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Resenha: VEYNE, P. A Sociedade Romana. Lisboa: Edições 70, 1993
Docente: Andréa Lúcia D. Oliveira Carvalho Rossi
Discente: Dalmo Alexsander Fernandes
VEYNE, P. A Sociedade Romana. Lisboa: Edições 70, 1993.
O livro "A Sociedade Romana", do arqueólogo e historiador francês Paul-Marie
Veyne, faz uma síntese sobre como a sociedade romana se estruturava, vivia e se
mantinha. Analisando através de curiosos aspectos da vida de personagens, do povo
romano, ou através de questões importantes como a família, a evolução do paganismo, o
suicídio, o fisco e a propriedade rural ele faz uma análise interessante e curiosa da grande
sociedade que é a sociedade romana.
Sendo dividido em duas partes, em que a primeira, dividida em três capítulos, fala
sobre como era estruturada e composta a sociedade, a economia e o direito romano. Na
qual utiliza o personagem Trimalquião, da obra romana de Petrônio, falando como ele
deixou de ser escravo e se tornou um liberto, como era a vida de um liberto, como
poderia fazer seu dinheiro render mais e fala sobre o termo "princeps libertinorum".
Passa então a falar sobre era a vida de um escravo e logo em seguida sobre como era o
extenso direito romano como: o suicídio, o fisco, a escravatura, o capital e o direito em si.
Na segunda parte do livro Veyne o divide em quatro capítulos, em que fala sobre:
a autarquia romana, expondo seus mitos e realidades; como o povo romano via a família
e seu amor pelo Império, mostrando com surgiu a hoje famosa moral cristã e o seu
embate com a religião; o folclore romano; sobre a consciência publica e a conduta
individual, como a justiça popular; e finalizando sobre como o paganismo greco-romano
surgiu e cresceu.
Iniciando o livro com o tema sobre a escravidão romana Paul-Marie Veyne já
começa mostrando como a escravidão romana era distinta da conhecida hoje, devido à
utilizada na colonização do continente americano. Utilizando do famoso personagem da
Trimalquião, da obra "Satíricon" de Petrônio, Veyne analisa como Trimalquião deixa de
ser escravo e se torna um liberto. Falando desde sua origem asiática e como foi comprado
pelo seu Senhor e como foi um bom escravo. Ao morrer, seu senhor lhe deixa toda sua
riqueza. Logo Trimalquião deixa de ser um escravo e passa a ser um homem do comércio
romano de alto nível, vivendo como um aristocrata. E com essa trajetória onírica, como o
próprio autor fala, vemos como foi sua vida em Roma: desde um simples escravo,
passando por um liberto independente, sendo um "capitalista" e proprietário de terras até
conseguir os mesmo estilo de vida de uma classe sem pertencer a esta classe.
Fazendo um dossier, como o próprio titulo do capitulo, sobre o que era o sobre
como viviam os escravos-colonos, Veyne afirma que:
"[...] juridicamente, estes escravos colonos são sempre escravos, mas, do ponto de vista
da exploração, são arrendatários ou rendeiros."1
Fazendo uma analise sobre o direito romano e o suicídio, sua "admiração" na
sociedade; o fisco; a escravatura, e como alguém pode se tornar ou retornar a ser escravo;
o capital e o direito em si, Veyne faz uma grande síntese analisando, afirmando que:
"[...] nosso objetivo é duplo: procurar como os juristas romanos, porventura
inconscientemente, realmente raciocinam a propósito do suicídio, e ver que espécie de relação
existia entre seu pensamento e as várias opiniões que circulavam na sociedade romana acerca de
tal assunto, [...]2"
Na segunda parte do livro "As Mentalidades", o autor fala sobre como o cidadão
romano pensava e tinha suas concepções diárias de vida. Falando sobre política, Paul
Veyne expõe o que existia de mentira e verdade sobre a autarquia romana, ou seja, a
autonomia romana, sobre tudo a econômica. Falando sobre as mudanças econômicas e
principalmente políticas que ocorreram em Roma.
Alegando que entre o Império de Cícero e o "dos Antoninos" houve uma
metamorfose, em que a moral pagã se tornou idêntica a moral cristã do matrimônio,
Veyne nos mostra que a moral cristã teve influência da moral pagã, que fez surgir uma
nova religião e os confrontos ideológicos que ocorreram entre elas e a Religião.
No folclore romano existiam várias rudezas nos escritos, mas nos servem como
documentos para estudar a época, passando a falar também da justiça popular, pois como
numa época coletividade não tinha se consolidado e Veyne afirma:
1
VEYNE, P. A Sociedade Romana. Lisboa: Edições 70, 1993, p. 49.
2
(Idem), p. 73.
"[...] numa época em que a coletividade não se sente ainda, de forma nenhuma, privada,
por parte do poderes público, de um direito de censura sobre os factos e sobre os
comportamentos de cada um. 3"
Finalizando o livro Paul Veyne fala sobre uma evolução do paganismo grecoromano, isto é, com o passar dos tempos uma segunda onda de paganismo se mistura a
religiosidade, devido à "injustiça" dos deuses ou como outros afirmar a "boa fé" dos
deuses. Uma grande discussão em que o autor finaliza com suas considerações finais.
Percebemos que o livro expõe de maneira distinta e curiosa da sociedade romana.
Uma análise distinta já que usa de maneiras não convencionais, como a utilização do
personagem Trimalquião, e curiosa já que atrai o leitor devido à maneira com que escreve
e dá exemplos como o do diretor-geral e sua fábrica que decide se dedicar
exclusivamente no bar da fábrica, devido ao seu lucro ser superior ao da fábrica para
explicar a autarquia romana.
Sua divisão também é interessante, já que utiliza de uma divisão fácil e simples, e
que uma parte fala sobre a sociedade, economia e direito e logo em seguida a expande
para como os romanos viviam e pensavam sobre tudo isso. Explorando o mitos e
realidades de Roma, numa divisão em que expande cada vez mais a mente e o
conhecimento do leitor.
Sendo muito útil para a compreensão da grande sociedade que é a romana, em que
expande o conhecimento de quem já sabe um pouco sobre a história do Império Romano
por meio de exemplos, de comparações e de utilização de personagens fictícios que é
fundamental para quem quer conhecer um pouco mais de Roma e fugir de muita teoria da
historiografia.
O autor, Paul-Marie Veyne, nascido em 13 de junho de 1930 em Aix-en-Provence,
França, é arqueólogo e historiador, especialista em Roma antiga. Antigo aluno da École
Normale Supérieure, de 1951 a 1955, foi membro da École Française de Rome. Depois
3
(Idem), p. 198.
disso, transferiu-se para Aix-en-Provence, como um professor da Universidade da
Provença. Foi durante a estadia em Aix que Veyne alçou fama pela primeira vez, com o
provocador "Comment on écrit l'histoire". Ensaio de epistemologia, publicado em 1970,
contrapondo-se à tendência à quantificação que predominava no cenário historiográfico
francês dos anos 1970.
No campo da história antiga, a primeira grande obra de Veyne é "Le pain et le
cirque", uma monografia sobre o evergetismo, publicada em 1975. Nesse mesmo ano,
apoiado por Raymond Aron, Veyne ingressou no Collège de France, onde permaneceria
até 1999, como titular da cátedra de história romana.
Em 1978, Veyne republicou "Comment on écrit l'histoire". Neste novo ensaio,
Veyne distancia-se do seu narrativismo inicial, interpretando a obra de Michel Foucault
como marco de uma transformação fundamental no pensamento histórico. Com este
ensaio Veyne afirmou-se como um importante intérprete da obra de Foucault, com quem,
a propósito, mantinha amizade. Em 2008, Veyne publicaria ainda um retrato intelectual
de Foucault, nomeadamente, o livro "Foucault. Sa Pensée, sa personne".
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