ESTADO DE MINAS ● D O M I N G O , 6 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 1 ● E D I T O R A - A S S I S T E N T E : Te r e s a C a r a m ● S U B E D I T O R A : E l l e n C r i s t i e ● E - M A I L : b e m v i v e r . e m @ u a i . c o m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 7 8 4 A estudante Laura Vilela associa dança à musculação para modelar o corpo. MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS PÁGINA 3 DANEGER/ISTOCKPHOTO BEM VIVER DOIS EM UM PERDA DE PESO A QUALQUER CUSTO? Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária de proibir venda de determinados emagrecedores reacende discussão sobre a relação entre qualidade de vida e busca desenfreada pelo corpo perfeito CAROLINA LENOIR E VANESSA JACINTO Vilões ou uma importante opção no tratamento da obesidade? Na primeira categoria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) inclui os remédios para emagrecer à base de anfetaminas. A segunda categoria reflete a visão de entidades como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), que lamentam a decisão da Anvisa de proibir a venda desses mesmos medicamentos. Para a Anvisa, os efeitos adversos desses medicamentos para a saúde dos pacientes superam os benefícios esperados com seu uso no tratamento da obesidade. A classe médica, entretanto, acredita que, com a resolução, a Anvi- sa tenha tirado de uma população cada vez mais obesa um dos poucos recursos com resultados já comprovados nos tratamentos para a perda de peso e que, com o uso controlado, teriam os riscos minimizados. Na opinião dessas entidades, além disso, a proibição tira do médico o direito de decidir, junto com seu paciente, as melhores opções terapêuticas, abre brecha para o comércio clandestino de medicamentos e acirra ainda mais a busca já constatada de soluções para emagrecer sem confirmação científica. Para o endocrinologista Alexander Benchimol, integrante da diretoria da Abeso, considerando-se o fato de a obesidade ser definida co- mo uma doença crônica pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ter apenas um ou dois medicamentos liberados para tratar a obesidade pode trazer graves consequências em termos de saúde pública. “Para efeito de comparação, seria como ter apenas uma ou duas opções para tratar a hipertensão.” Diante da decisão, o Bem Viver foi atrás de respostas para as alternativas seguras de emagrecimento que ainda restam para a população com 50% de obesos e de pessoas acima do peso – de acordo com pesquisas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, e de informações sobre o real impacto dos medicamentos na perda da gordura indesejada. Toda a polêmica, porém, não abalou a certeza de que nenhum tratamento contra a obesidade oferece resultados satisfatórios sem que uma mudança no estilo de vida esteja em pauta. “É sempre importante reforçar que este é o pilar do tratamento de pacientes obesos. Existem casos em que a indicação de medicamentos é necessária, mas o tratamento chamado convencional, que inclui mudanças em áreas como alimentação, atividade física e outras de cunho comportamental, é fundamental”, garante Alexander. ❚ LEIA MAIS SOBRE EMAGRECEDORES PÁGINAS 4 A 6 ❚ E STA D O D E M I N A S 4 bem ● D O M I N G O , 6 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 1 5 BEMVIVER ❚ REPORTAGEM DE CAPA Emagrecimento do FOTOS: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS Com reeducação alimentar e atividade física, a cantora Camila Jorge já perdeu 27 quilos desde janeiro e comemora os resultados Contra as fórmulas mirabolantes e o efeito-sanfona, várias pessoas abandonam a ação momentânea dos medicamentos para se adaptar a dietas à base de frutas, legumes e verduras. Medicamentos são importantes, mas não há milagres Acho importante saber que a gente pode emagrecer sem medicamento ■ Jucielle Fernandes, de 31 anos CAROLINA LENOIR E VANESSA JACINTO Na contramão dos milhares de brasileiros que optam por cirurgias de estômago ou lotam os consultórios em busca de remédios milagrosos para emagrecer, a cantora Camila Jorge, de 35 anos, decidiu encarar a luta contra a obesidade com as armas mais recomendadas pelos médicos: reeducação alimentar e atividade física. Foi dessa forma, e com muita força de vontade, que ela conseguiu perder, de janeiro até agora, 27 quilos. Para chegar à meta ainda faltam 20. No auge da obesidade, aos 125 quilos, foi que ela decidiu que tinha que dar um basta no processo de ganho de peso. Mas não foram os números que a assustaram. “Comecei a engordar aos 7 anos e, aos 12, fiz minha primeira dieta. Depois disso, nunca mais parei de emagrecer e engordar. Precisava colocar um ponto final nessa história”, conta. Durante toda a vida, Camila tentou dietas da moda, remédios, fórmulas manipuladas e até chegou a se trancar num spa, onde passou fome por 15 dias. Desta vez, buscou algo diferente, com mais consciência sobre os limites do próprio corpo e sobre os processos psicológicos envolvidos na obesidade. Com suporte de uma equipe de profissionais que incluiu personal trainer, endocrinologista, psicólogo e nutricionista, foi aprendendo a ter bom senso na hora de comer. Agora, ela vai alternando uma dieta hipocalórica com a de restrição de carboidratos e, na geladeira, alimentos saudáveis, como legumes, frutas e verduras. O desânimo não teve espaço nessa nova rotina, já que tanto sacrifício foi recompensado a cada quilo perdido. “Já fiz muitas loucuras para emagrecer, como passar os dias comendo só maçãs ou abacaxi. Eu sempre perdia peso, mas a reeducação, o aprendizado de lidar com a comida e com a ansiedade, só agora está acontecendo. É isso que está diferente e acho que é isso que vai tornar esse processo definitivo.” Com o reinado dos remédios emagrecedores por um fio, cada vez mais os obesos vão poder contar apenas com a força de vontade e a disciplina, a exemplo do que fez Camila, para perder peso. Segundo Geraldo Santana, diretor do Instituto Mineiro de Endocrinologia, com a suspensão da Anvisa mantida, caberá aos especialistas intensificar os recursos terapêuticos já existentes, como estratégias nutricionais e metabólicas, além de mudanças cognitivocomportamentais, no tratamento da obesidade. “Sabemos que os medicamentos ajudam e podem ser importantes, mas eles não são o principal. De maneira geral, as pessoas superestimam o papel dos medicamentos no tratamento da obesidade." Se, por um lado, os medicamentos podem intensificar o emagrecimento e melhorar a motivação para continuar, por outro, não é raro ver que alguns pacientes, ao usar remédios para emagrecer, se mostram menos dedicados, confiando apenas no efeito dele. Para Geraldo Santana, a obesidade é uma doença complexa que necessita de várias abordagens simultâneas para que se chegue ao sucesso. Até a cirurgia bariátrica pode fracassar se não houver a concomitância da mudança do estilo de vida. "A tendência para engordar não tem cura, mas tem tratamento. Portanto, as mudanças e o acompanhamento clínico devem ser para toda a vida, como ocorre em outras doenças crônicas." TERAPIA Sem a ajuda de medicamentos e com pelo menos 30 quilos para perder, Jucielle Fernandes, de 31 anos, recorreu, além da dieta, à terapia cognitivo-comportamental. Ela explica que, no início do tratamento, até tentou usar a sibutramina, mas não se adaptou ao remédio. “Não me fez falta. Acho importante a gente saber que pode emagrecer sem medicamento. É difícil, mas é possível”, afirma. Com a saúde afetada, exames laboratoriais alterados e, para piorar, com os quilos a mais comprometendo o relacionamento com o marido, ela resolveu reunir forças e o pouco de amor próprio que restava para iniciar a batalha. Só mesmo com muita determinação para conseguir deixar de lado aquele café da manhã com coxinha, empada, quibe e refrigerante e outras bombas calóricas que a acompanhavam ao longo do dia. Jucielle conta que foi difícil suportar tanta restrição porque, de cara, teve que cortar todos os carboidratos da alimentação. “Vendo o meu esforço, uma tia resolveu me presentear com a terapia comportamental. Ela disse que seria meu presente de aniversário e queria me ver magra de novo. Sem dúvida, foi um grande suporte. Agora, estou esperando chegar aos 74 quilos para fazer a cirurgia de mama, a abdominoplastia e a lipo nas costas. Meu corpo já mudou bastante, mas ainda não está como eu gostaria de me ver.” A comerciante Lúcia Ribeiro Fernandes Barbosa começou a tomar um fitoterápico há três meses. Ela perdeu quatro centímetros na região do abdômen, aliando longas caminhadas e alimentação saudável Corrida desenfreada ❚ ALTERNATIVAS PARA EMAGRECER » DIETA aos consultórios Um dos principais argumentos usados pelas associações médicas contrárias à proibição dos inibidores de apetite pela Anvisa é o receio de que essa decisão desencadeie uma busca por opções que não tenham a devida comprovação científica de sua eficácia e segurança como emagrecedores. Embora não seja possível fazer uma relação entre a medida tomada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a recente ascensão de algumas promessas no mercado, o fato é que a chegada de novos medicamentos no cenário nacional tem causado um intenso alvoroço entre a população que precisa perder peso. Umdeleséoliraglutide,fármaco indicado para o tratamento do diabetes tipo 2. O medicamento provocou uma verdadeira corrida aosconsultóriosmédicosdegente querendo receita para comprá-lo. Segundo os especialistas, ele provoca perda de peso por agir tanto no sistema nervoso central como no trato digestivo, aumentando a saciedade e reduzindo a fome. Estudos em obesos não diabéticos – com índice de massa corporal (IMC) maior que 30 ou maior que 27 com complicações como hipertensão arterial, dislipidemia e pré-diabetes – têm mostrado poucos efeitos colaterais e perda de peso significativa, mas estão no início e devem durar pelo menos mais um ano. Somente depois de finalizados os estudos a medicação poderá ser submetida às agências sanitárias para ser comercializada com essa nova indicação. Rosana Bento Radominski, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), divulgou uma nota no site da associação alertando para o uso indiscriminado do medicamento com o intuito de emagrecer. “Isso está provocando uma verdadeira corrida aos consultórios médicos para a prescrição da medicação, algo que ocorreu recentemente com o rimonabanto (a pílula da barriga). A prerrogativa da prescrição da medicação era do paciente, que já chegava ao consultório médico pedindo o medicamento, e não do médico.” Para Rosana, apesar de os resultados em relação à perda de peso serem promissores, o liraglutide não é milagroso. “Há necessidade de mudanças comportamentais, que incluem dieta e exercícios. Além disso, ele não deve ser prescrito para o tratamento de obesidade em pacientes não diabéticos (uso off- label) até que os estudos específicos para obesidade sejam encerrados.” No universo dos fitoterápi- cos, as grandes vedetes são o Pholia magra e o Pholia negra, plantas nativas do Brasil vendidas em forma de cápsulas em farmácias de manipulação e lojas especializadas em produtos naturais. Entre os benefícios prometidos estão a diminuição do apetite, maior queima de gorduras localizadas, ação diurética e redução dos depósitos de celulite. Para a comerciante Lúcia Ribeiro Fernandes Barbosa, de 45 anos, o Pholia magra é mais uma opção natural entre os itens que inclui no seu dia a dia, como óleo de linhaça e gengibre. “Sempre tive uma alimentação saudável, com muita salada, independentemente da intenção de emagrecer. Também faço caminhadas diárias, de quase duas horas.” Ela conta que foi apresentada ao fitoterápico por uma amiga bióloga e, há três meses, tem tomado cápsulas diariamente. “Percebi que ela trabalha na gordura localizada e, consequentemente, na perda de medidas. Perdi quatro centímetros na região do abdômen.” Em relação ao peso, a comerciante afirma ter perdido apenas 2 quilos, mas percebeu outros benefícios, como mais disposição, menos dor nas pernas e melhora na aparência da celulite. Lúcia pretende continuar tomando as cápsulas de Pholia magra por mais um ano e afirma não ter receio de reações adversas posteriores. “Conheço quem toma há mais de um ano e não teve nenhum sintoma, assim como eu. Não tive absolutamente nenhuma reação, como diarreia ou fraqueza.” INCERTO A satisfação da comerciante com os resultados do Pholia magra, porém, não é garantida a todos que fizerem essa aposta. Para o endocrinologista Geraldo Santana, o papel dos fitoterápicos na obesidade ainda não está bem certo. “Embora alguns pacientes já tenham notado algum efeito positivo, não são a maioria e sabemos que há vários outros fatores que interferem na percepção do controle do apetite e da saciedade. Além disso, as evidências científicas que comprovam estes benefícios são escassas em humanos." Especificamente em relação ao Pholia magra, o endocrinologista afirma que, de fato, trata-se de uma medicação natural e não há observação de efeitos colaterais graves. “Entretanto, há que se lembrar que estes produtos, por serem naturais, não passam pelo mesmo rigor científico que os medicamentos alopáticos. Deve-se ter muita cautela ao achar que natural é sinônimo de segurança, ou que, ‘se não fizer bem, mal não faz’.” A reeducação alimentar deve ser o principal foco de todo tratamento para emagrecer. É o que vai garantir não só o sucesso, mas a manutenção dos resultados alcançados. Num processo de perda de peso, é fundamental identificar qual o tipo de dieta e os recursos nutricionais mais adequados para o estilo de vida do paciente. O controle clínico periódico permite os ajustes e adaptações necessárias para que os novos hábitos sejam mais facilmente incorporados à rotina. O foco de todo tratamento de obesidade são as mudanças que podem permanecer a longo prazo. Por isso a vigilância deve ser constante. ARQUIVO PESSOAL » TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL Tem resultados comprovados como auxiliar no tratamento da obesidade, sobretudo aquelas associadas ao comportamento compulsivo desencadeado por ansiedades e frustrações. É mais focada no problema atual e, por isso, tem duração menor que as psicoterapias clássicas. Atua principalmente na identificação e correção dos pensamentos disfuncionais e crenças erradas da pessoa em relação ao alimento, à sua imagem corporal e ao seu potencial de alcançar e merecer os resultados desejados no emagrecimento. Da mesma forma que podemos aprender matemática ou um novo idioma, também podemos aprender a ter mais amor-próprio, não comer apenas por impulso, identificar a autossabotagem e neutralizar pensamentos negativos que impedem a evolução do emagrecimento. O objetivo da terapia cognitivo-comportamental é remodelar as redes cerebrais que controlam esses pensamentos e atitudes. Algumas pessoas acham que só porque tiveram um dia difícil no trabalho têm direito a comer mais e sair da dieta quando chegam em casa. Isso é um exemplo de pensamento disfuncional, que prejudica o tratamento e pode ser corrigido pela abordagem cognitivo-comportamental. É possível aprender a pensar antes de agir, permitindo-se outras formas de prazer e recompensa diferentes da comida. » MEDICAMENTOS ANTIOBESIDADE AINDA DISPONÍVEIS: SIBUTRAMINA E ORLISTATE (XENICAL OU LIPIBLOCK) As mudanças e o acompanhamento clínico devem ser para toda a vida, como ocorrem com outras doenças crônicas Agem por mecanismos diferentes: A sibutramina modera o apetite, reduzindo a compulsão alimentar e aumentando a saciedade. Já o orlistate diminui a absorção de gorduras pelo intestino. Ambos são indicados quando as mudanças de estilo de vida não foram suficientes para promover a perda de peso esperada. Apesar de serem medicamentos seguros quando bem indicados, necessitam de controle médico regular para avaliação de sua eficácia, ajuste de dose e monitoramento de possíveis efeitos colaterais. » BALÃO GÁSTRICO É uma prótese de silicone, colocada no estômago por endoscopia, e insuflada com aproximadamente 600 ml de líquido e corante. Sua finalidade é reduzir a fome e promover uma saciedade precoce. Após seis meses, o balão é retirado também por endoscopia. O procedimento de colocação e retirada é ambulatorial (sem internação) e feita sob sedação. Este método é uma alternativa para pacientes que não respondem ao tratamento com medicamentos ou que, por algum motivo, não podem utilizá-los. » CIRURGIA BARIÁTRICA ■ Geraldo Santana, diretor do Instituto Mineiro de Endocrinologia Diversas técnicas cirúrgicas têm sido utilizadas com sucesso para o tratamento da obesidade principalmente com IMC acima de 40 e que não tiveram resultados satisfatórios com o tratamento apenas clínico. Elas envolvem desde técnicas menos invasivas, como a banda gástrica ajustável colocada por videolaparoscopia, até cirurgias mais complexas com redução de estômago e desvio de parte do intestino (ex: técnica de Capella). Uma técnica intermediária, chamada Sleeve, vem sendo indicada para casos menos graves de obesidade e consiste em apenas uma redução do tamanho do estômago feita por videolaparoscopia. Fonte: Geraldo Santana, diretor do Instituto Mineiro de Endocrinologia E STA D O D E M I N A S 6 ● D O M I N G O , 6 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 1 BEMVIVER ❚ REPORTAGEM DE CAPA Pesquisas revelam que substâncias como sibutramina, femproporex, dietilpropoina e mazindol causam prejuízos ao organismo, como dependência e problemas cardíacos Caça aos inibidores EMBATE Segundo a agência, a contestação por parte de endocrinologistas, especialistas em obesidade e do setor de farmácias magistrais, apesar de veemente, não contém um estudo clínico ou dado científico novo que abale os fundamentos da conclusão da câmara técnica. Para Geraldo Santana, a decisão da Anvisa restringe as opções terapêuticas para o tratamento da obesidade em um expressivo número de pacientes que necessita de apoio farmacológico no controle do excesso de peso. Muitos pacientes, por mais motivados que estejam, não conseguem emagrecer apenas com dieta e exercícios físicos e necessitam de medicamentos que agem no cérebro como um suporte para a perda de peso. “Infelizmente, a atitude da Anvisa desconsidera esse princípio tão importante do tratamento da obesidade e cria uma real dificuldade aos pacientes obesos ao impedi-los de ter acesso às principais opções para um tratamento medicamentoso de apoio.” Ele explica que a sibutramina, disponível no mercado há quase 15 anos, também tem sido amplamente usada com perfil semelhante de resultados e boa tolerância pelos pacientes. A nova exigência de que o paciente tenha doenças associadas e complicações para sua prescrição, implica, muitas vezes, esperar o aparecimento de comorbidades para somente então começar a tratar a obesidade. Isso ignora completamente a premissa de atuar preventivamente a fim de evitar o agravamento da doença e, consequentemente, suas complicações. (CL/VJ) de apetite Livre de 22 quilos Sair dos 125 quilos para, finalmente, registrar um peso que não ultrapasse a casa das dezenas foi o grande projeto do metalúrgico Renato Viana, de 39 anos, que elegeu 2011 para cuidar de sua saúde. Depois de ter perdido 22 quilos em apenas quatro meses, ele agora sabe que é possível vencer a batalha contra a obesidade. Além de melhorar a aparência, Renato não se conformava com o quadro de pressão alta, colesterol e triglicérides descompensados. Sua meta é chegar aos 90 quilos, mas ele afirma que o peso perdido já promoveu melhoras em todos os aspectos. Um medicamento de apoio o ajudou a suportar as transformações abruptas no estilo de vida. Acompanhado por especialista, a dosagem inicial já foi diminuída e, antes do fim do tratamento, o remédio deverá ser suprimido. Com os hábitos alimentares completamente mudados e com a inclusão de atividades físicas na rotina, Renato afirma que recuperou sua autoestima. “Voltei a sentir aquela boa sensação de ser magro, de estar cuidando de mim.” ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS Desde o ano passado, a Anvisa vem impondo novas regras que endureceram os critérios de venda dos medicamentos para emagrecer. Um dos alvos é a sibutramina. Estudos indicam que o consumo dessa substância aumenta o risco de problemas cardíacos. Ela deixou de ser vendida como medicamento comum e passou a integrar a categoria dos anorexígenos, remédios que exigem receita especial. Outra categoria de medicamentos na berlinda são os derivados de anfetaminas (femproporex, dietilpropiona e mazindol) e, para eles, não há brecha. Eles tiveram a venda proibida e o prazo para que deixem de circular no mercado expira no início de dezembro. A única droga para o tratamento da obesidade cuja venda deverá continuar liberada é o orlistate, que atua diretamente no intestino, reduzindo em cerca de 30% a absorção de gordura, conforme explica o endocrinologista Geraldo Santana, diretor do Instituto Mineiro de Endocrinologia. A decisão da Anvisa de proibir os anorexígenos gerou um embate entre a agência regulatória e entidades médicas. O Conselho Federal de Medicina (CFM) chegou a entrar, no mês passado, com uma ação civil pública contra a medida, mas o pedido para a liberação da venda dos medicamentos foi negado pela Justiça. Para o conselho, o uso indevido de medicamentos é uma questão ligada ao controle e à fiscalização de sua prescrição, o que não diz respeito especificamente aos anorexígenos. O CFM se diz favorável à realização de campanhas educativas com foco no médico e nos pacientes para reduzir o número de prescrições de inibidores de apetite, o que seria uma forma de assegurar o uso racional desse tipo de medicamento, sem necessidade de proibir sua comercialização no país. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) compartilha a posição do CFM. Para a associação, a Anvisa não ouviu os argumentos da classe médica e da comunidade científica. A Anvisa, por sua vez, defende a decisão, tomada depois da recomendação da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme). De acordo com a agência, a medida coincide com as conclusões anteriores das agências de medicamentos dos Estados Unidos (FDA) e da Europa (EMEA) sobre a segurança e a eficácia dos anorexígenos – entre eles o femproporex, que, de acordo com a Anvisa, é transformado no organismo em anfetamina e tem alto potencial de uso indevido e de causar dependência. O metalúrgico Renato Viana usou um medicamento de apoio para reduzir as medidas, mas sempre com o acompanhamento de um especialista PALAVRA DE ESPECIALISTA ANDRÉA KAMIZAKI DIRETORA DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FARMACÊUTICOS MAGISTRAIS, REGIONAL MINAS Opções confiáveis Com as restrições feitas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) médicos e nutricionistas terão que recorrer a outras opções para ajudar seus pacientes no processo de perda de peso. Uma alternativa sem contraindicações e que tem efeito na saciedade é a combinação de fibras solúveis e insolúveis reunindo em sachês ou cápsulas, opções como a inulina, o psylium e a goma guar. Além de dar saciedade, essas fibras diminuem o esvaziamento gástrico. A suplementação de cromo (que diminui a resistência à insulina) e o uso de produtos de ação termogênica, também são opções confiáveis e, a princípio, sem contraindicação para o paciente. A manipulação de fármacos, de uma forma geral, também é importante, já que permite ao médico individualizar os tratamentos mexendo nas dosagens e na forma de apresentação do produto.