Under Embargo 00:01BST, 10thof May 2016: De batatas-doce à orquídeas Novo relatório publicado pelo Jardim Botânico de Kew, no Reino Unido, convoca comunidade científica global a se unir a fim de garantir a saúde do planeta. O Jardim Botanico Real de Kew divulgou hoje o primeiro relatório anual sobre o Estado das Plantas do Mundo. O documento foi lançado durante as atividades do Simpósio Internacional de Ciência e Política sobre o tema, realizado na própria instituição. O primeiro relatório anual “Estado das Plantas do Mundo” (State of the World’s Plants), que contou com a participação de mais de 80 cientistas e levou cerca de um ano para ser produzido, representa a mais completa e atual avaliação sobre a diversidade de plantas no mundo. O abrangente relatório aponta ainda quais as principais ameaças globais incidindo sobre essas plantas nos dias de hoje, além de uma análise sobre a eficácia das políticas públicas em vigor para lidar com os fatores que afetam a persistência das espécies da flora. “Esta representa a primeira avaliação sobre o estado da flora em escala global. Já havíamos produzido relatórios semelhantes para diversos outros grupos biológicos, como aves, tartarugas-marinha, florestas, cidades, até mesmo mães, pais, filhos e antibióticos, mas nunca antes para plantas. Acho isso notável, uma vez considerada a enorme importância das plantas em nossas vidas – desde alimentos, medicamentos, roupas, materiais de construção e biocombustíveis, até a regulação do clima. Assim, acredito que esse relatório forneça o primeiro passo para suprirmos essa lacuna de conhecimento fundamental sobre o estado da flora global”, disse a Dr. Kathy Willis, diretora científica do Jardim Botânico Real, Kew, durante o lançamento oficial do relatório na última Segunda-Feira. “Mas para ter efeito, os resultados obtidos devem servir para galvanizar a comunidade científica internacional junto a outros setores da sociedade, como agências conservacionistas, grandes empresários e tomadores de decisão. É necessário unir esforços e trabalhar em conjunto com diferentes atores, visando preencher as lacunas de conhecimento identificadas durante esse trabalho, expandindo assim a colaboração internacional e consolidando parcerias e protocolos para uma efetiva conservação e uso das plantas”, acrescentou. O status das espécies constantes no relatório baseia-se no mais atualizado conhecimento científico disponível e publicado até 2016 em todo o mundo, sendo dividido em três seções: descrevendo as plantas do mundo, ameaças globais às plantas e políticas e comércio internacional. Descrevendo e contando A primeira secção foca na diversidade total de plantas na terra. Os resultados apontam para um número estimado de 391.000 plantas vasculares conhecidas pela ciência, dos quais 369.000 são Angiospermas (plantas com flores) - e cerca de 2.000 novas espécies de plantas vasculares descritas anualmente. Muitas das espécies mais intrigantes foram encontradas durante trabalhos de campo e expedições, enquanto muitas outras foram detectadas apenas depois de já terem sido preservadas, arquivadas e incluídas nos acervos científicos como espécimes de herbário. Ainda, outras poucas descobertas foram realizadas nas estufas do próprio Kew. Drosera magnifica, uma das maiores plantas insetívoras conhecidas (1.5m de altura) até hoje, foi descoberta pela primeira vez de forma surpreendente no Facebook, após uma foto ser publicada por um usuário em um grupo temático. Dezoito novas espécies do gênero Ipomoea (Convolvulaceae) foram descritas na Bolívia no ano passado, entre elas um parente próximo da batata-doce, Ipomoea batatas, oferecendo opções inovadoras para o futuro deste cultivar. "Ainda há, contudo, grandes partes do mundo onde muito pouco se sabe sobre plantas. A identificação precisa destas áreas importantes para diversidade de plantas agora é crítica", disse Steven Bachman, líder estratégico do Kew na confecção do relatório. "Da mesma forma, nós só conhecemos uma pequena fração da diversidade genética de plantas, e sequências completas de todo o genoma estão disponíveis para apenas 139 espécies de plantas vasculares. É necessário acelerar pesquisas nessa área”, acrescentou. Plantas úteis Em relação aos usos das plantas, o relatório compilou dados a partir de múltiplas fontes para revelar que, pelo menos 31.000 espécies de plantas têm um uso documentado, seja como medicamentos, alimentos, materiais e assim por diante. A maioria (17.810 plantas) das espécies listadas tem algum tipo de uso medicinal. Além das plantas que vem sendo atualmente utilizadas, o relatório aponta ainda onde os futuros esforços de coleta devem se concentrar para encontrar espécies ainda pouco utilizadas ou sequer conhecidas pela ciência. Os parentes silvestres dos principais cultivares alimentícios representam um conjunto de espécies de importância crítica para a segurança alimentar mundial. A diversidade genética destes parentes poderia ajudar a impulsionar a melhoria de nossas culturas no futuro, de crucial importância para o desenvolvimento de variedades mais resistentes e eficientes. Um inventário recente revelou que existem atualmente 3.546 táxons prioritários identificados globalmente como 'parentes silvestres de culturas", e o Millenium Seed Bank, do Kew (MSB) cita 688 parentes de culturas selvagem entre os seus mais de 78.000 acessos, mas ainda assim, existem lacunas substanciais. Pesquisas nesta área evidenciaram que as variedades selecionadas em culturas ao longo de anos de domesticação não são necessariamente as mesmas que irão fornecer a tão necessária resistência às mudanças climáticas em curso. Muitas populações selvagens destas espécies estão sob ameaça considerável devido ao inconsequente uso da terra e as mudanças climáticas em curso, havendo assim necessidade urgente de se conservar efetivamente essas espécies, uma vez que não encontram-se adequadamente representadas em coleções. Mais bancos de sementes irão certamente ajudar a preservar uma ampla gama de alternativas para as culturas atuais (páginas de relatório 20-23). Mudanças Climáticas O relatório também explora o atual conhecimento sobre o impacto das mudanças climáticas em curso sobre as plantas e suas comunidades. Apesar de existirem áreas cujos impactos atuais e projetados das mudanças climáticas sejam amplamente compreendidos, vastas regiões do mundo ainda permanecem pouco ou completamente não estudadas. Para as áreas com pesquisa e disponibilidade de dados, o impacto das mudanças climáticas é visível e claramente observado, como ilustram as alteração nos ciclos reprodutivos (épocas de floração/ frutificação), fragmentação de comunidades vegetais e movimento de espécies verificados frente às alterações climáticas. Em outra pesquisa, também referenciada no relatório, os resultados mostram que todos os biomas do mundo, com a exceção de um, têm experimentado ao menos 10% de alteração no tipo de cobertura vegetal na última década, o que pode ser atribuído aos impactos combinados de uso intensivo da terra e mudanças climáticas. Esta pesquisa, conduzida pela equipe do Centro Internacional de Agricultura Tropical, na Colômbia, é também a primeira de seu tipo a definir os prazos para as mudanças nas políticas e práticas necessárias para manter a produção e segurança de alimentos no continente Africano. Os autores identificaram que até 30% de áreas de cultivo de milho e banana, e até 60% das áreas destinadas ao cultivo de grãos, poderão vir a ser inviabilizadas para práticas agrícolas até o final deste século. Por outro lado, os resultados obtidos pela equipe destacam o fato de algumas culturas específicas mostrarem muito mais resiliência do que o esperado inicialmente, e que estas poderiam representar as culturas-focais no futuro (páginas 36-39 do relatório). "Evidências confirmando que tubérculos como a mandioca e o inhame estão entre as culturas do futuro, pois são consideradas resilientes às mudanças climáticas (climatesmart-crops), serão vitais para informar políticas públicas eficientes e planejamento adequado para todo setor agricultor na África Subsaariana", acrescentou a professora Willis. Também constam no relatório resultados de pesquisa conduzida na Etiópia, onde os drásticos impactos das mudanças climáticas na produção cafeeira da região são demonstrados, em uma tentativa de se estabelecer culturas de café resilientes as mudanças climáticas. Mesmo diante deste alarmante cenário, os autores alegam que, caso intervenhamos agora, definindo novas áreas e práticas de cultivo, esse processo poderia ser evitado, possivelmente ainda levando a um aumento na produção. Áreas Importantes para Plantas (Important Plant Areas) Apesar de já terem sido identificadas 1771 Áreas Importantes para Plantas ao redor do globo, apenas algumas possuem proteção efetiva e encontram-se devidamente conservadas. Apenas no Reino Unido, 165 áreas dentro deste critério foram reconhecidas, incluindo os Bosques Arborizados da costa Atlântica (Atlantic Woodlands) e as Florestas Celtas (Celtic Rainforests), ambas consideradas globalmente importantes para a diversidade e conservação da flora. Essas áreas incluem a região conhecida como The Lizard, no extremo Sudoeste da Cornuália, The Becklands, em East Anglia, e partes da costa Oeste da Escócia. Áreas Importantes para Plantas também foram identificadas em diversos Territórios Ultramarinos Britânicos, como as Ilhas Falkland, e planos para ampliar essas áreas na região do Caribe estão em andamento. Espécies invasoras Um grande movimento de espécies invasoras ao redor do mundo está em curso. Aproximadamente 5.000 diferentes táxons já foram catalogados como invasores em inventários globais. Essas espécies são responsáveis diretas por acentuados declínios em populações de espécies nativas, destruindo ecossistemas, alterando a cobertura do solo e frequentemente levando a enormes perdas econômicas. No Reino Unido, por exemplo, o altamente impactante Knotweed Japonês (Reynoutria japonica), introduzido no país como planta ornamental na metade do século 19, vem gerando atualmente gastos anuais de cerca de £165 milhões de Libras, somente com controle de sua expansão. (páginas 58-51 do relatório). O relatório apela diretamente para uma colaboração mais próxima entre as instituições e organizações que trabalham com espécies invasoras, de modo a permitir o estabelecimento de uma lista única global documentando a taxonomia, ameaças, distribuição, controle e outras informações relevantes. Uma aplicação mais rigorosa da legislação e aumento da aplicação de procedimentos de quarentena iria minimizar o risco de futuros problemas. Saúde das Plantas Muitas doenças que acometem plantas tem emergido recentemente, contudo, esforços de pesquisa sobre essas doenças ainda é restrito a países com maior infraestrutura de pesquisa e poder econômico. Ameaças e risco de extinção As estimativas mais precisas indicam que 21% de toda a diversidade de plantas do mundo encontra-se em risco de extinção. Monitoramento em andamento irá permitir determinar com precisão se as plantas estão caminhando de forma irreversível à extinção ou se elas estão se tornando menos ameaçadas. Plantas e políticas Apesar do comércio de plantas representar a base econômica para diferentes meios de vida ao redor do mundo, o mercado ilegal ou insustentável vem causando pressão adicional sobre a biodiversidade, demandando controle, fiscalização e aplicação da legislação internacional de forma mais rigorosas são fundamentais. A adoção e implementação de acordos internacionais e protocolos como a CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas) representaram avanços consideráveis e comprovadamente eficazes na regulamentação do comércio internacional, aumentando a expectativa e otimismo que o Protocolo de Nagoya seja adotado efetivamente pelos países signatários no intuito de proteger e melhor utilizar sua biodiversidade. As orquídeas ainda figuram entre um dos principais grupos de plantas amplamente comercializadas, foto ilustrado pelos dados obtidos na alfandega do Reino Unido. De todas as plantas apreendidas no aeroporto de Heathrow em 2015, mais de 42% era orquídeas retiradas ilegalmente da natureza. “Esse relatório é uma das mais significativas produções científicas do Kew no últimos anos, e espero que o maior número possível de pessoas consiga consultar os resultados,” disse o Dr. Richard Deverell, Diretor do Jardim Botânico Real de Kew. “As plantas representam um dos componentes mais importantes da biodiversidade, a base constituinte da maioria dos ecossistemas existentes. Elas tem o potencial de resolver grande parte dos problemas existentes atualmente, assim como desafios futuros da humanidade. Estamos em uma posição única para desvendar a sua importância e nos sentimos orgulhosos por abrigar tanto o herbário, com mais de 250 anos de existência e coleções realizadas ao redor do mundo, como também de um intenso e proativo trabalho de campo, que juntos nos permitiram interpretar os dados e atribuir múltiplos usos para as presentes e futuras gerações que estão por vir”, acrescentou. Ends Para saber mais e para acessar galeria de imagens entre em contato com o Royal Botanic Gardens, Kew Press Office em 020 8332 5607 ou e-mail para [email protected] Para transferir imagens para a imprensa: http://www.kew.org/press/images/index_kew.html Nota aos Editores Para baixar uma cópia do relatório do Estado das Plantas do Mundo clique em stateoftheworldsplants.com/report/sotwp_2016.pdf Para acess0 a uma completa base de dados e de informações interativas, visite o novo website do Estado das Plantas do Mundo - https://stateoftheworldsplants.com Royal Botanic Gardens, Kew é uma organização científica mundialmente famosa e respeitada internacionalmente por suas coleções, bem como por sua experiência científica em diversidade e conservação de plantas, além de promover o desenvolvimento sustentável no Reino Unido e em todo o mundo. Kew Gardens é um gigante internacional e uma das principais atrações turísticas para visitantes em Londres. Seus 132 hectares de jardins paisagísticos, e sua propriedade rural em Wakehurst, atraem, juntas, mais de 1,5 milhões de visitantes por ano. www.kew.org