familiares, pela paciência e boa disposição com que sempre escutaram
os meus desabafos, agradeço-lhes as palavras de carinho com que me presentearam.
Esta investigação é o resultado de uma caminhada, agradeço a todos que de
alguma forma passaram pela minha vida e contribuíram para a construção daquilo que
sou hoje. A todos os que colaboraram comigo, o meu muito obrigado!
Não sei….
se a vida é curta
ou longa de mais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe, braço que envolve…
e isso não é coisa do outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja, nem curta
nem longa demais, mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.
(Cora Coralina)
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Índice
Pág.
0 - INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 18
I - FASE CONCEPTUAL ............................................................................................ 21
1.1 - Problemática e Justificação do estudo.............................................................. 21
1.2 - Pergunta de partida .......................................................................................... 22
1.3 - Objectivos do estudo ........................................................................................ 22
1.4 - Revisão Bibliográfica ....................................................................................... 24
1.4.1 - Teorias da Privacidade: Alan Westin e de Irwin Altman ..................... 24
1.4.2 - Intimidade/Privacidade e Pudor ........................................................... 31
1.4.3 - A arte de Cuidar .................................................................................. 38
1.4.4 - Comunicação com o doente ................................................................ 41
1.4.5 - Ambiente Hospitalar e Privacidade do doente..................................... 45
II - FASE METODOLOGICA .................................................................................... 51
2.1 - Desenho de investigação .................................................................................. 52
2.1.1 - Meio ..................................................................................................... 52
2.1.2 - Tipo de estudo ...................................................................................... 52
2.1.3 - População e Amostra............................................................................ 53
2.1.4 - Variáveis em estudo ............................................................................. 54
2.2 - Instrumento de recolha de dados ...................................................................... 55
2.2.1 - Pré - teste .............................................................................................. 56
2.3 - Princípios éticos ............................................................................................... 57
2.4 - Tratamento de dados ........................................................................................ 59
III - FASE EMPÍRICA ................................................................................................ 60
3.1 - Apresentação, análise e discussão de resultados ............................................. 60
3.1.1 - Caracterização da amostra ....................................................................... 60
3.1.2 - Importância da privacidade nos cuidados de enfermagem...................... 62
IV - CONCLUSÃO ....................................................................................................... 77
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
V - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................80
ANEXOS
I - Consentimento informado
II - Instrumento de recolha de dados (Questionário)
III - Código Deontológico do Enfermeiro
IV - Carta dos Direitos e Deveres do Utente
V - Declaração Universal dos Direitos Humanos
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
0 - INTRODUÇÃO
O presente trabalho de investigação foi elaborado no âmbito do 4º ano do curso
de Licenciatura em Enfermagem, da Universidade Fernando Pessoa, como parte
integrante da unidade curricular de Projecto de Graduação e Integração Profissional.
Uma das particularidades da Enfermagem é a aquisição de conhecimentos com
base na investigação, pois ao questionar o que se faz e como é feito, promove a busca de
um modo para prestar melhores cuidados e de contribuir para a evolução da
enfermagem. De acordo com Fortin (1997, pág.12) “ A investigação desempenha um
papel importante no estabelecimento de uma base científica para criar a prática dos
cuidados ”.
O estudo surgiu de uma reflexão e preocupação pessoal que foi sendo vivenciada
ao longo dos vários ensinos clínicos do curso de Licenciatura em Enfermagem,
nomeadamente no ensino clínico de Enfermagem Médico - Cirúrgica II, Enfermagem de
Urgência e Emergência II e no ensino clínico de Integração profissional, que foi
realizado numa Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente.
O tema centra-se na privacidade nos cuidados de enfermagem. A opção por esta
temática emergiu da reflexão realizada durante os ensinos clínicos acima referidos, uma
vez constatada a realidade de que se trata de algo que muitas vezes é desrespeitado
pelos profissionais de saúde, nomeadamente pelos enfermeiros, que subvalorizam o
direito à privacidade também devido às realidades estruturais do hospital e serviços.
Acresce ainda o facto de no âmbito do cuidar, os enfermeiros invadirem com frequência
não só o espaço do doente como também a sua intimidade e privacidade, não reflectindo
sobre a mesma.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Atendendo ao referido, emergiu a seguinte pergunta de partida “ Qual a
importância, que os alunos do 4ºano do CLE da UFP- Porto, atribuem à privacidade nos
cuidados de enfermagem? ”. Sendo o objectivo, identificar a importância que os alunos
do 4ºano do CLE da UFP- Porto, atribuem à privacidade nos cuidados de enfermagem.
De acordo com Fortin (2003, pág.99) “ O objectivo do estudo num projecto de
investigação enuncia de forma precisa o que o investigador tem intenção de fazer para obter resposta às
suas questões de investigação ”.
De acordo com o objectivo de estudo, optou-se por um estudo descritivo
exploratório transversal inserido no paradigma quantitativo. A amostra foi constituída
por 60 alunos do 4ºano do CLE da Universidade Fernando Pessoa - Porto. O
instrumento de recolha de dados foi um questionário especialmente elaborado para o
estudo, aplicado no dia 4 de Junho de 2010 na Faculdade de Ciências da Saúde da UFP.
O presente estudo é estruturado em quatro partes distintas: Fase conceptual, Fase
metodológica, Fase empírica e Conclusão.
Na Fase conceptual é feita a abordagem ao tema e à sua justificação, à pergunta
de partida, e aos objectivos do estudo, assim como ao desenvolvimento dos temas que
se consideram ser mais relevantes para o estudo, ou seja, é o suporte de informação e o
apoio teórico ao desenvolvimento da temática em estudo.
A segunda parte aborda a metodologia, nomeadamente o desenho de
investigação, do qual faz parte o meio, o tipo de estudo, a população e a amostra assim
como as variáveis. É feita também referência ao instrumento de recolha de dados, ao
pré-teste, aos princípios éticos e ao tratamento de dados. Posteriormente, os resultados
serão apresentados e discutidos na Fase empírica.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
A conclusão faz uma síntese das ideias chave do trabalho bem como uma
referência aos principais resultados do estudo.
Dos resultados obtidos destaca-se que, a totalidade dos alunos do 4º ano do CLE
da Universidade Fernando Pessoa, considera a privacidade, um direito do doente que
assume especial relevância no âmbito do cuidar. Assim como, 88,3% da amostra
estudada considera que a privacidade na prática dos cuidados é muito importante. No
entanto, não considera que seja importante na admissão do doente, bem como na
administração de terapêutica (11,86%) e (13,56 %) respectivamente.
De notar que os alunos em estudo, referiram que os principais momentos em que
realizaram alguma reflexão sobre a importância do respeito pela privacidade na
prestação de cuidados, ocorreram durante a prestação directa de cuidados (78,33%), nos
seminários 16,67% e no final do ensino clínico 13,33%.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
I - FASE CONCEPTUAL
De acordo com Fortin (2009, pág.49) “ A fase conceptual é a fase que consiste em definir
os elementos de um problema. No decurso desta fase, o investigador elabora conceitos, formula ideias e
recolhe a documentação sobre um tema preciso, com vista a chegar a uma concepção clara do problema.
(...) a fase conceptual reveste-se de uma grande importância, porque dá à investigação uma orientação e
um objectivo ”.
1.1 - Problemática e justificação do tema
Vivemos numa época de enorme transformação e evolução tecnológica, onde a
pressa de viver e de fazer em menos tempo é cada vez mais evidente, remetendo para
segundo plano, aspectos como a privacidade nos cuidados de enfermagem.
A escolha do tema surge de uma reflexão e preocupação pessoal que foi sendo
vivenciada ao longo dos vários ensinos clínicos do curso de Licenciatura em
Enfermagem, nomeadamente no ensino clínico de Enfermagem Médico - Cirúrgica II,
Enfermagem de Urgência e Emergência II e no ensino clínico de Integração
Profissional, que foi realizado numa Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente. Ou
seja, esta opção centra-se quer nos sentimentos e emoções vivenciados durante os
ensinos clínicos, quer da tomada de consciência de que o internamento suscita nos
doentes a necessidade de adopção de normas e regras do serviço, e que é nesta nova
realidade que ele precisa de se identificar e situar a sua privacidade.
Pupulim e Sawada (2002) referem que “ (…) o indivíduo é alguém que traz consigo uma
carga de valores morais e éticos que são apreendidos no decorrer da sua existência. Dentre estes valores
queremos destacar o direito e o dever ao resguardo da identidade e privacidade do individuo/cidadão,
enquanto cliente e sujeito do processo de trabalho de enfermagem ”.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Assim, entende-se o cuidado de enfermagem e a invasão da privacidade como
uma questão ético - moral, acreditando ser um tema pertinente e actual, tendo em conta
o crescente aumento da consciencialização dos direitos do doente por parte da
sociedade.
1.2 - Pergunta de partida
Na fase conceptual do processo de investigação, após a definição do problema
de investigação e da revisão da literatura pertinente, identifica-se a pergunta de partida e
os objectivos do estudo (Fortin, 2003).
A pergunta de partida deriva do tema e do problema de investigação e, como o
nome indica é a questão principal colocada pelo investigador no inicio da investigação.
Segundo Quivy e Champenhoudt (2008), ela deve apresentar qualidades de clareza e de
exequibilidade. Assim, neste sentido, a pergunta de partida do presente estudo é “ Qual
a importância que os alunos do 4ºano do CLE da UFP - Porto, atribuem à
privacidade nos cuidados de enfermagem? ”.
1.3 - Objectivos do estudo
O objectivo do estudo de acordo com Fortin (2003, pág.100), identifica as
variáveis chave, a população alvo e o conteúdo do estudo. São eles que despertam no
investigador a sede de desenvolver um trabalho. A mesma autora, considera que
“ O objectivo de um estudo indica o porquê da investigação. É um enunciado declarativo que
precisa a orientação da investigação segundo o nível dos conhecimentos estabelecidos no domínio em
questão ”.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Deste modo, definiu-se como objectivo geral no presente estudo, identificar a
importância que os alunos do 4ºano do CLE da UFP - Porto, atribuem à privacidade nos
cuidados de enfermagem.
Os objectivos específicos decorrem do objectivo geral e enquadram-se nas
questões de investigação, sendo neste estudo os seguintes:
 Identificar a importância que os alunos do 4ºano do CLE atribuem à preservação
da intimidade na prestação de cuidados
 Identificar a opinião dos alunos do 4ºano do CLE sobre se costumam respeitar o
espaço do doente relativamente ao seu silêncio
 Identificar a opinião dos alunos do 4ºano do CLE sobre os sentimentos
despoletados no doente aquando da invasão da privacidade
 Identificar o conhecimento dos alunos do 4ºano do CLE sobre a humanização
dos cuidados de enfermagem
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
1.4 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A revisão bibliográfica, consiste numa adequada pesquisa de literatura já
publicada para a fundamentação teórica do tema do estudo, procurando deste modo,
situar o trabalho num contexto teórico específico.
1.4.1 - Teorias da privacidade: de A. Westin e de I. Altman
De acordo com Westin (1970, cit. in Pupulim, 2009, pág.23 à 31) a necessidade
de privacidade provém da origem animal do homem, sendo que homens e animais
partilham de vários mecanismos básicos para reivindicar privacidade entre os seus
semelhantes.
Westin (1970) refere que a privacidade consiste no afastamento voluntário e
temporário de um indivíduo na sociedade, usualmente por meios físicos ou
psicológicos. Deste modo, tanto homens como animais têm períodos de isolamento
individual ou de intimidade, necessitando de estímulos sociais e de mecanismos para
definirem a sua privacidade e o seu espaço no grupo.
A maioria das sociedades têm regras que limitam a intromissão de outros e que
regem as acções de quem invade, delineando o que a pessoa pode tocar, até onde pode ir
e as conversas ou os actos que pode ter. Culturalmente a noção de privacidade tem
diferentes impactos sobre as relações interpessoais, facto que varia de acordo com o país
ou a comunidade em que o indivíduo está inserido. Assim, o que numa cultura é
considerado respeito à privacidade, noutra pode significar violação.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Deste modo, Westin (1970, cit. in Pupulim, 2009) explicou quatro condições
básicas de privacidade individual e descreveu as funções que esta desempenha para os
indivíduos ou grupos, nos países ocidentais democráticos:
 Solidão – surge quando o indivíduo está isolado do grupo, livre da observação
dos outros. O indivíduo pode estar sujeito a um estímulo físico dissonante, ou
seja, a sua tranquilidade pode permanecer perturbada por sensações físicas,
como o barulho, odor, frio, calor e dor. Nesta circunstância, o indivíduo está
particularmente sujeito ao diálogo familiar. Esta é, de todas as intromissões
físicas ou psicológicas, a condição de privacidade mais completa que os
indivíduos podem ter.
 Intimidade – surge quando o indivíduo ou o grupo têm a pretensão de
desenvolver relacionamentos pessoais íntimos. O conjugue, os familiares,
círculo de amigos ou o grupo de trabalho são unidades específicas de intimidade.
Sem a intimidade, não seria saciada a necessidade básica de contacto humano.
 Anonimato – ocorre quando o indivíduo está num local público, ou desempenha
uma função em que está em contacto com outros indivíduos, e consegue ter a
liberdade de identificar e de observar, ou quando tem a possibilidade de se
deslocar sem ser reconhecido ou ser objecto de atenção. O indivíduo afeiçoa-se
às regras de comportamento e aos papéis que produziriam efeitos se ele fosse
conhecido por aqueles que o observam. Ao perceber que está constantemente a
ser observado, a tranquilidade e liberdade que os indivíduos procuram nos
espaços públicos é extinta. A relação anónima com outros indivíduos favorece a
abertura para confidencias, que seriam omitidas da maioria das pessoas com
quem o indivíduo se relaciona intimamente, contudo, nesta condição, o
indivíduo exprime-se livremente porque sabe que o estranho não permanecerá na
sua vida e apesar dessa pessoa poder dar uma resposta objectiva às suas
questões, não é capaz de exercer autoridade ou restrição.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
 Reserva – ocorre quando o indivíduo não quer revelar aspectos pessoais aos
outros. Sendo a condição mais subtil de privacidade, limita a comunicação sobre
si àqueles que o rodeiam, através da criação de uma barreira psicológica. Ao
longo da sua existência o indivíduo relaciona-se com várias pessoas, por isso a
comunicação de si aos outros é sempre incompleta apoiando-se na necessidade
de ocultar factos pessoais. Para isso, cria um limite para proteger a sua
personalidade e deliberar quando se deve afastar ou mostrar. O significado de
segurança da privacidade tem a ver com a forma do indivíduo reivindicar o
afastamento, assim como o respeito ou não dos outros.
No seguimento, Westin (1970) agrupa as funções da privacidade individual em
quatro tópicos:
 Autonomia pessoal – refere-se à singularidade do indivíduo na sua dignidade e
na necessidade de manter o processo social que resguarda a sua individualidade.
O desenvolvimento e a manutenção do senso de individualidade estão ligados à
necessidade humana de ter autonomia, para evitar a manipulação dos outros.
Uma das formas de representar a necessidade de autonomia é descrever as
relações do indivíduo com os outros, de acordo com as áreas de privacidade
(Fig.1). A ameaça mais austera à autonomia de um indivíduo, é a possibilidade
de alguém invadir a zona mais interna, por meios físicos ou psicológicos, e
conhecer os seus segredos, facto que deixaria o indivíduo sob o controle dessa
pessoa. A privacidade protege a autonomia, que é fundamental para o
desenvolvimento da individualidade.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Fig.1 - Representação das áreas de Privacidade nas relações do indivíduo com os outros,
segundo Westin (1970); (Adaptado de Pupulim 2009)
a) Zona fundamental
b) Zona íntima
c) Zona intermédia
d)
a) Protege
os
segredos
Zona externa
do
indivíduo
(sentimentos,
desejos),
em
circunstâncias normais ninguém passa esta área
b) Envolve os segredos íntimos, aqueles que podem ser partilhados nas
relações íntimas ou com estranhos que não podem prejudicar o indivíduo
c) Área para as amizades do indivíduo
d) Compreende a conversação casual; é uma área reservada a todos os
observadores
 Liberdade emocional – a vida em sociedade gera tensões que suscitam períodos
de privacidade, favorecendo assim o alívio emocional. O ser humano
desempenha diversos papéis que dependem das circunstâncias e das pessoas
com quem se relaciona, existindo assim, momentos em que pode ser ele mesmo,
facto que pode ocorrer na solidão, na intimidade, no anonimato ou mesmo na
reserva. Desta forma a privacidade proporciona ao indivíduo a possibilidade de
retirar a “máscara”. A expectativa de ter privacidade é uma característica distinta
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
da vida em sociedade, pois permite aos indivíduos o afastamento provisório da
etiqueta social. A privacidade proporciona ao indivíduo segurança, manuseio das
funções corporais e sexuais, assim como protecção nos momentos de perda
intensa, impacto, tristeza, ansiedade e incerteza. Em geral, nestas circunstâncias,
a sociedade apoia e respeita a privacidade e intimidade do indivíduo.
 Auto-avaliação – a privacidade é fundamental para conduzir o indivíduo na
auto-avaliação, tornando-o assim capaz de processar e analisar a informação que
recebe, deste modo, o indivíduo pode considerar alternativas e possíveis
consequências, de modo a agir adequadamente. A auto-avaliação abrange a
realização das necessidades do indivíduo, pois proporciona tempo para
promover a fluidez de ideias e impressões, as quais são inibidas na presença de
outros. Decidir quando e que dimensão dos factos deve divulgar sobre si, é algo
preocupante na interacção pessoal.
 Comunicação limitada e protegida – a maior ameaça à vida social surge
quando o indivíduo é puro ao comunicar com os outros, ou seja, diz o que sabe e
o que sente. Na realidade toda a comunicação é parcial e limitada, baseada na
relação complementar entre reserva e descrição. A comunicação limitada é
essencial na vida urbana devido ao aumento da população e às confrontações
físicas e psicológicas entre indivíduos que não se conhecem; a comunicação
reservada é o modo de auto preservação física. Na comunicação limitada e
protegida, a privacidade embarga dois aspectos: proporcionar oportunidades
para compartilhar confidências e intimidades com alguém que confie, e impor
limites em situações interpessoais, oscilando do mais íntimo ao mais formal e
público. Os relacionamentos bem sucedidos dependem do equilíbrio entre
privacidade, exposição e respeito. A privacidade reconhece-se no afastamento,
na expressão fácil, nos gestos corporais, aprendendo-se a ignorar e a ser
ignorado de modo a alcançar privacidade.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Westin (1970, cit. in Pupulim, 2009) refere que a privacidade inicia-se num
processo complexo de mudança das necessidades sociais, da forma como adapta o
mecanismo emocional de barreira da pessoa e do estímulo social. O equilíbrio entre
exposição e privacidade, tem a influência das normas culturais da sociedade, da
condição de vida e do estatuto do indivíduo. Sendo que, demasiada privacidade ou até
mesmo a sua carência, podem prejudicar o seu bem-estar.
Para Altman (1975, cit. in Pupulim, 2009, pág.32 à 39) a privacidade é um
processo de regulação, pelo qual cada pessoa se torna mais ou menos acessível aos
outros, sendo o espaço pessoal e o comportamento territorial mecanismos de fronteira
interpessoal usados para obter níveis desejados de privacidade. De acordo com este
autor, a privacidade desempenha três funções:
 Controlo e manuseamento da interacção interpessoal – a maior função da
privacidade é a regulação da interacção com o ambiente social, influenciando
conjuntamente a auto - definição e auto - identidade. Esta última, depende
essencialmente da aptidão da pessoa para definir os seus próprios limites.
 Interface do próprio e do não próprio – uma das funções da privacidade é
auxiliar no processo de comparação social, uma vez que as pessoas utilizam
outras para trabalharem os seus sentimentos e percepções. A regulação da
privacidade torna a pessoa capaz de decidir sobre as suas acções, a ambicionar o
sentido para factos interpessoais e a construir normas ou padrões para interpretar
as suas e as relações dos outros. As pessoas com um estatuto mais elevado
geralmente têm o direito de invasão sobre os outros, mas o oposto não acontece.
 Auto-identidade – tem a sua origem no Self, e envolve dois aspectos:
a)
Auto – observação - a pessoa tem a possibilidade de ver, descrever e
avaliar-se a si mesma, usualmente sem a presença de outros. Implica
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
deixar cair a máscara social e ser capaz de experimentar e exibir, novos
comportamentos.
b) Auto-identidade - é a definição cognitiva, emocional, psicológica e a
compreensão de si mesmo como ser humano. Abrange a auto compreensão das suas capacidades, limitações, emoções, crenças e
dúvidas. Para Altman, a auto-identidade é o centro da existência humana,
pois a interacção com os outros requer alguma compreensão do que a
própria é.
Altman (1975,cit.in Pupulim, 2009) refere alguns mecanismos comportamentais,
que são utilizados para obter privacidade:
 Mecanismos verbais – a comunicação verbal é o vínculo principal da interacção
social; o conteúdo verbal reporta-se à estrutura da comunicação, inclui
características linguísticas, paralinguísticas e para-verbais (estilo da linguagem,
selecção e diversidade do vocabulário, pronúncia, dinâmica vocal, etc.).
 Mecanismos não verbais – a linguagem corporal envolve o uso do corpo para
comunicar (a postura corporal, o olhar, os gestos…).
 Mecanismos ambientais – o ambiente físico desempenha um papel bastante
complexo.
a) Vestuário e adornos – as pessoas adoptam estilos de roupa ou uniformes
para mostrarem aos outros como são e para auxiliar na definição do seu
estatuto e condição social. Por exemplo, o uso de adornos e de roupa
pessoal em ambiente hospitalar é restrito, o que é uma transgressão sobre os
mecanismos de regulação de privacidade.
b) Espaço pessoal – é a área que envolve o corpo do indivíduo, sendo a sua
invasão geradora de tensão e desconforto. Quanto mais pequeno for o
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
ambiente e maior o número de pessoas, menor é a probabilidade de obter ou
controlar a privacidade.
c) Território - a noção de território implica uma área geograficamente imóvel,
envolvendo o uso restrito da pessoa ou grupo. Para regular a interacção
social e ajudar a satisfazer os vários motivos sociais e físicos, são
designados o domínio e a personalização. A resposta defensiva ocorre
quando os limites territoriais são violados.
 Mecanismos culturais - envolvem costumes, normas e tipos de comportamento
por meio dos quais, os membros dos diversos grupos culturais regulam a ligação
com os outros. Altman (1975, cit. in Pupulim, 2009), acredita que todas as
culturas têm mecanismos comportamentais para controlar a acessibilidade social
de umas pessoas às outras; apenas diferindo entre culturas, o modo como é
efectuado e o controlo sobre a interacção.
1.4.2 - Intimidade / Privacidade e Pudor
Na Europa medieval, o sentido de intimidade era praticamente inexistente e a
privacidade não se impunha como um direito nem como uma necessidade. As condições
de vida tornavam a promiscuidade inevitável, não só entre o povo que tinha poucos
recursos mas também junto da nobreza mais abastada. Não existiam condições mínimas
para a defesa da intimidade, o que indica que não podia existir o sentimento de pudor;
assim como não existia, uma área reservada para dormir, para a actividade sexual ou
para as funções fisiológicas de excreção. Nestas circunstâncias de promiscuidade,
geralmente as pessoas dormiam nuas e deslocavam-se assim, pelas ruas da cidade a
caminho do balneário ou do rio, pois a nudez fazia parte do quotidiano quer fosse dentro
de casa ou em espaços públicos. A partir do século XVI, a privacidade tornou-se um
sinal de distinção das camadas sociais mais abastadas, tornando o acesso às áreas
íntimas (da casa) e à intimidade do corpo, algo restrito a um reduzido número de
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
pessoas. Assim, pouco a pouco, foi-se generalizando o sentimento de pudor (vergonha)
e a atitude de resguardo (ocultação), que seriam até aos nossos dias um hábito das
pessoas.
Deste modo, surgiu o tabu do corpo, imposto com austeridade às crianças desde
muito cedo, transformando o que era um padrão cultural de comportamento numa
estrutura psicológica. À medida que a divisão entre privado e público se acentuava, a
área do pudor aumentava; assim, a privacidade dava origem ao pudor (Ribeiro, 2005,
pág.243 à 246).
A libertação do corpo, que hoje se mostra através de um comportamento
descontraído e de uma linguagem desinibida não é o resultado do excesso de liberdade
nem da simplicidade natural. Inquéritos como os que Kaufmann (1995, cit. in Ribeiro,
2005) desenvolveu apontam que o enfraquecimento das barreiras do pudor e a
banalização da exposição corporal, não favoreceram a desvalorização da intimidade.
Averiguou que tudo o que diz respeito ao corpo é cada vez mais vivido como
estritamente pessoal e fundamental à própria pessoa. Hoje, o modo como as pessoas
assumem e mostram o seu corpo aos outros, não se confunde com animalidade
instintiva nem com socialidade medieval. O corpo é vivido com o realce do eu, com
tamanha intensidade que não é permitido aos outros, por mais próximos ou
significativos que sejam, interferir nas decisões pessoais sobre ele (Ribeiro, 2005,
pág.246 à 247).
Portanto, a noção de intimidade teve um longo percurso histórico, paralelo e
associado ao desenvolvimento da própria humanidade. Remetendo-nos para a
interioridade da pessoa, para a sua privacidade (Almeida, 2004, pág.93). Segundo o
dicionário da língua portuguesa (2010) intimidade é a qualidade do que proporciona
bem-estar e privacidade; significa que esta muito por dentro, muito no interior, muito
ligado.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Por outro lado, a Wikipédia (2010) refere que “ (…) é o conhecimento profundo de
alguém, conhecendo os vários aspectos ou sabendo como esse alguém responderia em diferentes
situações, devido às muitas experiências em comum ”.
Deste modo, a intimidade está definida como sendo uma área exclusiva e
reservada dos pensamentos, afectos ou assuntos privados de um indivíduo, família ou
grupo (Espuela et al., 2010, pág.2).
Sendo o tema da intimidade muito complexo, não pode ser abordado apenas sob
a perspectiva de algumas definições. Por conseguinte, de acordo com alguns autores, o
conceito de intimidade é único e subjectivo para cada pessoa, sendo susceptível à
influência de determinados factores como a nudez, a idade, o sexo, a vivência pessoal, a
educação, etnia, religião, etc.
A intimidade é a consequência da integração do indivíduo em grupos sociais, daí
o reconhecimento e a protecção da esfera íntima frente aos outros (Lamelas et al., 2008,
pág.61). Neste sentido, Bolander (1998, pág.324) alega que “ O Eu é composto pelo Eu
público (o Eu que mostramos aos outros) e pelo Eu privado (o Eu que guardamos para
nós ou para alguns outros mais significativos) ”.
Deste modo, a primeira manifestação de acesso limitado surge em relação ao
nosso corpo, ou seja à intimidade pessoal e física (Lamelas et al., 2008, pág.61). Ao que
Ribeiro (2005, pág.29) afirma, existir uma conexão entre o corpo e a intimidade, sendo
este, o limite ou a fronteira que separa a pessoa do meio exterior e também o local de
troca de informação; mencionando ainda que, segundo Schweitzer, o corpo desempenha
a função de invólucro.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Assim, Bolander (1998, pág.533) explica que “ (…) todos temos um território
individual (uma zona privada ou “bolha” à volta do nosso corpo, que sentimos como uma extensão de nós
e que nos pertence. (…) transportamos sempre este território connosco, para onde quer que nos
desloquemos. Excepto a um número muito seleccionado de pessoas, às quais permitimos que entrem
neste território em qualquer altura, temos tendência para nos sentir desconfortáveis se outras pessoas
invadem esse espaço ”.
Ao longo da sua vida, o ser humano estabelece relações de diferente intensidade
com os seus semelhantes, escolhendo com quem partilha os seus segredos. Contudo, na
relação clínica este, tem de desnudar o seu corpo, os seus pensamentos e também a sua
vida (Iraburu, 2006, pág.51).
Cuidar requer uma aproximação constante da pessoa que carece de cuidados,
criando deste modo, proximidade com a sua intimidade. A intimidade apoia-se na
confiança que o indivíduo deposita no enfermeiro e na relação de proximidade que se
estabelece entre ambos, nesse sentido, pode-se dizer que o cuidado exige condições de
intimidade e de privacidade e que devem ser protegidas pelo enfermeiro (Rodriguez et
al., 2005, pág.15 à 18). Deste modo, o enfermeiro, de acordo com o artigo 86.º do
código deontológico, assume o dever de:
a) Respeitar a intimidade da pessoa e protege-la de ingerência na sua vida privada e
na da sua família.
b) Salvaguardar sempre, no exercício das suas funções e na supervisão das tarefas
que delega, a privacidade e a intimidade da pessoa.
Portanto, o direito à intimidade é um plano subjectivo de defesa de uma parte da
nossa vida que queremos manter reservada, e também segundo a declaração universal
dos direitos humanos de 1948 (artigo 12), um direito fundamental do indivíduo. Nesse
sentido, Lamelas et al., (2008, pág.62) referem que, grande parte das alegações de
defesa da intimidade, centram-se no respeito da dignidade da pessoa, esta linha de
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
pensamento sustem que a intimidade está profundamente ligada ao reconhecimento do
valor da pessoa, à sua dignidade, unicidade e autonomia.
Assim, Diego Gracia (2001, cit. in Iraburu, 2006 pág.50), alega que a intimidade
não é constituída pelo mundo dos direitos, mas sim pelo mundo dos valores, sendo que
estes, nos facultam a identidade e diferenciam das outras pessoas. Assim sendo, o que
nos define como seres humanos são os valores (religiosos, filosóficos, estéticos,
políticos, etc.) que assumimos como princípios, sem eles não seriamos nada.
Reportando-nos à privacidade, Miguéns (2001, pág.115) refere que “ (…) deriva
da palavra inglesa Privacity + Etas (etais = qualidade) ou seja ambiente de recato,
sossego, intimidade, seio de família ”.
A Wikipédia (2010) menciona que “ É a habilidade de uma pessoa, em controlar a
exposição e a disponibilidade de informações acerca de si. Relaciona-se com a capacidade de existir na
sociedade de uma forma anónima ”.
Leino - Kilpi et al., (2001, cit. in Pupulim 2009, pág.62) descrevem quatro
dimensões do conceito de privacidade identificada por Burgoon e Parrot et al. (1982 e
1989):
a) Dimensão física: consiste no grau de acessibilidade física do indivíduo aos
outros, relacionando-se também com a territorialidade e com o espaço
pessoal.
b) Dimensão psicológica: diz respeito à capacidade do indivíduo para controlar
entradas e saídas afectivas e cognitivas para formar valores, assim como ao
direito de partilhar pensamentos ou revelar informações íntimas a quem
desejar.
c) Dimensão social: refere-se à capacidade e esforço individual ou do grupo,
para controlar os contactos sociais, sendo que os meios pelos quais as
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
pessoas tentam preservar a sua privacidade comportam a influência da
cultura.
d) Dimensão informacional: refere-se ao direito do indivíduo decidir como,
quando e em que medida a informação sobre ele será divulgada a outra
pessoa.
Fazendo uma comparação entre o conceito de intimidade e privacidade, pode-se
aferir que a invasão da intimidade envolve invasão da privacidade, não se verificando o
oposto. Assim sendo, pode-se considerar que a intimidade está relacionada com o que é
físico e corporal, enquanto que a privacidade se relaciona com algo mais objectivo,
representando um aspecto substancial da liberdade e dignidade da pessoa (Dicionário da
língua portuguesa contemporânea, 2001).
Goldin e Francisconi (1999) mencionam que a privacidade consiste “ (…) na
limitação do acesso às informações de uma dada pessoa, ao acesso à própria pessoa, à sua intimidade,
anonimato, segredos, afastamento ou solidão. É a liberdade que o paciente tem de não ser observado sem
autorização ”.
Sendo a privacidade um principio derivado da autonomia, cabe à pessoa decidir
a quem e como deseja expor o seu corpo para os procedimentos médicos (Oguisso et al.,
2006, pág.142). O doente quando é hospitalizado é submetido a muitas rotinas, sentindo
que a sua intimidade e privacidade são ameaçadas, vivenciando o incómodo e a
vergonha quando tem de mostrar o seu corpo (Martins, 2009, pág.114).
Na fronteira da intimidade, o corpo tem um sistema de defesa estratégica para
impedir a entrada de estranhos, a que chamamos de pudor (Ribeiro, 2005, pág.247).
Ribeiro (2005, pág.66) alega que, o hábito de cobrir o corpo é muitas vezes, associado
ao sentimento de pudor em torno da função sexual. Segundo esta perspectiva, os orgãos
genitais são a primeira coisa que se oculta, depois são as áreas do corpo associadas ao
sexo por proximidade física ou funcional; ou seja, é ocultado tudo o que se tem por
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estímulo erótico, e à medida que se ocultam os estímulos mais óbvios, a atenção é
desviada para as áreas que ainda permanecem descobertas. Ora, o pudor de acordo com
o dicionário da língua portuguesa (2010) é
“ Um sentimento de vergonha ou timidez causado por algo que fere a sensibilidade ou a moral de
uma pessoa; mal-estar causado pela nudez ou por questões relacionadas com a sexualidade;
constrangimento; atitude de uma pessoa que esconde sentimentos ou emoções por delicadeza, modéstia
ou reserva (…) ”.
Quando o corpo do doente tem de ser exposto, e este apresenta manifestações de
pudor, ao prestarem cuidados os enfermeiros parecem não se aperceber delas, por não se
sentirem à vontade ou por não terem propensão para enfrentar esse tipo de situação. Às
vezes, um simples olhar curioso dirigido ao corpo da pessoa doente, como que se esta
fosse um objecto, pode provocar uma ofensa à sua intimidade e despertar nela o
sentimento de vergonha. A pessoa sente-se envergonhada pelo modo e pela intenção
com que é olhada. Deste modo, podemos aferir que não é a exposição do corpo na sua
nudez que tem mais importância, mas sim os pensamentos, sentimentos, imagens
desrespeitosas que daí advêm (Melo, 2005, cit. in Martins, 2009, pág.109).
A propensão dos enfermeiros para enfrentarem este tipo de situação, pode deverse a inúmeros factores tais como, não terem sido abordados esses temas no processo de
formação ou darem maior importância a outras áreas, talvez por não estarem
sensibilizados para esse tema, por referirem falta de tempo e ainda existem aqueles
enfermeiros que não reparam nesses pormenores, apenas por distracção e outros por
vezes que disfarçam essa percepção. Muitos enfermeiros referem que a falta de tempo é
a causa de atitudes mecanizadas e comportamentos estereotipados, porém é muito difícil
separar os cuidados técnicos dos cuidados relacionais. Não podemos esquecer que os
doentes, tal como os enfermeiros têm os seus próprios valores, e estes influenciam o
comportamento e por vezes as suas reacções, que por sua vez poderão caracterizar-se
como invasoras da privacidade do doente (Martins, 2009, pág.112).
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
1.4.3 - A arte de Cuidar
O conceito principal da enfermagem centra-se na pessoa, aquela que permanente
ou potencialmente recebe cuidados. De acordo com Hesbeen (2000, pág.9), o cuidado
diz respeito ao facto de estar atento a alguém ou a alguma coisa, para se ocupar do seu
bem - estar. Assim, tal como nos diz Colliére (1999, pág.15) “ Ser cuidado…cuidar de
si próprio…cuidar…”, é indispensável para o crescimento e para a nossa sobrevivência,
assim, durante todo o nosso ciclo vital temos a necessidade de sermos cuidados e de
cuidarmos dos outros, sendo que, a capacidade de cuidar é condicionada pelo estadio de
vida em que nos encontramos, bem como pelas capacidades que desenvolvemos e pela
forma como fomos cuidados.
Pacheco (2002 cit. in Siqueira et al. 2008), faz a distinção entre tratar e cuidar.
Tratar engloba os procedimentos técnicos, especializados, está relacionado com o
diagnóstico e tratamento de doenças sendo que a sua finalidade é reparar orgãos
doentes. O foco de atenção está direccionado para as necessidades físicas relacionadas
com a patologia. Não é dada importância a outras necessidades e o profissional não se
envolve emocionalmente, considerando ser perda de tempo conversar e ouvir a pessoa
doente ou a família. O profissional entusiasma-se com a condição clínica do doente,
principalmente se esta for invulgar ou grave, ignorando os aspectos humanos. Por vezes,
é capaz de fazer o doente aceitar todos os procedimentos que tenham por fim o
diagnóstico e a cura, ocultando-lhe informações, sem nunca lhe dar a oportunidade de
recusar o tratamento. Sentindo-se frustrado quando a cura não é possível, o profissional
desiste do doente reduzindo-o a um diagnóstico, conhecendo-o apenas por um número
ou pelo nome da patologia.
No cuidar é dada atenção ao doente, este é encarado de forma holística, nunca
esquecendo que, antes de tudo é um ser humano único e insubstituível. O doente é o
foco de atenção do prestador de cuidados, este não se preocupa apenas com o
tratamento da doença ou com o alívio dos seus sintomas, preocupa-se também com os
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
aspectos físicos, psicológicos e espirituais. A sua presença não é meramente física ou
profissional, mas a de uma pessoa capaz de escutar, compreender, acolher e de
estabelecer uma relação de confiança. O doente é visto como um ser único e
incomparável, numa situação peculiar a quem devem ser prestados cuidados de forma
individualizada, respeitando a sua cultura, os seus valores, direitos e necessidades assim
como a sua participação na tomada de decisões.
Portanto o cuidado em enfermagem é uma arte e não uma ciência, porque o seu
resultado provém de um feito único, que diz respeito a uma pessoa singular. A arte
pressupõe a adaptação dos conhecimentos e das aptidões para que sejam detentores de
sentido e de ajuda. Esta arte não se pode limitar à quantidade de intervenções, mesmo
que estas evidenciem atenção à pessoa, pois não se trata de procurar dar sentido a cada
acto, mas sim de incluir o conjunto das intervenções numa perspectiva que tenha
sentido para a pessoa (Hesbeen, 2000, pág.11 e 99). Neste sentido, Mayerhoff (cit. in
Frias, 2003 pág.46), salienta que
“ Nós por vezes falamos como se cuidar de alguém não exigisse conhecimentos, como se o
cuidar de alguém, por exemplo, fosse simplesmente uma questão de boas intenções ou de um olhar
afectuoso… para cuidar de alguém eu preciso de saber muitas coisas. Eu preciso de saber, por exemplo,
quem é o outro, quais são as suas capacidades, e o que é favorável ao seu crescimento; eu preciso de saber
como responder às suas necessidades e quais são as minhas próprias capacidades e limitações ”.
Portanto, o cuidado exige habilidades distintas e como tal, é uma conduta ética
que se baseia no descobrimento do outro, na sua particularidade e no seu
acompanhamento, tendo como objectivo proteger a sua vida, respeitando-o (Hesbeen,
2004, pág.101).
Neste sentido, Baggio et al, (2010, pág.382) referem que o excessivo interesse
pela tecnologia, pelo consumismo e pelo tecnicismo, coloca os valores humanos em
risco. Ao mesmo tempo que o homem usufrui das tecnologias avançadas, as relações
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
humanas declinam, e da mesma forma a ética nos relacionamentos. Os relacionamentos
tornam-se distantes, limitados por interesses distintos, banalizados a ponto de ignorar
valores, sentimentos e desejos.
Deste modo, Rios (2009, pág.19) refere que os aspectos humanísticos no
cuidado foram distanciados pelo tecnicismo da prática actual. O avanço tecnológico
proporcionou indubitáveis conquistas para o bem-estar das pessoas, mas a visão
centrada nos aspectos biológicos da doença, os recursos técnicos e a organização do
trabalho para o atendimento em massa, criaram um abismo entre o profissional de saúde
e o doente.
De acordo com o nº1 do artigo 78.º do código deontológico dos enfermeiros, as
intervenções de enfermagem são realizadas com a preocupação da defesa da liberdade e
da dignidade da pessoa humana e do enfermeiro. Este, assume então, um papel de
grande responsabilidade perante a sociedade, tendo como princípios orientadores da
profissão, o respeito pelos direitos humanos na relação com os doentes e com os outros
profissionais. O comportamento esperado pelos enfermeiros está delineado em
princípios e valores universais, que têm como referência as necessidades da sociedade e
dos cidadãos, no respeito pelos direitos e valores da pessoa e que fazem parte das
normas deontológicas. Assim, o enfermeiro assume o dever de proteger e defender a
pessoa humana de práticas que contrariem a lei, a ética ou o bem comum (Cerdeira,
2004).
O contacto físico entre o doente e o enfermeiro é inevitável e necessário para a
prestação de cuidados. O toque, a manipulação do corpo e o olhar são inerentes ao acto
de cuidar, originando assim uma ligação íntima entre o prestador de cuidados e a pessoa
que os recebe, podendo isso suscitar a invasão da sua privacidade. Existem várias
formas de violação da privacidade, tais como a violação da informação, do espaço
pessoal e territorial, do corpo, assim como do campo psicológico e moral. A privacidade
física implica o quão se está acessível corporalmente à outra pessoa, abrangendo o
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
espaço entre si e o outro, e o quanto se pode controlar esse acesso. A marcação da área
territorial permite manter e impor limites à invasão, contudo o poder de incursão dos
outros às vezes é superior ao da defesa da pessoa, pois o internamento debilita as
barreiras construídas para o resguardo da intimidade (Pupulim e Sawada, 2010, pág.37).
Preservar a privacidade, respeitar, mostrar preocupação e dedicação, valorizando
a singularidade do doente, além de se imaginar no seu lugar, pensar no que é necessário
fazer e de como o doente prefere que seja feito, respeitando as suas crenças e valores, é
uma forma de garantir a promoção da saúde e a qualidade dos cuidados prestados
(Pupulim e Sawada, 2005).
Deste modo, Hesbeen (2004, pág.102) revela que “ Cuidar é uma arte difícil, porque
tem a ver com a incerteza do ser, a sua fragilidade e a sua diversidade. Isto constitui a sua riqueza.
Nenhuma situação pode ser comparada e cada experiência aumenta a nossa compreensão do mundo e a
nossa própria percepção do homem ”.
1.4.4 - Comunicação com o doente
A comunicação é algo inerente aos seres humanos e essencial para o
relacionamento com os outros, pois permite a partilha de sentimentos, pensamentos e
acções. Caracteriza-se pela troca de informação e pela sua percepção pelo indivíduo.
Carvalho e Stefanelli (2005, pág.29) mencionam que a comunicação é
“ (...) um processo de compreender e compartilhar mensagens enviadas e recebidas; as próprias
mensagens e o modo como se dá o seu intercâmbio, exercem influência no comportamento das pessoas
envolvidas a curto, médio ou longo prazo ”.
Na mesma linha de pensamento, Pontes et al., (2008, pág. 316) mencionam que
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
“ A comunicação é um acto criativo; não existe apenas um agente emissor ou receptor, mas uma
troca entre as pessoas que formam um sistema de interacção e reacção, isto é, um processo recíproco que
provoca mudanças na forma de sentir, pensar e actuar dos envolvidos ”.
Por outro lado a CIPE (2003) refere que comunicação é “ Um tipo de acção
interdependente com as características específicas: acções de dar ou trocar informações, mensagens,
sentimentos ou pensamentos entre pessoas e grupos de pessoas, usando comportamentos verbais e não
verbais, conversação face a face ou medidas de comunicação remota como o correio, correio eléctrico e
telefone ”.
Segundo Ruesh e Bateson (1951 cit. in Carvalho e Stefanelli, 2005, pág.14)
existem quatro níveis de comunicação:
 Intrapessoal - comunicação que é efectuada para si mesmo (dentro da pessoa)
 Interpessoal - comunicação que é efectuada entre duas pessoas (de um para um)
 Grupo - comunicação de uma pessoa para muitas
 Cultural - comunicação de muitas para muitas pessoas
Podemos comunicar de diversas formas, através de palavras (linguagem verbal),
de comportamentos, expressões faciais, gestos, silêncios, através do toque, ou ainda
pela presença de rubor, sudorese, tremores, lacrimejo, ou seja, através da linguagem não
verbal, sob a qual não existe um controlo consciente por parte do ser humano, e a qual
complementa a linguagem verbal. A esse respeito Ribeiro (2005,pág.202) menciona que
“ É fácil constatar a função comunicação de uma infinidade de sinais, uns emitidos pelo próprio
corpo e outros inseridos nos seus diferentes contextos, que se tornam significantes quando integrados na
interacção humana ”.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Todos temos a necessidade de ser escutados, no entanto no quotidiano não
atribuímos a este acto verdadeira importância (Costa et al, 2003, pág.27). A
comunicação verbal é o tipo de linguagem a que é atribuída maior importância, por esta
revelar muito da essência do indivíduo e também por estarmos mais despertos para a
sua percepção.
Quando a pessoa adoece, são gerados sentimentos de angústia, sofrimento,
ansiedade de não ser capaz de referir os sintomas as necessidades e as dúvidas, deste
modo, ao chegar ao hospital, procura antes de tudo, ser acolhida, escutada e
compreendida. Assim, ao perder o contacto com o ambiente familiar torna-se mais
sensível, precisando tanto de cuidados complexos como de um relacionamento
terapêutico. A comunicação entre enfermeiro e doente é designada por comunicação
terapêutica e é imprescindível, tanto para identificar problemas físicos como para
desenvolver uma interacção. È designada assim, porque tem o intuito de identificar e
atender as necessidades (de saúde) do doente, de contribuir para o progresso da prática
de enfermagem e de despoletar nos doentes confiança e segurança (Pontes et al., 2008,
pág.313 e 316).
O conceito de comunicação terapêutica, adaptado da teoria de Ruesch, baseia-se
na capacidade do enfermeiro utilizar o seu conhecimento sobre comunicação, para
ajudar a pessoa com tensão temporária a solucionar conflitos, reconhecer as limitações
pessoais, conviver com outras pessoas, a adaptar-se e a enfrentar os desafios (Carvalho
e Stefanelli, 2005, pág.65).
A comunicação terapêutica permite uma interacção entre o enfermeiro e o
doente, possibilitando um relacionamento humano, que atinja o objectivo dos cuidados.
O enfermeiro ao usar esta comunicação, aumenta a aceitação e a compreensão do doente
quando têm de ser realizados procedimentos, diminuindo assim a ansiedade. Assim,
desenvolver a capacidade de comunicação é extremamente importante para os
profissionais de saúde, particularmente para os enfermeiros que devem conhecer o
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
significado das mensagens enviadas pelo doente para poderem elaborar um plano de
cuidados adequado às suas necessidades (Potter & Perry, 2002, cit. in Oliveira et al.
2005 pág.56).
No desenvolvimento do processo terapêutico, existem algumas técnicas de
comunicação terapêutica que facilitam a interacção entre o enfermeiro e o doente. Uma
vez que o enfermeiro é o profissional de saúde que mais interage com o doente, deve
estar atento ao uso das técnicas de comunicação terapêutica, e estas podem ser
classificadas em três grupos distintos: expressão, clarificação e validação. No grupo de
expressão, estão organizadas diversas técnicas que ajudam na expressão verbal de
pensamentos e sentimentos sobre a experiência que os desencadeou (carvalho e
Stefanelli, 2005, pág.78).
Fazem parte das técnicas: o uso terapêutico do silêncio, ouvir reflexivamente;
verbalizar aceitação, interesse, usar frases incompletas, repetir as últimas palavras ditas
pelo doente, fazer perguntas, desenvolver a pergunta feita, usar frases descritivas,
permitir que o doente escolha o tema, mantê-lo no mesmo tema, colocar em foco a ideia
principal, verbalizar dúvidas, dizer não, estimular a expressão de sentimentos
subjacentes e o uso terapêutico do humor (Stefanelli, 1993, cit. in Oliveira et al., 2005,
pág.58).
Do grupo de clarificação fazem parte as técnicas que ajudam a clarificar as
mensagens enviadas, quando parte delas ou o todo, contêm ambiguidades (carvalho e
Stefanelli, 2005, pág.78). Fazem parte das técnicas: citar ou estimular comparações,
solicitar que o doente elucide termos comuns, que precise o agente de acção e que
descreva os eventos em sequência lógica (Stefanelli, 1993, cit. in Oliveira et al, 2005,
pág.58).
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
No grupo de validação as técnicas permitem a existência de significados comuns
do que é verbalizado. A validação é um modo de confirmar a compreensão das
mensagens transmitidas entre os interlocutores (carvalho e Stefanelli, 2005, pág.78).
Neste grupo, a técnica consiste em pedir ao doente para repetir o que foi dito e para
sumarizar o conteúdo da interacção (Stefanelli, 1993, cit. in Oliveira et al., 2005,
pág.58).
1.4.5 - Ambiente hospitalar e privacidade do doente
A palavra, hospital tem a sua origem no latim “hopes”, que significa hóspedes,
pois era um local onde se acolhiam peregrinos, pobres e enfermos. Oriundo de épocas
remotas, anteriores ao cristianismo, foi desenvolvido por organizações religiosas tendose transformado numa instituição social, após a modificação política democrática. Os
recursos eram mínimos e as condições de conforto e higiene eram precárias, sendo
apenas utilizado pelos indivíduos desprovidos de meios de subsistência, ou seja, o
hospital servia apenas para os pobres, enquanto que as pessoas mais abastadas eram
examinadas e tratadas em casa. Contudo, com a melhoria das condições hospitalares as
classes mais altas da sociedade passaram também a utilizar o hospital (Ministério da
saúde, 1965, pág.7 e 47).
Hoje, o hospital tem o mesmo significado de outrora, que é tratar e receber as
pessoas doentes. Machado (2008) refere que, segundo a organização mundial da saúde o
hospital é
“ Parte integrante de um sistema coordenado de saúde cuja função é dispensar à comunidade
completa assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos à família no
seu domicílio e ainda um centro de informação para os que trabalham no campo da saúde e para as
pesquisas bio – sociais ”.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Por outro lado, Goffman (1961, cit. in Amin 2001, pág.25) diz que o hospital é
“ Um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situações
semelhantes, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida
fechada e formalmente administrada ”.
A doença representa uma ameaça e um desafio que são vivenciados de diversas
formas, de acordo com a idade, experiências anteriores, estado emocional, o apoio
afectivo, a capacidade de adaptação e as representações mentais que o indivíduo possui
de saúde e doença (Correia, 1996, cit. in Santos, 2002, pág.31). Assim, quando se vê
doente e a família não consegue fazer mais para ajudar, procura por cuidados
hospitalares. Chegado ao hospital, passa por um circuito padronizado, recebendo mais
tarde, a notícia de que carece de cuidados mais complexos, tendo para isso de ficar
internado; assim, uma vez que o internamento (culturalmente) é associado ao
agravamento do estado de saúde, há uma grande probabilidade de despoletar no
indivíduo o sentimento de angústia, devido à exposição emocional e física a que ficou
sujeito, evidenciando assim, a sua fragilidade (Amin, 2001, pág.13 à 15).
O ambiente hospitalar é por diversos factores tenso e stressante, principalmente
para o doente que não pode controlar esses mesmos factores que o afectam, mas que
depende deles para a sua sobrevivência. Face à condição de enfermidade, sentimentos
como incapacidade, dependência e insegurança reforçam a sensação de perda do
controle sobre si mesmo, passando a hospitalização, a ser vista pelos doentes como um
factor de despersonalização pois estes, reconhecem ser difícil manter a sua identidade,
individualidade e privacidade (Pupulim e Sawada, 2002, pág.433).
Santos (2002, pág. 32 e 33) também refere que o hospital é um mundo
despersonalizado e impessoal porque é um meio onde não existe privacidade e onde a
identidade da pessoa na maioria das vezes, não é respeitada. Sendo um meio constituído
por normas padronizadas, por rotinas que não deixam lugar à opção e que não
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
coincidem com as necessidades reais. Quando entra neste meio, a pessoa é obrigada a
deixar à porta tudo que faz parte do seu mundo específico e singular, aquilo que o
diferencia de qualquer outro ser; sendo solicitada a “despir-se” como pessoa e a vestirse como doente, entrando assim, numa nova realidade social.
Neste sentido, Travelbee (cit. in Tomey e Alligood, 2004, pág.468), diz-nos que
o termo doente é um estereótipo útil à economia comunicativa:
“ De facto não existem doentes. Existem apenas seres humanos individuais que necessitam de
ajuda, serviços e assistência de outros seres humanos, que crê-se, podem prestar a assistência necessária ”.
Assim, para algumas pessoas, só o facto de serem definidas como doentes, tem
por si só um efeito debilitante no auto-conceito e valor próprio (Watson, 1992, pág.25).
O hospital é um local onde as pessoas recebem tratamentos e melhoram, onde se nasce
e morre e onde paradoxalmente a morte é negada assim como a sexualidade. As práticas
médicas são tão meticulosas e existem tantos mitos que a submissão do doente é total.
Quando a pessoa adoece e necessita de ficar internada, perde a privacidade, sofre uma
diminuição do seu espaço e abdica da sua autonomia (Amin, 2001, pág.15 à 25). É
obrigada a readaptar-se aos seus hábitos de vida; ficando sujeita a um conjunto de regras
fixas, que terá de cumprir muitas vezes contra a sua vontade (Almeida, 2004, pág.17).
A experiência do internamento pode causar desconforto, impessoalidade,
isolamento social e perda de autonomia, devido às rotinas muitas vezes rígidas e
inflexíveis; sendo que quanto maior o grau de gravidade da doença, maior é a
dependência do doente, facto que poderá favorecer a invasão da privacidade (Bettinelli
et al, 2010, pág.45 e 46).
Neste sentido, Bellato (2001,cit. in Espinha e Amatuzzi, 2008, pág.477) refere
que o tempo vivenciado pela pessoa hospitalizada (sentido de forma lenta e penosa) é
marcado pela frequência de intervenções desenvolvidas pelos profissionais de saúde.
47
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Assim, durante a prestação de cuidados pode em alguma circunstância, a sua
privacidade e intimidade serem invadidas (Bettinelli et al, 2010, pág.45).
Muitas vezes, no processo de cuidado há uma oposição entre as expectativas do
doente e os objectivos do enfermeiro; essa percepção divergente leva o enfermeiro a
conceber o seu trabalho de forma mecânica e centrada nos procedimentos. Assim, são
prestados cuidados de forma linear sem restrições, como sendo algo inerente à
profissão, esquecendo-se o enfermeiro, de pedir autorização sempre que há necessidade
de tocar o doente, não lhe parecendo estar a invadir a sua privacidade e intimidade
(Bettinelli et al, 2010, pág.47).
Por outro lado, Pupulim e Sawada (2002 pág. 433 à 435) alegam que, os
enfermeiros tentam preservar a intimidade e privacidade dos doentes usando biombos,
tapando partes do corpo que não necessitam de ficar expostas durante a prestação de
cuidados, e pedindo aos familiares e visitas para saírem da enfermaria para prestarem
cuidados, estas tentativas de protecção são caracterizadas como um gesto humanitário e
de respeito. Apesar das tentativas, existem situações em que invariavelmente se invade a
privacidade e intimidade do doente (prestação de cuidados de higiene no leito,
colocação de cateter vesical, etc.). O enfermeiro ao ter uma atitude de respeito pela
individualidade do doente, humildade, tolerância, tranquilidade e solidariedade, pode
minimizar o stress causado pela doença e pelo internamento.
Nesse sentido, Loureiro e Martins (2004, pág. 36 e 37) alegam que o respeito
pela pessoa implica direccionar a nossa atenção para as necessidades, problemas
decorrentes do desequilíbrio ou instabilidade do doente e para as dificuldades da sua
adaptação a situações de stress. Sendo o respeito pela pessoa um valor moral e universal
para o enfermeiro, devemos modificar a nossa intervenção para tentar suprimir o
desrespeito por este valor.
48
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Portanto, o internamento caracteriza-se por uma crise, em que o indivíduo
doente é sujeito a um processo de adaptação (Martins, 2009, pág.53). Nesse sentido Roy
(cit. in Tomey e Alligood, 2004, pág. 304 à 309), diz que a pessoa recebe estímulos do
ambiente e de si própria, sendo o nível de adaptação determinado pelo efeito combinado
dos estímulos focal (estímulo interno ou externo que origina maior grau de mudança),
contextual (são os factores do ambiente que contribuem para o efeito do estímulo focal)
e residual (factores externos ou internos cujos efeitos são pouco claros).
Os estímulos (focal, contextual e residual) envolvem factores como o grau de
mudança, experiências anteriores, nível de conhecimento, pontos fortes e/ou limitações,
incorporando-se assim, para o estabelecimento de um nível de adaptação, adaptação
esta, que está em permanente mudança (George, 2000, pág.205). Contudo, esta só
ocorre quando a pessoa responde positivamente às alterações ambientais (Tomey e
Alligood, 2004, pág.309).
Seguindo a mesma linha de pensamento, Levine (cit. in George, 2000, pág.163)
alude que a pessoa não pode ser compreendida fora do contexto temporo - espacial no
qual ela interage. Pois os seres humanos para além da influência de situações imediatas,
sustentam “a carga de uma vida inteira de experiencias”. Referindo também, que a
saúde e a doença são protótipos de mudança adaptativa.
A privacidade é uma necessidade e um direito do ser humano e é imprescindível
para a conservação da dignidade. O homem procura preservar a sua intimidade, quando
esta é invadida, demonstra surpresa, vergonha, temor e nervosismo quando é tocado na
prestação de cuidados (Bettinelli et al, 2010, pág.45). Sendo a privacidade uma
necessidade e um direito do ser humano que é indispensável para a manutenção da sua
individualidade, foram elaboradas normas para o meio hospitalar, que conjugam a ética
e a lei, tendo sido publicadas na carta de direitos e deveres do doente; onde é referido no
ponto 11, que o doente internado tem direito à privacidade na prestação de todo e
qualquer acto clínico.
49
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
A privacidade do doente na prestação de cuidados, face às condições oferecidas
pelas instituições hospitalares, muitas vezes constitui um conflito e desafio para os
enfermeiros. Nos doentes inconscientes a prestação de cuidados não é tão minuciosa,
facto que faculta o tratamento de forma rotineira ou mecânica, uma vez que existe a
interpretação empírica do enfermeiro, de que o doente neste estado, não tem percepção
da realidade, podendo ser tratado como um ser inanimado desprovido de qualquer
sentimento e reacção. No entanto, a violação da privacidade é uma ofensa à sua
dignidade, não pelos actos em si mas pelo modo como se processa, levando o doente,
mesmo com o nível de consciência alterado, a sentir-se embaraçado, humilhado,
invadido e despersonalizado (Bettinelli et al, 2010, pág.47 e 48).
Assim, Oriá et al. (2004, pág.296) alegam que devemos ver o doente
hospitalizado como um ser complexo que tem necessidades bio - psico - sócio espirituais e emocionais e que se encontra fragilizado pela doença. Contudo, mantém a
sua individualidade sendo na maioria das vezes, capaz de decidir sobre os cuidados
prestados.
Os
enfermeiros,
devem
estar
sensibilizados
para
perceber
essa
individualidade assim como as necessidades de cada pessoa, facilitando deste modo o
processo de recuperação e consequentemente a diminuição do tempo de internamento.
50
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
II – FASE METODOLOGICA
“ A metodologia é o discurso que acompanha o caminho ” Hesbeen (2006,
pág.134). Num trabalho de investigação, a metodologia é um dos aspectos fundamentais
a ter em conta, uma vez que faculta ao investigador a estratégia que orientará todo o
processo de pesquisa. Assim, todo o trabalho de investigação, para além dos objectivos
precisos, deve obedecer a critérios de rigor e sistematização (Fortin, 2003, pág.17).
A metodologia de um trabalho baseia-se numa narração argumentada, suportada,
referenciada e elegantemente redigida, daquilo que o investigador descobre à medida
que avança com os meios que conseguiu, para investigar (Hesbeen, 2006, pág.133).
Fortin (2009, pág.53) refere que esta fase “ (…) consiste em definir os meios de realizar
a investigação. (…) o investigador determina a sua maneira de proceder para obter respostas às questões
de investigação ou verificar as hipóteses ”.
Trujillo (cit. in Marconi e Lakatos, 2008, pág.44) menciona que “ Método é a forma
de proceder ao longo de um caminho. Na ciência os métodos constituem os instrumentos básicos que
ordenam de inicio o pensamento em sistemas, traçam de modo ordenado a forma de proceder do cientista
ao longo de um percurso para alcançar um objectivo ”.
Kaplan (cit. in Marconi e Lakatos, 2008 pág.44) refere ainda que “ (…) a
característica distintiva do método é a de ajudar a compreender, no sentido mais amplo, não os resultados
da investigação científica, mas o processo de investigação ”.
A metodologia do presente trabalho é constituída pelo desenho de investigação,
do qual faz parte o meio, o tipo de estudo, a população e a amostra assim como as
51
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
variáveis. Nesta fase também se fez referência aos princípios éticos, ao instrumento de
recolha de dados, pré-teste, e ao tratamento e análise dos dados.
2.1 - Desenho da Investigação
Segundo Fortin (2009, pág.214), o desenho de investigação “ (...) define-se como o
conjunto das decisões a tomar para por de pé uma estrutura, que permita explorar empiricamente as
questões de investigação ou verificar as hipóteses. O desenho de investigação guia o investigador na
planificação e na realização do seu estudo de forma a que os objectivos sejam atingidos ”.
2.1.1 - Meio
Tendo em conta a natureza deste estudo, considera-se pertinente esclarecer o
meio em que este se desenvolveu. Os estudos conduzidos fora do laboratório, tomam o
nome de estudos em meio natural (Fortin, 2003, pág.132). Assim, o presente estudo foi
realizado em meio natural.
O critério utilizado para a escolha do meio, o meio natural, prendeu-se com o
facto de ser o local onde o investigador estuda – Faculdade de Ciências da Saúde da
UFP - Porto, o que possibilitou a acessibilidade na recolha de dados aos alunos do 4º
ano do curso de Licenciatura em Enfermagem.
2.1.2 -Tipo de estudo
Após uma reflexão sobre os diferentes métodos existentes e os objectivos
preconizados para este estudo, optou-se pelo método quantitativo transversal para a
investigação e como tipo de estudo, o descritivo exploratório.
52
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Fortin (2009, pág.236) refere que “ Os estudos descritivos visam obter mais informações
sobre as características de uma população ou sobre fenómenos pouco estudados e sobre os quais existem
poucos trabalhos de investigação. (…) o investigador estuda uma situação, tal como ela se apresenta no
meio natural, com vista a destacar as características de uma população (...) ou conceitos que foram pouco
estudados(...). A descrição dos fenómenos precede a exploração de relações entre os conceitos ”.
Assim, trata-se de um estudo exploratório - descritivo porque explora e descreve
um determinado fenómeno – “Privacidade”, quantitativo pois existe uma possível
quantificação dos dados obtidos que se poderá expressar em quadros e gráficos, e
transversal porque a colheita de dados será realizada no primeiro contacto.
2.1.3 - População e Amostra
No âmbito da realização de qualquer trabalho de investigação, torna-se
fundamental uma população. Para Fortin (2009, pág. 310 e 311) a “ (...) população
define-se como um conjunto de elementos (indivíduos, espécies, processos) que têm
características comuns ”.
Considerando ainda que “ A população alvo é o conjunto das pessoas que satisfazem os
critérios de selecção definidos previamente e que permitem fazer generalizações. Como raramente se tem
a possibilidade de estudar a população alvo na sua totalidade, examina-se a população acessível. (...) que
deve ser representativa da população alvo ”.
No presente trabalho, a população alvo que servirá de base a este estudo, são
todos os alunos do 4º ano do curso de Licenciatura em Enfermagem, da Universidade
Fernando Pessoa – Porto. No entanto, o facto de por vezes não existirem meios para
realizar o estudo a toda a população, pode-se a partir desta, criar uma amostra.
53
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Stephen et al. (2003, pág.44) referem que “ A amostra do estudo é o subconjunto
da população alvo disponível para o estudo ”. Assim sendo, a amostra do corrente
estudo é constituída por 60 alunos do 4ºano do CLE da Universidade Fernando Pessoa Porto, que estavam presentes no dia 4/06/2010, à mesma hora no seminário referente ao
ensino clínico de Integração Profissional, na Faculdade de Ciências da Saúde da UFP, e
que livremente se disponibilizaram para o preenchimento do instrumento de recolha de
dados, após a adequada informação relativa aos objectivos do estudo e à garantia do
direito de privacidade e confidencialidade.
2.1.4 - Variáveis em estudo
As variáveis são segundo Fortin (2009, pág.171) “ (…) as unidades de base da
investigação. (...) são qualidades, propriedades ou características de pessoas, objectos de situações
susceptíveis de mudar ou variar no tempo ”.
Polit e Hugler (1995, pág.36) dizem-nos ainda que “ (…) a actividade de investigação
é empreendida a fim de compreender como e porquê os valores de uma variável mudam e como eles estão
associados com os diferentes valores de outras variáveis ”.
As variáveis, podem ser classificadas de diferentes formas pela sua aplicação na
investigação, sendo que umas são manipuladas e outras controladas. Assim sendo, as
variáveis utilizadas neste estudo são classificadas como variáveis independentes e
dependentes.
A variável dependente segundo Marconi e Lakatos (2008, pág.189) “ Consiste
naqueles valores (fenómenos, factores) a serem explicados ou descobertos, em virtude de serem
influenciados, determinados ou afectados pela variável independente ”.
54
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Assim, para o corrente estudo foi definida como variável dependente: a
importância que os alunos do 4º ano do CLE da UFP - Porto, atribuem à privacidade
nos cuidados de enfermagem.
Ainda de acordo com Marconi e Lakatos (2008, pág.189), a variável
independente “ É a que influencia determina ou afecta outra variável; (…) é o factor manipulado pelo
investigador na sua tentativa de assegurar a relação do factor com um fenómeno observado ou a ser
descoberto, para ver que influência exerce sobre um possível resultado ”.
Assim, definiu-se como variável independente:
 Idade
 Género
 Estado civil
2.2 - Instrumento de recolha de dados
Qualquer trabalho de investigação implica recolha de dados, dados estes, que
nos permitem elaborar respostas às questões e hipóteses levantadas, possibilitando
assim um aprofundamento dos conhecimentos. Assim, segundo Fortin (2003, pág.41)
“ A colheita de dados efectua-se segundo um plano preestabelecido. Consiste, e faz-se em
função das variáveis e da sua operacionalização, dependendo igualmente da estratégia de análise
estatística considerada. Consiste na colheita sistemática de informações junto dos participantes, com a
ajuda dos instrumentos de medida escolhidos. Nesta etapa, deve-se precisar a forma como se desenrola a
colheita de dados bem como as etapas preliminares que conduziram à obtenção das autorizações
requeridas para efectuar o estudo no estabelecimento escolhido, se for o caso disso ”.
55
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Face à população e tipo de estudo, optou-se por um questionário especificamente
elaborado para o estudo, tendo como base um questionário já elaborado (Veríssimo,
2009).
Fortin (2009, pág.380 e 387) menciona que “ O questionário é um instrumento
de colheita de dados que exige dos participantes respostas escritas a um conjunto de
questões ”. Referindo ainda que
“ (...) é um meio rápido e pouco dispendioso de obter dados, junto de um grande número de
pessoas distribuídas por um vasto território. (...) Além disso o anonimato das respostas tranquiliza os
participantes e leva-os a exprimir livremente as suas opiniões ”.
Na elaboração deste questionário, teve-se o cuidado de construir um conjunto de
questões fechadas, no entanto houve a necessidade de incluir questões abertas (questão
nº 8, 9, 10, 11 e 13), tendo como objectivo enriquecer o estudo com a opinião dos
alunos, permitindo-lhes expressarem outra opinião igualmente ou mais significativa.
O questionário é composto por três grupos, sendo que o primeiro é constituído
por questões fechadas, que visam a caracterização sócio - demográfica da amostra. O
segundo grupo é constituído por questões que visam saber a opinião dos alunos do
4ºano do CLE, da UFP, sobre a privacidade na prática dos cuidados de enfermagem e o
terceiro grupo, por questões que procuram conhecer a importância que os alunos do 4º
ano do CLE da UFP, atribuem à privacidade na prática dos cuidados de enfermagem.
2.2.1 - Pré-teste
A finalidade do pré - teste é constatar que as questões que fazem parte do
questionário são bem entendidas pela amostra. Segundo Fortin (2009, pág.386)
56
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
“ (…) consiste em verificar a eficácia e o valor do questionário junto de uma amostra reduzida
(entre 10 e 20 pessoas) da população alvo. Esta etapa é sem dúvida indispensável, porque permite
descobrir os defeitos do questionário, e fazer as correcções que se impõem ”.
Deste modo, no sentido de verificar a existência de dificuldades na sua
aplicabilidade, o pré-teste foi aplicado a dez alunos (que corresponde a 10%) do 4ºano
do CLE da UFP - Porto, que se disponibilizaram livremente para o seu preenchimento, e
que não incluíram a amostra. De salientar, que não houve necessidade de fazer
quaisquer alterações no instrumento de recolha de dados, pelo que se procedeu à sua
aplicação no dia 4 de Junho de 2010.
2.3 - Princípios éticos
Fortin (1999, pág.113) refere que “ Qualquer investigação junto de seres humanos
levanta questões morais e éticas. Na persecução da aquisição dos conhecimentos, existe um limite que
não deve ser ultrapassado: este limite refere-se ao respeito pela pessoa e à protecção do seu direito de
viver livre e dignamente enquanto ser humano ”.
Para a realização deste estudo, e para não fazer do mesmo uma forma de
intromissão na intimidade e proximidade dos sujeitos, torna-se necessário salientar e
respeitar os direitos determinados pelos códigos de ética e definir também
considerações éticas próprias, propondo manter o respeito pelo acesso ao mundo das
pessoas. Baseando-me em Fortin (1999, pág.116 à 120), tentei defender os cinco
princípios ou direitos fundamentais aplicáveis aos seres humanos, determinados pelos
códigos de ética:
 A autodeterminação
 A intimidade
 O anonimato e confidencialidade
 A protecção contra o desconforto e prejuízo
 Um tratamento justo e leal
57
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Direito à autodeterminação, baseia-se no princípio ético de respeito pelas
pessoas no qual qualquer pessoa é capaz de decidir e tomar decisões por ela mesma. No
presente estudo, quando se pediu a colaboração no preenchimento dos questionários, foi
indicado qual o tema e os objectivos do trabalho assim como a importância da
participação para o êxito do mesmo, ficando explicito que o sujeito é livre para decidir
se quer participar.
Direito à intimidade, baseia-se na liberdade da pessoa decidir sobre a extensão
da informação a dar ao participar no estudo e a determinar em que medida aceita
partilhar informações íntimas e privadas. Os participantes do estudo tiveram a
autonomia de decidir sobre a extensão da informação a dar.
Direito ao anonimato e confidencialidade, os resultados devem ser
apresentados de forma a que nenhum dos participantes do estudo possa ser reconhecido,
nem pelo investigador nem pelo leitor do relatório de investigação. No corrente estudo,
os resultados são apresentados de modo a que os participantes não são identificados,
nem pelo investigador nem pelo leitor do trabalho.
Direito à protecção contra o desconforto e prejuízo, equivale às regras de
protecção da pessoa, contra inconvenientes susceptíveis de lhe fazerem mal ou
prejudicarem. Não são previstos quaisquer riscos desta ordem no trabalho em causa.
Direito a um tratamento justo e leal, reporta para o direito de ser informado
sobre os objectivos, duração e métodos de investigação que lhe é requerida e que haja
ausência de prejuízo para os participantes do estudo. Para a aplicação do instrumento de
recolha de dados foi elaborado um pedido de autorização de colheita de dados,
assumindo-se o compromisso de assegurar o anonimato e confidencialidade das
respostas (anexo I).
58
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
2.4 - Tratamento de dados
Após a colheita de dados, é necessário proceder ao seu tratamento. Os dados
recolhidos através do questionário aplicado, foram tratados através da aplicação do
software S.P.S.S. (Statistical Package for Social Sciences), versão 17.0 para ambiente
windows sendo posteriormente analisados.
No tratamento estatístico dos dados, aplicou-se os procedimentos da estatística
descritiva e indutiva. Relativamente à estatística descritiva, utilizaram-se: Frequências
absolutas e relativas, Medidas de Tendência Central (Média) e Medidas de dispersão
(Desvio Padrão).
Os valores dos resultados foram apresentados na forma de média ± desvio
padrão. A variável “Privacidade” foi elaborada considerando a média das somatórias
dos itens 4, 6 e 7, as quais representam os três aspectos principais relacionados com a
privacidade durante os cuidados de enfermagem: intimidade, cuidados e comunicação.
Desta forma, a pontuação varia entre 1 e 5 pontos, sendo que quanto maior a pontuação
maior será a importância dada à privacidade.
Tendo em vista que a variável “Privacidade” tende a não apresentar uma
distribuição normal, foi utilizado o teste de significância não paramétrico U de MannWhitney para a comparação de diferenças entre dois grupos. Os resultados foram
considerados como estatisticamente significativos para um valor de p <0,05, e todas as
provas foram bilaterais.
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Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
III - FASE EMPÍRICA
3.1 - Apresentação, análise e discussão de resultados
Após a colheita de dados procedeu-se ao seu tratamento e análise através da
aplicação do software S.P.S.S. (Statistical Package for Social Sciences).
Marconi e Lakatos (2008, pág.285) referem que o tratamento de dados se inicia
“ (…) com a análise invariável. Aos resultados somam-se provas estatísticas e teste de validez, podendo
posteriormente, fazer interferências e interpretação dos resultados da investigação ”.
3.1.1 - Caracterização da Amostra
Gráfico 1 - Distribuição da amostra segundo o género
A amostra (Gráfico 1) constituída por 60 alunos do CLE do 4ºano da UFP Porto, é maioritariamente do género feminino (70%).
60
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quadro 1 - Distribuição da amostra segundo a idade por classes
Idade
21-22 anos
23-24 anos
25-26 anos
≥ 27 anos
Frequência
31
18
4
7
%
51,67
30,00
6,67
11,67
24,03 4,67 21 45 Média
Desvio Padrão
Mínimo
Máximo
Relativamente à faixa etária, a idade média da amostra é de 24,03±4,67 anos.
Gráfico 2 - Distribuição da amostra segundo o estado civil
De acordo com o gráfico 2, a amostra pertence maioritariamente ao estado civil:
solteiro (89,83%).
61
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Gráfico 3 - Distribuição da amostra de acordo com o conhecimento da Carta dos
Direitos dos Doentes
Quando questionados sobre a Carta dos Direitos dos Doentes (Gráfico 3), 86%
dos alunos referem conhecê-la.
3.1.2 - Importância da Privacidade nos Cuidados de Enfermagem
Quadro 2 - Distribuição da amostra sobre a percepção do conceito de privacidade
A privacidade é um direito do doente, que assume
Concordo
Discordo
Não tenho
certeza
100,00
0,00
0,00
68,33
28,33
3,34
78,33
1,67
20,00
especial relevância no âmbito do cuidar
A privacidade é a limitação do acesso às
informações de uma pessoa, ao acesso à própria
pessoa, à sua intimidade e anonimato
A privacidade, assenta em normas morais como
juramento de Florence Nightingale e declaração
universal dos direitos do homem
62
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quando questionados sobre o que entendiam por privacidade (Quadro 2), a
totalidade da amostra concorda que se trata de “ um direito do doente, que assume
especial relevância no âmbito do cuidar ”. Por outro lado 28,33% discordam que a
“privacidade seja a limitação do acesso às informações de uma pessoa, ao acesso à
própria pessoa, à sua intimidade e anonimato ”. Contudo, 78,33% dos inquiridos
concordam que a “ privacidade assenta em normas morais como o juramento de
Florence Nightingale e Declaração Universal dos Direitos do Homem ”.
A este respeito, Pupulim e Sawada (2002, pág.435) alegam que “ A privacidade
é uma necessidade e um direito de todo o ser humano, sendo indispensável para a
manutenção da sua individualidade”. Winslade (1995, cit. in Loch, 2007, pág.49)
profere também, que tanto legalmente como eticamente a privacidade se refere aos
direitos de intimidade assim como ao limite de acesso de terceiros ao corpo ou à mente
de alguém, quer através de contacto físico ou da revelação de pensamentos ou
sentimentos.
Quadro 3 - Distribuição da amostra de acordo com o grau de importância atribuída à
privacidade na prática de cuidados
Privacidade na prática de cuidados de
Enfermagem
Utilização de Biombos para
preservação da intimidade do doente
Existência de salas próprias para
tratamentos e exames
Existência de espaço próprio para
comunicação com o doente
Mais ou
menos
importante
Importante
Muito
importante
0,00
11,67
88,33
3,34
13,33
83,33
3,33
25,00
71,67
15,00
33,33
51,67
63
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Para 88,33% da amostra, a privacidade na prática de cuidados de enfermagem é
considerada muito importante (Quadro 3), verificando-se também a mesma opinião ao
considerar-se a utilização de biombos para a preservação da intimidade (83,33%), a
existência de salas próprias para tratamentos e exames (71,67%) e de um espaço próprio
para a comunicação com o doente (51,67%).
Sendo a hospitalização um factor de despersonalização para os doentes, devido à
dificuldade para manter a identidade, intimidade e privacidade, o enfermeiro tem um
papel importante para promover o bem-estar do ser humano, tendo em conta a sua
dignidade e singularidade (Pupulim e Sawada, 2002, pág.436). Deste modo, Carvalho e
Stefanelli (2005, pág. 37) alegam que
“ Quando interrogamos o paciente em local onde há proximidade com outras pessoas, a resposta
que obtemos, em geral, é bem diferente da que receberíamos num local acolhedor que permitisse respeitar
a privacidade do paciente ”.
Quadro 4 - Distribuição da amostra de acordo com o grau de importância da
privacidade nos diversos momentos da prática de cuidados
Nada
Pouco
importante importante
Admissão do Doente
Cuidados de Higiene
Realização de Exames
Administração de
Mais ou
menos
importante
Importante
Muito
importante
11,86
8,48
22,03
30,51
27,12
0,00
3,39
3,39
5,08
88,14
1,69
6,78
27,12
30,51
33,9
13,56
20,34
30,51
23,73
11,86
0,00
1,69
1,69
20,35
76,27
Terapêutica
Procedimentos
64
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quando questionados sobre o grau de importância da privacidade nos diversos
momentos da prática de cuidados de enfermagem (Quadro 4), verifica-se um
predomínio da opinião importante e muito importante em todas as actividades
relacionadas a esta prática. Contudo, na “Admissão do doente” e na “Administração
Terapêutica” observa-se que 11,86% e 13,56%, respectivamente, consideram a
privacidade como não sendo importante.
Quadro 5 - Pontuação média da importância da privacidade, referida nos diversos
momentos da prática de enfermagem
Média
Desvio Padrão
Cuidados de Higiene
4,78
0,671
Procedimentos
4,71
0,589
Realização de Exames
3,88
1,019
Admissão do Doente
3,53
1,305
Administração de Terapêutica
3,00
1,218
Por outro lado, pode-se observar que entre os diversos momentos da prática de
cuidados de enfermagem, os que são considerados como sendo de maior importância
para a manutenção da privacidade (Quadro 5) são os cuidados de higiene (4,78±0,671) e
a realização de procedimentos (4,71±0,589), como a algaliação, entubação nasogástrica,
realização de pensos, etc.
65
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quadro 6 - Distribuição da amostra de acordo com as atitudes durante os cuidados de
higiene
Frequência
%
58
98,31
3
5,08
1
1,69
Comunica com o utente conversando, tocando-o,
olhando-o nos olhos
Conversa com outro enfermeiro ou colaborador
sobre assuntos pessoais
Não conversa durante os cuidados
de higiene
Quando questionados sobre as atitudes adoptadas durante os cuidados de higiene
(Quadro 6), verifica-se que 98,31% da amostra afirma comunicar com o doente,
conversando, tocando-o e olhando-o nos olhos. Por outro lado, 5,08% também referem
que conversam com outro enfermeiro ou colaborador sobre assuntos pessoais.
Nakatani et al. (2004, pág.15 e 16) constataram no seu estudo, que as situações
de insensibilidade durante os cuidados de higiene, estão relacionadas com a ausência de
relacionamento interpessoal durante os cuidados de higiene. Mencionando ainda que o
momento de fragilidade do doente durante os cuidados de higiene pode ser minimizado
quando na sua execução existe o cuidado para além da técnica, cuidado que
proporcionará uma relação profunda, podendo haver comunicação, compreensão e
confiança. Martins (2009, pág.97) refere também que
“ (…) a comunicação antes, durante e após os cuidados de higiene pode contribuir para o
relaxamento do utente e facilitar uma interacção natural durante este procediemento ”.
66
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quadro 7 - Distribuição da amostra de acordo com a importância atribuída na forma de
agir nos diversos momentos da prática de cuidados
Como destapa o
Mais ou
Muito
menos
Importante
importante
importante
Nada
importante
Pouco
importante
3,57
7,14
7,14
10,71
71,43
6,78
3,39
5,08
15,25
69,49
12,50
3,57
19,64
14,29
50,00
16,36
9,09
18,18
20,00
36,36
7,02
1,75
3,51
24,56
63,16
doente (n=56)
Como presta a
higiene ao doente
(n=59)
Respeito pelo ritmo
do doente (n=56)
Hábitos dos doentes
(n=55)
Promoção de um
ambiente adequado
(n=57)
Quando questionados sobre o grau de importância na forma de agir nos diversos
momentos da prática de cuidados de enfermagem (Quadro 7), verifica-se um
predomínio muito elevado da opinião muito importante nas actividades relacionadas
com a forma “como destapa o doente” (71,43%) e como “presta a higiene ao doente”
(69,49%). Contudo, na actividade “atende aos hábitos dos doentes” observa-se uma
distribuição muito próxima entre os alunos que consideram importante (20%), mais ou
menos importante (18,18%) e nada importante (16,36%).
67
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quadro 8 - Pontuação média da importância da forma de agir referida nos diversos
momentos da prática de enfermagem
Média
Desvio Padrão
Como destapa o doente (n=56)
4,39
1,123
Como presta a higiene ao doente (n=59)
4,37
1,173
Promoção de um ambiente adequado (n=57)
4,35
1,123
Respeito pelo ritmo do doente (n=56)
3,86
1,407
Hábitos dos doentes (n=55)
3,51
1,477
Por outro lado, pode-se observar (Quadro 8), que entre as diversas formas de
agir durante a prática de cuidados de enfermagem, a “forma como destapa o doente”
(4,39±1,123), “como presta a higiene ao doente” (4,37±1,173) e a “promoção de um
ambiente adequado” (4,35±1,123) são as consideradas como sendo de maior
importância para a amostra em estudo.
Quadro 9 - Sentimentos despoletados na amostra, quando da necessidade de tocar em
áreas íntimas do corpo dos doentes (do sexo oposto) durante a prestação de cuidados
Frequência
%
36
11
9
8
5
5
4
3
60,00
18,33
15,00
13,33
8,33
8,33
6,67
5,00
Indiferença
Constrangimento
Receio
Incómodo
Inibição
Respeito
Agrado/carinho
Desagrado
De acordo com os resultados (Quadro 9), verifica-se que durante a prestação de
cuidados de enfermagem, a indiferença (60%) é o principal sentimento despoletado na
68
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
amostra, quando têm a necessidade de tocar em partes íntimas do corpo do doente. No
entanto, 5% referem sentir desagrado durante tal evento.
Pupulim, (2003, pág.5) refere que simultaneamente os doentes manifestam
angústia, constrangimento, embaraço e vergonha ao expor o seu corpo e os profissionais
de enfermagem parecem não perceber, muito menos sentirem estas emoções ao realizar
os cuidados. Provavelmente isto ocorre por eles também não se sentirem à vontade ou
por não terem habilidade para enfrentar esta situação, pressupondo-se que “disfarçam”
tal percepção.
Gráfico 4 - Distribuição da amostra de acordo com o hábito de respeito do espaço do
doente relativamente ao seu silêncio
Quando questionados se costumam respeitar o espaço do doente relativamente
ao seu silêncio (interioridade), 73% da amostra refere que sempre o faz (Gráfico 4). A
este propósito, Ogden (1999, cit. in Coelho e Barone, 2007, pág.91) refere que
“ É tão importante para o paciente saber que ele é livre para estar em silêncio, quanto é
importante que saiba que é livre para falar. Privilegiar a fala sobre o silêncio, a revelação sobre a
privacidade, a comunicação sobre a não - comunicação, parece ser tão não - analítico quanto privilegiar a
transferência positiva sobre a negativa, a gratidão sobre a inveja, o amor sobre o ódio (…) ”.
69
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quadro 10 - Sentimentos despoletados nos doentes quando ocorre invasão da
privacidade
Frequência
%
48
41
15
13
9
1
1
80,00
68,33
25,00
21,67
15,00
1,67
1,67
Incómodo
Vergonha
Tristeza
Ansiedade
Pudor
Desagrado
Indignação
Verifica-se (Quadro 10), que para a amostra, o incómodo (80%) e a vergonha
(68,33%) são os principais sentimentos despoletados nos doentes quando ocorre invasão
da sua privacidade.
Pupulim (2003) no seu estudo concluiu que o sentimento prevalente entre os
doentes é a vergonha, predominando no momento do internamento e na execução de
procedimentos, seguida pela sensação de mal-estar, medo e tensão.
De acordo com o CDOE, no artigo 86.º, atendendo aos sentimentos de pudor e
interioridade inerentes à pessoa, o enfermeiro assume o dever de:
a) Respeitar a intimidade da pessoa e protege-la da ingerência na sua vida privada e
na da sua família
b) Salvaguardar sempre, no exercício das suas funções e na supervisão das tarefas
que delega, a privacidade e a intimidade da pessoa.
70
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Gráfico 5 - Distribuição da opinião da amostra, sobre os principais aspectos necessários
para a humanização dos cuidados de enfermagem
Na opinião da amostra (90%), o respeito pela pessoa, a individualização e a
privacidade do doente é o principal fundamento para a humanização dos cuidados de
enfermagem (Gráfico 5).
Bettinelli et al. (2003, pág.238) mencionam que “ Humanizar o processo do cuidado
resume-se na responsabilidade profissional, no esforço de tratar as pessoas respeitando suas necessidades
intrinsecas; estimulando suas potencialidades; e considerando a sua autonomia nas escolhas ”.
De acordo com CDOE, no artigo 89º., o enfermeiro, sendo responsável pela
humanização dos cuidados de enfermagem, assume o dever de:
a) Dar, quando presta cuidados, atenção à pessoa como uma totalidade
única,inserida numafamilia e numa comunidade.
b) Contribuir
para
criar
o
ambiente
potencialidades da pessoa.
71
propicio
ao
desenvolvimento
das
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quadro 11 - Momentos de reflexão sobre a importância do respeito pela privacidade na
prestação de cuidados
Frequência
%
Durante a prestação directa de cuidados
47
78,33
No final do turno
14
23,33
Durante os seminários
10
16,67
No final do ensino clínico
8
13,33
Durante os registos
3
5,00
No fim da semana de trabalho
2
3,33
Verifica-se (Quadro 11) que, ao longo das experiências no contexto de ensinos
clínicos, os principais momentos nos quais a amostra estudada, realizou alguma reflexão
sobre a importância do respeito pela privacidade na prestação de cuidados, ocorreu
durante a prestação directa de cuidados (78,33%) e durante o final do turno (23,33%).
Johns (1998, cit. in Waldow, 2009, pág.142) menciona que “ Reflectir sobre as
experiências favorece olhar para dentro e ver-se a si próprio, confrontando o que se quer com o que se
faz. Isso faz com que se consiga entender as contradições entre o que é desejado e o que é, na verdade,
realizado no nosso quotidiano profissional. O conflito que inevitavelmente surge provoca uma reacção, ou
seja, faz com que se busquem meios para resolver as contradições, portanto fortalece e encaminha para a
acção que, em geral, é a de mudança ”.
72
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quadro 12 - Pontuação e consistência interna da escala de privacidade durante os
cuidados de enfermagem
Frequência
%
1
1
9
7
19
23
1,67
1,67
15,00
11,67
31,67
38,33
Privacidade (1-5 pontos)
3,33 pontos
3,67 pontos
4,00 pontos
4,33 pontos
4,67 pontos
5,00 pontos
4,61
0,41
0,501
Média
Desvio Padrão
α de Cronbach
Com a finalidade de avaliar a importância que os alunos atribuem à privacidade,
elaborou-se uma escala considerando os três aspectos principais relacionados com a
privacidade durante os cuidados de enfermagem: intimidade, cuidados e comunicação.
Tal instrumento apresenta uma razoável consistência interna (α=0,501), sendo adequada
para aplicação neste estudo (Quadro 12). Como pode ser verificado, a amostra estudada
refere um elevado nível de importância (4,61±0,41) em relação à privacidade.
Quadro 13 -Pontuação média dos aspectos relacionados com a atribuição de
privacidade dos doentes
Média
Desvio Padrão
Utilização de biombos
4,80
0,480
Cuidados
Sala para tratamentos e
exames
Comunicação
4,68
0,537
Sala para falar com doentes
4,37
0,736
Intimidade
73
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Entre os aspectos considerados na atribuição de privacidade aos doentes (Quadro
13) verifica-se que a manutenção da intimidade através da utilização de biombos
(4,80±0,480) é o factor que mais contribui para a sua importância. Por outro lado, e
apesar da elevada importância também atribuída, a privacidade para o processo de
comunicação realizada dentro de uma sala (4,37 ± 0,737) é o aspecto considerado com
menor importância.
O estudo elaborado por Soares (2010, pág.48) revela que existem diversos
factores que contribuem para a violação da privacidade do doente no ambiente
hospitalar, tais como a falta de biombos, de cortinas divisórias, as portas entreabertas, a
circulação excessiva de pessoas, o “abre e fecha” das portas nos momentos de
realização de procedimentos e a presença de pessoas que por vezes abrem as portas e
espreitam para dentro do quarto.
Quadro 14 - Comparação da importância atribuída à privacidade entre os géneros e
entre o estado civil
Privacidade
Média
Desvio Padrão
Ranking Médio
Masculino
4,59
0,371
28,44
Feminino
4,62
0,430
31,38
Solteiro
4,62
0,411
31,08
Casado/Divorciado
4,52
0,424
26,14
p
Género
0,531
Estado Civil
0,461
Com a finalidade de verificar diferenças na importância atribuída à privacidade
entre os géneros e entre o estado civil (Quadro 14), aplicou-se o teste de Mann-Whitney,
não sendo observadas diferenças estatisticamente significativas entre eles. Da mesma
forma, e após a aplicação da correlação de Spearman, observou-se uma correlação
negativa (rho= -0,038), porém não significativa (p=0,776) entre a importância da
privacidade e a idade.
74
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Quadro 15 - Comparação entre os géneros na forma de agir referida nos diversos
momentos da prática de enfermagem
Género
Masculino
p
Feminino
Média
Desvio
Padrão
Ranking
Médio
Média
Desvio
Padrão
Ranking
Médio
Como destapa o doente
4,12
1,219
23,85
4,51
1,073
30,53
0,077
Como presta a higiene
ao doente
4,76
0,562
34,24
4,21
1,317
28,29
0,380
Promoção de um
ambiente adequado
3,63
1,408
25,31
3,95
1,413
29,78
0,319
Respeito pelo ritmo do
doente
3,47
1,375
27,03
3,53
1,538
28,43
0,756
Hábitos dos doentes
4,50
0,985
30,50
4,28
1,191
28,31
0,588
Com a finalidade de verificar diferenças nas tácticas de privacidade adoptada
(forma de agir) pela amostra na prestação de cuidados entre os géneros (Quadro 15),
aplicou-se o teste de Mann-Whitney, não sendo observadas diferenças estatisticamente
significativas entre eles.
Quadro 16 - Correlação entre a idade e a forma de agir referida nos diversos momentos
da prática de enfermagem
Idade
Rho
p
Como destapa o doente
-0,079
0,560
Como presta a higiene ao doente
0,096
0,468
Promoção de um ambiente adequado
0,129
0,331
Respeito pelo ritmo do doente
-0,064
0,639
Hábitos dos doentes
-0,099
0,468
75
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Da mesma forma e após a aplicação da correlação de Spearman, não foram
verificadas diferenças estatisticamente significativas (p>0,05) entre as tácticas de
privacidade adoptada (forma de agir) pela amostra, na prestação de cuidados e a idade
(Quadro 16).
76
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
IV - CONCLUSÃO
O cuidado em enfermagem e a invasão da privacidade estão relacionados, é um
tema pertinente e actual, tendo em conta o crescente aumento da consciencialização dos
direitos do doente por parte da sociedade.
A comunicação é intrínseca ao ser humano mas muitas vezes não atribuímos
verdadeira importância a este acto, que é essencial para nos relacionarmos com os
outros. Para o enfermeiro, comunicar é essencial e imprescindível, quer para estabelecer
um relacionamento empático quer para identificar as necessidades de cada doente, facto
que contribui para que o doente tenha confiança no enfermeiro e se sinta seguro quando
há a necessidade de se prestar cuidados.
Cuidar de alguém requer uma aproximação constante, o que torna o contacto
físico inevitável criando assim, uma proximidade com a intimidade de quem se cuida.
Deste modo, o cuidado muitas vezes leva à invasão da intimidade e privacidade, e
ambas devem ser protegidas pelo enfermeiro.
A pessoa não é apenas um corpo onde são aplicados conhecimentos e
procedimentos técnicos, tem consigo uma história de vida, valores, crenças e necessita
de cuidados personalizados. Os princípios, os valores e as crenças, de cada pessoa
fazem parte do processo de cuidar, assim, reflectir sobre o modo como se presta
cuidados e como os melhorar, promove um progresso nos cuidados, o que se reflecte na
melhoria do estado de saúde.
77
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
O respeito é uma condição necessária para cuidar, neste sentido, os cuidados,
como refere Gaut (1986, cit. in Mckenna, 1994), são um gesto humano tencional, assim
sendo, o respeito pela pessoa funciona como um princípio subjacente a todas as trocas
de cuidados.
Portanto, o respeito pela pessoa implica dar atenção às suas necessidades bem
como preservar a sua privacidade e respeita-la, valorizando a sua singularidade
enquanto pessoa e doente.
Sendo a privacidade uma necessidade e um direito humano, o seu desrespeito,
como refere Camilo et al. (1999), constitui uma ameaça real ao equilíbrio interno de
cada ser humano, dificultando a resposta às suas necessidades fundamentais e
consequentemente impedindo-o de resolver os seus conflitos internos.
Assim, o profissional de enfermagem deve estar consciente de que se não
respeitar a privacidade do doente isso vai reflectir-se por certo na sua recuperação.
Neste sentido deve estar atento e minimizar as condições físicas da unidade, no sentido
de preservar a privacidade do doente.
Este trabalho, constituiu um forte momento de aprendizagem e reflexão pelo que
se atingiram os objectivos preconizados.
A totalidade da amostra em estudo, considerou a privacidade um direito do
doente que assume especial relevância no âmbito do cuidar, bem como na prática dos
cuidados. De salientar que alguns alunos não consideram que a privacidade seja
importante no âmbito da admissão do doente e na administração de terapêutica.
78
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
Porém, alguns alunos da amostra, referiram conversar com outro enfermeiro ou
colaborador sobre assuntos pessoais enquanto prestam cuidados e não respeitam o
espaço do doente, relativamente ao seu silêncio.
Constatou-se também, que quando prestam cuidados, grande parte dos alunos
considera ser muito importante a forma como se destapa o doente e como são prestados
os cuidados de higiene. No entanto, no que diz respeito ao atendimento dos hábitos do
doente há uma aproximação das opiniões (importante, mais ou menos importante e nada
importante).
De notar que os alunos da amostra referiram que os principais momentos em que
realizaram alguma reflexão sobre a importância do respeito pela privacidade na
prestação de cuidados, ocorreram durante a prestação directa de cuidados, nos
seminários e no final do ensino clínico.
A realização deste estudo foi muito gratificante pois proporcionou-nos reflexão,
aprendizagem, crescimento e tornou-nos ainda mais conscientes da importância da
privacidade. Espera-se que esta pesquisa contribua para a reflexão sobre a importância
que cada um tem, enquanto pessoa e profissional na prestação de cuidados.
Acreditamos, que não é a realização de procedimentos técnicos nem o conhecimento
científico que faz de nós melhores profissionais de enfermagem, é preciso saber cuidar,
e isso implica ter sensibilidade para escutar atentamente o que o doente nos diz, para
promover a comunicação respeitando as suas crenças e valores, para dar suporte
emotivo e psicológico e acima de tudo é preciso ter respeito pela vida e pelo grande
valor que esta representa, porque antes de ser enfermeiro é necessário ser humano.
79
Privacidade nos Cuidados de Enfermagem: importância atribuída pelos alunos do 4ºano do CLE
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