Ilhas holandesas do Caribe combatem um tipo diferente de pirataria

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Ilhas holandesas do Caribe combatem um tipo diferente de
pirataria
Para falar sobre este e outros problemas que afetam as ilhas holandesas no Caribe, Diálogo conversou
com o comandante da Marinha da Holanda, Hans Lodder, Comandante-em-Chefe das Forças holandesas
no Caribe e diretor da Guarda Costeira holandesa no Caribe durante a XIII Conferência de Segurança dos
Países do Caribe (CANSEC 2015), em Nassau, Bahamas, entre 20 a 23 de janeiro.
Marcos Ommati/Diálogo
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3 março 2015
AMEAÇAS TRANSNACIONAIS
O comandante da Marinha da Holanda, Hans Lodder, que é o Comandante-em-Chefe das Forças holandesas no
Caribe e diretor da Guarda Costeira holandesa no Caribe durante a XIII Conferência de Segurança dos Países do
Caribe. (Foto: Marcos Ommati/Diálogo)
Para algumas pessoas, a área de responsabilidade das Forças de Defesa holandesas no Caribe, que
engloba as nações de Aruba, Curaçao e Saint Martin, bem como os domínios de Bonaire, Saba e Santo
Eustáquio pode soar como um paraíso na terra. Mas na verdade, patrulhar estas águas tornou-se uma
tarefa muito difícil, uma vez que a quantidade de drogas que tentam chegar aos Estados Unidos aumentou
muito nos últimos anos.
Para falar sobre este e outros problemas que afetam as ilhas holandesas no Caribe, Diálogo conversou
com o comandante da Marinha da Holanda, Hans Lodder, Comandante-em-Chefe das Forças holandesas
no Caribe e diretor da Guarda Costeira holandesa no Caribe durante a XIII Conferência de Segurança dos
Países do Caribe (CANSEC 2015), em Nassau, Bahamas, entre 20 a 23 de janeiro.
DIÁLOGO: Sua área de responsabilidade parece ser muito interessante e emocionante, mas não é uma
tarefa nada fácil, certo?
Comandante Hans Lodder: Não, não é. Na verdade, é interessante; é emocionante, mas é um desafio,
porque as três ilhas, Aruba, Bonaire e Curaçao estão perto da América do Sul. As outras três ilhas estão
aproximadamente de 965 a 1.287 quilômetros de distância. É uma área muito grande com muito tráfego e
aberta à ocorrência de uma grande quantidade de tráfico ilegal.
DIÁLOGO: Qual é o significado de estar perto da América do Sul?
Comandante Hans Lodder: Estar perto dos países sul-americanos significa que há muito tráfico ilícito
dessas nações ocorrendo através da área pela qual sou responsável e rumando para a América do Norte
ou Europa, e isso é algo de que nós realmente não gostamos, portanto tentamos impedi-lo com
antecedência.
DIÁLOGO: Você acha que o fato de Aruba e Curaçao serem ilhas ricas atrai mais drogas e traficantes?
Comandante Hans Lodder: Não realmente. O que vemos é que elas são mais usadas como portas de
escoamento. É claro, há o uso de drogas em todas as nações, mas o fato de elas estarem tão perto da
fonte não significa que há mais uso de drogas que em qualquer outro país. O problema é como elas são
transportadas, porque usam essas ilhas como um centro de distribuição.
DIÁLOGO: Para uma pessoa de fora, a Holanda parece ser um país muito aberto em relação ao uso de
drogas, incluindo a presença dos chamados cafés, onde se pode comprar drogas livremente. Então, qual é
a grande preocupação nessa região?
Comandante Hans Lodder: Acho que há uma diferença. Na Holanda, a política é que o uso de drogas
leves não é legal. Entretanto pode-se usar drogas leves para o próprio consumo, que é basicamente o que
nós dissemos. As drogas pesadas ainda são ilegais, por isso fiscalizamos o cumprimento das leis muito
fortemente em relação a isso. Assim, ela é vista pelo mundo exterior como um país muito aberto, onde todo
mundo usa drogas. Certamente não é o caso. O uso é controlado. Além disso, há normas rígidas com
relação aos cafés. Seus proprietários têm de respeitá-las e se não o fizerem, seus estabelecimentos são
fechados. Temos leis sobre como se deve abrir um café, mas também que tipo de pessoa pode comprar
coisas lá e assim por diante. Portanto, não é tão liberal quanto algumas pessoas pensam, e se você for lá,
poderá ver por si mesmo. O uso é controlado, e somos realmente rígidos quanto às drogas pesadas devido
a toda a criminalidade que a acompanha.
DIÁLOGO: Quando entrevistei o Brigadeiro Dick Swijgman há dois anos durante a CANSEC 2013, ele disse
que, pouco a pouco, as ilhas holandesas no Caribe estão começando a sofrer com o que as outras ilhas da
região vêm enfrentando há algum tempo, querendo dizer que os jovens do sexo masculino estão tendo
acesso a armamentos pesados porque os traficantes de drogas os deixam para trás conforme passam.
Esses indivíduos depois se organizam em gangues. Esse problema aumentou ou diminuiu nos últimos dois
anos?
Comandante Hans Lodder: O problema que se vê ali é sempre econômico. Há emprego suficiente, há
futuro suficiente para a juventude? O que vemos é que estamos fazendo muita coisa junto com as outras
nações sobre esses tipos de problemas. Em Curaçao e Aruba, estamos executando um programa com o
governo para ajudar os jovens que se envolveram em pequenos crimes, para treiná-los, dar-lhes também a
educação, para que possam ter um futuro. E essa é a nossa forma de tentar tirar essas pessoas das
organizações e das atividades criminosas. Apesar disso, durante o último ano, Curaçao viu um aumento na
criminalidade, e o governo local agiu sobre a mesma. Eles pediram nossa ajuda, e nós respondemos.
Estamos lentamente repelindo-a, mas é um processo de longo prazo, e não é algo que se pode resolver de
imediato, infelizmente.
DIÁLOGO: A Holanda participa ativamente das operações realizadas pela Força-Tarefa Conjunta
Interagências Sul (JIATF-South). A JIATF-South é um modelo que deve ser replicado?
Comandante Hans Lodder: Poderia ser. Eu acho que a abordagem geral da JIATF-South de incorporar
mais e mais agências é a mesma coisa que fizemos no Afeganistão. Denominamos essa estratégia
“Abordagem 3D”: defesa, diplomacia e desenvolvimento. É uma abordagem geral do problema, não apenas
uma abordagem de defesa, mas uma abordagem geral de governo e o que se faz é unir todas as agências
envolvidas. Não se está apenas considerando a luta contra o crime existente, mas também em se livrar da
origem do crime, o que significa que há programas para ajudar as nações a educar a população, e não
apenas a educar sua força policial, porque, novamente, isso é a aspirina para o problema e o que se
pretende é chegar à origem dele. Deveríamos fazer isso com mais frequência, e se o fizermos de forma
multinacional, fortaleceremos a estratégia ainda mais porque então se poderá realmente conter a região e
conter o problema.
DIÁLOGO: Durante a CANSEC 2015, o senhor mencionou que sente que a coleta e o compartilhamento de
informações é quase uma utopia, porque os países não compartilham o suficiente. O que quis dizer com
isso?
Comandante Hans Lodder: Eu quis dizer que não se pode esperar que uma nação compartilhe todas as
informações com todos que estão atuando em campo. Isso é simplesmente impossível. O que eu quis dizer
é que se você precisa de informações, deve dizer a alguém, “Para executar bem a minha operação, estas
são as informações de que necessito, assim posso fazer isso com essas informações”. Depois é muito mais
fácil dizer a alguém, “Se é disso que precisa, podemos estabelecer um acordo para você obter essas
informações. Quanto mais você quer, mais complexo o acordo se torna”. Então, em vez de pedir uma
estrutura inteira que está disponível, basta pedir o que você realmente precisa para o que quer fazer com
aquilo. Isso facilita muito e foi o que eu quis dizer com isso, porque se você disser “queremos tudo”,
ninguém fará nada.
DIÁLOGO: O senhor participou de uma missão na Somália que envolveu operações de combate à
pirataria. Como ela se compara à sua missão atual?
Comandante Hans Lodder: Esse é o mesmo tipo de ideia, basicamente. É a agulha que você está
procurando no palheiro. Eu fui treinado no passado para encontrar submarinos soviéticos no Hemisfério
Norte, que também foi o mesmo tipo de ideia. Então o que eu fiz ao lutar contra piratas foi apenas usar as
táticas que aprendi para encontrar submarinos soviéticos e esse é o mesmo problema aqui. Esta é uma
grande coisa que o treinamento militar oferece às pessoas, não é algo que você aprende para uma tarefa
específica. Se você a usou e se a usou habilmente, poderá usá-la em um espectro muito mais amplo.
Assim, você pode olhar para toda essa ideia e dizer “certo, que abordagem devemos usar para encontrar
traficantes de drogas na área pela qual sou responsável”? É um oceano enorme e um navio pequeno. Os
submarinos soviéticos estavam em um oceano enorme e sob a água. Ainda assim nós conseguimos
encontrá-los e é o mesmo aqui, e foi assim que eu fiz. Na Somália, fizemos o mesmo.
DIÁLOGO: Como você avalia a CANSEC 2015?
Comandante Hans Lodder: Essa conferência foi ótima porque é a maneira de encontrar-se com outras
pessoas e a única maneira direta para que os militares trabalhem em conjunto e informem-se mutuamente.
Não se trata apenas de compartilhar informações, mas de informar-se mutuamente, conhecer uns aos
outros e de se comunicar. Essa é a parte mais importante.
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