EDITORIAL EXPEDIENTE PRESIDENTE DA ABOMI Coronel Dentista Aer Evandro Robin de Lima 1º VICE-PRESIDENTE Coronel Dentista Aer José Alexandre Credmann Brottrel 2º VICE-PRESIDENTE Capitão de Mar e Guerra Dentista Luiz Antonio Lopes Schettini 3º VICE-PRESIDENTE Major BM Dentista Alexandre Barboza de Lemos DIRETOR CIENTÍFICO Coronel Dentista Ex José Henrique Cavalcanti Lima DIRETOR DE PUBLICAÇÕES Prof. Dr. William Nívio dos Santos CONSELHO EDITORIAL Cel Ex Hélio Pereira Lopes (Endodontia); Prof. Dr. José Francisco de Souza Filho (Endodontia); Cel Ex José Henrique Cavalcanti Lima (Implantodontia); Ten Cel Ex Pantaleo Scelza (Odontogeriatria); Prof. Dr. Marcos Barceleiro (Materiais Dentários); Prof. Spyro Nicolau Spyrides (Odontologia Legal); Prof. Adalberto Bastos Vasconcellos (Dentística); Prof. William Nívio dos Santos (Radiologia); Capitão-de-Mar-e-Guerra (CD) Rubens Murilo de Lucas (Estomatologia); Professora Dra Irani Cabral Ribeiro (Patologia Bucal); Ten Cel Aer Pylyp Nakonechnyj Neto (Cirurgia Buco Maxilo Facial); Ten Cel Aer Jose Alexandre Credmann Brottrel (Ortodontia); Ten Cel Ex Joel Alves da Silva Júnior (Periodontia) PRODUÇÃO EDITORIAL Cel Dent Ex Wantuil Rodrigues Araujo Filho DIAGRAMAÇÃO DA CAPA: Nako COORDENAÇÃO EDITORIAL: Editora SER – Stevenson Gusmão DIREÇÃO DE ARTE: Aline Figueiredo Periodicidade: Semestral Tiragem: 3500 exemplares Distribuição: gratuita Endereço para correspondência: ACADEMIA BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA MILITAR, R. Alcindo Guanabara, 17/21 sl.1001 a 1005 CEP 20040-003 – Rio de Janeiro/RJ Tel./Fax (21) 2220-6798 E-mail: [email protected] O ano de 2012 começa bastante significativo para os membros da Academia Brasileira de Odontologia Militar. No mês de março vamos comemorar os 30 anos de nossa entidade. Fundada por dentistas das forças armadas e auxiliares que, em 1982, sentiram a necessidade de se unirem para discutir os problemas inerentes e os rumos da Odontologia Militar. Ao fazermos uma retrospectiva do caminho percorrido durante esse tempo, só temos motivos para nos orgulhar. Atualmente, ministramos cursos de especialização e atualização das diversas especialidades nas Odontoclínicas militares em vários estados brasileiros, participação no Odontorio e no Congresso Internacional de Odontologia do RJ em parceria com a ABORJ, e em Congressos Militares nos estados, sempre com o apoio das ABOs locais. Retornamos também, a publicação de nossa revista que começa a ganhar espaço nos meios acadêmicos nacional. Entre as solenidades comemorativas, está previsto uma jornada científica que na sua primeira parte vai mostrar excelência dos trabalhos que os dentistas militares da Marinha, Exército, Polícia Militar, e Corpo de Bombeiros realizam em suas respectivas unidades. Na segunda parte, haverá um curso de periodontia, ministrado por um professor de renome nacional. Nós, da ABOMI, sabemos que uma revista científica não é feita com promessas de seus editores. Seu valor reside na qualidade dos artigos que publica, mas é com imensa satisfação que com a publicação dessa edição especial, continuamos mantendo um dos pilares de nossa instituição, que é valorizar, incentivas e apoiar a produção científica de Cirurgiões Dentistas militares e civis, elevando cada vez mais a odontologia ao patamar de excelência no cenário científico Nacional e Internacional. Para tanto, reinteramos a necessidade do envio de artigos pelos nossos acadêmicos, alunos dos cursos de pós-graduação e profissionais militares e civis para que possamos manter a periodicidade exigida pelos órgãos regulatórios e a excelência em produção científica. Assumindo a presidência da Academia no Biênio 2011/2013, conclamo os colegas militares e civis que juntem-se a nós para o engrandecimento da nossa Academia e da nossa odontologia. Saudações acadêmicas. EVANDRO ROBIN DE LIMA Cel Dent Aer – R1 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O SUMÁRIO M I ARTIGO ORIGINAL Ocorrência dos sinais da síndrome da combinação em pacientes da faculdade de odontologia da UFMS ......................................................................................................................................3 Anísio Lima da Silva, Rosely Louise Aquino Figueiredo e Lima Soares Cristófaro, José Olavo Mendes, Reinaldo Lopes Akamine Flare up ou osteonecrose? Qual é o diagnóstico? ...............................................................................................7 Rubens Murilo de Lucas, Rodrigo Asmar de Lucas, Helena Asmar de Lucas Brea A importância do gerenciamento de resíduos de saúde na odontologia ............................................................. 11 Ludimar Corrêa de Oliveira, Rogério Alves de Souza, Inajar José das Chagas, Anadir Cordeiro Herdy Aspectos éticos e legais da fratura de instrumentos e outros acidentes na prática endodôntica ...................... 18 Juliana Cardoso Corrêa, Wantuil Rodrigues Araujo Filho, Marcelo Sendra Cabreira Análise cefalométrica de Tweed ........................................................................................................................ 26 Marcelo Jorge Paraízo Garcia REVISÃO DE LITERATURA Prevalência das lesões da região oral e maxilofacial diagnosticadas no serviço de anatomia patológica do Hospital Central da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro no período de janeiro de 2002 a julho de 2011 ...................................................................................................................... 30 Paulo Gomes Rangel Júnior, Danielle Castex Conde, Amanda Abrahão Matos, Adriana Raymundo Bezerra, Vanessa de Paiva Reis, Adriane Batista Pires Maia Análise da relação da sucção digital intra-utero com a permanência do hábito na criança pós nascimento .................................................................................................................................. 39 Leila Maués Oliveira Hanna, Rodolfo José Gomes de Araújo, Antônio José da Silva Nogueira Contribuição ao estudo da etiologia multifatorial das disfunções temporomandibulares .................................... 47 Ademir Franco do Rosário Junior1, Denis Fernando Ferrari, Ana Regina de Sá do Rosário, Paulo Sérgio Batista, Orlando Motohiro Tanaka Candidíase oral em crianças infectadas pelo HIV ............................................................................................. 52 Madeleine Souza das Chagas, Lucia Helena Raymundo Andrade Fatores relacinados ao tecido mole que devem ser observados para otimização da estética em prótese implanto suportada ........................................................................................................ 57 Ana Carolina Luna Carvalho, Ricardo Teixeira Abreu, Júlia Rosas Salomão, Carmem Silva Laureano Piagge, Winne Kelly Nascimento Tratamento ortodôntico em pacientes com periodonto reduzido ........................................................................ 63 Paulo Sérgio de Assunção, Bruna Ferreira Martins, Luciana Alves de Souza Leite, Monique Santana Candreva Perfil das condições de saúde bucal de militares recrutas do 2º Batalhão de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro em 2011 ...................................................................................... 68 Rodolfo José Gomes de Araújo, Augusto Cesar Alcântara dos Reis, Khaled Pinho Badarane, Helder Henrique Costa Pinheiro MTAD na endodontia ......................................................................................................................................... 76 Thaís Fulgencio da Silva, Marivaldo Diniz Machado Avaliação periodontal prévia ao tratamento ortodôntico .................................................................................... 80 Natalia Oliveira de Lucena, Marcelo Magalhães Cortes, Glaucio Serra Guimarães, Gabriela Alessandra da Cruz Galhardo Camargo RELATO DE CASO Sobrenúcleo metálico fundido – Proservação de caso clínico ............................................................................ 89 Lucas Tristão Prieto, Vanessa Corrêa F. Nasser de Mello, Anísio Lima da Silva, Túlio Marcos Kalife Coelho, Elizeu Insaurralde RESUMOS .................................................................................................................................................................................... 92 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ..................................................................................................................................... 103 2 R Jan / Dez 2011 E ARTIGO ORIGINAL B O M I Ocorrência dos sinais da Síndrome da Combinação em pacientes da Faculdade de Odontologia da UFMS Occurrence of signals of Combination Syndrome in patients of the Faculty of Dentistry, UFMS Anísio Lima da Silva¹ Rosely Louise Aquino Figueiredo e Lima Soares Cristófaro² José Olavo Mendes³ Reinaldo Lopes Akamine4 1. Professor Associado da disciplina de Prótese Total e Parcial Removível da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pósgraduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFMS; Membro titular da ABOMI. 2. Aluna de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS. 3. Mestre em Reabilitação Oral. 4. Professor da disciplina de Prótese da UNIGRAN; Aluno de Doutorado do Programa de Pósgraduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS. Resumo A Síndrome da Combinação é um conjunto de sinais, inicialmente descritos por Kelly em 1972, como complicações decorrentes do uso conjugado de prótese total no arco superior, em oposição a uma prótese parcial removível de extremo livre bilateral no arco inferior. O trabalho apresenta resultado de pesquisa elaborada na UFMS, em que 38 pacientes totalmente desdentados no arco superior e parcialmente desdentados no arco inferior, usuários ou não de próteses, foram avaliados quanto à ocorrência dos sinais clássicos da Síndrome da Combinação. Os resultados mostraram que 60,52% dos pacientes apresentavam perda acentuada de suporte ósseo na região anterior da maxila, 7,98% tinham aumento da tuberosidade maxilar, 52,63% eram acometidos de hiperplasia papilar dos tecidos do palato duro e da fibromucosa da região anterior, 50% mostravam extrusão dos dentes anteriores inferiores e 92,10% dos examinados apresentavam-se com acentuada perda óssea na região posterior da mandíbula. A pesquisa concluiu ainda que todo o paciente desdentado total no arco superior e parcialmente desdentado no arco inferior apresentou algum sinal da Síndrome da Combinação. Palavras-chave: Síndrome de Kelly, prótese total, prótese parcial removível. Abstract Endereço para correspondência: Rua 15 de novembro, 2701 – Jardim dos Estados – CEP 79020300 Campo Grande – MS – [email protected] Recebido para publicação em 4 de agosto de 2011 e aceito em 22 de novembro de 2011 The Combination Syndrome is a set of signals, initially reported by Kelly in 1972, as current complication from the adjoining use of total prosthesis in superior arch, in opposition to removable partial prosthesis of edentulous patients in the bilateral inferior arch. This article presents results of the survey developed at UFMS, in which 38 patients, completely edentulous in the superior arch and partially edentulous in the inferior arch users or not of prosthesis, were evaluated considering the classical signals of the Combination Syndrome. The results showed that 60.52% of the patients had an evident loss of bone support in the anterior maxillary region, 7.98% had an increase of the maxillary tuberosity. 52.63% had papillary hyperplasia in the hard palate tissue and in the mucosa of the anterior region, 50% showed extrusion of the lower anterior teeth and 92.10% of the examined patients had a considerable bone loss in the posterior region of the mandible. The survey concluded that every patient totally edentulous in the superior arch and partially edentulous in the inferior arch showed some signal of the Combination Syndrome. Key-words: Kelly Syndrome, total prosthesis, removable partial prosthesis. 3 R E B O M I 4 ANO 28 • Nº 1 e 2 Introdução Kelly, em 1972, descreve a Síndrome da Combinação, relacionando cinco características que acometem usuários de Prótese total no arco superior associada com PPR no arco inferior Classe I de Kennedy. Segundo o autor, os usuários dessa combinação de próteses apresentam perda acentuada de suporte ósseo na região anterior da maxila, aumento fibroso da tuberosidade maxilar, hiperplasia papilar dos tecidos do palato duro e da fibromucosa da região anterior, extrusão dos dentes anteriores inferiores, e perda óssea na região posterior de mandíbula. Para Cabral, Guedes e Zanett, (2002), fatores oclusais e hábitos funcionais, ou ambos, podem iniciar o processo de destruição e o clínico deve dispensar atenção aos pacientes potenciais ou mesmo portadores da síndrome, a partir de visitas, ajustes oclusais e reembasamentos constantes e periódicos que devem ser feitos nos aparelhos reabilitadores. Segundo Nogueira, Miraglia e Soares, (2002), para os pacientes em que a síndrome já esteja instalada, deve-se realizar cirurgias no tecido hiperplásico, tuberoplastias, novas próteses com melhor adaptação, priorizando a centralização das cargas mastigatórias no centro do rebordo e esquema oclusal ideal. A reabilitação através de uma prótese total híbrida com manutenção dos caninos, em oposição à prótese parcial removível de extremo livre bilateral no arco inferior, foi a opção de Marcacci, et al. (2004), como alternativa para a prevenção da Síndrome de Kelly. As manifestações da síndrome da combinação, segundo Madan e Datta em 2006, inclui flacidez tecidual na região anterior da maxila, inclinação do plano oclusal posterior para baixo, supraerupção de incisivos inferiores, crescimento excessivo de tecido fibroso nas tuberosidades maxilares, reabsorção na área de extensão mandibular distal e perda da dimensão vertical de oclusão. Segundo Albuquerque et al (2006), as alterações mais freqüentes da Síndrome da Combinação, são: a perda de suporte ósseo sob a base da PPR, o reposicionamento espacial anterior da mandíbula, reabsorção óssea da porção anterior da maxila, hiperplasia infla- matória na região de palato duro e fundo de vestíbulo, crescimento das tuberosidades maxilares e alterações periodontais. Para os autores, essas complicações nem sempre vão ocorrer ao mesmo tempo, pois também dependem da regulação de fatores predisponentes. A relação entre a arcada superior edêntula com antagonista inferior possuindo dentes naturais ou implantes retidos, reabilitados com próteses totais, próteses removíveis de extremidade livre, overdentures ou próteses fixas implantossuportadas constitui-se em condição predisponente para a instalação do quadro evolutivo de reabsorção óssea, tanto na região anterior de maxila quanto na região posterior de mandíbula. Estas alterações clinicas podem ser potencializadas pela falta de proservação das reabilitações protéticas e desencadear o processo evolutivo destrutivo da Síndrome da Combinação (FAOT et al, 2006) Leite, Ragazini e Cunha Júnior concluíram (2006) que a despeito dos grandes avanços em Odontologia, a reabsorção óssea quando da perda de dentes e da associação de Prótese total e PPR é inexorável, sendo a prevenção alcançada com a manutenção dos dentes posteriores da mandíbula na busca de uma oclusão mais estável e a confecção de próteses de forma a obter um adequado esquema oclusal. Cunha, Rocha e Pellizzer (2007) ao analisarem 33 pacientes submetidos a tratamento com PPR de extremo livre, observaram que nenhum paciente apresentou todos os sinais, porém 84,85% apresentaram entre dois e quatro sinais, e 15,15% dos pacientes apresentaram somente um sinal específico da Síndrome e concluíram que todos os pacientes apresentaram os sinais de forma isolada ou parcialmente agrupados. Souza e Zaze publicaram estudo em 2007, em que relatam que de cada cinco pacientes atendidos, um apresentava a “síndrome combinação”. Os autores relataram ainda que os sintomas são mais evidentes nos pacientes que necessitam prótese total maxilar opondo-se a uma prótese parcial removível de Classe I ou II mandibular, quando se constrói apenas a prótese total maxilar. E sugeriram técnica de moldagem diferenciada, rigor no estabelecimento da oclusão, depois de o articulador R Jan / Dez 2011 E ter sido reajustado com os registros intermaxilares e controle periódico como procedimento para diminuir as conseqüências negativas do tratamento. Embora não seja raro o aparecimento dos sinais e sintomas que caracterizam a síndrome de Kelly, a documentação de casos a seu respeito é, ainda, precária, segundo Lelis et al em 2008. Por essa razão, os autores sugerem a realização de mais levantamentos, registros e divulgação sobre casos referentes à síndrome, nos diversos centros de pesquisa e Universidades, para que esta seja melhor documentada e o seu conhecimento mais difundido junto ao meio acadêmico. A identificação das razões e dos fatores predisponentes pelos quais ocorrem as alterações da Síndrome da Combinação é essencial para se compreender de forma associada os problemas e traçar uma estratégia de tratamento que limite o potencial de danos (Telles, 2009). Para o autor, as alterações nem sempre ocorrem de forma simultânea, sendo a perda de suporte ósseo sob a base da prótese parcial removível, a primeira a ocorrer, seguindo-se a transferência de forças para a região anterior, transformando a prótese total em uma alavanca. damente assinado pelos pacientes que se submeteram à avaliação, tendo sido informados de que participariam de trabalho de pesquisa. B O M I Resultados Os resultados da pesquisa de levantamento de dados clínicos em edentados totais superiores e parciais inferiores, usuários ou não de próteses dentárias, mostrou a ocorrência de sinais da Síndrome da Combinação em todos os examinados. Os sinais descritos por Kelly ocorreram na seguinte proporção: 60,52% dos pacientes apresentaram perda acentuada de suporte ósseo na região anterior da maxila; 7,89% tinham aumento da tuberosidade maxilar; em 52,63%, a hiperplasia papilar dos tecidos do palato duro e da fibromucosa da região anterior estavam presentes; extrusão de dentes anteriores inferiores apareceu em 50% dos pacientes; e a perda óssea na região posterior da mandíbula estava presente em 92,10% dos pacientes avaliados. Esses dados estão relacionados na tabela 1 e no gráfico 1. Tabela 1: Percentual de ocorrência de sinais da Síndrome da Combinação. Sinais % Metodologia perda acentuada de suporte ósseo Foram selecionados trinta e oito pacientes que procuraram a clínica de prótese Total e Parcial Removível da UFMS. O critério de seleção foi o de apresentarem ausência total dos dentes do arco superior e ausência parcial de dentes do arco inferior, usuários ou não de próteses. Os pacientes foram examinados por um único avaliador. Os dados compõem o prontuário clínico do paciente, sendo neles anexadas as radiografias panorâmicas. As características da Síndrome da Combinação foram anotadas em ficha própria, contendo apenas a idade, gênero e a informação de usuário ou não de prótese total no arco superior e/ou PPR no arco inferior. Os dados encontrados foram tabulados e apresentados em gráfico e tabela. Este trabalho foi submetido à avaliação e aprovação do comitê de ética em pesquisa de seres humanos da UFMS, (protocolo n° 2021 CAE 0111.049.000-11). O termo de consentimento livre e esclarecido foi devi- na região anterior da maxila 60,52 aumento da tuberosidade maxilar 7,98 hiperplasia papilar dos tecidos do palato duro e da fibromucosa da região anterior 52,63 extrusão de dentes anteriores inferiores 50,00 perda óssea na região posterior da mandíbula 92,10 Gráfico 1: Percentual de ocorrência de sinais da Síndrome da Combinação. 5 R E B O M I 6 ANO 28 • Nº 1 e 2 Discussão Os sinais da Síndrome da Combinação foram detectados em todos os pacientes examinados, o que está de acordo com as citações de Cunha, Rocha e Pellizzer, (2007) e Albuquerque et al (2006), que relatam ainda que nem sempre as complicações aparecem ao mesmo tempo. Esse último dado também é corroborada por Telles, em 2009 e a pesquisa confirma isso. A pesquisa mostrou também que, mesmo os não usuários de prótese total no arco superior e/ou PPR no arco inferior, apresentavam os sinais característicos da Síndrome descrita por Kelly. Diversos trabalhos associam os sinais da Síndrome da Combinação com o uso conjugado de prótese total no arco superior e PPR no arco inferior (FAOT et al, 2006), porém nossa pesquisa revelou que as características aparecem nos casos de desdentados totais na maxila e parciais na mandíbula, mesmo em não usuárias de próteses. No entanto há que se considerar a possibilidade de uso temporário e/ ou abandono de uma ou de ambas as próteses por alguns pacientes, objeto da pesquisa. Tal situação poderia ter desencadeado os sinais, que já estariam presentes no momento do exame. Ressalte-se que esse viés não foi objeto da pesquisa, podendo merecer atenção em outros trabalhos relacionados. Quanto ao percentual de sinais, 92,10% (n=35) dos pacientes apresentavam perda óssea na região posterior da mandíbula, o que parece indicar que a reabsorção sob a base da prótese parcial removível no arco inferior precede as demais complicações, o que confirma a observação de Telles, D., em 2009. O aumento da tuberosidade maxilar, por sua vez, mostrou-se com o menor percentual de ocorrências, sendo constatada em apenas 3 pacientes (7,98%). A perda acentuada de suporte ósseo na região anterior da maxila surge como a segunda complicação mais freqüente, sendo observada em 23 dos pacientes examinados (60,52% das complicações), seguida da hiperplasia papilar dos tecidos do palato duro e da fibromucosa da região anterior (52,63%, n=20), o que parece confirmar a teoria de que a perda de sustentação provocada pela desadaptação da base da PPR converte a PT em uma alavanca com fulcro na região de pré-molares (TELLES, 2009). A extrusão dos dentes anteriores ocorreu como achado em 19 dos 38 pacientes avaliados (50%). Conclusões A pesquisa permite concluir: Todos os desdentados totais no arco superior e parcialmente desdentados no arco inferior apresentam sinais da Síndrome da Combinação, descritos por Kelly. A perda óssea na região posterior da mandíbula é a complicação com maior ocorrência, seguida da perda acentuada de suporte ósseo na região anterior da maxila, de hiperplasia papilar dos tecidos do palato duro e da fibromucosa da região anterior, e da extrusão de dentes anteriores inferiores; o aumento da tuberosidade do maxilar foi a complicação de ocorrência menos frequentemente. Referências ALBUQUERQUE, J.F.; et al. Síndrome da combinação – relato de um caso clínico. Anais da 8ª Jornada Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal do Piauí. 2006. CABRAL, L.M.; GUEDES, C.G.; ZANETTI, A.L. Síndrome da combinação: relato de um caso clínico. J Bras Clin Odontol Int. Curitiba. 2002; 6(31): 45-48. CUNHA, L.D.A.P.; ROCHA, E.P.; PELLIZER, E.P. Prevalência da Síndrome de Kelly em usuários de prótese parcial removível. RGO, Porto Alegre. 2007; 55(4): 325-328. FAOT, F. et al. Síndrome da combinação – revisão da literatura. 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NOGUEIRA, R.P.; MIRAGLIA, S.S.; SOARES, F.A.V. Considerações sobre síndrome da combinacao (Kelly) na clinica odontológica reabilitadora. PCL, Curitiba. 2002; 4(19): 218-222. SOUZA, V.; ZAZE, C.A. Prevalência da “Sindrome combinação” na clínica de prótese da Unipar. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, 7(2): 155-158, 2003. TELLES, D. Prótese Total Convencional e sobre Implantes. São Paulo: Ed. Santos; 2009. 492 p. R Jan / Dez 2011 E ARTIGO ORIGINAL B O M I Flare up ou Osteonecrose? Qual é o Diagnóstico? Flare up or osteonecrosis? What is the diagnosis? Rubens Murilo de Lucas1 Rodrigo Asmar de Lucas2 Helena Asmar de Lucas Brea3 1. Capitão-de-Mar -e-Guerra (CDRM1) – Membro Titular Emérito da ABOMI. 2. Diretor Técnico de Odontologia da Fundação São Camilo, Membro Aspirante da ABOMI. 3. Cirurgiã- Dentista. Endereço para correspondência: [email protected] Recebido para publicação em 21 de janeiro de 2012 e aceito em 24 de janeiro de 2012 Resumo O flare up em endodontia é caracterizado por uma resposta inflamatória severa entre as sessões do tratamento endodôntico. As causas são múltipas e vai desde a mudança de pressão na abertura de um dente contaminado, uma instrumentação intempestiva, a solução irrigadora usada e até a medicação de escolha como curativo de demora. É uma patologia em que a dor geralmente é intensa e o tratamento proposto pela literatura às vezes é ineficaz. Outra patologia muito comum na atualidade é a osteonecrose que se caracteriza pela presença de cavidades ósseas nos maxilares. Com quadro clínico inicial semelhante, porém, com etiologia diferente, podendo causar erro de diagnóstico e consequentemente, tratamentos inadequados. Palavras-chave: flare up, osteonecrose, dor pós operatória. Abstract The flare up in endodontics is characterized by a severe inflammatory response between endodontics treatment session. The causes are multiple: ranging from the change in pressure at the opening of an infected tooth, an inadequate technique of instrumentation, the type of irrigating solution used and even the drug of choice as a dressing. Another very common disease, the osteonecrosis, characterized by the presence of cavities in the jaw bones, possesses a different etiology as the long-term systemic treatments, mainly the corticosteroids and biphosphanates. Although, they have almost the same symptomatology they are different etiologies and different treatments, being a good anmnese necessary for successful treatment. Key-words: flare up, osteonecrosis, postoperative pain. 7 R E B O M I 8 ANO 28 • Nº 1 e 2 Introdução Uma das grandes frustrações na clínica odontológica é quando o paciente nos procura com dor intensa e não conseguimos fazer com que ele saia sem dor. Atualmente, com o avanço da Odontologia, isto se tornou raro, porém há uma entidade que ainda assusta o profissional – o flare up. Essa patologia que acomete os pacientes que necessitam fazer o tratamento endodôntico em mais de uma sessão, com predominância no sexo feminino e afortunadamente com uma incidência pequena, ainda assusta o profissional por mostrar-se às vezes, refratária ao tratamento. Estrela et al (2008) em seu trabalho sobre dor em tratamento endodôntico, cita as afirmações de Seltzer e Naidorf (1985), que existem vários fatores para as dores pós operatórias nos tratamentos do canal: alteração da síndrome de adaptação local, mudança na pressão tecidual periapical, fatores microbianos, efeito de mediadores químicos, manifestações de mediadores químicos, manifestações nos nucleotídios cíclicos, fenômenos imunológicos e fatores psicológicos. Os fatores psicológicos deveriam ser levados, muito, em consideração. Embora não tenhamos uma estatística que comprove, podemos observar que os pacientes com flare up, tratados por nós, em quase sua totalidade passavam por alguma fase depressiva, devido aos problemas cotidianos, como separação definitiva ou provisória, doenças graves de pessoa da família, risco de desemprego, etc. Por isso, achamos que devem ser feitos estudos mais abrangentes nesta área. Ferreira et al (2007), fizeram um estudo da incidência de flare up na clínica de endodontia da Universidade de Pernambuco, analisando um total de 259 pacientes, ocorrendo o flare up em 5 casos, ou seja, uma incidência de 1,93%. Além disso, em nenhum caso houve o aparecimento da patologia em tratamento em biopulpectomias, mostrando assim a importância da participação bacteriana no processo. Outro problema importante no aparecimento da patologia é o tipo de medicação usada como curativo de espera. O tricresol formalina, tende a agravar o processo por sua irritação ao periápice. Ferreira et al (2007), observou 2 flare ups em 12 tratamentos em que fez uso de tricresol formalina e 2 flare up em 113 tratamentos com calen PMCC. O estudo de Walton e Fouad (1992), que são sempre citados em trabalhos sobre o assunto, devido ao número expressivo de sua casuística, mostra que em um universo de 946 pacientes, identificaram 30 casos de flare up, correspondendo a 3,17%, sem ter uma causa marcante para seu aparecimento. Alaçam e Tinaz (2002) pesquisaram a incidência de flare up que apareceram nos intervalos de sessões de dentes sintomáticos e assintomáticos com polpa necrótica e não encontrou nenhuma etiologia importante que desencadeasse o processo, tendo observado apenas a predominância de flare up nos dentes inferiores em relação aos superiores. Laurindo et al (2011) em pesquisa realizada sobre a incidência de flare up em tratamentos realizados em sessões múltiplas e sessão única em dentes necrosados, não achou diferenças estatísticas significante e concluiu que o número de intervenções não tem relação com a incidência de flare up. Como vimos, o flare up tem características próprias, embora, em alguns casos, não respondam bem aos tratamentos clássicos, são de fácil diagnóstico. Flare up ou Osteonecrose? Um dos grandes problemas no tratamento odontológico reside ainda no diagnóstico. A maioria dos profissionais negligenciam uma boa anamnese, e uma história clinica que possa elucidar e até mudar o curso do tratamento. Alguns casos que foram nos enviados com o diagnóstico de flare up, eram na verdade osteonecrose. De Lucas e De Lucas (2008) mostraram que pacientes que fazem uso de medicação de longa duração como corticosteroides e bifosfanatos estão predispostos a desenvolveram patologias que apresentam sintomatologia semelhantes as do flare up, a chamada osteonecrose. Gallego et al (2011), apresentam um caso no qual o tratamento endodôntico foi o fator iniciador da osteonecrose e chama a atenção para o perigo e os cuidados no uso do isolamento absoluto nes- R Jan / Dez 2011 E ses pacientes, já que qualquer trauma pode desencadear o processo. Woo et al (2006), mostram em seu trabalho que 60% dos casos de osteonecrose descritos na literatura, ocorrem após uma exodontia e 40% relativos a traumatismos, principalmente o protético. O site de oncopediatria (oncopediatras.org) chama a atenção que entre as causas de osteonecrose está a necessidade de receber altas doses de corticosteroides, principalmente em pessoas do sexo feminino e, com o aumento da idade agrava-se o risco. Estudos sobre o zolendronato mostram que no primeiro ano, o risco acumulativo da substância é de 1%, passando para 21% no terceiro ano (BANIC et al, 2005). Este medicamento tem sido bastante indicado nos casos de osteoporose e metástase ósseas. Clinicamente, é difícil dizer quando estamos diante de uma osteonecrse ou de um flare up, pois além da sintomatologia, a incidência (sexo feminino é o mais afetado também) serem praticamente a mesma, a etiologia e o tratamento são totalmente diferentes. A confusão torna-se maior, quando a emergência é endodôntica, só se distingue uma da outra após uma boa anamnese. Stockton (2003) mostra uma série de doenças e procedimentos que podem levar a osteonecrose, entre elas, a terapia prolongada com corticosteróide, tratamento radioterápico, tratamento com altas doses de estrógeno e, principalmente os bifosfanatos. O uso prolongado destes medicamentos leva a alteração do metabolismo ósseo e na cicatrização. Entre as doenças crônicas, o lúpus eritematoso sistêmico, a doença de Gaucher (hereditária), a artrite reumatóide, a trombofilia hereditária. Quando o paciente não possui qualquer problema sistêmico, apenas o tratamento de uma necrose pulpar, com ou sem patologia periapical e entre as sessões há o quadro de dor, estamos provavelmente diante de um flare up. Porém, se este paciente fez ou faz uso de medicação de longa duração como: os corticosteróides, os bifosfanatos, o citrato de tamoxifeno, entre outros, o osso se torna incapaz de aumentar a sua capacidade de regeneração e remodelação. Há uma diminuição acentuada da vascularização, é quando o flare up pode dar origem a osteonecrose. Esse problema vascular é responsável pelo o grande número de alveolites, que podem evoluir para osteomielite e necrose óssea. B O M I Metodologia O tratamento de primeira escolha será sempre baseado na sintomatologia do paciente. Nos casos das chamadas dores “agudas” em que o paciente está tão desesperado que nos dificulta a abordagem clínica, além do tratamento local faz se imperativo o uso de medicação sistêmica. Um caso interessante que mostra a severidade da dor é uma paciente que trabalha em um grande hospital do Rio de Janeiro, depois de ter retornado duas vezes ao dentista pela recorrência da dor, procurou o hospital de emergência e lhe foi aplicado Tramal® (cloridrato de tramadol) e 4ml de dipirona por via endovenosa e mesmo assim, cerca de três horas após o tratamento, a dor estava de volta. Isto mostra a qualidade e quantidade da dor dessa patologia, pois o Tramal® é usado com sucesso na maioria das sintomatologias dolorosas em emergência. Hizatugu (2008) recomenda no caso de necrose e periodontite apical aguda, o transpasse do forame apical até obter sangramento. Segundo o autor, após a hemostasia há a formação de coágulo e, posteriormente, a substituição deste coágulo por tecido de granulação. Com isto vai haver a descompressão das fibras nervosas pelo edema da área, envolvendo um complexo de mediadores químicos (histaminas, bradicininas, postaglandinas). Utiliza-se, como tratamento sistêmico antes da intervenção, um comprimido de Decadron (4 mg) e mais dois comprimidos, 24 e 48 horas, depois. O corticóide vai impedir a produção de ácido aracdônico, via fosfolipase. Preconizamos o mesmo tratamento, modificando a parte sistêmica com o uso de Diprospan® injetável (dipropianato de betametasona/fosfato disódico de betametasona - Laboratório Mantecorp). A escolha deste medicamento deve-se a sua atuação ser mais rápida do que por via oral e possuir longa duração, necessitando na grande maioria nos casos de 9 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I apenas uma dose. Porém, como todo tratamento com corticóide é necessário o controle do paciente com relação à pressão arterial e o cuidado em pacientes diabéticos. O corticosteróide produz uma tendência à hiperglicemia, geralmente transitória, devido ao aumento da glicogênese hepática e antagonismo a ação da insulina (resistência a insulina), incapacitando o hormônio de transportar glicose para a célula. Como curativos entre as sessões pode-se usar pastas à base de hidróxido de cálcio, que mostrou uma ação inibidora à maioria das bactérias dos canais infectados. De Lucas e De Lucas (2008), recomendam em casos de osteonecrose a remoção cirúrgica do tecido fibroso que pode ser ou não encontrado nas cavidades e uma curetagem vigorosa do espaço medular. Em cirurgias nas quais são necessárias extrações, deve-se fazer manobras até se obter um coágulo satisfatório. A incidência de alveolites nesses pacientes é muito alta. Alguns autores recomendam o uso de esponjas embebidas em tetraciclina e cefaloxinas, porém isto pode interferir no processo de cicatrização, já prejudicado pelos fatores predisponentes. O uso de antibiótico sistêmico a base penicilina ou derivado, se faz necessário. da vida das pessoas, principalmente os mais idosos. O cirurgião-dentista cada vez mais necessita ter conhecimento sobre a ação dos medicamentos e seus efeitos colaterais. Deve-se fazer uma anamnese e um plano de tratamento cuidadoso para evitar erros e desconforto desnecessários ao paciente. Alterações clínicas que tinham etiologias consagradas, hoje, podem ter outros fatores coadjuvantes. Referências ALAÇAM T, TINAZ AC. Interappointment emergencies in teeth with necrotic pulps. J Endod. 2002;28 (5): 375-7. BASNIC A, KASTEITIS E, BASNIC C, MOULOPOULOUS LA, MELAKOPOULOUS I, BOZOS G: Osteonecrosis of the jaw in cancer after treatment with bisphophanats: incidence and risk factors – J.Clin.Oncol. 2005; 23 (34): 8580-7. DE LUCAS RM, DE LUCAS RA: Osteonecrose maxilo facial – Revista Brasileira de Odontologia Militar. 1 (25); jul-dez 2008 ESTRELA C, TOLEDO AM, BRUGNERA JÚNIOR A, DECURCIO RA, PÉCORA JD- Dor pós – operatória em dentes com inflamação pulpar – Revisão Sistemática. Robrac, 2006; 15 (40) ESTRELA C, GUEDES OA, BRUGNERA JÚNIOR A, ESTRELA CRA, PÉCORA JD. Dor pós-operatória em dentes com infecção- 2008; RGO 4 (56): 353-9. FERREIRA GS, TRAVASSOS RMC, ALBUQUERQUE DS, OLIVEIRA IKC. Incidência de flare ups na clínica de endodontia da FOP/UPE- Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo- 2007; 19(1):33-38. GALLEGO L, JUNQUEIRA L, PELAZ A, DIAZ-BOBS C. Osteonecrose – bifosfanatos – Associado a isolamento absoluto na endondontia- J. Oral Maxillofac Surg . 2011; 69 :93-5. HIZATUGU R. Meeting Endovita realizado em 30/05/2008 (http://ruyhizatugu. blogpost.com/2008/06/5.meeting.endovita-0,4html) LAURINDO FV, MATOS NETO M, VILLELA AM PITHON MM. Incidência de flare Conclusão O flare up e a osteonecrose são patologias que tem a mesma sintomatologia, a mesma incidência, por isso, pode confundir o profissional em seu diagnóstico e levá-lo a um tratamento ineficaz, ou até complicar o quadro. Com o aumento da expectativa de vida, o uso de medicamentos de longa duração passou a fazer parte 10 up em tratamentos endodonticos realizados em sessão única e sessões múltiplas em dentes necrosadas- Revista Dental Press Endodontics ; 2011; 1 (1). WOO SB, HELLSTUIN J, KALMA JR. Systematic review –biphosphanats and osteonecrosis of jaw- Ann Intern Med. 2006; (144): 753-6. SELTZER S, NAIDORF IJ. Flare up in Endodontics I –Etiological Factors – J.Endod; 1985 11(11): 472-8. STOCKTON S, BEYOND A. The Hidden Health Hazard posed by jawbones cavitation – The Price Pottenger Foundation – La Mesa – Califórnia – p.42 -2006 WALTON R, FOUAD A. Endodontics interappointments flare up: A prospective study of incidence and related factors- J. Endod; 1992, 18 (4): 172-7. Jan / Dez 2011 R E ARTIGO ORIGINAL B O M I A importância do gerenciamento de resíduos de saúde na Odontologia The importance of waste management in dental health Ludimar Corrêa de Oliveira1 Rogério Alves de Souza2 Inajar José das Chagas3 Anadir Cordeiro Herdy4 1. Químico, Membro da Comissão de Gerenciamento de Resíduos de Saúde da Universidade do Grande Rio-UNIGRANRIO 2. Cirurgião Dentista, Membro da Comissão de Gerenciamento de Resíduos de Saúde da Universidade do Grande Rio-UNIGRANRIO 3. Membro da Comissão de Gerenciamento de Resíduos de Saúde da Universidade do Grande Rio-UNIGRANRIO 4. Membro da Comissão de Gerenciamento de Resíduos de Saúde da Universidade do Grande Rio-UNIGRANRIO Endereço para correspondência: [email protected] Recebido para publicação em 10 de janeiro de 2012 e aceito em 20 de janeiro de 2012 Resumo O destino dos resíduos gerados a partir de uma atividade odontológica é de grande importância para a nossa sociedade, que este seja controlado e destinado de forma eficaz e eficiente, uma vez que estes resíduos podem comprometer a qualidade de vida da população com doenças infectocontagiosas causadas por material contaminado, ou intoxicações químicas causadas por agentes químicos, segregados e destinados de forma indevida ao meio ambiente. Nos dias de hoje, é inadmissível um profissional de odontologia destinar os seus resíduos de forma inadequada, já que nós profissionais brasileiros de Odontologia dispomos de várias resoluções, normas, e técnicas que nos levam a um gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, capaz de minimizar ou até mesmo impedir os vários efeitos causados pelos resíduos de serviços de saúde, garantindo assim, um ambiente ocupacional seguro adequado, e um meio ambiente isento de contaminantes degradantes. Palavras-chave: gerenciamento de resíduo, serviços de saúde, odontologia. Abstract The destination of the waste generated from a dental activity is of great importance to our society, that it is controlled and designed to effectively and efficiently, since these residues can compromise the quality of life of people with infectious diseases caused by contaminated material, or chemical poisoning caused by chemical agents, segregated and improperly designed for the environment. Nowadays, it is unacceptable for a professional dental allocate their waste inappropriately, we have Brazilian professionals dental we have a number of resolutions, rules, and techniques that lead us to a waste management of health services, capable of minimize or even prevent the various effects caused by residues of health services, thus ensuring a safe occupational environment appropriate, and an environment free of contaminants degrading. Key-words: waste management, health services, dentistry. 11 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I 12 Introdução Em dois de agosto de 2010 o governo do Brasil, sacramenta a política Nacional de resíduos Sólidos LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010 DOU 03.08.2010. Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus principais, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. O Gerenciamento interno dos resíduos de saúde, com a separação do material reciclável, a esterilização ou desinfecção do material perfurocortante e o acondicionamento adequado dos resíduos em recipientes estanques e rígidos que não ofereçam risco para os trabalhadores que os manuseiam já representaria um enorme avanço no gerenciamento dos resíduos dos serviços de saúde promoveria, também uma redução nos riscos da infecção hospitalar pela melhora na qualidade da limpeza (SISINO e OLIVEIRA, 2002) De acordo com o Manual de Gerenciamento de Resíduos de Saúde (ANVISA, 2006), com relação aos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS), é importante salientar que das 149.000 toneladas de resíduos residenciais e comerciais geradas diariamente, apenas uma fração inferior a 2% é composta por RSS e, destes, apenas 10 a 25% necessitam de cuidados especiais. Baseado nestas informações, o ponto risco, é um dos principais argumentos que firmam os programas e as políticas de prevenção. É importante salientar que, mesmo que todo montante gerado em uma clinica ou consultório Odontológico seja de apenas 2% e que destes apenas 10 a 25% necessitam de cuidados especiais, este montante é um enorme risco para o colaborador e para todos, que estão em contato direto ou indireto com os resíduos gerados. Conforme a ANVISA, 2007 (Serviços Odontológicos: Prevenção e Controle de Riscos), os resíduos gerados nos serviços odontológicos causam risco à saúde pública e ocupacional equivalente aos resíduos dos demais estabelecimentos de saúde. Considerando esses conceitos, foram publicadas as Resoluções RDC ANVISA. Nº 306 de 7 de Dezembro de 2004 e CONAMA nº 358 de 29 de Abril de 2005 que dispõem, respectivamente, sobre o gerenciamento interno e externo dos RSS. Dentre os vários pontos importantes das resoluções destaca-se a importância dada à segregação na fonte, à orientação para os resíduos que necessitam de tratamento e à possibilidade de solução diferenciada para disposição final, desde que aprovada pelos Órgãos de Meio Ambiente, Limpeza Urbana e de Saúde. Embora essas resoluções sejam de responsabilidades dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, ambos hegemônicos em seus conceitos, refletem a integração e a transversalidade no desenvolvimento de trabalhos complexos e urgentes (ANVISA, 2006). As resoluções e leis instituídas têm como finalidade dar segurança as pessoas que trabalham de forma direta e a população de forma indireta, uma vez que, os resíduos são segregados de forma regrada e adequada e encaminhados a lugares seguros para destinação final. A abrangência destas resoluções conforme RDC ANVISA Nº 306 de 7 de Dezembro de 2004, para efeito deste Regulamento Técnico, definem-se como geradores de RSS todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento (tanatopraxia esomato conservação); serviços de medicina legal; drogarias e farmácias inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, dentre outros similares. Os resíduos gerados nos serviços odontológicos podem ser classificados em biológicos, químicos, perfurocortantes ou escarificantes e comuns, (Manual de Gerenciamento de Resíduos de Saúde ANVISA, 2006). Jan / Dez 2011 R E Como o ambiente de atenção odontológica é gerador de Resíduos de saúde (RSS), devem ser consideradas as diversas etapas estabelecidas pela RDC ANVISA no 06/04 e na Resolução CONAMA no 358/ 05. O gerenciamento deve abranger todas as etapas de planejamento dos recursos físicos, dos recursos materiais e da capacitação dos recursos humanos envolvidos no manejo dos (RSS). Todo gerador deve elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde – PGRSS, baseado nas características dos resíduos gerados e na classificação constante do Apêndice I da RDC 306/2004, estabelecendo as diretrizes de manejo dos RSS. O PGRSS a ser elaborado deve ser compatível com as normas locais relativas à coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados nos serviços de saúde, estabelecidas pelos órgãos locais responsáveis por estas etapas. O manejo dos RSS é entendido como a ação de gerenciar os resíduos em seus aspectos intra e extra estabelecimento, desde a geração até a disposição final, incluindo as seguintes etapas: A Segregação consiste na separação dos resíduos no momento e local de sua geração, de acordo com as características físicas, químicas, biológicas, o seu estado físico e os riscos envolvidos. O acondicionamento é o ato de embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resistam às ações de punctura e ruptura. A capacidade dos recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a geração diária de cada tipo de resíduo. A identificação consiste no conjunto de medidas que permite o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos e recipientes, fornecendo informações ao correto manejo dos RSS. A identificação deve estar exposta nos sacos de acondicionamento, nos recipientes de coleta interna e externa, nos recipientes de transporte interno e externo, e nos locais de armazenamento, em local de fácil visualização, de forma indelével, utilizando-se símbolos, cores e frases, atendendo aos parâmetros referenciados na norma NBR 7.500 da ABNT, além de outras exigências relacionadas à identificação de conteúdo e ao risco específico de cada grupo de resíduos. A identificação dos sacos de armazenamento e dos recipientes de transporte poderá ser feita por adesivos, desde que seja garantida a resistência destes aos processos normais de manuseio dos sacos e recipientes. O Grupo A é identificado pelo símbolo de substância infectante constante na NBR-7500 da ABNT, com rótulos de fundo branco, desenho e contornos pretos O Grupo B é identificado através do símbolo de risco associado, de acordo com a NBR7500 da ABNT e com discriminação de substância química e frases de risco. O Grupo C é representado pelo símbolo internacional de presença de radiação ionizante (trifólio de cor magenta) em rótulos de fundo amarelo e contornos pretos, acrescido da expressão B O M I Rejeito radioativo O Grupo E é identificado pelo símbolo de substância infectante constante na NBR-7500 da ABNT, com rótulos de fundo branco, desenho e contornos pretos, acrescido da inscrição de RESÍDUO PERFUROCORTANTE, indicando o risco que apresenta o resíduo. De acordo com a RDC ANVISA no 306/04 e Resolução CONAMA no 358/05, os RSS são classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E. Grupo A - engloba os componentes com possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Exemplos: placas e lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas (membros), tecidos, bolsas transfusionais contendo sangue, dentre outras. Grupo B - contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Ex: medicamentos apreendidos, reagentes de laboratório, resíduos contendo metais pesados, dentre outros. Grupo C - quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, como, por exemplo, serviços de medicina nuclear e radioterapia etc. 13 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I 14 Grupo D - não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Ex: sobras de alimentos e do preparo de alimentos, resíduos das áreas administrativas etc. Grupo E - materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como lâminas de barbear, agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas, espátulas e outros similares. Conhecer as características e todas as etapas do ambiente gerador de resíduo de Saúde (RSS), no caso de uma Clínica ou um Consultório de Odontologia, confere ao profissional as condições especificas e necessárias para elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) adequado ao ambiente em questão. As características são: a- Resíduos Biológicos; b- Resíduos Químicos; c- Rejeitos Radioativos; d- Resíduos Comuns; e- Resíduos Perfurocortantes. Através de uma simples avaliação de pesquisa do seu ambiente de trabalho, o profissional pode ter em mãos o quantitativo dos resíduos gerados e as suas respectivas características, em um determinado espaço de tempo, e a partir destas informações, confeccionar estratégias para manejar, segregar, acondicionar e destinar conforme determina órgão ambiental do estado. Estas estratégias de ação, para elaboração e aplicação do PGRSS, devem ser levados em conta os riscos que cada uma das classes de resíduos possam apresentar, daí tecer um atuação adequada para cada característica de risco. Com relação aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública a NBR 10.004/ 2004 classifica os resíduos sólidos em duas classes: classe I e classe II. Os resíduos classe I, denominados como perigosos, são aqueles que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar riscos à saúde e ao meio ambiente. São caracterizados por possuírem uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenecidade. Os resíduos classe II denominados não perigosos são subdivididos em duas classes: classe II-A e classe II-B. Os resíduos classe II-A - não inertes podem ter as seguintes propriedades: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Os resíduos classe II-B - inertes não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, com exceção dos aspectos cor, turbidez, dureza e sabor. Os resíduos do Grupo A, podem ser considerados resíduos de classe I, logo são considerados resíduos perigosos. De acordo com Corrêa, 2003, estes agentes biológicos trazem risco à saúde pública e ao meio ambiente. Conforme o Manual de Serviços Odontológicos: Prevenção e Controle de Riscos (ANVISA, 2007) os resíduos químicos oriundos da atividade Odontológica, podem conter substâncias químicas que são classificadas de Resíduos de Classe I: a) Produtos antimicronianos, citostáticos e antineoplásicos, imunossupressores, quando apresentarem prazo de validade vencido ou se tornarem impróprios para o consumo. b) Anestésicos. c) Efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores). d) Saneantes e desinfetantes. e) Resíduos de amálgama. f) Radiografia odontológicas. g) Demais produtos considerados perigosos, conforme classificação da NBR 10.004 da ABNT (tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos). Assumpção, 1998, afirmou que os resíduos químicos apresentam riscos inerentes às suas propriedades específicas. Devem ser consideradas todas as etapas de seu descarte, com a finalidade de minimizar, não só acidentes decorrentes dos efeitos agressivos imediatos (corrosivos, e toxicológicos), como os riscos cujos efeitos venham a se manifestar em longo prazo, tais como os teratogênicos e mutagênicos. Para a atividade de odontologia os resíduos químicos são muitos comuns, embora seja iminente a produção destes resíduos, os volumes gerados destes resíduos, podem ser ter diminuição de volume através de uma Jan / Dez 2011 R E estratégia de utilização destes insumos, além da segregação e armazenagem diferenciada destes resíduos. Figura 2: Segregação adequada dos Resíduos de Amálgama dentário. B O M I Figura 1: Contentores para Resíduos Químicos (embalagens primárias) vidros e plástico Os resíduos químicos oriundos da atividade de odontologia, e que pertencem ao grupo da Classe I, classe de resíduos perigosos, devem possuir Informações de Segurança de Produtos Químicos - FISPQ (NBR 14.725 da ABNT, de julho de 2001). Os resíduos de almágama dentário, ainda muito usado em nosso ambiente laboral, são passíveis de contaminação, para os colaboradores e o meio ambiente. O armazenamento inadequado das sobras de amálgama nos consultórios odontológicos também é um aspecto amplamente apontado na literatura científica como importante fonte de contaminação ocupacional e ambiental por vapor de mercúrio (FORTES et al., 2000; OMS, 2005; PÉCORA, 2003). Para evitar contaminações por vapores o contato com resíduos que contenham mercúrio a ANVISA através da RDC 306/2004 determina que os resíduos que contenham Mercúrio (Hg) devem ser acondicionados em recipientes sob selo d’água e encaminhados para recuperação. O descarte de pilhas, baterias e acumuladores de carga contendo Chumbo (Pb), Cádmio (Cd) e Mercúrio (Hg) e seus compostos, deve ser feito de acordo com a Resolução CONAMA nº.257/1999. Os reveladores utilizados em radiologia poderão ser submetidos a um processo de neutralização, para chegar a faixa de pH entre 7 e 9, atingindo esta faixa, poderão ser lançados na rede coletora de esgoto, desde que, o órgão ambiental estabeleça esta regra. Os fixadores na qualidade de resíduos, por conter a prata, que é um metal pesado é um grande contaminante para o nosso meio ambiente, e este tipo de resíduo não pode ser jogado no esgoto, deve ser aplicado o processo de recuperação, que é ambientalmente correto, além de ser menos oneroso que destinar para um aterro de Resíduos Perigosos - Classe I. Além de identificar e conhecer todas as etapas de um ambiente gerador de Resíduos de saúde, o profissional de Odontologia deve atender a norma regulamentadora (NR 32 - SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM SERVIÇOS DE SAÚDE), Portaria MTE n.º 485, de 11 de Novembro de 2005 tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Capacitar os trabalhadores além de ser uma determinação do Ministério do Trabalho e Emprego, remete os ambientes geradores de resíduos de saúde a uma diminuição dos acidentes biológicos e acidentes químicos por exposição. A capacitação é um ponto determinante para o sucesso na execução do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Saúde. De acordo com a NR 32 item 32.5.1 Cabe ao empregador capacitar, inicialmente e de forma continuada, os trabalhadores nos seguintes assuntos: a) segregação, acondicionamento e transporte dos resíduos; 15 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I b) definições, classificação e potencial de risco dos resíduos; c) sistema de gerenciamento adotado internamente no estabelecimento; d) formas de reduzir a geração de resíduos; e) conhecimento das responsabilidades e de tarefas; f) reconhecimento dos símbolos de identificação das classes de resíduos; g) conhecimento sobre a utilização dos veículos de coleta; h) orientações quanto ao uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs. A UNIGRANRIO através da sua Comissão Interna de Gerenciamento de Resíduos de Saúde, cumprindo a todos os pontos anteriormente abordados, atingiu uma diminuição satisfatória na geração de resíduos infectantes na sua policlínica Odontológica. A tabela a seguir, nos mostra como os volumes de resíduos infectantes coletados do ano de 2005 até o ano de 2010, apresentam uma diminuição sensível nos volumes gerados, os valores relacionados são de sacos de 50 litros. Tabela do total de resíduos infectantes gerados na Policlínica de Odontologia da UNIGRANRIO entre os anos de 2006 e 2011. Resíduos Infectantes na Policlínica Odontológica da UNIGRANRIO 2006/2010 Ano Quantidade em sacos Volume de 50 Litros em m3 2006 2007 2008 2009 2010 979 sacos 647 sacos 809 sacos 191 sacos 125 sacos Figura 3: Rótulo para contentor de resíduo comum. Na figura abaixo mostra a grande diferença dos contentores de resíduos infectantes e resíduos comuns. Figura 4: Contentores para Resíduos Infectantes e Resíduos Comuns. 48,95 m3 32,35 m3 40,45 m3 9,55 m3 6,25 m3 O volume gerado no ano de 2010 quando comparado ao volume gerado no ano de 2006, nos remete a concluir, que de fato o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Saúde, quando aplicado de acordo com a RDC ANVISA n. 306/04, gera grandes benefícios para o profissional de odontologia, com diminuição dos resíduos infectantes, tendo como resultado um menor custo com destinação de resíduos. A figura a seguir mostra um ponto importante para que a haja diminuição na geração de resíduos infec16 tantes, quando os recipientes contentores de resíduos infectantes estão perto dos contentores de resíduos comuns, e por sua vez não são identificados da forma adequada, os usuários do local no caso uma clínica ou consultório de Odontologia, segregam de forma inadequada os resíduos por eles gerados. Identificar os contentores é um fator importante para se ter diminuição no volume de resíduos infectantes, esta afirmação, nos faz reafirmar que a maioria dos resíduos gerados, não oferece perigo a sociedade, devendo apenas serem segregados de forma adequada. Em nossa sociedade contemporânea, que a cada dia exige atividades mais limpas e comprometidas com o meio ambiente, e com todas as leis e resoluções que tratam da necessidade de uma gestão eficiente dos resíduos gerados em um ambiente de trabalho, nos faz Jan / Dez 2011 R E agir como profissionais comprometidos, não apenas para atender as exigências das leis que figuram no ambiente laboral, mais como profissionais íntegros e capazes de atender de maneira clara e eficiente, as necessidades de nosso ambiente. Atender as resoluções e leis que regem sobre a necessidade de um Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, apenas nos mostra que executar um trabalho organizado, limpo comprometido com todos, agregam enormes vantagens para os profissionais de Odontologia principalmente no âmbito de economia dos processos de gestão de resíduos, confirmando que a nossa atividade pode ser compromissada com a sustentabilidade. ————, Ministério do Meio Ambiente. CONAMA. Resolução 257 de 30 de junho B de 1999 - “Estabelece que pilhas e baterias que contenham em suas composições O chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos, tenham os procedimentos de M reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente I adequados”. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo de 22 de julho de 1999. ————, Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI nº 12.305, 02/08/2010, Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo de 03 de agosto de 2010. ————, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada –RDC n. 306, de 07 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo de 10 de dezembro de 2004. ————, Ministério do Trabalho e Emprego. TEM. NR 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. Portaria MTE n.º 485, de 11 de Novembro de 2005. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo de 16 de novembro de 2005. ASSUMPÇÃO, J. C. Manipulação e estocagem de Produtos Químicos e Materiais Radioativos. In; ODA, L. M. & AVILA, S. M. (orgs.). Biossegurança em Referências ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. (Brasil). 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Especialista em Endodontia pela Odontoclínica Central do Exército 2. Professor Adjunto da Faculdade de Odontologia da UFF, Polo Universitário de Nova Friburgo; Professor do Curso de Especialização em Endodontia da OCEx; Membro Titular da Academia Brasileira de Odontologia Militar 3. Coordenador do Curso de Especialização em Endodontia da OCEx Endereço para correspondência: Rua Monte Alverne, 381 – Parque D – João VI – Nova Friburgo, RJ. E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 10 de janeiro de 2012 e aceito em 3 de fevereiro de 2012 Resumo A relação profissional/paciente e sua importância para o bom andamento, e sucesso do tratamento endodôntico devem ser refletidas mediante os seus aspectos bioéticos. Este estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento dos Cirurgiões-Dentistas, endodontistas e clínicos gerais que realizam tratamento endodôntico, sob os aspectos éticos e legais da fratura de instrumentos endodônticos e outros acidentes na prática endodôntica. Para tanto, foram avaliados 70 questionários distribuídos de forma aleatória e os dados obtidos foram agrupados mediante as variáveis classificatórias e mediante a qualificação e atuação dos indivíduos que realizam o tratamento endodôntico. Os resultados finais demonstraram que 96% dos endodontistas já fraturaram algum tipo de instrumento endodôntico, e entre os clínicos este valor alcançou 28%. Quanto ao esclarecimento prévio sobre os riscos inerentes ao tratamento endodôntico, os resultados demonstraram que dos especialistas: 48% esclarece verbalmente, 13% esclarece por escrito e 29% da amostra realiza este tipo de esclarecimento tanto verbalmente quanto por escrito e entre os clínicos gerais 50% esclarece verbalmente, 5% esclarece por escrito, 17% esclarecimento tanto verbalmente quanto por escrito e 28% não esclarecem. Concluiu-se que tanto os endodontistas quanto os clínicos gerais agem de maneira mais eticamente correta no relacionamento profissional-paciente do que na relação interprofissional, e entre os clínicos gerais pôde-se observar uma postura tida como eticamente correta, quando comparados com os especialistas. Finalmente, conclui-se que a maioria dos entrevistados documenta-se precariamente, ficando vulnerável a processos judiciais, em especial à aplicação do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. De modo geral o Cirurgião-Dentista sempre deve se resguardar de processos judiciais por meio de uma documentação odontológica completa e adequadamente preenchida. Palavras-chave: fratura de instrumentos, acidentes endodônticos, ética. 18 Jan / Dez 2011 R E Abstract B Professional-patient relationship and its importance for a good performance and success of the Endodontic treatment must be reflected upon by means of their bioethical aspects. Our study aimed at evaluating Endodontists and dentist-surgeons’ that perform root treatment knowledge about aspects ethical and legal of fractured endodontic instruments and other accidents in endodontic practice. In order to do so, 70 questionnaires were randomly distributed and the data obtained were grouped by classificatory variables and by the qualification and performance of individuals performing endodontic treatment. The final results showed that 96% of endodontists have some kind of fractured endodontic instrument and between clinicians, this figure reached 28%. As for prior clarification of the risks inherent in the endodontic treatment, the results showed that 48% of the experts explained verbally, Accounts for 13% written and 29% of the sample carries out this kind of clarification, both verbally and in writing and general practitioners 50% explained verbally, in writing explains 5%, 17% clarity both verbally and in writing and 28% did not clarify. It was concluded that both endodontists and general practitioners act more ethically in professional-patient relationship than inter-relationship between the general practitioners could be seen as an ethically correct stance taken when compared with the experts. Finally, we conclude that the majority of respondents were poorly documented, being vulnerable to lawsuits, particularly the implementation of the Code of Protection and Consumer Protection. In general the Dentist should always guard against lawsuits through documentation of a complete dental and properly completed. O M I Key-words: instrument fracture, accidents endodontic, ethics. Introdução Daruge e Massini (1978) relacionaram os cinco elementos que constituem a responsabilidade do Cirurgião-Dentista, sendo elas: o agente, que deverá ser um profissional possuidor de título idôneo; o ato profissional; a ausência de dolo, onde é necessário que não haja má fé, pois a culpa profissional surgiu da violação de um direito por um fato imputável, mas sem a intenção de prejudicar; a existência do dano, que será restituído pelo disposto nos artigos do Código Civil; e a relação entre causa e efeito constante da relação direta ou indireta entre o ato profissional e efeito produzido, ato esse sem o qual não teria sucedido o dano. Segundo Samico et al. (1994), “Responsabilidade é a obrigação que incumbe todo agente, dotado de liberdade, de responder por seus atos ante a autoridade competente e sofrer as conseqüências acarretadas pelos mesmos”. Abramowicz et al. (1995) abordaram a responsabilidade profissional em Odontologia ressaltando que esta pode resultar em sanções judiciais (de natureza penal ou civil) ou não judiciais, de natureza ético-administrativa. Se o Cirurgião-Dentista, no exercício profissional, provocar lesão ao paciente por imprudência, imperícia ou negligência, este poderá ser acionado nas esferas judicial e administrativa, simultaneamente. Calvielli (1997) abordou a responsabilidade profissional do Cirurgião-Dentista e ressaltou a importância da documentação odontológica, quando adequadamente realizada, para corroborar a defesa do profissional tanto em âmbito civil como penal, demonstrando a inexistência de culpa do mesmo. Barros (1998) apontou que um profissional tachado de “mau dentista” denigre a imagem de toda a classe odontológica, uma vez que o conceito de uma classe é a somatória dos conceitos individuais atribuídos a cada um de seus membros. O autor orienta que um profissional nunca deveria desacreditar um outro frente ao seu paciente, pois estaria desacreditando a si próprio. O autor também orienta que mesmo o bom profissional precisa estar munido de todos os documentos necessários à sua defesa, preparando-se para um eventual 19 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I 20 processo. Em seu poder deverá manter arquivado, de maneira legal, todo o tipo de material físico que irá constituir o prontuário do paciente e que será usado como prova documental em um eventual processo. Grinover et al. (2000) comentaram o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, e a responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, definida no art. 12: O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos; no caput do art. 14: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos 47 serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos; e para os profissionais liberais, no art. 14: § 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. A Resolução 042/03 aprovou o Código de Ética Odontológica (CFO, 2003) que estabelece diversas recomendações éticas fundamentais para a manutenção da harmonia das relações interprofissionais e da relação Cirurgião-Dentista-paciente, além de resguardar o profissional de possíveis lides judiciais. Dente os deveres éticos, destaca-se o art. 5º: IV - manter atualizados os conhecimentos profissionais, técnico-científicos e culturais, necessários ao pleno desempenho do exercício profissional; VIII - elaborar e manter atualizados os prontuários de pacientes, conservando-os em arquivo próprio; XVI – garantir ao paciente ou seu responsável legal, acesso ao seu prontuário, sempre que for expressamente solicitado, podendo conceder cópia do documento, mediante recibo de entrega. Dentre as diversas infrações éticas destaca-se o IV art. 7º: deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, cus- tos e alternativas do tratamento; e o V art. 9º: negar, injustificadamente, colaboração técnica de emergência ou serviços profissionais a colega. Metodologia Para a presente pesquisa foi elaborado um questionário com 28 questões estruturadas e abertas, sendo composto de uma parte que analisa o perfil do profissional (parte I) e uma parte específica sobre aspectos éticos e legais da atuação dos profissionais na área da endodontia (parte II). Foram distribuídos 70 questionários entre endodontistas e dentistas clínicos que atuam realizando tratamento endodôntico. Resultados Perfil Profissional Quanto ao gênero Quanto a graduação Quanto ao tempo de exercício clínico Quanto ao setor de trabalho Quanto ao nível de aprimoramento dos conhecimentos em Endodontia Jan / Dez 2011 R E Quanto aos meios a que recorrem quando têm dúvidas sobre como solucionar os problemas relativos aos acidentes em Endodontia. Conduta relacionada aos acidentes ocorridos durante o tratamento endodôntico. Quanto ao número de vezes que utilizam o mesmo instrumento endodôntico (lima tipo K nº10 e nº15) no tratamento do canal radicular. Quanto à ocorrência de fratura de instrumento. Quanto à fase em que ocorre a fratura de instrumento B O M I Quanto ao tipo de instrumento endodôntico fraturado na maioria dos casos. Quanto ao principal fator que se atribui à fratura do instrumento endodôntico quando realizam o tratamento endodôntico. Quanto ao número de casos de fratura de instrumento endodôntico que ocorreram em atividade profissional. Quanto à primeira conduta do profissional quando durante o tratamento endodôntico ocorre uma fratura do instrumento O instrumento fraturado era de primeiro uso? 21 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I Quanto à conduta do profissional na escolha do tratamento caso não consiga retirar o fragmento do instrumento endodôntico. Quanto à conduta do profissional antes de iniciar o tratamento endodôntico em esclarecer o seu paciente sobre os possíveis acidentes decorrentes do tratamento. Quanto a conduta do profissional caso não consiga retirar o fragmento do instrumento endodôntico, na mesma sessão 22 do acidente. Quanto à conduta do profissional antes de iniciar o tratamento endodôntico em esclarecer o seu paciente sobre os possíveis acidentes decorrentes do tratamento. Conduta do profissional para se resguardar de um possível problema judicial com o paciente caso opte por tentar resolver o problema em uma próxima sessão, e no caso de o paciente não finalizar o tratamento endodôntico com o mesmo Quanto à conduta do profissional ao receber um paciente com um instrumento fraturado no interior do canal (dente com tratamento endodôntico não finalizado, não obturado). Jan / Dez 2011 R E Quanto à conduta do profissional para se resguardar de uma possível demanda judicial caso durante um atendimento de urgência constate a presença de um instrumento fraturado no interior do dente que terá que intervir. Quanto à necessidade de que este assunto deve ser mais abordado no ensino da Endodontia. Discussão O presente estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento dos Cirurgiões-Dentistas, endodontistas e clínicos gerais que realizam tratamento endodôntico, sob os aspectos éticos e legais da fratura de instrumentos endodônticos e outros acidentes na prática endodôntica. A evolução das técnicas e dos materiais utilizados no tratamento dos canais radiculares favorece o aumento do índice de sucesso do tratamento endodôntico que no estudo de Weine (1989) já definia como 95%. Os casos de insucesso nem sempre estão diretamente ligados à atuação do Cirurgião-Dentista. De Deus (1992), já ressaltava que os aspectos relacionados ao próprio paciente e ao dente devem ser considerados, onde o componente biológico, inerente a cada um, é fator preponderante na recuperação de lesões periapicais, por exemplo. Além disso, a morfologia dos canais radiculares bem como a presença de canais acessórios, colaterais ou deltas apicais são fatores que interferem diretamente no tipo de técnica de preparo e modelagem dos canais que será executada. A impossibilidade de acesso a estas particularidades dos canais radiculares incide no prognóstico do caso, podendo ocasionar o insucesso em tratamentos endodônticos que apresentam imagens radiográficas compatíveis com os preceitos da literatura odontológica. Os acidentes podem ocorrer durante o tratamento dos canais radiculares, sendo a fratura de um instrumento endodôntico um exemplo que, no presente estudo, foi citado por volta de 96% dos especialistas entrevistados e 28% dos clínicos entrevistados. Este valor indica que o profissional especializado, apesar de possuir uma carga de conhecimento e aprendizado técnico relativamente superior ao clínico geral, também está susceptível a este tipo de acidente. Por sua vez o profissional clínico geral devido à quantidade significativamente menor de casos endodônticos realizados encontrará uma menor freqüência do acidente supracitado. Associando a presença de caso de fratura de instrumento com o número de fraturas pôde-se observar que 40% fraturou de uma a cinco vezes, 31% de 6 a 10 vezes e 29% mais de dez vezes no caso dos especialistas e 100% dos clínicos gerais fraturaram de uma a cinco vezes. Estes resultados demonstram que a maioria dos profissionais fraturou uma pequena quantidade de vezes, comprovando que a incidência deste acidente pode acontecer em uma pequena quantidade de vezes por profissional. Especificamente sobre a busca de informações de como solucionar os acidentes ocorridos durante o tratamento endodôntico, 52% participou de cursos a menos de um ano da participação na pesquisa, 25% obteve informações durante a graduação e 10% não tinha feito curso sobre este tema. Os meios utilizados na busca de informações revelaram que 41% consultava outros profissionais, 28% recorria aos livros de Endodontia, 17% a revistas especializadas e apenas 8% recorria a anotações de cursos e congressos. Ainda que a maioria dos pesquisados relate ter participado de cursos a menos de um ano, 100% dos pesquisados sente a necessidade de ter uma maior freqüência de programas de atualização em Endodontia que abordasse as complicações decorrentes do tratamento endodôntico. B O M I 23 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I Observando a conduta de prontamente avisar o paciente sobre a fratura do instrumento pôde-se observar que 67% dos profissionais que avisa o paciente é composta por clínicos gerais. Do total de especialistas em Endodontia, apenas 37% avisa o paciente assim que ocorre a fratura. Esta baixa porcentagem poderia ser justificada pelo fato de o especialista em Endodontia sentir-se mais capaz de solucionar o problema em questão, por ter um estudo mais aprofundado e por atuar em uma maior quantidade de casos nesta área. Mesmo assim, a posição tida como eticamente recomendada frente ao paciente é a de que ele seja prontamente informado não só da fratura de um instrumento endodôntico, mas de qualquer tipo de acidente ou intercorrência ocorrida durante o tratamento odontológico (COHEN e BURNS, 1980; FRANK, 1983; COHEN, 1988; IMURA e ZUOLO, 1988 e WALTON e TORABINEJAD, 1997). Entre os clínicos gerais pôde ser observada uma postura eticamente mais correta, quando comparados aos especialistas. Em outra situação, foi questionada qual a conduta do profissional caso ele fraturasse o instrumento endodôntico e não conseguisse retirar o fragmento na mesma sessão. Os resultados revelaram que dos especialistas pesquisados 67% avisaria e tentaria remover o fragmento em outra sessão, 23% avisaria o paciente e daria seqüência ao tratamento e apenas 2% não informaria ao paciente sobre a fratura e terminaria o tratamento, no caso dos clínicos gerais 44% avisaria e tentaria remover o fragmento em outra sessão, 28% informaria o paciente e o indicaria a outro profissional, 28% avisaria o paciente e daria seqüência ao tratamento. Neste tipo de situação, pôde-se observar uma postura ética dentre quase a totalidade dos profissionais, inclusive superando os resultados referentes aos obtidos por Itoh et al. (1999) onde 78,8% dos endodontistas norteamericanos entrevistados relatou que informam ao paciente sobre a fratura de um instrumento endodôntico quando este não tem como ser removido. Em relação às orientações legais, foi questionado se o profissional esclarece ou não o paciente antes de iniciar o tratamento endodôntico, acerca dos riscos inerentes a este tipo de intervenção. Os resultados de24 monstraram que dos especialistas 48% esclarece verbalmente, 13% esclarece por escrito e 29% da amostra realiza este tipo de esclarecimento tanto verbalmente quanto por escrito e os clínicos gerais 50% esclarece verbalmente, 5% esclarece por escrito, 17 % esclarecimento tanto verbalmente quanto por escrito e 28% não esclarecem. É preocupante constatar que muitos pesquisados não esclarecem o paciente por motivos diversos, dentre eles: visando não deixar o paciente inseguro, por achar desnecessário ou por falta de hábito, organização ou tempo, mesmo sabendo que o profissional responde pela reparação dos danos causados aos consumidores por informações insuficientes ou inadequadas sobre a fruição e riscos dos serviços prestados conforme estabelecido no art. 14, CPDC (Grinover et al., 2000). Além da orientação legal, é considerada infração ética deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, custos e alternativas do tratamento, conforme IV art.7º, CEO (CFO 2003). Quando questionada qual a conduta para se resguardar de processos judiciais, na ocorrência de um acidente durante a realização do tratamento endodôntico, podendo ser a fratura de um instrumento, a perfuração de um canal ou o extravasamento de material obturador, 10% dos especialistas fariam um esclarecimento dos fatos apenas verbalmente, 14% escreveria no prontuário e 63% realizaria tanto um esclarecimento verbal quanto redigiriam um documento e nenhum dos clínicos fariam esclarecimento apenas verbal, 5% escreveria no prontuário, 39% realizaria tanto um esclarecimento verbal quanto redigiriam um documento e 56% não souberam responder, demonstrando que os clínicos gerais não estão sabendo como se resguardar de possíveis processo judiciais quando diante de um acidente durante a realização do tratamento endodôntico. Em uma outra situação foi questionada qual a conduta do profissional quando este recebe um paciente com um instrumento fraturado no interior do canal radicular, cujo tratamento endodôntico ainda não estava finalizado. Associando esta situação com a presença de especialidade pôde-se observar que 15% dos clínicos gerais e apenas 21% dos endodontistas teria uma atitude etica- Jan / Dez 2011 R E mente adequada com o profissional que anteriormente atendia o paciente. O contato com o Cirurgião-Dentista que anteriormente atendia o paciente é uma atitude eticamente correta, pois possibilita a este profissional a chance de finalizar um tratamento interrompido por problemas no relacionamento profissional-paciente. Na Odontologia, os processos judiciais começam a preocupar os profissionais e documentar-se adequadamente é um critério ímpar para o respaldo do Cirurgião-Dentista. Com o advento e divulgação do CPDC, o paciente obteve o direito explícito de reparação de danos patrimoniais e morais e a facilitação da defesa de seus direitos, com manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita (I, art 5º) inclusive com a inversão do ônus da prova (VIII, art 6º). Ou seja, basta o paciente alegar que foi acometido um erro profissional e o juiz poderá determinar que o Cirurgião-Dentista prove que é inocente, ao invés do paciente provar que o profissional é culpado. Além disso, o profissional que for processado civilmente terá a responsabilidade pessoal apurada mediante a verificação de culpa (responsabilidade subjetiva) quando pessoa física e responderá pela reparação dos danos, independentemente da existência de culpa (responsabilidade objetiva) quando pessoa jurídica ou quando este for funcionário de empresa prestadora de serviço odontológico, conforme estabelece o art. 14 do CPDC (Grinover et al., 2000). Tendo em vista o aumento do número de processos, algumas empresas seguradoras estão oferecendo um seguro de responsabilidade civil profissional que pode ser um instrumento útil na proteção patrimonial do Cirurgião-Dentista, permitindo que o mesmo exerça com tranqüilidade a profissão. Entretanto, o seguro não pode ser encarado como anteparo para a incompetência profissional, ou seja, o fato de estar protegido pelo seguro não deve levar os profissionais a acreditarem que o mesmo possa ser usado de forma indiscriminada e abusiva, servindo para a prática descuidada (CALVIELLI e BALDACCI, 2002,). Conclusões Com base nos resultados observados neste estudo é lícito concluir que: Os Cirurgiões-Dentistas, endodontistas e clínicos gerais, observam mais a ética no relacionamento profissional-paciente do que nas relações interprofissionais e, principalmente entre os clínicos gerais pôde ser observada uma postura ética mais apurada, quando comparados com os especialistas, quando questionados se o profissional avisa ou não o paciente assim que é constatada a fratura do instrumento endodôntico. A maioria dos entrevistados documenta-se precariamente, ficando vulnerável a processos judiciais em cumprimento do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Desta maneira, o Cirurgião-Dentista deve se resguardar de processos judiciais por meio de uma documentação odontológica completa e adequadamente preenchida, sendo esta composta, principalmente, pelo prontuário odontológico, radiografias, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, relatórios (termos de ciência) e pelas cópias de documentos emitidos ao paciente (encaminhamentos, dentre outros). B O M I Referências ABRAMOWICZ M, CALVIELLI ITP, SILVA M, VIEIRA GMD, MENEZES JDV. No banco dos réus. Rev Assoc Paul Cir Dent. 1995; 49(4): 258-267. BARROS OB. Como o Cirurgião-Dentista deve organizar-se para evitar processos. São Paulo: Raízes. 1998. BRASIL. LEI N. 10.406 DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Código civil brasileiro. 2003. http://www.mj.gov.br/sal/codigo_civil/indice.htm. BRASIL. LEI N. 8.078 DE 11 DE SETEMBRO DE 1990. Código de proteção e defesa do consumidor. 1990. http://www.serasa.com.br/servicos/spcpdc.htm CALVIELLI ITP. 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Endereço para correspondência: [email protected] Palavras-chave: cefalometria, diagnóstico ortodôntico, Charles Tweed. Recebido para publicação em 25 de janeiro de 2012 e aceito em 2 de fevereiro de 2012 Abstract The Tweed cephalometric analysis aims to aid orthodontic diagnosis. It is an easy cephalometric analysis and reliable handling, which uses linear and angular mediated enshrined in orthodontic means. This work was aimed at demonstrating the cephalometric analysis of Tweed, describing the facial contour, points, lines, planes and cephalometric measures necessary for a safe and accurate analysis. Key-words: cephalometrics, orthodontic diagnosis, Charles Tweed. 26 Jan / Dez 2011 Introdução Em 1951, após o estudo de 3500 traçados cefalométricos de Broadbent, Tweed tomou conhecimento da importância da cefalometria e passou a utilizar as telerradiografias para o diagnóstico e plano de tratamento de seus casos. Em 1952, apresentou sua análise cefalométrica, juntamente com o Triângulo de Diagnóstico Facial. A análise cefalométrica de Tweed era composta pelos ângulos FMIA, FMA e IMPA que formava o triangulo de Diagnóstico Facial, o ângulo ANB e o ângulo Pl. Ocl.-HF. Ao longo dos anos, os membros da fundação Tweed, acrescentaram novas medidas angulares e lineares e atualizaram os valores e tornaram esses valores mais flexíveis. Atualmente a Análise Cefalométrica de Tweed, conta com 14 medidas, sendo 8 angulares, 5 lineares e uma proporção. Figura 1: Análise cefalométrica de Tweed 1952. Proposição Este trabalho tem como objetivo demonstrar a análise cefalométrica de Tweed contemporânea. Apresentando seus ângulos e medidas e sua aplicação na clínica ortodôntica como auxiliar no diagnóstico facial. R E xila e dentes incisivo e primeiro molar; contorno da mandíbula de dentes incisivo e primeiro molar e contorno do perfil tegumentar. B O M I Figura 2: Desenho das estruturas anatômicas Marcação dos pontos cefalométricos Faz-se necessário o conhecimento dos pontos cefalométricos que fazem parte da análise cefalométrica de Tweed. Por intermédio desses pontos serão traçados as linhas e os planos, que vão proporcionar um sistema de relacionamento angular e linear das estruturas do complexo crânio-facial. São eles: Ponto S (sela túrsica); Ponto N (násio); Ponto Po (pório); Ponto Or (orbitário); Ponto ENA (espinha nasal anterior); Ponto ENP (espinha nasal posterior); Ponto Ar (articular); Ponto Go (goníaco); Ponto A; Ponto IS (incisivo superior); Ponto B; Ponto Me (mentoniano); Ponto Ls (lábio superior); Ponto Li (lábio inferior); Ponto Pog´(pogônio tegumentar). Figura 3: Desenho dos pontos cefalométricos Desenho das Estruturas Anatômicas Devem ser desenhadas somente as estruturas anatômicas necessárias para a marcação dos pontos, linhas e planos cefalométricos. São eles: contorno da base do crânio; contorno do osso frontal e ossos próprios do nariz; contorno do pório; contorno inferior das órbitas; contorno da ma27 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I Traçado das linhas e planos cefalométricos Após a marcação dos pontos cefalométricos devem ser traçadas as linhas e planos previstos na análise cefalométrica de Tweed, para que possamos obter os resultados das medidas angulares e Lineares. São eles: Plano Horizontal de Frankfurt (PL-HF); Plano Palatino (ENA-ENP); Plano Oclusal (Pl-Ocl); Plano Mandibular (Go-Me); Linha SN (Linha Sela Násio); Linha NA (Linha Facial Superior); Linha NB; Longo Eixo do Incisivo Inferior; Linha Z (linha que passa por Pog´e pelo lábio mais proeminente, LI e/ou LS). Figura 4: Linhas e planos cefalométricos Medidas cefalométricas A análise cefalométrica de Tweed utiliza apenas 14 medidas, sendo que são 8 medidas angulares, 5 lineares e uma proporção. Essas medidas não se sobrepõem e avaliam características diferentes, evitando assim um acúmulo exagerado de medidas para a análise das características crânio-faciais. Medidas angulares (FMIA; FMA; IMPA; SNA; SNB; ANB; Pl.Ocl.-HF; AZ), medias lineares (AOBO; LS; QT; AFA; AFP) e a proporção do Índice Facial (AFP/AFA). FMIA: Ângulo formado entre o Plano Horizontal de Frankfurt (HF) e o Longo Eixo do Incisivo Inferior. Esse ângulo avalia o equilíbrio e a harmonia da parte inferior da face. FMIA = 65° a 68°. FMA: Ângulo formado entre o Plano Horizontal de Frankfurt (HF) e o Plano Mandibular (Go-Me). Esse ângulo avalia a direção do crescimento da 28 parte inferior da face, no sentido vertical ou horizontal. FMA = 22° a 28°. IMPA: Ângulo formado entre o Plano Mandibular (GoMe) e o Longo Eixo do Incisivo Inferior. Esse ângulo avalia o posicionamento do incisivo inferior com sua base óssea. IMPA = 88° a 94°. SNA: Ângulo formado entre a linha Sela-Násio (SN) e a linha NA. Esse ângulo avalia o relacionamento horizontal entre a base óssea maxilar e a base do crânio. SNA = 80° a 84°. SNB: Ângulo formado entre a linha Sela-Násio e a linha NB. Esse ângulo avalia o relacionamento horizontal entre a base óssea mandibular e a base do crânio. SNB = 78° a 82°. ANB: Ângulo formado entre as linhas NA e NB, ou seja, é a diferença entre os ângulos SNA e SNB. Esse ângulo avalia o relacionamento horizontal entre as bases ósseas maxilar e mandibular. ANB = 1° a 5°. PL.Ocl.-HF: Ângulo formado entre o Plano Horizontal de Frankfurt e Plano Oclusal. Esse ângulo avalia a inclinação do Plano Oclusal em relação ao Plano de Frankfurt. Pl. Ocl.-HF = 8° a 12° (Masc. = 11° e Fem. =9°). Ângulo Z: Ângulo formado entre o Plano Horizontal de Frankfurt e a Linha Z (formado pela linha do perfil tegumentar, que passa pelo mento e pelo lábio mais protuído). Esse ângulo avalia a harmonia facial. Ângulo Z = 70° a 80° (Ideal 75° a 78°). AO-BO: Distância entre a projeção ortogonal dos pontos A e B sobre o Plano Oclusal. Essa medida avalia o relacionamento horizontal entre as bases ósseas maxilar e mandibular. AO-BO = 0 a 4mm. LS (Lábio Superior): Medida que avalia a distância entre o ponto IS e o Ponto LS. Esta medida indica a espessura do lábio superior. QT (Queixo Total): Medida que avalia a distância perpendicular entre a linha NB e o Ponto Pog´. Esta medida indica a espessura do queixo. AFA (Altura Facial Anterior): Medida que avalia a distância perpendicular entre o Plano Palatino e o Ponto Mentoniano. Jan / Dez 2011 R E AFP (Altura Facial Posterior): Medida que avalia a distância entre o Ponto Articular e o Plano Mandibular, tangenciando o bordo posterior do ramo da mandíbula. Índice Facial (AFP/AFA)): é a proporção entre a Altura Facial Posterior e a Altura Facial Anterior. Índice Facial: de 0,65 a 0,75. Figura 5: Análise cefalométrica de Tweed contemporânea. diagnóstico preciso, rápido e confiável, principalmente devido a utilização de medidas angulares e lineares que são de grande conhecimento e consagradas no meio ortodôntico. Entretanto o clínico ortodôntico deve ficar atento ao solicitar a análise cefalométrica de Tweed computadorizada em clínicas radiográficas, pois muitas vezes os mais variados ângulos e medidas são incorporados a análise cefalométrica de Tweed de maneira errada e indevida. B O M I Conclusão Podemos verificar que a análise cefalométrica de Tweed é uma análise completa, competente, precisa e de fácil manuseio ao clínico ortodôntico. Referências ALMEIDA, R. C. et al. Análise Cefalométrica de Tweed Atual. Ortodotnia, 2002; 155-170. MERRIFIELD, L. L., et al. Tweed Course - Lecture Book. Ed 2009, Tucson. 2009. TWEED, C. H. Clinical Orthodonticas. Saint Louis: Mosby, 1966, 2v. VADEN, J. L., DALE, J. G., KLONTZ, H. A. The Tweed-Merrifield Discussão Acreditamos que a análise Cefalométrica de Tweed contemporânea, possibilita ao clínico ortodôntico um edgewise appliance philosophy, diagnosis and treatment. Am J Orthod Dentofacial orthop; 106(6): 641-8, 1994 Dec. VADEN J L. The Tweed-Merrifield philosophy. Semin Orthod; 2(4):23740, 1996, Dec. 29 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O REVISÃO DE LITERATURA M I Prevalência das lesões da região oral e maxilofacial diagnosticadas no Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Central da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro no período de janeiro de 2002 a julho de 2011 Prevalence of oral and maxillofacial lesions diagnosed in the anatomic pathology service of the Hospital Central da Polícia Militar of the Rio de Janeiro state from january 2002 to july 2011 Paulo Gomes Rangel Júnior1 Danielle Castex Conde2 Amanda Abrahão Matos3 Adriana Raymundo Bezerra4 Vanessa de Paiva Reis5 Adriane Batista Pires Maia6 1. Tenente Coronel PM Dentista (PMERJ), Chefe do Serviço de Odontologia do HCPM, Especialista em Cirurgia Bucomaxilo facial pelo HUPE-UERJ, Professor da Disciplina de Cirurgia Bucal da Faculdade de Odontologia da UVA. 2. Major PM Dentista (PMERJ), Mestre e Doutora em Patologia Oral pela UFF, Professora das Disciplinas de Patologia Oral e Cirurgia Bucal da Faculdade de Odontologia da UVA. 3. Cirurgiã-dentista. 4. Major PM Dentista (PMERJ), Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial pelo HUPE-UERJ, Mestre em Radiologia pela UFRJ, Professora da Disciplina Cirurgia Bucal da Faculdade de Odontologia da UVA. 5. Capitão PM Dentista (PMERJ), Especialista em Estomatologia pela UNIGRANRIO, Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial pela Odontoclínica Central da Marinha. 6. Major PM Dentista (PMERJ), Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial pelo Hospital dos Servidores do Estado Endereço para correspondência: Rua Estácio de Sá 20 – CEP: 20211-270, Rio de Janeiro/RJ – Hospital Central da Polícia Militar do Estado do RJ – Setor de Odontologia. [email protected] Recebido para publicação em 24 de janeiro de 2012 e aceito em 31 de janeiro de 2012 30 Resumo A proposta deste estudo foi identificar a prevalência das lesões da região oral e maxilofacial nos serviço de anatomia patológica do Hospital Central da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro entre janeiro de 2002 a julho de 2011. Foram analisados os livros de registros dos materiais encaminhados para exame anátomo-patológico, sendo selecionados os casos cujas lesões estavam localizadas na região oral e maxilofacial e coletados os dados referentes ao sexo, idade, cor da pele, localização e diagnóstico clínico. As lesões foram classificadas em 15 grupos pré-estabelecidos. Em relação à amostra total, 55,1% eram homens, 49,4% eram leucodermas e a média de idade total foi de 42,2 anos. O grupo das hiperplasias foi o mais frequente (33,1%), sendo o fibroma traumático, a lesão mais prevalente (20,61%), seguido pelo mucocele (10%) e pelo cisto dentígero (6,9%). Palavras-chave: biópsia, prevalência, lesões orais e maxilofaciais. Jan / Dez 2011 R E Abstract B The purpose of this study was to identify the prevalence of lesions of the oral and maxillofacial region in the anatomic pathology service of the Central Hospital of the Military Police of Rio de Janeiro state from January 2002 to July 2011. We analyzed the records containing the material sent for pathological examination. We selected the cases which lesions were located in the oral and maxillofacial area and collected data on gender, age, race, location and clinical diagnosis. The lesions were classified into 15 groups. Regarding the total of cases, 55.1% were male, 49.4% were diagnosed as leukoderma and the average age was 42.2 years old. The group of hyperplasia was the most frequent lesion (33.1%), such as the traumatic fibroma (20.61%), followed by mucocele (10%) and dentigerous cyst (6.9%). O M I Key-words: biopsy, prevalence, oral and maxillofacial lesions. Introdução O estudo da prevalência das patologias, incluindo as que acometem a região oral e maxilofacial é de fundamental importância para os clínicos, para os epidemiologistas e para os gestores. Estes dados permitem a formulação de um perfil de necessidades de uma determinada região. Uma vez traçado este perfil, é possível planejar tratamentos adequados e formular estratégias de prevenção individualizando as ações de acordo com as peculiaridades daquele grupo estudado, tornando possível diminuir a incidência e a evolução de determinadas doenças. Além disso, o conhecimento da prevalência, da localização preferencial, da idade e do sexo mais acometido por uma lesão é fundamental no processo de diagnóstico diferencial. O objetivo deste trabalho foi verificar a prevalência das lesões da região oral e maxilofacial diagnosticadas no serviço de anatomia patológica do Hospital Central da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro (HCPM) no período de janeiro de 2002 a julho de 2011 e correlacionar com a idade, o sexo e a cor da pele do paciente, assim como as localizações destas lesões. Metodologia Para a realização deste estudo retrospectivo foram analisados os livros de registros dos materiais encaminhados para exame anátomo-patológico no serviço de anatomia patológica do HCPM no período de janeiro de 2002 a julho de 2011. Foram selecionados todos os casos cujas lesões estavam localizadas na região oral e maxilofacial. Nos casos em que foram realizadas biópsias incisionais e posterior remoção total da lesão contamos como apenas um resultado para não superestimar a real prevalência das lesões. O mesmo foi realizado nos casos das recidivas. Dos casos selecionados foram coletados os dados referentes ao sexo, idade, raça, localização da lesão e diagnóstico clínico. As lesões foram classificadas em 15 grupos pré-estabelecidos: cistos odontogênicos (incluindo o cisto radicular), tecido normal, patologia óssea (exceto neoplasia), periapicopatia (exceto cisto radicular), infecções (bacterianas, fúngicas ou virais), hiperplasias, neoplasias benignas, neoplasias malignas, patologia das glândulas salivares (exceto neoplasias), lesões pré-malignas, doenças dermatomucosas, tumores odontogênicos, lesões físicas ou químicas na cavidade oral, processos inflamatórios inespecíficos e cistos não-odontogênicos. Os dados foram analisados utilizando a estatística simples (quantitativa), nas quais as variáveis determinadas foram mensuradas por valores relativos (percentuais) e absolutos. Resultados Do total de 22951 exames anátomo-patológicos realizados de janeiro de 2002 a julho de 2011 no Laboratório de Anatomia Patológica do HCPM, 490 (2,13%) 31 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B Quadro 1: Número de casos, sexo, cor da pele e percentual dos grupos diagnosticados. O M I H = Homem; M = Mulher, L = Leucoderma, F = Feoderma, M = Melanoderma estavam localizadas na região oral e maxilofacial. Os homens foram os mais prevalentes neste estudo, com 270 casos (55,1%) (Quadro 1). Em relação à cor da pele os leucodermas foram os mais prevalentes, com 49,4% dos casos, seguidos dos feodermas (18,6%) e melanodermas (14,5%) (Quadro 1). Em 86 (17,5%) casos não havia a informação referente à cor da pele. A média de idade total da amostra foi de 42,2 anos, sendo que em 72 casos (14,6%) não continham a informação referente à idade. O grupo das hiperplasias foi o mais frequente com 162 casos, o que representou 33,1% do total da amostra estudada, número maior do que o total de casos somados do segundo e terceiro grupos mais prevalentes, respectivamente o grupo dos cistos odontogênicos (76 casos) e o grupo das patologias de glândulas salivares (59 casos). O grupo menos prevalente foi o dos cistos não-odontogênicos com apenas 1 caso, o que representou apenas 0,2% da amostra total (Quadro 1). A lesão mais prevalente foi o fibroma traumático, com 101 casos, correspondendo a 62,35% do grupo das hiperplasias e a 20,61% do total da amostra (Quadro 2). O fibroma traumático foi encontrado principalmente na mucosa jugal, com 28 casos, representando 27,72% no total das 101 lesões. A segunda lesão mais frequente foi o mucocele com 49 casos, correspondendo a 83,05% do grupo das patologias das glândulas salivares e a 10% do total da amostra (Quadro2). O mucocele teve como localização preferencial o lábio inferior, com 37 casos, representando 75,51% no total de 49 lesões. 32 O cisto dentígero foi a terceira lesão mais frequente com 34 casos, representando 44,74% do grupo dos cistos odontogênicos e a 6,9% da amostra total (Quadro 2). O cisto dentígero teve como localização preferencial a mandíbula, com 19 casos, representando 55,8% no total de 34 lesões. Os dados referentes à quantidade absoluta e em percentual e em relação ao sexo e a idade de todas as lesões estudada podem ser observados do Quadro 2. Discussão É importante enfatizar que a biópsia é normalmente realizada em lesões que não permitem o diagnóstico definitivo através do exame clínico ou por meio de outros exames complementares. Por conseguinte, algumas alterações de desenvolvimento, como a língua fissurada, a língua pilosa, o leucoedema, a língua geográfica, e outras lesões como a úlcera aftosa e a candidíase, apesar de conhecidas pela elevada frequência na prática odontológica (NEVILLE, DAMM e ALLEN, 2009; XAVIER, ANDRADE e ARCOVERDE, 2009; PRADO, TREVISAN e PASSARELLI, 2010), não fizeram parte desta estatística, pois, o nosso levantamento foi realizado a partir dos diagnósticos histopatológicos. Com este raciocínio, temos que ter cautela para não subestimarmos essas alterações no contexto da real condição da saúde bucal da população estudada. Foram contabilizadas 490 biópsias realizadas na região bucomaxilofacial e diagnosticadas pelo Laboratório de Anatomia Patológica do HCPM em nove anos e seis meses. Sixto-Requeijo et al, (2011), obti- Jan / Dez 2011 R E Quadro 2: Número de casos, sexo, cor da pele e percentual das lesões diagnosticadas. B O M I N o = número de lesões, H = Homem; M = Mulher, H/M = razão homem / mulher, % = percentual 33 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I veram 562 biópsias em 15 anos de atendimento em uma Unidade de Medicina e Cirurgia Oral na Galicia, Espanha. Do total de 490 casos estudados, 86 (17,5%) não continham a informação referente à cor da pele e 72 (14,6%) não continham a informação referente à idade. O diagnóstico histopatológico só é completo mediante o conhecimento integral dos dados clínicos, portanto, é de fundamental importância o completo detalhamento das informações clínicas e radiográficas na ficha do paciente (MONTENEGRO e FRANCO, 1999; BERTOJA, TOMAZINI e BRAOSI, 2007; XAVIER, ANDRADE e ARCOVERDE, 2008). As biópsias foram realizadas mais em homens do que em mulheres, não coincidindo com a literatura (JONES e FRANKLIN, 2006; CORRÊA. FRIGERIO e SOUZA, 2006; BERTOJA, TOMAZINI e BRAOSI, 2007; SIMÕES, LINS e HENRIQUES, 2007; XAVIER, ANDRADE e ARCOVERDE, 2009; SILVA, SOUZA e ROCHA, 2011; SIXTO-REQUEIJO, DINIZ-FREITAS e TORREIRA-LORENZO, 2011). Isto se deve à população atendida no HCPM ser representada em sua maioria por policiais militares e também por seus dependentes (esposa ou marido e filhos). Apesar do número de mulheres estar aumentando nos últimos anos, ainda é maior o número de homens nesta corporação. A média de idade total da amostra foi de 42,2 anos, sem excluir nenhuma faixa etária, isso faz com que nossos resultados se diferenciem de outras publicações como a de Lima et al (2008) e Wang et al (2009) cujas amostras eram representadas apenas por crianças, a de Corrêa et al (2006) que focaram seus estudos em pacientes com mais de 60 anos e a de Jones & Franklin (2006), cuja amostra era representada apenas por adultos acima de 30 anos. Assim como o nosso trabalho, o levantamento de Sixto-Requeijo et al (2011) não excluiu nenhuma faixa etária e obteve média de idade de 51,8 anos. O aumento da frequência das lesões da cavidade oral à medida que aumenta a idade é reflexo do aumento do tempo em que os agentes irritantes estão presentes na cavidade oral e também por ser nas idades mais avançadas onde encontramos a maioria dos pacientes que utilizam próteses mal-adaptadas. 34 Em relação à cor da pele, a maioria dos pacientes era leucoderma, representando 49,3% da amostra total (242 pacientes). Resultado semelhante foi obtido por Corrêa et al (2006). Cistos odontogênicos Apesar do cisto radicular ser considerado como cisto mais comum dos maxilares1,3,6,11,14, neste trabalho, o cisto dentígero foi o cisto mais prevalente entre os cistos odontogênicos representando 44,74% deste grupo e 6,9% da amostra total. Isso pode ser explicado pelo fato da maioria das biópsias da região oral e maxilofacial realizadas na corporação policial militar serem procedidas no ambulatório de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial do HCPM, no qual o procedimento mais realizado é a exodontia dos terceiros molares. Deste modo, durante a avaliação pré-operatória da radiografia panorâmica, a imagem sugestiva deste cisto é observada e posteriormente confirmada por exame histopatológico. A média de idade dos pacientes acometidos pelo cisto dentígero neste trabalho (29,06 anos) foi ligeiramente mais alta do que a encontrada na literatura9 e isso pode ser reflexo da população atendida no HCPM, ser em sua maioria adulta. O cisto radicular foi o segundo cisto mais comum deste grupo (34,26%), representando 4,6% da amostra total. A média de idade foi de 39,81 concordando com a literatura. O ceratocisto odontogênico, embora tenha sido classificado como tumor odontogênico na última classificação da Organização Mundial de Saúde, e denominado de tumor odontogênico ceratocístico, foi inserido neste trabalho, no grupo dos cistos odontogênicos, segundo a classificação de Neville et al (2009) para fins comparativos com outros trabalhos. O ceratocisto foi o terceiro cisto odontogênico mais prevalente (14,47%), representando 2,2% da amostra total. A média de idade encontrada, 34,43 anos, concorda com a literatura. Assim como relatado na literatura (NEVILLE, DAMM e ALLEN, 2009), em nosso trabalho todos os cistos odontogênicos foram mais prevalentes no sexo masculino. Tecido normal A presença de tecido normal em nossa amostra é justificada principalmente pelos nove casos representa- Jan / Dez 2011 R E dos pelo capuz pericoronário (64,28% deste grupo e 1,8% da amostra total) removido durante as exodontias, principalmente de terceiros molares inclusos, onde apesar de nem sempre ter uma imagem radiográfica significativa, o cirurgião, durante a curetagem observa um tecido mais exuberante. O capuz pericoronário foi o segundo maior diagnóstico realizado no levantamento de Lima et al (2008), entre pacientes pediátricos. Uma alta prevalência deste tecido também foi encontrada no levantamento de James (1975). Além disso, observamos três casos representados pelo tecido glandular normal (21,53% deste grupo e 0,6% da amostra total). Essas amostras foram encaminhadas após biópsias da mucosa labial inferior, com o objetivo de confirmar ou não a suspeita de Síndrome de Sjögren. Os dois resultados histopatológicos de tecido ósseo normal (14,29% deste grupo e 0,4% da amostra total) foram diagnosticados clinicamente como sequestros ósseos e ocorreram em pacientes submetidos às reconstruções maxilofaciais após traumatismo por projétil de arma de fogo (PAF). Patologia óssea A lesão mais frequente deste grupo foi o sequestro ósseo representando 21% das patologias ósseas e 0,81% da amostra total. Todos os sequestros ocorreram em homens que ou foram submetidos às reconstruções maxilofaciais após traumatismo por PAF ou foram submetidos à radioterapia para tratamento de câncer de boca, desenvolvendo consequentemente osteoradionecrose. Periapicopatias A periapicopatia mais prevalente foi o granuloma periapical, representando 96,47% deste grupo e 5,51% da amostra total. Este grupo foi o quinto grupo mais frequente com 5,7% da amostra total. O granuloma periapical foi a quarta lesão mais frequente nos homens (15 casos), se igualando ao cisto radicular periapical e também a quarta mais comum nas mulheres (12 casos), se igualando ao número de casos do cisto dentígero. Infecções Neste grupo a lesão mais prevalente foi o papiloma escamoso oral, representando 68%. Nossos resultados concordam com a literatura em que não há uma prefe- rência por sexo (9 casos nos homens e 8 em mulheres) e que é mais comum em adultos (idade média de 40,4 anos). A verruga vulgar foi a segunda lesão mais frequente deste grupo, totalizando 16%. Houve um equilíbrio entre os sexos e apesar da literatura relatar uma prevalência maior nas crianças, neste trabalho a média de idade foi de 41,25 anos, o que mais uma vez pode refletir o perfil do paciente atendido no HCPM. A candidíase não foi relatada neste trabalho, possivelmente devido ao fato desta lesão ser diagnosticada pelo aspecto clínico e/ou pela citologia exfoliativa, não necessitando de biópsia. Da mesma forma, as duas biópsias realizadas em lesões de herpes foram em lesões com aspecto clínico atípico, pois, da mesma forma, esta lesão normalmente é diagnosticada clinicamente. B O M I Hiperplasias Este foi o grupo de maior prevalência, totalizando 162 lesões, 33% do total da amostra. O fibroma traumático representou 62,35% deste grupo com 101 lesões, sendo a lesão mais frequente neste estudo. Este diagnóstico foi encontrado mais comumente nas mulheres (55 casos), com média de idade de aproximadamente 48 anos. Resultados similares foram encontrados em outros trabalhos (JONES e FRANKLIN, 2006; BERTOJA, TOMAZINI e BRAOSI, 2007; CORRÊA, FRIGERIO e SOUZA, 2006; SIMÕES, LINS e HENRIQUES, 2007; PRADO, TREVISAN e PASSARELLI, 2010;). Esta também foi a lesão mais frequente nos homens (46 casos). É provável que a alta prevalência de lesões hiperplásicas indique uma alta frequência de fatores traumáticos na cavidade oral, capazes de desencadear a formação destas lesões (SIMÕES, LINS e HENRIQUES, 2007). Todas as lesões diagnosticadas como fibroma, mesmo na ausência de uma história de trauma admitida pelo paciente, mas, que estavam localizadas em locais vulneráveis a trauma, como a mucosa labial inferior, mucosa jugal, gengiva e língua, foram denominadas como fibroma traumático para enfatizar a sua natureza hiperplásica. A localização mais frequente foi a mucosa jugal com 28 casos (27,72%). Portanto, devemos enfatizar mais uma vez a importância de um preenchimento adequado da requisição para o exame histopatológico, pois, o diagnóstico diferencial entre a 35 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I hiperplasia fibrosa e uma verdadeira neoplasia de tecido conjuntivo fibroso (fibroma) é realizado pela informação clínica da presença de um trauma ou um irritante local, pois, estas duas condições apresentam o mesmo aspecto histológico. O diagnóstico de uma verdadeira neoplasia de tecido conjuntivo fibroso na cavidade oral é raro, e só deve ser considerado na ausência desses fatores irritantes (CONDE, 2011). A epúlide fissurada foi a segunda lesão mais frequente com 29 lesões (17,9% do grupo), tendo ocorrido mais nas mulheres e com idade média de aproximadamente 55 anos. A maior prevalência destas hiperplasias em mulheres mais velhas (5ª. e 6ª. décadas de vida) é relatada na literatura.3,5,9 Esse fato pode ser consequência do maior uso de próteses nessas pacientes, visto que as mulheres cuidam mais da estética facial, além de usarem a prótese inclusive durante a noite.9 A preferência pelas mulheres talvez, também possa ser explicada pelas alterações das taxas hormonais após a menopausa (NEVILLE, DAMM e ALLEN, 2009). Neoplasias benignas Neste grupo observamos 10 diagnósticos, com 19 lesões (4,1% da amostra total), sendo o hemangioma a lesão mais prevalente (26% do grupo), seguido pelo lipoma (21% do grupo) e do adenoma pleomórfico (16% do grupo). Vale ressaltar que muitos hemangiomas são diagnosticados clinicamente através da vitropressão ou diascopia, não sendo na maioria das vezes biopsiados, evitando assim sangramentos excessivos, já que essas lesões podem ser submetidas a outras modalidades de tratamento como a escleroterapia (NEVILLE, DAMM e ALLEN, 2009). Portanto, esse percentual, aqui registrado, não reflete a real prevalência desta neoplasia. Prado et al (2010) relataram que o hemangioma foi a terceira lesão mais frequente, entretanto , este estudo foi baseado também nos diagnósticos clínicos, não sendo restrito aos diagnósticos histopatológicos como em nosso trabalho. A língua foi a localização mais acometida pelo hemangioma em nosso estudo (3 casos – 60%). Neoplasias malignas A prevalência de tumores malignos neste trabalho foi de 5,5%, similar ao trabalho de Jones e Franklin 36 (2006). Com 23 casos, o carcinoma de células escamosas compreendeu 85% das neoplasias malignas, percentual similar à outras publicações (CORRÊA, FRIGERIO e SOUZA, 2006; SIXTO-REQUEIJO, DINIZ-FREITAS e TORREIRA-LORENZO, 2011). Destes 23 casos, 21 ocorreram em homens e a média de idade foi de 61, 42 anos. Estes dados ratificam a já conhecida preponderância desta neoplasia maligna nos homens desta faixa etária (NEVILLE, DAMM e ALLEN, 2009; SIXTOREQUEIJO, DINIZ-FREITAS e TORREIRA-LORENZO, 2011). A quantidade de casos de carcinoma de células escamosas se igualou a do cisto odontogênico considerado pela literatura ser o mais frequente, o cisto radicular. A localização mais acometida pelo carcinoma de células escamosas neste estudo foi o assoalho de boca, ocorrendo em 8 casos (34,78%). Patologia das glândulas salivares Este foi o terceiro grupo mais frequente, representando 12% do total da amostra. Esta alta prevalência foi devido aos 49 diagnósticos de mucocele, que totalizaram 83,05% das lesões deste grupo, sendo a segunda lesão mais frequente deste estudo, assim como no levantamento de Simões et al (2007). Esta foi a segunda lesão mais frequente tanto nos homens (26 casos), quanto nas mulheres (23 casos). A média de idade foi de 24,43 anos. Estes resultados foram similares a outros estudos. No levantamento de Wang et al (2009) e de Lima et al (2008), o mucocele foi a lesão mais frequente, entretanto essas amostras foram constituídas apenas de pacientes pediátricos, os quais, segundo Neville et al (2009) são os pacientes mais acometidos por esta lesão. A localização mais acometida pelo mucocele foi o lábio inferior, totalizando 37 casos (75,51%). Esta preferência também é relatada na literatura. Lesões pré-malignas As lesões pré-malignas representaram 1,2% da amostra total, sendo 3 casos de displasia epitelial e 3 casos de queilite actínica. Todos os casos ocorreram em homens. Todas as displasias epiteliais foram leves, ocorrendo uma em rebordo alveolar, uma em gengiva e a terceira em mucosa jugal, localizações conhecidas por serem as mais frequentes desta lesão juntamente Jan / Dez 2011 R E com o vermelhão do lábio inferior (NEVILLE, DAMM e ALLEN, 2009). Em relação à cor da pele dois eram leucodermas e um feoderma. A média de idade foi de 50 anos, concordando com a literatura (NEVILLE, DAMM e ALLEN, 2009). Todos os 3 casos de queilite actínica ocorreram no vermelhão do lábio inferior e histologicamente, nenhum apresentou displasia epitelial. Um paciente era leucoderma e os outros dois eram feodermas. A idade média foi de 33,33 anos, um pouco baixa com relação à literatura, devido a presença de um paciente com 24 anos. Doenças dermatomucosas Este grupo representou apenas 2,4% do total da amostra. O líquen plano oral representou 83% deste grupo. Todos os casos de líquen plano oral ocorreram em pacientes com mais de 40 anos de idade e ocorrendo principalmente na mucosa jugal, corroborando com a literatura (NEVILLE, DAMM e ALLEN, 2009; SIXTOREQUEIJO, DINIZ-FREITAS e TORREIRA-LORENZO, 2011). Dos 10 casos de líquen plano oral apenas um caso era do tipo atrófico, os demais eram do tipo reticular (8 casos) e em um caso esta informação não constava. Nenhum dos casos apresentou displasia. DAMM e ALLEN, 2009). Dois ocorreram em homens e dois em mulheres, com uma média de idade de 58,75 anos. Segundo Neville et al (2009), as úlceras eosinofílicas são comuns, mas frequentemente não são relatadas. Essa forma atípica de úlcera traumática, exibe uma profunda reação inflamatória pseudoinvasiva, que regride, caracteristicamente de forma lenta, podendo permanecer de 1 semana a 8 meses. De forma interessante, muitas dessas úlceras traumáticas regridem após uma biópsia incisional. Esses quatro foram submetidos à biópsia incisional, após o diagnóstico clínico de carcinoma de células escamosas e regrediram depois deste procedimento cirúrgico. B O M I Processos inflamatórios inespecíficos Neste grupo contabilizamos 31 casos (6,3% da amostra total), sendo 29 diagnosticados como processo inflamatório crônico inespecífico, um pseudocisto antral e um pólipo nasossinusal inflamatório. Cistos não-odontogênicos Apenas um caso de cisto nasolabial representa este grupo (0,2%), tendo este corrido em mulher de 70 anos de idade. Tumores odontogênicos Os tumores odontogênicos representaram apenas 0,6% da amostra total, fato similar ao estudo de Jones e Franklin (2006), com apenas 3 casos, sendo 2 ameloblastomas e um odontoma complexo. Todos os casos ocorreram em mulheres. Apesar da alta frequência conhecida dos odontomas, em nosso estudo, a baixa frequência pode ser justificada pelo fato de que principalmente os odontomas compostos, serem diagnosticados através da radiografia e após a remoção cirúrgica, na maioria das vezes, os pequenos dentículos não são enviados para estudo histopatológico. Além disso, os odontomas são mais comumente diagnosticados em crianças, que não é a maior população do HCPM. Conclusão Lesões físicas ou químicas da cavidade oral Este grupo foi composto por oito casos, sendo que quatro casos tiveram o diagnóstico de úlcera eosinofílica, todas localizadas em dorso de língua, localização preferencial segundo a literatura (NEVILLE, • • O perfil epidemiológico dos pacientes cujos exa- • • • • mes histopatológicos foram realizados pelo serviço de anatomia patológica do HCPM foi caracterizado como homens, leucodermas, com média de idade de 42,2 anos. O grupo das hiperplasias foi o mais frequente. O fibroma traumático foi a lesão mais frequente. A alta prevalência de lesões relacionadas com o uso de próteses mostra a necessidade quanto à orientação dos pacientes em relação a confecção de novas próteses, no caso de má-adaptação. O adequado preenchimento da requisição após a biópsia colabora para um eficiente exame histopatológico. Esse trabalho não representa a real prevalência de todas as lesões orais e maxilofaciais, porém, reflete a frequência dos diagnósticos histopatológicos nesta região, já que inclui apenas lesões diagnosticadas exclusivamente por este exame. 37 R E B O M I ANO 28 • Nº 1 e 2 Agradecimento Ao Major PM Médico Guilherme Ferrari, Chefe do Serviço de Anatomia Patológica do HCPM, por autorizar nosso acesso aos arquivos deste Serviço. Referências JONES, A.V.; FRANKLIN, C.D. An analysis of oral and maxillofacial pathology found in adults over a 30- year period. J. oral Pathol med. 2006; 35: 392-401. BARNES, L., EVESON, J.W., REICHART P et al. 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A single-center retrospective study of 20 years in Pelotas- Brazil. J Appl Oral Sci. 2008, 16(6): 397-402. 38 MONTENEGRO, M.R.; FRANCO, M. Patologia - Processos Gerais. 4ª. ed. São Paulo: Atheneu, 1999. 320p. NEVILLE, B.W.; DAMM, D.D.; ALLEN, C.M. et al. Patologia Oral e Maxilofacial. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 972p. PRADO, B.N.; TREVISAN, S.; PASSARELLI, D.H.C. Estudo epidemiológico das lesões bucais no eríodo de 05 anos. Revista de odontologia da Universidade Cidade de São Paulo. 2010, 22(1): 25-9. SHEAR, M.; SPEIGHT, P. Cysts of the oral and Maxillofacial Regions. 4ª. ed. Blackwell Munksgaard, 2007. 228p. SILVA, T.F.A.; SOUZA, R.B.; ROCHA, R.D. et al. Levantamento das biópsias realizadas no serviço de cirurgia Bucomaxilofacial do curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Rev. Cir. Traumatol. Bucomaxilofac Camaragibe. 2011, 11(2): 91-100. SIMÕES, C.A.; LINS, R.C.; HENRIQUES, A.C.G. et al. Prevalência das lesões diagnosticadas na região maxilofacial no laboratório de patologia oral da Universidade Federal de Pernambuco. International Journal of Dentistry Recife. 2007, 6(2): 35-38. SIXTO-REQUEIJO, R.; DINIZ-FREITAS, M.; TORREIRALORENZO, J.C. et al. An analysis of oral biopsies extracted from 1995 to 2009 in an oral medicine and surgery unit in Galicia (Spain). Med oral Pathol Oral Cir Bucal. 2011, Epub Ahead of Print. WANG, L.Y.; CHANG, H.H.; CHANG, J.Y.F. et al. Retrospective survey of biopsied oral lesions in pediatric patients. J Formos Med Assoc. 2009, 108(11): 862- 871. XAVIER, J.C.; ANDRADE, S.C.; ARCOVERDE, C.A. et al. Levantamento epidemiológico das lesões bucais apresentadas por pacientes atendidos no serviço de estomatologia da Universidade Federal de Pernambuco durante o período de janeiro de 2006 a julho de 2008. Int J Dent Recife. 2009, 8(3): 135- 139. Jan / Dez 2011 R E REVISÃO DE LITERATURA B O M I Análise da relação da sucção digital intra-utero com a permanência do hábito na criança pós nascimento Analysis of the relation of intrauterine digital sucking with the permanence of the habit in the post birth child Leila Maués Oliveira Hanna1 Rodolfo José Gomes de Araújo2 Antônio José da Silva Nogueira3 1. 2º Ten Dentista da Força Aérea Brasileira; Mestre em Odontologia – UFPA; Professora da Disciplina de Odontopediatria – Escola Superior da Amazônia. 2. 2º Ten ODT do Exército Brasileiro; Doutorando em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários – UFPA; Mestre em Odontologia – UFPA; Professor da Disciplina de Periodontia – Escola Superior da Amazônia 3. Doutor em Odontopediatria e Ortopedia Facial - Iulio Maximilianea Herbipolensi, Alemanha; Professor da Disciplina de Odontopediatria – UFPA Endereço para correspondência: Rodolfo José Gomes de Araújo Av. Bras de Aguiar 681 / 902 Nazaré – Belém – Pará CEP: 66035-415 E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 10 de setembro de 2011 e aceito em 12 de dezembro de 2011 Resumo O hábito de sucção do polegar é frequentemente questionado por pais e resonsáveis de crianças em consultórios odontopediatricos. Esta pesquisa propõe-se a investigar o aparecimento e desenvolvimento deste hábito e o período de permanência do mesmo. Foram acompanhadas vinte e cinco gestações que apresentavam crianças praticando hábito de sucção digital intraútero. A análise foi feita através do exame de rotina de ultrassonografia de gestantes frequentadoras do Hospital Universitário João de Barros Barreto, em Belém-Pa. Foi realizado acompanhamento por um ano. Os resultados passaram por análise do teste estatístico qui-quadrado com nível de significância de 5%. Observou-se que 72% dos bebês pertenciam ao gênero masculino e 28% ao feminino, 68% dos bebês permaneceram praticando hábito de sucção com um mês de nascido, até o segundo mês 72%, até o quinto mês 56%, 48% até um ano de idade. Avaliando a permanência do hábito, aplicou-se o teste binominal, o qual foi significativo. (p-valor= 0,0186*). Concluiu-se que o número de bebês do gênero masculino com hábito de sucção foi superior ao feminino (p= 0,0455); a permanência do hábito reduziu-se pela metade em relação ao mês inicial, porém o p-valor= 0.2474 indica que esta redução não foi significante; o hábito digital permaneceu entre as meninas, enquanto que os meninos tenderam a abandoná-lo. Palavras-chave: sucção de dedo, dentição primária, má oclusão. 39 R E B O M I ANO 28 • Nº 1 e 2 Abstract Digital sucking habits are often questioned by children’s parents while consulting in pediatric dental offices. This research aims to investigate the development of this habit’s appearance , which may be observed even at the intrauterine stage and which also persists for a long time. Twenty Five gestations that presented children practicing intrauterine digital sucking habits were followed-up. The initial analysis was accomplished through routine ultrasound examination, using pregnant women between the 4th and 8th gestation months who visited João de Barros Barreto University Hospital. Detecting this habit, every quarter an afterbirth accessory was carried out,over a 1 year period, in order to observe the habit’s persistence. Statistical analysis were carried out regarding the obtained outcomes using the described statistics and inferential methods, and the Chi-square test with 5% significance level was applied. This research observed that 72% of babies were male gender and 28% female gender, 68% of babies persisted with the digital sucking habit 1 month afterbirth, 72% until the second month, 56% until the fifth month and 48% until one year old. Assessing the habit’s post natal persistence according to gender, the binominal test was applied which was significant (p-value=0.0186*). It was concluded that the number of male babies with digital sucking habit was above the female gender (p=0.0455), the habit’s persistence was reduced by 50% when compared with the first month, however, the p-valor result = 0.2474 indicates that the reduction was not significant. The digital sucking habit persisted among infant females, whenever the male infants tended to stop the habit during the last analyzed month. Key-words: finger sucking, primary dentition, malocclusion. Introdução A sucção digital é a forma inicial de manipulação do corpo, podendo ser observada precocemente através de ultrassonografias de rotina em bebês intra-útero. A escolha do dedo a ser sugado ocorre no curso dos movimentos ao acaso da criança, e representa um ato de coordenação complexa pelo qual esta assume o controle de seu ambiente (ARAUJO, 1986). Entretanto este hábito pode se tornar nocivo, levando a criança a desenvolver desalinhamentos dentários, maloclusões, assimetrias faciais, deformações labiais, mau posicionamento da língua, interferência na fala e na deglutição (FARSI e SALAMA, 1996). Vista como um distúrbio de conduta, a sucção digital pode perdurar por anos na criança, começando ainda bem cedo (LINO, 1997). Mas, efetivamente, quando começaria esta prática de conseqüências nocivas à oclusão da criança? Com o incentivo dos pré-natais e valendo-se das ultrassonografias, tem-se descoberto frequentemente crianças ainda intra-útero praticando a sucção digital principalmente do polegar, o que nos leva a pensar em situações adversas que as fazem adotar esta prática, todas ou quase todas, enfocando 40 principalmente o aspecto emocional e psicológico da criança como causa principal. Considerando a alta prevalência do hábito de sucção digital em crianças (SWEDEN, 1985), torna-se muito importante na prática odontológica buscar e conhecer uma relação entre a sucção praticada na vida intra-uterina e a continuidade desta prática, bem como determinar se possíveis transtornos ocorridos com a mãe, durante a gravidez possam te-la afetado psicologicamente e ser então relacionados com a aparição do hábito na criança, já que atualmente esperar para tratar os efeitos nocivos já instalados não faz mais sentido, pois além de ser mais difícil e complicado, torna-se mais dispendioso. Com os dados obtidos do estudo dos hábitos de sucção digital, espera-se contribuir com o processo de prevenção a inúmeros problemas que possam aparecer e alterar o bom desenvolvimento da oclusão na criança. Revisão da Literatura A primeira fase do desenvolvimento psicológico que ocorre com o ser humano, é chamada fase oral, onde a Jan / Dez 2011 R E satisfação de prazeres e a própria subsistência estão ligadas ao perfeito funcionamento do sistema estomatognático, sendo a cavidade bucal responsável pelas funções de alimentação e reconhecimento do próprio ambiente. Moyers (1991) discute as várias teorias que buscam explicar a sucção digital. Assinala que as diversas formas de compreensão do assunto não são completamente incompatíveis umas com as outras. Especificamente sugere que o hábito de sucção digital deve ser visto como um padrão comportamental de natureza multi-variada. É provável que a sucção digital tenha início por uma razão e seja sustentada nas idades seguintes por outros fatores. A sucção digital constitui um distúrbio evolutivo de conduta, podendo começar muito cedo e adquirir características próprias do momento do desenvolvimento. Está intimamente relacionada à satisfação emocional, podendo estar associada à falta de afeto ou até mesmo ao fornecimento da alimentação no início da vida (GRÜNSPUN, 1966). A sucção digital tem na maioria das vezes, a função de proteger o individuo das tensões, podendo ser um modo de descarregar a ansiedade (SEGER, 1998). A época de aparecimento dos hábitos tem algum significado. Aqueles que surgem durante as primeiras semanas de vida, estão relacionados com problemas de alimentação. Inúmeras crianças, contudo, mais tardiamente, tem na sucção digital a liberação das tensões emocionais as quais não são capazes de superar, consolando-se em regressar a padrões infantis de comportamento (TOMÉ, FARRET e JURACH, 1994). Hábitos de sucção não nutritivos, como a sucção digital, quando prolongados após os quatros anos de idade, são considerados deletérios e passíveis de intervenção, pela possibilidade de causar danos à oclusão e ao crescimento facial das crianças, alem dos aspectos psicológicos associados (CAMARGO, 1998; BLACK, KOVESI e CHUSID, 1990; OGAARD, 1994; LARSSON e DAHLIN, 1985). A sucção é um ato fisiológico e necessário, e como tal precisa ser respeitado. Ela é tão inerente ao feto que, mesmo alimentado através da placenta, succiona instintiva e energicamente língua, lábio e dedo de modo que, ao nascer, esta função está plenamente desenvolvida (BARNETT, 1978). A etiologia dos hábitos de sucção não nutritivos tem sido pesquisada extensivamente. Na literatura médica e odontológica há explanações divergentes para este problema complexo (SHOAF, 1979). Três teorias tentam explicar o prolongamento deste hábito pelas crianças: - Insuficiente satisfação das necessidades de sucção na infância (LINO, 1997; SHOAF, 1979; DADALTO, 1989); - Distúrbios emocionais (ARAÚJO, 1986; KLEIN, 1971); - Hábito aprendido (FETCHER, 1975; GRABER, 1974). Ao contrário da maioria dos estudos consultados, Brazelton (1990) observou que os bebês alimentados no seio chupavam mais o dedo do que os alimentados com mamadeiras. Constatou que o ato de chupar o dedo tinha início imediatamente após o nascimento e era utilizado por alguns períodos: na hora de dormir, ao acordar, ao descansar, durante ou após brincadeiras, ao abandonar o seio da mãe. Posteriormente, ao começar a andar, o bebê chupava o dedo quando se excitava demais e precisava se acalmar. Aos sete meses, a frequência e a duração de chupar o dedo aumentavam, chegando a quatro horas por dia. Passada esta fase, começava a diminuir. Sempre que os bebês aprendiam uma nova habilidade motora, como sentar-se ou engatinhar, aumentava a dependência durante o período de aprendizado. Mas finalmente quando a nova etapa era atingida, ela entrava em declínio (BRAZELTON, 1990). O hábito de sucção contribui como fator etiológico na deteriorização da oclusão e na alteração do padrão normal de crescimento facial (QUELUZ e AIDAR, 1999), podendo transformar-se em habito nocivo, de acordo com a freqüência, intensidade, duração, predisposição individual, idade e condições de nutrição; consequentemente, de saúde do individuo (MOYERS, 1991; GRABER, 1974). A psiquiatria atual tenta analisar os fatores etiológicos mais lógicos associados ao habito, como sendo de predisposição hereditária, do ambiente do lar, do trabalho e do insucesso em uma sociedade competitiva, sendo este último, um motivo de tensão que introduz a fuga (ROHR, 2000). Estudo recente analisou a presença de sucção digital e de mãos em fetos na sua vida intra-uterina, com fatores relacionados à gravidez de importância para a B O M I 41 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I sua manifestação. Dois exames de ultrassonografias foram realizados em 55 gestantes, nos períodos de 2024 e 25-30 semanas, para que fossem feitas abordagens utilizando questionário, com a finalidade de avaliar o grau de satisfação da gestante com relação a sua gravidez. Gestantes com problemas sistêmicos também fizeram parte da amostra, uma vez que os autores da presente pesquisa quiseram verificar se havia alguma co-relação entre a presença do hábito de sucção e problemas durante a gravidez. Estatisticamente não houve diferenças significativas entre estado de saúde da gestante e o grau de aceitação da gravidez com manifestação da sucção digital em fetos. O teste Q de Cochran não evidenciou diferenças significativas entre os sinais de sucção digital em fetos e a instalação do hábito em recém-nascidos (TENÓRIO, 2005). Metodologia Inicialmente, o projeto referente a presente pesquisa foi submetido à avaliação do comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Federal do Pará – UFPA, o qual obteve parecer favorável, sob protocolo número 005/2005. O presente trabalho, por ser um estudo longitudinal, foi realizado em duas etapas. A primeira, onde foram observadas mulheres grávidas que apresentavam o feto praticando movimento de sucção digital, identificados através da ultrassonografia de rotina. Ao ser identificado o feto praticando a sucção digital, as mães eram inquirida sobre alguma condição de tensão emocional presente no momento ou próximo a ele. E na segunda etapa, o acompanhamento dessas crianças para investigação da permanência ou não do hábito, durante o primeiro ano de vida, através de exames clínicos. Todas as gestantes foram esclarecidas e informadas a respeito da pesquisa na qual estariam sendo submetidas e, após lerem o termo de consentimento livre e esclarecido, as mesmas assinaram-no. Para constituir a amostra, foram examinadas 288 gestantes frequentadoras do Serviço de Ultrassono-grafia do Hospital Universitário João de Barros Barreto. Destas apenas 35 gestantes se enquadraram no critério de inclusão e puderam fazer parte da referida pesquisa. 42 Como critério de inclusão, foram selecionadas mulheres grávidas com idade gestacional variando entre 16 semanas a 32 semanas, clinicamente saudáveis. Essas idades gestacionais foram escolhidas por serem épocas em que o feto se encontra totalmente formado. Nessa fase, a quantidade de líquido amniótico é suficiente para permitir maiores movimentos fetais. No oitavo e nono meses, a visualização torna-se mais difícil, justamente por haver menor espaço e menos líquido para a movimentação fetal. Para as crianças, o critério de inclusão foi: feto sem nenhuma displasia; praticando movimentos de sucção digital, em pelo menos um (01) exame ultra-sonográfico de rotina. A primeira coleta de dados foi realizada na sala de exame de ultrassonografia do Hospital Universitário João de Barros Barreto; verificou-se neste momento apenas a presença do feto succionando o polegar durante o exame de ultrassonografia de rotina e em seguida cadastrou-se as gestantes em um sistema aplicativo Excel para futuro acompanhamento. A segunda parte da coleta de dados foi realizada após o nascimento do bebê. As mães cadastradas foram contactadas para novas consultas de avaliação com a pesquisadora, um mês após o nascimento de seu filho, no Programa Brasil Sorridente na Faculdade de Odontologia da UFPA para verificação da permanência do hábito de sucção digital no bebê. Esse exame foi repetido no 2°, 5°, 7°, 9° e 12° meses para permitir um controle melhor com relação a permanência do hábito de sucção digital. Foram aplicados métodos estatísticos descritivos e inferenciais para análise dos resultados. No tratamento inferencial foi aplicado o teste estatístico Qui-Quadrado (para uma amostra). Ficou estabelecido o nível de significância de 5% como padrão de decisão para rejeição da hipótese de nulidade. Resultados e Discussão Foram examinadas 288 gestantes; deste total 12% (35 gestantes) apresentaram o feto praticando sucção digital no momento da ultrassonografia de rotina, porem apenas 25 bebês permaneceram até o final da referida pesquisa, uma vez que ao longo da pesquisa hou- Jan / Dez 2011 R E veram gestantes que perderam seu fetos, outras não retornaram as visitas durante os períodos pré-estabelecidos, outras voltaram para sua cidade de origem não tendo condições de retorno e outras fizeram doações de seus filhos. Ao avaliar o gênero dos fetos, observou-se que 72% pertenciam ao gênero masculino e 28% ao gênero feminino (Figura 1). Aplicando a análise inferencial o resultado mostrou que o número de bebês do gênero masculino com hábito de sucção digital foi realmente superior em relação ao feminino, p-valor =0,0455*(significativo). Figura 1: Distribuição do número de bebês de acordo com o gênero. Fonte: Pesquisa de campo A maioria dos estudos sobre hábitos bucais (COELI e TOLEDO, 1994; ROHR, 2000; COLETTI e BARTHOLOMEU, 1998; FETCHER, 1975), principalmente de sucção digital, apresenta a etiologia e tratamento a partir de recém nascidos, sendo poucos os estudos sobre a atividade de sucção com início na vida intra-uterina, bem como o monitoramento dessa atividade. Dos 25 fetos que apresentaram o hábito de sucção do polegar intra-útero, 68% (17 bebês) permaneceram com o hábito de sucção digital com um mês de nascido. Até o segundo mês, 72% (18 bebês) permaneceram com o hábito. Até o quinto mês, 56% (14 bebês) permaneceram com o hábito de sucção e esta quantidade ficou até o sétimo mês. Ao completar o nono mês o número de bebês reduziu para 48% (12 bebês) e manteve-se a quantidade anterior até o 12° mês (Tabela 1). De modo geral, obsevou-se que a permanência do hábito de sucção digital reduziu pela metade em relação ao mês inicial. Entretanto o resultado do p-valor=0,2474 indica que a redução não foi significativa. Tabela 1: Hábitos de sucção digital de acordo com o mês, n=25. Até quando usou sucção digital Mês 0 Mês 1 Mês 2 Mês 5 Mês 7 Mês 9 Mês 12 Fonte: Pesquisa de campo. Número de bebês 25 17 18 14 14 12 12 B O M I Percentual 100,0 68,0 72,0 56,0 56,0 48,0 48,0 p-valor=0,2474. Qui-Quadrado. Na literatura especializada encontra-se que na vida intra-uterina, instintivamente, o feto suga os lábios, língua e dedos, de modo que estas funções encontram-se plenamente desenvolvidas ao nascer (GRÜNSPUN, 1966). No presente trabalho foram considerados os atos de levar dedos ou mão à boca como sinais de sucção e tendência à iniciação de sucção digital pós-natal. De acordo com os resultados, 68% dos fetos continuaram com o hábito de sucção após um mês de vida; destes 48% continuaram até um ano de vida. Essa redução não foi significativa uma vez que grande parte dos bebês succionam o polegar provavelmente para se liberar das tensões emocionais as quais não são capazes de superar; ou seja, é um modo que os bebês encontram para descarregar a sua ansiedade. Para Moyers (1991), é provável que a sucção digital tenha início por uma razão e seja sustentada nas idades seguintes por outros fatores. Observa-se que no segundo mês houve um aumento do percentual de bebês com o hábito de sucção do polegar, passou de 68% para 72%. Este aumento devese ao fato de que bebês que haviam abandonado o hábito, voltaram a tê-lo. Dos 68% bebês que apresentaram o hábito no primeiro mês de vida, apenas 48% deles continuaram com o hábito. A criança que chupa o dedo além do primeiro ano de vida, tende a fazê-lo por mais tempo. Este ato vai sendo reduzido progressivamente, desaparecendo entre os dois e os cinco anos de idade, aproximadamente. Corroborando com nossa pesquisa, outro estudo (LESTER e BAER, 1987) observou que do nascimento 43 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I 44 até 2 anos de idade o hábito ocorre em 50% a 67% das crianças. De 2 a 5 anos de idade este número cai para 24% a 43%. De 6 a 10 anos a prevalência é aproximadamente 17%, enquanto em crianças acima de 10 anos de idade o hábito é existente em 10%. A necessidade fisiológica da sucção cessa entre nove e doze meses de idade podendo a necessidade psicológica permanecer por um tempo maior, por exemplo, nos momentos em que a criança está infeliz, cansada, angustiada, ansiosa ou perto a adormecer (CAMARGO, 1998). Corroborando com esta idéia, é que se verificou em outra pesquisa24 o hábito de sucção de dedo em 19 crianças. O início deste hábito ocorreu em 38,9% dos casos logo após o nascimento, entre 1 e 4 meses 44,4% e 16,7% iniciaram o hábito após 6 meses de idade. O período médio de abandono do hábito de sucção de dedo foi de, aproximadamente, 9,4 meses, entretanto somente 13 crianças abandonaram o hábito (COLETTI e BARTHOLOMEU, 1994). A perpetuação do hábito de sucção é fruto de uma alteração comportamental reflexo do deficiente desenvolvimento da fase oral, tornando-se compensatório em períodos de stress (COELI e TOLEDO, 1994). Avaliando a permanência ou não do hábito de sucção digital de acordo com o gênero do bebê, observouse que dos 7 bebês do gênero feminino, 6 (86%) permaneceram com o hábito de sucção digital com um mês de nascido. No segundo mês, o número de bebês retornou para 7. Ao completar o quinto mês, 6 bebês (86%) permaneceram com hábito de sucção digital e manteve-se a quantidade anterior até o 12° mês. Dos 18 bebês do gênero masculino, observou-se que 11 (61%) bebês permaneceram com o hábito no primeiro e segundo mês. No quinto e sétimo mês, a permanência do hábito de sucção digital foi de 8 (44%). No 9° mês reduziu para 6 (33%) bebês e manteve-se a quantidade anterior até o 12° mês (Tabela 2). Para a análise inferencial aplicou-se o teste binomial o qual utilizou somente as ocorrências do 12° mês. Assim resultado foi significativo (p-valor=0,0186*) indicando que o hábito de sucção digital permaneceu entre as meninas, enquanto que os meninos tenderam a abandonar o hábito no último mês analisado. Tabela 2: Hábitos de sucção digital de acordo com o gênero do bebê, n=25. Até quando usou Feminino sucção digital (n=7) Percentual Masculino (n=18) Percentual Mês 0 Mês 1 Mês 2 Mês 5 Mês 7 Mês 9 7 6 7 6 6 6 100,0 86,0 100,0 86,0 86,0 86,0 18 11 11 8 8 6 100,0 61,0 61,0 44,0 44,0 33,0 Mês 12 6 86,0 6 33,0 Fonte: Pesquisa de campo. As meninas tendem a permanecer com o hábito de sucção digital, provavelmente por serem mais inseguras afetivamente, bem como possuírem uma ligação afetiva maior com suas mães, quando comparado com os meninos. Daí observou-se essa diferença tão grande de percentual, 86% das meninas permaneceram com o hábito, contra 33% dos meninos. Chacon (1997) compara o dedo da criança a uma bússola de um navegador, afirmando que tanto o bebê como o navegador se sente seguros com o instrumento. Chupando seu dedo, o bebê leva para a sua boca todos os prazeres e sensações do mundo que está conhecendo, uma vez que esta é o principal órgão de percepção ao nascer. Dos 12 bebês que permaneceram com o hábito de sucção digital até o primeiro ano de vida, 100% fizeram à amamentação natural. Destes bebês, 16,67% desmamaram com um mês, outros 16,67% desmamaram entre 2 a 4 meses, 50,0% bebês desmamaram entre 5 e 6 meses, outros 16,66% desmamaram entre 7 e 9 meses e nenhuma ocorrência aos 12 meses (Figura 2). Apesar da maioria dos autores (COELI e TOLEDO, 1994; OGAARD, 1994; DADALTO, 1989; ROCHA, 1997; QUELUZ e AIDAR, 1999) afirmarem que a amamentação exclusiva não leva ao desenvolvimento do hábito deletério de sucção digital, observou-se nesta pesquisa que todas as 12 crianças (48%), que permaneceram com o hábito por 12 meses, foram amamentadas no peito. O período de desmame variou de 1 mês até 9 meses, porem 50% dos bebês tiveram o seu desmame entre 5 a 6 meses. A justificativa para este percentual de crian- Jan / Dez 2011 R E Figura 2: Percentual de crianças segundo o período de desmame e que permaneceram com o hábito até 12 meses, n=12 blemas que sugeriam condição de tensão emocional foi realmente significativo, visto que o p-valor <0,0001*. B O M I Tabela 3 - Ocorrência de gestantes com problemas que sugeriam condição de tensão, durante o período intraútero, todos os bebês com hábito de sucção digital. Condição de tensão (n=25) Percentual Sim 23 92,0 Não 2 8,0 p-valor < 0,0001* emocional da mãe Fonte: Pesquisa de campo. ças que desenvolveram o hábito de sucção não-nutritiva, mesmo tendo sido amamentas, pode encontrar subsídios no fato da criança fazer funcionar seu automatismo de sucção, a fim de obter prazer ou a satisfação emocional através do polegar. Shoaf (1979) em sua pesquisa, encontrou resultados semelhantes aos expostos, de forma que as crianças que foram alimentadas no peito possuem prevalência duas vezes maior de hábitos de sucção que as que foram amamentadas na mamadeira, embora o tempo de duração do hábito seja duas vezes e meia menor quando comparadas com as crianças amamentadas na mamadeira, eliminando o hábito com menos de dois anos de duração. Farsi e Salama (1996) também observaram a falta de correlação entre a amamentação materna e a aquição do hábito de sucção digital. Brazelton (1990) também observou em seus estudos que bebês alimentados no seio chupavam mais o dedo do que os alimentados com mamadeira. Constatou que o ato de chupar o dedo tinha início imediatamente após o nascimento e era utilizado por alguns períodos: na hora de dormir, ao acordar, para descansar durante ou após brincadeiras, e ao abandonar o seio da mãe. No intuito de buscar correlação entre a presença da sucção digital intra-útero e o estado emocional das gestantes, observou-se que 23 gestantes (92,0%) apresentaram-se com problemas que sugeriam condição de tensão, e apenas 2 gestantes (8%) não relataram situações de alterações emocionais (Tabela 3). Aplicando o teste estatístico observou-se que o número de mães com pro- *Teste Qui-Quadrado É consenso geral na literatura que aborrecimentos e traumas emocionais sofridos pela gestante acarretam problemas ao desenvolvimento normal do feto. No entanto, não há evidências científicas de que estados emocionais da gestante influenciam no comportamento e nas estruturas orgânicas do bebê, exceto no caso de alterações glandulares resultantes de tensão emocional, que geram atividade motriz exagerada do feto, permanecendo enquanto durar a tensão (TENÓRIO et al, 2005). Quanto ao efeito de problemas que sugeriam condição de tensão emocional sobre o aparecimento dos sinais de sucção, nesta pesquisa, observou-se que 92% das gestantes apresentaram condição de tensão emocional. Esses valores são estatisticamente significativos (p<0,001). Corroborando com essa idéia estudo realizado com recém-nascidos (COELI e TOLEDO, 1994) mostrou que, 65,8% das mães que tiveram sua gravidez sem problemas emocionais e de saúde, apresentaram menor número de crianças sem o hábito de sucção digital. Contrariando estas idéias, pesquisa realizada com 42 gestantes avaliou o grau de satisfação da gestação, com a presença da sucção digital e verificou-se que o estado de satisfação com a gravidez não interferiu na sucção digital dos fetos examinados (TENÓRIO et al, 2005). Já para Toledo e Bezerra (1996), a causa primária da sucção não-nutritiva, está relacionada à falta de atenção maternal durante o período pós parto, levando o bebê a aliviar as tensões do corpo e satisfazer outras necessidades de estímulo. Este quadro justifica-se nas últimas décadas devido a uma mudança de comportamento nos costumes e modelos da vida familiar, onde a 45 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I mulher tem sido mais atuante no quadro sócio-econômico. Isto tem acarretado como conseqüência um menor tempo de convívio com seus filhos, propiciando uma mudança comportamental dos mesmos. Referências ARAÚJO, M.O.M. Ortodontia para clínicos. 3° Ed. São Paulo, Santos. 1986; p. 233-265. BARNETT, E.M. Terapia oclusal en odontopediatria. Buenos Aires: Panamericana, 1978. 408p. BLACK, B.; KOVESI E.; CHUSID, I.J. Pernicious bucal habits. Ortodoncia. 1990; 23(2):40-44. BRAZELTON, T.B. Ouvindo uma criança. São Paulo, Martins Fontes, 1990. 167p. Conclusão Através dos resultados encontrados nesta pesquisa, conclui-se que a ultrassonografia é importante, não só para informar a gestante sobre o desenvolvimento e o sexo do feto, mas também para a observação dos movimentos fetais das mãos e dedos em relação à boca, pois uma vez detectados, o médico ultra-sonografista poderia informar a gestante, prevenindo sobre uma possível formação de hábito bucal deletério, considerado pelos ortodontistas como fator etiológico de máoclusão mais difícil de correção. Se o hábito de sucção digital é detectado precocemente, ocorre uma avaliação do risco em potencial que a criança possui, logo poderemos utilizar recursos para minimizar tal problema. Uma das alternativas seria procurar trocar o dedo pela chupeta, pois no futuro poderá ser mais fácil remover o hábito. O diagnóstico e intervenção precoce permitem uma atuação em tempo hábil, evitando-se a continuidade dos efeitos negativos dos hábitos indesejáveis, quando esses já estão instalados. Conclui-se ainda que: - O número de bebês do gênero masculino com hábito de sucção digital foi superior em relação ao feminino; - A permanência do hábito reduziu pela metade em relação ao mês inicial, entretanto o resultado do p-valor = 0,2474 indica que a redução não foi significativa; - O hábito de sucção digital permaneceu entre as meninas, enquanto que os meninos tenderam a abandonar o hábito no último mês analisado. Nossos resultados não são passíveis de generalização, porem serve de subsídio para mais pesquisas nesta área. 46 CAMARGO M.C.F. Programa preventivo de maloclusões em bebês. In: GONÇALVES E.A.N.; FELLER C. Atualização na clinica odontológica. São Paulo, Artes Médicas. 1998, p405-42. CHACON, L. Que delícia chupar o dedo. Crescer em família, 1997. p33-34. COELI, B.M.; TOLEDO, O.A. Hábitos bucais de sucção: aspectos relacionados com a etiologia e com o tratamento. Rev. Odontopediatr. 1994; 3(1):43-51. COLETTI, J.M.; BARTHOLOMEU, J.A.L. 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Jan / Dez 2011 R E REVISÃO DE LITERATURA B O M I Contribuição ao estudo da etiologia multifatorial das disfunções temporomandibulares A contribution for the study of the multifactorial etiology of temporomandibular disfunctions Ademir Franco do Rosário Junior1 Denis Fernando Ferrari2 Ana Regina de Sá do Rosário3 Paulo Sérgio Batista4 Orlando Motohiro Tanaka5 1. Mestrando em Odontologia Forense da Universidade Católica de Leuven – Bélgica 2. Cirurgião-dentista 3. Psicóloga 4. Professor titular das disciplinas de Anatomia e Cirurgia Bucomaxilo-facial da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Doutor em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilofacial 5. Professor Titular da disciplina de Ortodontia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Doutor em Ortodontia Endereço para correspondência: Rua Imaculada Conceição, 1155, Prado Velho – Curitiba, PR [email protected] Resumo A ampla abordagem literária referida à Disfunção Temporomandibular, e suas implicações na harmonia do sistema estomatognático, possibilita revisar múltiplas vertentes ideológicas. Desta forma, é de interesse odontológico observar a tendência entre as décadas passadas e os pensamentos desenvolvidos na atualidade a respeito da etiologia destas desordens. Ao retomar os conhecimentos provenientes dos anos 90, percebe-se uma preocupação direcionada à biomecânica fisiológica. Somam-se hoje, a estes fatores de alteração funcional, as “novas doenças modernas”. São exemplos destas patologias o estresse e a depressão. Neste contexto, tem-se nesta somatória uma direção de pesquisas voltadas à compreensão do ser biopsicossocial. Para isto é necessária uma visão multidisciplinar da situação. Estudos demonstram que cerca de 50% da população mundial apresenta sinais e sintomas pertencentes às Disfunções Temporomandibulares, no entanto apenas 3,6% a 7% destes necessitam intervenções corretivas. Respaldada nestas informações, esta revisão literária visa abordar as causas geradoras das Disfunções Temporomandibulares. Palavras-chave: Disfunções Temporomandibulares, etiologia, articulações temporomandibulares. Recebido para publicação em 26 de setembro de 2011 e aceito em 29 de novembro de 2011 47 R E B O M I ANO 28 • Nº 1 e 2 Abstract The broad literary approach for Temporomandibular Joint Disorders, and its implications in the harmony of the stomatognathic system, allows the review of multiple ideological strands. Thus, it is interesting for the odontologists to observe the trends among the past decades and those developed today about the etiology of this pathology. Analyzing the knowledge present in the 90’s, is possible to find a concern related to the physiological biomechanics. Today other factors are related to the Temporomandibular Joint Disorders. Examples of these aggravating issues are stress and depression. Current researches are trending to understand the biopsychosocial side of the human being. This task requires a multidisciplinary view of the situation. Studies show that about 50% of the population has signs and symptoms which belong to TJD, but only 3.6% to 7% of these require surgical intervention. Regarding this information, this literature review aims to address the multifactorial etiology of Temporomandibular Joint Disorders. Key-words: Temporoman Dibular joint disorders, etiology, temporomandibular joint. Introdução A Articulação Temporomandibular, desempenhando função única no cotidiano comunicativo, fonativo e mastigatório, sofre por muitas vezes alterações funcionais de interferências significantes no bem-estar e saúde do indivíduo. Estudos epidemiológicos demonstram que cerca de 5-6% da população brasileira irá passar por situações dolorosas relacionadas a esta região articular. Isto se dá pela grande demanda de movimentos executados no cotidiano social, pois a ATM exerce aproximadamente cerca de 1500-2000 deslocamentos de abertura e fechamento de boca diariamente. (SAITO, HAKASHI e SACCO, 2009) O conjunto de sintomas relatados pelos portadores destas desordens articulares é denominado Disfunção Temporomandibular. As características regentes do diagnóstico adequado deste quadro são representadas pela presença de ruídos incomuns e/ou limitações presentes nos movimentos de abertura e fechamento de boca, assim como protrusão e lateralidade mandibular. Muitas vezes se fazem presentes dores irradiadas em regiões auriculares, cervicais e cefálicas. (CUCCIA e CARADONNA, 2009; KLASSER e GREENE, 2009 ; SAITO, HAKASHI e SACCO, 2009; SILVEIRA, 2007) O fomento do interesse literário em busca da etiologia das DTMs teve início quando relatadas perdas de dimensão vertical após extrações dentárias. Esta teoria reporta a informação de que a musculatura mastigatória tracionaria a mandíbula para uma posição 48 de desconforto, desarmônica, geradora de pressão entre côndilo e disco articular, promovendo cronicamente atrofia local. (KLASSER e GREENE, 2009) Neste contexto, sabe-se que as inúmeras causas originárias das DTMs são promotoras de sintomas dificilmente sanáveis. Para tanto se opta pelo tratamento à longo prazo, postergando desta forma os invasivos procedimentos de cura. (KLASSER e GREENE, 2009) Fatores biomecânicos de interferência articular Fatores dentários e oclusais O início das pesquisas a respeito das alterações articulares envolveu a interação mastigatória não harmônica proveniente da ausência dentária e perda de dimensão vertical. Deve-se reconhecer, portanto, que a função mastigatória é dependente da força aplicada pelos músculos da mastigação. A perda dentária culmina em inúmeros aspectos funcionais, o cirurgiãodentista necessita aprimorar o olhar clínico para conseqüências não apenas restritas aos dentes (mesialização, giroversão, extrusão). A análise clínica para diagnóstico de DTMs muitas vezes depende da atenção despendida a fatores periféricos à dentição, tais como a perda óssea horizontal, perda de dimensão vertical e ausência de propriocepção. (HOITTA, 2008) Estudos relatam baixa, porém existente, correlação entre perda de elementos dentários molares e o surgimento de dores ou ruídos incomuns na articula- Jan / Dez 2011 R E ção temporomandibular, nestes casos há atrofia dos músculos da mastigação pela diminuta função demandada. (JERJES, 2008) Alguns trabalhos especulam o aparecimento de DTMs em função de exodontias de terceiros molares. Cerca de 60% dos pacientes analisados por Huang e Rue, 2006, apresentou alterações articulares após o procedimento cirúrgico, neste caso estuda-se a hipótese em classificar a etiologia como sendo traumática principalmente pelo tempo e força da amplitude de abertura bucal despendida no ato exodôntico. Outra vertente reforça o quadro de fatores etiológicos oclusais: a Ortodontia. As alterações verificadas nas maloclusões dentárias obtém papel importante na influência do desempenho articular, chama-se atenção para a presença de Overbite acentuado com presença de retroposição de incisivos superiores característicos da maloclusão classe II, 2 de Angle. Neste caso há maior demanda de forças mastigatórias para a porção posterior da mandíbula, a resultante desta oclusão desarmônica gera pressão excessiva no disco articular e interferência em seus movimentos cotidianos. (HENRIKSON, NILNER e KUROL, 2000; SONNESEN e SVENSSON, 2008) Egermark, 2002, reforçam a idéia de que as maloclusões interagem com o sistema articular quando demonstram que 51% dos pacientes estudados apresentaram melhorias nos sintomas de DTMs após a execução de tratamento ortodôntico somado a cirurgia ortognática. Dujoncquoy et al., 2007, complementam esta teoria com o ensinamento de que a correção da oclusão dentária favorece a amenização dos sintomas temporomandibulares, pois devolvem a harmonia oclusal e a estética além de favorecer o maior desempenho adequado às forças musculares. Fatores Posturais A postura se refere à posição do corpo humano e sua orientação no espaço. Portanto, a ativação muscular e o controle nervoso central estão diariamente ligados à resposta postural. Os avanços tecnológicos envolvendo a relação entre a Odontologia e as interações posturais possibili- tam, nos dias atuais, afirmar que o sistema estomatognático é diretamente ligado ao sistema neuromuscular postural. Desta forma, alterações no correto posicionamento da coluna cervical podem afetar o desempenho Articular Temporomandibular. Outra falha postural a ser considerada é o posicionamento pendente da cabeça para anterior, resultando em perda dimensional oclusal ocasionando pressão mandibular para posterior e superior, comprimindo assim o disco articular. O conjunto dos músculos cervicais promove o suporte à cabeça e interage com o conjunto de músculos da mastigação. Portanto, as relações articulares inadequadas durante a mastigação podem gerar sensações de desconforto cervical e estresse exacerbado (STRINI, 2007). Matheus et al., 2009, reforçam a afirmação supracitada verificando a presença de alterações esqueléticas entre as duas primeiras vértebras cervicais em pacientes com sinais e sintomas de DTMS. Ao concordar com tais especulações, Lippold et al., 2006, afirmam que pacientes portadores de escoliose, têm tendência a desenvolver alto risco para DTM se comparados a pacientes com postura vertebral mais retilínea, pois o mecanismo de compensação craniano projeta a cabeça para frente e para baixo, resultando numa posição mandibular de retrognatismo, e efetuando portanto, pressão condilar na fossa mandibular. (CUCCINA e CARADONNA, 2009) B O M I Fatores Deletérios Inúmeros hábitos deletérios são verificados na literatura, nesta revisão serão abordados aqueles que mais incidem jovens e adultos, causando DTMS. Dentre os fatores de maior relevância etiológica é destacável a presença do “Bruxismo”. Este hábito involuntário compreende movimentos espasmáticos musculares que culminam na compressão e desgastes oclusais. O bruxismo é tido por muitos pesquisadores como a principal causa de DTMs. A epidemiologia desta parafunção abrange cerda de 10% da população adulta. Assim como as disfunções temporomandibulares, a origem deste hábito não possui fator único, Especulase que a ingestão de álcool, costumes tabagistas, gêne49 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I ro, idade e fatores genéticos podem influenciar na sua prevalência. (BEDI e SHARMA, 2009; PIZOLATO, 2007) Pizolato et al., 2007, corroboram com a idéia de que o bruxismo influí no descréscimo da máxima força mastigatória, principalmente em mulheres. Este dado é também passível de ser comparado com o ensinamento presente em “Fatores dentários e oclusais”, que afirma que músculos da mastigação com função reduzida (por fadiga neste caso) podem atrofiar, gerando assim Disfunções Temporomandibulares. (BEDI e SHARMA, plástico, de diâmetros variáveis (geralmente 40 mm), permanece apreendida no interior da boca do esportista. 2009; PIZOLATO, 2007) BALESTRA,2004) Neste contexto, encontra-se na população infantil a utilização chupetas como causa etiológica para DTMs. Sabe-se que o hábito succional é de extrema importância para o desenvolvimento muscular e amadurecimento mastigatório infantil, porém Tosato et al., 2005, demonstraram que a utilização excessiva (por mais de dois anos) é causadora direta de dores articulares. Os sintomas foram exacerbados em crianças do gênero feminino. Fatores Traumático-Esportivos A Odontologia Desportiva, seguindo tendências modernas, surge como uma nova área para os cuidados orofaciais. A Disfunção Temporomandibular é, dentre as injúrias de maior acometimento, a de mais amplo estudo literário. Os esportes de contato são comprovadamente os maiores causadores de impactos faciais mandibulares e de cabeça e pescoço. Os acometimentos mais comuns são traumas mandibulares, nestes casos, comumente há deslocamento para anterior da mandíbula, resposta muscular inflamatória e degeneração articular. Felizmente estes quadros têm um bom prognóstico se comparados às outras etiologias da DTM. (SAITO, HAKASHI e SACCO, 2009) Um exemplo de modalidade sem contato direto é o Scuba Diving, ou Mergulho Autônomo. Estima-se que em todo o Reino Unido existam cerca de 50.000 praticantes deste esporte. Para a pratica desta atividade é necessário equipamento de mergulho, incuindo paramentação e equipamentos de compensação respiratória. Neste caso, utiliza-se o cilindro de oxigenação, cuja embocadura, de 50 (ALDRIDGE e FENLON, 2004; BALESTRA, 2004) O mergulho consiste dentre, outras atividades, na exploração submarina, o que pode demandar tempo prolongado na maioria das situações. A permanência da cavidade bucal aberta acarreta pressão excessiva da cabeça da mandíbula contra o disco articular gerando assim dores de cabeça e limitações musculares nos praticantes deste esporte. (ALDRIDGE e FENLON, 2004; Fatores psicosociais de interferência articular Diferentes dos moldes biomecânicos, os fatores psicosociais englobam características individuais subjetivas. Apesar da não objetividade, cerca de 80% dos pacientes submetidos aos tratamentos conservadores respondem positivamente. Baseado nisto, é valido ressaltar que os pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais possuem piores respostas aos testes neuropsicológicos. (SALAIMEN, 2007) Segundo os ensinamentos de Pereira et al., 2009, há preconização para que o pensamento de que os fatores biopsicosociais acompanham, de maneira estatisticamente significante, os pacientes portadores de DTM. Acrescenta-se a isto o fato previsto de que em condições de dores crônicas haja também quadros depressivos. Tjakkes et al., 2010, sugerem que os pacientes portadores de dores crônicas sejam analisados de maneira mas psicológica e não física. Martins et al., 2008, pesquisaram 354 pacientes, dos quais mais da metade apresentava sintomas de Disfunções Temporomandibulares, dentre aqueles que relatavam sintomas moderados e graves, 74,2% disseram estar passando por momento de fragilidade emocional. A incidência destes sintomas no gênero feminino foi maior, assim como na maioria dos demais estudos. A hipótese de que as DTMs sejam mais comum no gênero feminino pode se dar por uma situação pendente para estados de maior fragilidade (situações regulares, ruins ou muito ruins em maior escala do que nos homens). Com relação ao temperamento psicológico, Cloninger et al., 1993, verificaram que os portadores de DTMs Jan / Dez 2011 R E demonstram perfil comportamental caracterizado por dificuldades nas relações interpessoais, pessimismo, obstinação e neuroses (DARCAN, A. et al. – 2008). Outra somatória de risco para estes pacientes é o acréscimo de tabaco e álcool no consumo diário. Selaimen et al., 2007, observou aumento dos sintomas de Disfunções Temporomandibulares em pacientes portadores deste hábitos relacionados à ansiosidade e nervosismo. A confirmação dos fatores psicosociais é estabelecida pelos estudos de Ortega e colaboradores, nos quais, pacientes esquizofrênicos foram analisados, e em comparação ao grupo controle, o percentual de sintomas de DTM em pacientes esquizofrênicos foi quatro vezes maior. (ORTEGA, 2005) EGERMARK, I.; BLOMQVIST, J. E.; CROMVIK, U.; ISAKSSON, S. B Temporomandibular dysfunction in patients treated with orthodontics in O combination with orthognatic surgery. European Journal of Orthodontics. M 2000;22:537-544 I HENRIKSON, T.; NILNER, M.; KUROL, J. Signs of temporomandibular disorders in girls receiving orthodontic treatment. 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Relationship between thoraxic, lordotic, and pelvic inclination and craniofacial morphology in adults. Angle Orthod. 2006;76:779-785 Considerações finais Os fatores etiológicos encontrados nesta revisão literária possibilitam a obtenção de conhecimentos úteis para a prática clínica odontológica com finalidade diagnóstica. Desta maneira, o objetivo de atualização do profissional, por meio do critério informativo, foi alcançado. Assim como descrito anteriormente, a etiologia das Disfunções Temporomandibulares é multifatorial, porém não mais obscura. Sabe-se que o tratamento deve ser efetuado em equipe mutidisciplinar, e o cirurgião-dentista, de acordo com suas obrigações legais, deve estar atento aos sinais e sintomas decorrentes do cotidiano clínico. MARTINS, R. F.; GARCIA, A. R.; GARBIN, C. A. S.; SUNDEFELD, M. L. M. M. The relation between socio-economic class and demographic factors in the occurrence of temporomandibular joint dysfunction. 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Temporomandibular TJAKKES, G. H. E.; REINDERS, J. J.; TENVERGET, E. M.; STEGENGA, B. TMD joint dysfunction and orthognatic surgery: A retrospective study. Head & Face pain: the effect on health related quality of life and the influence of pain duration. Medicine. 2007;6:1-7 Health and Quality of Life Outcomes. 2010;46:1-8 51 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B REVISÃO DE LITERATURA O M I Candidose oral em crianças infectadas pelo HIV Oral candidosis in HIV infected children Madeleine Souza das Chagas1 Lucia Helena Raymundo Andrade2 1. 2° Tenente Dentista da Aeronáutica, Especialista e Mestre em Odontopediatria pela UFRJ. 2. Especialista e Mestre em Odontopediatria pela UFRJ, Especialista em Atendimento a Pacientes com Necessidades Especiais, Professora da Universidade Veiga de Almeida e UNIGRANRIO. Endereço para correspondência: Rua Antônio Bral, 270 Irajá – CEP: 21230-470 Rio de Janeiro - RJ – E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 22 de janeiro de 2012 e aceito em 25 de janeiro de 2012 Resumo As crianças infectadas pelo HIV são mais susceptíveis ao desenvolvimento de infecções oportunistas. As manifestações orais são os primeiros sinais de progressão da infecção pelo HIV tanto em crianças como em adultos, sendo a candidíase oral a lesão mais comum, além de estar relacionada com a diminuição dos níveis de linfócitos CD4. O objetivo deste artigo é fazer uma revisão de literatura sobre candidíase oral em crianças infectadas pelo HIV e suas apresentações clínicas, bem como seu tratamento, visto que, com o advento da terapia antiretroviral, estes pacientes têm apresentado uma melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Candidíase oral, HIV, criança. Abstract Children infected with HIV are more susceptible to opportunistic infections. Oral manifestations are the first signs of progression of HIV infection in both children and adults. Oral candidiasis is the most common lesion and it is related to the decreased levels of CD4 lymphocytes. The aim of this paper is to review the literature of oral candidiasis in HIV infected children and their clinical presentations, as well its treatment, since these patients have show a better quality of life with the advent of antiretroviral therapy. Key-words: Oral candidiasis, HIV, children. 52 Jan / Dez 2011 Introdução A infecção pelo HIV em crianças foi descrita pela primeira vez em 1983 por Oleske e Minnefor (1983), e a principal via de transmissão é a vertical, presente em 85% dos casos pediátricos nos EUA e no mundo (Naidoo e Chikte, 2004; Soares et al., 2004), podendo ocorrer durante a gestação, durante o parto ou após este, através da amamentação natural (CHIGURUPATi e RAGHAVAN, 1996). O prognóstico da doença varia de acordo com o meio de transmissão, idade em que a infecção foi adquirida, presença de sintomas e idade em que estes apareceram (Leggott, 1992). A criança infectada pelo HIV, por sua condição de imunossupressão, é mais vulnerável às conhecidas doenças oportunistas que comprometem a sua saúde oral. As manifestações bucais têm sido relatadas como sendo os primeiros indicadores da infecção pelo HIV (NAIDOO E CHIKTE, 2004; COOGAN e GREENSPAN, 2005; SOUZA et al., 2008), e, nas crianças infectadas, podemos encontrar com maior frequência: candidíase oral, estomatite herpética, eritema linear gengival, hipertrofia das parótidas e úlceras aftosas (LEGGOTT et al., 1992; RAMOS-GOMEZ et al., 1999; SOARES et al., 2004; SOUZA et al., 2008). A candidíase oral é a lesão mais comum em pacientes infectados pelo HIV, podendo ser considerada a primeira manifestação oral clinicamente observável da doença, possuindo alto valor preditivo para evolução da mesma (PONGSIRIWET et al., 2004; FREZZINi e LEÃO, 2005; CERQUEIRA et al., 2007; CHAGAS et al., 2009; sendo a Candida albicans o agente etiológico encontrado com maior frequência (SOUZA et al., 2008; CHAGAS et al., 2009). Sendo assim, o presente artigo tem por objetivo fazer uma revisão de literatura sobre os tipos de candidíase oral e seus tratamentos, visto que, graças ao uso da terapia antiretrovial, as crianças infectadas pelo HIV têm apresentado um aumento na sobrevida e uma melhor qualidade de vida. MONTEIRO e POMARICO, 2009) Revisão de Literatura A AIDS em crianças é definida quando as mesmas possuem idade inferior a 13 anos, pois, a partir desta idade, elas começam a apresentar padrões simi- R E B lares aos dos adultos (ISRAEl et al., 2002). Atualmente, das 33,2 milhões de pessoas infectadas pelo HIV, em todo o mundo, 2,5 milhões são crianças (UNAIDS, 2007) e, apesar de apresentar muitas similaridades com a infecção em adultos, existem inúmeras diferenças, tais como: vias de transmissão, fatores de risco, padrão de soroconversão e manifestações orais (SANTOS et al., 2001; MONTEIRO e POMARICO, 2009). A candidíase é a manifestação oral mais comum, e sua prevalência nos pacientes pediátricos infectados pelo HIV varia entre 20 e 83,3% (CHIGURUPATI e O M I RAGHAVAN, 1996; SANTOS et al., 2001; NAIDOO e CHIKTE, 2004; FREZZINI e LEÃO, 2005), e entre 1,5 e 56% nos adultos infectados (KERDPON et al., 2004; FREZZINI e LEÃO, 2005). A Candida albicans é o agente etiológico mais comum (PONGSIRIWET et al., 2004; LIU et al., 2006). Alguns fatores são considerados predisponentes para o desenvolvimento não só da candidíase oral, mas também de cárie e gengivite. Dentre eles, destacamse: deficiência de ácido fólico e ferro, uso de antibióticos de amplo espectro por tempo prolongado (SCHEUTZ et al., 1997; SWEET, 1997), xerostomia (SWEET, 1997; JACOB et al., 1998) higiene oral deficiente, dieta rica em carboidratos (JACOB et al., 1998; LIU et al., 2006) e deficiências do sistema imune, estando muitos destes presentes nos pacientes infectados pelo HIV (CASTRO et al., 2004; FREZZINI e LEÃO, 2005; CHAGAS et al., 2009). A candidíase oral pode se apresentar através de diferentes formas clínicas: pseudomembranosa, eritematosa e queilite angular (SOARES et al., 2002; SOUZA et al., 2008), sendo a pseudomembranosa a forma mais comum (SANTOS et al., 2001). Existe ainda a candidíase hiperpláscia, porém esta é uma forma rara tanto em crianças quanto em adultos (NEVILLE et al., 2004). Tipos de Candidíase Candidíase pseudomenbranosa A candidíase pseudomembranosa é uma lesão caracterizada por placas esbranquiçadas ou amareladas, de fácil remoção através de raspagem, podendo ocorrer em qualquer região da mucosa oral e, com maior frequência, no palato, mucosas jugal e labial e dorso da 53 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I língua (Figuras 1 e 2). Após a remoção das placas, a superfície apresenta-se hemorrágica (SOARES et al., 2002; NEVILLe et al., 2004; SOUZA et al., 2008). Sua sintomatologia é leve, podendo apresentar sensação de queimação na mucosa oral ou gosto desagradável. (NEVILLE et al., 2004). Figura 3: Candidíase eritematosa no palato. Fonte: http://www.oralhivlesions.net/children.htm Figura 1: Candidíase pseudomembranosa no dorso da língua. Fonte: http://maetodosdias.blogspot.com Figura 4: Candidíase eritematosa no dorso da língua. Fonte: Souza et al., 2008 Figura 2: Candidíase pseudomembranosa no palato Fonte: Souza et al., 2008 Queilite angular A queilite angular apresenta-se sob a forma de fissuras radiais na comissura labial, associada a eritema e a placas brancas, ocorrendo ainda acúmulo de saliva nestas regiões, retendo umidade e favorecendo uma infecção por leveduras (Figuras 5 e 6) (RAMOS-GOMEZ et al., 1999; SOARES et al., 2002; NEVILLE et al., 2004; SOUZA et al., 2008). Geralmente, está associada a alguma mani- Candidíase eritematosa A candidáse eritematosa é uma lesão caracterizada por manchas avermelhada, geralmente localizada no palato, dorso da língua e, raramente, na mucosa jugal (Figuras 3 e 4) (NEVILLE et al., 2004; SOUZA et al., 2008). Quando a língua é afetada, ocorre perda difusa das papilas filiformes, deixando a mesma com um aspecto avermelhado (RAMOS-GOMEZ et al., 1999; SOARES et al., 2002; NEVILLE et al., 2004) e causando uma sensação de queimação (RAMOS-GOMEZ et al., 1999; NEVILLe et al., 2004; SOUZA et al., 2008). 54 festação de candidíase intraoral (LEGGOTT, 1999; SOARES et al., 2002). Figura 5: Queilite angular unilateral. Fonte: Micologia UFF – http://estudandofungos.blogspot.com Jan / Dez 2011 Discussão Figura 6: Queilite angular bilateral. Fonte: Souza et al., 2008 Tratamento A terapia antifúngica é indicada para prevenir sinais e sintomas como dor, sensação de ardência, ulceração e alteração do paladar (CASTRO et al., 1999; SOUZA et al., 2008), envolvendo o uso de agentes antifúngicos tópicos ou sistêmicos e uma boa higienização (GREENSPAN, 1994; CASTRO et al., 1999; FLAITZ e HICKS, 1999). Os antifúngicos tópicos são a nistatina e o clotrimazol, e os sistêmicos são o fluconazol e o cetoconazol (RAMOS-GOMEZ et al., 1999; COOGAN e GREENSPAN, 2005; SOUZA et al., 2008) (Quadro 1). Em crianças, a terapia sistêmica é mais vantajosa, por ser administrada apenas uma vez ao dia. (RAMOS-GOMEZ et al., 1999; SOUZA et al., 2008). Os antifúngicos sistêmicos geralmente são usados no tratamento de lesões faringianas, candidíase esofágica ou em casos onde os pacientes não respondem a antifúngicos tópicos (RAMOS-GOMEZ et al., 1999; SOUZA et al., 2008). O tratamento deve ser feito por 5 a 7 dias e continuar por mais 1 ou 2 semanas após a resolução das lesões, para evitar recidivas (CHIGURUPATI e RAGHAVAN, 1996; RAMOS-GOMES, 1999). Quadro1: Terapia antifúngica utilizada no tratamento de candidíase oral em crianças infectadas pelo HIV (SOUZA et al., 2008). Antifúngico Dose diária Frequência Nistatina 1 a 5 ml de suspensão 5 vezes/dia Clotrimazol tablete de 10 mg 5 vezes/dia Fluconazol 2-5 mg 1 vez/dia Cetoconazol 4-6 mg 1 ou 2 vezes/dia A principal via de transmissão do HIV em crianças é a vertical (NAIDOO e CHIKTE, 2004; SOARES et al., 2004; MONTEIRO e POMARICO, 2009). Porém, com o uso da terapia antiretroviral por gestantes infectadas pelo HIV, esta transmissão tem diminuído em até 2% (ISRAEL et al., 2002). A candidíase oral é a lesão encontrada com maior frequência em pacientes infectados pelo HIV, estando relacionando com o avanço da doença, através da diminuição de linfócitos CD4 (FREZZINI e LEÃO, 2005; CERQUEIRA et al., 2007; CHAGAS et al., 2009). O seu diagnóstico é baseado, primeiramente, no aspecto clínico da lesão. Porém, em alguns casos atípicos, pode ser feita citologia esfoliativa ou biópsia da mesma. (FLAITZ e HICKS, 1999). A Candida albicans é o agente etiológico encontrado com maior frequência nas lesões de candidíase R E B O M I (CERQUEIRA et al., 2007; SOUZA et al., 2008; CHAGAS et al., 2009) e está presente na cavidade oral dos indivíduos como um microrganismo comensal, sem causar alterações (NAGLIK e CHALLACOMBE, 2003; PONGSIRIWET et al., 2004; LIU et al., 2006). Entretanto, em pacientes imunocomprometidos, ela assume características de patogenicidade, alterando a harmonia com o hospedeiro e causando lesões (SWEET, 1997; NAGLIK e CHALLACOMBE, 2003; PONGSIRIWET et al., 2004). O tratamento da candidíase envolve o uso de antifúngicos tópicos ou sistêmicos (RAMOS-GOMEZ et al., 1999; COOGAN e GREENSPAN, 2005; SOUZA et al., 2008). Porém, alguns pacientes podem apresentar resistência ao tratamento (GREENSPAN, 1994). Outros estudos mostraram que, além do uso de antifúngicos, a terapia antiretroviral combinada com drogas inibidoras de proteases (Highly Active Antiretroviral Therapy – HAART) também parece possuir um efeito sobre as lesões orais, principalmente a candidíase, diminuindo a prevalência das mesmas (MIZIARA e FILHO, 2006; YANG e LO, 2006; MONTEIRO e LUCIANA, 2009). Além disso, a HAART possibilita melhora das funções imunológicas do paciente, com o aumento dos níveis de linfócitos CD4, tornando-os menos susceptíveis às infecções oportunistas (SANTOS et al., 2001; SOARES et al., 2004; FREZZINI e LEÃO, 2005). 55 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I Estudos relataram que outras espécies, como Candida tropicalis, Candida parapsilosis, Candida glabrata, Candida Krusei e Candida dubliniensis, vêm surgindo como agentes patogênicos na infecção por Candida (CERQUEIRA et al., 2007; CHAGAS et al., 2009), o que pode estar associado à resistência a alguns antifúngicos utilizados no tratamento da candidíase (GREENSPAN, 1994). Alguns autores observaram a presença de espécies de Candida em lesões de cárie em dentina, mostrando que estas podem servir de nicho para colonização e proliferação da espécie (REGO e KOGA-ITO, 2003; CERQUEIRA et al., 2007; CHAGAS et al., 2009) e que, após o tratamento dentário com a eliminação as cavidades, ocorreu uma diminuição de sítios retentivos, reduzindo, assim, a infecção por candidíase e melhorando a qualidade de vida do paciente (REGO e KOGA-ITO, 2003; CHAGAS et al., 2009). Conclusão A candidíase oral é uma manifestação muito comum em crianças infectadas pelo HIV e está diretamente relacionada com a diminuição da imunossupressão. O uso de antifúngicos e da terapia antiretroviral reduz a prevalência desta manifestação oral. Portanto, é relevante enfatizar a necessidade de uma equipe multidisciplinar no tratamento de crianças infectadas pelo HIV, incluindo o odontopediatra, visto que um exame clínico minucioso da cavidade oral e a implementação de programas de saúde oral são de suma importância para a detecção desta e de outras manifestações orais, visando o tratamento precoce das mesmas e contribuindo, assim, para uma melhor qualidade de vida destes pacientes. Referências CASTRO, G.F.; PORTELA, M.B.; POMARICO, I.P.R. S. et al. Infecção pelo HIV em crianças e suas manifestações bucais - Revisão de Literatura. J.B.P. 1999; 2: 469-477. CASTRO, G.F.; SOUZA, I.P.R; LOPES, S. et al. Salivary IgA to cariogenic bacteria in HIV-positive children and its correlation with caries prevalence and levels of cariogenic microorganisms. Oral Microbiol Immunol. 2004; 19:281-288. CERQUEIRA, D.F.; PORTELA, M.B.; POMARICO, L. et al. 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Jan / Dez 2011 R E REVISÃO DE LITERATURA B O M I Fatores relacinados ao tecido mole que devem ser observados para otimização da estética em prótese implantossuportada Factors related to soft tissue to be seen to optimization aesthetic in prosthesis implanted supported Ana Carolina Luna Carvalho1 Ricardo Teixeira Abreu2 Júlia Rosas Salomão2 Carmem Silva Laureano Piagge2 Winne Kelly Nascimento2 1. Aluna no curso de Especialização em Prótese Dentária do Hospital Militar de Fortaleza - HGeF. 2. Professor(a) do curso de Especialização em Prótese Dentária do Hospital Militar de Fortaleza - HGeF. Endereço para correspondência: Rua Vicente Leite, 2121 Aptº 801 CEP 60170-151 – E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 14 de junho de 2011 e aceito em 3 de janeiro de 2012 Resumo O uso mais abrangente da implantodontia trouxe excelentes soluções para a substituição de dentes perdidos, mas também grandes desafios a serem superados pelos cirurgiões-dentistas, sendo essencial que eles saibam as características do tecido periimplantar; as diferenças e similaridades entre a mucosa periimplantar e o tecido gengival; a correlação entre gengiva inserida e implantes, e, principalmente, o planejamento reverso; o posicionamento tridimensional e a manipulação de tecido mole periimplantar. Esse trabalho tem como objetivo, fazer uma revisão de literatura sobre estética periimplantar, para um melhor aproveitamento e uma excelência estética dos resultados, auxiliando o prognóstico dos casos. Palavras-chave: Implantodontia, tecido periimplantar, planejamento reverso, posicionamento tridimensional, manipulação tecidual, estética periimplantar. Abstract The most comprehensive use of implantology brought escellent solutions for replacing missing teeth, but also great challenges to be overcome by dentists, it is essential that they know the characteristics of peri-implant tissue, the differences and similarities between the mucosa and peri-implant tissue gum; the correlation between attached gingiva and implants, and especially, the reverse planning, three-dimensional positioning and manipulation of soft tissue periimplantar. This work aims to make a review of the literature on peri-implant esthetics, for a better recovery and escellent cosmetic results, helping the prognosis of the cases. Key-words: Dental implants, peri-implant tissue, planning reverse, threedimensional positioning, handling tissue, peri-implant esthetics. 57 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I Introdução Um dos principais objetivos da odontologia moderna é a constante busca da excelência funcional, biológica e estética, aprimorando suas técnicas para oferecer ao paciente, além da saúde bucal, a promoção de uma aparência mais agradável, melhorando não só a harmonia da face, mas também o bem estar e elevando a autoestima. Os pacientes vêem atualmente procurando tratamento odontológico com uma expectativa estética muito grande, cabendo ao profissional suprir essa necessidade imposta pelo mercado e pela mídia aumentando a necessidade de previsibilidade dos casos. A ampliação da indicação do uso da implantodontia, não sendo mais usado apenas como pilar (prótese tipo protocolo) e sim para substituir raízes perdidas (próteses unitárias), não trouxe apenas soluções, gerou também desafios, pois não é importante ter apenas a viabilidade óssea para ancoragem de implantes. A estética branca, cor, forma e tamanho dos dentes, é extremamente importante para o resultado final do tratamento, mas para que o cirurgião-dentista consiga excelência estética em implantodontia, é essencial que ele obtenha os melhores resultados com a estética vermelha, contorno gengival, manutenção de papila. Para isso é importante que tenha embasamento teórico, e saiba as características do tecido periimplantar; as diferenças e similaridades entre a mucosa periimplantar e o tecido gengival; a correlação entre gengiva inserida e implantes, e principalmente os fatores determinantes para a obtenção de estética em implantodontia como o planejamento reverso; o posicionamento tridimensional; a manipulação de tecido mole periimplantar durante a cirurgia de primeiro e segundo estágio. Revisão de Literatura Tecido Perimplantar Clinicamente, poucas diferenças podem ser vistas entre dente e implante. De acordo com Francischone et al (2008) o suprimento sanguíneo da mucosa periimplantar é deficiente em relação a gengiva pela ausência dos vasos do plexo do ligamento periodontal. 58 Segundo Ruggeri et al (1994), as fibras de tecido conjuntivo estão orientadas paralelamente à superfície do implante sem qualquer tipo de inserção provavelmente essa falta de inserção faz com que haja uma menor resistência à agressão bacteriana e à progressão de lesões no tecido supra-alveolar perimplantar (LEONHARDT, 1993; PONTORIERO, 1994). Lindhe et al (1992) demonstraram que os tecidos tinham diferentes comportamentos em relação ao acúmulo de biofilme. Com relação aos implantes, essa inflamação frequentemente envolvia o tecido ósseo, enquanto que os dentes envolvidos se restringiam ao tecido gengival. Correlação entre gengiva inserida e implantes Segundo Evans et al (2003), a qualidade dos tecidos moles periimplantar deve ser idêntica à dos tecidos iniciais em torno dos dentes naturais ou substituídos, sendo essencial a presença de tecido queratinizado ao redor dos implantes facilitando, assim, a tomada de impressões, prevenindo o colapso tecidual na altura da plataforma do implante, mantendo a altura gengival em um nível consistente e previsível, promovendo estética e vedamento tecidual, proporcionando um melhor controle do biofilme bacteriano, podendo diminuir o grau de retração tecidual melhorando o prognóstico do caso. Em estudo realizado com estudantes, Myasato et al (1977) observaram que uma quantidade mínima de gengiva queratinizada é suficiente para a manutenção da saúde periodontal, quando há um grau satisfatório de higiene dentária, mostrando que o mais importante para manutenção da saúde gengival é o grau de higiene do paciente e não a quantidade de gengiva queratinizada. Fatores determinates para obtenção de estética em implantodontia Planejamento reverso O planejamento reverso, ou seja, a definição da posição ideal da futura prótese, é extremamente importante para se obter excelência estética, funcional e biológica, auxiliando na previsibilidade dos casos e melhorando o prognóstico. É dito reverso porque parte Jan / Dez 2011 R E do final, que é a prótese propriamente dita, para o início, que é a cirurgia de implantação. Para alcançar estes objetivos são necessários exames clínicos, radiográficos, avaliação tomográfica, análise de modelos de estudo montados em articulador semi-ajustável, encerramento diagnóstico, planejamento, confecção e uso de guia cirúrgico. Posicionamento tridimensional De acordo com Saadoum et al (1999), no momento da cirurgia de implantação, algumas regras devem ser seguidas em relação ao posicionamento dos implantes, para que se consiga alcançar a estética: inclinação vestíbulo-lingual, profundidade e localização mésio-distal. Com relação ao posicionamento vestíbulo-lingual, segundo o mesmo autor, a distância do topo do implante até a tangente do istmo ósseo alveolar vestibular deve ser de 2mm, ou seja, deve-se ter espessura mínima de 2mm de osso ao redor da vestibular do implante, para permitir acomodação dos tecidos periimplantares e promover contorno vestibular correto da futura coroa protética. Com relação a profundidade do implante, em reposições unitárias, procura-se posicionar a plataforma do implante 2-3mm apicalmente da junção amelocementária dos dentes adjacentes ao espaço edêntulo, pois segundo Cochran et al (1997) há a necessidade de se respeitar este espaço para que seja possível a reformulação do complexo implanto-mucoso e o estabelecimento do espaço biológico vertical. Em relação a reabilitações múltiplas, a fixação deve ficar ao nível ou ligeiramente infra ósseo do nível da crista óssea mais baixa, permitindo, quando possível, todo o seu recobrimento de acordo com Pallaci, (2001). O principal desafio para obtenção da estética periimplantar é o restabelecimento das papilas interdentais. Segundo Filho (2004) a distância ideal para que se possa realizar condicionamento gengival é de 35 mm da crista óssea até o ponto de contato interproximal dos dentes. Foi observado por Tarnow et al (1992) que em dentes naturais quando se tinha uma distância de 6mm, aproximadamente em apenas metade dos casos, a papila mostrava-se adequada, e em distâncias maiores, as papilas estavam ausentes. Além da distância entre o contato proximal e a crista óssea, outra distância deve ser considerada para a manutenção da papila. Segundo estudo clínico e radiográfico realizado por Tarnow; Cho; Wallace (2000) a distância entre implante e dente, deve ser de 1,5 - 2 mm, e implante-implante que deve ser de 3 mm ou mais para manutenção da papila, devido a união da saucerização dos implantes adajecentes . Segundo Saadoun et al (1999) além desses fatores devemos avaliar também a altura da linha do sorriso para que possa ser feito um planejamento criterioso de qual terapia será empregada, permitindo a avaliação das necessidades individuais de se utilizar recursos adicionais à implantação para recomposição tridimensional dos tecidos duros e moles que cercam o elemento dentário a ser substituído. B O M I Manipulação de tecido mole periimplantar Pacientes que possuem a linha do sorriso baixa, mostrando apenas dentes, a obtenção de um resultado estético é mais fácil de ser alcançada do que aquele que ao sorrir mostra muita gengiva, dificultando a previsibilidade do caso. Espessura da gengiva, quantidade de gengiva ceratinizada, papilas, ameias, cor, textura e contorno do tecido mole influenciam diretamente no resultado estético (FRANCISCHONE, 2008). Segundo Neves e Palacci (2001), as técnicas de manipulação de tecido mole periimplantar podem ser aplicadas em várias etapas no tratamento, antes, durante ou após a segunda fase cirúrgica dos implantes, porém toda e qualquer adequação do rebordo ósseo deve ser realizada antes da instalação dos implantes, tornando, desta forma, o tratamento mais previsível. Saadoun e Le Gall (1992) afirmam que não é possível obter estética branca sem estética rosa, devendose sempre respeitar os três elementos que compõem o sorriso: os lábios, os dentes e a gengiva, para que se consiga alcançar harmonia. Condicionamento do tecido mole por meio de condicionadores gengivais É a modelagem do tecido gengival feita através de próteses provisórias, que sofrem ajustes sucessivos do contorno cervical, de modo que se assemelhem aos dentes adjacentes, ou por meio de cicatrizadores, aque59 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I les que possuem o perfil de emergência divergente (CARDOSO, 2006). O uso de condicionadores gengivais, seja provisório ou cicatrizador, possibilita ao profissional ter uma visão antecipada do resultado final do contorno gengival da prótese definitiva, otimizando a estética e dando maiores condições de higienização. Téncnica de tecido conjuntivo subepitelial A técnica mais popular de enxerto de tecido mole é fazendo uso de tecido conjuntivo subepitelial autógeno, que pode ser removido do palato ou da tuberosidade, inserindo-o no retalho vestibular, tratando defeitos horizontais e verticais moderados. Langer (1997), afirmou que pode-se associar o enxerto de tecido mole subepitelial com reposição coronal da mucosa periimplantar, melhorando o contorno do tecido mole e perfil de emergência da coroa. Com essa técnica podese alcançar um ótimo condicionamento tecidual e uma aparência natural da coroa protética. Enxerto epitélio-conjuntivo Segundo Ono (1998), quando o tecido queratinizado é insuficiente ou mal distribuído, esta técnica acaba oferecendo a possibilidade para a criação de uma área queratinizada em torno dos implantes. Os autores apresentam como desvantagens dessa técnica termos a necessidade de um segundo sítio cirúrgico e procedimentos operatórios freqüentemente mais dolorosos para o paciente do que a fase de implantação. De acordo com Han (1995), lamenta-se o aspecto freqüentemente antiestético dos enxertos epitélio-conjuntivos em casos de próteses sobre implantes e também em caso de sorriso gengival. Técnica de retalho de rolo modificado Dentre as vantagens dessa técnica, pode-se destacar o fato de dispor de somente um sítio favorável, facilitando a vascularização, boa condição de nutrição, bom conforto para o paciente e preservação da cor e texturas originais do tecido mole. Quanto às desvantagens, observa-se o fato de que conforme o volume tecidual disponível no sítio palatino, a dupla dissecção pode não permitir a obtenção de uma quantidade suficiente de tecido conjuntivo em relação a um enxerto 60 conjuntivo removido em um sítio mais favorável (TARNOW, 1992). Retalho posicionado coronalmente De acordo com Borghetti (2002), essa técnica tem como objetivo fechar o sítio de implantação. A desvantagem reside no deslocamento da linha mucogengival, o que pode comprometer a estética no caso de sorriso gengival e pode reduzir a faixa de tecido queratinizado inicialmente favorável. Essa desvantagem é, em princípio, facilmente corrigida no segundo estágio por um deslocamento apical de retalho, essa técnica foi proposta inicialmente por Schluger (1949). Técnica de retalho posicionado para vestibular com pedículos proximais- “técnica de palacci” Essa técnica foi descrita por Palacci (1992), e consiste em uma incisão horizontal sobre a vertente palatina da crista alveolar, adjacente ao bordo da cabeça do implante. Duas relaxantes verticais vestibulares são realizadas e o retalho é deslocado para vestibular, incisões semi-lunares são realizadas em frente a cada pilar criando pedículos. São, então, rotacionados 90 graus preenchendo os espaços interproximais e realiza-se a sutura com os pedículos nessa posição. A vantagem dessa técnica é a formação de papila e o incremento de faixa de gengiva ceratinizada por vestibular. Discussão A perda de elementos dentais traz problemas não só funcionais, mas também de ordem psicológica e comportamental, principalmente quando esta perda envolve a região anterior que esta diretamente relacionada com a estética. A obtenção de um tratamento reabilitador alcançando uma excelência estética, não traz de volta apenas as estruturas dentárias perdidas, mas aumenta a auto-estima e a vontade de sorrir do paciente, para isto é essencial que o cirurgião-dentista conheça as características inerentes aos tecidos moles, pois segundo Saadoun e Le Gall (1992) não é possível obter estética branca sem estética rosa, devendose sempre respeitar os três elementos que compõem o sorriso: os lábios, os dentes e a gengiva, para que se consiga alcançar harmonia. Jan / Dez 2011 R E Existem diferenças e similaridades entre o tecido gengival e a mucosa periimplantar. De acordo com Ruggeri et al (1994), as fibras do tecido conjuntivo estão orientadas paralelamente à superfície do implante, sem qualquer tipo de inserção. Segundo Leonhardt (1993) e Pontorieri (1994), a ausência de inserção faz com que o tecido supra-alveolar periimplantar seja um terreno de menor resistência à agressão bacteriana e à progressão de lesões. Já segundo Cochran et al. (1997), afirmam a presença das estruturas que compõem as distâncias biológicas e que elas são formadas fisiologicamente, possuindo dimensões estáveis como as que são encontradas ao redor dos dentes naturais. De acordo com Francischone (2008), para um planejamento mais preciso do caso deve-se realizar um enceramento diagnóstico em modelos montados em articulador e provar esse enceramento na boca, sendo possível planejar e prever a posição correta dos implantes, suporte labial, tamanho, comprimento, contorno dos dentes e linha do sorriso, gerando uma simulação clínica dos resultados. Para a manutenção da papila, devemos ter em mente duas distâncias principais; a distância do ponto de contato à crista do rebordo e a distância entre implante/implante implante/dente. Com relação a distância implante/implante Tarnow et al 2000 em uma avaliação radiográfica, chegaram à conclusão de que seria importante uma distância de no mínimo 3mm, ou de preferência maior que isso, para que se tivesse a manutenção da crista, e que em distâncias menores do que 3mm a região da crista óssea era reabsorvida, devido à perda óssea lateral que ocorre ao redor dos implantes, o que influencia na formação e manutenção da papila. Em contrapartida, em trabalhos realizados por Novaes et al (2009) afirmavam que distâncias entre 2 e 3mm entre implantes não apresentavam diferenças significativas, porém esse trabalho foi realizado em cães, o que pode haver diferenças entre a espessura do rebordo alveolar comparado com a dos humanos. Em estudo realizado por Tarnow; Magner; Fletcher (1992), concluíram que diferenças clínicas significativas eram encontradas com uma pequena diferença de 1mm em relação ao ponto de contato à crista óssea entre dois dentes. Quando esta se mantinha em torno de 5mm ou menos, havia presença de papila em 98% dos casos, quando aumentada para 6mm a papila encontrava-se presente em apenas 55%. Segundo Papalexiou et al (2006) sugerem que em relação a implantes, essa distância mencionada deva ser de aproximadamente 3mm, para compensar a reabsorção óssea que ocorre ao redor dos implantes adjacentes. Com relação a profundidade do implante, em reposições unitárias, procura-se posicionar a plataforma do implante 2-3mm apicalmente da junção amelocementária dos dentes adjacentes ao espaço edêntulo (COCHRAN et al, 1997). Em relação ao posicionamento vestíbulo-lingual, segundo Saadoum et al (1999) a distância do topo do implante até a tangente do istmo ósseo alveolar vestibular deve ser de 2mm. De acordo com Garg et al (1997), no posicionamento vestíbulo-palatal deve-se manter 1mm de osso vestibular e 1mm de osso lingual. Sabendo-se da existência da saucerização, a colocação do implante com uma espessura maior de osso por vestibular se torna mais apropriada pelo fato de proporcionar um melhor prognóstico. Todas essas observações são importantes, independente do tipo de conexão utilizada. O condicionamento gengival otimiza a estética, a biologia e a função da prótese, sendo um procedimento simples, sem custo adicional para o profissional que deve escolher uma técnica adequada avaliando suas vantagens e desvantagens como também suas indicações. Segundo Oliveira et al (2002), é uma das condutas clínicas mais simples e satisfatórias para que se possa obter a estética tão desejada em prótese fixa sobre implante. A altura do sorriso também é de extrema importância durante o planejamento. Quando a linha do sorriso permite a visualização apenas dos dentes, a obtenção de um resultado estético fica mais fácil do que quando o paciente tem sorriso alto, sorriso gengival. Espessura da gengiva, quantidade de gengiva ceratinizada, papilas, ameias, cor, textura e contorno do tecido mole influenciam diretamente no resultado estético (FRANCISCHONE, 2008). Sabendo-se disso, vários procedimentos de manipulação de tecido mole B O M I 61 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I podem ser usados durante a cirurgia de primeiro e segundo estágio, para que se consiga a otimização estética dos resultados. HAN T.J, KLOKKEVOLD P.R, TAKEI H.H. Resolution de problèmes mucogingivaux autour d’implants par autogreffes gingivales en lanières. Rev Int Parodont Dent Rest. 1995;15: 405-11.80. LEONHARDT A, ADOLFSSON B, LEKHOLM, et al. A longitudinal microbiological study on osseointegrated titanium implants in patially edentulous patients. Clinical Oral Implants Research. 1993; 4(3): 113-20. Conclusão De acordo com a revisão bibliográfica contida neste trabalho, a busca pela obtenção de naturalidade dos resultados quando da reabilitação por próteses implanto-suportadas, vem constituindo um dos grandes desafios enfrentados pelos cirurgiões-dentista nos últimos tempos. Um plano de tratamento criterioso, o correto posicionamento dos implantes, quantidade e qualidade óssea e gengival, utilização correta das próteses provisórias, saber quando é possível a utilização de técnicas cirúrgicas para otimização da estética, são fatores que devem ser considerados durante a reabilitação implanto-suportada principalmente em áreas de grande envolvimento estético. LINDHE J, BERGLUNDH T, ERICSSON I, et al. Experimental breakdown of periimplant and periodontal tissues: a study in the beagle dogs. Clinical Oral Implants Research. 1992; 3: 9-16. 81. MIYASATO M, CRIGGER M, EGELBERG J. Gingival condition in areas of minimal and appreciable width of keraninized gingiva. 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Jan / Dez 2011 R E REVISÃO DE LITERATURA B O M I Tratamento ortodôntico em pacientes com periodonto reduzido Orthodontic treatment in patients with reduced periodontium Paulo Sérgio de Assunção¹ Bruna Ferreira Martins² Luciana Alves de Souza Leite2 Monique Santana Candreva2 1. Mestre em ortodontia pela UFRJ, coordenador do curso de especialização em ortodontia da Odontoclínica Central da Marinha. 2. Cirurgiã-dentistas, alunas do curso de especialização em ortodontia da Odontoclínica Central da Marinha. Endereço para correspondência: Rua Marquês do Paraná, 157/707 Centro – Niterói, RJ CEP 24030-210 – E-mail: [email protected] Resumo Nos dias atuais, observa-se nos consultórios odontológicos, alta demanda de pacientes adultos com problemas periodontais em busca de tratamento ortodôntico por motivos estéticos, ou por solicitação de outras especialidades. O presente estudo teve como objetivo mostrar, mediante revisão de literatura, que é possível tratar de maneira eficiente esses casos. O sucesso desta intervenção depende da realização de um planejamento multidisciplinar e da consideração especial para alguns aspectos importantes como: a presença de inflamação, a qualidade do suporte ósseo, o tipo de movimento e a força a ser aplicada. Palavras-chave: ortodontia, periodonto reduzido. Abstract Recebido para publicação em 23 de novembro de 2011 e aceito em 28 de dezembro de 2011. Nowadays, it is observed in the dental office, high demand for adult patients with periodontal problems in search of orthodontic treatment for aesthetic reasons, or solicitation of other specialties. This study aimed to show, through a literature review, it is possible to handle these cases efficiently. The success of this intervention depends on the realization of a multidisciplinary planning and special consideration to some important aspects such as the presence of inflammation, the quality of bone support, the type of motion and strength to be applied. Key-words: orthodontics, periodontal reduced. 63 R E B O M I 64 ANO 28 • Nº 1 e 2 Introdução Qualquer paciente submetido a tratamento ortodôntico deve ter cuidados extras na higiene dentária, uma vez que, a aparatologia ortodôntica dificulta a escovação. A placa bacteriana é o principal fator etiológico do colapso periodontal e a gengivite induzida por placa é o primeiro passo para o processo patológico (PROFFIT, 2007). A progressão da gengivite, quando ocorre, se faz em direção ao ápice radicular e acaba envolvendo a crista óssea alveolar, reduzindo sua altura e nível cervical. Nessa situação o acúmulo de mediadores da osteoclasia está elevado nos tecidos periodontais envolvidos (JANSON, 2008). A doença periodontal não é um constante processo progressivo degenerativo. Ao contrário, é caracterizada por episódios de ataque agudo em algumas, mas não todas as áreas da boca, acompanhada de períodos de quiescência. Os problemas periodontais raramente são preocupações principais durante o tratamento ortodôntico de crianças e adolescentes, pois a doença periodontal geralmente não surge em idade tenra e a resistência tecidual é maior em pacientes mais jovens. Em crianças e adolescentes, mesmo que a gengivite se desenvolva em resposta à presença de aparelhos ortodônticos, quase nunca chega a periodontite. Isso não pode ser admitido para os adultos, não importando quão boa é a sua condição periodontal inicial. A avaliação periodontal do potencial paciente ortodôntico deve incluir não apenas a resposta à sondagem periodontal, mas também o nível e a condição da gengiva acometida. A recessão gengival ocorre secundariamente à deiscência do osso alveolar se tecidos de proteção forem estirados. O estresse pode ser causado por: trauma de escovação, inflamação induzida por placa, ou estiramento e afilamento da gengiva, que pode ter sido criado pelo movimento de vestibularização dentária. Uma vez que a recessão tenha iniciado, pode progredir rapidamente, especialmente se houver pouca ou nenhuma gengiva inserida queratinizada e a inserção for apenas na mucosa alveolar. Duas carac- terísticas são importantes para a ocorrência da recessão gengival: a largura da gengiva inserida e a espessura do tecido gengival. É muito melhor prevenir a recessão gengival do que tentar corrigi-la mais tarde. Por essa razão, o enxerto gengival deve ser considerado em adultos com mínima gengiva inserida ou tecido estreito (JANSON, 2008). Revisão de Literatura Nos últimos anos, tem se notado um número cada vez maior de pacientes adultos, com periodonto reduzido, nos consultórios odontológicos à procura de tratamento ortodôntico. A doença periodontal avançada pode causar migração dentária devido às alterações inflamatórias das fibras de colágeno, que unem os dentes adjacentes, e que têm um papel significante na estabilização dos dentes (JOHAL e IDE, 1999). Como consequência, os pacientes com comprometimento periodontal podem apresentar inclinação e extrusão de um ou mais incisivos, acompanhado de diastema localizado ou espaços generalizados na região anterior do arco (ARTUN e URBYE, 1988), rotações e/ou inclinações de pré-molares e molares com colapso da oclusão posterior e redução da dimensão vertical (LINDHE e NYMAN, 1977; THILANDER, 1986; ONG, WANG e SMITH, 1998; JOHAL e IDE, 1999). É fundamental o estabelecimento de metas e objetivos do tratamento ortodôntico. Para os pacientes com peridonto reduzido, o principal objetivo é levar os dentes para posições isentas de interferências oclusais, possibilitando sua estabilidade e condições periodontais que facilitem a higienização. A busca da normalização, sem a possibilidade de agravar ainda mais o periodonto de sustentação é fundamental. (CARRARO et al., 2009). Segundo Cotrim (2005) em pacientes com o periodonto reduzido é possível realizar terapia ortodôntica, se a doença periodontal não estiver ativa. Para Ericsson (1993) é possível movimentar dentes com periodonto reduzido saudável, sem ter perda de inserção conjuntiva. Na concepção de Feng (2005), se a doença periodontal estiver controlada o movimento ortodôntico pode ser realizado. Jan / Dez 2011 R E Na concepção de Wennestrom (1993) pode-se movimentar dentes com o periodonto reduzido, estando este saudável, sem perda de inserção conjuntiva. Antes de iniciar o tratamento ortodôntico em pacientes com periodonto comprometido, um tratamento periodontal prévio deve ser feito para eliminar a inflamação, além de passar para o paciente instruções de higiene oral. Durante o tratamento ortodôntico devem ser realizados controles periódicos com o periodontista, em intervalos de três a quatro meses em média, para a avaliação de áreas que porventura possam apresentar processo inflamatório e para a manutenção da saúde periodontal. Estes controles devem prosseguir após a finalização do tratamento ortodôntico, durante toda a vida do paciente. O cuidado constante durante o tratamento é a base de um resultado favorável (LINDHE, 2003). Geralmente o tratamento ortodôntico irá apresentar várias limitações, dentre elas podemos citar a perda de suporte ósseo e a dificuldade de se obter uma ancoragem satisfatória devido às perdas de vários elementos dentário (CALHEIROS et al., 2005). Para Melsen (1988) nos casos de ancoragem crítica é necessário estabelecer uma unidade sólida e estável de ancoragem, fornecida por barras transpalatina rígidas soldadas às bandas e unindo os elementos remanescentes. Devido às margens das bandas tornarem a manutenção periodontal mais difícil, é geralmente melhor usar o aparelho ortodôntico completamente colado para adultos com envolvimento periodontal. Bráquetes autoligáveis ou amarrilho de fio de aço também são preferidos para pacientes com envolvimento periodontal, em lugar de anéis elastoméricos para reter arcos ortodônticos, pois o paciente com anéis elastoméricos tem maiores níveis de microorganismos na placa gengival (PROFFIT, 2007). Quando o periodonto está íntegro, o centro de resistência do dente fica localizado entre o terço oclusal e o terço médio da raiz em dentes unirradiculares e em multirradiculares de 1 a 2mm apicalmente à furca. Como o centro de resistência depende da inserção do dente no osso, a reabsorção óssea causa alteração na posição do centro de resistência, que migra em direção apical e, quanto maior a distância entre o ponto de aplicação da força e o centro de resistência, cria-se um momento de força que causa uma maior tendência à inclinação (COROTTI et al., 2005). Quanto mais para apical o fulcro do movimento, a sobrecarga de força na região apical ocorre com maior intensidade, e as chances de reabsorção apical são maiores. Essa informação deve ser levada em consideração junto com a anatomia das raízes e o histórico de trauma para o planejamento de movimentos mais extensos, nos quais o risco de reabsorções radiculares é maior As forças devem ser mantidas dentro dos limites biológicos, sendo preferíveis as forças suaves e intermitentes (THILANDER, 1992). Nahás et al. (2008) ressaltam que os dentes que apresentam o periodonto reduzido são submetidos a forças oclusais como os dentes com periodonto normal, isso gera movimentos de instabilidade pois não há mineralização da cortical óssea. Os intervalos de ativação também devem respeitar esses princípios e serem individualizados para cada caso, dependendo da gravidade da lesão (JANSON, 2008). Em casos de extrações, quanto à mecânica ortodôntica, a de arcos segmentados é a mais conveniente e biologicamente compatível para tratar pacientes com comprometimento periodontal. Os espaços podem ser fechados com fios de amarrilho .012" ou, quando forem utilizados elásticos em cadeia, aplicar força próxima de 100g . O uso de elásticos Classe II ou III não deve ser excluído e sim controlado com maior critério. O uso destes, quando há perda óssea significante no segmento anterior e/ou posterior do arco, promove mais facilmente a extrusão desses dentes, podendo não só prejudicar a oclusão como ter um efeito deletério no aumento da dimensão vertical. Entende-se por isso aumentar o vetor horizontal do elástico, com a incorporação de todos os dentes posteriores no aparelho, utilizar forças mais leves do que as usadas na mecânica convencional e acompanhar o paciente em intervalos menores (JANSON, 2008). Após o término da terapia periodontal, deve-se aguardar de 2 a 6 meses para iniciar a movimentação ortodôntica, este período é necessário para haver a reparação óssea (HARFIN, 1999). B O M I 65 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I Na concepção de Kokich (1999) posteriormente a terapia periodontal, é necessário de 4 a 6 meses para iniciar a terapia ortodôntica. Para Polson (1984) há reparo da morfologia óssea, quando movimentos ortodônticos são realizados em direção à defeitos ósseos, porém não há reparo na inserção conjuntiva Devido a uma menor taxa de aposição óssea, as dentições com suporte periodontal reduzido mostram uma grande tendência à recidiva após o tratamento ortodôntico ativo, necessitando de um período de contenção maior (WILLIAMS et al.,1982). Desta forma a contenção permanente ou semi-permanente pode ser requerida (ARTUN e URBYE, 1988; ZACHRISSON, 1999; JOHAL e IDE, 1999). Discussão De acordo com a literatura descrita, é possível realizar movimentação ortodôntica em pacientes com periodonto reduzido, desde que estes pacientes não apresentem doença periodontal ativa (NAHÁS-SCOCATE et al). Além de receber instruções sobre higiene bucal, estes pacientes devem receber terapia periodontal de manutenção (LINDHE; PROFFIT). Ao se planejar o tratamento para pacientes com esta patologia, é importante definir os objetivos do tratamento, assim como a individualização dos princípios biomecânicos (JANSON; LINDHE e NYMAN; ONG, WANG e SMITH; THILANDER). Sendo assim, o tratamento ortodôntico nestes pacientes vai depender da indicação e das necessidades presentes, sempre visando à saúde bucal e o bem-estar, buscando assim, a normalização sem agravar o periodonto de sustentação (CARRARO et al; PROFFIT). O tratamento ortodôntico em pacientes com o periodonto reduzido, vai apresentar algumas limitações devido as perdas ósseas, sendo que a ancoragem também fica prejudicada com a falta de alguns elementos dentários (CALHEIROS et al; PROFFIT). Há controvérsias quanto ao tempo de espera entre o tratamento periodontal e o início da movimentação ortodôntica. Harfin8 indica que se deva aguardar de 2 a 6 meses, avaliando-se a motivação do paciente quanto à higiene bucal e, também, para que ocorra a repara66 ção óssea, contudo, para Kokich e Zachrisson o tempo de espera deve ser de 4 a 6 meses de intervalo de tempo. Já para Re et. al a movimentação ortodôntica deve ser iniciada logo após a realização da terapia periodontal, para que sejam rapidamente estimuladas as células progenitoras do tecido conjuntivo, necessárias para a regeneração tecidual. Em casos em que a ancoragem é limitada, o primeiro passo a ser dado é estabelecer uma sólida e estável unidade de ancoragem. Barras transpalatinas rígidas soldadas às bandas e unindo os elementos remanescentes, “splints”oclusais unidos por fios rígidos e arcos pesados preenchendo os “slots” são exemplos de alternativas para se formar um bloco que possa servir como ancoragem . Além, destes métodos, podemos utilizar também implantes como ancoragem (MELSEN; PROFFIT). Algumas vezes é útil reter por um tempo um dente que está irremediavelmente envolvido pela doença periodontal, usando-o para suportar o aparelho ortodôntico que irá contribuir para salvar outros dentes. A mesma força aplicada em um dente com o periodonto sadio e em outro com perda óssea até o meio da raiz, por exemplo, irá gerar diferentes níveis de pressão no ligamento periodontal, sendo muito maior no dente comprometido, onde a área para dissipação das forças é menor. Se a pressão é maior, a possibilidade de áreas hialinas ocorrerem também será maior, aumentando a probabilidade de reabsorções dentárias. O ápice radicular responde por uma parcela reduzida da implantação dentária por apresentar diâmetro menor (JANSON; PROFFIT). A reabsorção óssea altera a localização do centro de resistência, assim, aumentando-se a distância do ponto de aplicação da força e o centro de resistência, aumentará a tendência a inclinação (COROTTI et al; PROFFIT). A incorporação de “T-loops” aos arcos é uma maneira de tentar obter um grau de resiliência e flexibilidade do arco compatíveis com uma movimentação ortodôntica mais “fisiológica” e sem a criação de grandes áreas hialinizadas, evitando assim danos adicionais ao periodonto. Deve-se optar por forças leves e intermitentes (PROFFIT; THILANDER). Jan / Dez 2011 Movimentos ortodônticos em direção à defeitos ósseos angulares (bolsas infra-ósseas) resultam em reparo da morfologia óssea, não tendo efeitos favoráveis sobre o nível de inserção de tecido conjuntivo, com formação de uma longa inserção epitelial. Contudo, é possível movimentar dentes com periodonto saudável reduzido sem perda de inserção conjuntiva (ERICSSON et al. ; POLSON et al; WENNESTROM et al.). A contenção fixa definitiva (esplintagem dentária) no paciente com mobilidade dentária progressiva (MDP) tem papel fundamental na manutenção e estabilização do novo posicionamento dentário, pois, seu objetivo principal é eliminar o trauma oclusal secundário que está relacionado à perda óssea, consequente da doença periodontal (ARTUN e URBYE; JANSON; JOHAL e IDE; WILLIAMS et Mesmo com a saúde periodontal sob controle, os dentes com o periodonto comprometido são submetidos às forças normais de oclusão, fonação e deglutição, o que gera movimentos de instabilidade, não permitindo a mineralização da cortical óssea (JANSON; NAHÁSSCOCATE et al). Existem dois tipos de contenção definitiva, que são extracoronária e intracoronária. Tanto a contenção extracoronária como a intracoronária devem apresentar como características principais: resistência, facilidade de higienização por parte do paciente e do periodontista e conforto do paciente. al.). Conclusão Embasado cientificamente pela literatura, concluise que, é possível realizar o tratamento ortodôntico de maneira eficiente em pacientes com periodonto reduzido, desde que, a doença periodontal esteja controlada e que haja um planejamento multidisciplinar. Durante o tratamento ortodôntico é indicado utilizar aparatologia que retenha menos placa e forças suaves/intermitentes devem ser abordadas. O paciente tem que ser acompanhado periodicamente e ter cuidados extras com a higiene bucal. Além disso, o período de contenção deve ser aumentado devido a menor taxa de aposição óssea. Referências ARTUN, J.; URBYE, K.. The effect of the orthodontic treatment on periodontal bone support in patients with advanced loss of marginal periodontium. Am J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, 1988; 93: 143-148. CALHEIROS, A., FERNANDES, A., QUINTÃO, C., et al. Movimentação ortodôntica em dentes com comprometimento periodontal: relato de um caso clínico. 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R E B O M I 67 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B REVISÃO DE LITERATURA O M I Perfil das condições de saúde bucal de militares recrutas do 2º Batalhão de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro em 2011 The oral health status of recruits incorporated in the 2º Jungle Infantry Battalion of the Brazilian Army in 2011 Rodolfo José Gomes de Araújo1 Augusto Cesar Alcântara dos Reis2 Khaled Pinho Badarane3 Helder Henrique Costa Pinheiro4 1. 2º Tenente do Exército Brasileiro, Doutorando em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários – UFPA Mestre em Odontologia: Clínica Odontológica – UFPA 2. 2º Tenente do Exército Brasileiro, Especialista em Dentística – UFPA 3. 1º Tenente do Exército Brasileiro, Especialista em Periodontia – UFPA 4. Doutorando em Doenças Tropicais – UFPA, Mestre em Odontologia – UFPA Endereço para correspondência: Rodolfo José Gomes de Araújo Av. Brás de Aguiar, 681/902 Nazaré – Belém – Pará CEP 66035-415 – E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 21 de setembro de 2011 e aceito em 10 de janeiro de 2012 Resumo O presente estudo teve como objetivo verificar as condições de saúde bucal dos recrutas incorporados ao 2º Batalhão de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro (2º BIS), em Belém-Pa, durante ano de 2011 por meio de um levantamento sobre a quantidade de dentes cariados, perdidos e obturados; Analisar os hábitos de higiene oral dos recrutas e registrar a qualidade do tratamento bucal proporcionado a estes militares pela equipe de saúde bucal do exército brasileiro. A população estudada apresenta elevados índices de cariados e obturados sugerindo que a prevenção não está sendo disponibilizada para esta população. Isto torna necessário um maior investimento em atividades promocionais e preventivas. Palavras-chave: Odontologia militar, saúde bucal, saúde coletiva. Abstract This study aimed to determine the oral health status of recruits incorporated in the 2º Jungle Infantry Battalion of the Brazilian Army (2º BIS), in Belem-Pa, during 2011 through a survey on the number of decayed, missing and filled teeth; Analyze oral hygiene habits of recruits and record the quality of dental treatment provided by these military dental health team of the Brazilian army. The study population has high rates of decayed and filled suggesting that prevention is not available for this population. It is necessary a greater investment in preventive and promotional activities. Key-words: Military dentistry, oral health, public health. 68 Jan / Dez 2011 R E B O M Introdução Os levantamentos epidemiológicos em saúde bucal em militares têm sido pouco experimentados no Brasil, no sentido de disponibilizar informações que corroboram para o planejamento de ações em saúde oral. Enquanto países como a Inglaterra detêm bases de dados sobre cárie dentária desde as primeiras décadas deste século, no Brasil, o primeiro levantamento de saúde bucal, de base nacional. foi realizado no ano de 1986, pelo Ministério da Saúde. De lá para cá é possível citar ainda duas experiências em nível nacional, o levantamento realizado pelo SESI (Serviço Social da Indústria) em 1993 e o conduzido pelo Ministério da Saúde em 1996, ambos direcionados para escolares (RONCALLI, 2006). Estes estudos apontaram uma redução na prevalência da cárie dentária, na idade de 12 anos, no Brasil, confirmando a tendência mundial. Frente a esta constatação de declínio nos níveis da doençacárie em crianças brasileiras, torna-se necessário o desenvolvimento de estudos direcionados para a população adulta e adolescente, a fim de verificar a magnitude do problema neste segmento social. Sobretudo, a possibilidade de conhecer a média do índice CPO-d em um grupo de recrutas na idade de 18 anos permite não somente a comparação deste com valores apontados em estudos anteriores, como também conhecer e traçar um perfil da saúde bucal destes indivíduos, relacionando a prevalência da cárie dentária com fatores de risco, como hábitos de higiene oral e condições socioeconômicas. Ao mesmo tempo, permite uma análise mais acurada dos problemas de saúde oral existentes nessa população, com vistas a uma implementação de estratégias capazes de atender as suas necessidades. Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo verificar as condições de saúde bucal dos recrutas incorporados ao 2º Batalhão de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro (2º BIS), em Belém-Pa, durante ano de 2011 por meio de um levantamento sobre a quantidade de dentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D); conhecer as informações sobre as condições socioeconômicas dos indivíduos sobre análise. Analisar os hábi- I tos de higiene oral dos recrutas e registrar a qualidade do tratamento bucal proporcionado a estes militares pela equipe de saúde bucal do exército brasileiro. Revisão de Literatura O uso da epidemiologia das doenças bucais permitiu no decorrer do tempo o desenvolvimento de um modelo estruturado e com base científica para detecção das enfermidades orais mais comuns, como a cárie dentária e as doenças periodontais (OMS, 1999). O conhecimento atual aponta que a cárie possui um caráter multifatorial, onde interagem fatores essenciais para a sua iniciação e progressão. Dentre estes fatores podem-se citar os primários, que são fundamentais para o desenvolvimento da doença, e os moduladores chamados de secundários e terciários que podem influenciar sobre os fatores primários na atividade da doença - cárie. Os fatores primários, assinalados por Keyes em 1962, são resultantes da tríade formada por um hospedeiro susceptível, o dente, uma microflora cariogênica dominada por grupos bacterianos acidófilos e acidogênicos, principalmente envolvendo o patógeno - estreptococos do grupo mutans e um substrato local, a sacarose. Contribuem ainda como fatores secundários: A saliva associada à quantidade do fluxo de secreção salivar e a capacidade tampão; A disponibilidade de flúor na água e/ ou utilizado de forma tópica. Além dos fatores terciários, incluindo: o sexo, a idade, o nível socioeconômico e, as condições de saúde geral (ABOPREV, 2003). Em seguida será feito um breve histórico sobre a prevalência de cárie no mundo. Com a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como, a reorganização da prática odontológica pública, houve uma maior ênfase nas atividades de promoção da saúde. Sendo assim, presenciou-se um aumento na oferta de flúor para a população com consequente redução dos índices de cárie, desde a década de 90, no Brasil (OLIVEIRA, 2001). Com o propósito de reorganizar a prática da atenção à saúde em novas bases e substituir o modelo tradicio69 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I 70 nal, levando a saúde para mais perto da família e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, o Ministério da Saúde criou, em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF). Neste contexto, foi elaborado o Plano de reorientação das ações de saúde bucal na atenção básica (portaria nº 267, de 06/03/01), com os seguintes objetivos: Melhorar as condições de saúde bucal da população brasileira; Orientar as práticas de atenção à saúde bucal consoante ao preconizado pelo PSF; Assegurar o acesso de todas as famílias nas áreas cobertas pelas equipes às ações de promoção e prevenção, bem como, aquelas de caráter curativo – restauradoras de saúde bucal; Capacitar, formar e educar os profissionais de saúde bucal necessários ao PSF; Avaliar os padrões de qualidade e o impacto das ações de saúde bucal desenvolvidas (BRASIL, 2001). O Índice CPO-d, tal como é conhecido na atualidade, foi proposto primeiramente por Klein e Palmer, em 1937, ao conduzir um estudo transversal de prevalência, em 8.257 crianças índias americanas, entre 110 tribos em 16 estados dos EUA. Com a utilização do índice CPO-d observou-se que a prevalência e a severidade do ataque pela cárie dentária aumentavam com a idade. Da mesma forma, identificou-se que as crianças de algumas tribos possuíam mais cárie do que as de outras. Assim, o Índice CPO-d tornou-se o índice mais utilizado para a coleta de dados epidemiológicos sobre a cárie humana. Chaves (1983) assinala que o Índice CPO-d corresponde à média do número total de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados em um grupo de indivíduos. Neste sentido, o índice CPO pode ser aplicado tendo como unidade de medida o dente na sua totalidade (CPO-d) ou as superfícies do dente (CPO-s). Permite também a evolução do Índice CPO-d durante a vida do indivíduo, desde criança até a vida adulta. Os estudos realizados para avaliar este índice assinalam que: A prevalência de cárie diminui conforme a idade do indivíduo avança; A mortalidade dentária representada pelo componente P (perdido) e evolui durante toda a vida; Deve-se ter cautela para adotar o conceito d CPO como um índice de cárie dentária, uma vez que ele inclui um componente P (per- dido), o que, por sua vez, inclui a ausência de dentes por múltiplas causas (cárie, periodontopatias, traumas). O autor ainda comenta que nos inquéritos epidemiológicos, o Índice CPO-d deve ter preferência, pela facilidade de sua obtenção e por permitir uma riqueza de dados ao sanitarista (CHAVES, 1983). A OMS em uma iniciativa de assessorar e realizar levantamentos em saúde bucal na população, se mostrou extremamente útil estimulando o estabelecimento de critérios padronizados para a avaliação por meio do índice de CPO-d em todos os países. No entanto, apesar de sua ampla utilização, ao se fazer um acompanhamento histórico do Índice CPO-d, observa-se algumas críticas e limitações do modelo. Uma destas restrições, diz respeito ao processo de doença já instalado, ele não qualifica o estágio da lesão cariosa, ou seja, uma cárie pequena, de cicatrícula ou fissura, tem o mesmo valor do que uma grande cavidade oclusal com destruição de tecido dental, incluindo o dentinário. Outra limitação é o registro da quantidade total dos sintomas da cárie acumulados durante os anos, considera as lesões presentes, tratadas ou eliminadas. Portanto, tem o princípio de adicionar os sinais passados e presentes da cárie (THYLSTRUP e FEJERSKOV, 1988). Outros autores como Luvinson et al. (1985), assinalam que as variações do CPO-d não levam em consideração o processo de cárie, apenas retratam a sequela da doença no indivíduo. Sheiram (2001) também chama a atenção para outra deficiência dos valores do CPO-d e registra que o fator restauração incorporado no número de dentes obturados tende a distorcer o padrão de experiência da doença, uma vez que, indivíduos com muitas restaurações são, geralmente, pessoas que visitam o dentista regularmente. Tratar sobre a epidemiologia da cárie é fundamental para entender a magnitude da doença na população, e ao mesmo tempo, estes achados vão permitir desencadear estratégias que possam reduzir a problemática na comunidade. Barmes (1982) comenta que, em 1965, a Organização Mundial da Saúde (OMS) discutiu o programa global de saúde bucal mundial. A partir daí, foi então desenvolvido um projeto para preparar Jan / Dez 2011 um documento, padronizando os métodos epidemiológicos de avaliação oral, com finalidade de levantar dados e estabelecer um quadro global sobre a saúde bucal na sociedade. Em 1986, foi realizado pelo Ministério da Saúde o primeiro estudo a nível nacional para avaliar a prevalência da cárie dentária denominado de “Levantamento Epidemiológico em Saúde Bucal: Brasil, Zona Urbana”. Foram examinadas 25.407 pessoas em 16 capitais brasileiras, utilizando o Índice CPO-d nas seguintes faixas etárias: 6 a 12, 15 a 19, 35 a 44, e 50 a 59 anos. Os problemas levantados na pesquisa foram: a cárie dentária, a doença periodontal, a necessidade de prótese e a procura por atendimento pelo serviço odontológico pelos sujeitos. O resultado deste levantamento apontou um CPO-d aos 12 anos de 6,7. Na faixa de 15 a 19 anos o índice CPO-d médio encontrado foi de 12,68 (PINTO, 1993). Guimarães e Guimarães (1990), examinando adultos jovens de 18 a 25 anos em São Paulo, SP, no ano de 1988, encontraram uma média de CPO-d igual a 13,5 nesta população. Portanto, até o princípio da década de 90, o quadro de prevalência da cárie dentária no Brasil, se mostrava elevado (PINTO, 2000). Inicia-se então, um declínio desta enfermidade que pode se verificado em diferentes estudos. Em Belo Horizonte, dados oficiais da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), juntamente com o Departamento de Saúde Escolar da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (DSESMSa), mostraram que escolares na faixa etária de 6 a 12 anos, em 1975, apresentaram um CPO-d aos 12 anos de 7,95. Em 1978, a observação realizada registrou um índice aproximado com um valor de 7,38. Em 1981, nova avaliação apontou um valor de 6,39 variando, em 1983, para 6,8. Reduziu-se para 4,47 em 1986. Finalmente, o último levantamento feito pela COPASA, em 1991, foi verificado um valor de 5,33 para o CPOd aos 12 anos (SANTOS, 1996). Frente a este cenário os dados mostraram que o Brasil é um dos países com os problemas mais sérios de prevalência de cárie no mundo (PINTO, 1993). Metodologia O estudo foi realizado no quartel do 2º Batalhão de Infantaria de Selva, localizado na cidade de Belém-Pa. Esta organização militar possui serviço assistencial de saúde composto por oficiais médicos, oficiais dentistas, sargentos da saúde, cabos de saúde, soldados auxiliares de consultório dentário e padioleiros que atendem um efetivo de aproximadamente novecentos militares do quartel. Os pesquisadores utilizaram a área clínica disponível na seção de saúde no 2º BIS para realização dos exames. Dentro do serviço odontológico militar, os recrutas são examinados clinicamente e agendados de acordo com as suas necessidades para tratamento posterior e disponibilidade de tempo. Trata-se de um estudo do tipo transversal de abordagem quali-quantitativa, onde foram utilizados questionários e um único entrevistador para avaliar em um mesmo momento, a situação de saúde bucal dos indivíduos examinados em relação à cárie dentária, bem como, as possíveis associações entre a presença ou ausência desta patologia e os fatores socioeconômicos. Anexo a cada questionário, o termo de consentimento livre e esclarecido foi devidamente preenchido de próprio punho pelo paciente, sendo posteriormente codificado para que a qualquer momento o participante pudesse excluir-se da pesquisa. No ano de 2011, 394 militares recrutas com idade de 18 anos foram incorporados ao serviço militar obrigatório no 2º Batalhão de Infantaria de Selva. A perspectiva do estudo era examinar 100 por cento desta população. Todavia, por diferentes razões que causaram indisponibilidade de presença aos exames, 246 indivíduos participaram ativamente deste estudo. Para a obtenção dos dados, foi formatado um instrumento de coleta de dados constando idade, dados obtidos acerca do exame clínico oral do paciente, bem como, foram levantadas informações sobre hábitos de higiene oral de cada recruta e frequência de visita ao dentista. Este instrumento já foi analisado previamente por outros pesquisadores e após sua validação, o mesmo foi aplicado. Após apreciação e aprovação do projeto de pesquisa pelos comandantes da Companhia de Comando e Apoio de Selva e da Organização Militar, o estudo R E B O M I 71 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I proposto foi realizado durante o período de abril a setembro do ano de 2011. Individualmente, os militares eram examinados e entrevistados por odontólogos oficiais, no gabinete odontológico do Batalhão, em horários previamente agendados, devidamente autorizados pelos comandantes dos pelotões e das companhias as quais pertenciam dentro do 2º BIS. O objetivo do agendamento prévio era de não interferir nas atividades diárias dos recrutas e demais atendimentos odontológicos realizados pela equipe de saúde envolvida. Para que não houvesse erros de verificação e comparação, para esta pesquisa foi utilizado um modelo padrão de registro dos índices CPO-D já consagrado em outros estudos publicados nacionalmente. Vale ressaltar que os militares selecionados para serem examinados tinham liberdade de decisão caso não fossem voluntários para participar da pesquisa. Resultados A apuração dos dados coletados foi realizada a partir do software Microsoft Office Excel 2007, no qual foi elaborado o banco de dados do estudo e as tabelas dos resultados. Na análise univariada, obteve-se a prevalência da cárie dentária da população em estudo. Foram calculadas as frequências absolutas e relativas das variáveis qualitativas e as medidas de tendência central e de dispersão das variáveis quantitativas. Tabela 1: Distribuição, em números absolutos e percentuais, de dentes segundo condição da coroa dentária. Belém, 2011. Condição da Coroa 72 n % Hígida Cariada Restaurada com cárie Restaurada sem cárie Perdida por cárie Perdida por outras razões Trauma dentário Não erupcionado Sem informação 4969 1811 97 95 257 1 9 600 33 63.2 23.0 1.2 1.2 3.3 0.0 0.1 7.6 0.4 Total 7872 100.0 Tabela 2: Média, desvio padrão e percentual dos componentes do Índice CPOD. Belém, 2011. Componentes % x (± s) Cariado 7.37 (4.64) 80.3 Restaurado com cárie 0.39 (0.82) 4.2 Restaurado sem cárie 0.39 (1.02) 4.2 Perdido por cárie 1.04 (1.88) 11.3 I-CPOD 9.19 (4.99) 100.0 Tabela 3: Distribuição, em números absolutos e percentuais, da prevalência de cárie medida pelo Índice CPOD. Belém, 2011. n % CPOD = 0 9 3.7 CPOD e” 1 237 96.3 Total 246 100.0 Tabela 4: Distribuição, em números absolutos e percentuais, do tempo da última visita ao dentista. Belém, 2011. Última visita ao dentista n % Menos de seis meses 130 52.8 Entre seis meses e um ano 56 22.8 Mais de um ano 57 23.2 Sem informação 3 1.2 Total 246 100.0 Tabela 5: Distribuição, em números absolutos e percentuais, da frequência diária de escovação dentária. Belém, 2011. Frequência de escovação n % Uma vez 2 0.8 Duas vezes 52 21.1 Três vezes 152 61.9 Quatro vezes 37 15.0 Sem informação 3 1.2 Total 246 100.0 Tabela 6: Distribuição, em números absolutos e percentuais, da frequência diária de uso de fio dental. Belém, 2011. Frequência do uso do fio dental n % Uma vez 116 47.2 Duas vezes 42 17.1 Três vezes 31 12.6 Mais de três vezes 4 1.6 Sem informação 53 21.5 Total 246 100.0 Jan / Dez 2011 R E Tabela 7: Distribuição, em números absolutos e percentuais, da frequência de sangramento gengival após escovação dentária. Belém, 2011. Sangramento gengival Sim Não Sem informação n 87 157 2 % 35.4 63.8 0.8 Total 246 100.0 Tabela 8: Distribuição, em números absolutos e percentuais, da frequência de recebimento de orientação quanto à higiene bucal. Belém, 2011. Recebimento de orientação Sim Não Sem informação n 212 30 4 % 86.2 12.2 1.6 Total 246 100.0 Tabela 9: Distribuição, em números absolutos e percentuais, da opinião sobre a importância de ter bons dentes. Belém, 2011. Importância Saúde Geral Estética Mastigação Menor gasto odontológico Sem informação n 225 4 11 3 3 % 91.5 1.6 4.5 1.2 1.2 Total 246 100.0 Discussão Neste estudo, mais de 20% da amostra está a mais de um ano sem visitar um consultório odontológico. Este é um fato bastante importante para prevenção da cárie dentária e a promoção de saúde. Quase a totalidade dos entrevistados alegou falta de dinheiro e dificuldade de agendamento no serviço odontológico público, como razões para não terem realizado um acompanhamento com maior frequência. É importante ressaltar que todos demonstraram conscientes da importância de cuidar da saúde bucal (Tabela 4). Cerca de 20% dos entrevistados responderam que a escovação se dá somente 2 vezes ao dia. O motivo alegado para esta baixa escovação foi a falta de tempo, durante as atividades de treinamento realizadas dentro do quartel. A questão da frequência de escovação é um fato que deverá ser considerado pelo serviço de atenção odontológica do quartel, pois, a maioria dos recrutas considerou que o faz muitas vezes de maneira errada. Os principais motivos alegados para a não escovação adequada foram: a falta de tempo no decorrer dos treinamentos, com consequente o cansaço no final do dia, além da falta de conhecimento da técnica correta de escovação embora, a totalidade dos entrevistados declarou ter recebido instruções sobre a higiene oral. Frente a esta série de dificuldades apontadas pelos pesquisados há necessidade de uma reavaliação dos métodos de educação em saúde utilizados, no quartel, no sentido de estabelecer uma melhor comunicação entre o profissional de saúde e a população de recrutas, além de estimular a aplicação da técnica de escovação dos dentes de maneira mais adequada (Tabela 5). A tabela 6 aponta em relação ao uso fio dental que a proporção de recrutas que declarou o uso diário ficou em torno de 47%. Este aspecto reforça a importância de uma mudança no paradigma da saúde bucal no Brasil. O modelo de atenção odontológico deve deixar de ser simplesmente curativo e preventivo, para se tornar promotor de saúde. Os adolescentes devem ser estimulados a utilizar o fio dental mais de uma vez por dia como medida preventiva contra a cárie dentária e doenças periodontais. Para isso, estes grupos precisam ser educados sobre a importância do emprego desta estratégia, bem como, sobre as consequências de sua não utilização em uma linguagem que lhes seja acessível e encorajadora. Outra questão a ser abordada é o fato do recruta não levar o fio dental incluso no seu kit de higiene bucal para o quartel. Muitos destes apontaram a falta de dinheiro para a aquisição deste material como sendo o principal motivo de sua não utilização. Uma proposta para o aumento da frequência diária do uso de fio dental entre os recrutas seria a disponibilização deste no refeitório (Tabela 6). Os dados encontrados no presente estudo parecem confirmar a tendência apontada por OLIVEIRA (2000) de redução da prevalência de cárie no Brasil. Uma comparação entre os resultados alcançados neste es- B O M I 73 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I tudo e os assinalados em outros levantamentos realizados na idade de 18 anos permite observar uma queda de 47% na média do CPO-d encontrada nos anos de 1986 (Ministério da Saúde) e 2003 (BPEB). A situação encontrada,em relação às médias de dentes obturados e perdidos, foi a mesma encontrada em diferentes estudos (FURLANI, 1993; PERES et al, 2000; NADANOVSKY, 2000). Estes resultados reforçam a relação entre a baixa renda e o risco à cárie dentária assinalada em diversos estudos (FURLANI, 1993; PERES et al, 2000; MOURA et al, 1996; NADANOVSKY, 2000). Os níveis socioeconômicos menos privilegiados têm maior proporção de dentes cariados, além de um maior número de elementos perdidos, bem como, um menor número de restaurações em comparação com os grupos privilegiados (PETERSEN, 1997). Esta situação é justificada pelo fato de que as pessoas com um nível socioeconômico mais elevado têm um melhor acesso à atenção odontológica, e, portanto, possuem suas necessidades de tratamento satisfeitas, além de possuírem uma melhor consciência sobre a doença cárie e sua prevenção, bem como, uma alimentação mais saudável. tos, cabos e soldados da Seção de Saúde mensalmente, e seriam abordados casos clínicos, técnica de higiene bucal através de recursos áudios-visuais. Após cada palestra seria feita a evidenciação de placa através de pastilhas mostrando, assim, para o recruta onde ele não está escovando da maneira correta. Em seguida seria feita uma escovação supervisionada. Aqueles recrutas que persistissem na má higienização seriam encaminhados para o consultório odontológico do batalhão, para um acompanhamento mais seletivo, juntamente com o cirurgião-dentista. Para obter êxito deve existir a participação ativa de cada um, mediante a formação de hábitos adequados, pois favorecerá sobremaneira o desenvolvimento de atitudes subordinadas ao binômio epidemiologia prevenção que, deve sobrepor-se ao binômio diagnóstico-tratamento. Conclusão A população estudada apresenta elevados índices de cariados e obturados sugerindo que a prevenção não está sendo disponibilizada para esta população. Isto torna necessário um maior investimento em atividades promocionais e preventivas. Referências Proposta de estratégias alternativas para o serviço odontológico do BPEB Diante da situação encontrada procurou-se criar estratégias que mantivessem o atendimento clínico realizado, mas que fossem educativas e promotoras da saúde ao mesmo tempo. As propostas são: • Criar oficinas onde os soldados que líderes de cada pelotão seriam treinados pelos dentistas, e após estarem aptos, ajudariam na prevenção através de palestras mensais sobre a higiene bucal, a importância do flúor, conscientizando-os assim, da importância e necessidade da adoção das medidas de higiene preconizadas; • Realizar palestras sobre hábitos alimentares, no sentido de orientar que determinados alimentos prejudicam a saúde bucal por terem muita influência na formação da placa bacteriana. Estas palestras seriam ministradas pelos Tenentes Dentistas e seus sargen74 ABOPREV. Promoção de Saúde Bucal. 3 ed. São Paulo: Editora Artes Médicas, 2003. ABOUD, A.B.; PATUSSI, M.P. Levantamento Epidemiológico em saúde bucal Distrito Federal – 1997. Revista Ação Coletiva. 1998;1(2): 7-16 ANTUNES, J.L.F.; FRAZÃO, P.; NARVAI, P.C.; BISPO, C. M.; PEGORETTI, T. Spatial analysis to identify differentials in dental needs by area-based measures. 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Neste aspecto, a solução irrigadora empregada tem importância crucial, uma vez que deverá promover ação antimicrobiana e ser biologicamente compatível com os tecidos adjacentes. Estudos mostram que a combinação Hipoclorito de Sódio / EDTA não atinge 100% de eficácia nesta função. Neste contexto, o MTAD (solução composta de antibiótico, ácido e detergente) apresenta inúmeras vantagens, que foram abordadas neste trabalho, bem como suas desvantagens , formas de utilização e associação com outras substâncias. Palavras chave: solução irrigadora, antimicrobiano, detergente, ácido. Abstract Some factors may decisively influence the successor failure of endodontic treatment, one of themis the abilitytore move the debrisleftin the canalduring instrumentation. In this respect, the irrigating solution usedis of critical importance, since its hould promote antimicrobial actionand bebiologically compatible with the surrounding tissues. Studies show that the combination of sodium hypochlorite / EDTA is not 100% effective in this role. In this context, the MTAD (solution compose dofantibiotics, acid and detergent) has many advantages, which will bead dressedin this work, as well asitsdis advantages, uses and combination with other substances. Key-words: irrigation solution, antimicrobial, detergent, acid. 76 Jan / Dez 2011 Introdução O processo de sanificação proporcionado pela limpeza e modelagem do canal radicular, com a utilização de substâncias irrigadoras antimicrobianas, promove o controle microbiológico do canal radicular, sendo o fator de maior importância na prevenção e cura das alterações endodônticas. Estudos clínicos demonstram redução significante na população bacteriana no sistema de canais radiculares após a utilização de substâncias irrigadoras antimicrobianas (SIQUEIRA et al, 2002). Em muitos casos, não se faz possível a total eliminação destes microrganismos do sistema de canais radiculares, devido à resistência de algumas espécies bacterianas aos procedimentos de desinfecção (PETERS et al, 2002) e a deficiência de uma limpeza ideal através dos métodos aplicados. O uso de soluções irrigadoras no preparo químicomecânico melhora a eliminação de bactérias e facilita a remoção de tecidos necróticos e debris do interior do canal radicular. Essas substâncias desempenham ações químicas e físicas, junto com a ação mecânica dos instrumentos endodônticos. Várias substâncias vêm sendo testadas, visando encontrar uma solução irrigante que possa substituir o NaOCl, dentre elas temos o MTAD, introduzido por Torabinejad e colaboradores em 2003, que combina um antibiótico (Doxiciclina), um agente quelante (Ácido cítrico) e um detergente (Tween-80). Revisão de Literatura Torabinejad et al, em 2003, investigaram o efeito do uso do MTAD como nova solução irrigadora final da superfície dentinária de canais radiculares instrumentados com relação à remoção de smearlayer e à desinfecção do Sistema de Canais Radiculares. O estudo comparou a ação da água destilada, de NaOCl a 5,25%, de EDTA a 17% e de MTAD quanto à presença ou ausência de smearlayer e à quantidade de erosão nas paredes do canal radicular de cada amostra, após a observação no MEV. Os resultados mostraram que MTAD é uma solução efetiva na remoção do smearlayer e não altera significativamente a estrutura dos túbulos dentinários, quando os canais são irrigados com NaOCl, seguido de uma irrigação final com MTAD. R E Zhang et al, em 2003,examinaram a citotoxidade do MTAD comparando com irrigantes e de medicamentos de uso geral. Os materiais de teste usados neste estudo foram o eugenol, água oxigenada de 3%, 5.25% NaOCl, REDTA Irrigante aquoso, Peridex (digluconato de clorexidina a 0,12%), Pasta Pulpdent (CaOH²) e MTAD, na qual contendo doxiciclina, ácido cítrico, e Tween 80. Os fibroblastos L929 foram crescidos em placas de cultura e foram colocados em contato com várias concentrações de irrigantes e de medicações do teste. A citotoxidade destes materiais foi avaliada 24 h após a incubação usando o ensaio de MTT. Baseado nos resultados do teste parece que MTAD é menos citotóxicoque as substâncias empregadas. Em 2003, Shabahanget al investigaram a habilidade do MTAD de desinfetar o canal radicular contaminado com saliva e compararam sua eficácia à de NaOCl. Baseado nos resultados, o MTAD se mostrou mais eficaz. Chong, em 2004, revelou que MTAD dissolve componentes inorgânicos e alguns componentes orgânicos do smearlayer. Entretanto, o hipoclorito de sódio é necessário para ajudar o MTAD completamente em remover o smearlayer. Mostrando muitas vantagens citadas no estudo. Kho e Baumgartner, em 2006, compararam a eficácia antimicrobiana da irrigação com o 1.3% NaOCl/ Biopure MTAD contra a irrigação com 5.25% NaOCl/ 15% EDTA nos 5 mm aquém do ápice contaminadas com Enterococcusfaecalis. Eles demonstraram que não há nenhuma diferença na eficácia antimicrobiana para a o hipoclorito a 5.25% / 15% EDTA. Giardino et al, em 2006,testaram e compararam a tensão superficial de quatro irrigantes endodônticos comuns: EDTA a 17%, Cetrexidin, SmearClear, hipoclorito de sódio a 5.25%, com a tensão superficial de MTAD e de Tetraclean. O hipoclorito de sódio a 5.25%, e o EDTA a 17% tiveram a tensão de superfície mais elevada, visto que Cetrexedin e Tetraclean mostraram a mais baixa tensão de superfície valor. Ambos os irrigantes novos, MTAD e Tetraclean, são capazes de remover o smearlayer. Clegg et al, em 2006, avaliaram a eficácia de concentrações diferentes de hipoclorito de sódio, clorexidina B O M I 77 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I 78 a 2% e BioPure MTAD em biofilmes cultivados em ápices in vitro. A análise da micrografia eletrônica de exploração (SEM) mostrou que NaOCl a 6% e NaOCl a 3% são capazes de interromper e remover o biofilme; NaOCl a 1% e NaOCl a 1% seguido por MTAD foram capazes de interromper o biofilme, mas não eliminaram as bactérias. Concluíram que o hipoclorito a 6% seguido por BioPure MTAD eram os únicos irrigantes capazes de render bactérias não viáveis, como remover fisicamente o biofilme. Dunavantet al, em 2006, encontraram uma diferença significativa entre NaOCl a 1% e 6% e todos os agentes restantes, incluindo a clorexidina a 2%, o REDTA, o BioPure MTAD e SmearClear. Baumgartner et al (2007) pegaram vinte pares bilaterais de dentes homólogos humanos e esses dentes foram incubados com Enterococcusfaecalis por 4 semanas, com o objetivo de comparar a eficácia antimicrobiana de 1.3% NaOCl/BioPure MTAD contra 5.25% NaOCl/15% EDTA para a irrigação dos canais radiculares. Amostras bacterianas foram coletadas após a instrumentação/irrigação e após a ampliação adicional do canal. Esta investigação mostrou a desinfecção consistente de canais radiculares contaminados com o uso de 5.25% NaOCl/15% EDTA. Davis et al (2007) investigaram a ação antimicrobiana de Dermacyn, BioPure MTAD, clorexidina à 2%, e hipoclorito de sódio a 5.25% (NaOCl) de encontro ao Enterococcusfaecalis in vitro. Dezoito placas de Petri com ágar de BHI foram inoculadas com o E. faecalis. Cada placa de Petri teve cinco discos de papel saturados e colocados. Quatro dos discos foram saturados com uma solução diferente do teste, e o último disco de papel inserido como o controle e eram saturados com água destilada estéril. As placas foram distribuídas aleatoriamente em dois grupos. O grupo 1 foi incubado aerobicamente e o grupo 2 foi incubado anaerobicamente por 48 horas em 37°C. BioPure MTAD mostrou significativamente mais zonas da inibição microbiana do que 5.25% NaOCl, 2% CHX, e Dermacyn. Ghoddusi et al., em 2007, avaliaram o efeito do MTAD como irrigante final na infiltração bacteriana coronal de canais radiculares obturados com guta-percha e dois cimentos endodônticos convencionais: O AH-Plus e Rickert. Foi observada a redução da recontaminação dos canais radiculares com a irrigação de EDTA ou MTAD mais do que a irrigação com o Hipoclorito de sódio sozinho. Concluíram que o MTAD é eficaz como o EDTA em reduzir a infiltração bacteriana coronal quando usado a guta-percha com AH-Plus. Em 2007, Krause et al, compararam a eficácia antimicrobiana de MTAD, doxiciclina, ácido cítrico e NaOCl de encontro ao E. faecalis e foram usados dois modelos in vitro: um dente bovino e um modelo com zona de inibição. No dente bovino, o NaOCl e a doxiciclina foram mais eficazes na inibição do E. faecalis do que MTAD e ácido cítrico aproximadamente numa profundidade de 100 um em túbulos e o NaOCl foi mais eficaz do que outros irrigantes em aproximadamente 250 um em túbulos. No modelo com zona de inibição, a doxiciclina foi mais eficaz que MTAD, NaOCl ou ácido cítrico. Discussão O sucesso do tratamento endodôntico reside na eliminação ou na máxima redução possível da população microbiana do interior do sistema de canais radiculares. Com o preparo biomecânico, consegue-se remover parte das bactérias alojadas no interior dos túbulos, mas não sua totalidade. Por essa razão, é extremamente necessário o uso de uma substância irrigadora auxiliar. A utilização destas substâncias, como coadjuvantes na desinfecção do sistema de canais radiculares, reduz consideravelmente o número de microorganismos no interior do sistema de canais. A escolha da solução irrigadora depende das propriedades físicas e químicas que as qualifiquem para as seguintes finalidades: promoção da dissolução tecidual; eliminação ou redução máxima de microorga-nismos e lubrificação e suspensão de detritos oriundos da instrumentação. Não há substância irrigadora que apresente todas as propriedades necessárias a uma solução ideal; sendo assim, este estudo de revisão de literatura se propôs a avaliar a atividade antimicrobiana do MTAD, na eliminação de E. faecalis, organizado em biofilme. Baseado nos resultados de testes foi concluído que MTAD é menos citotóxico, comparado com irrigantes Jan / Dez 2011 R E e medicamentos de uso geral em Endodontia. (ZHANG et al, 2003). Outro estudo mostrou que o MTAD foi mais eficaz que o hipoclorito de sódio a 5,25% em erradicar as bactérias dos canais radiculares contaminados (SHABAHANG et al, 2003) e de encontro ao E. faecalis (CHONG, 2004). Segundo Giardino et al, 2006, ambos os irrigantes novos, MTAD e Tetraclean, são capazes de remover o smearlayer. Já Davis et al, 2007, concluíram que BioPure MTAD mostrou significativamente mais zonas de inibição microbiana do que NaOCl a 5,25%, CHX a 2% e Dermacyn. O MTAD também se mostrou eficaz como o EDTA em reduzir a infiltração bacteriana coronal quando usado guta-percha com AHPlus (GHODDUSI et al, 2007). Já por outro lado, num modelo com zona de inibição proposto por Krause et al, 2007, a doxiciclina foi mais eficaz que MTAD, NaOCl ou ácido cítrico, concluindo que nenhum dos irrigantes puderam erradicar o E. faecalis da dentina dos canais radiculares. Outros estudos avaliaram que o hipoclorito de sódio a 1% seguido por MTAD foram capazes de interromper o biofilme, mas não eliminaram as bactérias (CLEGG et al, 2006) e que não há nenhuma diferença na eficácia antimicrobiana para a irrigação com 5,25% NaOCl/15% EDTA contra a irrigação com 1,3% NaOCl/BioPure MTAD nos 5 mm apicais das raízes contaminadas com E. faecalis (KHO E BAUMGARTNER, 2006). No quesito remoção do smearlayer a irrigação com MTAD necessita da complementação com irrigação de hipoclorito de sódio (CHONG, 2004). Conclusão De acordo com a maioria dos estudos citados, estudos clínicos estão em andamento para determinar a segurança e eficácia do MTAD como um irrigante endodôntico final e sua capacidade de remoção do biofilme bacteriano. Baseando-se na revisão da literatura dos estudos discutidos podemos chegar às seguintes conclusões: 1) Os efeitos solubilizadores de MTAD para a polpa e a dentina são semelhantes aos do EDTA. A principal diferença entre as ações dessas soluções é uma alta afinidade de ligação da doxiciclina, presente no MTAD, para a dentina,comprovado no estudo realizado por Torabinejad. 2) MTAD mostrou-se tão eficaz quanto o hipoclorito de sódio a 5,25 % e significativamente mais eficaz do que o EDTA. 3) MTAD é significativamente mais eficaz na destruição de E. faecalis em relação ao NaOCl quando estas soluções são diluídas. Já o EDTA não exibe nenhuma atividade antimicrobiana. 4) Quanto à toxicidade, o MTAD apresenta-se menos citotóxico que o eugenol, hidróxido de cálcio e o hipoclorito a 5,25 %. Entretanto é mais citotóxica do que NaOCl a 2,63 por cento, e às concentrações abaixo desta. De acordo com todos esses estudos, MTAD parece ser um irrigante intracanal excelente se usado de acordo com o protocolo clínico.É melhor do que o EDTA em matar as bactérias e menos citotóxico do que a maioria dos irrigantes. Esta nova solução irrigadora pode ajudar a aumentar a taxa de sucesso do tratamento endodôntico, em canais radiculares infectados. B O M I Referências BAUMGARTNER, J. C.; JOHAL, S.; MARSHALL, J. G. Comparison of antimicrobial efficacy of 1.3 % NaOCl/BioPure MTAD to 5.25 % NaOCl/15% EDTA for root canal irrigation. J Endod., v. 33, n. 1, p. 48-51, January. 2007. CLEGG, M. S., et al. The effect of exposure to irrigant solutions on apical dentin biofilms in vitro. J Endod., v. 32, n. 5, p. 434-437, May. 2006. CHONG, C. MTAD. Northwest Dent., v. 83, n. 3, p. 23-4, May-Jun. 2004. DAVIS, J. M.; MAKI, J.; BAHCALL, J. K. An in vitro comparison of the antimicrobial effects of various endodontic medicaments on Enterococcus faecalis. J Endod., v. 33, n. 5, p. 567-569, May. 2007. DUNAVANT, T. R., et al. Comparative evaluation of endodontic irrigants against Enterococcus faecalis biofilms. J. Endod., v. 32, n. 6, p. 527-531, June. 2006. GIARDINO, L.; AMBU, E.; BECCE, C.; RIMONDINI, L.; MORRA, M. Surface tension comparison of four commun root canal irrigants and two new irrigants containing antibiotic. J Endod., v. 32, n. 11, p. 1091-1093, November. 2006. GHODDUSI, J., et al. An evaluation of microbial leakage after using MTAD as a final irrigation. J Endod., v. 33, n. 2, p. 173-176, February. 2007. KHO, P.; BAUMGARTNER, J. C. A Comparison of the antimicrobial efficacy of NaOCl/ BioPure MTAD versus NaOCl/EDTA against Enterococcus faecalis. J Endod., v. 32, n. 7, p. 652-655, July. 2006. KRAUSE, T. A.; LIEWEHR, F. R.; HAHN, C. The antimicrobial effect of MTAD, sodium hypochlorite, doxycycline, and citric acid on Enterococcus faecalis. J Endod., v. 33, n. 1, p. 28-30, January. 2007. PETERS, L.B., et al. Effects of instrumentation, irrigation and dressing with calcium hydroxide on infection in pulpless teeth with periapical bone lesions. IntEndod J., v. 35, p. 13-21, 2002. SHABAHANG, S.; POURESMAIL, M.; TORABINEJAD, M. 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Federal Fluminense, Nova Friburgo – UFF/NF 3. Profª Adjunta de Periodontia, Univ. Federal Fluminense, Nova Friburgo – UFF/NF Endereço para correspondência: Dra. Gabriela Alessandra da Cruz Galhardo Camargo, R. Dr Sylvio Hernrique Braune, 22, Centro – CEP 28625-650 – Nova Friburgo – Rio de Janeiro, Brasil. Tel: (55-22) 2528-7168. e-mail: [email protected] Resumo O objetivo deste trabalho foi avaliar, através de revisão de literatura, a possibilidade de realização do tratamento ortodôntico em pacientes com doença periodontal e a consequente necessidade da instalação e manutenção de higiene bucal satisfatória. A realização de avaliação periodontal prévia ao tratamento ortodôntico é um pré-requesito para o sucesso da correção ortodôntica, contribuindo para manutenção da saúde periodontal e melhoria estética e funcional. Caso contrário pode contribuir para futuro colapso dos tecidos de suporte periodontal. O tratamento ortodôntico deverá ser iniciado em pacientes sem doença periodontal ativa, portanto após efetivo controle da doença periodontal e na ausência de inflamação e de biofilme dental. O paciente deve ser orientado quanto à higiene oral durante todo o tratamento ortodôntico e deve ser submetido a controles periodontais periódicos. Desta maneira, com tratamento interdisciplinar, é possível solucionar casos devolvendo função e estética ao paciente, assim como melhorar a auto-estima. Palavras-chave: Tratamento ortodôntico, doença periodontal. Abstract Recebido para publicação em 2 de fevereiro de 2012 e aceito em 8 de fevereiro de 2012. The objective of this study was to evaluate the orthodontic treatment possibilities in patients with periodontal disease according to literature review. The periodontal evaluation is an important step for the success of orthodontic treatment and it can contribute to the maintenance of periodontal health and aesthetic and functional improvements. Otherwise it may contribute to future collapse of periodontal tissues. Orthodontic treatment should be started in patients without periodontal disease or after effective control and absence of inflammation and plaque. Patients should be oriented for self-control of plaque and periodic visits to periodontist during orthodontic treatment. Thus, interdisciplinary treatment should solve restoration function and Key-words: Orthodontic treatment, periodontal disease. 80 Jan / Dez 2011 Introdução O tratamento interdisciplinar entre periodontista, ortodontista, clínico geral e outras especialidades odontológicas requer harmoniosa cooperação para um resultado estético e funcional satisfatório. (TOPOUZEUS e DIAMANTIDOU, 2003). O planejamento ortodôntico somente pode ser iniciado após criteriosa avaliação do periodonto que deve permanecer saudável durante todo o tratamento ortodôntico (VANARSDALL, 1999) . A avaliação do periodonto deve ser realizada de maneira criteriosa, observando-se o nível clínico de inserção, a profundidade de sondagem, presença de recessões gengivais, mobilidade dental, alterações nas áreas de bifurcação, assim como alterações mucogengivais e hábitos de higiene oral. A instalação de aparelhos ortodônticos fixos é um fator de risco a mais para a saúde periodontal visto que a presença dos acessórios ortodônticos nas unidades dentárias funciona como retentor de biofilme, podendo comprometer a habilidade do paciente em higienizar os dentes adequadamente (OLYMPIO et al., 2004). Em contrapartida, a Ortodontia pode ser uma importante ferramenta para o tratamento periodontal, proporcionando um melhor prognóstico para a manutenção da dentição do paciente. O tratamento ortodôntico é um dos meios de melhorar os fatores locais da doença periodontal, modificando uma região específica do processo da doença periodontal e melhorando a manutenção e limpeza dos dentes a longo prazo (CIRELLI et al., 2003). O presente estudo teve como objetivo analisar, mediante revisão bibliográfica, a função de avaliação periodontal prévia ao tratamento ortodôntico e a consequente instalação e manutenção de uma higiene bucal satisfatória. Revisão de Literatura A doença periodontal possui etiologia multifatorial e acomete os tecidos que compõem o periodonto, sendo uma das principais causas de perda de dentes em adultos (MOSS et al., 1996). Porém, ela também pode ocorrer na fase de dentadura mista onde fatores como erupção, dentes mal posicionados, relações intermaxilares alteradas e hábitos nocivos facilitam a retenção R E B de biofilme e assim o aparecimento da doença (ORRICO et al., 1997). Segundo Rego e Silva (2004), os fatores etiológicos ou fatores de risco à doença periodontal podem ser locais ou sistêmicos. Os locais são aqueles que facilitam o acúmulo de biofilme ou dificultam a sua remoção e os sistêmicos são aqueles que interferem sistemicamente nos mecanismos de defesa do hospedeiro tornando-o mais susceptível à instalação e progressão da doença periodontal. Podem ser considerados fatores locais: biofilme dental, cálculo, manchas extrínsecas, higiene oral deficiente, dieta e nutrição, anomalias de forma e posição dentárias, restaurações iatrogênicas, trabalhos protéticos, acessórios ortodônticos, má oclusão, ausências dentárias, escovação traumatogênica, hábitos viciosos e bruxismo. Os fatores sistêmicos são: tabagismo, ansiedade, aspectos genéticos, aspectos hormonais e medicamentos diversos. O movimento dentário é uma ferramenta para tratamento de alguns fatores locais, podendo modificar a sítio-especificidade no processo de doença e realçar o potencial para manutenção. Com os dentes alinhados, ocorre menor sangramento sob sondagem, e diminui os procedimentos de raspagem e alisamento radicular com o objetivo de controlar ou prevenir futura destruição periodontal (VANARSDALL, 1999). O movimento ortodôntico, ao corrigir má-oclusões que apresentem apinhamentos severos, giroversão e inclinação dental, propicia diminuição no acúmulo de restos alimentares e na formação de biofilme dental nas superfícies dentárias, além de melhorar as condições de higienização. Indiretamente, por corrigir problemas estéticos, melhora a auto-estima dos pacientes favorecendo a motivação em participar na preservação de sua dentição e saúde bucal (CIRELLI et al., 2003). Entretanto, os acessórios utilizados durante o tratamento ortodôntico fixo também são considerados fatores predisponentes da doença periodontal, pois dificultam a higiene oral, resultando em um aumento de bactérias periodontais na flora do sulco dentogengival. A intensidade da inflamação periodontal depende da interação entre as bactérias e o mecanismo de defesa do paciente (KOUNOUPIS, TSALIKIS e DANGALIS, 2006). O M I 81 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I 82 Para Kokich (1996), o tratamento ortodôntico pode causar perda de papila, discrepâncias gengivais marginais e hiperplasia gengival, resultando em um aspecto de sorriso gengival ao paciente. A correção ortodôntica com aparelhos fixos pode reduzir a fixação do biofilme no local, mas também, ocasionar alterações inflamatórias e hiperplásicas no periodonto, redução do suporte ósseo e fissuras gengivais. A maioria dessas alterações é reversível após a remoção do aparelho e pode ser evitada com um controle efetivo da higienização antes e durante o tratamento (ORRICO et al., 1997). Os acessórios ortodônticos colados nos dentes dificultam a higienização e retém biofilme podendo desmineralizar o esmalte e causar cáries e gengivites. O profissional deve orientar e motivar o paciente quanto à higienização e só deverá começar o tratamento quando esta estiver adequada. O tratamento deverá ser realizado em concomitância com o periodontista nos casos em que a higiene bucal piorar ou existir o estabelecimento de doenças periodontais extensivas (OLYMPIO et al., 2006). Para Moyers, Vig e Fonseca (1991), manter uma boa higiene oral em pacientes com história de doenças periodontais pode ser um problema, devido à higienização ficar ainda mais difícil por causa da presença de acessórios ortodônticos, sendo que a frequência da reavaliação periodontal e a terapia de higiene oral dependem da severidade dos danos da doença e da persistência do paciente. Aparelhos fixos dificultam a manutenção da higiene oral e resultam no acúmulo de biofilme dental. A retenção de biofilme ao redor dos acessórios ortodônticos fixos leva à desmineralização do esmalte devido à produção de ácidos pelas bactérias do biofilme (TURKKAHRAMAN et al., 2005). O tratamento ortodôntico em pacientes com doença periodontal não é contra-indicado, porém, há uma maior necessidade de se avaliar a condição do periodonto e estabelecer o plano de tratamento adequado para manter a saúde periodontal durante o movimento dentário (ROCHA et al., 2005). Antes de iniciar o tratamento ortodôntico, o periodonto deve ser preparado com raspagem e alisamento radicular, devem ser feitos intervalos regulares para manutenção periodontal e monitoramento dos níveis de inserção e sangramento (VANARSDALL, 1999). Segundo Olympio et al. (2006), não é mais admissível que pequenas desmineralizações e gengivites sejam o preço de um sorriso funcional e estético, uma vez que os profissionais vêem seus pacientes regularmente podendo ensiná-los a prevenir e controlar as doenças gengivais. A avaliação periodontal prévia ao tratamento ortodôntico deve constar exame clínico com observação da aparência gengival, índice de biofilme dental, profundidade de sondagem, nível clínico de inserção, índice de sangramento e supuração, anormalidade mucogengival, mobilidade dentária e grau de recessão gengival (WAGENBERG, 1988). Sanders (1999) propôs protocolos sequenciais. O primeiro protocolo, antes do tratamento ortodôntico, consiste em uma cópia do mapeamento periodontal do paciente, radiografias periapicais e bitewing e uma declaração por escrito do periodontista dizendo que o paciente não possui doença periodontal ativa e pode começar o tratamento com segurança. No segundo, durante o tratamento, o paciente deve ser reavaliado em busca de sinais de recorrência da doença periodontal, dependendo do resultado, dessa reavaliação, novas reavaliações deverão ser feitas em intervalos que podem variar de seis semanas a seis meses. No último, após o tratamento, muitos pacientes adquirem técnica de escovação agressiva, então, quando o aparelho for removido uma nova instrução de higiene oral deve ser feita a fim de prevenir a recessão gengival por um trauma de escovação. Ultimamente muitos pacientes adultos estão procurando pelo tratamento ortodôntico, porém eles ainda compõem uma pequena porção dos adultos que poderiam beneficiar-se de tal terapia. Isso se explica pela falta de consciência que esse tratamento pode ser executado em adultos, apreensão sobre possível dor ou incômodo e devido à preocupação com aceitação social (BUTTKE e PROFFIT, 1999). Zhang, McGrath e Hägg (2008) concluíram que a qualidade de vida piora durante o tratamento ortodôntico devido à sintomas orais, como dor e desconforto, e devido às limitações funcionais, como alterações na fala. Jan / Dez 2011 R E Normalmente o tratamento ortodôntico de pacientes adultos possui algumas limitações devido à condição clínica pré-existente, dentre estas estão a perda exagerada do suporte ósseo e a dificuldade de se obter uma ancoragem satisfatória devido às perdas de várias unidades dentárias. No entanto, é possível tratar de maneira eficiente esses casos, com uma abordagem multidisciplinar e adequação da mecânica ortodôntica à necessidade de cada indivíduo (CALHEIROS et al., 2005). O princípio básico no tratamento de pacientes com apoio ósseo reduzido é a aplicação de forças mais leves, compatíveis ao grau de inserção óssea do pacientes. Intervalos mais longos entre as ativações estão indicados em pacientes adultos devido à redução do ritmo da atividade tissular inerente ao movimento ortodôntico. Essas forças devem ter baixa intensidade porque são distribuídas a uma superfície diminuída de ligamento periodontal (TOPOUZEUS e DIAMANTIDOU, 2003). Dentes com suporte ósseo reduzido, o centro de resistência move-se apicalmente, portanto o estabelecimento do momento de força deve ser preciso para evitar inclinações não controladas, aumentando a tendência de reabsorção radicular e do tempo de tratamento (WILLIAMS et al., 1982). Existindo um controle de biofilme dental e respeitando os limites biológicos, as consequências da movimentação ortodôntica em indivíduos com periodonto reduzido, porém saudável, são irrelevantes. A área superficial de raiz infra-óssea está relacionada com a magnitude da força a ser utilizada e esta deverá ser suave e intermitente (SANDERS, 1999; THILANDER, 1999). Em casos de pacientes adultos comprometidos periodontalmente, o tratamento deve ser interdisciplinar para que resultados bem sucedidos sejam obtidos. O tratamento envolvendo o ortodontista, periodontista, implantodontista e o protesista é fundamental para que os objetivos estéticofuncionais sejam atingidos (FENG et al., 2004). A terapia ortodôntica deve estabelecer uma boa oclusão, consequentemente, saúde do periodonto, estética dental e facial (KOKICH, 1996). A movimentação dentária pode trazer muitos benefícios ao periodonto se estiver inserido numa abordagem interdisciplinar, com estabilidade periodontal, manutenções regulares e forças controladas e determinadas, trazendo um ganho de inserção periodontal (LIMA e BARBOSA, 2007). A maioria das alterações anatômicas e estruturais da gengiva inserida e mucosa alveolar ocorrida durante a movimentação ortodôntica está vinculada à condição clínica anatômica pré-existente (CHAMBRONE e CHAMBRONE, 2004). O tecido gengival fino e a presença de raízes proeminentes em relação à cortical óssea alveolar podem colaborar para o agravamento da resposta periodontal ao movimento ortodôntico, dependendo da direção do mesmo (YARED, ZENOBIO e PACHECO, 2006). Geralmente, o tratamento periodontal cirúrgico é feito após o tratamento ortodôntico uma vez que, este remodela o processo alveolar diminuindo, muitas vezes, a necessidade de cirurgia periodontal (MOYERS, VIG e FONSECA, 1991). Porém, áreas de gengiva hiperplásica podem interferir na movimentação ortodôntica devendo ser removidas cirurgicamente antes do tratamento ortodôntico. Freios de inserção devem ser removidos quando são causadores de alterações periodontais ou quando interferem ou causam recidivas de movimentos dentários (WAGENBERG, 1988). A cirurgia prévia ao movimento ortodôntico deve ser realizada apenas para eliminação de hiperplasias e para realização de retalhos para acesso. No entanto, estudos indicam que pacientes com faixa de gengiva inserida estreita apresentam maior risco à recessão gengival devendo fazer uso de enxerto gengival antes da movimentação, quando necessário (CIRELLI et al., 2003). A recessão gengival é encontrada clinicamente com frequência na população em geral, sendo muito observada em pacientes ortodônticos. Seu desenvolvimento está associado com a anatomia, inflamação e fatores traumáticos. Sua presença, na maioria das vezes, perturba os pacientes devido à estética e problemas funcionais como hipersensibilidade e cáries radiculares. Como a recessão é muito observada durante o tratamento ortodôntico é necessário avaliar o risco de desenvolvimento desta antes, durante e após a terapia ortodôntica devendo seguir os seguintes parâmetros: direção do movimento ortodôntico e posição da raiz no processo alveolar (o risco de recessão aumenta quan- B O M I 83 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I 84 do as raízes dos dentes são movidas para fora do osso alveolar durante o movimento ortodôntico vestibular), espessura gengival (pequena espessura de gengiva vestibular em um dente que irá ser movido vestibularmente aumenta o risco), higiene oral (inflamação periodontal relacionada ao acúmulo de bactérias pode acelerar a recessão) e fatores traumáticos como, por exemplo, margem subgengival das restaurações (MARAVELAKIS, 2001). Devido à prevalência e aos problemas clínicos associados à recessão, é de extrema importância conhecer os fatores etiológicos da mesma, sendo considerados durante o diagnóstico, planejamento e realização do tratamento ortodôntico. As características anatômicas como dimensões ósseas e mucogengivais locais devem ser observadas, principalmente a espessura da gengiva marginal, para evitar recessões periodontais. O acúmulo de biofilme é de suma importância na perda do tecido de inserção periodontal. A aplicação de forças ortodônticas em presença de inflamação pode ocasionar fenestrações e/ou deiscências ósseas levando à recessão (YARED, ZENOBIO e PACHECO, 2006). Vanarsdall (1999) afirmou que a falta de controle primário da inflamação, a falta de controle oclusal, raízes curtas ou reabsorção radicular idiopática, associada a impossibilidade de manter dentes individuais em sua nova posição após a movimentação ortodôntica e também quando não for possível assegurar um compromisso restaurador são contra-indicações do tratamento ortodôntico. Alterações histológicas observadas no ligamento periodontal adulto incluem aumento de fibras de colágeno, redução da vascularidade e redução das células progenitoras. O tecido ósseo mostra densidade aumentada de osso cortical, redução do trabeculado ósseo e diminuição de nova formação de osso por unidade de tempo (MELSEN e MOSEKILDE, 1978). Um tempo maior de resposta entre o momento de aplicação da força e a movimentação dentária é vista em adultos em decorrência da atividade celular do ligamento periodontal diminuir e os tecidos se tornarem mais ricos em colágeno, sendo mais fácil formar zonas de hialinização (CIRELLI et al., 2003). Em pacientes com doença periodontal avançada e bolsas profundas é possível realizar a extrusão ortodôntica individual dos dentes, esta diminuirá a profundidade das bolsas, conduzirá a uma topografia óssea e gengival fisiológica, preservando o aparelho de inserção e preparando o paciente periodontalmente a longo prazo (VANARSDALL, 1999). Migração patológica de incisivos com consequente extrusão e vestibularização poderá ocorrer quando a doença periodontal estiver relacionada a uma oclusão traumatogênica, pois esse desequilíbrio entre o suporte periodontal e as forças oclusais proporcionarão alterações em todo o sistema estomatognático. Este dano poderá ser solucionado com intrusão e retração dos incisivos recuperando a estética e função e mantido com o equilíbrio oclusal obtido pelo tratamento ortodôntico. A intrusão controlada leva à diminuição da coroa clínica e da recessão gengival, melhor forma gengival, melhor distribuição de forças oclusais, ganho de inserção se a infecção gengival for eliminada, aproximação da junção cemento-esmalte da crista óssea e remodelação da crista. Contudo, se a intrusão for realizada em pacientes com higiene insatisfatória e inflamação gengival poderá ocorrer formação de bolsa infraóssea e migração apical da inserção, reabsorção óssea, aumento do sulco gengival e redução da altura do processo alveolar (LIMA e BARBOSA, 2007). O tratamento ortodôntico também pode ser realizado como terapia periodontal localizada em pacientes com doença periodontal avançada onde houve uma grande destruição óssea e perda de inserção gengival. A extrusão ortodôntica é capaz de regenerar os defeitos ósseos alveolar horizontal e vertical exigindo menor quantidade de intervenções cirúrgicas. Esse movimento de extrusão forma tecido na direção do movimento, sendo especialmente utilizado em defeitos verticais onde se objetiva a reabilitação com implantes osseointegráveis. Para a utilização dessa técnica deve existir pelo menos um terço do remanescente ósseo apical e esse tratamento não deve exceder 120 dias (MOREIRA, 2002). Para Cirelli et al. (2003), o tratamento ortodôntico pode ajudar a prevenir e interceptar a continuidade da Jan / Dez 2011 R E doença e também funcionar como terapia do ponto de vista periodontal. Porém, para obter esses benefícios, o periodonto deve estar preparado. A prevenção básica é constituída de higiene bucal com dentifrício fluoretado, fio dental, remoção profissional do biofilme dental, aplicação, duas a quatro vezes ao ano, de verniz de clorexidina nas superfícies de risco e aumento da conscientização sobre dieta. Uma limpeza bem feita em pacientes com aparelho fixo deve demorar, pelo menos, dez minutos e o verniz de clorexidina deve ser colocado em volta das bases dos braquetes. Em relação à dieta, deve-se diminuir o consumo de alimentos cariogênicos e também a frequência de ingestão de alimentos, pois o aparelho ortodôntico funciona como retentor de biofilme (OLYMPIO et al., 2006). Gromatzky et al. (1996) realizaram um estudo sobre os efeitos da clorexidina na saúde gengival em pacientes portadores de aparelhos ortodônticos. Os resultados comprovaram que os bochechos diários com clorexidina a 0,12% foram efetivos no combate ao sangramento gengival mostrando que o controle químico do biofilme dentário é um complemento importante na higiene bucal. Porém, se usada por um longo período, a clorexidina pode apresentar efeitos colaterais como manchas nos dentes e na língua, diminuição ou perda do paladar e sensação de queimação da língua (SILVA, 2002). Elias, Pinzan e Bastos (2006) pesquisaram, em 22 jovens portadores de aparelho ortodôntico fixo, os efeitos de um dentifrício contendo flúor/xilitol na diminuição da adesão do biofilme à estrutura dentária e também no índice de sangramento gengival. Os resultados não mostraram diferenças estatisticamente significantes entre o dentifrício contendo xilitol e o que não continha, embora o dentifrício contendo flúor/xilitol tenha proporcionado uma porcentagem de redução do índice de sangramento gengival maior que o dentifrício contendo apenas o fluoreto de sódio, sendo o xilitol uma substância que associada com a higienização mecânica dos dentes torna-os mais lisos e polidos e com menor risco de retenção de biofilme dental, além de remover manchas extrínsecas e melhorar a saúde gengival. Os resultados obtidos com o tratamento ortodôntico em relação ao periodonto devem ser estabilizados atra- vés da terapia periodontal de suporte para minimizar a recidiva das doenças (REGO e SILVA, 2004). Devido a uma menor taxa de aposição óssea, dentições com menor suporte periodontal têm uma maior tendência à recidiva, necessitando de um período mais longo de contenção do que o normal (WILLIAMS et al., 1982). Shirasu, Hayacibara e Ramos (2007) realizaram um estudo que teve como propósito comparar os parâmetros periodontais após a utilização de dois tipos de contenções ortodônticas fixas: a contenção convencional (fio ortodôntico 0,8 mm retilíneo fixado apenas nos caninos contralaterais) e a contenção modificada (fio ortodôntico 0,6 mm com dobras permitindo o livre acesso do fio dental e fixado em todos os dentes do segmento anterior). Participaram da pesquisa quinze voluntários que primeiramente utilizaram a contenção convencional por seis meses. Após um intervalo de quinze dias, foi instalada a contenção modificada, utilizada pelo mesmo período de tempo. Antes de cada fase os voluntários passaram por raspagem e alisamento radicular dos dentes e orientação de higiene bucal. Ao final de cada fase os seguintes parâmetros foram avaliados: índice de biofilme dental, índice gengival e índice de cálculo dentário. Além disso, foi realizada a mensuração do cálculo no fio da contenção e todos os voluntários responderam a um questionário sobre a utilização, aceitação e conforto dos dois tipos de contenções. Como resultado, obteve-se todos os índices maiores para a contenção modificada e todos os voluntários relataram que a contenção convencional foi mais confortável, ou seja, concluiu-se que a contenção convencional apresentou melhores resultados que a contenção modificada, de acordo com parâmetros periodontais estabelecidos, embora esta permitisse o livre acesso ao fio dental. O desconforto e os custos de um tratamento ortodôntico podem afastar alguns pacientes, porém aqueles que o fizerem poderão minimizar a quantidade de terapia dental necessária para solucionar alguns problemas periodontais além de estarem utilizando o método mais conservador (VANARSDALL, 1999). Além disso, proporciona o surgimento de hábitos saudáveis, como higiene bucal e dieta, nos pacientes, devido às consul- B O M I 85 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M tas de ativação e manutenção dos aparelhos, geralmente, por um longo tempo (OLYMPIO et al., 2006). I Discussão Vanarsdall (1999); Rocha et al. (2005); Olympio et al. (2006) relataram a necessidade da instituição de métodos preventivos como higienização, raspagem e alisamento radicular em todos pacientes que irão ser submetidos ao tratamento ortodôntico. Para Moss et al. (1996), a doença periodontal possui vários fatores etiológicos ou de risco, entre eles, fatores locais e sistêmicos, que acometem os tecidos que compõem o periodonto, podendo ocasionar a perda de dentes. Segundo Vanarsdall (1999); Cirelli et al. (2003), a correção ortodôntica propicia um menor acúmulo de restos alimentares e também uma menor formação de biofilme dental uma vez que, com os dentes alinhados, melhor higienização é possível e também, devido a uma melhora na auto-estima, os pacientes tornam-se mais motivados para cuidar da saúde oral. Porém, para Kokich (1996), o movimento dental também pode causar hiperplasia, discrepâncias gengivais marginais e perda de papila, e para Orrico et al. (1997), alterações inflamatórias no periodonto, redução do suporte ósseo e fissuras gengivais sendo que a maioria dessas alterações pode ser reversível após remoção do aparelho ortodôntico. Segundo Turkkahraman et al. (2005); Olympio et al. (2006), os acessórios ortodônticos dificultam a manutenção da higiene oral e retêm biofilme dental, podendo ocasionar desmineralização do esmalte, cáries e gengivites. A intensidade dessa inflamação periodontal, para Kounoupis (2006), vai depender da interação entre as bactérias e o mecanismo de defesa do hospedeiro. De acordo com Buttke e Proffit (1999), o número de pacientes adultos em busca de tratamento ortodôntico vem crescendo ultimamente. Topouzeus e Diamantidou (2003) enfatizaram que geralmente esse tratamento possui algumas limitações devido ao apoio ósseo reduzido, devendo aplicar forças mais leves e em intervalos mais longos. Para Williams et al. (1982), o centro de resistência dos dentes envolvidos com a 86 doença periodontal move-se apicalmente. Assim, de acordo com Thilander (1999), a quantidade de força a ser aplicada vai depender da área de inserida. Segundo Rocha et al. (2005), embora a idade avançada não seja uma contra-indicação ao tratamento ortodôntico, existe uma maior necessidade de se avaliar a condição do periodonto, restabelecendo e mantendo a saúde periodontal durante a movimentação ortodôntica. Feng et al. (2004); Calheiros et al. (2005); Lima e Barbosa (2007), o sucesso pode ser obtido nesses casos se existir uma abordagem multidisciplinar e adequação da mecânica ortodôntica à necessidade de cada indivíduo. Para Moyers, Vig e Fonseca (1991), a fase cirúrgica periodontal deve proceder ao tratamento ortodôntico, pois este pode reduzir a necessidade de cirurgia periodontal. De acordo com Wagenberg (1988), fatores que possam interferir na movimentação ortodôntica devem ser removidos cirurgicamente antes do tratamento ortodôntico. Cirelli et al. (2003) completaram que pacientes com estreita faixa de gengiva inserida devem fazer enxerto gengival, quando necessário, prévio ao tratamento ortodôntico para evitar recessões. Maravelakis (2001) relatou que a recessão gengival é muito encontrada em pacientes ortodônticos sendo necessário avaliar o risco de desenvolvimento desta, antes, durante e após o tratamento ortodôntico, observando a direção do movimento ortodôntico e a posição da raiz no processo alveolar, a espessura gengival, higiene oral do paciente e fatores traumáticos. Para Chambrone e Chambrone (2004), a maioria das alterações anatômicas e estruturais da gengiva inserida e mucosa alveolar, ocorridas durante a movimentação ortodôntica, depende da condição clínica anatômica préexistente, assim, a combinação entre largura do tecido gengival, presença de biofilme dental e ação da força ortodôntica parece ser responsável na perda de inserção dentária. Logo, as dimensões ósseas e mucogengivais locais, principalmente a espessura da gengiva marginal, segundo Yared, Zenobio e Pacheco (2006), devem ser observadas, assim como a presença de inflamação, que pode levar a deiscência óssea ocasionando recessão. De acordo com Vanarsdall (1999), a falta de controle da inflamação, a falta de ajuste oclusal, presença Jan / Dez 2011 R E de raízes curtas, reabsorção radicular, impossibilidade de reter dentes individuais após a movimentação e a falta de um compromisso restaurador são contra-indicações do tratamento ortodôntico. No entanto, Thilander (1999) enfatizou que se existir um controle de biofilme dental e os limites biológicos forem respeitados, as consequências do movimento ortodôntico sobre o periodonto reduzido, são clinicamente insignificantes. Melsen e Mosekilde (1978) afirmaram que modificações ocorrem no ligamento periodontal com o passar do tempo, entre elas, aumento de fibras de colágeno, redução da vascularidade e redução de células progenitoras. Segundo Cirelli et al. (2003), o tempo de resposta entre a aplicação de força e a movimentação dentária é maior em adultos, em decorrência da diminuição da atividade celular do ligamento periodontal. O uso de métodos preventivos para os pacientes submetidos ao tratamento ortodôntico é de grande valia, visto que, essa terapia pode trazer consequências desagradáveis para o periodonto se este não estiver sadio. Olympio et al. (2006) definiram que a prevenção básica deve constar do uso de dentifrício fluoretado, escova interproximal, fio dental, remoção profissional de biofilme dental, aplicação de verniz de clorexidina nas superfícies de risco e controle da dieta. Os métodos químicos são importantes no complemento da higiene bucal, principalmente em pacientes pouco colaboradores. Bochechos diários de clorexidina 0,12% são efetivos no combate ao sangramento gengival, pois inibe a formação de biofilme dental, conforme verificado em pesquisa por Gromatzky et al. (1996). No entanto, Silva (2002) ressaltou que a clorexidina pode apresentar efeitos colaterais se utilizada por um longo tempo. Elias, Pinzan e Bastos (2006) concluíram em sua pesquisa que um dentifrício contendo, além de flúor, xilitol em sua fórmula, associado com a higienização mecânica dos dentes torna-os mais lisos e polidos reduzindo o risco de retenção de biofilme. Williams et al. (1982) relataram que dentições com menor suporte periodontal têm uma maior tendência à recidiva, sendo necessário um tempo maior para o uso de contenção ortodôntica. Rego e Silva (2004) acrescentaram que os resultados obtidos em relação à do- ença periodontal também devem ser estabilizados através de manutenções preventivas periódicas. O tipo de contenção ortodôntica também influi no periodonto na medida em que dificulta a higienização e favorece o acúmulo de biofilme dental. Em uma pesquisa realizada por Shirasu, Hayacibara e Ramos (2007), os resultados mostraram que a contenção convencional é mais confortável para o paciente, e também causa menos problemas periodontais que a contenção modificada apesar desta possibilitar a passagem do fio dental com maior facilidade. Segundo Vanarsdall (1999), apesar de o tratamento ortodôntico causar certo desconforto e também ter um custo, afastando alguns pacientes, ele pode minimizar a quantidade de terapia dental necessária para solucionar alguns casos e também ser mais conservador que outra terapia. Para Olympio et al. (2006), outra vantagem que a terapia ortodôntica apresenta é que devido às consultas de ativação por um longo tempo, o paciente adquire hábitos saudáveis. O tratamento ortodôntico bem planejado, onde antes o paciente é examinado pelo periodontista, avaliando-se a aparência gengival, índice de biofilme dental, profundidade de sondagem, nível clínico de inserção, índice de sangramento e supuração, anormalidade mucogengival, mobilidade dentária e o grau de recessão gengival, só trás benefícios para o periodonto e para o paciente. B O M I Conclusão O tratamento ortodôntico só deve ser iniciado após avaliação e tratamento periodontal, sendo necessária a realização de um controle efetivo da higienização antes e durante o tratamento ortodôntico para que este não venha predispor a doença periodontal. O exame periodontal prévio ao tratamento ortodôntico deve avaliar a condição gengival do paciente, o índice de biofilme e índice de sangramento, a profundidade de sondagem, nível clínico de inserção, mobilidade dentária e grau de recessão gengival para possibilitar o preparo do periodonto, com raspagem e alisamento radicular, tornando-o saudável e apto para o início do tratamento ortodôntico. 87 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I O movimento ortodôntico além de corrigir máoclusões, atua como uma ferramenta na terapia periodontal, permitindo melhor higienização e reduzindo a formação de biofilme, melhorando a saúde do periodonto. Porém, se os cuidados necessários não forem tomados, pode ocasionar alterações inflamatórias e hiperplásicas, redução de suporte ósseo e recessões gengivais. No tratamento ortodôntico de pacientes adultos com suporte periodontal diminuído devido à perda óssea e de várias unidades dentárias, forças leves e intervalos maiores entre as ativações ortodônticas são necessárias já que essas forças são distribuídas a uma superfície menor de ligamento periodontal e a fisiologia tissular em ritmo reduzido. A contenção pós-tratamento deve ser mantida por um longo tempo para conservar os resultados obtidos. Referências BUTTKE, T. M.; PROFFIT, W. R. Referring Adult Patients for Orthodontic Treatment. JADA, v. 130, p. 73-79, 1999. CALHEIROS, A.; FERNANDES, A.; QUINTÃO, C. A.; SOUZA, E. V. Movimentação Ortodôntica em Dentes com Comprometimento Periodontal: Relato de um Caso Clínico. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, v. 10, n. 2, p. 111-118, 2005. CHAMBRONE, L.; CHAMBRONE, L. A. Efeitos Adversos do Tratamento Ortodôntico sobre os Tecidos Mucogengivais. Rev. Periodontia, v. 14, n. 4, p. 30-35, 2004. CIRELLI, J. A.; CIRELLI, C. C.; KIMURA, R.; BAUER, F. 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Professor Associado da disciplina de Prótese Total e Parcial Removível da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pósgraduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFMS; Membro titular da ABOMI 3. Professor Adjunto da disciplina de Prótese Fixa e Oclusão da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFMS; 4. Professor Associado da disciplina de Prótese Fixa e Oclusão da UFMS; Professor Co-orientador do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFMS; Endereço para correspondência: R.15 de novembro, 2701 – Jardim dos Estados – Campo Grande CEP 79020-300 – MS E-mail: [email protected] Resumo Os autores relatam a construção e proservação, após 15 anos, de um elemento dentário em que uma coroa do tipo pivot foi substituída com o reforço de um sobrenúcleo metálico, sem a necessidade de se remover o pino intraradicular, comprovando-se a viabilidade da técnica. Palavras-chave: sobrenúcleo, coroa pivot, proservação. Abstract The authors report the construction and proservation after 15 years of a tooth in which a pivot type crown was replaced with a sobrenucleo metal reinforcement without the need to remove the pin intraradicular, proving the feasibility of technique. Key-words: sobrenúcleo, crown pivot, proservation. Recebido para publicação em 8 de fevereiro de 2012 e aceito em 14 de fevereiro de 2012 89 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I Introdução Proposição As coroas acrílicas espigadas, também denominadas pivot foram por muito tempo o procedimento de escolha para praticamente todos os dentes do arco que apresentavam apenas a parte coronária comprometida, onde ainda se podia manter a raiz dentária (TAMAKI, 1977). Porém a algum tempo deixaram de ser executadas, em virtude do aparecimento de novas técnicas e materiais que as substituíram com vantagens. No entanto, é comum que após alguns anos a remoção destas coroas espigadas faça-se necessário por desgaste da resina acrílica, por recidiva de cárie, infiltração marginal ou deficiência estética funcional (BONFANTE et al, 1986). E freqüentemente o remanescente coronário do pino metálico, por seu caráter retentivo mecânico, não oferece condições para ser preparado como núcleo. Por seu lado a remoção do pino é uma das tarefas mais críticas com a qual o odontólogo se defronta, pois oferece elevado risco de fratura radicular, não dependendo tão somente da habilidade do cirurgiãodentista (CARVALHO Jr, e RAMOS, 1991). Durante essas manobras, existe a possibilidade do profissional deparar-se com acidentes que possam conduzir ao fracasso do tratamento, como perfurações e fraturas dentárias e para se evitá-las é preciso estrutura um adequado planejamento (ESTRELA, 2004; ALLGAYER e VANNI JÚNIOR, 2011). A dificuldade para a remoção destes retentores varia de acordo com o tipo de núcleo (fundido ou pré-fabricado), com a forma (cônico ou paralelo), comprimento, rugosidade superficial (liso ou serrilhado), ou em função do agente cimentante (cimento de fosfato de zinco, de ionômero de vidro, de policarboxilato de zinco ou do tipo resinoso) (STANDELEE, CAPUTO e HANSON, A proposta deste artigo é mostrar uma alternativa para a reconstrução de núcleo em dentes portadores de pino intra-canal, cuja remoção colocaria em risco a integridade radicular, bem como demonstrar a longevidade e proservação de um elemento dentário assim preparado. 1978; BERNARDINELLI et al, 1986; GOMES et al, 2001; BRITOJÚNIOR et al, 2009). Assim sendo, alternativas são propostas para que se evite a arriscada remoção do núcleo. O sobrenúcleo metálico fundido é uma dessas alternativas de reconstrução sem necessidade de remoção do pino e com risco mínimo (SILVA e FAUSTINO, 1999). 90 Relato do caso clínico A paciente CCM, então com sessenta e um anos de idade, leucoderma, apresentou-se à Policlínica da seção de Prótese da UFMS para tratamento, durante o ano de 1996. Na oportunidade, o exame clínico mostrou a presença de uma coroa acrílica tipo pivot no elemento 15, confeccionada, segundo a paciente, há vinte e seis anos (figura 1). A coroa apresentava-se desadaptada, com acentuado desgaste e descoloração, enquanto que o exame radiográfico mostrou pino metálico intra-canal de considerável espessura e comprimento semelhante ao da coroa, suficientes para que houvesse retenção com boa distribuição das forças. A radiografia também não mostrou imagem sugestiva de reação periapical, ainda que as condições do tratamento endodôntico não se apresentassem satisfatórias. Após a remoção da resina acrílica, constatou-se que pela face palatina o remanescente não oferecia condições satisfatórias para confecção de uma coroa. Frente às condições de ausência de lesão periapical e tempo decorrente desde a realização da endodontia (vinte e seis anos, de acordo com o relato da paciente), associadas à dificuldade de remoção do pino intracanal, optou-se pela Jan / Dez 2011 R E manutenção do pino e confeccionar-se agregado a ele, um sobrenúcleo metálico fundido. Para tanto, preparou-se inicialmente uma cavidade pela face lingual no remanescente radicular junto ao pino pré-existente aprofundando-se cerca de 5mm em dentina (figura 2). B O M I vidade e a saúde do elemento dental, ausência de reação inflamatória e as perfeitas condições do periodonto, comprovando-se o acerto da decisão de se inserir um sobrenúcleo, evitando-se o risco decorrente da tentativa de se retirar o pino existente. Obteve-se a seguir um molde com silicona e o respectivo modelo, com gesso pedra melhorada. Sobre o modelo assim obtido, encerou-se o padrão do sobrenúcleo, que foi fundido em liga áurica, respeitando-se o remanescente. Após a prova, em que se observou adaptação satisfatória, o sobrenúcleo metálico foi fixado com cimento adesivo sob dique de borracha, seguindo-se as especificações do fabricante. Esse trabalho foi publicado em 1999 no boletim oficial do CRO-MS. Em 2011, portanto após 15 anos da inserção do sobrenúcleo, a paciente retornou para consulta, ocasião em que se pode fazer a observação e controle do procedimento. Constatou-se nessa ocasião, através de exame clínico e radiográfico (figuras 3 e 4), a longe- Conclusões O sobrenúcleo metálico fundido é uma opção para situações em que a remoção do pino remanescente de uma coroa espigada ou pivot não oferece, por conta da retentividade da porção coronária, condições de repreparo, ao mesmo tempo em que a remoção colocaria em risco a integridade da raiz. Assim sendo, a técnica do sobrenúcleo pode ser utilizada, pois demonstra segurança, eficácia e longevidade satisfatórias, como comprovado no presente relato. Referências ALLGAYER, S.; VANNI, JR. Remoção de núcleo intra-radicular seguida de retratamento endodôntico: 13 anos de proservação. RSBO. 2011 Jan-Mar;8(1):108-13. BERNARDINELLI, B.; BRAMANTE, C.M.; BERBERT, A.; MORAES I.G. Remoção de núcleo – um problema nos retratamentos endodônticos. Rev Bras Odontol 1986;63:18-24. BONFANTE, G.; FREITAS, H.; JANSOM, W.; PANDOLFI, R.; PEGORARO, L.F.; VALLE, A.L. 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A instrumentação foi realizada com limas ProTaper acionadas por motor e a irrigação foi feita com hipoclorito de sódio a 5,25% em sessão única. Atualmente estudos demonstram que somente 1% dos segundos pré-molares superiores apresentam essa morfologia e a inabilidade para se localizar e obturar canais com anatomias incomuns tem se mostrado como uma das maiores causas de insucesso no tratamento endodôntico. O conhecimento da anatomia interna dos dentes é de fundamental importância para a realização de um tratamento endodôntico bem sucedido. Palavras-chave: Pré-molares, tratamento do canal radicular, cavidade pulpar. Rizectomia em dente anterior SILVA TF, MACHADO MD As fraturas radiculares verticais associadas ao traumatismo dentário possuem uma taxa de incidência relativamente alta em dentes anteriores, mas naqueles dentes tratados endodonticamente este índice aumenta significativamente. Um correto diagnóstico e a indicação precisa da terapia cirúrgica, podem influenciar de maneira decisiva no sucesso do tratamento. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso tratado na OCEx, onde após tratamento cirúrgico, o dente foi mantido na arcada e mesmo sendo submetido à rizectomia parcial, o prognóstico foi favorável ao elemento dental envolvido. Palavras-chave: cirurgia apical, rizectomia. Avaliação da morfologia apical de incisivos inferiores em diferentes níveis MARCELIANO-ALVES MFV, ROLLA MS, SILVEIRA MC, CARESTIATO MGH, GUIMARÃES DR O objetivo do trabalho foi avaliar in vitro a morfologia do canal radicular no terço apical de incisivos inferiores Foram coletados 100 incisivos inferiores unirradiculares, com apicogênese completa. Os dentes foram incluídos em resina poliéster e seccionados com disco de aço dupla-face em diferentes níveis apicais (1, 3, e 5mm). Os cortes foram levados à lupa estéreo-microscópica para análise da morfologia do canal, sendo considerado como critérios: número de canais e a forma. As imagens foram processadas e avaliadas por dois avaliadores calibrados. Os resultados demonstraram que o formato oval-longo foi encontrado em 48% dos canais a 1mm; 64% a 3 e 5mm. O formato oval foi encontrado em 36% dos canais estudados a 1 e 5mm do ápice, o formato circular foi encontrado apenas a 1mm do ápice (16%). A freqüência de dois canais foi considerada baixa, perfazendo um total de 8%. Ao final, foi observado que a incidência de canais ovais longos é grande no terço apical, diferindo da literatura, e ainda que a ocorrência de dois canais no terço apical foi rara. Palavras-chave: canal radicular, incisivo, endodontia. 92 Jan / Dez 2011 Utilização do microscópio cirúrgico na endodontia do CBMERJ R E B O M CARNEIRO SCSC, PACHECO EAB, BESSA RH, PERES R, FALCON CC I Desde o princípio do século, tanto a Medicina como a Odontologia, têm se beneficiado em demasia com o uso da magnificação óptica. A melhora da acuidade visual dos profissionais, obtida principalmente através desta, torna o Microscópio Cirúrgico parte integrante dos consultórios odontológicos modernos e a Micro-Odontologia, uma tendência mundial. Após fornecer um breve histórico da utilização da magnificação na Odontologia, uma sucinta descrição do Microscópio Odontológico, assim como o quanto os Cirurgiões-dentistas podem se beneficiar desta tecnologia, objetivo deste trabalho é traçar um panorama da utilização do microscópio cirúrgico nas Unidades do CBMERJ. Atualmente oito unidades odontológicas detêm tal equipamento, a saber: 1ª Odontoclínica – QCG; 2ª Odontoclínica - Campo Grande; OM/MPCC – Guadalupe; OM/SJM – São João de Meriti; UAO 1/ 26º - Mambucaba; OMCTAGA – Campinho; OMVOS – Niterói; UAO Vila Isabel. A utilização da microscopia cirúrgica no CBMERJ possibilita a otimização da técnica operatória. Concluímos após criteriosa pesquisa, que a Odontologia do CBMERJ vem alcançando um padrão de excelência clínica e tem cada vez mais reconhecido o atendimento odontológico prestado aos bombeiros militares. Em uma sociedade que busca incansavelmente a qualidade total em todos os seus segmentos, o MC atualmente é um equipamento essencial nos consultórios odontológicos modernos. A partir do momento que nossa Corporação é detentora de tal tecnologia, temos que trazer à luz do conhecimento de todos os benefícios e indicações do MC. Palavras-chave: endodontia, microscopia. Tratamento endodôntico em sessão única de dente com necrose pulpar e lesão periapical: relato de caso FIGUEIRA NSSD, NATTRODT AKRA, ANDRADE MAC, DIBLASI F, VILHENA FS, RABANG HRC Embora o tratamento endodôntico (TE) em sessão única de dentes com necrose pulpar e lesão periapical seja controverso, esta modalidade de TE diminui a possibilidade de contaminação entre consultas, permite restauração imediata e apresenta índice de dor pós-operatória, assim como taxa de sucesso, equivalente aos do TE em múltiplas sessões. O objetivo deste trabalho é apresentar caso clínico de TE em sessão única de elemento dentário com necrose pulpar e lesão periapical. Paciente de sexo masculino, leucoderma, 45 anos, apresentou-se com cavidade extensa no elemento 14 com fístula associada, sensibilidade à percussão e à palpação e imagem radiográfica de lesão periapical, sendo então feito diagnóstico de abscesso apical crônico. Após acesso à câmara pulpar, foi procedido preparo com instrumentação mecânica (Gattes-Glidden # 4,3,2) manual coroa-ápice (lima anatômica final LK#35), irrigação com NaOCl 5,25% e manutenção da patência apical com LK#15. Em seguida, foi procedida obturação pela condensação lateral da guta-percha (cimento de Grossman) e selamento coronário (OZE). Após 14 meses, no controle clínico radiográfico, foi observada ausência de sintomatologia e de fístula, restauração em resina composta, e aspecto radiográfico de regressão da lesão periapical. Concluiu-se que o TE em sessão única restabelece a saúde dos tecidos perirradiculares em casos de necrose e reação periapical, desde que princípios básicos como patência apical, instrumentação coroa ápice, irrigação profícua e ausência de exudato no momento da obturação, sejam observados. Palavras-chave: endodontia, tratamento do canal radicular, necrose da polpa dentária. 93 R E B O M I ANO 28 • Nº 1 e 2 Utilização de microscópio na clínica endodôntica: relato de caso clínico de pré-molar com três canais MASUDA RAM, BELTRAMI CA, PACHECO AGM, DAMASIO JCS A introdução do microscópio clínico na endodontia tem trazido inúmeros benefícios, e muitos procedimentos técnicos, tanto cirúrgicos quanto convencionais, têm sido radicalmente mudados. O alto nível de ampliação da imagem e a superior iluminação são os atributos mais importantes para a concretização dessas modificações. Na endodontia convencional, sua utilização rotineira possibilita melhor controle visual do campo operatório, o que facilita a localização de canais adicionais, o refinamento do preparo da cavidade coronária, a localização de canais calcificados, a remoção de instrumentos fraturados no interior do canal radicular, o tratamento de erros de procedimentos, como desvio ou perfurações na parede do canal, etc. Esta conveniência permite ao clínico um alto nível de sucesso, principalmente em casos que tiveram prognósticos prévios comprometedores. O objetivo deste trabalho foi mostrar a importância da utilização do microscópio clínico no tratamento endodôntico de um pré-molar inferior com três canais. Após avaliação radiográfica, foi detectada uma variação anatômica importante no elemento 45. Em um primeiro momento parecia se tratar de um pré-molar com canal classe IV de Weine. Porém, após a análise do exame radiográfico de comprimento de trabalho, foi detectado um terceiro conduto. A utilização do microscópio clínico foi fundamental para a localização deste canal, correto preparo coronário com adequado acesso aos três canais e conclusão satisfatória do tratamento endodôntico. Palavras-chave: pré-molar, endodontia, microscopia. Responsabilidade civil e ética do cirurgião-dentista e suas implicações em endodontia BARCELOS, PM A complexidade inerente à presença microbiana e outros fatores como degraus, perfurações, instrumentos fraturados, cones de prata, são desafios que o endodontista frequentemente encontra diante de um retratamento endodôntico, e que podem contribuir para o fracasso da terapia. Logo, muitas vezes, o endodontista se vê diante de tratamentos que não podem ser considerados previsíveis. Em contrapartida, sabe-se que o número de denúncias administrativas contra o cirurgião dentista vem crescendo ano após ano. O objetivo deste tema livre foi fazer uma revisão de literatura acerca da responsabilidade civil e ética do cirurgião-dentista, avaliando, se esta é considerada uma obrigação de meio ou de resultado e suas implicações em Endodontia. Há muita discussão quando se trata da natureza jurídica da obrigação odontológica. Alguns autores ressaltam que, se em relação aos médicos a regra é a obrigação de meio, no que diz respeito aos dentistas, a regra é a obrigação de resultado. O verdadeiro problema, causador de tantas pendências jurídicas, é a falta de adequada e prévia informação ao paciente. É inquestionável a necessidade do cirurgião-dentista, de se adequar as formas técnicas exigíveis pelos órgãos de classe, autoridades públicas e normas legais. Pôde-se concluir que a doutrina jurídica caminha para um consenso, de que a atividade odontológica seja considerada uma obrigação de meio, isto é, que o seu exercício não promete cura, mais sim tratamento adequado. Porém, sempre caberá ao julgador a análise do caso em concreto. Palavras-chave: responsabilidade civil, endodontia, ética. 94 Jan / Dez 2011 A ação de diferentes sistemas rotatórios nas paredes do terço apical de dentes com achatamento mésio-distal R E B O M I MARCELIANO-ALVES MFV, SILVA-SOUZA PAR, MIRANDA RB, FIDEL RAS, FIDEL SR O objetivo do trabalho foi avaliar in vitro a ação de quatro sistemas rotatórios nas paredes do terço apical em dentes com achatamento mésio-distal. Para tal, foram selecionados 40 incisivos centrais inferiores unirradiculares, divididos, aleatoriamente, em quatro grupos: G1: limas NiTi-Flex em contra-ângulo NSK (TEP-E10R), em rotação alternada; G2: Sistema K3; G3: Sistema Race, G4: Sistema Protaper Universal. A avaliação foi realizada em cortes histológicos a 1 e 3mm do comprimento real de trabalho (CRT). A luz do canal foi dividida em quatro quadrantes (DL, DV, ML, MV), utilizando-se lente ocular milimetrada, o que possibilitou a observação tridimensional da efetividade do preparo dos sistemas avaliados. O teste de Kruskal-Wallis revelou diferença significante (p= 0,0337) nos cortes a 1mm do CRT, sendo o G1 considerado superior (77,5%), seguido pelo G4 (75%). A menor porcentagem de paredes tocadas foi encontrada para o G2 (62,5%), não havendo diferença significante com o G3 (45%). O teste de Friedman (p=0,0083) demonstrou que, na comparação entre quadrantes, o mésio-lingual apresentou o maior percentual de paredes não tocadas nos níveis avaliados e em todos os grupos. Ao final, concluiu-se que a rotação alternada e o Sistema Protaper Universal têm maior ação nas paredes, porém nenhuma das técnicas testadas conseguiu tocar em toda a área do canal radicular dos canais achatados mesio-distalmente. Palavras-chave: instrumentos odontológicos, canal radicular, incisivo. Comitê de Ética: Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos, do Centro de Ciências da Saúde da UFPA (protocolo 102/07 CEP-CCS/UFPA) Avaliação do preparo de canais com instrumentos rotatórios e self-adjusting file usando microtomografia computadorizada VERSIANI MA, PÉCORA JD, SOUSA-NETO MD O preparo mecânico-químico destaca-se no contexto da terapia endodôntica por atuar diretamente no saneamento e modelagem dos canais radiculares. O objetivo do estudo foi comparar o preparo de canais achatados com instrumentos rotatórios e com a Self-Adjusting File (SAF) usando microtomografia computadorizada (ìCT). Quarenta incisivos inferiores foram avaliados antes e após o preparo do canal com instrumentos rotatórios (n=20) ou SAF (n=20) por meio de ìCT (SkyScan 1174v2) com resolução de 19,7 ìm. As variações de volume e área de superfície, bem como as características geométricas do canal em sua secção transversal foram comparadas estatisticamente com valores pré-operatórios, usando-se os testes t para amostras independentes e pareadas, bem como o teste do qui-quadrado (á=0,05). Em geral, a análise da secção transversal dos canais mostrou que a área, o perímetro, o índice roundness, os diâmetros maior e menor dos canais não apresentaram diferença estatística entre os grupos (p>0,05). A avaliação tridimensional mostrou diferença estatística apenas nas variáveis mensuradas no terço coronário. Nesta região, o percentual de preparo das paredes do canal radicular, o aumento médio de volume e área foram significativamente maiores com a SAF (92%, 1,44 ± 0.49 mm3, 0,40 ± 0.14 mm2, respectivamente) do que com a instrumentação rotatória (62%, 0,81 ± 0.45 mm3, 0,23 ± 0.15 mm2, respectivamente) (p<0,05). Concluiu-se que a SAF removeu a dentina intrarradicular de forma mais homogênea, em praticamente toda a superfície do canal radicular, do que a instrumentação rotatória. Palavras-chave: tomografia computadorizada por raios X, canal radicular, imagem tridimensional 95 R E B O M I ANO 28 • Nº 1 e 2 Evidência de patologia pulpar em dentes modificados da antiga civilização maia usando-se microtomografia computadorizada VERSIANI MA, PÉCORA JD, SOUSA-NETO MD O estudo da modificação intencional de dentes em civilizações antigas ajuda a entender o passado e o presente do comportamento humano. O objetivo do estudo foi avaliar, por meio de microtomografia computadorizada (ìCT), a relação entre a cavidade preparada para inserção de incrustações com pedras preciosas e a câmara pulpar, em dentes obtidos de cadáveres da antiga civilização Maia com cerca de 1600 anos. A amostra composta por seis dentes superiores (dois caninos, um pré-molar, dois incisivos centrais e um incisivo lateral) foi escaneada em ìCT (SkyScan 1174v2) com resolução de 22,5 ìm. Os dentes foram reconstruídos com o programa NRecon. Os programas CTAN e CTVol foram utilizados para a visualização e análise qualitativa de suas anatomias externa e interna. As modificações presentes na superfície vestibular da amostra foram classificadas como tipo E1 (uma pedra) ou E2 (duas pedras). Nos caninos, a cavidade preparada para inserção da incrustação não atingiu a câmara pulpar. Nos incisivos superiores, as cavidades perfuraram a câmara pulpar havendo evidência do desenvolvimento de reabsorção inflamatória interna e de calcificação parcial da cavidade pulpar. No prémolar observou-se pequena perfuração da câmara pulpar sob a cúspide vestibular, sem alteração morfológica da dentina intrarradicular. Concluiu-se que as cavidades criadas para inserção das incrustações com pedras preciosas em dentes da antiga civilização Maia atingiram a câmara pulpar de incisivos superiores e pré-molares, com evidência de desenvolvimento de doenças pulpares degenerativas. Palavras-chave: tomografia computadorizada por raios X, reabsorção de dente, calcificações da polpa dentária Influência da infecção pelos vírus herpes simplex tipos 1 e 2, Epstein-barr e citomegalovírus no resultado do tratamento endodôntico GUILHERME BPS, FERREIRA DC, RÔÇAS IN, SIQUEIRA-JR JF, PROVENZANO JC, SANTOS, KRN Os herpesvírus podem causar imunossupressão local, em decorrência da infecção viral, e agir como um modificador na lesão perirradicular, influenciando a gravidade da doença e a resposta ao tratamento realizado. Assim, este estudo teve por objetivo avaliar, por meio da reação de PCR, se a presença dos herpesvírus Herpes Simplex Tipos 1 e 2 (HSV-1/2), Citomegalovírus (HCMV) e Epstein-Barr (EBV), na saliva, pode influenciar o resultado do tratamento endodôntico. Participaram deste estudo 72 pacientes, com diagnóstico inicial de necrose pulpar e lesão perirradicular, que haviam realizado tratamento endodôntico há pelo menos um ano. Na proservação, 27 pacientes apresentaram lesão perirradicular pós-tratamento (fracasso), enquanto 45 evidenciaram reparo total ou em regressão evidente da lesão (sucesso). Amostras de saliva foram coletadas, o DNA foi extraído e submetido à amplificação inespecífica do DNA total através do MDA. A identificação inicial do HSV- 1/2, HCMV e EBV foi realizada através da multiplex nested PCR. Ainda foram realizadas outras reações de nested PCR para a confirmação do HCMV e EBV. A prevalência dos herpesvírus investigados foi a seguinte: HSV- 1/2 em 0/72 (0% nos casos de sucesso e fracasso), HCMV em 18/72 (22,2% casos de sucesso e 29,6% de fracasso) e EBV em 12/72 (15,6% sucesso e 18,5% fracasso). Não houve associação significativa o entre os herpesvírus presentes na saliva com o fracasso do tratamento endodôntico (p>0,05). Desta forma, conclui-se que a infecção por HSV-1/2, HCMV e EBV parece não influenciar no resultado do tratamento endodôntico. Palavras-chave: periodontite periapical, tratamento do canal radicular, reação em cadeia da polimerase. 96 Jan / Dez 2011 MTA branco e cinza: atividade antimicrobiana sobre amostras de Escherichia coli em anaerobiose e aerobiose R E B O M I RIBEIRO CS, ANDRADE AO, GUIMARÃES TD, BARREIRA ACP, SCELZA MFZ Na odontologia muitos procedimentos endodônticos são realizados, e dentre eles, aqueles envolvendo cirurgia perirradicular, apexificação e reparo de perfurações. Sendo assim, o material usado deverá demonstrar capacidade seladora com os tecidos dentais, atividade antimicrobiana e ao mesmo tempo ser biocompatível para os tecidos perirradiculares. O Agregado Trióxido Mineral (MTA) é um biomaterial que tem sido investigado para aplicações endodônticas desde 1990. Atualmente encontram-se no mercado duas apresentações de MTA: cinza e branco. O objetivo deste estudo foi avaliar a atividade antimicrobiana das preparações cinza e branca do MTA - Angelus®, devido ao fato de ser rico em óxidos capazes de serem convertidos em espécies reativas do oxigênio para diversos microrganismos. O método de estudo empregado foi difusão em Agar contendo meio MuellerHinton (MHA), inoculados com Escherichia coli AB2463-RecA13, triplo-mutante (BW535) e selvagem (AB1157 – provida de mecanismo de reparo). Os halos de inibição foram analisados após 48 horas de incubação a 37ºC através da inibição de crescimento microbiano. Os resultados mostraram que o MTA cinza e branco não apresentaram halo de inibição em anaerobiose. Em aerobiose, o MTA branco e cinza foram eficazes contra as cepas AB2463-RecA13 e triplo mutante, não apresentando halo contra a cepa selvagem. Conclui-se que o MTA nas duas apresentações, em aerobiose, possui atividade antimicrobiana que pode ser explicado pela produção de espécies reativas do oxigênio as quais, em ambiente de anaerobiose, são rapidamente depuradas. Palavras-chave: microbiologia, endodontia, E.coli Avaliação in vitro do escoamento e radiopacidade de dois diferentes cimentos endodônticos ANDINOS LAC, MAGGIONI AR, RABANG HRC, COSTA LB, SILVA ICC, CAMÕES ICG O objetivo deste estudo foi avaliar as propriedades de escoamento e radiopacidade dos cimentos Endofill e EZ-Fill, segundo a especificação nº 57 da American Dental Association (ADA). Para análise do escoamento 20 amostras foram divididas em 2 grupos (n=10): G1 – Endofill; e G2 – EZ-Fill. Para cada amostra 0,5 ml do cimento espatulado foram depositados no centro de placa de vidro. Após 3 min do início da espatulação, foram colocados sobre o material outra placa de vidro e um peso de chumbo, totalizando 120 g. Após 10 min do início da espatulação o peso foi removido e a média do diâmetro maior e menor do disco foi determinada. Para a análise da radiopacidade 10 amostras foram divididas em 2 grupos (n=5): G3 - EZ-Fill; e G4 – Endofill. Para cada amostra o cimento manipulado foi compactado em anel metálico com 2 mm de altura e 10 mm de diâmetro, colocado sobre placa de vidro. Uma escala de alumínio de espessura variável (1 mm a 10 mm) foi utilizada como referência para medir a radiopacidade. As amostras foram radiografadas e digitalizadas para análise pelo Image J. Os resultados demonstraram que os cimentos cumpriram a especificação da ADA quanto ao escoamento (Endofill – 54,69 mm; EZ-Fill – 42,41) e a radiopacidade (equivalente a 10 mm de alumínio – EZ-Fill; e 7 mm de alumínio – Endofill). Houve diferença estatisticamente significante (teste t de student), tanto para o escoamento, tendo o G1 sido superior; quanto para a radiopacidade, onde o G3 apresentou melhor resultado. Conclui-se que, o Endofill apresenta um escoamento superior ao do EZ-Fill; porém, com uma menor radiopacidade. Palavras-chave: cimento dentário, endodontia, escoamento. 97 R E B O M I ANO 28 • Nº 1 e 2 Efetividade de diferentes técnicas e soluções irrigadoras no retratamento endodôntico de canais curvos: estudo ex vivo AGUILA CAD, SIGNORETTI FCC, MOREIRA EJL, GOMES BPFA, RABANG HRC O objetivo deste estudo foi comparar a efetividade e o tempo necessário para execução de diferentes protocolos de retratamento endodôntico de canais curvos. Foram selecionados 80 pré-molares inferiores de acordo com o grau de curvatura (10° a 20°), padronizados em 15 mm, instrumentados com limas ProTaper®, obturados pela Técnica Híbrida de Tagger (cimento Endofill) e armazenados em estufa a 37°C por 30 dias. De acordo com os protocolos testados, foram divididos (n=20): G1- limas Protaper® de retratamento e NaOCl 5,25%; G2- limas Protaper® de retratamento e clorexidina gel 2% + NaCl 0,9%; G3- Gates-Glidden (GG) + limas Hedströem e NaOCl 5,25%; G4- GG + limas Hedströem e clorexidina gel 2% + NaCl 0,9%. O óleo de casca de laranja foi utilizado como solvente em todos os grupos testados. O tempo de cada protocolo foi registrado por um cronômetro digital. Os espécimes foram clivados longitudinalmente, observados em lupa estereoscópica e análise quantitativa da área de resíduos de material obturador remanescente foi feita pelo software IM50. Houve diferença estatisticamente significante (Kruskall-Wallis) entre os grupos tanto a área de remanescentes (p=0,003), sendo o G3 mais eficiente, seguido em ordem decrescente pelo G4, G1 e G2; quanto ao tempo (p=0,003), tendo o G2 despendido menos tempo, seguido em ordem crescente pelo G1, G3 e G4. Conclui-se que o uso de GG + limas Hedströem + NaOCl 5,25% e óleo de casca de laranja apresenta maior efetividade de limpeza com maior tempo de trabalho. Palavras-chave: retratamento, guta-percha, irrigantes do canal radicular. Eficácia da ação mecânica de diferentes sequências clínicas de limas MTWO® na remoção de endotoxinas de canais radiculares contaminados MARINHO ACS, ENDO MS, MARTINHO FC, GOMES BPFA Endotoxinas (LPS) de bactérias Gram-negativas nas infecções endodônticas primárias apresentam elevado potencial citotóxico aos tecidos perirradiculares. O preparo mecânico do canal radicular associado ao diâmetro apical final (DAF) são medidas importantes para adequada desinfecção do conteúdo endotóxico. O objetivo deste estudo foi comparar in vitro a eficácia de diferentes sequências clínicas (SC) de instrumentação com limas rotatórias Mtwo® na remoção de endotoxina de dentes contaminados com LPS de Escherichia coli. Sessenta dentes foram divididos aleatoriamente em 5 grupos experimentais de acordo com a SC empregada: GI- (DAF #25/.06) (n=10); GII- (DAF #30/.05) (n=10); GIII- (DAF #35/.04) (n=10); GIV-(DAF #40/.04) (n=10); GV- (DAF #25/.07) e GVI- controle negativo (n=10). Após a instrumentação, foram realizadas coletas dos canais radiculares utilizando cones de papel estéril/apirogênico e mensuradas as concentrações de endotoxinas das amostras através do método turbidimétrico de LAL (Pyrogent-5000®). Remoção gradual dos níveis de endotoxina dos canais radiculares foi observada conforme o aumento seriado do DAF nas diferentes sequências clínicas: GI (324,28 EU/mL) < GII (337,92 EU/mL) < GIII (363,21 EU/mL) < GIV (374 EU/mL) < GV (379,87 EU/mL). Observou-se diferença estatisticamente significante ao comparar GI a GIII, GIV e GV (p<0,05). Concluiu-se que a ampliação das paredes dentinárias contaminadas a partir da lima rotatória #35/.04 favoreceu a remoção de endotoxinas. Palavras-chave: endodontia, preparo do canal radicular, endotoxinas. 98 Jan / Dez 2011 Estudo clínico de endotoxinas e microrganismos em diferentes etapas do retratamento endodôntico R E B O M I ENDO MS, MARINHO ACS, MARTINHO FC, GOMES BPFA A desinfecção dos canais radiculares depende da remoção de microrganismos e endotoxinas (LPS). Os objetivos foram investigar a microbiota e LPS de dentes com insucesso endodôntico antes e após preparo químico-mecânico (PQM) e uso da medicação intracanal (MIC). Foram quantificadas unidades formadoras de colônias (UFC) e LPS dos mesmos dentes, correlacionando seus níveis com aspectos clínicos e radiográficos. Quinze dentes unirradiculares com insucesso endodôntico e lesão periapical foram selecionados. Empregaramse métodos bioquímicos e reação em cadeia da polimerase (PCR) para identificação dos microrganismos. O teste turbidimétrico LAL (Pyrogent 5000) quantificou os níveis de LPS antes e após PQM e MIC. As espécies comumente isoladas pelo método de cultura foram Gemella morbillorum, Enterococcus faecalis e Actinomyces naeslundii, enquanto que Parvimonas micra, Prevotella nigrescens, Gemella morbillorum e Fusobacterium nucleatum foram detectados frequentemente pelo método de PCR. Foram detectados níveis de LPS e UFC em todos os casos antes e após PQM. Correlação positiva entre níveis de LPS e radioluscência periapical maior que 5 mm foi observada (p<0,05). PQM foi capaz de reduzir UFC (99,93%) e LPS (60,6%) (ambos, p<0,05), e foi responsável na maior redução microbiana ao comparar com a MIC. Conclui-se que níveis de LPS estão envolvidos na infecção persistente e mostraram associação com rarefação óssea periapical. PQM associado à CLX 2% gel + EDTA 17% foi efetivo na redução de LPS e UFC, entretanto não promoveu uma completa remoção. Palavras-chave: canal radicular, retratamento, infecção bacteriana. Estudo microbiológico, investigação de endotoxinas em infecções endodônticas e avaliação antigênica do conteúdo infeccioso MARTINHO FC, GOMES BPFA Microorganismos e seus sub-produtos (endotoxinas) causam destruição periapical. Os objetivos foram: 1) estudar o perfil da microbiota e níveis de endotoxinas (LPS) nas infecções endodônticas primárias com lesão periapical (IEPL); 2) avaliar a antigenicidade do conteúdo infeccioso contra macrófagos através da produção de IL-ß, TNFa, PGE2, IL-6 e IL-10; 3) comparar in vivo a efetividade do preparo químico mecânico (PQM) com NaOCl 2,5% e CLX-gel 2% na eliminação de LPS de IEPL; 4) avaliar o efeito do PQM com NaOCl 2,5% e limas rotatórias Mtwo na remoção de LPS de IEPL. PCR (16s rDNA), método LAL (Lisado amebócito Limulus) e Duoset-Kit foram utilizados. Prevotella nigrescens (13/21) foi mais frequentemente encontrada. Correlações positivas (p<0,05) foram encontradas entre: número de espécies Gram-negativas e níveis de IL-ß/ TNF-á/ PGE2/ IL-6/ IL-10; níveis de LPS e de TNF-á/ PGE2/ IL-6/ IL-10; IL-ß e tamanho de lesão periapical. Maior redução de LPS foi encontrada nos dentes instrumentados com NaOCl 2,5% (57,98%) versus CLX-gel 2% (47,12%) (p<0,05). Após PQM com NaOCl 2,5% e limas rotatórias NiTi, LPS foi reduzido em 98,06% (p<0,05). 1) A antigenicidade do conteúdo infeccioso não está relacionada apenas com níveis de LPS mas também com número de espécies Gram-negativas na infecção; 2) Maior destruição óssea periapical foi relacionado com níveis elevados de IL-1ß; 3) PQM com NaOCl 2,5% ou CLX-gel 2% não foram eficazes na eliminação de LPS utilizando limas manuais; 4) PQM com NaOCl 2,5% e limas rotatórias Mtwo foi eficaz na remoção de LPS em 98,06% (FAPESP: 08/57954-8) Palavras-chave: bactérias anaeróbias, citocinas, toxinas bacterianas. 99 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E Análise da anatomia interna da raiz mesial de primeiros molares inferiores permanentes humanos: estudo ex vivo B O M I LEAL MBC, MOREIRA EJL, MARTINHO FC, GOMES BPFA, RABANG HRC É de grande importância o amplo conhecimento da anatomia dentária para que se possa alcançar o sucesso do tratamento endodôntico. A análise da anatomia interna da raiz mesial neste estudo ex vivo, teve por objetivo investigar a frequência, localização e classificação de istmos e a presença do terceiro canal. Foram utilizados 85 molares inferiores humanos. Radiografias ortorradiais foram tomadas com os dentes no sentido vestíbulo-lingual e mésio-distal. As coroas foram separadas das raízes através de cortes ao nível da junção amelo-cementária. As raízes foram seccionadas e incluídas em resina de poliestireno e secções transversais ao longo eixo do dente foram feitas a 1,0, 2,5, 4,0, 5,5 e 7,0 mm de distância do ápice. A superfície mais apical de cada corte foi corada com azul de metileno 2% e examinada em lupa esterioscópica. Os istmos foram encontrados em 74% das raízes. A análise estatística foi realizada pelo teste X², com nível de significância de 5%. A incidência de istmo foi maior entre 4,0mm e 7,0mm do ápice, sendo que nestes três segmentos não foi evidenciada diferença estatisticamente significativa (p=0,598). A comparação entre estes segmentos e os dois últimos, a 2,5 e 1,0mm apresentou diferença (p=0,008). A menor incidência de istmo, 28,2% foi a 1,0mm do ápice (p<0,001). O istmo Tipo V (conexão verdadeira), foi o mais frequente. O terceiro canal foi encontrado em 24 do total de 85 espécimes pesquisados. Concluiu-se que, a freqüência de istmos foi alta e que o terceiro canal esteve presente, devendo-se buscar a possível localização das referidas variações anatômicas. Palavras-chave: raiz, anatomia, molares. Avaliação clínica da terapia endodôntica em pacientes com doença periodontal crônica: relato de caso DUQUE TM, PRADO M, GOMES BPFA A doença periodontal crônica atinge as estruturas de suporte dos dentes e é uma das causas mais importantes da perda dos dentes em adultos. Além disso, lesões periodontais podem produzir efeitos degenerativo e cumulativo na polpa como atrofia, infiltrado inflamatório crônico, fibroses, calcificações, tecido calcificado/reacional e reabsorção. Essa possível relação não está completamente elucidada pela falta de informação com relação aos reais malefícios que a doença periodontal pode causar em uma polpa sadia. O presente trabalho relata um caso onde a terapia endodôntica foi utilizada como coadjuvante ao tratamento de doença periodontal crônica. Paciente sexo feminino, 47 anos, com história de acompanhamento periodontal há mais de 1 ano, apresentava os elementos 25 e 34 sem regressão da doença, presença de bolsa periodontal profunda e mobilidade. A paciente foi encaminhada ao endodontista onde o mesmo verificou alterações em relação a sensibilidade pulpar no teste térmico. O tratamento endodôntico foi realizado em ambos os dentes. A paciente continuou em tratamento periodontal periódico. Após um ano em uma nova avaliação, esses dentes apresentavam melhora nos níveis de sondagem periodontal e ausência de mobilidade. A paciente também relatou melhora significativa na condição bucal, principalmente em relação a sensibilidade e conforto. De acordo com o caso relatado, a terapia endodôntica favoreceu a terapia periodontal, permitindo uma melhor qualidade de vida ao paciente. Palavras-chave: infecção, periodontia, inflamação, endodontia. 100 Jan / Dez 2011 R E Avaliação da dentina remanescente na zona de risco: Gates Glidden versus LA Axxes B O M I SOARES, YO, COSTA, PL, GOMES, CC, FREITAS, LF, CAMÕES, IGC, PINTO, SS, JERONYMO, RI Este estudo avaliou a espessura de dentina remanescente das raízes mesiais de molares inferiores submetidas à ação das fresas Gates Glidden e LA Axxes no limite entre terço cervical e médio, conhecida como zona de risco, durante o alargamento do segmento cervical do sistema de canais radiculares. Aleatoriamente, foram selecionados dez molares inferiores humanos extraídos, divididos em dois grupos: a) Grupo 1: possuindo cinco amostras, cujos canais mésio vestibulares (MV) foram alargados com Gates Glidden e os canais mésio linguais (ML) com LA Axxes; e b) Grupo 2: possuindo cinco amostras, cujos canais MV foram alargados com LA Axxes e os canais ML com Gates Glidden. As amostras foram seccionadas transversalmente com cortador de precisão ao nível da zona de risco após terem sido incluídas em blocos de resina de poliéster de modo a possibilitar que fossem medidas e fotografadas antes e após o experimento, exatamente, na mesma posição e com o mesmo fator de ampliação. A espessura dentinária da zona de risco foi medida através do programa Image Tool e para análise dos resultados foi aplicado o teste estatístico não paramétrico de U de Mann-Whitney (valor de p>0,05). Os desgastes feitos pelas fresas, quando comparados são semelhantes, portanto não há diferença significante na utilização de fresas Gates Glidden ou LA Axxes. Palavras-chave: dentina, zona de risco, intrumentação Avaliação do preparo apical e desgaste dos instrumentos k3 e protaper universal no preparo de canais curvos MARCELIANO-ALVES MFV, ROLLA M, MAZUREK C, SILVEIRA BC, MIRANDA, RB. O objetivo do trabalho foi avaliar in vitro o desvio apical e desgaste de instrumentos K3 e ProTaper Universal após o uso. Foram selecionadas 20 raízes mesio-vestibulares de primeiros molares superiores (angulação média 40°). As raízes foram divididas em dois grupos: G1 (K3) e G2 (Protaper Universal), e preparadas de acordo com protocolo adotado. Os instrumentos foram avaliados em microscopia eletrônica de varredura (MEV) antes, após sete e 13 usos. Na avaliação, o desvio apical foi analisado por dupla exposição radiográfica, pela mensuração da distância entre a posição inicial da lima e aquela após o preparo. As médias de desvio apical foram: G1: 0,248mm e G2: 0,158mm, porém o teste Student-Newman-Keuls não revelou diferença estatística. Os critérios de avaliação de desgaste dos instrumentos foram: defeitos (estiramento, encurtamento e inversão das espiras, crateras); trinca e fratura. Na avaliação em MEV foram observadas nos dois grupos antes do uso, farpas metálicas na crista das espiras e ranhuras oblíquas. Após sete usos, no sistema K3, foram observadas trincas no corpo da parte ativa nos instrumentos 25/08 e 25/10, e no 13° uso foi observada fratura dúctil no 25/10. No sistema ProTaper com sete usos, todos os instrumentos apresentaram defeitos nos ângulos de corte, presença de trincas, havendo fratura do tipo rúptil no F3 no 13o uso. Foram ainda encontradas crateras ao longo da parte ativa nos dois sistemas. Os resultados mostraram que os dois grupos promoveram desvio apical após o preparo, sendo maior em G1 (K3), porém não significante, e ainda foram observados diversos defeitos de superfície dos instrumentos, que podem fragilizar o instrumento, levanto a fratura. Palavras-chave: endodontia, instrumentação, dente molar. 101 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E Avaliação do remanescente dentinário em zona de risco de primeiros molares inferiores ex vivo de diferentes comprimentos após instrumentação por duas diferentes técnicas B O M I SAMPAIO EOT, GOMES BPFA, SOUZA-FILHO FJ, RABANG HRC, SAUÁIA TS O objetivo deste estudo foi avaliar a relação entre o comprimento do dente e a espessura da parede dentinária na zona de risco das raízes mesiais de primeiros molares inferiores , antes e depois da instrumentação endodôntica com duas técnicas diferentes. Baseado no comprimento, 60 primeiros molares inferiores foram divididos em três grupos (n= 20): G I - curtos; G II- médios, e G III- longos. Os dentes foram inseridos em blocos de resina, através de mufla, e foram seccionados transversalmente 2mm abaixo da furca. As imagens da secção cervical foram capturadas através de lente estereoscópica conectada a uma câmera de vídeo. As medidas das espessuras da parede distal foram analisadas usando o software ImageTool. O teste ANOVA mostrou não haver diferença estatisticamente significante entre as medidas da espessura dentinária na zona de risco antes da instrumentação nos três grupos testados (p= 0.2875). Após a instrumentação os valores foram significativamente menores (Teste T pareado p=0.0001) quando comparados aos valores antes da instrumentação. Embora as brocas GatesGlidden tenham promovido maior desgate da parede dentinária quando comparadas ao sistema ProTaper®, não houve diferença estatisticamente significante entre os três grupos (T não pareado – G I: p= 0.1282; G II: p= 0.1282; G III: p= 0.254). Como conclusão, não houve relação entre o comprimento dos primeiros molares inferiores e a espessura da parede dentinária distal das raízes mesiais e que ambas as técnicas testadas deslocaram o canal em direção à zona de risco. Palavras-chave: instrumentação, endodontia, dentinário. Avaliação ex vivo de diferentes materiais seladores usados como barreira após preparo para retentor intra-radicular NATTRODT AKRA, RODRIGUES ARM , FIGUEIRA NSSD, GOMES BPFA, RABANG HRC O objetivo deste estudo ex vivo foi avaliar a efetividade de barreira com diferentes materiais seladores na proteção do material obturador endodôntico após preparo para retentor intra-radicular. Foram utilizados 110 caninos sendo 105 raízes seccionadas e padronizadas em 15mm e divididas em 5 grupos experimentais (n=20): G1- Cavit, G2- Citodur, G3- Coltosol, G4- Tempore, G5- sem barreira, e ainda 1 controle positivo (n=5) – apenas instrumentado. No controle negativo (n=5) os espécimes permaneceram hígidos e toda sua superfície impermeabilizada com cianoacrilato. Os grupos experimentais foram instrumentados, obturados pela condensação lateral (Endofill) e preparados para retentor intra-radicular (Gates-Glidden e condensadores aquecidos). Em G1, G2, G3 e G4 os 5mm remanescentes de material obturador foi protegido com 2mm dos cimentos testados. A infiltração coronária foi analisada através de aparato em que os dentes ficaram expostos à saliva natural por 60 dias. Os resultados submetidos ao teste do Qui2 mostraram que as barreiras de material selador temporário melhoraram o selamento coronário e que não houve diferença estatisticamente significante entre os materiais testados. Concluiu-se que uma barreira com selador temporário em dentes preparados para retentor intra-radicular previne a microinfiltração coronária. Palavras-chave: infiltração, barreira, retentor. 102 Jan / Dez 2011 R E NORMAS DE PUBLICAÇÃO B O M 1. MISSÃO: A Revista científica é um órgão de divulgação da Academia Brasileira de Odontologia Militar (ABOMI). Tendo sua publicação anual, com trabalhos de pesquisa, casos clínicos e revisão de Literatura destinada aos Oficiais Dentistas das Forças Armadas e Auxiliares,alunos e professores dos cursos de pós-graduação conveniados com a ABOMI membros titulares e aspirantes da ABOMI e dentistas e professores da área civil. Tem o objetivo principal de divulgação de técnicas, conhecimentos clínicos e científicos empregados nas Unidades de Saúde das Forças Armadas e Auxiliares e em outros órgãos militares e civis; além de atualizações informais diversas. 2. NORMAS GERAIS: 2.1. A Revista Científica da ABOMI receberá para publicação trabalhos redigidos em português. A redação deve ser clara e precisa, evitando-se trechos obscuros, incoerentes e ambigüidades. 2.2. A Revista Científica da ABOMI reserva-se o direito de submeter todos os trabalhos originais à apreciação do Conselho Editorial da Revista. Os conceitos emitidos nos trabalhos publicados serão de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião daquela Comissão Científica ou da ABOMI. 2.3 A Revista Científica da ABOMI, ao receber os originais, não assume o compromisso de publicá-los, o que só ocorrerá após observância das normas e da decisão do Conselho Editorial. 2.4 As datas de recebimento, reformulação (se houver) e de aceitação do trabalho constarão, obrigatoriamente, no final do mesmo, quando da sua publicação. 2.5 Os direitos autorais passarão a ser de propriedade da Revista Científica da ABOMI, sendo vedada tanto sua reprodução, mesmo parcial, em outros periódicos, como sua tradução para publicação em outros idiomas, sem prévia autorização desta. 2.6 Os trabalhos aceitos para publicação poderão ser modificados para se adequarem ao estilo gráfico da revista sem que, entretanto, nada de seu conteúdo técnico científico seja alterado. No caso de o trabalho incluir tabelas e ilustrações previamente publicadas por outros autores, é dever do autor fornecer a fonte de origem da informação. 2.7 Serão aceitos no máximo (6) autores por artigo científico. 3. FORMA DE APRESENTAÇÃO DE ORIGINAIS: 3.1 Os originais submetidos à publicação devem obrigatoriamente ser acompanhados de figura(s) que faça(m) referência direta – figura(s) técnica(s) sobre metodologia ou sobre os resultados. Serão considerados para publicação os seguintes tipos de manuscritos: 3.2 Trabalho de Pesquisa: Apresentam novas idéias, nos quais são informados os resultados obtidos, os métodos descritos, técnicas e processos utilizados. 3.3 Relato de casos clínicos: É a descrição detalhada e análise crítica de um caso típico ou atípico. O autor deve apresentar I um problema em seus múltiplos aspectos, sua relevância e revisão bibliográfica sobre o tema. 3.4 Revisão de literatura: Uma revisão de literatura sobre um assunto específico, geralmente contendo análise crítica e síntese da literatura que irá dar ao leitor uma cobertura geral de um assunto com o qual ele pode ou não estar familiarizado. 3.5 Resumo: Resumo de dissertações de Mestrado, teses de Doutorado ou Livre Docência, apresentadas em instituições brasileiras ou estrangeiras. Seu objetivo é a transmissão, de maneira rápida e fácil sobre a natureza do trabalho, suas características básicas de realização e alcance científico afirmado. 3.6 Editorial: Opinião comentada do editor, corpo editorial ou autor convidado, em que se discutem o conteúdo da revista e possíveis alterações na missão e ou forma da publicação. 3.7 Conversando com o Paciente (Entrevista): Pergunta questões pertinentes sobre um determinado assunto da área odontológica, formulada de maneira sucinta Resposta: restrita a questão formulada, com nome(s) do (s) entrevistado(s) e titulação. 4. APRESENTAÇÃO DE MANUSCRITOS 4.1 Os originais deverão ser redigidos de acordo com o Estilo Vancourver. O original deverá ser enviado em 3 (três) cópias impressas, digitadas em processador de texto Microsoft Word na fonte Times New Roman, tamanho 12, folhas de papel tamanho A4, espaço duplo e margem de 2 cm de cada um dos lados, tinta preta, páginas numeradas no canto superior direito. Deverão ser enviadas três cópias impressas e uma cópia digital (disquete ou CD). O artigo deverá ser composto por 12 a 15 laudas. 4.2 Na primeira folha de apresentação do trabalho deve constar: A) Título e subtítulo (português e inglês): conciso contendo somente as informações necessárias para a identificação do conteúdo. B) Especificação: se o trabalho é resumo ou parte de dissertação ou tese, monografia de especialização ou outros. C) Nome (s) do (s) autor (es) por extenso na ordem a ser publicada com sua qualificação curricular e títulos acadêmicos. D) Endereço principal para correspondência e e-mail do autor responsável pelo trabalho. 4.3 Demais páginas devem ser estruturadas seguindo a seqüência: Resumo (máximo de 150 palavras) e palavras chave, abstract e key words, texto, agradecimentos, referências, tabelas (cada uma em uma página) e legendas. 4.4 Citações: é a menção no texto de uma informação extraída de um documento ou de um canal de informação. A autoria da citação deverá ser inserida utilizando o Sistema autor-data, com a data entre parênteses ou entre vírgulas, quando no início da frase ou parágrafo. Exemplos: Um autor: Porto Neto, 1998, investigando as reações... ou Porto Neto (1998). Até 3 autores: Braga e Alvarenga (1996) pesquisaram... ou Braga e Alvarenga, 1996, Mais de três autores: Araújo Filho et al., 2000, avaliaram ... Quando a chamada 103 R ANO 28 • Nº 1 e 2 E B O M I estiver no final da frase ou parágrafo ela é inserida entre parênteses em letra maiúscula. Exemplo: ... e concluíram que esta modalidade terapêutica é mais indicada (PORTO NETO, 1998; ARAÚJO FILHO, 2000). 4.5 Referências: as referências devem ser relacionadas em ordem alfabética, seguindo as seguintes normas: 4.5.1 Artigo de periódico: Sobrenome (s) do (s) autor (es), letras iniciais de seus nomes (separados por pontos), em letra maiúscula, ponto. Título do trabalho, ponto. Título da revista em negrito, ponto. Ano de publicação seguido de ponto e vírgula, Número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até três autores. Quando mais de três, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: PIMENTA, C.A.M.; KOIZUME M.S. Analgesia em câncer: crença e atualização. Rev Esc Enfermagem USP. 1993; 27:309-314. 4.5.2 Livro: Sobrenome (s) do (s) autor (es), letras iniciais de seus nomes (separados por pontos) ponto. Título do livro. Edição (a partir da 2ª ed) ponto. Cidade: Editora. Ano. Total de páginas. Se for utilizado o nome do tradutor, esse deverá vir logo após a edição ou título do livro (caso seja 1ª edição). Exemplo: MATHEWSON, R.J, PRIMOSCH, R.E. Fundamentals of pediatric dentistry. 3ª ed. Chicago: Quintessence Books; 1995. 250 p 4.5.3 Capítulo de livro: Sobrenome e letras iniciais do(s) nome (s) do(s) autor (es) do capítulo, ponto. Título do capítulo, ponto. Edição (a partir da 2ª ed.), ponto. In: autor, ponto. Título (se tiver mais de um volume, coloque antes da Ed ou cidade). Cidade: editora. Ano. Cap, p. Exemplo: WEREBE, D.M. Depressão no câncer. In: FRÁGUAS JÚNIOR, R., FIGUEIRÓ, J.A.B. Depressões em medicina interna e em outras condições médicas: depressões secundárias. São Paulo: Atheneu. 2000. Cap. 18, p.159-164 Obs.: até 3 (três) autores de livro, todos devem ser citados. Quando mais de 3 (três), colocar a abreviação latina “et al.”. 4.5.4 Suporte eletrônico: NERALLAH LJ. Correção de fístulas pela técnica de bipartição vesical. Rev Bras Odontol. 1993; 27:309314. Disponível em: <http://www.epm.br/ postsurg.htm>. Acesso em: 24 mar. 2004. 4.6 A) As ilustrações (gráficos, desenhos, etc.) devem ser construídas preferencialmente em programa apropriado (Word, Excel, Corel e outros). Devem se apresentadas em folhas separadas e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. B) As fotografias deverão ser fornecidas digitalizadas com resolução em 300 dpi. C) As legendas de tabelas e quadros devem ser colocadas na parte superior dos mesmos. D) As legendas de figuras e gráficos devem ser colocadas na parte inferior dos mesmos. E) Todas as tabelas, gráficos, quadros e figuras, sem exceção, devem ser citados no texto. 104 5. COMITÊ DE ÉTICA: 5.1 Qualquer trabalho que envolva estudo com seres humanos, incluindo-se órgãos e/ou tecidos isoladamente, bem como prontuários clínicos ou resultados de exames clínicos, deverá estar de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e seus complementos, e ser acompanhado do parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da unidade em que o trabalho foi realizado. 5.2 Não devem ser utilizados no material ilustrativo nomes ou iniciais do nome do paciente. 5.3 Os experimentos com seres humanos devem indicar se os procedimentos utilizados estão de acordo com os padrões éticos do Comitê de Pesquisa em Seres Humanos (seja institucional ou regional). 5.4 Nos experimentos com animais devem ser seguidos os guias da Instituição dos Conselhos Nacionais de Pesquisa sobre o uso e cuidado dos animais de laboratório. 6. ETAPAS DE AVALIAÇÃO: 6.1 Os originais que deixarem de cumprir qualquer uma das normas aqui publicadas relativas a forma de apresentação, por incompletude ou inadequação, serão sumariamente devolvidos antes mesmo de serem submetidos a avaliação quanto ao mérito do trabalho e a conveniência de sua publicação. 6.2 Os trabalhos que, a critério do Conselho Editorial, não forem considerados convenientes para a publicação serão devolvidos aos autores em caráter definitivo. 6.3 O artigo deverá estar acompanhado de uma declaração do(s) autor (es), conforme modelo abaixo declaração do(s) autor (es), conforme modelo abaixo: Declaração Título do Artigo________________________________ O(s) autor(es) abaixo assinado(s) submetem o trabalho intitulado a apreciação da Revista Científica da ABOMI para ser publicado. Declaro(amos) estar de acordo que os direitos autorais referentes ao citado trabalho, tornem-se propriedade exclusiva da Revista Científica da ABOMI desde a data de sua publicação, sendo vedada qualquer reprodução total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação de qualquer natureza, sem a prévia e necessária autorização obtida à Rev Cient ABOMI. Declaramos, ainda, que é um trabalho original, sendo que seu conteúdo não foi ou está sendo considerado para publicação em outra revista, quer no formato impresso ou eletrônico. Concordamos com as normas acima descritas, com total responsabilidade quanto as informações contidas no artigo, assim como em relação as questões éticas. Data___________________ Nome dos Autores ____________________ Assinatura 7. ENCAMINHAMENTO DO ARTIGO: Toda a correspondência deve ser enviada para o : Editor da Revista Científica da ABOMI, Rua Alcindo Guanabara 17/21 salas 1001/1005 Telefone/Fax 021-22206798 CEP:200031-200 Rio de Janeiro-RJ Email: [email protected]>, [email protected]