Perfil dos pacientes com dengue em um Hospital Universitário Débora Goldbarg, Ilana Monteiro, Juliana Chousa, Renata Barros, Tamires Farias, Thiago Goulart Introdução A dengue é uma doença viral, com grande incidência no Brasil, que atinge a população de todos os estados independe da classe social. Ela varia desde quadros simples até mais graves com ocorrência de óbitos. As principais manifestações da doença são: febre, geralmente alta e de início abrupto, cefaleia, adinamia, mialgias, artralgias, dor retroorbitária, presença ou não de exantema ou prurido. Também podem ocorrer anorexia, náuseas, vômitos e diarreia. A dengue na maioria das vezes ocorre na sua forma clássica, mas alguns pacientes evoluem para as formas graves da doença. A chamada febre hemorrágica da dengue apresenta os mesmos sintomas iniciais da dengue clássica, porém, em torno do sétimo dia da doença surgem sinais e sintomas como vômitos, dor abdominal intensa, hepatomegalia dolorosa, desconforto respiratório, letargia, derrames cavitários. Em geral esses sintomas precedem as manifestações hemorrágicas, podendo o paciente evoluir para instabilidade hemodinâmica, hipotensão arterial, taquisfigmia e choque. Todo o caso que não se enquadra na dengue clássica, ou na febre hemorrágica da dengue, é chamado de dengue com complicações. Na dengue com complicações um dos achados a seguir caracteriza o quadro: alterações graves do sistema nervoso, disfunção cardiorrespiratória, insuficiência hepática, plaquetopenia igual ou inferior a 50.000/mm³, hemorragia digestiva, derrames cavitários, leucometria global igual ou inferior a 1.000/mm³, óbito. Segundo o Ministério da Saúde todo o caso em que o paciente apresente doença febril aguda com duração de até sete dias, acompanhada de pelo menos dois sintomas como cefaleia, artralgias, mialgias, dor retrorbitária, prostração ou exantema associado ou não à hemorragia, deve ser considerado um caso suspeito de dengue e deverá ser notificado imediatamente à vigilância epidemiológica através do SINAN. Esses casos deverão ser investigados em tempo hábil para confirmação ou descarte da doença. A queda da letalidade (número de óbitos por casos suspeitos notificados) por dengue no Rio de Janeiro é notável ao longo dos últimos sete anos. Esta taxa, que nos anos de epidemia entre 2007 e 2011 variou entre 1 e 1,5 óbitos por 1.000 casos notificados, permaneceu abaixo de 0,3 nos últimos dois anos. Com isto, podemos identificar o perfil dos pacientes diagnosticados com dengue em 2008, obtendo os critérios de confirmação da doença, o tipo de dengue e o período de internação hospitalar dos que internaram nesta amostra. Abaixo os gráficos e tabelas utilizados no estudo. No gráfico 1, podemos observar a diferença na prevalência em relação ao sexo. Gráfico 1 - Prevalência em relação ao sexo na população 60 50 40 Masculino 30 Feminino 20 10 0 Sexo Na tabela 1, está representada a média e desvio padrão da idade. Tabela 1-Média da idade Idade 39,46 ± 18,3 A tabela 2 nos mostra a distribuição dos acometidos pela doença nos diferentes tipos de critérios de diagnósticos. Tabela 2-Critérios para diagnóstico Critérios para diagnóstico Laboratoriais Clínico-Epidemiológico 63 37 No gráfico 2, os tipos de dengue são representados por Dengue Clássica,Dengue com complicações e Febre hemorrágica da Dengue. Gráfico 2- Tipos de dengue Tipos de dengue 50 40 30 20 10 0 Dengue Clássica Dengue com Complicações Febre Hemorrágica da dengue No gráfico 3 observa-se a proporção de pacientes que necessitaram de internação e os que não necessitaram. Gráfico 3-Pacientes que necessitaram de internação hospitalar Pacientes que necessitaram de internação Pacientes que não necessitaram de internação A tabela 3 descreve a evolução dos casos em cura,óbitos por dengue,óbitos por outras causas e ignorados. Tabela 3-Evolução do caso Evolução do caso Cura Óbito por dengue Óbito por outras causas Ignorado 99 1 0 0 A tabela 4 nota-se a média de dias de internação do grupo de paciente que necessitou de monitoramento intensivo. Tabela 4- Média de dias de internação Média de dias de internação 6,3 O foco é ter um retrato do perfil dos pacientes atendidos no HUCFF durante a epidemia no ano de 2008. As vantagens são melhorias do serviço para receber os pacientes em novo caso de epidemia, saber os tipos prováveis de complicações e, portanto direcionar o atendimento. Material e métodos O estudo foi realizado no Hospital Clementino Fraga Filho, HUCFF, no ano de 2008 e foram incluídos 100 pacientes com diagnóstico de dengue. O diagnóstico era obtido pela ficha de notificação de dengue do sistema de informação de agravos de notificação (SINAN). A análise estatística foi realizada pelo programa Microsoft Excel 2010, com descrição dos critérios de diagnóstico, evolução do caso, dias de internação e idade em formato de tabela para resumir e demonstrar visualmente os dados. Variáveis como internação, sexo, tipos de dengue e foram utilizados em gráficos de colunas verticais e gráfico de setores (pizza) com o objetivo de transmitir a informação por um meio simples e direto. Apresenta a frequência absoluta ou relativa (NÃO cumulativa), ou seja, quantas observações, ou a fração de observações para um dado valor da variável em estudo(ou classe de valores). A altura das barras representa o que foi mais observado. Resultados Os resultados obtidos nos mostram que houve maior prevalência de homens (n=55)em relação a mulheres (n=45). De acordo com a idade há uma média de 39,46 ± 18,3 anos. Houve maior critério laboratorial para diagnóstico da dengue, sendo este em 63 casos, em comparação a 37 com critério clínico-epidemiológico. Nota-se uma prevalência do tipo de dengue com complicação com 44 casos,seguido de dengue com febre hemorrágica de dengue com 40 casos ,e 16 pacientes com dengue clássica. Do total dos 100 paciente notificados, 89 pacientes necessitaram de hospitalização,comparado com 11 pacientes que não necessitaram. Na tabela de evolução dos casos, observamos que 99 paciente evoluíram para cura e apenas 1 evoluiu para óbito por dengue. No grupo que necessitou de internação hospitalar, a média de dias de internação foi de 6,3 dias. Discussão Na verdade, além do aumento da incidência que tem sido notado, dengue expressa na forma de epidemias explosivas, afetando os centros urbanos em pequena e em grande escala, causando medo e insegurança para a população, especialmente pelo risco de Febre Hemorrágica do Dengue (FHD) ocorrência. Nestas situações, a demanda por cuidados médicos vai além da capacidade dos serviços de rede, a qualidade do atendimento aos pacientes afetados é muito menos do que o desejado, a desconfiança da população nos líderes, gestores e serviços de saúde é estabelecida, o que torna ainda mais difícil a gestão de tais períodos de crise que sucede a cada verão em nosso país. Assim, uma imagem de extrema fragilidade da Saúde Pública é estabelecida. Apesar do gráfico 1 nos mostrar que houve maior prevalência em homens em relação a mulheres, este retrato não é fidedigno em relação a população que desenvolve a doença,pois não é característico a diferenciação por gênero. A média de idade foi de 39,46 anos, porém a literatura demonstra que não se tem um comportamento único de ocorrência de idade na dengue. Entretanto a maior incidência da doença nas faixas etárias mais altas é um padrão observado em áreas indenes, logo após a introdução de um sorotipo do vírus. Um diagnóstico clínico precoce da dengue hemorrágica é difícil, porque os critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) podem estar presentes apenas na fase inicial da forma aguda da doença. Assim, testes laboratoriais combinados com um exame clínico, especialmente em áreas endêmicas, são cruciais para confirmar um diagnóstico, identificar e prevenir surtos e fornecer tratamento precoce para as formas graves da doença e complicações. Um dos maiores desafios da pesquisa clínica-epidemiológica em dengue é a baixa sensibilidade e especificidade, o que pode retardar o diagnóstico e tratamento, elevando o risco para os pacientes. A descrição desses aspectos durante os períodos epidêmicos devem ser valorizados, pois auxilia no grande desafio dos clínicos que trabalham como os sentinelas da vigilância epidemiológica: a realização do diagnóstico nos períodos de endemia. As manifestações clínicas da dengue podem variar de uma doença febril não específica para uma forma mais grave com hemorragia, trombocitopenia, e o extravasamento de plasma, o que pode resultar em morte. Há maior número de paciente com dengue com complicações, o que pressupõe que haja um maior número de internações, com isto é possível um monitoramento constante e cuidados intensivos levando a um maior número de pacientes internados. De acordo com o manejo clínico e o número de pacientes internados, conclui-se que a dengue se apresenta como grave problema de saúde pública. As ações de combate devem ser intensificadas para que se alcance maior efetividade. Referências Bibliográficas 1-TEIXEIRA, M.G., Few characteristics of dengue´s fever epidemiology in Brazil. Rev. Inst. Med. Trop. Sao Paulo, 54(Suppl. 18), S1-S4, 2012 2- SOUZA, L.J., PESSANHA, L.B. , Comparison of clinical and laboratory characteristics between children and adults with dengue, The Brazilian Journal of Infectious diseases,2013;17(1):27–31